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INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

Escola Superior de Educação

Mestrado em Serviço Social – Riscos Sociais e Desenvolvimento Local

Unidade Curricular: Estado Sociedade e Proteção Social

Fonte modernização do estado - Bing images

Docente:
Dr. Miguel Bento

Discentes:
Cledimira Tavares nº 23550
Luís João Utiar n° 2204

Beja 2023
INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

Escola Superior de Educação

Mestrado em Serviço Social – Riscos Sociais e Desenvolvimento Local

Unidade Curricular: Estado Sociedade e Proteção Social

Tema: Reflexão em torno das questões da transferência de competências no


domínio da ação social, (do Instituto da Segurança Social, IP para os municípios),
na sua relação com as questões da pobreza e da exclusão social em Portugal.

Docente:

O Dr. Miguel Bento

Discentes:

Cledimira Tavares n°23550

Luís João Utiar n° 22041

Beja, 2023
Índice

1. Introdução ............................................................................................................ 1
2. A questão da transferência de competências no domínio da ação social,
do Estado central para os municípios ............................................................. 2
2.1 Competências a transferir ......................................................................... 3

3. Vantagens/desvantagens do processo relativamente às problemáticas da


pobreza e da exclusão social em Portugal ........................................................... 4

4. Nota Conclusiva ................................................................................................ 5

5. Referencias e outras fontes ......................................................................... 6


1. INTRODUÇÃO

A questão da modernização do estado e a da administração pública, afirma-se como


uma necessidade urgente da adaptação à nova realidade, como forma de combater
a crescente problemática de pobreza e exclusão social. Um fenômeno internacional
que tem chamado a atenção das autoridades, quer internacionais, regionais ou
nacionais. Portugal desde há muito tem ensaiado mecanismos e métodos para
melhorar o desempenho dos poderes centrais e locais.
E neste sentido que se deu vida ao tão desejado, transferência de competências para
as autarquias, em diversos domínios de atuação do Estado: saúde, educação, cultura,
justiça, proteção civil, habitação, cultura, estacionamento público, promoção turística,
captação de investimento e gestão de fundos europeus, praias marítimas, fluviais e
terrestres, vias de comunicação, infraestruturas de atendimento ao cidadão, saúde
animal e segurança alimentar, património e habitação (Relatório dos encontros
regionais de transferência de competências sociais para as autarquias, 2022).
concretização aos princípios da subsidiariedade, da autonomia das autarquias locais
e da descentralização democrática da administração pública, plasmados no número
1 do artigo 6.o da Constituição da República Portuguesa.
Entretanto há aspetos neste novo fenômeno observado com positividade e outros tão
pouco. Este trabalho pretende fazer uma análise/reflexão acerca das transferências
de competências em curso no domínio dos serviços sociais, demonstrando as
vantagens de desvantagens deste processo no combate à pobreza e exclusão social
em Portugal.

Para a realização do mesmo foi avançada uma investigação quantitativa com base
na análise documental. O trabalho é composto por uma breve introdução, seguido de
um desenvolvimento com foco na apresentação das possíveis vantagens deste
processo para o combate à pobreza e exclusão social em Portugal, e uma conclusão.

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Enquadramento
Portugal registou uma redução muito significativa das desigualdades entre 2016 e
2019, impulsionada por uma criação de emprego sem precedentes e um reforço
significativo dos apoios sociais e dos serviços públicos. Não obstante os progressos
verificados, com a saída entre 2015 e 2020 de 700 mil pessoas do risco de pobreza
e exclusão social, ainda permaneciam nessa condição, em 2020, cerca de 2 milhões
de pessoas. (Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, 2021).
A descentralização começou com lei nº75/2013, de 12 de setembro estabelece o
regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades intermunicipais,
estabelece o regime jurídico da transferência de competência do estado para as
entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico.
No reconhecimento de que as autarquias locais são a estrutura fundamental para a
gestão de serviços públicos numa dimensão de proximidade, a Lei n.º 50/2018, de 16
de agosto estabelece o quadro da transferência de competências para as autarquias
locais e para as entidades intermunicipais, em consagração do princípio da
subsidiariedade e numa lógica de descentralização administrativa como base da
Reforma do Estado (Relatório dos EPNA, 2022).

