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como centro na elaboração de ações construídas por meio das relações no meio social (Bobbio,
1986).
O Estado, ao longo da história da humanidade, também adquiriu significados diferentes:
Estado Antigo, Estado Grego, Estado Romano, Estado Medieval e Estado Moderno. Nas
antigas civilizações orientais de caráter teocrático, prevalece a diferenciação de castas com
predomínio da sacerdotal. A autoridade tem origem divina e dela emanam o poder dos
governantes e as regras de conduta dos governados, mas sem divisão política, territorial ou de
funções. Na Antiguidade grega, não se pode falar em Estado como unidade única, mas este se
configura sob a forma das cidades: estado, nas quais se fazem presentes a soberania, a
autonomia administrativa e executiva desempenhada por uma elite de cidadãos, aí
compreendidos aqueles que detinham a liberdade e posses. Já o exercício da atividade
econômica era delegado aos escravos, que viviam exclusivamente para a política ou para a
polis (cidade), pois a sua vida se confundia com a do Estado. Quanto ao Estado Romano, este
origina-se do agrupamento de famílias, compostas pelos descendentes dos fundadores, a quem
cabia o privilégio político, administrativo e militar, logo a condição de cidadania. Só
posteriormente, com as demandas por recursos para manter seus domínios e a anexação de
territórios conquistados, parte dos privilégios expandiu-se para outros, para o povo. Portanto, a
base do Estado Romano, que foi política e militar, esteve restrita aos cidadãos.
No medievo, prevalecem a autoridade e domínio universal da Igreja. Apesar de o poder
dividir-se entre Igreja e nobreza, cabia a essa última apenas o controle dos feudos. O longo
período medieval compôs-se por formas diferenciadas de organização política, caracterizado
essencialmente pelo domínio e concentração do poder da Igreja e por intensas lutas territoriais
que culminam com a unificação de territórios, com a soberania do Estado e com a legitimação
do poder por intermédio do Direito. Com a obra de Maquiavel, O Príncipe, inaugura-se o
Estado Moderno, centralizado no soberano, cujos poderes e autoridade têm origem divina
(Bobbio, 1987; Bobbio, Matteucci & Paquino, 2000; Ferreira & Correia, s/d). E a
Institucionalização política do Estado
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Segundo Draibe e Wilnês (1988), teria havido um círculo virtuoso entre a política
econômica keynesiana e o Welfare State: "aquela regula e estimula o crescimento econômico,
esta por sua vez arrefece os conflitos sociais e permite a expansão de políticas de corte social,
que amenizam tensões e potencializam a produção e a demanda efetiva" (p. 54). No início da
década de 1970, o capitalismo vivência complexas transformações com o esgotamento do ciclo
de crescimento econômico ocidental, típico do modelo fordista de acumulação, embasado
numa certa estabilidade nas relações industriais de trabalho. Trata-se da crise Welfare State,
que significou a impossibilidade de se compatibilizar capitalismo e equidade; acumulação e
garantia de direitos políticos e sociais básicos. De caráter econômico (tamanho do Estado),
burocrático (centralização), quebra do pacto político (capital e trabalho), perda da eficácia
distributiva, a crise do Welfare State é, sobretudo, uma crise de caráter financeiro-fiscal: com a
diminuição das receitas públicas, devido à crise econômica, ocorre a diminuição dos
financiamentos para os programas sociais (Draibe & Wilnês, 1988).
Como resposta à crise, inicia-se o processo de reorganização do capital, com o advento do
neoliberalismo privatização do Estado, desregulamentação dos direitos do trabalhador,
reestruturação da produção e do trabalho. Essas mudanças teriam o objetivo de propiciar ao
capital elementos para a expansão e acumulação. A reestruturação do capital surge como uma
resposta à crise, e, com esta, emerge a desregulamentação de mercados, pelo advento de formas
de organização produtiva, como a subcontratação, a terceirização, o pequeno negócio, em um
processo de reestruturação e flexibilização associada a uma sofisticação tecnológica e
organizacional.
medidas de proteção social. No Brasil, como em toda a América Latina, o neoliberalismo chega
tardiamente e com grandes desafios:
As políticas sociais públicas latino-americanas no século XXI têm duplo desafio: superar
suas heranças do século XX, sob a conjuntura do modelo neoliberal, e confrontar as
desigualdades sociais e econômicas de forma a garantir a universalidade e a equidade de
direitos humanos e sociais, tornando-os alcançáveis para os estratos que permanecem
precarizados em suas condições de vida, trabalho e cidadania (Sposati, 2011, p. 104).
Segundo Carvalho e Yamamoto (2008), enfocar a gestão das políticas públicas no Brasil é
considerar, de forma nuclear, a ideologia neoliberal que, em seu programa, objetiva a
decomposição do atendimento público e estatal no setor da assistência social. Os neoliberais
defendem o individualismo e o encaram como chave para o sucesso da democracia em um
contexto de "Estado mínimo", defendem o automatismo autorregulador do mercado e
compreendem que os indivíduos são motivados por interesses próprios e cooperam involunta-
riamente devido ao mecanismo de regulação do mercado. Nessa concepção, há o "Estado
mínimo" para o trabalho e o "Estado máximo" para o capital.
De acordo com Trevisan e Bellen (2008), a construção histórica das políticas públicas no
Brasil é marcada por três etapas: a primeira, relativa ao modelo de desenvolvimento do Brasil;
a segunda, marcada pelo fim do período de ditadura militar; e a terceira, caracterizada pela
difusão da ideia de reforma do Estado e do aparelho de Estado. Raupp e Milnitsky-Sapiro
(2005) apontam para o fato de que ainda há uma distância entre os projetos e as práticas no
âmbito das políticas públicas, o que mostra a falta de articulação entre os órgãos
governamentais, denuncia a falta de eficiência do setor público, e leva ao questionamento do
papel do Estado na implementação dessas políticas.
