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FAVENI

FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

MÁRCIA NASCIMENTO DOS SANTOS

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

MORRO AGUDO-SP
2022
FAVENI
FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

MÁRCIA NASCIMENTO DOS SANTOS

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito
parcial à obtenção do título
especialista em
NEUROPSICOPEDAGOGIA E
PROBLEMAS DE
APRENIZAGEM.

MORRO AGUDO
2022
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Márcia Nascimento dos Santos1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- O presente estudo demonstrou o processo de aquisição da língua escrita, as dificuldades na


aquisição da mesma e alguns distúrbios que provavelmente se tornam grandes no processo de
alfabetização e aquisição da linguagem escrita. O estudo dessas dificuldades e distúrbios pode favorecer
nas intervenções neuropsicopedagógicas ou pedagógica a fim de minimizar o fracasso escolar de
inúmeras crianças. Outro aspecto relevante dessa pesquisa bibliográfico dedutivo é ressaltar a
importância da mudança nas ações ou práticas pedagógicas que ainda consideram a linguagem escrita
um sistema gráfico com sons que formam palavras. O conhecimento teórico e científico deste estudo
poderá contribuir para melhorar as intervenções neuropsicopedagógicas contribuindo para uma boa
formação e capacitação profissional tornando suas ações efetivas e eficazes. As análises de como se dá
o processo de aquisição e as dificuldades apresentadas pelos alunos podem levar o professor a refletir
melhor sobre as condições socioeconômicas e culturais dos alunos sobre os erros apresentados e
compreender as dificuldades individuais para propor as intervenções necessárias. O presente estudo está
focado nas dificuldades de aquisição da linguagem escrita, pois a grande preocupação dos professores
atualmente é como mediar e fazer intervenções adequadas no processo de aquisição desse objeto social
tão importante como diagnosticar e quando se deve encaminhar as crianças à atendimento com
especialistas.
.
Palavras-chave: Família. Escola. Inclusão. Linguagem escrita. Intervenções.

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marcia.nds40@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

Durante muitas décadas, no período da alfabetização, a aquisição da língua


escrita foi tratada de forma mecanizada através da memorização de sílabas
aleatoriamente.
As crianças aprendiam a escrever sem estabelecer nenhuma relação entre a
função e a importância desse objeto em sua própria vida. O uso das cartilhas contribuiu
de sobremaneira para a existência de uma geração sem habilidades interpretativas e
escritores aliterados.
A aquisição da língua escrita colocada de forma mecanicista anula a real
compreensão do significado e da função da mesma, colocando o aprendiz na condição
de sujeito próprio. Isso quer dizer que não há interação entre o objeto de estudo e o que
foi imposto de forma sistemática.
O tempo passa e sempre encontramos em nossos caminhos adultos com
dificuldades na leitura e na escrita. Dificuldades essas que carregaram pela vida toda
porque não encontraram no caminho deles profissionais preocupados em encontrar
uma solução. Muitos deles até desistiram no meio do caminho.
A diferença hoje é que vários estudiosos buscaram e continuam buscando
respostas para tantos questionamentos e enquanto educadores podemos nos apropriar
desses estudos e melhorar a qualidade da aprendizagem de nossos alunos buscando
sanar as dificuldades da língua escrita tornando nossos alunos alfabetizados e letrados.
Nesta pesquisa trataremos da importância da aquisição da língua escrita e das
dificuldades encontradas pelas crianças em adquiri-la na busca de poder amenizar de
forma considerável a descrença tão presente no cotidiano escolar quanto ao
aprendizado do alunado. Ter uma breve noção sobre alguns distúrbios de
aprendizagem mais conhecidos e sugestões para se trabalhar com os alunos que
apresentam essas dificuldades.