Nesta ótica, foram publicados os diplomas de âmbito setorial que concretizam a


transferência de competências em diversos domínios de atuação do Estado: saúde,
educação, cultura, justiça, proteção civil, habitação, cultura, estacionamento público,
promoção turística, captação de investimento e gestão de fundos europeus, praias
marítimas, fluviais e terrestres, vias de comunicação, infraestruturas de atendimento
ao cidadão, saúde animal e segurança alimentar, património e habitação.

1. A questão da transferência de competências no domínio da ação social,


do Estado central para os municípios
A questão da transferência de competências no domínio da ação social, do Estado
central para os municípios é uma questão antiga que vê a sua concretização efetiva
em 2020 a quando da aprovação do decreto-lei da transferência de competências
para os órgãos municipais e para as entidades intermunicipais no domínio da ação

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social. Observa-se o reforço desta transferência através do Decreto-Lei n.º55/2020
de 12 de agosto, que passa a caber aos órgãos dos municípios as seguintes
competências:
1.1 – Competências a transferir

● Elaboração e divulgação das cartas sociais municipais, incluindo o


mapeamento de respostas existentes ao nível dos equipamentos sociais;
● Acompanhamento de situações de risco e carência social.
● Assegurar o serviço de atendimento e de acompanhamento social e para a
implementação da componente de apoio à família para crianças que
frequentam o ensino pré-escolar da rede pública. (citação) .

O Serviço Social revela ser um importante recurso das autarquias na criação das
políticas sociais locais, na medida em que o Assistente Social, ao conhecer o território
e intervir mais próximo dos cidadãos, pode propor programas de desenvolvimento
local, adequados aos interesses da população. maior intervenção do Poder Local e,
em particular, das Câmaras Municipais, em favor das populações locais e no processo
de desenvolvimento local. Trata-se de uma descentralização do Poder Central para o
Poder Local, através da transferência de atribuições e competências, como é o caso
da Ação Social. (Ribeiro 2011)

Áreas já transferidas
• Conforto habitacional para pessoas idosas- programa que vigorou entre 2009- 2012;
• O CLDS, sublinhando que a 4ª geração mantém as regras atuais;
• O Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social, onde se insere o atendimento
geral e o atendimento RSI;
• A coordenação dos Núcleos Locais do RSI.

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2. Vantagens/desvantagens do processo relativamente às problemáticas
da pobreza e da exclusão social em Portugal

Vantagens

● Proximidade ao território e aos cidadãos: os municípios com o


conhecimento de terreno e a quantidade de informação que possuem, não só
do território mais também da população terá maior facilidade em identificar e
atuar de forma oportuna e em tempo útil;
● Maior coordenação e agilidade: e agilizar no sentido de uma ação
complementar, já que têm uma visão global que lhes permite controlar a
sobreposição de apoios. Para a eficácia do processo foi referida a importância
de uma Rede Social coesa, que envolva as IPSS locais numa ação
colaborativa;
● A atualização dos diagnósticos existentes é um momento importante para
a auscultação de todos para fazer diferente nos protocolos, com vista elaborar
uma construção de respostas partilhadas entre parceiros locais e melhoria de
soluções nas comunidades locais;
● O reforço das Redes Sociais e a sua composição diversa e plural, como
forma de mitigar a questão do eventual “abuso ou mau uso” das políticas de
ação social e, por outro lado, considera que, completada com o Sistema de
Informação da Segurança Social será – de alguma forma – uma garantia (pelo
menos parcial) para o reforço do combate à fraude e ao uso abusivo de
políticas ativas.
● É o facto de já existir um conjunto de técnicos com muita experiência na
área social, como positiva, evidenciando a capacidade de resposta das
instituições no terreno, a possibilidade de agilizar a intervenção, um maior
desenvolvimento dos territórios e o trabalho em rede.
● Maior autonomia a que corresponde uma maior responsabilização por parte
dos órgãos de política local, mas também pelos “atores locais”;
● Poupança de recursos humanos e financeiros” uma vez que o processo se
torna mais eficaz e proporciona uma “melhor visão dos problemas”, além de

