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http://periodicos.uem.br/ojs/acta
ISSN on-line: 1807-8656
Doi: 10.4025/actascihumansoc .v40i3.40552 HISTÓRIA
RESUMO. O Brasil ao longo de sua trajetória histórica teve promulgada e/ou outorgada oito
Constituições, que no decorrer dos anos foram implementadas conforme as orientações socioeconômicas
de seus agentes burocráticos e políticos. Entre a primeira Constituição, de 1824, e a atual, de 1988,
ocorreram modificações com a intencionalidade de assegurar os preceitos de equidade entre todos os
membros que compõem a comunidade nacional, buscando de certa forma alcançar o bem-estar. Assim, este
artigo tem a intencionalidade de investigar a trajetória histórica das legislações brasileiras que
transformaram algumas políticas sociais em direitos de cidadania. Para esta pesquisa, de cunho qualitativo,
foram utilizados como instrumentos metodológicos a pesquisa bibliográfica e a documental, na qual
analisa-se um conjunto amplo de legislações composto pelos textos constitucionais e normativas
ministeriais que institucionalizaram e regulamentaram o campo da assistência social em todo o país.
Analisando esse processo histórico, evidencia-se a ampliação dos direitos sociais estabelecidos e garantidos
pela Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988, e que por isso é conhecida como a
Constituição Cidadã.
Palavras-chave: Constituição Federal; assistência social; políticas assistenciais; Bem-Estar.
The Constitution of 1988 in Brazil and social assistance: trajectories of social inclusion and
poverty combat
ABSTRACT. Throughout its historical trajectory, Brazil has enacted and/or granted eight Constitutions,
which over the years were implemented according to the socioeconomic orientations of its bureaucratic
and political agents. The difference between the first Constitution of 1824 and the present Constitution of
1988 is evident, which has been modified with the intention of ensuring the precepts of equity among all
the members of the national community, thus seeking to achieve Welfare. Thus, this article intends to
investigate the historical trajectory of the Brazilian legislations that have transformed some social policies
into citizenship rights. For this qualitative study, bibliographic and documentary research were used as
methodological instruments, in which we analyzed a broad set of legislation composed of constitutional
texts and ministerial regulations that institutionalized and regulated the field of social assistance throughout
the country, guaranteeing to all citizens minimum access to state resources that ensure improved quality of
life. Analyzing this historical process, it is evident the expansion of the social rights established and
guaranteed by the 1988 CRFB, and which is therefore known as the Citizen Constitution.
Keywords: Federal Constitution; social assistance; assistance policies; Welfare.
centro de debate uma contundente crítica ao caráter A ruptura com o status quo e o alcance de um
excludente da política social vigente até então. novo modelo de Estado, que fornecesse as liberdades
Assim, ao analisarmos o processo de elaboração individuais e as condições de igualdade social,
da Carta Magna brasileira, vê-se a importância dos serviram como meio de junção às reivindicações
movimentos sociais como uma força da população sustentadas. Conforme Bringel e Gohn (2012), as
para reivindicar melhorias na relação dos órgãos teorias que orientavam os movimentos sociais da
estatais que prestam atendimento à população, mas década de 1980 originavam-se de paradigmas
também são a mola propulsora de mudanças no europeus de abordagem dos novos movimentos
próprio ordenamento político do Estado. A análise sociais, nas quais as categorias de identidade e
das décadas de 1970 e principalmente de 1980 é autonomia foram as de maior destaque, seguidas de
importante não somente para entender o alcance da outras como sociedade civil, cidadania, participação
democratização, mas também para compreender o social, justiça social. A partir destas mobilizações
impacto dos movimentos sociais para a mudança do sociais diferentes demandas entraram na agenda
ordenamento social e sua potência na concretização pública nacional forçando, nas décadas seguintes, os
de objetivos. governantes e/ou representantes políticos a
repensarem e a legislarem sobre questões como
O período de transição à democracia despertou
educação, saúde, trabalho, assistência social e
grande interesse dos analistas brasileiros no estudo
das ações coletivas e dos movimentos sociais. A redistribuição de renda, entre outros.