De acordo com Cruz e Guareschi (2010), ao se debater sobre a implementação da
assistência social como política pública, faz-se necessário compreender os caminhos anteriores
a essa construção. A trajetória de organização social do Brasil em relação à assistência social
foi marcada pela dependência com o império lusitano à época da colonização do Brasil. Os
índios e os africanos,
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explorados pela sua força de trabalho, eram tidos como selvagens, criando-se, assim, a
necessidade de discipliná-los por meio de evangelização e adequação aos costumes dos
portugueses, realizadas pelos jesuítas. Essa relação de dependência foi primordial para o
exercício do cuidar e da assistência, primeira forma de assistência efetivada pela caridade,
sendo fortalecida e regida pelos princípios da Igreja católica. Dessa forma, a assistência
oferecida à sociedade foi, em princípio, encarada como uma prática de caridade ou filantropia,
pela forte influência do modelo assistencial, que, iniciado na colonização teve continuidade
após a independência do Brasil, com a formulação da primeira Constituição brasileira.
Paia se entender essa prática assistencial, pautada pelas relações de poder, faz-se
importante conhecer o processo de formação dos direitos. A partir do século XVII, os direitos
civis, que consistem na igualdade e liberdade perante a lei, estavam relacionados com os
direitos da ordem burguesa, de ir e vir, para exercer a sua força de trabalho. Posteriormente, no
século XIX, emergiram os direitos políticos, como resposta às dificuldades enfrentadas pelas
classes trabalhadoras, na busca pelos seus direitos de participação na vida política e no
exercício do poder, antes reservada aos proprietários. Os direitos, nos séculos XVIII e XIX,
eram restritos aos proprietários e aos homens livres, enquanto a outra parte da sociedade
(homens não proprietários, escravos, mulheres, índios e crianças) era excluída e estigmatizada.
A partir desse processo de exclusão, a sociedade ganha força para lutar pela conquista dos seus
direitos. Dessa forma, o surgimento dos direitos sociais, no século XX, foi um reflexo dessa
luta, em especial realizada pela classe trabalhadora. Tais direitos refletem a luta pela garantia
dos direitos à saúde, alimentação, habitação, assistência, educação e melhor qualidade de vida
para todos (Cruz & Guareschi, 2010).
A partir das lutas e conquistas dos trabalhadores, no século XX; o Estado ganha nova
configuração em relação à sua implicação na área social e pública. Nessa nova configuração, a
sociedade teve um papel importante em relação a movimentos políticos e sociais em prol de
uma melhor qualidade de
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vida e garantia dos direitos, principalmente no período de 1980 a 1990. Tais movimentos
políticos e sociais incluíram as lutas pela redemocratização do país, os movimentos estudantis
e docentes, o feminismo, as lutas pela anistia, o surgimento da Nova República, a promulgação
da Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outros marcos,
que foram essenciais para a nova configuração do cenário político, econômico e social
brasileiro, na garantia de direitos aos sujeitos no exercício da democracia e cidadania (Cruz &
Guareschi, 2010; Raichelis, 1998).
A luta pela redemocratização do Estado, na década de 1990, ganha nova visibilidade no
cenário político da época, no que diz respeito à participação da sociedade civil na organização,
decisões e prioridades das políticas públicas. Desse modo, a partir de embates políticos, ocorre
a aprovação da Constituição de 1988, conhecida como a "constituição cidadã". Com ela, a
participação da sociedade na "coisa pública" ganha novas dimensões, modificando-se as for-
mas centralizadas e autoritárias, anteriormente adotadas no cenário político brasileiro, o que
representou grande avanço na democratização do país e na garantia de direitos à população
(Raichelis, 1998). Assim, a elaboração de políticas públicas, no contexto brasileiro
contemporâneo, configurou-se em um espaço de formação de direitos, na luta contra a
desigualdade social (Gonçalves, 2010; Raichelis, 1998).
No fim dos anos 80 do século XX, o Brasil defronta-se com um amplo movimento de
redemocratização, após a saída do regime militar, o que o faz inscrever um projeto de proteção
social na Constituição de 1988. Paradoxalmente, o Brasil começa a sofrer as influências do
neoliberalismo (redução do Estado) e, por outro lado, amplia a proteção social garantida
constitucional- mente como direito social. Assim, ainda nos anos 90 do século XX, surgem
diferentes modelos de bem-estar, na Europa, que vivenciou o assalariamento pleno, nos
serviços sociais universais e garantia de direitos, mudando-se para formas diferenciadas e
conviventes: uma gerida pelo mercado, voltada para trabalhadores empregados; e outra gerida
por instituições privadas, voluntárias, de caráter compensatório, voltada para marginalizados e
excluídos. No
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assistência social. Nesse sentido, a Lei Orgânica da Seguridade Social (Lei n. 8.212, de 1991)
dispõe sobre a organização da seguridade social, estabelecendo, entre seus princípios, a
universalidade na cobertura e no atendimento e a democratização e descentralização da
administração, levando em consideração a participação da comunidade (art. 1°).
ou não à seguridade social. Nesse caso, foi instituída, no ano de 1993, a Lei Orgânica da
Assistência Social (Lei n. 8.742), que estabelece a assistência social como um direito de todos
e dever do Estado, tendo como objetivos: proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência e à velhice; amparo às crianças e adolescentes carentes; promoção da integração
ao mercado de trabalhe; assistência às pessoas com deficiência e sua integração à vida co-
munitária; e garantia de um salário mínimo mensal como benefício à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso, desde que comprovem não possuir meios de manterem-se ou de serem
providos pela família (art. 20).