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permitir flexibilidade e sobretudo inovação na ação social, que advém da
experiência das autarquias e das equipas envolvidas e da capacidade de dar
respostas sociais mais adequadas;
● Permite inovações e aprofunda a intervenção social, e isto só é possível
pela grande proximidade entre a autarquia e a instituição;
● Melhora a capacidade de resposta dos municípios, no caso concreto do
Diagnóstico Social, é isso que melhora a nossa política, nos idosos, nos jovens,
na habitação social e em conjunto com outros projetos existentes no terreno
das diversas organizações;

Desvantagem/Riscos
● Recursos financeiros e humanos insuficiente alocados às novas
competências transferidas e a maior pressão por resultados e respostas a que
o poder local fica sujeito. Os recursos são claramente desfasados da
abrangência do problema e do apoio a que os municípios ficam vinculados. Foi
questionada a decisão de subvenção financeira e de afetação de recursos
humanos sublinhando a inadequação de alguns aspetos do processo face à
dimensão diferenciada dos municípios e a sua diferenciação sócia territorial
(dispersão geográfica, acessibilidades);

● Desconhecimento do ponto de situação local: quem está no terreno não foi


ouvido; a falta de atualização dos processos ao longo dos anos; a falta de
auscultação aos beneficiários das medidas sociais;

● Possibilidade de aumento de fraudes (...) no acesso aos serviços “o


aumento do custo de vida, que trará naturalmente maiores necessidades por
parte de uma população mais vulnerável e eventualmente um aumento de
fraudes no acesso aos serviços;

● Risco de Partidarização - de forma transparente é visível a possibilidade da


utilização desde poderes sociais para fins políticos e partidários, e os cidadãos
podem ser alvos de captação de sufrágio tendo em conta a sua situação social;

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● Poderá criar desigualdade territorial - Isto principalmente quando ligada ao
aspeto financeiro, visto que há discrepâncias (democracia, estrutura social)
entre as autarquias bem como variedade problemas sociais,

● Dificuldade em adaptar as políticas públicas nacionais e até globais às


necessidades locais - Visto que cada autarquia possui a sua própria realidade
social, e se pensar em fazer apenas a transferências do que já existe a nível
nacional pode ser um grave entrave à aplicação e certamente não dará
resposta às problemáticas sociais locais. (Relatório da A

Após a análise apreciativa do possível impacto (vantagens de desvantagens) das


transferências de competências para os municípios no domínio da ação social e tem
em conta os dados disponibilizados pelo observatório nacional de combate a pobreza,
que realça o seguinte “A população em risco de pobreza ou exclusão social aumentou
em 12% face ao inquérito anterior, o que corresponde a mais 256 mil pessoas. Se
olharmos para a União Europeia dos 27 Estados-membros (UE27), também a
vivenciar os impactos da pandemia, verificamos que apenas a Eslováquia teve um
aumento do risco de pobreza ou exclusão social superior ao registado em território
nacional. Com 22.4% da população em risco de pobreza ou exclusão social, Portugal
passou a ser o 8º país da UE27 com maior proporção da população a viver com este
tipo de vulnerabilidade social e económica. “O Poder Central, ao transferir
competências para o Poder Local deverá acompanhá-las de recursos financeiros para
a sua prossecução. Caso contrário, a aplicação das mesmas fica alicerçada aos
interesses políticos locais e à sua disponibilidade financeira, o que pode causar
desigualdades sociais entre territórios. Sendo que o Serviço Social intervém junto da
comunidade, com o objetivo de se promover uma melhoria na qualidade de vida dos
indivíduos, a sua atuação deve estar implícita também nos processos de planeamento
e conceção das próprias medidas de política social. (Relatório dos EPNA, 2022)