década de 1980 marcou, de certo modo, a
institucionalização deste debate no país através da Políticas de transferência de renda no Brasil pós-
emergência de análises altamente qualificadas que até 1988
hoje são importantes referências. Naquele momento
os novos movimentos sociais adquiriram suas A Constituição Federal de 1988 foi um grande
próprias especificidades e chegaram a ser um tema passo para que o povo brasileiro possuísse maiores
central das ciências sociais no país (Bringel & Gohn, condições de igualdade econômica, social e civil, na
2012, p. 9). medida em que programas assistenciais de
transferência de renda foram implementados. Com
As práticas de reivindicação realizadas no Brasil
superam a estratégia de organização como ocorreria isso a ideia de justiça social promovendo condições
com os sindicatos, grupos de esquerda, Igreja igualitárias de acesso a serviços foi determinante para
Católica. Isso ocorria porque os movimentos sociais a ampliação dos programas assistenciais de cunho
se organizavam de forma coletiva, mas não da forma redistributivo. Os padrões clássicos utilizados para os
tradicional por intermédio das organizações. Para programas sociais na década de 1980 se fazem sentir
Sader (2001, p. 10), há a insurgência do ‘novo com as reivindicações de redemocratização do país.
sujeito’, que estaria relacionado a um sujeito criado a Conforme Burlandy, Magalhães, Monnerat, e
partir da prática política e social, e como fruto de Schottz (2007), nesse momento ganham fôlego as
ações de indivíduos que em um dado momento críticas ao caráter de centralização, burocratização,
histórico “[...] passam a definir-se, a reconhecer-se privatização, exclusão e de ineficiência social da
mutuamente, a decidir e agir em conjunto e a intervenção estatal.
redefinir-se a cada efeito resultante das decisões e Dois traços característicos da política social brasileira
atividades realizadas”. vêm se destacando enquanto questões-chave a serem
A efetiva participação dos movimentos sociais na enfrentadas: a) os segmentos pobres são os que
década de 1980 foi substancialmente importante para tradicionalmente têm maiores dificuldades de
a redemocratização do Brasil e para o alcance das acessar os bens e serviços sociais, contribuindo para a
premissas de garantias individuais e coletivas. persistência da desigualdade social; e b) a falta de
Conforme Hamel (2009), por conta dos interação entre os diferentes setores de governo,
entre governo e sociedade e a consequente
movimentos sociais a esfera pública teve imensa
dificuldade de coordenação das ações desenvolvidas
modificação, pois até então somente os partidos (Burlandy et al., 2007, p. 87).
políticos tradicionais e as elites discutiam os
problemas sociais numa hierarquização vertical de Com a redemocratização, a Assistência Social foi
cima para baixo. Dessa forma, estruturou-se uma inserida na nova Carta Magna como um direito
proposta alternativa à lógica do poder dominante no independente de contribuição à previdência social.
país, pois a partir desse momento as aspirações e Diante de um autêntico e paradigmático direito
demandas sociais das classes oprimidas ganharam social, consegue a assistência social obter na atual
espaço para discussão na esfera pública por conta de ordem constitucional, a partir de uma característica
suas manifestações. geral identificadora dessa categoria de direitos, “[...]
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obrigações de prestação positivas cuja satisfação Por meio dessa iniciativa o trabalho infantil foi
consiste num fazer, uma ‘ação positiva’ a cargo dos percebido como um grave entrave para o pleno
poderes públicos” (Queiroz, 2006, p. 25, grifo do desenvolvimento das crianças, vulnerabilizando este
autor). estágio da vida. Por meio do Peti, as crianças
Dessa forma, a assistência aos indivíduos em brasileiras foram inseridas no sistema de proteção
situação de vulnerabilidade deve ser prestada pelo social que atualmente oferta uma série de programas
Estado, com a prática de ações, benefícios e e serviços que inibem sua participação nos mundos
programas sociais que caracterizem a concretude dos do trabalho, garantindo seu acesso à saúde e à
objetivos antecedentemente estipulados pela própria educação de forma universalizada. Por meio do Peti
Constituição (Castro, 2013). Os programas conseguiu-se difundir entre a comunidade nacional
assistenciais foram institucionalizados para alcançar a noção de que a infância é um estágio vulnerável da
os segmentos mais vulneráveis da sociedade, o que vida e que tanto o estado quanto a população em
levou o Brasil a pensar os programas de transferência geral deve garantir que todas as crianças disfrutem
de renda a partir do início da década de 1990, dos bens sociais e culturais aos quais possuem
quando o interesse na implementação deste tipo de direito.