O art 2o estabelece ainda que a assistência social deve ser realizada em conjunto com as
políticas setoriais, objetivando o enfrentamento da pobreza, a garantia dos mínimos sociais, o
provimento de condições para atender contingências sociais e a universalização dos direitos
sociais (Lei n. 8.742). Vê-se, assim, a implantação de uma política de assistência social como a
positivação de um direito fundamental:
Inegavelmente, a relação entre direito e dever, que se estabelece a partir do reconhecimento
da assistência como direito positivo, assume significado inteiramente diverso de seu
desenvolvimento como prática de ajuda, ainda que sob responsabilidade estatal Enquanto esta
se guia por princípios humanitários, por sentimentos de dever moral, subjetivos e sujeitos à
vontade e possibilidade de pessoas e políticas, o dever legai de assistência submete-se a alguns
imperativos e particularidades (Centro de Educação a Distância, 2000, p. 106).
A Lei Orgânica de Assistência Social destaca, assim, os critérios universais de
elegibilidade, reiterando-se o papel do Estado como provedor dessa política uma inflexão para
um histórico marcado pela filantropia e discricionariedade. Representa ainda um mecanismo
institucional de coordenação mínima entre entes federados autônomos para o alcance de
objetivos comuns, no caso, a implementação de um novo modelo de política para a assistência
social (Costa et al., 2007). Trata-se de um modelo que se movimenta, pelo menos teoricamente,
da perspectiva do clientelismo e de uma política para pobres e excluídos, para poucos,
concebida por alguns como uma política auxiliar
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mediadora das demais (Sposati, 2011), para uma política fundamentada em direitos, que são
prescritos em conjuntos de leis que se fazem necessárias para regulamentar os direitos.
Dentre o conjunto de leis complementares, há que se destacar neste texto o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), de 1990, a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), de
1993, a Política Nacional do Idoso (PNI), de 1994, o Estatuto do Idoso, de 2003, a Política
Nacional de Assistência Social (PNAS), de 2004, e o Sistema Único de Assistência Social
(Suas), de 2005.
Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), Política Nacional de Assistência Social (PNAS),
Sistema Único de Assistência Social (Suas)
Loas
A assistência social une-se à saúde e previdência social, constituindo-se o tripé da seguridade
social, pautada pelos princípios do Bem-Estar Social. A partir dessa nova concepção, a
assistência se constitui como política pública de proteção social e um direito de todo cidadão a
condições dignas de vida. Essa nova concepção estabelece o passo inicial para a mudança da
associação da assistência como uma prática de caridade e benesse (Cruz & Guareschi, 2010).
A Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), vigente desde 1993, define em seu art. 1° a
assistência social como um direito do cidadão e dever do Estado.
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Compreende uma "Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos
sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas" (Cead, 2000; Lei n.
8.742,1993).
A Loas tem como princípios, entre outros: a supremacia do atendimento às necessidades
sociais; a universalização dos direitos; o respeito à dignidade e à autonomia dos cidadãos; a
igualdade de direitos; a primazia da responsabilidade do Estado; a participação da sociedade
civil organizada; a descentralização político-administrativa (Política Nacional da Assistência
Social, 2004).
Em 2003, realizou-se a IV Conferência Nacional de Assistência Social, cujas deliberações
impulsionaram a efetivação das diretrizes estabelecidas pela Loas, tendo sido aprovadas a
construção e a implementação do Sistema Único de Assistência Social (Suas) para
operacionalizar a Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Em 2004, foi aprovada a
PNAS, que trouxe como projeto político a radicalização dos modos de gestão e financiamento da
política de Assistência Social.
E a partir da Loas que a assistência social (como uma política de proteção social)
desenvolve mecanismos contra as diversas formas de exclusão social, na promoção de uma
melhor qualidade de vida para os sujeitos, por meio de oferta de serviços, programas e projetos
especializados (Cruz & Guareschi, 20x0). Nesse caminho, o sistema público de proteção social
ganha novo avanço, com a aprovação da nova PNAS, em 2004, pelo Conselho Nacional de As-
sistência Social (CNAS), a qual vem consolidar princípios, diretrizes, objetivos e ações da
assistência social. Com isso, pode-se prever o ordenamento dessa assistência em rede, de
acordo com os níveis de proteção social e complexidade: básica e especial, de média ou alta
complexidade, e, a partir disso, vem a proposição de construir o Suas (CNAS, 2005; Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome & Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2008).
A iniciativa de se construir uma política pública voltada para a assistência social partiu de
um novo modo de olhar a realidade brasileira, focando-se em
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uma visão social de proteção que perpassa o conhecimento e atendimento aos sujeitos em
situação de risco pessoal e social, conduzindo-os a identificar força e potencialidade na
construção de sua autonomia. A construção da política pública de assistência social, desse
modo, precisa levar em consideração três aspectos da proteção social: as pessoas, o contexto
em que estão inseridas, e o seu núcleo de apoio, a família (Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, 2004).
A PNAS constitui numa perspectiva socioterritorial, centrada em mais de 5 500 municípios
brasileiros, o que, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),
possibilitou a análise dinâmica da realidade desses municípios e o atendimento à população em
situação de risco e vulnerabilidade (MDS, 2004). É a partir da PNAS que são construídas, em
2005, as bases para o novo modelo de gestão do Suas e a criação da Norma Operacional Básica
(NOB/Suas). A construção do modelo de gestão e das bases normativas do SUAS possibilitou um
maior detalhamento das particularidades do sistema de atenção hierarquizado, a partir dos
níveis de proteção e complexidade no âmbito da assistência social. Dessa forma, a assistência
prestada aos sujeitos e famílias no Suas é entendida como um direito garantido pela
Constituição (MDS & Instituto de Estudos Especiais da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2008).
Suas
Esse novo marco regulatório introduziu significativas alterações, entre elas a exigência de
novos modos de organização, processamento, produção e gestão do trabalho (Raichelis, 2010).