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3. Notas Conclusivas
A transferência de competência para as autarquias implica muito mais que o combate
à pobreza local é mais abrangente é também um processo administrativo moroso e
burocrático que potencia diferenças na prestação do serviço público. Assinala como
algumas das mais visíveis vantagens a maior autonomia, poupança de recursos
humanos e financeiros, experiência das autarquias e das equipas envolvidas e da
capacidade de dar respostas sociais, adaptação das estratégias à realidade local e
regional, como desvantagens assinala a dificuldade em adaptar as políticas públicas
nacionais e até globais as necessidades locais e a falta de recursos financeiros. Se
não houver uma uniformização dos procedimentos pode haver tensão nos municípios,
neste processo de transferência de competências há um risco de quebra de equidade
(equidade regional). Passar o poder de decisão para os municípios, pode criar
instabilidade, incerteza e imprevisibilidade entre o Estado e as entidades sociais,
envolvidas em todo o processo, entretanto a mudança não assegura
necessariamente o progresso, mas o progresso implacavelmente requer a mudança
(Henry S. Commager), por esta razão o grupo considera necessário e importante o
processo da transferência de competência, bem como a própria modernização do
Estado.
Segundo (Carvalho 2020) Ao longo dos anos, a Administração Pública foi alvo de
diversas reformas administrativas que proporcionaram alterações no seu modo de
funcionamento. A todas as mudanças proporcionadas pelas reformas dá-se o nome
de modernização, cujo maior impacto se sentiu com a introdução do New Public
Management visto ter implementado técnicas e instrumentos do setor privado no setor
públic. A modernização é essencial para uma AP mais eficiente, próxima do cidadão,
moderna, tecnológica e inovadora. Concluímos aludindo à indispensável necessidade
de ter reformas administrativas, como forma de dar respostas a problemas
persistentes na sociedade, como é o caso da pobreza e exclusão social.

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4. Bibliografia e outras fontes

CARVALHO, I. (2020). A MODERNIZAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O


CASO DO PROGRAMA SIMPLEX, Relatório de Estágio (2º Ciclo de Estudos em
Administração Público-Privada). Universidade de Coimbra.

DIÁRIO DA REPÚBLICA, 1.A SÉRIE (Portugal). MODERNIZAÇÃO DO ESTADO E


DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA
SOCIAL Portaria n.o 66/2021 MODERNIZAÇÃO DO ESTADO E DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E TRABALHO, SOLIDARIEDADE E SEGURANÇA
SOCIAL, Portugal, v. 6, n. 53, p. 36-41, 17 mar. 2021. Disponível em: Pobreza e
Exclusão Social em Portugal. Relatório 2022 - EAPN. Acesso em: 28 nov. 2022

RIBEIRO, L.B., L. B. D. S. (2011). O SERVIÇO SOCIAL NAS AUTARQUIAS E A


SUA IMPORTÂNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL LOCAL (Bachelor 's
thesis, ISMT).

RELATÓRIO, POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL EM PORTUGAL. [S. l.], dez.


2022. Disponível em:Pobreza e Exclusão Social em Portugal. Relatório 2022 -
EAPN. Acesso em: 27 nov. 2022.

RELATÓRIO, EANP, A DIMENSÃO SOCIAL DO PODER LOCAL, Portugal,


encontros regionais de transferências de competências sociais para as autarquias,
v.76, p.1-76, set 2020. Disponível em: A Dimensão Social no Poder Local - EAPN.
Acesso em 02 dez. 2020.

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