1. DIFICULDADES NA AQUISIÇÃO DA LINGUA ESCRITA

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Segundo Ferreiro (1994), o termo construção refere-se à aquisição da língua
escrita.
Piaget (1993) usava o termo construção quando falava da construção do real na
criança, ou seja, o real existe fora do sujeito, no entanto, é preciso reconstruí-lo para
conquistá-lo.
É possível falar de processo de construção no caso da língua escrita porque
podemos identificar a existência de conceitualizações infantis. O processo de
construção envolve processos de reconstrução, diferenciação, etc.
Alguns pesquisadores como Ferreiro e Piaget se dedicam a buscar dentro das
conceitualizações infantis, o correto, ou o menos errado, com respeito ao sistema da
escrita que a criança está aprendendo. Em uma visão construtivista, o que interessa é a
lógica do erro. O erro no contexto da construção da escrita deve ser considerado
construtivo.
Segundo Cagliari (1999) o conhecimento empírico contribui para que a criança
construa e reconstrua suas hipóteses sobre a escrita, tendo em vista que ela vive num
mundo letrado e estas experiências mudar a plasticidade neural.
Dentro do ensino tradicional a criança que não aprendia (aprende) a ler e a
escrever era (é) considerada imatura e incapaz de aprender, o que contradiz a teoria de
Piaget, que afirma que a criança constrói conhecimento por meio da interação verbal
com o meio.
Esse conhecimento depende de vários fatores:
a) Condições de vida;
b) Nível de desenvolvimento tanto físico, emocional e neural, modo de percepção
e organização do mundo;
c) Formas de interação verbal com outras pessoas;
d) Tipo de cultura.

Características Ambientais:
a) Quantidade de linguagem escrita presente no meio em que vive;
b) A função da escrita na troca de comunicações;
c) Valores expressos e/ou esclarecidos sobre a escrita.

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O professor que respeitar esses conhecimentos já adquiridos pela criança antes
de chegar à escola, permitirá o desenvolvimento do pensamento lógico e do raciocínio,
elementos fundamentais para a aprendizagem da leitura e escrita.
Dessa forma, a escola não deverá propiciar um contato menos diverso do que
aquele que a criança encontra fora dela, uma vez que, a familiaridade do uso da leitura
e da escrita não se reduz apenas a capacidade de ler e de escrever, as duas ações
possuem uma função social muito importante.
De acordo com Carvalho (2005), nesse contexto, espera-se que a escola possa
alfabetizar letrando, formando leitores e produtores de escrita. O letramento pode variar
de acordo com o conceito social.
Ferreiro e Teberosky (1990) revelam as hipóteses criadas pelas crianças no
processo de aquisição da escrita.
Elas definem, em seu livro, cinco níveis de aprendizagem:
 Hipótese pré-silábica:
A criança não estabeleceu vínculo entre fala e escrita, demonstra intenção de
escrever através de traçado linear com formas diferentes, usa letras do próprio nome ou
letras e números na mesma palavra. Tem leitura global, individual e instável do que
escreve só ela sabe o que quis escrever.
 Intermediária:
A criança começa a ter consciência de que existe alguma relação entre
pronuncia e escrita, começa a desvincular a escrita das imagens e os números das
letras. Ela conserva a hipótese da quantidade mínima e varia os caracteres.
• Hipótese silábica:
A criança já supõe que a escrita representa fala, tenta fonetizar a escrita e dar
valor sonoro às letras; já supõe que a menor unidade da língua seja a sílaba, em
frases, pode-se usar uma letra para cada palavra.
• Hipótese silábica, alfabética ou intermediária:
A criança inicia a superação da hipótese silábica, compreende que a escrita
representa a fala, passa a ler termo a termo (não global), consegue combinar vogais
e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa de combinar sons, sem tornar
ainda sua escrita socializável. Por exemplo, CAL – CAVALO.

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• Hipótese alfabética:
A criança já conhece a função social da escrita, compreende o modo de
construção do código da escrita, omite letras quando mistura as hipóteses alfabética
e silábica e não tem problemas de escrita, no que se refere a conceito, não é
ortográfica e nem léxica.
Neste contexto, a alfabetização não pode mais ser vista como sendo um
ensino de um sistema gráfico que equivale a sons.
O reconhecimento desse saber da criança é que torna o professor mediador
desse conhecimento, uma tarefa tão diferente do “ensinar a ler e a escrever”.
A partir do que a criança sabe sobre a escrita, do seu desenvolvimento
neurológico, ao professor caberá investigar o que representa para ela esse tipo de
linguagem. Ele deverá atuar primeiramente como observador e intérprete dos modos
de participação da criança nas atividades linguísticas e não linguísticas orais e
gráficas que se relacionam com o escrito.

2. DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Observemos agora alguns distúrbios de aprendizagem que comumente são


vistos dentro do âmbito escolar:

2.1 Dislexia

Segundo Aliende e Cobdenmarin (1989) a dificuldade de aprendizagem


relacionada com a linguagem (leitura, escrita e ortografia), pode ser inicial e
informalmente diagnosticada pelo professor da língua materna, com formação na
área de Letras e com habilitação em Pedagogia (um diagnóstico mais preciso deve
ser feito e confirmado por neolinguística), que pode observar a velocidade da leitura
da criança, utilizando critérios citados abaixo:

• A criança movimenta os lábios ou murmura ao ler?


• A criança movimenta a cabeça ao longo da linha?

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• A leitura silenciosa é mais rápida que a oral, ou mantém o mesmo ritmo
de velocidade?
• A criança segue a linha com o dedo?
• A criança faz excessivas fixações do olho ao longo da linha impressa?
• A criança demonstra excessiva tensão ao ler?
• A criança efetua excessivos retrocessos da vista ao ler?

Atualmente generalizou-se o termo dislexia a qualquer distúrbio de linguagem


apresentado pela criança logo é qualificado como dislexia, tanto pelos pais como
pela escola.
O problema não está na criança, mas nos processos educacionais de
responsabilidade familiar, ou nos processos formais de aprendizagem sob a
incumbência da instituição escolar.
A dislexia não se supera com o tempo e afeta a aquisição da linguagem
escrita e a da leitura, pois a criança disléxica apresenta uma desordem fonológica,
dificuldade constante na leitura e é desorganizada.
Os professores que possuem em sala de aula alguns alunos com estas
dificuldades podem lançar mão das contribuições de Zorzi (2003).
De acordo com alguns autores como Zorzi (2003), Lima (1989) e Ferreiro
(1994), há algumas características peculiares no que diz respeito à dislexia.

• Troca de fonemas:
A troca de fonemas tem sido um assunto bastante discutido por professores
comprometidos com a educação, pois a maioria de nossos alunos tem confundido
fonemas ao usar a escrita.
Mediação pedagógica quanto à troca de fonemas
- Levar a criança a detectar e diferenciar, através da própria fala, os fonemas
surdos e sonoros por meio de exercícios articulatórios – ajudar com a leitura de
palavras gravadas e ouvidas pela criança para que ela identifique os sons.
- Fazer com que a criança sempre leia o que escreve.

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- Dar figuras para a criança nomear, jogo de classificação de palavras com
F/V para identificar a diferença entre os fonemas, jogos para soletrar, listagem de
palavras para ler e completar com os fonemas que faltam.

• Substituição de letras
A troca de letras também tem sido um problema enfrentado por muitos pais e
educadores. Mas sabemos que a criança ainda não articula bem alguns fonemas,
devemos então repetir corretamente para que ela tenha um modelo ou procurar o
auxílio de um fonoaudiólogo.
Mediação pedagógica quanto à substituição de letras
- As intervenções neste caso devem levar a criança a perceber que uma letra
pode representar vários fonemas. Para que isso ocorra, sempre que a criança errar
a escrita o professor deverá questioná-la sobre o erro, fazendo reescrita individual
para que ela possa refletir sobre o erro e corrigi-lo.
- Bingos com palavras contendo os fonemas surdos e sonoros;
- Jogo das rimas e segmentação de frases;
- Parlendas com rimas e aliterações.

• Omissões de letras
Podemos afirmar que a omissão de letras na fase de alfabetização acontece
devido a uma série de fatores relacionados à pronúncia das palavras e à forma
como os professores tratam este fenômeno.
Mediação pedagógica sobre omissões de letras
O professor deve propor segmentação de sonoridade em níveis variados em
frases, palavras, sílabas e fonemas. Deve fazer com que a criança compare as
diferentes possibilidades de construção, de modo que ela possa quantificar fonemas
e letras para escrever, podendo utilizar jogos como soletrando, intervenções de
sílabas, caças palavras, etc.

• Vícios de oralidade

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Zorzi (1998), afirma que as omissões ocorrem muito no período de
alfabetização, isto é, nas séries iniciais, porque a criança se encontra em interação
com a nova forma de linguagem (a escrita).
Infelizmente eles estão presentes mais do que deveriam em nossas salas de
aulas. Temos que ensinar nossos alunos a escrever de forma que se possa ler e
fazer-se entender.

