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A “ESSENCIALIDADE” DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL AS

“AVESSAS”: UMA ANÁLISE SOBRE OS RECURSOS FINANCEIROS


EXTRAORDINÁRIOS PARA SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS NO SUAS

Mariana Leal de Souza 1


Tânia Mara da Silva Backschat 2
Thiago Agenor3

Resumo: A pandemia da COVID-19 requisitou intervenções imediata da população e do Estado


Brasileiro, diante do fato de que o isolamento social, incluía a proteção perante ao vírus, por
outro lado, colocava-os uma grande parcela em situações de desproteções, pois nem todos
possuem a mesma condição de resposta, logo a intervenção dos governos se colocou como
imprescindível, seja por intermédio de transferência de renda, ou ampliação da capacidade de
atenção, cuidado e proteção através de benefícios e serviços, neste caso, a assistência social foi
incluída como essencial. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo principal avaliar
o financiamento extraordinário do governo federal para os serviços socioassistenciais. A
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e documental. Diante das análise conclui-se
a contradição do campo do financiamento, pois os recursos extraordinários que deveriam ser
repassados para ampliação das respostas do SUAS, em muitos municípios e estados foram
utilizados para continuar com ações ordinárias, tendo em vista os atrasos e a retirada de repasses
de recursos financeiros via fundo a fundo.

Palavras-chave: Assistência Social. COVI-19. Financiamento.

1 INTRODUÇÃO

Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde - OMS declarou que estava


em curso uma pandemia do novo agente do Coronavírus – COVID-19, doença que, naquela
data, já afetava mais de 100 (cem) países, dentre eles, o Brasil. Logo em seguida, observou-se
a propagação de medidas de emergência para conter a disseminação do vírus, contando para
isso com normativas em todas as esferas de governo, tanto para a execução como sobre a
disponibilidade financeira para as ações e serviços.

1 Assistente Social. Doutoranda no Programa da Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social


UEL- Universidade Estadual de Londrina – Centro de Estudos Sociais Aplicados. E-mail:
marianalealdesouza@hotmail.com
2 Assistente social na Prefeitura Municipal de Campo Mourão, doutoranda em Serviço Social pela

Universidade Estadual de Londrina – UEL, e-mail: taniamaraback@hotmail.com


3 Assistente Social, doutorando em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina – UEL, e-

mail: thiagomuru2006@hotmail.com

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A política de assistência social (PAS) foi considerada como uma das áreas essenciais e
indispensáveis ao atendimento as necessidades que colocam em risco a sobrevivência e a
segurança da população, conforme Decreto nº 10.282 de 20 de março de 2020. De acordo com
o Ministério da Cidadania o contexto de pandemia exige atenções específicas aos serviços
prestados no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e adoção de rotinas que
contribuam na prevenção do avanço da disseminação do vírus, além da proteção aos usuários e
profissionais que atuam nesses serviços.

O SUAS criou uma forte rede de atenção através de serviços básicos e especializados,
objetivando cuidado e proteção as incertezas e desproteções sociais, fruto de um processo de
desigualdade que afetam a vida pessoal, familiar e comunitárias, tendo a oferta de seguranças
sociais como seu campo de especialidade e matéria, a ser mediado por profissionais qualificados
e capacitados.

Nos casos em que a rede pública de serviços for insuficiente para atender toda a
demanda no contexto da pandemia, é sugerido pelo Ministério da Cidadania o fortalecimento
da rede a partir de articulações realizadas com as organizações civis, coordenado pela gestão
pública local e com atuação intersetorial. Porém como veremos, é necessário estar atento para
que a conjugação de esforços no estabelecimento das parcerias público-privadas não se legitime
como caminhos de desfinanciamento da proteção social.

Diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo analisar alguns pontos sobre os
repasses de recursos financeiros presentes no momento da COVID-19, visando ampliar o
campo de oferta e proteção do SUAS a cidadãos e famílias em situação de desproteção social
ampliadas pelo isolamento e afastamento social.

