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Práticas de Ensino -

Aprendizagem da
Alfabetização e do
Letramento
Jair Rodrigues da Silva
Práticas de Ensino -
Aprendizagem da
Alfabetização e do Letramento

Introdução
Neste conteúdo, o objetivo de estudo estará nas práticas de ensino aprendizagem
do campo da alfabetização e letramento. Abordaremos conceitos teóricos e
práticos próprios dos anos iniciais do Ensino Fundamental, acerca da Alfabetização
e Letramento. Você já deve ter algum conhecimento sobre esse tema, seja porque
já ouviu falar (e até opinou) sobre os problemas de alfabetização no Brasil e as
dificuldades e desafios do ensino de leitura e escrita na idade certa, seja porque teve
experiências pessoais a respeito do ato de ler e escrever.

Os assuntos abordados nesta disciplina são importantes para você melhor


fundamentar e aprofundar sua prática como educador. O intuito deste material é
fazer com que você reflita sobre os conceitos atrelados à alfabetização e letramento
a partir de diferentes abordagens de forma a repertoriar sua formação e sua futura
prática como educador(a) dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Figura 1 - Leitura
Fonte: Plataforma Deduca (2023)
#PraTodosVerem: A imagem representa 3 crianças sentadas com livros em seus colos, sendo uma menina ao
centro e dois meninos nas laterais, todos tem a pele clara e estão de costas para uma pilha de livros.

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Objetivos da Aprendizagem
• identificar como os conceitos de alfabetização e letramento são abordados
na bncc;
• compreender as diferentes situações de uso da linguagem oral e escrita
durante a alfabetização;
• identificar como é realizada a avaliação da alfabetização

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Alfabetização e Letramento e a BNCC
Neste conteúdo, conheceremos o que diz a Base Nacional Comum Curricular, de 2017,
a respeito da alfabetização e letramento. A BNCC prevê que as ações pedagógicas no
ciclo inicial de dois anos, do Ensino Fundamental devem ter como foco a alfabetização
a fim de proporcionar condições para que os alunos se apropriem do sistema de
escrita alfabética e tenham vivências em práticas de letramento conforme orienta o
Parecer CNE/CEB n. 11/2010.

A etapa de alfabetização, como vemos a seguir, é de fundamental importância para a


vida social das pessoas e sua ação de estar no mundo. Portanto, necessita de muita
atenção por parte das escolas.

Aprender a ler e a escrever consolida as possibilidades de construir conhecimentos de


diversas naturezas e componentes. O indivíduo letrado está inserido na sociedade cultural
letrada e pode interagir na vida social, e participar com maior autonomia e protagonismo
na vida social e profissional. Ao contrário disso, os sujeitos não alfabetizados e não
letrados têm menores chances de interação social e no mundo do trabalho.

Figura 2 - Clube de leitura


Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa um grupo de sete estudantes cinco estão sentados lendo livros,
sendo três meninos e duas meninas, há um casal negro à esquerda, um menino de pele clara no centro e outro
casal de pele clara à direita. Outro casal de pele clara está escolhendo livros na biblioteca que está ao fundo.

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Vejamos o que diz a Base Nacional Comum Curricular a respeito da etapa de
alfabetização.

Embora, desde que nasce e na Educação Infantil, a criança esteja cercada


e participe de diferentes práticas letradas, é nos anos iniciais (1º e 2º anos)
do Ensino Fundamental que se espera que ela se alfabetize. Isso significa
que a alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica. Nesse processo,
é preciso que os estudantes conheçam o alfabeto e a mecânica da escrita/
leitura – processos que visam a que alguém (se) torne alfabetizado, ou
seja, consiga “codificar e decodificar” os sons da língua (fonemas) em
material gráfico (grafemas ou letras), o que envolve o desenvolvimento de
uma consciência fonológica (dos fonemas do português do Brasil e de sua
organização em segmentos sonoros maiores como sílabas e palavras)
e o conhecimento do alfabeto do português do Brasil em seus vários
formatos (letras imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do
estabelecimento de relações grafofônicas entre esses dois sistemas de
materialização da língua. (BRASIL, 2018, p.89-90)

Figura 3 - Dificuldades na leitura


Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma menina de pele clara sentada com as mãos apoiando a cabeça
numa postura que aparenta dificuldades em ler um livro. À esquerda, há uma pilha de livros.

