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OS DIREITOS SOCIAIS E A POLÍTICA DE ASSITÊNCIA SOCIAL: Os impactos da

Emenda Constitucional nº 95/2016 no II Plano Decenal de Assistência Social – a realidade


da Região Metropolitana do Recife-PE.

Maria Eduarda Portela da Silva¹


Júlia Gabriela Gomes de Paula²
Mariana Batista dos Santos³
Rosiglay Cavalcante de Vasconcelos ⁴
Eduardo Gaspar Chaves Cavalcanti da Silva ⁵

RESUMO: Esse estudo tem como objetivo analisar os impactos


da Emenda Constitucional nº 95/2016 na Política de
Assistência Social com a implementação do II Plano Decenal
de Assistência Social (2016-2026) na realidade da Região
Metropolitana do Recife. Nessa conjuntura adversa, constatou-
se a fragilização da redessocioassistencial e da gestão pública
organizada pelo pacto federativo no que se refere às
responsabilidades e ao cofinanciamento dos municípios no
acesso aos recursos liberados pelo Governo Federal à política
da assistência social. A perspectiva teórica adotada nessa
pesquisa foi fundamentada pela teoria social crítica, através da
análise crítica de dados e de estudo documental.
Palavras-chave: Direitos Sociais; Política de Assistência
Social; Democracia; Cidadania.

ABSTRACT: This article intends to analyze the impacts of the


Constitutional Amendment nº 95/2016 in the Assistance Social
Politics with the implementation of ten-year assistance plane
(2016-2026) in Recife's metropolitan reality. In this adverse
conjecture, it has been noticed the lack of the social assistance
network and the public gesture organized by the federative
agreement; which refers to responsibilities of the cities co-
financing in the access to the sources released by the Federal
Government to the assistance social politic.The theoretical
perspective adopted in this research was based on social
critic's theory, through the critic's analysis of data and
documental study.
Keywords: Social rights;Social Assistance Policy; Democracy;
Citizenship.

¹ Estudante de Graduação em Serviço Social. Universidade São Miguel. duda._.portela@hotmail.com


² Estudante de Graduação em Serviço Social. Universidade São Miguel. jujugabrie@hotmail.com
³ Estudante de Graduação em Serviço Social.Universidade São Miguel. mari.batista_12@hotmail.com
⁴ Assistente Social e Professora Doutora da Universidade São Miguel. rosiglay@hotmail.com
⁵ Mestre em Gestão Ambiental pela UFPE e Professor Convidado Pela Universidade São Miguel.
dudagaspar.eduardo@gmail.com
1. INTRODUÇÃO

A constituição Federal de 1988 atribui um novo patamar para a assistência social,


conferindo-a o título de política social de direito não contributivo, na expectativa de dissipar
uma cultura assistencialista ainda presente na sociedade. E, esses avanços para a
assistência social são frutos de uma longa trajetória de conquistas de direitos, sendo
principiados pelos direitos civis, e depois pelos direitos políticos e depois os direitos sociais.
No que se refere aos direitos sociais, apesar de surgirem na segunda metade do
século XIX, eles se ampliam e no século XX, fundamentando-se na ideia de liberdade,
igualdade e justiça social no enfrentamento da questão social no período do capitalismo
monopolista.
Em relação à assistência social no Brasil tem sua trajetória demarcada por avanços e
retrocessos, uma vez que, sua legitimação como política de Estado só aconteceu com a sua
inserção no tripé da seguridade social. E, se amplia com a criação da Lei Orgânica de
Assistência Social (LOAS) ainda na década de 1990, e já nos anos 2000 com a Política
Nacional de Assistência Social – PNAS (2004), e com a criança do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS).
No primeiro momento, o SUAS traz o I Plano decenal (2005-2015) da assistência
social, que tinha como principal meta consolida-la como política de Estado. Sendo sucedido
pelo II Plano Decenal (2016-2026), que veio para potencializar a universalização do SUAS.
Porém, a implantação deste plano ocorre no mesmo momento em que Governo de Michel
Temer institucionaliza a Emenda Constitucional N°95/2016, que cria um teto de gastos para
a seguridade social, impactando diretamente na ampliação dos ações sociais previstas pelo
II Plano Decenal da Assistência Social.

Na realidade da Região Metropolitana do Recife, a análise dos dados do Relatório


de Ações e das Diretrizes do II Plano Decenal evidencia os impactos desse modelo de
gestão pública pautado no neoliberalismo associado a uma conjuntura de crise política na
sociedade brasileira.