programa passa a ser inserido no contexto da nova Já na década de 2000 destacam-se outras
ordem brasileira. iniciativas de transferência de renda, sobressaindo-se
Em 1991, por intermédio do projeto de Lei nº entre elas o Vale Gás, programa criado pelo então
80, o então senador Eduardo Suplicy propunha a presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) em
instituição do Programa de Garantia de Renda 2001, sendo posteriormente incorporado ao
Mínima, de caráter universalista, que sugeria programa Bolsa Família. Este programa era
transferir uma renda para todos os brasileiros com administrado pelo Ministério de Minas e Energia,
mais de 25 anos de idade numa faixa de renda pré- garantindo o auxílio financeiro de R$ 15,00 a cada
determinada. A ideia era beneficiar sob a forma de dois meses para famílias que possuíam renda mensal
imposto de renda negativo as pessoas que recebiam de no máximo meio salário mínimo para que
até 2,5 salários-mínimos brutos mensais, sendo que pudessem realizar a compra do gás de cozinha,
“[...] o imposto de renda negativo seria sendo que no ano de 2001 o salário mínimo era de
correspondente a 50% da diferença entre aquele R$ 180,00.
patamar de renda e a renda da pessoa, caso ela O programa atendia a famílias que já eram
estivesse trabalhando, e 30% no caso em que a assistidas pelo Bolsa Escola e outros programas que
pessoa tivesse rendimento nulo” (Suplicy, 2002, integravam a chamada Rede de Proteção Social. O
p. 123). objetivo inicial do programa era diminuir a fome no
Em 1996, no governo do presidente Fernando país, no entanto, mesmo com o acesso ao gás,
Henrique Cardoso (FHC), foi instituído o estudos realizados demostraram que muitas famílias
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). atendidas por esta política ainda sofriam com a
No entanto, foi somente com sua estruturação pela desnutrição porque não conseguiam comprar o gás
Lei nº 12.435, de 06 de Julho de 2011, sob a égide do regularmente (Brasil, 2002). De caráter focalizado,
extinto Ministério do Desenvolvimento Social e este programa, apesar de impactar positivamente na
Combate à Fome3, que o programa obteve impactos diminuição das vulnerabilidades, possuía ação
positivos sobre a população infantil, expandindo-se limitada, já que não garantia o pleno acesso ao
por diferentes regiões do país. Este programa é conjunto de alimentos necessários para o combate à
integrante da Política Nacional de Assistência Social, subnutrição. Ainda cabe ressaltar seu caráter seletivo,
que, no âmbito do Suas4, compreende transferências pois elencava como alvo principal um grupo
de renda, trabalho social com famílias e oferta de pequeno de indivíduos que estavam em situação de
serviços socioeducativos para crianças e adolescentes vulnerabilidade, impactando muito pouco sobre
que se encontrem em situação de trabalho (Brasil, outras esferas da vida.
2011). Outro importante programa deste mesmo
contexto histórico foi o Bolsa Escola, implantado em
3
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome foi extinto em 2001, durante o governo de FHC, e posteriormente
29/09/2016 pela Lei nº 13.341, sendo transformado em Ministério do
Desenvolvimento Social e Agrário. incorporado ao programa Bolsa Família. O programa
4
O Sistema Único de Assistência Social integra uma política pactuada
nacionalmente, que prevê uma organização participativa e descentralizada da
tinha como objetivo promover o combate à pobreza
assistência social, com ações voltadas para o fortalecimento da família. Baseado e a exclusão social por intermédio da educação,
em critérios e procedimentos transparentes, o Sistema altera fundamentalmente
operações como o repasse de recursos federais para estados, Municípios e fornecendo mensalmente às famílias que se
Distrito Federal, a prestação de contas e a maneira como serviços e as
municipalidades estão hoje organizados (Brasil, 2011). enquadravam em seus ditames um valor para ser
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investido na educação das crianças, impedindo que proveriam os serviços para o cumprimento da
fossem obrigadas a trabalhar para obter renda. O ‘Agenda de Compromissos’ (Brasil, 2001).