Mediação pedagógica quanto aos vícios de oralidade

Para sanar esse tipo de dificuldade é preciso que o professor conheça


primeiramente a origem cultural e social do aluno, pois Lima (1989) afirma que às
vezes os vícios de oralidade são de origem sociointeracionista ou cultural, e que
precisam ser trabalhados de modo que a criança possa fazer distinção entre a
oralidade (linguagem coloquial) e escrita (linguagem culta com normas e padrões).
Para intervir de modo eficaz o professor pode propor atividades de reescritas
individuais e ou coletivas, trabalhar com correção de listas, leitura, e autocorreção,
ler e gravar a própria leitura, sempre que escrever propor ao aluno que leia o seu
texto.
Deverá também criar situações para que a criança faça análise das
semelhanças sonoras e realizar atividades onde a criança possa fazer análise
fonética.

• Junção ou separação indevida de palavras


Aglutinação, separação indevida das palavras, inversões, podem ser
consideradas até a 2ª série como uma ocorrência comum devido à associação do
som com a escrita. Depois disso se torna uma preocupação e precisa ser tratada.

Medicação pedagógica
Nestes casos, as intervenções podem ser feitas através de atividades como:
frases e textos fragmentados, jogo silábico, dominó de figuras e palavras, textos
enigmáticos.

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Quando a criança está aprendendo a língua escrita ela tem dúvidas sobre
segmentação vocabular, às vezes ela junta palavras ou as divide. Para superar esse
tipo de atividade ela deve saber o que é palavra, frase e que existem variações no
falar e no escrever.

• Inversões de letras
Como já mencionado, até a segunda série é comum acontecer às inversões
de letras depois disso temos que nos preocupar e buscar ajuda de um
fonoaudiólogo.
Ferreiro (1994), afirma que as inversões ocorrem porque no processo de
aquisição da linguagem escrita, a criança vai fazendo organizações,
desestruturações, reestruturações contínuas do conhecimento, por isso, o professor
deverá estar atento e fazer as intervenções necessárias levando a criança a refletir.

Medicação pedagógica
A criança deve compreender que a posição da letra no espaço pode
determinar seu valor sonoro e saber situá-la e compreender que essa mesma
posição tem relação com o fonema dentro da palavra
Ao fazer um ditado, o professor deve pronunciar bem as palavras, ler em voz
alta, direcionar os olhos para as crianças e dar palavras com sílabas invertidas para
que ela possa olhar para as figuras e ordená-las. Também poderá propor jogos
como bingos de letras, palavras, dominó de palavras e figuras.

Acréscimo de letras
O acréscimo de letras também é uma dificuldade de aprendizagem que pode
ser sanada à medida que a criança tem mais consciência da escrita certa.
Mediação pedagógica
Neste caso, a criança pode não saber exatamente como representar um
segmento sonoro ou sílaba, colocando letras a mais ou desnecessárias.
O professor pode propor atividades como: jogo silábico, alfabeto móvel, caça-
palavras, cruzadinhas com letras e sílabas, dominó de palavras, listagem para ler
(banco de palavras), bingo silábico, quebra-cabeça de palavras, ditado mudo, etc.
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Generalização
Esse é um fato que ocorre em todo período da alfabetização e ele vai se
corrigindo a partir do momento em que a criança começa a perceber os sons.

Mediação pedagógica
As crianças no período de alfabetização demonstram dificuldades em discriminar
os sons do ão/am, por isso, às vezes erram em grafar palavras com tais terminações,
pois ambas são sílabas tônicas fortes e, do ponto de vista fonético, são pronunciadas
da mesma forma.
A criança precisa compreender que as terminações marcam diferentes tempos
verbais, e que a intensidade sonora modifica o significado, que pode haver diferença
entre o falar e o escrever. Todos um trabalho que perpassa pelo cérebro e através das
atividade dos neurônios, a criança recebe as novas informações.
Para corrigir os erros, o professor poderá propor montagem de frases
fragmentadas com as duas terminações para que a criança compreenda a sonorização
das sílabas na prática; leitura de palavras com gravações, textos para completar com
verbos no futuro e presente.
- Não dar tarefas em grandes quantidades;
- Trabalhar com reescritas, textos fatiados ajuda o disléxico a desenvolver melhor
a organização;
- Sempre pedir ao aluno que leia o que escreveu para refletir sobre os erros;
- Usar cartazes com resumos dos conteúdos;
- Delimitar em colunas os cálculos matemáticos, para que a criança não se
confunda na orientação especial;
- Usar estratégias diversificadas para ensinar, tais como: sons, vídeos,
fantoches, desenhos, músicas, dramatizações e exercícios de memorização, jogos que
envolvam memorização, sequência, classificação e seriação.