2. DIREITOS SOCIAIS E A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO CAPITALISMO


CONTEMPORÂNEO.
A Política de Assistência Social caraterizada como política de Estado a partir da
Constituição Federal de 1988 constitui uma das políticas da Seguridade Social,
considerando que a política social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa
dos Poderes Públicos e da sociedade, destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social, como bem está exposto no artigo 194.
Nesse sentido, a relevância da assistência social como política pública de Estado se
dá pela condição de não ser uma política contributiva, além de atender aos usuários que
necessitam da intervenção do Estado, como está garantido na Constituição Federal:

Artigo 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I – a
proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o
amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao
mercado de trabalho; IV – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de
prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser
a lei.

Na visão de Couto, Yazbek e Raichellis (2011) houve avanço significativo no campo


das políticas públicas direcionadas à área social, já que a proteção social pública constitui
campo dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal.
A partir dessa condição, verifica-se que a assistência social transitou do
assistencialismo clientelista ao campo do direito social, uma vez que, há décadas a política
social na sociedade brasileira se estruturou na matriz do favor, do clientelismo, do
apadrinhamento e do mando, configurando um padrão arcaico de relações enraizadas na
cultura política (COUTO; YAZBEK; RAICHELLIS, 2011).
Essa mudança na política assistencial tem relação com a conquista dos direitos
sociais pela classe trabalhadora no período do capitalismo monopolista, na segunda metade
do século XIX, nos países europeus, considerando que tais conquistas são frutos da
organização política pela classe proletária diante da exploração, dominação e expropriação
por parte da burguesia.
Nessa visão, Couto (2010) estabelece a relação entre cidadania, democracia e a
conquista dos direitos na sociedade moderna, quando destaca que os direitos civis no
século XVIII são considerados os primeiros direitos conquistados pela burguesia; assim
como, os direitos políticos no século XIX representam a limitação do domínio do Estado
absolutista; já no final do século XIX emergem os primeiros direitos sociais, que se
expandem após a Segunda Grande Guerra Mundial.
Os direitos sociais vêm se constituindo desde o século XIX, mas ganham evidências
no século XX, após a Segunda Grande Guerra Mundial. Tais direitos ancoram-se na ideia de
liberdade, igualdade e justiça social diante dos conflitos sociais o capitalismo monopolista
para enfrentar as expressões da questão social.
As conquistas dos direitos nos países europeus por meio dos movimentos sociais e
das lutas políticas, Pereira (2009) analisa que o direito civil foi considerado o primeiro direito
em decorrência da burguesia ainda está na fase de classe revolucionária, contrapondo-se
aos privilégios do Estado repressor das liberdades individuais.
Nesse sentido, a liberdade individual vai se tornar central ao liberalismo clássico
triunfante, adepto do laissez-faire e ao novo liberalismo (neoliberalismo) da época
contemporânea (PEREIRA, 2009). Essa concepção de liberdade é caracterizada como
liberdade negativa que nega qualquer interferência do Estado ou dos governos nos assuntos
privados, especialmente no mercado.
Contudo, com o desenvolvimento da economia capitalista na fase da formação de
monopólios e as crises cíclicas desse sistema ocorre a socialização da política, através da
criação de sindicatos e partidos políticos, e consequentemente a reação da classe
trabalhadora na ampliação das funções do Estado. É nesse sentido que emerge a
concepção de liberdade positiva, caracterizada pela efetiva participação do Estado nos
assuntos da sociedade. Nesse sentido, a liberdade positiva está relacionada à igualdade
substantiva, que implica equidade e justiça social (PEREIRA, 2009).
É desta forma, a partir dos conflitos sociais entre a classe burguesa e a classe
operária que emergem as políticas sociais como mediações entre a intervenção do Estado e
as exigências da classe trabalhadora. Isso porque a configuração da desigualdade social,
segundo Behring e Boschetti (2011) tem relação com a exploração dos trabalhadores,
através do processo de acumulação do capital, produzido e reproduzido com a operação da
lei do valor, cuja contraface é a subsunção do trabalho pelo capital.
Diante do aprofundamento da desigualdade social, do crescimento da pauperização e
relativa e a emergência das lutas de classes no capitalismo, a questão social constitui a
expressão dessa contradição por meio dos problemas sociais como desemprego, fome,
violência, analfabetismo, ausência de políticas de habitação, além de problemas na área da
saúde, da educação entre outras.
Boschetti (2009) aborda que as primeiras iniciativas de benefícios previdenciários que
vieram a constituir a seguridade social no século XX nasceram na Alemanha, no final XIX,
mais precisamente em 1883, no governo de Otto Von Bismarck, em resposta às greves e
pressões dos trabalhadores. Esse modelo de política pública é caracterizado como um
sistema de seguros sociais, porque se assemelham aos seguros privados. Isto é, para que
os trabalhadores tenham direito é preciso uma contribuição prévia.
Já em outro contexto econômico e político, na década de 1940, na Inglaterra surge o
Plano Beveridge, que apresenta críticas ao modelo bismarckiano. Tais críticas decorrem do
avanço na área dos direitos sociais, uma vez que o caráter universal, destinados a todos os
cidadãos tem como garantia os serviços sociais básicos em condições e necessidade
(BOSCHETTI, 2009).
Constata-se, assim, que os avanços na área social com a conquista dos direitos
sociais e o caráter de universalização da assistência social como política pública de Estado
para atender a quem dela necessitar tem relação com o período conjuntural e com a
reconfiguração do Estado capitalista na intervenção da questão social por intermediação da
política social.
Isso porque a partir da década de 1970, na conjuntura da política neoliberal, a ofensiva
burguesa tendo em vista a recuperação e manutenção das taxas de lucro, atuou em três
direções centrais: a reestruturação produtiva, a mundialização do capital e a contrarreforma
neoliberal que atingiu os Estados nacionais.
Em decorrência dessas mudanças, as conquistas sociais se fragilizam a partir de
ajustes estruturais nos países periféricos propostos pelos organismos internacionais como
forma das economias nacionais se adaptarem às novas condições da economia mundial
(BEHRING, 2009). Nisso resulta, em políticas sociais fragilizadas, já que os benefícios,
programas e serviços deixam de ser direitos sociais para se tornarem direito do consumidor.
Nesse sentido, a Política de Assistência Social é orientada a funcionar a partir da
focalização das ações com o estímulo a fundos sociais de emergência e os programas
compensatórios de transferência de renda, como também a mobilização da solidariedade
individual e voluntária.