O Suas, à semelhança do sus, é um modelo de gestão cuja configuração é descentralizada e
participativa; regula e organiza em todo o território nacional a rede de serviços
socioassistenciais; divide a gestão cofinanciada entre as três esferas: federal, estadual e
municipal. O Suas materializa, dá forma e concretiza a Loas na operacionalização dos direitos
garantidos na Constituição e assegurados como mecanismos de proteção social.
Esse sistema tem o território como base de organização, definido em função do número de
pessoas que necessitam de assistência e da complexidade
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direitos dos cidadãos (Conselho Federal de Serviço Social & Conselho Federal de Psicologia,
2007).
O Cras é responsável pela oferta de serviços continuados de proteção básica e de
assistência social a famílias, grupos e pessoas em situação de vulnerabilidade social. É
considerado a "porta de entrada" para os serviços da assistência social, mais especificamente
para a rede de proteção social básica do Suas. No Cras, são desempenhadas ações de proteção
social básica realizadas por meio de serviços, programas e projetos, tais como o Programa de
Atenção Integral às Famílias (Paif); ações de convivência para Idosos; serviços para crianças
de zero a seis anos, que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares, ao direito de brincar;
ações de socialização e de sensibilização para a defesa dos direitos das crianças; serviços
socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de seis a 24 anos, visando à
sua proteção, à socialização e ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; pro-
gramas de incentivo ao protagonismo juvenil e de fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários; centros de informação e de educação para o trabalho, voltados para jovens e
adultos; benefícios eventuais de assistência social - Auxilio-Natalidade e Serviço Funerário
Gratuito (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2004).
A equipe de profissionais do Cras é responsável pela implementação do Paif, de serviços e
projetos de proteção básica e pela gestão articulada no território de abrangência, sempre sob
orientação do gestor municipal. Sua composição é regulamentada pela NOB-RH/Suas e depende
do número de famílias referenciadas ao Cras. Em relação ao Paif, esse é um programa que
expressa um conjunto de ações relativas à acolhida, informação, inserção em serviços de
assistência social, promoção de acesso à renda e, especialmente, acompanhamento
sociofamiliar (MDS, 2006).
O trabalho do Cras tem como proposta constituir-se como espaço de referência que
possibilite aos usuários acessarem os serviços da assistência social. Essas atuações ocorrem
dentro da lógica de trabalho em rede, articulado, permanente e não ocasional, no
reconhecimento da realidade local, na sua
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complexidade, nas suas brechas, nas suas possibilidades de alterar o que está posto (CFSS & CFP,
2007). Um dos grandes desafios referentes ao trabalho no Cras é a articulação com a rede
socioassistencial e intersetorial, além do desenvolvimento de ações de forma integrada e
complementar, que percebam o sujeito e a comunidade de forma integral e não fragmentada.
Esse diálogo permanente fortalece laços e parcerias e potencializa ações de forma continuada.
Desse modo, pensar estratégias que considerem esses aspectos fortalece a atuação dos
psicólogos e aproxima-os da comunidade e de suas demandas (CFSS & CFP, 2007).
As atividades do psicólogo no Cras devem estar voltadas para a atenção e prevenção a
situações de risco, objetivando atuar nas situações de vulnerabilidade por meio do
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições pessoais e coletivas. Intervir em situações de vulnerabilidades,
dentro da assistência social, implica diretamente promover e favorecer o desenvolvimento da
autonomia dos indivíduos, oportunizando o empoderamento da pessoa, dos grupos e das
comunidades. Esse tipo de atuação requer referenciais teórico-metodológicos, que
fundamentem os programas, projetos, serviços e benefícios, que devem se promover em nova
ótica, garantido a autonomia, o protagonismo e a participação social (CFSS & CFP, 2007).
O psicólogo deve, em suas intervenções, visar ao enfrentamento e superação das
vulnerabilidades, investindo na apropriação, por todos, do lugar de protagonista na conquista e
afirmação de direitos. Nesse sentido, as práticas psicológicas não devem categorizar,
patologizar e objetificar a classe trabalhadora, mas buscar compreender os processos estudando
as particularidades e circunstâncias em que ocorrem, priorizando-se a mediação entre os
aspectos objetivos e subjetivos. Os processos devem ser compreendidos de forma articulada
com os aspectos históricos e culturais da sociedade, produzindo-se a construção de novos
significados ao lugar do sujeito-cidadão autônomo, que deve ter vez e voz no processo de
tomada de decisão e de resolução das dificuldades e problemas vivenciados (CFSS & CFP, 2007).
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• Serviço de média complexidade: Centro de Referência e Assistência Social Especializada
(Creas)
Os serviços de proteção social especial de média complexidade, de acordo com a PNAS,
desenvolvem maior estruturação técnico-operacional e atenção especializada e
individualizada, e/ou de acompanhamento sistemático e monitorado por uma equipe
especializada. Na proteção social especial de média complexidade, o Creas, como integrante
do Sistema Único de Assistência Social, constitui o polo de referência, coordenador e
articulador, responsável pela oferta de orientação e apoio especializados e continuados de
assistência social a indivíduos e famílias com seus direitos violados, mas sem rompimento de
vínculos (Cruz & Guareschi, 2010; Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
s/d).
De acordo com a Resolução n. 109, de 11 de novembro de 2009 (CNAS, 2009), foi
organizada pelo MDS uma nova Tipificação, em relação aos serviços oferecidos pelo Creas.
Atualmente, o Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual contra
Crianças e Adolescentes (iniciado já com o programa Sentinela) e o Serviço de Proteção Social
Especial a Indivíduos e Famílias foram integrados no Serviço de Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi). Quanto ao Serviço de Proteção Social aos
Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas, esse foi transformado em
Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de
Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade. Por sua vez, os serviços de
Habilitação e Reabilitação de Pessoas com Deficiência, Atendimento de Reabilitação na
Comunidade, Atendimento Domiciliar a Pessoas Idosas e Pessoas com Deficiência, e o
Atendimento em Centro-Dia, foram integrados no Serviço de Proteção Social Especial para
Pessoas com Deficiência, Idosos e suas Famílias e no Serviço Especializado para Pessoas em
Situação de Rua. No caso do idoso, esse serviço oferece atendimento domiciliar.
