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DISCIPLINA: Psicologia e Políticas Públicas

PROFESSORA: Profª Drª. Annova Míriam Ferreira Carneiro


ALUNO: Heitor Sousa de Sales

ATIVIDADE AVALIATIVA

1) Analise o significado dos direitos sociais, no Brasil, e a sua relação com a


cidadania propalada na Constituição Federal Brasileira de 1988?
(Referências: Texto Direitos Sociais: afinal do que se trata? Constituição
Federal Brasileira de 1988).

2) Com base no texto de José Murilo de Carvalho “Cidadania no Brasil: um


longo caminho”, expresse seu entendimento sobre o alcance da cidadania no
país.

Observação: sugiro que cada resposta tenha até uma lauda e meia.

RESPOSTAS:

01:

Para Telles (1998), direito social parte de um processo de lutas que


espelha as contradições do modo de produção e organização social capitalista.
Semanticamente pode deslizar de um custo a um direito: todavia, enseja uma crítica
a abordagem moderna da Questão Social e pauta um horizonte de descontinuidades
no desenvolvimento da história à luz da autodeterminação dos povos. Elenca
alteridades possíveis na medida em que embasa políticas públicas socialmente
referenciadas, uma vez que o direito social é também um direito à expressão. Como
versa a autora, [...] além das garantias formais inscritas, os direitos também
estruturam uma linguagem pública que baliza os critérios pelos quais dramas da
existência são problematizados” (TELLES, 1998, p. 38). A enunciação, portanto,
precede a formalização – entretanto também é precedida pela descontinuidade no
discurso.

Importante para a definição de direito social é a sua relação com a ideia


de progresso. O tema, afixado na bandeira do país desde 1889, sintetiza uma
preocupação moderna que fundamenta o capitalismo em seu funcionamento
autofágico: às custas dos sujeitos que formam a nação, o mercado e a acumulação
de capital devem preponderar? O direito social é um ônus ao Estado ou uma forma
deste prosperar, garantindo justiça e igualdade a seus cidadãos? A construção de
uma oposição entre Mercado e Modernidade, Estado, Atraso e Anacronismo –
coloca a autora - revela que parte do discurso acerca do direito social parte de um
uso técnico deste: garantir uma seguridade para melhor produzir ou melhor
controlar. Elabora-se o direito enquanto algo findado e à serviço do melhor
desenvolvimento econômico de uma população.
As definições de direito social propaladas pela Constituição Federal de
1988, porém, versam do ponto de vista do direito enquanto dever do Estado e
necessário ao bem-viver dos habitantes, havendo – no processo de controle das
populações – uma forma de emergência da diferença. Parte de uma luta construída
durante os anos de Ditadura Militar e pressupõe, portanto, que direitos são sempre
um fato a ser encontrado, cartografado, analisado, discutido e monitorado – cuja
materialidade se afirma a partir de um exercício cidadão. É na execução desta
cidadania que o direito social é também um direito à transgressão e a disputa de
projetos de nação que partem da complexidade e das contradições que a realidade
de sociedades contemporâneas coloca. Rompe-se com a ideia de um falso
consenso e se coloca furos no discurso, havendo neste ato de radicalidade, uma
forma de questionar uma política pública que não serve aos interesses da classe
trabalhadora.

Ao trazer à tona um conflito que é tido como tácito, pode-se pensar para
além-mundos, partindo de outras cosmopercepções e buscando produzir a garantia
de direitos que não se entendiam pelo Estado, até então, como necessários – e a
luta dos povos é aquela que consegue falar de si.

02:

O Alcance da cidadania no Brasil é baixo diante da centralidade do poder


executivo em sua materialização. O Estado brasileiro, como pontua o autor, nunca
pôde favorecer-se da tripartição dos poderes e das relações estabelecidas pela
sociedade civil para que, juntas, pudessem viabilizar a caracterização de um estado
de bem-estar para a população. O Patrimonialismo – herança portuguesa e ibérica
apontada como relevante por Carvalho (2008) – fundamenta a existência de um
“executivo todo-poderoso” e a desvalorização do poder legislativo, que tenderia a ser
mais representativo da população em sua pluralidade de interesses. Portanto, o
alcance de uma “estadania” restringe-se pela efetividade de um Poder Executivo
que, por um lado, assume a centralidade do papel estatal de garantidor e
intermediador de diferentes interesses, mas que também desguarnece as
capacidades garantidoras de outros partícipes do jogo democrático, enfraquecendo
a construção do laço social institucionalizado e a múltipla determinação da
realização deste conjunto de direitos.

Outro valor que impacta no alcance da cidadania - por distanciar da


população a discussão dos direitos sociais e favorecer o risco de demissão do
pensamento – é a captura corporativista dos interesses coletivos. Cada classe luta,
institucionalmente, para se favorecer e o processo de ampla organização autônoma
da população fica sublegado à classe política que cada indivíduo participa –
sobremaneira a partir da determinação de classe (ocupação profissional/profissão).
Não se realiza um trabalho que envolva a base da população e a solidariedade que
favorece os processos de luta conjunta, seja entre classe ou de modo generalizado
entre os habitantes do país.

As mudanças da ordem global interferem também em um precarizado


processo de acesso à cidadania no país, uma vez que a centralidade e o papel
interventivo do Estado e a Nação enquanto principal identificação coletiva são
questionados pela aurora de modelos de produção neoliberais, pelo movimento
crescente de globalização e integração econômica da DIT e pela organização social
a partir de marcadores sociais de diferença – raça, gênero, etnia, territorialidade e
correlatos. É irônico que o Estado, por intermédio da figura executiva, reivindique a
centralidade para a abertura de um horizonte de possibilidades em termos de
direitos e deveres sem que a própria imagem de Estado esteja socialmente
referenciada com os sujeitos aos quais deve alcançar - tal como construir uma
política pública que o seu usuário pretendido não possa solicitar ou não veja sentido
nessa.

Portanto, o alcance da cidadania perpassa reformas que devem ser


realizadas do ponto de vista político e um profundo entendimento sobre quem é o
Brasil que se dá a partir das relações entre seus habitantes. Contrapor séculos de
práticas coloniais revisitadas é complexo e leva tempo e neste percurso é
importante, situa o autor, estar atento ao contexto internacional – mas é possível.

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