O presente trabalho, além da introdução, está dividido em três sessões: a primeira visa
através de análise bibliográfica e documental discorrer sobre as ofertas de proteção social como
central nas ações do SUAS. O segundo ponto analisa de forma crítica as normativas
promulgadas para o repasse financeiro dados pelo Governo Federal a situação da COVID-19
por meio das ações do SUAS. A última sintetiza nas considerações finais as tendências e
desafios a serem enfrentados no âmbito das decisões da esfera federal sobre a capilaridade do
SUAS no território brasileiro.

2.1 PROTEÇÃO SOCIAL E SUAS NO ENFRENTAMENTO DA COVID-19

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As políticas de proteção social sempre foram alvos de críticas e ao mesmo tempo, alvo
de diversas mobilizações em busca da sua universalização. Enquanto em diversos países do
mundo tiveram diversos regimes adotados para sua execução, assistimos respostas
fragmentadas e difusas as desigualdades sociais, como se pode exemplificar, no caso brasileiro,
a partir de março de 2020.

A pandemia da COVID-19 trouxe uma série de recomendações, sejam de âmbito


internacional como nacional. As experiências que poderiam incluir o Brasil em uma escalada
inovadora perante os outros países, devido a existência de uma robusta rede no campo da
educação, ciência, saúde, assistência social, habitação e outras políticas sociais públicas
construídas nos últimos anos. Porém, ao contrário do que se espera de um governo em
momentos de pandemias e calamidades públicas, a contradição reina no projeto de governo do
atual presidente da república, colocando-nos a questionar por diversas vezes, qual é a
essencialidade da assistência social no atual governo?

Para quem tem conhecimento sobre a área da assistência social, sabe de seu histórico
incluída como política pública e de responsabilidade do Estado. A Assistência Social foi
instituída pela Constituição Federal e o contorno de responsabilidades dadas a priori pela
LOAS/93 (e suas alterações dadas pela Lei nº 12.435, de 2011) como dever do Estado e um
direito do cidadão, no desenvolvimento de ações para a proteção, cuidado e atenção advindos
a situações de vulnerabilidade e risco. É notório seu longo alcance social na proteção a crianças,
adolescentes, adultos e idosos privados do acesso as condições de renda e subsistência; violação
de direitos e rompimento de vínculos familiares, principalmente pela ampliação de destinação
de recursos financeiros, com a possibilidade de instalação de unidades socioassistenciais.

As ações desta política estão organizadas de forma descentralizada e participativa, ou


seja, envolvendo um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade,
denominado como Sistema Único de Assistência Social (SUAS). A construção desse sistema
universalidade, incorpora-se a partir da Política Nacional de Assistência Social - PNAS/04 e
outras normativas durante o período histórico, uma a cobertura a situações de vulnerabilidade
e risco estão presentes através das seguranças de renda, acolhida e convívio familiar e
comunitário, materializada nos serviços socioassistenciais desenvolvidos por unidades públicas
e privadas.

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No âmbito das unidades públicas incluem-se os CRAS – Centro de Referência de
Assistência Social, os CREAS - Centros de Referência Especializado de Assistência Social e,
os Centro de Referência para a População de Rua. Desta forma impossível não ir em uma
pequena cidade ou em uma metrópole e perguntar para as pessoas vulneráveis e estas não
saberem de sua localidade. Por isso, do ponto de vista ético e político, o SUAS tornou-se um
espaço de acolhimento, escuta e defesa de direitos, onde os cidadãos-usuários podem contar
com uma equipe interprofissional qualificada e comprometida, dando-lhes a certeza de
reconhecimento com uma responsabilidade pública nas suas necessidades humanas e sociais.

