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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA

FONÉTICA E FONOLOGIA
LICENCIATURA EM LETRAS E LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
BACABAL/MA
16/01/2024 a 31/01/2024

PAULO FRANCISCO OLIVEIRA DE LIMA

RESENHA CRÍTICA AVALIATIVA DA OBRA “ A LÍNGUA DE EULÁLIA” DE


MARCUS BAGNO

Resenha avaliativa para obtenção da


última do primeiro período do Curso de Letras,
referente ao componente curricular obrigatório,
Fonética e Fonologia da Universidade Estadual
do Maranhão – UEMA.

PROFESSORA: SILVA MARIA DE SOUZA


FERREIRA

BACABAL/MA
16/01/2024 a 31/01/2024
RESENHA CRÍTICA AVALIATIVA DA OBRA “ A LÍNGUA DE EULÁLIA” DE
MARCUS BAGNO

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística, 15. ed. São


Paulo: Contexto, 2006.

O livro “a língua de Eulália”, é uma novela sociolinguística escrita pelo


professor e autor Marcos Bagno, nascido em 21 de agosto de 1961 em
Cataguases, município de Minas Gerais, formado em Letras, doutor em
filologia, mestre em linguística, escritor e tradutor. O autor traz dentro dessa
cativante e fluida narrativa publicada em 1997, uma visão social, cultural e
linguística acerca do desvio linguístico e do preconceito discriminatório que
constrói-se em cima daqueles que utilizam essa forma de linguagem, visto isso,
percebe-se que “A Língua de Eulália” é uma obra atemporal para a reflexão do
comportamento variado da língua portuguesa e dos estigmas que circundam
ela.

Destaca-se dentro do livro, desde o seu sumário a forma titulada com


que se apresenta cada capítulo, dando ao leitor maior compreensão do será
abordado em cada capítulo. A obra nos apresenta 4 personagens que trarão a
tona o diálogo acerca do pnp (português não padrão) e os preconceitos que
rondam essa forma popular e pouco estudada de linguagem sendo muito
conhecida e utilizada pelas pessoas que compõem a camada mais baixa e
menos afortunadas da sociedade. Vera personagem de 21 anos, estudante de
Letras, Silvia de 21 anos estudante Psicologia, Emília de 19 anos estudante de
pedagogia, entretanto, a história apresenta uma quarta personagem que é de
suma importância para a obra, Irene, tia de Vera, professora de língua
portuguesa e linguística. A narrativa também apresenta a personagem Eulália
que intitula o livro por sua peculiar forma de falar, Eulália dentro da obra
personifica a variedade linguística, sendo ela a razão inicial para o debate
linguístico entre Irene e as jovens estudantes acerca do pnp ( português não
padrão). Um ponto importante no livro e de bastante relevância que torna a
obra ainda mais instigante é a inconsistência do pensamento preconceituoso
dada as suas futuras formações universitárias, professora, pedagoga e
psicóloga, embora de pouca idade, ao manifestar seu preconceito inadequada
a Eulália por sua expressão linguística, revela-se a necessidade de se dialogar
sobre o tema afim de informa-las com intuito de evitar tais constrangimentos,
constrangimentos estes que são ativamente sofridos por pessoas de pouca
instrução escolar dentro de um cenário real da sociedade brasileira, pois como
profissionais as mesmas estarão a serviço da sociedade, independente da
mesma ser elitizada ou popular. Ao lado de Irene, a língua portuguesa assume
um papel de protagonismo para a compreensão entendimento e defesa de
outras expressões de linguagem dentro do território brasileiro. Ao longo das
páginas o autor enfatiza a diversidade linguística do país, mostrando que
embora exista e seja utilizada uma forma oficial de linguagem, ela não é à
única a ser usada e não é à única a existir.