3. DAS AÇÕES ASSISTENCIALISTAS AO II PLANO DECENAL DA POLÍTICA DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL: A CONJUNTURA DA CRISE POLÍTICA NA SOCIEDADE
BRASILEIRA

As mudanças da assistência social desde a visão assistencialista à conquista dos


direitos sociais com o II Plano Decenal de Assistência Social (2016-2026), são analisadas a
partir dos movimentos sociais da classe trabalhadora, mas também da conjuntura política e
econômica e, principalmente, do processo de formação da sociedade brasileira.
Tais mudanças analisadas na trajetória da assistência social no Brasil por Sposati
(2010) perpassa pela formação social brasileira, quando no período da industrialização (na
primeira década do século XX), o Brasil é ao mesmo tempo subdesenvolvido e
industrializado em que se fundamenta um capitalismo moderno marcado pela extrema
concentração de renda, ao lado de um capitalismo predatório que produz e reproduz de
forma selvagem e impune profundas desigualdades sociais.
Um dos aspectos fundamentais à compreensão da intervenção do Estado por meio
de política social é que a ação assistencial do Estado está imbricada na relação capital-
trabalho, através da exploração da classe trabalhadora e suas precárias condições de vida
(SPOSATI, 2010).
Diante dessa formação social e da relação capital-trabalho, os mecanismos políticos
e as articulações na sociedade brasileira ocorrem de forma autoritária e se fundamentam no
uso de repressão e de coerção pelo Estado no tratamento às desigualdades sociais.
A trajetória da política de assistência social no Brasil, é enfatizada por Yazbek
(2016) como políticas que apresentam uma forma historicamente modificável, de acordo
com as características das relações que se estabelecem na gestão estatal da reprodução da
força de trabalho.
Com isso, a assistência social constitui o conjunto das políticas públicas e
particularmente das políticas no campo social por meio de estratégias reguladoras das
condições de reprodução social; enquanto regulação, obedecem ao padrão mais geral das
estratégias reguladoras que peculiarizam a economia capitalista na sociedade brasileira.
Para Yazbek (2016, p. 66) a assistência tem sido uma das estratégias acionadas
pelo Estado para enfrentar a questão social, e não se dissocia das relações que
caracterizam a sociedade de classes. As ações públicas de enfrentamento da pobreza na
sociedade brasileira têm sido acompanhadas por algumas distorções, que lhes conferem um
perfil limitado e ambíguo:

Seu apoio muitas vezes na matriz do favor e do apadrinhamento reproduz uma


cidadania invertida e relação de dependência (...) a vinculação histórica com o
trabalho filantrópico, voluntário e solidário ocasiona uma identificação da intervenção
técnica com a ação voluntária (...) a conformação burocrático e inoperante,
determinada pelo lugar que ocupa na política pública e pela escassez de recursos
para a área. O caráter desarticulado do aparato estatal no campo da assistência
social coloca em questão seu perfil descontínuo e compartimentado.

Por meio dos movimentos sociais nas décadas de 1970 e 1980, que culminou com a
Constituição Federal de 1988, a assistência social com o campo da Seguridade Social e a
proteção social tomam novos rumos na área dos direitos sociais na sociedade brasileira.
Essa conquista se amplia com a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS (Lei nº
8.742/1993), que inovou ao dispor sobre a organização da Assistência Social e reafirma seu
caráter de direito não contributivo e traz a centralidade do estado na garantia da
universalização dos direitos sociais.
Um dos aspectos fundamentais é que a LOAS, na concepção de Sposati (2007)
constitui o direito à assistência social como dever do Estado e não compensação do
mercado. Ou seja, trata-se de legitimar a caráter político-histórico da assistência social, uma
vez que a LOAS não compactua com ideais Neoliberais, negando essas ações
compensatórias do mercado. Além disso, essa legislação deve ser pedagógica e
democraticamente compelida a dialogar com a população na ação, na decisão e na
avaliação.
Com isso é notório a necessidade de extinguir a ideia de que somente as dirigentes
e/ou técnicas falem pelos os usuários e consequentemente reforçando este caráter
democrático legitimado pela LOAS.
Com a aprovada da Política Nacional de Assistência Social (2004) pelo Conselho
Nacional de Assistência Social – CNAS (Resolução nº 145, de 15/10/2004), tendo como
perspectiva a materialização das diretrizes da LOAS e dos princípios enunciados pela
Constituição Federal de 1988, desse modo:

A PNAS-2004 vai explicitar e tornar claras as diretrizes para efetivação da


Assistência Social como cidadania e responsabilidade do Estado, apoiada em um
modelo de gestão compartilhada pautada no pacto federativo no qual são
detalhados as atribuições e competências dos três níveis de governo na provisão de
atenções socioassistenciais em consonância com o preconizado na LOAS e nas
Normas Operacionais (NOBs) editadas a partir das indicações e deliberações das
Conferências, dos Conselhos e das Comissões de Gestão Compartilhada
(Comissões Intergestores e Bipartites (CIT) e (CIBs).

Os avanços na assistência social culminaram com a criação do Sistema Único de


Assistência Social – SUAS -, por meio da Resolução 130, de 15/07/2005, aprovada pela IV
Conferência Nacional de Assistência Social em dezembro de 2003, considerando a
necessidade de uma nova agenda política para o reordenamento da gestão social das
ações descentralizadas e participativas de Assistência Social no Brasil.
A partir desse movimento de avanços e ampliações dos direitos sociais na área da
assistência social, a V Conferência Nacional de Assistência Social oferecem as bases para
a formulação do I Plano Decenal da Assistência Social – PLANO SUAS 10. O I Plano
Decenal (2005-2015) inaugurou um novo estágio no movimento de consolidação da
assistência social no campo das políticas sociais, quando rompe com o paradigma das
ações emergenciais voltada somente à redução de danos à sobrevivência.
Na continuidade dessa política, na X Conferência Nacional de Assistência Social, são
realizadas as prioridades à construção do II Plano Nacional de Assistência Social (2016-
2026) com o tema: “O SUAS que temos e o SUAS que queremos”. Esse tema traz o lema
do Pacto Republicano por meio de estratégias para o enfrentamento das situações de
desproteção sociais e a cobertura dos serviços, programas, projetos, benefícios e
transferência de renda nos territórios; o pacto federativo e a consolidação do SUAS; e o
fortalecimento da participação e do controle social para a gestão democrática.
Esse período de avanços na assistência social reflete a conjuntura política de gestão
do Partido dos Trabalhadores/PT (2003-2016), que segundo Demier e Melo (2018) foi por
meio da coadunação de contrarreformas que houve a redução de desemprego, o aumento
do consumo popular e as políticas sociais compensatórias promovidos pelo Estado
brasileiro.
Entretanto, a derrubada do governo de Dilma Roussef em agosto/2016 significou o
êxito da trama golpista arquitetada pelos setores mais reacionários da sociedade brasileira.
Na concepção de Demier e Melo (2018), a construção hegemônica pró-impeachment
evidência a crise política brasileira que por meio do ajuste fiscal, da aplicação das
contrarreformas e com a intensão de fazer calar os movimentos sociais.
É com o governo golpista de Michel Temer, do Partido da Mobilização da
Democracia Brasileira (PMDB) que se verifica um processo de ruptura política entre
representantes e representados que se instaura a crise política, especialmente, quando
rompe com o diálogo com a sociedade civil.
No que se refere a atuação na política de proteção social, o governo de Michel
Temer (2016-2018) institucionalização a Emenda Constitucional nº 95/2016, que congela por
20 anos os recursos destinados à Seguridade Social:

Art. 106. Fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros, nos
termos dos arts. 107 e 114 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Ou seja, a criação de um teto de controle de gastos principalmente para a Politica de


Assistência Social fragilizando as conquistas já adquiridas e impedindo o avanço de novas
conquistas, constituindo assim em impactos significativos no II Plano Decenal de Assistência
social.
Isso porque, o II Plano Decenal apresenta como principais metas e objetivações a
universalização do acesso ao SUAS, na tentativa de ampliar e qualificar a rede de serviços
socioassistencias ofertadas aos usuários da Política de Assistência Social.
4. OS IMPACTOS DA EMENDA CONSTITUCIONAL NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: A
REALIDADE DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE1.
A partir do que já foi exposto no texto acima mencionado, os impactos da Emenda
Constitucional nº 95/16 no II Plano Decenal de Assistência Social (2016-2016) se faz sentir
diante de duas diretrizes e seus respectivos objetivos estratégicos – Diretriz 1 e 2:
Em relação à Diretriz 1 – Plena Universalização do SUAS, tornando-o
completamente acessível, com respeito à diversidade e à heterogeneidade dos
indivíduos, famílias e territórios.
O congelamento dos recursos financeiros direcionados à assistência social
compromete a gestão pública no reconhecimento territorial, quando se atenta à diversidade
existente na sociedade, e com isso, a possibilidade de detectar a presença de
vulnerabilidades nas condições de vida.
É diante de uma gestão atuante que há o enfrentamento das desigualdades sociais,
através do desenraizamento da discriminação no atendimento, provendo assim, uma
proteção social qualificada aos usuários em situação de desproteção social.
Além disso, as principais objetivações se dão com a ampliação da cobertura da
política de Assistência Social, na tentativa de garantir seu caráter universal, expandindo os
direitos socioassistenciais e intensificando a qualificação da rede de serviços. Sendo
necessário, assim, a intensificação nas ações sociais com a busca ativa, estratégia de
proteção social, e de apoio ao acesso aos usuários à política de assistência social na
ampliação do SUAS a todos os brasileiros.
No que se refere à Diretriz 2. Continuo aperfeiçoamento institucional do SUAS,
respeitando a diversidade e heterogeneidade dos indivíduos, das famílias e dos
territórios.
Constata-se que a gestão do trabalho, a gestão da vigilância socioassistencial, a
gestão orçamentária e financeira e do pacto federativo na proteção social encontram-se
comprometidos, já que não se tem mais perspectiva na ampliação do cofinanciamento para
o pagamento das equipes de referência com as diferentes esferas de governo.