No que concerne ao Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e
Indivíduos, salienta-se que esse serviço deve desenvolver um processo
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sujeito de direito universal e participativo, assim como não servia a postura desse profissional.
Nesse último caso, o envolvimento da Psicologia e a luta travada pela reforma psiquiátrica
situaram um foco para a profissão no sentido de construção de um sistema universal de
proteção social, no caso o da saúde - Sistema Único de Saúde. E, com isso, a Psicologia ganha
um novo campo de atuação, o qual requer também um novo posicionamento de atuação, que
difere da tradicional prática clínica elitizada, anteriormente exercida pela profissão. Sobre esse
aspecto, Yamamoto (2003) aponta que a Psicologia possui, no Brasil, a tradição do
compromisso com as elites, numa prática de controle, higienização, categorização e
diferenciação de interesses necessários para a manutenção de lucro e reprodução do capital.
Essa prática de compromisso com a elite, segundo o autor, perpassa concepções naturalizadas
construídas historicamente, desde a época do Brasil colônia.
A prática da Psicologia concentrava-se, assim, nas áreas organizacional, educacional e
clínica, sendo esta última a mais focada e reconhecida como uma prática do psicólogo, dirigida
a uma pequena parcela da população: a elite. Desse modo, a inserção do psicólogo em novos
espaços que possibilitem o acesso à população a uma prática comprometida socialmente reflete
um longo caminho em construção, como o campo das políticas públicas (Yamamoto, 2003).
Sob essa ótica, o psicólogo, ao entrar nas políticas públicas, efetiva a luta pela
"deselitização" da profissão, colocando-a ao alcance de toda a população. Esse novo modo de
pensar da Psicologia refere-se a uma prática voltada para a garantia e o restabelecimento de
direitos. Um dos passos iniciais desse processo deu-se a partir dos estudos de Lane (1981), nos
quais se ressalta a importância de uma Psicologia comunitária, ou seja, uma Psicologia
implicada com a "questão social", com a comunidade, e não mais direcionada a uma prática
elitista (Bock, 2003; Lane, 1981), que permita à Psicologia construir referências para atuação
profissional nos espaços de políticas públicas. Entende-se per "questão social" o conjunto dos
problemas políticos, sociais e econômicos expressos por meio da contradição capital-trabalho
das exigências do processo de construção da sociedade capitalista (Yamamoto & Oliveira,
2010; Yamamoto, 2003).
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No que diz respeito a esse redesenho da profissão, Yamamoto (2003) descreve que esse
movimento foi reflexo de vários contingentes, diante do processo de redemocratização do país,
com o fim do período autocrático-burguês e da crise do período de acumulação capitalista.
Diante disso, ocorre uma mudança no perfil da profissão, devido às consequências da crise
econômica, e pela nova configuração da Constituição de 1988, em relação à garantia dos
direitos. Isso se reflete na falência do modelo de profissional autônomo e na abertura de novos
campos de atuação, a partir da redefinição do setor de bem-estar. Contudo, ainda são
destacadas, nesse período, duas tendências: a primeira delas é a hegemonia da prática clínica; e
a segunda, a atuação do psicólogo no campo social. Outros passos em direção à "deselitização"
da profissão, em ordem sucessiva, foram dados com a participação no processo de
redemocratização do país (Diretas Já, Pró-Constituinte, assinaturas para elaboração do Estatuto
da Criança e do Adolescente), com a reforma psiquiátrica, com a construção do sus e criação do
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas na busca por refletir e
sistematizar conhecimentos teóricos e práticos.
Desse modo, pensar a atuação do psicólogo nas políticas públicas é também pensar sobre o
papel e o compromisso da profissão no contexto brasileiro, frente aos embates econômicos,
sociais e políticos. Considerando política como conflito, a inserção do psicólogo no campo
social partilha embates, decorrentes particularmente do contexto social e econômico do país,
desde a época da regulamentação da profissão até a inserção do psicólogo no campo do
Bem-Estar Social (Yamamoto, 2003). A trajetória econômica e social do Brasil, no período da
Constituição Federal de 1988, reflete um período de embates, devido à lógica neoliberal que
regia todo o sistema. Acerca do "ajuste neoliberal e desajuste social" no que diz respeito à
década de 1980, devido aos malabarismos do Estado na promoção da proteção social, por meio
dos ideais de Bem-Estar Social, dentro de um contexto de crise econômica, Yamamoto e
Oliveira (2010) assinalam:
Esse contexto de emergência de um padrão de Welfare State, que oscila do padrão
meritocrático ao residual, tornou-se um grande espaço de trabalho para os psicólogos
brasileiros. Resultado não de um direcionamento do instrumental teórico-técnico da profissão,
ou de uma efetivação de propostas para a prática psicológica menos elitista.
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O campo das políticas sociais foi, e continua sendo, um reflexo do enxugamento do mercado
para o exercício profissional, e uma possibilidade de emprego estável, mesmo às custas das
constantes críticas que recaem sobre a contextualização do trabalho realizado, da
adequabilidade das teorias psicológicas, e, mais ainda, do caráter ideológico que a prática
psicológica vem assumindo nesses espaços (p. 3).
Conforme Yamamoto (2003), para que se discuta a inserção do psicólogo nas políticas
sociais e o seu compromisso social, faz-se importante levar em consideração a questão social
como um elemento de parâmetro e limite, para que o psicólogo exerça sua ação comprometida
socialmente. Desse modo, nos últimos dez anos, a inserção do psicólogo nas políticas públicas
obteve grandes avanços. Após diferentes experiências e discussões dessa categoria, em todo o
país, foram construídas práticas comprometidas com a transformação social, em direção a uma
ética voltada para a emancipação humana, as quais apontaram alternativas para o
fortalecimento de indivíduos e grupos, para o enfrentamento da situação de vulnerabilidade.