As unidades privadas encontram-se nas organizações da sociedade civil, ou seja,


entidades privadas sem fins lucrativos que desenvolvem ações de interesse público atuando
campo dos projetos socioeducativos, na prestação de serviço sociais ou na assessoria das
organizações populares de defesa de direitos. Essas organizações encontram um campo
propício de atuação a partir dos anos 1990, quando sob orientação da perspectiva neoliberal, o
Estado, em suas diferentes esferas de atuação, intensifica uma política de parceria público-
privada “redefinindo o papel socializador do capital”, (RAICHELIS, 2000, p. 79), na
implementação de política sociais. Com isso, essas entidades acabaram por ocupar um espaço
significativo como prestadoras de serviços socioassistenciais, ainda que a legislação social
pressuponha a centralidade do Estado no comando único da política de assistência social.

Portanto, ainda que composto de serviços de natureza pública ou privada, o SUAS


alcança diversas camadas populacionais uma vez que as desproteções sociais ultrapassam a
questão de renda. As violências por violações de direitos são expressões do modo social,
histórico, político, econômico dado na sociabilidade humana, tendo sua existência nos
diferentes arranjos pessoais e familiares retirando o estigma da atenção da pobreza e do pobre
como campo e matéria própria dessa política, com uma atenção especializada. O campo
hierarquizado de proteção básica ou especial são complementares e tem uma lógica de atenção,
cuidado e ruptura com situações de violações de direitos, não como questão moral individual,
mas reconhecidas no processo de desigualdade social, como resultado de um projeto de
sociedade marcado por opressão, exploração, subalternização. Neste cenário emerge a
importância dos projetos democrático-populares, tendo como horizonte o combate à pobreza,
com ampliações nos programas de transferência de renda e associando nas políticas sociais os
pilares de proteção social. Porém, estes projetos vão sendo tensionados e reorganizados a partir
da entrada de “novos governos”, que com suas características neoliberais, assumem o poder e
ampliam a necropolítica. (MBEMBE, 2020).

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No caso do SUAS, a partir da NOB/SUAS – 05 e NOB/SUAS-2012, viveu-se no Brasil
uma ampliação continua, regular e automática dos recursos financeiros públicos repassados
para os entes federativos através do governo federal, inicialmente vieram através de pisos de
proteção social passando para os blocos de financiamento de serviços de proteção social básica,
especial, gestão do SUAS e gestão do programa bolsa família, de forma automática e regular
vieram do Fundo Nacional de Assistência Social para os fundos estaduais e municipais, neste
caso, todos os entes federativos estariam aptos a receber tais recursos, desde que comprovados
os requisitos mínimos, ou ainda, fossem aprovados através de expansões apreciados critérios
pela Comissão Intergestora Tripartite (CIB) e aprovados pelo Conselho Nacional de Assistência
Social (CNAS)4.

Essa ampliação financeira teve significações importantes para o avanço na política de


assistência social, com a instalações de inúmeras unidades públicas de proteção social. Ora,
mesmo com essa ampliação física e no rol de ações com as famílias em situação de desproteções
sociais, a garantia de um orçamento público para o financiamento da política é essencial, para
o direcionamento das ações e fortalecimento da proteção social. Porém, o que se observamos a
partir de 2014 são tentativas de um desfinanciamento no âmbito do SUAS, através de medidas
jurídicas e adotadas, como veremos adiante.

2. 2 RECURSOS DISPONIBILIZADOS AO SUAS PARA O ENFRENTAMENTO A PANDEMIA

O financiamento federal no âmbito do SUAS ocorre por meio de transferências


automáticas na modalidade fundo a fundo, numa lógica de gestão compartilhada envolvendo
União, estados e municípios para o aprimoramento da gestão e execução de serviços,
programas, projetos e benefícios. De acordo com a NOB SUAS/2012, para que ocorra o
cofinanciamento federal os estados, municípios e Distrito Federal devem ter constituídos e em
funcionamento o Conselho de Assistência Social (CAS), a existência de um Plano de
Assistência Social, elaborado e aprovado pelo CAS e o Fundo de Assistência Social criado em
lei e implantado. Ora, ocorre que mesmo cumprindo as pregorrativas acimas, os entes
federativos vêm sofrendo sérios problemas de redução no financiamento do SUAS, uma vez
que o direcionamento de recursos não tem natureza apenas técnica, mas política. Dada as
medidas implementadas, principalmente por três legislações específicas, há um risco de
demonstre deste setor.