1 A Região Metropolitana do Recife está estruturada em 15 municípios – Recife, Olinda, Paulista,


Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe, São Lourenço da Mata, Moreno, Cabo de Santo Agostinho,
Ipojuca, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma, Itamaracá, Araçoiaba, Goiana -, sendo que para esse
estudo foram secionados 9 municípios que apresentam o maior quantitativo populacional e, também,
aqueles com o maior percentual da população em extrema pobreza, quando relacionado ao
quantitativo por habitantes. Isto é, os municípios que estão acima de 10% da população em extrema
pobreza.
Além disso, o aprimoramento da gestão compartilhada, descentralizada e participativa
do SUAS fica comprometida, uma vez que pacto federativo se fragiliza com as dificuldades
de muitos municípios em atuarem com a disponibilidade de recursos financeiros.
Essa situação é visível na realidade da Região Metropolitana do Recife, através dos
dados obtidos pelos Relatórios de Programas e Ações do Ministério da Cidadania, quando
evidencia que os municípios com menor número de população por habitação apresentam o
maior percentual de população em extrema pobreza.
Diante desses dados é possível estabelecer uma relação entre os municípios de
menor porte com os maiores percentuais de população vivendo em extrema pobreza, isto é,
acima de 10% entre os quais: Araçoiaba, Itapissuma, Goiana, Moreno e São Lourenço da
Mata.
Outra questão é o comparativo entre o quantitativo de equipamentos da Rede
Socioassistencial do SUAS, que apresenta em maior quantidade nos municípios de maior
porte com o percentual de população em extrema pobreza menor, que são os municípios de
Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Paulista; enquanto um quantitativo bastante
reduzido desses equipamentos nos demais municípios, que a população em extrema
pobreza constituem mais de 10% da população total de cada município.
Tabela 1: Região Metropolitana do Recife – 9 municípios
% da relação
Pop. Equipamentos da Rede
habitantes e pop.
Município Pop./hab Extrema Socioassistencial do
em extrema
Pobreza SUAS
pobreza.
Recife 1.637.834 100.352 6,1% CRAS – 12/CREAS - 4
Olinda 391.835 27.509 7% CRAS – 10/CREAS - 1
Paulista 329.117 21.210 6,4% CRAS – 6/CREAS - 2
Jaboatão dos Guararapes 697.636 59.234 8,5% CRAS – 12/CREAS - 2
Araçoiaba 20.312 3.245 15,9% CRAS – 1/CREAS - 1
Itapissuma 26.397 4.157 15,7% CRAS – 1/CREAS – 1
Goiana 79.455 11.572 14,5% CRAS – 2/CREAS – 1
Moreno 62.263 7.816 12,5% CRAS – 2/CREAS - 1
São Lourenço da Mata 112.362 13.254 11,7% CRAS – 3/CREAS - 1
Fonte: MDS/CadSUAS (Base corporativa) Março/2019: Relatórios de Programas e Ações-
2019/Secretaria Especial de Desenvolvimento Social.

Fica evidente que os impactos com a Emenda Constitucional N°95/2016 já pode ser
visualizada, uma vez que o congelamento dos recursos financeiros impossibilita a expansão
da rede de serviços socioassistenciais, como bem está prevista no pacto federativo, e
consequentemente as intervenções sociais diante da população vivendo em extrema
pobreza tende a aumentar cada vez mais.
Uma das problemáticas constatada com a limitação dos recursos financeiros é a
dificuldade que os municípios enfrentam com a manutenção dos equipamentos da Rede
socioassistenciais, entre os quais as equipes limitadas na intervenção da questão social
frente ao aumento dos usuários na busca dos serviços, programas e projetos da assistência
social.
É evidente a fragilidade da assistência social e o desmonte da Seguridade Social
diante de uma política de governo que faz retroceder a assistência social ao viés
assistencialista diante de uma conjuntura neoconservadora.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o propósito de evidenciar os impactos da Emenda Constitucional nº


95/2016 na Política de Assistência Social, os desafios do II Plano Decenal de Assistência
Social ocorre pela fragilidade do Pacto Federativo entre os entes da federação brasileira
(Município, Estado, Distrito Federal e Governo Federal) quando aponta as limitações dos
municípios, ao mesmo tempo, que deixa evidente a desresponsabilização do Governo
Federal sobre a política de assistência social.
Outra problemática é que as limitações dos recursos aos financiamentos da
Assistência Social faz emergir os investimentos em programas pontuais e segmentados a
partir de relações de parcerias entre público-privado e ações filantrópicas e/ou de
Organizações Não Governamentais.
Além disso, a criança de programas sociais pontuais como o Programa Criança Feliz,
vinculado ao Sistema Único de Assistência Social por meio de uma concepção
predominantemente tecnicista, contribui para a despolitização da Política de Assistência
Social junto aos usuários da assistência social.
E, por fim, a Emenda Constitucional nº 95/2016 causa impactos na seguridade social
quando o desmonte dessa política inviabiliza a universalização da assistência social aos
usuários que dela necessita por meio de equipes limitadas, de equipamentos da rede
reduzidos e do aumento da pobreza e do aprofundamento das desigualdades sociais na
conjuntura neoliberal e de crise política da sociedade brasileira.
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