Como resultado dessas experiências, houve uma ampliação da concepção social e
governamental acerca das contribuições da Psicologia para as políticas públicas, além da
geração de novas referências para o exercício da profissão de psicólogo no interior da
sociedade.
Em 2007, o Conselho Federal de Serviço Social e o Conselho Federal de Psicologia (2007)
elaboraram os parâmetros para a atuação desses profissionais nas políticas de assistência
social. Segundo tais parâmetros, a atuação dos psicólogos no Suas deve estar fundamentada na
compreensão da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais e coletivos, sob diferentes enfoques
teóricos e metodológicos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito social.
Ainda em 2007, o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas do
Conselho Federal de Psicologia publicou as Referências Técnicas para a Atuação do(a)
Psicólogo(a) no Cras/Suas (CFP, 2007), segundo as quais, a Psicologia, nos espaços de políticas
públicas, deve ser exercida com base na perspectiva da apropriação do lugar de protagonista e
do fortalecimento dos usuários como sujeitos de direito, por meio da problematização e da
realização de ações no âmbito social. Isso porque, para romper com os processos de exclusão,
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é importante que o sujeito se veja em um lugar de poder, de construtor do seu próprio direito e
da satisfação de suas necessidades.
Segundo esses Parâmetros, o psicólogo, nesse campo, pode desenvolver diferentes
atividades em espaços institucionais e comunitários. Seu trabalho envolve proposições de
políticas e ações relacionadas à comunidade em geral e aos movimentos sociais de grupos
étnico-raciais, religiosos, de gênero, geracionais, de orientação sexual, de classes sociais e de
outros segmentos socioculturais, com vistas à realização de projetos da área social e/ou
definição de políticas públicas. O psicólogo deve realizar estudos, pesquisas e supervisão sobre
temas pertinentes à relação do indivíduo com a sociedade, com o intuito de promover a
problematização e a construção de proposições que qualifiquem o trabalho e a formação no
campo da Psicologia. Por meio de atuação interdisciplinar, como já salientado, o psicólogo
pode atender crianças, adolescentes e adultos, de forma individual e/ou em grupo, priorizando
o trabalho coletivo, possibilitando encaminhamentos psicológicos quando necessário,
desenvolvendo métodos e instrumentais para atendimento e pesquisa com um olhar para o
grupo familiar. As ações devem ser integradas com outros profissionais dentro do serviço, bem
como com outros serviços, visando ao trabalho em rede.
Segundo Zamora (2010), interessar-se pelas políticas públicas e dedicar- -se à sua
transformação é o primeiro passo para potencializar a ação dos psicólogos nesse campo. Por
intermédio das políticas públicas, podem-se encontrar meios de apressar o processo de
rompimento com as injustiças sociais, com a desigualdade. Porém, nem sempre os programas
estatais surgem das demandas ou urgências de camadas da população desassistidas e
necessitadas, em aspectos básicos de sua vida, e também não se destinam, necessariamente, a
atender a essas demandas e necessidades. Ter clareza disso é fundamental para a atuação ética e
comprometida com o social, em qualquer campo profissional, na defesa de valores e postulados
que respeitem os direitos humanos das camadas populacionais que mais os têm desrespeitados.
Nesse campo, o psicólogo entra para mediar o embate entre os interesses, algumas vezes
contraditórios, do Estado e da população. Sua atuação deve
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então não somente revestir-se do compromisso profissional e social, mas também pautar-se em
uma atuação cidadã. Gonçalves (2010) afirma que é preciso reconhecer e respeitar as demandas
como direitos e defender políticas que os atendam. Partindo dessa atuação pautada pela
garantia de direitos, torna-se possível, muito mais do que garantir a sobrevivência ou assistir os
menos favorecidos, criar o espaço social necessário para o desenvolvimento dos indivíduos
como cidadãos que têm direitos e se sentem no direito de participar e de criar uma sociedade
diferente.
A entrada da Psicologia no âmbito das políticas públicas, representando esse um novo
campo de atuação do psicólogo, dentro de um novo paradigma da proteção social, ainda revela
alguns entraves, como: falta de recursos e de suporte organizacional do serviço, em que se
visualizam dificuldades nas condições de trabalho; falta de equipe consolidada e capacitada;
desarticulação da rede; e conhecimento reduzido dos usuários e funcionários quanto ao Suas
(Ribeiro, 2010). Esse aspecto condiz com resultados da pesquisa realizada pelo CFP (2009), em
âmbito nacional, com psicólogos, por meio do Crepop, pela qual se confirmou a morosidade do
sistema de defesa e de responsabilização (Segurança Pública, Ministério Público e Justiça) na
articulação com os demais serviços e na tramitação dos encaminhamentos dos casos.
Esses entraves na formação do psicólogo refletem uma problemática que perpassa
deficiências na formação superior, como a inexistência de conteúdos (ferramentas
teórico-metodológicas), de disciplinas e estágios sobre políticas públicas e atuação do
psicólogo nesse novo campo da profissão (CFP, 2009). A esse respeito, Yamamoto (2003)
aponta que, na atuação do psicólogo em políticas públicas, deve-se considerar, como ponto
principal, a qualificação da formação dos profissionais de psicologia, voltados à contribuição
da realidade brasileira, baseados no compromisso social, o que difere da exclusividade do
modelo clínico tradicional de atuação ainda propagado nas instituições de ensino superior.