2.2 DISGRAFIA

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A disgrafia é um distúrbio de aprendizagem caracterizado por problemas com a
linguagem escrita. As crianças disgráficas, em muitos casos, são tidas como
preguiçosas e desleixadas durante o período escolar por terem letra feia e por não
copiarem corretamente.
Toda criança já adquire a escrita a partir do momento que usa traços ondulados
contínuos e riscos verticais descontínuos, portanto o fato da letra se tornar feia ou
ilegível pode ser um problema de ordem emocional ou uma maneira de expressar
desinteresse pelo processo de aprendizagem.
A criança é também um produtor de textos desde a tenra idade. Numa criança de
classe média, habituada desde pequena a fazer uso dos lápis e dos papéis que
encontra na sua casa, podem-se registrar tentativas claras de escrever- diferenciadas
das tentativas de desenhar desde a época das primeiras garatujas ou antes ainda
(FERREIRO, TEBEROSKY, 1994, p.191).
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-
IV,1995), a principal característica da disgrafia é a falta de ordem da habilidade motora,
afetada diretamente pelo cerebelo, o qual recebe informações de diversas regiões
cerebrais sendo a principal o Córtex Motor. O cerebelo também age como um fiscal da
atividade motora mas aqui o cuidado maior é com a precisão e coordenação do
movimento realizado o que influenciará também na realização de ações como andar,
subir, descer, sentar, correr e durante a realização de movimentos mais precisos
(prática de esportes, movimentos com mãos e dedos).
Além dessas características, o gráfico 1 abaixo nos mostra as consequências
físicas e psicológicas causadas pela Disgrafia no âmbito escolar, onde a pressão
advinda das atividades escolares e as expectativas que a próprias crianças colocam em
si mesmas podem desencadear toda uma desestruturação orgânica nos alunos com tal
distúrbio.
Gafico 1. Relação entre Stress Infantil e a Dificuldade de aprendizagem
(Disgrafia)

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Para fazer qualquer intervenção neste caso é preciso que o professor observe
como a criança segura o lápis e a sequência de movimentos que ela usa para copiar.
As atividades devem servir para que a criança faça relação visual, cenestésica e
motora.
O professor pode margear o caderno do aluno com cores fortes, fazendo com
que ele perceba a limitação do espaço.
Trabalhar também com reescrita de palavras, frases e textos, caligrafia, pintura
de espaços entre palavras de um texto pequeno (parlendas), cruzadinhas silábicas,
frases para ler e montar, história em sequência, leitura visual.

2.3 DISORTOGRAFIA

Segundo Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento presente no


CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Organização Mundial de Saúde
(Org.) (1992) principal característica de um sujeito disortográfico é a confusão que ele
apresenta com as letras, sílabas e trocas ortográficas já trabalhadas em sala de
aula pelo docente.
Outras características são as inversões, aglutinações, omissões e
desordem na estrutura da frase.

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Segundo Sampaio (2009) há algumas características peculiares de indivíduos
que apresentam quadros de disortografia, são elas:

-Trocas de letras que se parecem: faca/vaca, chinelo/jinelo;


-Confusão de sílabas: encontraram/encontrarão;
- Adições: ventilador;
-Omissões: cadeira/cadera, prato/pato;
- Fragmentações: em saiar, a noitecer;
- Inversões: pipoca/picoca
- Junções: no meiodatarde, voltarei maistarde.