pagamento da bolsa era de R$ 15,00 por filho, Ambos os programas foram importantes
limitado ao máximo de três crianças, e dava-se instrumentos na concretização dos direitos sociais,
através de saque em agência da Caixa Econômica no entanto seu caráter extremante focalizado e o
Federal. baixo aporte financeiro do estado em sua promoção
Para participar da Bolsa Escola as famílias diminuíram sua capacidade protetiva, deixando de
precisavam se enquadrar em alguns requisitos, como fora dos programas centenas de milhares de famílias
morar há mais de cinco anos no município da escola que viviam na miséria. Além disso, o excesso de
onde a criança pretendia estudar; possuir uma renda contrapartidas fazia com que cotidianamente
mensal máxima de meio salário por pessoa adulta de centenas de famílias fossem expulsas do programa,
cada família e que estivesse apta para trabalhar; os vulnerabilizando ainda mais indivíduos que viviam
filhos deveriam ter entre sete e 14 anos de idade e em situação de miséria extremada. Neste contexto,
estar matriculados em uma escola; necessidade de as contrapartidas possuíam um caráter especialmente
que o responsável se comprometesse em manter as investigatório e punitivo, aquém de suas reais
crianças frequentando a escola. Para poder participar pretensões que era facilitar o acesso à saúde e
do Bolsa Escola a família deveria possuir renda educação de maneira universal.
mensal máxima de R$ 90,00 por pessoa, e os filhos Em abril de 2003, já no governo do então
deveriam estar matriculados e frequentando presidente Lula, foi criado o programa nacional de
regularmente a escola. O acompanhamento e o acesso à alimentação ‘Cartão Alimentação’, instituído
controle de frequência das crianças na escola eram pelo decreto nº 4.675, de 16 de abril de 2003, que
realizados pela Secretaria de Educação (Brasil, 2001a; visava garantir a pessoas em situação de insegurança
2001b). alimentar recursos financeiros ou o acesso a
Criado também pelo governo de FHC, o Bolsa alimentos em espécie, cabendo ao Gabinete do
Alimentação foi instituído pela Medida Provisória nº
Ministro de Estado Extraordinário de Segurança
2.206-1 de 06 de setembro de 2001 (Brasil, 2001a;
Alimentar e Combate à Fome a definição da forma
2001b), e incorporado em 2003 pelo Bolsa Família.
de concessão do benefício, se em dinheiro ou em
O programa destinava-se à promoção das condições
alimentos em espécie.
de saúde e nutrição de gestantes, nutrizes e crianças
Considerando a situação de insegurança
de seis meses a seis anos e onze meses de idade,
alimentar como a falta de acesso à alimentação digna,
mediante a complementação da renda familiar para
em quantidade, qualidade e regularidade suficientes
melhoria da alimentação, pagando valores que
para a nutrição e a manutenção da saúde da pessoa
variavam de R$ 15,00 a 45,00 por família
humana, o programa pagava o valor de R$ 50,00 por
beneficiada.
pessoa ou família com renda familiar mensal per
Após o ingresso do Município no Programa, cada
capita de até meio salário mínimo, que no ano de
família cadastrada recebia a importância mensal de
2003 era de R$ 240,00, sendo que cada pessoa ou
R$ 15,00 (quinze reais) por beneficiário até o limite
família receberia mensalmente apenas um benefício
de três Bolsas-Alimentação, ou seja, até R$ 45,00
do ‘Cartão Alimentação’ (Brasil, 2003).
(quarenta e cinco reais); a mãe ou responsável pelo
Criado também em 2003, o programa Bolsa
recebimento do benefício tinha um cartão
Família só foi instituído pela lei nº 10.836, de 09 de
magnético para retirada mensal do dinheiro em
janeiro de 2004, a partir da junção e aperfeiçoamento
qualquer ponto de atendimento da Caixa Econômica
Federal (CEF). O Bolsa Alimentação tinha duração de outros programas já existentes, como o Vale Gás,
de seis meses, podendo ser renovado por períodos Bolsa Escola e Bolsa Alimentação. Este é um
iguais, desde que o responsável pelo recebimento programa que contribui para o combate à pobreza e
cumprisse uma ‘Agenda de Compromissos’, que à desigualdade no Brasil, possuindo três eixos
consistia em ações básicas como pré-natal, vacinação, principais de atuação: complemento de renda, acesso
acompanhamento do crescimento e a direitos e articulação com outras ações. É
desenvolvimento infantil e atividades educativas em considerado um programa de transferência direta de
saúde e nutrição. renda, direcionado às famílias em situação de
Os beneficiários do Programa eram assistidos por pobreza e de extrema pobreza em todo o país, de
uma equipe do Programa Saúde da Família (PSF), modo que consigam superar a situação de
pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) ou vulnerabilidade e pobreza. O programa busca
ainda por uma unidade básica de saúde nas garantir a essas famílias o direito à alimentação e o
localidades não cobertas pelo ACS ou PSF, que acesso à educação e à saúde.