Sobre esse tema, Paiva e Yamamoto (2010) afirmam que a formação universitária, desse modo,
não prepara o psicólogo para amar em políticas públicas, com reflexões para uma atuação
política e ativa na comunidade,
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bem como para apropriar-se de conhecimento sobre marcos lógicos e legais a respeito de
políticas públicas, como a Constituição e suas leis complementares. Esse aspecto se faz
presente nos espaços de debate e reflexão da categoria profissional, entre os quais se destaca
aqui o v Seminário de Psicologia-e Políticas Públicas, intitulado Subjetividade, Cidadania e
Políticas Públicas, ocorrido em 2011, no qual esta discussão se fez presente:
Trata-se de dialeto, de cacoete paroquial dos psicólogos, tratar a questão da "clínica" como
se ela fosse sinônimo das suas tecnologias psicoterápicas e vice-versa. Isso dificulta muito o
avanço da discussão acerca do lugar da clínica nas abordagens da saúde e o lugar da clínica
como recurso de todos os psicólogos e não apenas dos que são psicoterapeutas ou trabalham
com saúde (Oliveira, 2011, p. 93).
social, ainda sobressai um único formato de atuação clínica. Os aspectos prescritos nos
Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais e Psicólogos(as) na Política de Assistência
Social e na cartilha de Referência Técnica para Atuação do(a) Psicólogo(a) no Cras/Suas, sobre
a necessidade de o profissional de Psicologia considerar a compreensão da dimensão subjetiva
dos fenômenos sociais e coletivos, com o objetivo de problematizar e propor ações no âmbito
social, ainda não aparecem de modo consolidado (Alberto et al., 2008; Alberto, Silva, Gomes,
Araújo & Oliveira, 2009; Amorim & Alberto, 2011; Freire, 2012). Por outro lado, pesquisas
com instituições, especialmente de atendimento a crianças e adolescentes, revelam, ainda, que
elas também concebem ou representam as atividades dos profissionais de Psicologia como
voltadas prioritariamente para os atendimentos de caráter clínico, individual ou grupai (Alberto
et al., 2008; Santos, Brito, Souza, Gadelha & Alberto, 2011).
Segundo Galdini e Berzin (2003), o psicólogo é visto como aquele que cuida de loucos ou
ajuda pessoas com problemas, o que reafirma a visão simplista, ficando à parte a visão
reflexiva e crítica da profissão. Quando as autoras questionam acerca do tipo de psicólogo de
que a sociedade brasileira precisa, a resposta que mais aparece é "um profissional
comprometido com a realidade brasileira, capaz de exercer sua profissão com competência,
crítico e transformador". Isso mostra que é preciso transformar as práticas e conscientizar a
sociedade sobre a importância do papel do psicólogo, retomando a importância de uma prática
que atenda a necessidades sociais (Pessoa & Alberto, 2011).
Compreendendo a Psicologia como produção histórica atravessada por essas políticas,
entende-se então que essa não é uma prática neutra, mas tem implicações com a sociedade,
como afirma Coimbra (2000). Um dos primeiros desafios na atuação do profissional de
Psicologia é superar o paradigma da Psicologia - pautado no modelo indivíduo, clínico, de
desenvolvimento natural - "etnocêntrica, que se pretende universal, missionária e civilizadora,
e que nega qualquer singularidade ou outras formas de atribuir significados, e que vê o sujeito
com uma visão patologizante" (Ropa & Duarte, 1985, p. 201). Todavia, para que essa atuação
ocorra, faz-se necessário haver formação para tal.
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De fato, a literatura tem mostrado que há falhas na formação do profissional de Psicologia, que
não recebe por parte das universidades e centros de formação subsídios para exercer tal prática,
ficando muitas vezes enrijecidos em visões que não se amoldam à realidade e à necessidade
social. Como afirma Bock (2003), a Psicologia como profissão possui ainda pouco valor e
reconhecimento social; falta-lhe um projeto coletivo que lhe possibilite uma visão crítica.
Uma visão crítica significa aquela que supere a visão hegemônica de homem na Psicologia,
que naturalize o fenômeno psicológico como coisa em si, abstrata e universal, e que resida tão
somente no indivíduo e que, portanto, responsabilize-o ou culpabilize-o. A Psicologia precisa
se implicar, nos moldes da imanência do sujeito de Foucault (2006), das novas formas de
subjetividade: que conceba o homem como ativo, social e histórico, constituído e constituinte,
portanto, das práticas sociais; que seja crítica, isto é, tome a realidade na sua totalidade,
complexidade e, de modo dialético, contemple os movimentos e contradições, "voltado ao
investimento em ações, processos e relações que se contraponham às diferentes formas de
injustiça e desigualdade social e, portanto, às suas causas político-econômicas concretas"
(Delari Júnior, 2004, p. 03); que alie a "consciência crítica e atenção permanente e
comprometida com as urgências e necessidades da população" (Bock, Ferreira, Gonçalves &
Furtado, 2007, p. 47). Se a Psicologia assim não proceder, poderá estar fadada ao exercício da
tutela; nesse caso, no âmbito das políticas públicas de proteção social, mais especificamente, a
serviço do capital.
Vê-se, pelo exposto, que a atuação do psicólogo nas políticas de proteção social, que se
efetivam por meio das políticas públicas de assistência social, ainda que positivadas na
Constituição Federal como direito e como ação participativa do cidadão, ainda favorece
práticas assistencialistas, patologizantes, de tutela e controle social. Esse aspecto pode
conduzir a uma reflexão: será que as políticas públicas no âmbito de uma Constituição social
democrática (Bastos, 1999, citado por Ferreira & Correia, s/d) poderia efetivar-se por outras
vias que não essa a serviço do capital, dos exploradores e das ideologias que daí emergem?
Sem dúvida, essa é uma questão que demandaria outro estudo.
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A resposta objetiva é não. Mas é possível minimamente sinalizar alguns aspectos: um deles é
pensar a atuação do psicólogo nos espaços de políticas públicas na perspectiva do que tem sido
pensado por outros autores. Salientaria, entre esses trabalhos, o de Scheinvar (2009), que
enfatiza a importância de se forjar outras percepções, produzir e garantir movimentos de
singularização. Ou seja, a autora salienta que determinadas atuações dos profissionais de
Psicologia desconhecem a lógica que alimenta as políticas públicas, as quais, embora se
constituam aparentemente despreparadas, são estratégias de manutenção do poder. O
profissional de Psicologia despreparado para saber disso engendra o que lhe mandam, cumpre
assim o esperado.