Consoante a visão de Machado de Assis sobre a existência de dois tipos


de brasis, sendo um deles o Brasil oficial, pertencente a elite e aqueles que
ocupam com seus diplomas de graduação uma área de importância verificada
dentro das muralhas da sociedade “culta”, a esse Brasil perante a visão de
Machado é indispensável a norma culta e padrão da língua portuguesa, pois
ela performa excelência, poder de intimidação e dominação, atingindo
patamares para além da linguagem. Como afirmado por Gabriel Nascimento
em sua obra, “Racismo linguístico: os subterrâneos da linguagem e do racismo”
(publicada em 2019 pela editora Letramento), no primeiro capítulo de sua obra
o autor o autor aborda discussões sobre o papel da linguagem como
instrumento de dominação e tece fortes críticas as políticas linguísticas que
agem como agentes do preconceito linguístico e do epistemicídio, revelando
que o preconceito linguístico quebra as barreiras e estruturas da língua ferindo
a dignidade humana no que diz respeito não só a língua, mas a cultura de um
indivíduo.

O segundo Brasil, é o Brasil real, pertencente ao povo, nesse Brasil a


linguagem varia em número e grau, mantendo-se em constante mudança e
evoluindo as expressões coloquiais, dessa forma, sendo considerada inculta e
sofrendo com o estigma linguístico por parte da sociedade. Em sua obra, “Não
é errado falar assim! Em defesa do português Brasileiro” (publicada em 2009
pela editora Parábola Editorial), Bagno sai ferrenhamente em defesa das
formas variadas de linguagem, tendo como objetivo nessa obra, a defesa do
vernáculo brasileiro, conscientizando as pessoas a deixarem de considerar
como erros tantos usos linguísticos já incorporados à língua.

O autor em suas duas obras rompe as barreiras da linguagem para o


entendimento adequado do pnp (português não padrão), propondo uma
discussão para que uma reflexão seja feita acerca do que entende-se como
“falar certo ou errado”. Com essa reflexão, para além das páginas é
necessário pensar a educação e a quantidade de pessoas que não possuem
educação escolar e que por consequência não possuem alfabetização de
qualidade como fora o caso de Eulália que só veio a ser alfabetizada depois de
adulta, por Irene. A de se pensar a marginalização e falta de incentivo por
pessoas como Eulália, além disso, é necessário criticar duramente o
sucateamento que a educação pública sofre perpetuando o analfabetismo, com
esses desafios esdrúxulos, os “comuns” da sociedade necessitam uma
expressão de linguagem simples que possa ser entendida e ser falada, tendo
assim o pnp (português não padrão) e suas diversas variantes.

Em seu livro, Bagno analisa criticamente esse esdrúxulo preconceito


argumentando que ele é muitas vezes baseado em preconcepções sociais e
históricas, em vez de critérios linguísticos objetivos. O autor desmistifica mitos
associados à linguagem, demonstrando que as variações linguísticas são
naturais e enriquecedoras, como já salientado por sua obra “ Não é errado falar
assim: Em defesa do português Brasileiro” de 2009. Essa desconstrução
proposta por Bagno, visa sensibilizar o leitor para a aceitação e valorização das
diversas expressões linguísticas do Brasil, promovendo uma visão mais
inclusiva e respeitosa para aqueles que falam a forma não culta da língua
portuguesa.

Em suma, é de bastante valia a leitura dessa obra, ela os horizontes do


que entende-se por compreensão de linguagem, libertando-nos de arquétipos
preconceituosos referentes a linguagem e suas ramificações. “A Língua de
Eulália” é uma obra que transcende o campo linguístico, sendo um convite à
reflexão sobre a importância de respeitar e reconhecer a diversidade linguística
como um elemento vital da identidade cultural brasileira. O livro destaca-se
como um instrumento crucial na luta contra o preconceito linguístico,
contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e justa.
Referências Bibliográficas

NASCIMENTO, Gabriel. Racismo Linguístico: Os subterrâneos da


linguagem e do Racismo. Belo Horizonte: Letramento, 2019.

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística, 15. Ed. São


Paulo: Contexto, 2006.

BAGNO, Marcos. Não é errado falar assim! Em defesa do Português Brasileiro.


São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

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