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século XX garantiam pouca ou nenhuma proteção acesso aos serviços sociais tornou-se um imperativo,
aos brasileiros que estivessem fora do mercado de unindo boa parte da sociedade em torno da questão
trabalho, transformando a Assistência Social estatal social.
em privilégio dos poucos que podiam contribuir Foi dentro deste escopo que os programas
financeiramente com este sistema protetivo. assistenciais em seus diversos formatos tornaram-se
Nesse período a estrutura do Estado era mínima uma alternativa no combate à pobreza, permeando as
e havia pouco espaço para políticas sociais de cunho questões educacionais de saúde pública, nutrição,
universal, aquelas que existiam eram focalizadas, trabalho decente, etc., que precarizam e
emergenciais e cessavam logo que o problema era vulnerabilizam os conteúdos da cidadania. Assim, os
combatido, como foram os casos das vacinações, dos programas assistenciais possuem, dentre outras
‘menores abandonados’, das campanhas de finalidades, realizar a transferência de renda para
letramento, entre outras. Se durante a Monarquia e indivíduos que se encontram em situação de
Primeira República as políticas sociais eram vulnerabilidade, análoga à pobreza.
diminutas, pouco efetivas e calcadas no discurso Com isso o Estado implementa um programa
liberal de diminuição do Estado, durante a Segunda para transferir renda aos indivíduos que carecem
República estas mesmas políticas estavam destinadas deste auxílio para garantir suas condições mínimas
apenas aos trabalhadores urbanos, deixando de fora de existência. No Brasil, desde a redemocratização
do círculo trabalhadores rurais, desempregados e na década de 1980, pudemos ter a vivência de
seus familiares. O entendimento da proteção social governos com ideologias liberais, e mais
como um direito pleno inexistia. recentemente, com os presidentes Luís Inácio Lula
Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 é da Silva e Dilma Vana Rousseff, a inserção de
reconhecida entre os mais diversos setores da paradigmas de um governo social. Assim,
sociedade brasileira como Constituição Cidadã. Isso implementado em 2004 no governo Lula, o
ocorre devido à amplitude e o alargamento dos programa Bolsa Família visa realizar a transferência
direitos individuais e coletivos, garantidos por direta de renda às pessoas consideradas em situação
intermédio dos princípios fundamentais e dos de pobreza ou de extrema pobreza.
direitos e garantias fundamentais, tais como o Brasil Com esta pesquisa sobre alguns programas
constituir-se de um Estado Democrático de Direito. assistenciais de cunho redistributivo, é possível notar
Assim, tem-se como fundamentos a cidadania, a a implementação das diretrizes da Constituição
dignidade da pessoa humana, os valores sociais do Federal de 1988, ao estabelecer a transferência de
trabalho e da livre iniciativa, constituindo como renda a quem necessita, independente de pagamento
objetivos fundamentais a construção de uma à Previdência Social. Sobre as Constituições do
sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da Brasil, pode-se verificar a gradativa ampliação dos
pobreza e a exclusão social, redução das direitos sociais aos indivíduos, que atuando de forma
desigualdades sociais e regionais, garantindo que participativa fizeram com que o Estado
todos são iguais perante a lei, sem distinção de implementasse programas sociais redistributivos,
qualquer natureza. E mais do que dar ênfase ao que pretendiam ampliação da igualdade.
indivíduo, a Constituição Federal de 1988 também
externaliza a importância dos direitos sociais, que são Referências
garantidos por intermédio da seguridade social, que Alves, I. S., & Mesquita, S. P. (n.d.). O programa Bolsa
abrange direitos universalizantes à saúde, Família: uma análise de seus limites e potencialidades
previdência social e assistência social. enquanto política pública intersetorial, transversal e focalizada
No entanto, cabe ressaltar a importância dos (Monografia de Especialização). Universidade Federal
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