4
Para maiores reflexões consultar entre outros TAVARES (2004).

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Isso porque, por meio da Portaria nº 36, de 25 de abril de 2014, que dispõe acerca dos
procedimentos a serem adotados no âmbito do Sistema Único da Assistência Social, decorrentes
do monitoramento da execução financeira realizada pelo Fundo Nacional de Assistência Social,
na prática significou bloqueio, suspensão e não repasses de recursos financeiros para os entes
que tivessem recursos financeiras em suas contas bancárias. Não obstante os limites impostos
por essa Portaria, em 2016 o SUAS foi novamente impactado com a redução significativa de
seus recursos com a implantação da política de austeridade fiscal determinada na Emenda
Constitucional nº 95/2016, a qual congelou por vinte anos as despesas primárias, tanto aquelas
relacionadas ao custeio quanto as de investimentos. Isso significa que, neste período, não
ocorrerá crescimento real das despesas e os recursos destinados aos serviços socioassistenciais,
não serão prioritários, inclusive com riscos de serem insuficientes.

Mediante o orçamento infímo disponível às políticas sociais, no apagar das luzes do ano
de 2019, no dia em 20 de dezembro foi publicada a Portaria nº 2.362 do Ministério da Cidadania,
estabelecendo procedimentos para a execução financeira dos recursos da assistência social,
priorizando o repasse para os municípios com menor saldo individualizados dos programas.
Sob discurso de reequilibrio financeiro no SUAS, essa medida acarretou em graves
consequências para todos os municípios brasileiros, uma vez que foram depositados
parcialmente as parcelas atrasadas de 2019 além da diminuição do valor do repasse mensal
destinado a oferta dos serviços do SUAS para o ano de 2020. Na prática isso correspondeu de
30% a 70% de recursos financeiros a serem repassados aos entes federativos, ainda que tenham
ocorrido vários movimentos em defesa do SUAS.

No contexto de desmonte do financiamento da Política de Assistência Social, a situação


agraviou-se com a pandemia da COVID-19, onde a população brasileira foi diretamente
atingida pelas consequências, não apenas epidemiológicas, mas sociais do coronavírus. Isso
porque, entre as medidas de prevenção ao contágio estão aquelas de distanciamento e
isolamento social, impactando diretamente na renda e sobrevivência da classe trabalhadora com
o consequente acirramento das desigualdades sociais e aumento da demanda pelos serviços
ofertados na assistência social. Em resposta aos desafios enfrentados pela oferta de proteção
social o governo federal editou uma série de medida, dentre elas a Medida Provisória nº
953/2020 com a destinaçao de um crédito ao Ministério da Cidadania. No entanto, trata-se de
um “abono” extraordinário, emergencial e temporário a ser utilizado no enfrentamento a
Pandemia e não recomposição orçamentária aos serviços existentes. Para regulamentar o
repasse destes recursos extraordinários aos Estados e Municipios, foram publicadas as Portarias

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nº 369 de 29 de abril de 2020, que dispõe sobre o repasse de recurso extraordinário do
financiamento federal do SUAS e a Portaria nº 378 de 07 de maio de 2020, cuja finalidade é
aumentar a capacidade de resposta do SUAS, a fim de garantir a continuidade da prestação dos
serviços de forma direta a população que está sendo mais afetada pelos rebatimentos desta
pandemia. Nesta última, a transferência se deu por meio da transferencia aos blocos da Proteção
Social e Especial, tendo como referência o valor repassado em fevereiro de 2020, permitindo
uma maior flexibilidade para ordenamento das despesas seguindo as regras já existentes.