Ainda nessa perspectiva do despreparo, salientaria o papel da universidade, dos centros de
formação e dos cursos de Psicologia, que, dentro dessa lógica, não preparam bem os
profissionais, não formam para o conhecimento do que está implícito no âmbito de uma
atuação em políticas públicas - entenda-se a concepção aqui referendada pelo CFP a partir do I
Seminário Nacional de Psicologia e Políticas Públicas (Silva, 2001) -, dos conflitos, dos
interesses a serviço de quem age o Estado. Seguem juntas a Psicologia e as políticas públicas de
assistência social cumprindo um papel eficaz de manutenção do poder instituído.
Para não dizer que não se falou de flores, salientaria alguns pressupostos que têm sido
defendidos pelas autoras Alberto et al., (2008); Alberto, Azevêdo e Santos (2011); Lima e
Alberto (2010): as políticas públicas de assistência social fazem-se necessárias e, nelas, a
atuação dos profissionais de Psicologia, uma vez que não há outras possibilidades, na
contemporaneidade, de se efetivar direitos, principalmente diante das questões sociais que
emergem da relação capital-trabalho. Em sociedades desiguais, as políticas públicas devem
promover transformações sociais que funcionem como promoção de cidadania e provoquem a
participação ativa da sociedade. Todavia, entende-se que o papel do psicólogo nesses espaços
precisa se constituir em uma perspectiva crítica e contra-hegemônica. Perspectiva crítica, nesse
caso, é aquela que carrega consigo o compromisso com a crítica à visão hegemônica de homem
eà
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naturalização do fenômeno psicológico como coisa em si, abstrata e universal, que reside no
indivíduo de modo a culpabilizá-lo. Portanto, essa perspectiva concebe o homem como ativo,
social e histórico, constituído e constituinte das práticas sociais. É crítica, nos termos já
apontados, e é contra-hegemônica no sentido de se apropriar desses espaços de políticas para
garantir a efetiva participação dos cidadãos, aproveitando as brechas para criar outros
movimentos capazes de garantir a construção de projetos de autonomia e de protagonismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de parecer paradoxal criticar-se as políticas públicas de assistência social como
necessidades emergentes das contradições que surgem da relação entre capital e trabalho, a
entrada da Psicologia nesse âmbito encerra novas perspectivas, de caráter contra-hegemônico,
dentre as quais salientaria: luta pela "deselitização" da profissão; rompimento com os
processos de exclusão social, com as injustiças sociais e com a desigualdade social, visando a
colocar a Psicologia ao alcance de toda a população; prática voltada para a garantia e o
restabelecimento de direitos. A Psicologia, nos espaços de políticas públicas, deve ser feita
com base na perspectiva da apropriação do lugar de protagonista e do fortalecimento dos
usuários como sujeitos de direito, o que significa reconhecer e respeitar as demandas como
direitos e defender políticas que os atendam. Isto significa uma implicação, do profissional de
Psicologia, com aquele para quem as políticas se voltam. Entretanto, cumpre identificar que
ainda há muito por se trilhar para se efetivar na prática tais aspectos, como a formação no
âmbito da academia e da organização política da categoria.
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INDICAÇÃO DE FILMES
BUNUEL, L. (1950). Los Olvidados (Os Esquecidos). Espanha: Mirada.
Um filme de Luis Bunuel produzido na década de 1950, mas atual ao retratar a perspectiva
social contextualizada nos subúrbios do México, ambiente no qual os personagens, um con-
junto de jovens órfãos, se envolvem com crimes como forma de sobrevivência. Possibilita
discutir os processos de exclusão social gerados a partir e no interior do sistema capitalista.
RAMOS, M. (2006). Vida Maria. Ceará: VIACG/Triofilmes.
Curta-metragem em animação realizado com recursos do edital 3o Prêmio Ceará de Cinema e
Vídeo. Consagrou-se em vários festivais e encerrou o ano de 2007 como o filme mais premiado
do Brasil. Retrata a história de Maria José, uma menina de cinco anos de idade que, dadas as
necessidades da família, precisa largar os estudos para trabalhar. Enquanto trabalha, ela cresce,
casa, tem filhos e envelhece. Revela as implicações psicossociais do trabalho infantil e a
reprodução intergeracional da pobreza. A personagem vivência o trabalho infantil doméstico e
o afastamento da escola, experiência já vivenciada por sua mãe, que irá reproduzir-se sobre
seus filhos, impossibilitando o seu acesso ao capital cultural. O filme possibilita uma reflexão
sobre os direitos de crianças e adolescentes e sobre a responsabilidade do Estado na garantia
desses direitos e na viabilização de políticas públicas para a criança e sua família, como direitos
humanos assegurados na Constituição Federal.
de políticas públicas para jovens. Permite pensar que lugar a Psicologia ocupa ou pode ocupar
no processo de autonomização dos cidadãos como protagonistas ou atores sociais.
PROGRAMA DIVERSIDADE. Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Recuperado em 19
de março de 2014, de http://www. youtube.com/watch ?v=uk-l5VATL3s
O vídeo chama atenção para o lugar que a Psicologia tem ocupado nas políticas de assistência
social, como um novo campo de atuação, além de salientar o diferencial que a Psicologia pode
oferecer nesse campo de atuação ao transformar o cidadão de objeto em sujeito. Marilene
Proença entrevista um assistente social sobre as políticas de assistência social e a inserção da
Psicologia. Há também o depoimento de psicológos que atuam em Centros de Referências da
Assistência Social acerca do trabalho que desenvolvem nesses espaços.
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