De acordo com Torres (2002) existem sete tipos de disortografia:


Disortografia temporal onde o sujeito não é capaz de ter uma visão clara dos
aspectos fonéticos da cadeia falada com a ordenação e separação dos
elementos.
Disortografia perceptivo-cinestésica que se centra na incapacidade que o
indivíduo tem para repetir os sons, verificando as substituições no modo de articular os
fonemas;
Disortografia cinética onde se percebe uma deficiência de ordenação e
sequenciação dos elementos gráficos gerando erros de união - separação;
Disortografia visuo-espacial que é alteração perceptiva da imagem dos
grafemas;
Disortografia dinâmica que verifica alteração na expressão escrita das ideias e
na estrutura sintática das proposições;
Disortografia semântica onde a análise é indispensável para o estabelecimento
dos limites das palavras;
Disortografia cultural onde o aluno apresenta dificuldade na aprendizagem da
ortografia convencional.
Para Torres a disortografia compreende somente erros na escrita, pois o sujeito
disortográfico não tem que necessariamente apresentar erros na leitura.

Trabalhando a disortografia
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Segundo Scoz (1994) incentivar a percepção e memória visual do aprendente,
utilizando recursos como cartaz de números e letras, o docente pode espalhar os
cartazes pela sala de aula, deixando a vista dos alunos. O professor deve sempre
elogiar as produções do educando, principalmente quando ele escrever corretamente,
isso levantará sua autoestima.
A autora nos remete à importância de o docente observar as trocas mais
frequentes que o aluno apresenta e assim poderá planejar e realizar atividades mais
diretas, relacionadas a essas dificuldades, trabalhando o lúdico, incentivando a
brincadeira, o jogo e a música, despertando na criança o interesse pela atividade.
A relação entre o conteúdo já assimilado e o que está sendo ensinado é muito
importante para que o aluno possa fazer as comparações e ter suas conclusões, sendo
assim o professor deve estar atendo a estes apontamentos para planejar suas
atividades desencadeando novas aprendizagem partindo do que já foi aprendido e
acrescendo o novo, outro fator importante que podemos observar nas ideias da autora
é a importância de a sala de aula deva ser um ambiente agradável e favorável a
aprendizagem, ou seja um ambiente estimulador que traga o aconchego e o contato
com o mundo letrado, visando promoção e a valorização das habilidades,
atitudes e conhecimento que o aluno tem, oportunizando que ele possa desenvolvê-
las de maneira satisfatória.
O Educador deve despertar a curiosidade e o interesse do educando, assim o
ato de ensinar e aprender torna-se eficaz e prazerosa.
De acordo com Sampaio (2009) o professor enquanto mediador do processo de
ensino deve buscar orientações acerca das dificuldades de aprendizagem apresentada
pelo aluno, a fim de buscar soluções e desenvolver um trabalho consciente e que
promova a satisfação e o bem estar de todos.
Sampaio explana a importância de que não se deve tratar as dificuldades de
aprendizagem, como algo sem solução, mas sim como um desafio diário que faz
parte deste processo, identificando precocemente a complexidade, para que as
devidas medidas sejam tomadas, evitando assim o sofrimento prolongado do aluno. E
principalmente a importância da família junto ao trabalho pedagógico para favorecer
uma comunicação e consequentemente melhoras na aprendizagem da criança, pois as
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trocas de ideias entre família e professor pode enriquecer e muito a maneira de como
trabalhar a criança para que surte resultados mais positivos.

3. ALGUMAS PROPOSTAS DE TRABALHO PEDAGÓGICO SEGUNDO FERREIRO


E TEBEROSKY

3.1 Trabalho Com Nomes

Segundo Vigotsky (1993), a criança constrói a denominação a partir da


constatação de que “cada coisa tem um nome”.