A Portaria nº 369/2020 dispõe sobre o repasse financeiro para a execução de ações


socioassistenciais e estruturação da rede SUAS no enfrentamento a pandemia. O recurso foi
dividido categorias, senda uma destinada a estruturação da rede do SUAS com a aquisição de
equipamentos de proteçao social - EPIs aos trabalhadores do SUAS. Porém para cálculo do
montante financeiro foi a base de dados do CadSUAS, contemplando apenas trabalhdores da
linha de frente, ou seja, de maneira seletiva excluindo os demais trabalhadores do sistema.
Nesta mesma categoria foi ainda disponibilizado recurso para aquisição de alimentos ricos em
proteinas para pessoas idosas e pessoas com deficiência atendidas pelos Serviço de
Acolhimento Institucional e Centros-Dia, ou seja, excluindo uma grande parcela dos usuários
dos demais serviços socioassistenciais.

Na segunda categoria de financiamento encontra-se àquelas relacionadas as ações


socioassistenciais, com alocação de recursos para as intervenções de alojamento, isolamento e
outras a provisões para pessoas e/ou familias em situação de vulnerabilidade e risco social
afetadas pela pandemia. Sua regulamentação tem o intuito de ampliar as ações previstas no
Serviço de Proteção em Situação de Calamidades Públicas e Emergenciais. Porém como a
finalidade do recurso é específica para o enfrentamento da pandemia não se configura, portanto,
em ampliação da rede de serviços já existentes.

Os recursos desta Portaria se estenderam a 65% dos municípios brasileiros (BRASIL,


2020), como se as famílias em vulnerabilidades dos demais locais não fossem atingidas pelo
vírus. Uma vez elegível o município teve de realizar termo de aceite, plano de ação e
posteriormente realizará a prestação de contas ao Fundo Nacional de Assistência Social. Os
critérios de elegibilidade foram estabelecidos a partir da existência de unidades públicas e
estatais de atendimento no SUAS. Destaca-se que do quantitativo de vagas nas unidades dos
Serviços de Acolhimento Institucional, 87,7 % são geridos por organizações da sociedade civil
e 92,4% dos Centros-dia também tem sua administração realizada por entidades privadas sem

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fins lucrativos, conforme Censo SUAS 2018, corroborando com a tese de que os recursos apesar
de destinados via política pública será utilizado por rede privada.

As contratações das entidades privadas têm como objetivo contratar a proposta mais
vantajosa, primando pelos princípios da legalidade, impessoalidade, igualdade, moralidade e
publicidade. São disciplinadas por legislações específicas para licitações e seguem
obrigatoriamente um regime regulamentado por Lei, dentre as quais destacamos a Lei nº
13.019/2014 de 31/07/2014, alterado pela Lei 13.204/2015, conhecida como Marco Regulatório
das Organizações da Sociedade Civil (MROSC). A modalidade de participação das entidades
privadas na esfera púbica ocorre por meio do Chamamento Público, o qual é passível de nos
casos de serviços vinculados a política de assistência social, desde que executadas por
organizações da sociedade civil previamente credenciadas pelo órgão gestor. Com isso, diversas
organizações sociais têm sido convocadas pelo Estado para o estabelecimento de parcerias,
reforçando políticas compensatórias de forma a amenizar o impacto negativo dos ajustes
econômicos que retiram o Estado da sua primazia de condução e execução das políticas de
proteção social.

Nos termos do artigo 30 da Lei nº 13.019/2014 é possível dispensar o Chamamento


Público nos casos de calamidade pública, para firmar parcerias com organizações da sociedade
civil que desenvolvam atividades de natureza continuada nas áreas de assistência social, saúde
ou educação, que prestem atendimento direto ao público e que tenham certificação de entidade
beneficente de assistência social. Porém na prática, quando os gestores não esbarram na
morosidade dos procedimentos burocráticos encontram dificuldades de priorização das
demandas da área da assistência social em relação as demais políticas, especialmente a de saúde.