3.1 TRABALHO COM NOMES

Segundo Vigotsky (1993), a criança constrói a denominação a partir da


constatação de que “cada coisa tem um nome”.
Segundo Ferreiro (1990), o nome é tanto a forma de designar aquilo que está
escrito, ou seja o conteúdo do texto, como forma de a criança ter sua identidade. A
escrita do próprio nome adquire uma importância significativa ao se iniciar a
escolaridade, pois a criança vê seu próprio nome marcado em objetos pessoais,
utensílios, avental, etc, sendo assim é através das letras de seu nome que ela inicia sua
alfabetização com significado, por estar partindo de algo que faz parte de sua
identidade.
Em um primeiro trabalho sobre a escrita do próprio nome, Ferreiro e Teberosky
(1990) descreveu diversos modelos na produção de nomes, tendo como fonte crianças
de três a sete anos e descreveu nos seguintes níveis.
Nível zero:
A criança apenas imita a escrita rápida dos adultos. Ela ainda não descobriu as
unidades discretas da escrita.
Nível um:
Apresenta alinhamento horizontal provenientes de movimentos sistemáticos para
cima e para baixo.
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Nível três:
Aparecem os símbolos discretos.
Nível quatro:
Aparecem algumas letras convencionais, algumas corretas, outras incorretas.
Ferreiro e Teberosky (1990) concordam com o autor, e afirmam que esse
conhecimento (a escrita) segue uma evolução externa (forma de signos gráficos) e
interna (interpretação e significado).
Por isso, a proposta de trabalho com o próprio nome da criança é enriquecedor
por várias razões:
- Do ponto de vista lingüístico e gráfico o nome da criança é um modelo estável;
- O nome próprio se refere a um único objeto, o que elimina ambigüidade na
interpretação;
- O nome próprio tem valor de verdade, pois pode ser compartilhado pelo
emissor e pelo receptor;
- Tem a função de identificar objetos ou indivíduos e faz parte dos intercâmbios
sociais da nossa cultura;
- A estrutura, a pauta lingüística e o referente coincidem, e esta coincidência
facilita a passagem de um símbolo para um objeto.
Inicialmente deve-se trabalhar a escrita espontânea do próprio nome, depois,
escrevê-lo a partir do uso de modelos, porque este modelo dará informações à criança
sobre as letras, tanto na forma convencional, quanto qualitativa e quantitativa,
variedade e posições das letras em uma única escrita convencional, dará uma
referência para confrontar as ideias.

3.2 As Listas

Crianças entre cinco e oito anos demonstram muito interesse por enumerações.
A escrita de nomes em forma de listas contribui muito para a aquisição da
linguagem escrita.

3.3 Escrita De Títulos

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A criança extrai a informação do contexto gráfico (desenhos, imagens, livros de
contos, etc.), depois o professor pode dar as informações para que ela interprete e
ordene as partes do título, se a criança não tiver informações prévias, faz-se a leitura
convencional da palavra. A criança vê e copia os títulos para fazer listagem, o professor
deverá oferecer-lhe exemplos, revisar, corrigir e propor a reescrita dos mesmos.

Reescrita de textos narrativos

É uma atividade enriquecedora para alfabetizar, pois permite que a criança


interaja com uma diversidade linguística, aprenda coesão discursiva, segmentação,
faça relação entre tempo e espaço.

Escrita de poemas e ou poesias

Por ser um tipo de texto que traz rimas e aliterações, sua reprodução ou escrita
pode contribuir para a fixação de fonemas. Por ser um tipo de texto que faz parte da
sabedoria sócio-cultural, a criança tende a reconhecê-lo e criar melhores hipóteses
sobre a escrita (lendas, músicas, poesias, etc.).

Escrita de notícias

Com atividades desse tipo, a criança entra em contato com diferentes estilos de
textos, que correspondem às diversas seções do jornal. É uma atividade que permite
aos alunos maior intercâmbio cultural, interação linguística e diversificação textual.
Além de trazer informações e conhecimento à criança, esse trabalho é enriquecedor
para a aquisição da linguagem escrita e ampliação dos aspectos linguísticos.
Rueda (1993) considera que o conhecimento fonológico possui quatro diferentes
níveis: conhecimento da rima, conhecimento silábico, conhecimento intra-silábico e
conhecimento fonêmico ou segmental.

Conhecimento da rima:

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Quando a criança começa descobrir que determinadas palavras
apresentam um mesmo conjunto de sons em seu princípio ou final.

Conhecimento silábico:

Esse conhecimento envolve a decomposição das palavras em subunidades,


essa habilidade pode ser conseguida a partir de situações de oralidade.

Conhecimento intra-silábico:

É um nível intermediário entre o conhecimento silábico e o conhecimento


segmental ou fonêmico.
Nesse nível as sílabas podem ser subdividas em elementos menores do que elas
mesmas e maiores que um fonema.

Conhecimento segmental:

As palavras são compostas por um conjunto de segmentos sequenciados


denominados fonemas.
Assim, quanto mais se aprender sobre os fonemas, mais se poderá aprofundar
seus conhecimentos a respeito da escrita.