Por fim, a temos a publicação da Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020, que
prevê auxílio financeiro para o Sistema Único de Saúde –SUS e para o SUAS em valores
definidos por cálculo baseado no quantitativo de habitantes. Sua utilização pode ser definida
por seus gestores municipais sem critérios pré estabelecidos, com grande flexibilidade em sua
aplicação, o que deixa a Política de Assistência Social a mercê do entendimento dos gestores a
definição do valor a ser destinado assim como sua utilização.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao considerar o campo da proteção social como modelo de cuidado diferenciado,


reitera-se sua relação com a dimensão social, uma vez que já se fazem sentir os impactos do

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derretimento do SUAS na vida da população brasileira. Ainda que pontuais ressaltemos a
importância destes incrementos devido a defasagem dos valores mensais repassados aos
municípios responsáveis pelo atendimento à população pós EC 95/2016 e a Portaria nº
2.362/2019, sendo insuficientes para execução dos serviços. Além disso devemos também
considerar que os repasses regulares atualmente não estão sendo realizados, ou seja, a parcelas
estão atrasadas, mesmo diante ao enfrentamento a uma situação calamidade de saúde pública,
a qual traz à tona novas demandas diariamente.

Um outro fator foi a decisão tomada via gabinete, sem os mecanismos de controle social,
como os conselhos e as comissões gestoras, ocasionando a não oportunidade de ampliar as
decisões de acordo com a realidade vivenciadas pelos gestores municipais e estaduais. Ainda,
importante ressaltar a necessidade de participação social, pois “é fundamental para o
compartilhamento do poder, logo essencial às práticas de gestão participativa, entre as quais
a cogestão entre estado e sociedade, como previsto na Constituição Federal brasileira, no que
concerne à gestão das políticas públicas”. (PRATES, 2018, p. 01).

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Cidadania adianta recursos e transfere R$ 600 milhões aos municípios
para cuidar da população carente. Disponível em https://bit.ly/2ztjt2z> Acessado em
07/09/2020.

BRASIL. Portaria nº 2.362 de 20 de dezembro de 2019. Disponível em <


https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-2.362-de-20-de-dezembro-de-2019-
234966986. Acessado em 07/09/2020 as 18h53m.

BRASIL. Decreto nº 10.282 de 20 de março de 2020. Disponível em


https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/republicacao-249098206. Acessado em 07/09/2020 as
17h35m.

BRASIL. Portaria nº 369 de 29 de abril de 2020. Disponível em <


https://www.in.gov.br/web/dou/-/portaria-n-369-de-29-de-abril-de-2020-254678622>.
Acessada em 07/09/2020 as 19hs.

BRASIL. Lei nº 13.019 de 31 de julho de 2014. Disponível em <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13019.htm>. Acessado em
07/09/2020 as 17hs.

BRASIL. Lei Complementar nº 173 de 27 de maio de 2020. Disponível em


https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-complementar-n-173-de-27-de-maio-de-2020-
258915168. Acessado em 07/09/2020 as 18h30m.

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MBEMBE, Achille. Necropolítica. 9. Ed. São Paulo: n-5 edições, 2020.

PRATES, Jane Cruz, A Importância da Linguagem e da Gestão da Informação nos Processos


Participativos. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 17, n.1, jan./jul. 2018.

RAICHELIS, Raquel. Esfera pública e Conselhos de Assistência Social: caminhos da


construção democrática. São Paulo, Cortez, 2000.

TAVARES, Gisele de Cássia. O FINANCIAMENTO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA


SOCIAL NO ESTADO DO PARANÁ. Dissertação (Mestrado em Serviço Social e Política
Social) – Universidade Estadual de Londrina. Centro de Ciências Sociais Aplicadas.
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social. 2004.

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