CONCLUSÃO

Para que a criança demonstre maior facilidade na aquisição da linguagem escrita


é preciso que desde a pré-escola algumas habilidades tenham sido trabalhadas como
percepção, esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal,
coordenação motora, ritmo, habilidades visuais, auditivas, orais e memória sinestésica.

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O professor das séries iniciais deve estar atento a essas habilidades e verificar
as condições sociais, culturais, intelectuais e emocionais das crianças, pois todos esses
fatores contribuem para um bom desenvolvimento cognitivo e aprendizagem.
Percebe-se a importância da linguagem escrita e sua função social, todavia, o
processo de aquisição da mesma se torna difícil para algumas crianças, sabendo que
alguma dificuldade de aquisição da língua escrita se dá devido aos problemas
cognitivos, psicológicos, sociais ou até mesmo pedagógicos é preciso repensar as
práticas de alfabetização, pois hoje o professor se depara com vários tipos de
dificuldades e distúrbios de aprendizagem em sala de aula e sem dúvida deverá investir
cada vez mais em sua capacitação profissional, a fim de ampliar e atualizar seus
conhecimentos.
Os conhecimentos teóricos, metodológicos e científicos servirão de apoio para
uma boa intervenção pedagógica. À medida que se faz as intervenções, pode se
compreender melhor as diversas características evolutivas da aprendizagem, como
também as dificuldades que são apresentadas, porém, para intervir de modo eficiente,
o professor deve fazer um bom diagnóstico e ter uma atitude pedagógica de mediador
durante o processo.
Tratar-se-á nesse momento apenas das dificuldades de aquisição da língua
escrita e alguns distúrbios que possam contribuir para dificultar a mesma, pois tem sido
preocupante o número de crianças que repetem sucessivamente as séries iniciais e
alunos que chegam ao quinto ano do ensino fundamental com dificuldade na linguagem
escrita.
Sendo uma linguagem que requer o desenvolvimento de várias habilidades e
cognitivamente de vias fonológicas e léxicas bem desenvolvidas simultaneamente, o
professor deve estar capacitado profissionalmente para propor uma aprendizagem
significativa, dinâmica e desafiadora para compreender e sanar as dificuldades dos
alunos nesse processo de aquisição. Outro fator importante é a boa relação que ele
mantém com os alunos e interação com os familiares dos mesmos.
Com uma boa proposta pedagógica, uma boa metodologia e recursos didáticos o
professor poderá transformar a aquisição da língua escrita um processo prazeroso e
construtivo.

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A criança deve ter um bom relacionamento com os pais, professores e colegas
para que se sinta estimulada a escrever.
Compreende-se por meio de várias pesquisas científicas que alguns professores
ainda possuem uma prática pedagógica arraigada em métodos tradicionais, e que por
falta de capacitação, melhores condições de trabalho e salários deixam de buscar uma
melhor formação profissional para que possam melhorar suas práticas pedagógicas.
Com isso, passam a ensinar de maneira retrógrada e descontextualizada numa
sociedade que hoje é cercada de avanços tecnológicos e onde o aluno tem acesso a
todos os recursos tecnológicos e meios de comunicação no seu cotidiano.
Com isso, os alunos sentem-se desmotivados a frequentar salas lotadas, com
professores cansados usando a teoria da lousa, giz, caderno e enfatizando os
conteúdos ultrapassados e descontextualizados numa prática insana que reproduz o
desinteresse, a indisciplina e pouco desenvolvem o senso crítico do aluno.
O que é preciso ressaltar é que professores desvalorizados geram alunos mal
formados. Em relação à aprendizagem e aquisição da linguagem escrita e leitura,
percebe-se que uma boa atuação dos professores no período de alfabetização é
fundamental para que nas séries iniciais o aluno tenha uma variedade de habilidades
desenvolvidas em relação ao processo de aprendizagem.
Outro fator importante que reflete numa boa aprendizagem é quando o professor
reconhece a realidade sociocultural do aluno e principalmente o desenvolvimento
cognitivo, respeitando seus erros propondo um ensino dinâmico incutindo no aluno o
interesse e o prazer em pesquisar, buscar novos conhecimentos de forma
contextualizada processando as informações necessárias ao seu desenvolvimento
acadêmico e sociocultural. E se necessário buscar ajudar de uma equipe
multidisciplinar,

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Alegre, Artes Médicas, 1989.

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