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Aos educadores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é necessário
compreender que a dimensão do trabalho de alfabetização e letramento vai além
de memorizar letras e sílabas para formar palavras e textos. Muito mais que isso, a
BNCC (2018) orienta que:

Alfabetizar é trabalhar com a apropriação pelo aluno da ortografia do


português do Brasil escrito, compreendendo como se dá este processo
(longo) de construção de um conjunto de conhecimentos sobre o
funcionamento fonológico da língua pelo estudante. Para isso, é preciso
conhecer as relações fono-ortográficas, isto é, as relações entre sons
(fonemas) do português oral do Brasil em suas variedades e as letras
(grafemas) do português brasileiro escrito (BRASIL, 2018, p. 90).

O trabalho dos educadores está em proporcionar aos alunos a significação do sistema


de escrita, de forma a assimilar “o processo mecânico da escrita e da leitura”, isto é,
a junção de palavras em sílabas, em sons e em textos de forma a se comunicar de
forma plena na sociedade letrada da qual é um integrante.

Desenvolver tais habilidades pode parecer simples ou até mesmo inato. Ao contrário
de parecer natural ou fácil, alfabetizar e letrar são processos que demandam tempo e
requerem esforço empreendido por professores e alunos.

Nunca é apenas ler, diríamos nesse caso, decodificar. A leitura implica, necessariamente,
em compreender o contexto e ler “o mundo”, como diz o educador Paulo Freire em
sua obra A importância do ato de ler.

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Saiba mais
Para saber mais sobre Freire e sobre a leitura indicada, acesse a
seção a seguir. http://www.catedrapaulofreireufpe.org/memoria-
paulo-freire/biografia/

Indicações de leitura

1-Pedagogia da Autonomia

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra,


1996.

2- A importância do ato de ler

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se


completam. São Paulo: Cortez, 1993.

O trabalho da alfabetização e letramento compreende proporcionar aos alunos e às


alunas processos de experimentação da língua. Isto é, pensar a escrita e a formação
das palavras, textos e seus sentidos na comunidade. De maneira que esses processos
de experimentação resultem em autonomia do uso da língua falada, escrita e lida.

Sobre esses processos de experimentação da língua, a BNCC fala a respeito de


adquirir uma consciência do uso da linguagem, a saber:

Dito de outro modo, conhecer a “mecânica” ou o funcionamento da escrita alfabética


para ler e escrever significa, principalmente, perceber as relações bastante complexas
que se estabelecem entre os sons da fala (fonemas) e as letras da escrita (grafemas),
o que envolve consciência fonológica da linguagem: perceber seus sons, como se
separam e se juntam em novas palavras etc. Ocorre que essas relações não são
tão simples quanto as cartilhas ou livros de alfabetização fazem parecer. Não há
uma regularidade nessas relações e elas são construídas por convenção. Não há,
como diria Saussure, “motivação” nessas relações, ou seja, diferente dos desenhos,
as letras da escrita não representam propriedades concretas desses sons. (BRASIL,
2018, p. 90).

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Segundo a BNCC (2018), os processos de alfabetização requerem da criança as
seguintes etapas:

Diferenciar desenhos/grafismos (símbolos) de grafemas/letras (signos);

Desenvolver a capacidade de reconhecimento global de palavras (que chamamos de leitura


“incidental”, como é o caso da leitura de logomarcas em rótulos), que será depois responsável
pela fluência na leitura;

Construir o conhecimento do alfabeto da língua em questão;

Perceber quais sons se deve representar na escrita e como;

Construir a relação fonema-grafema: a percepção de que as letras estão representando certos


sons da fala em contextos precisos;

Perceber a sílaba em sua variedade como contexto fonológico desta representação;

Até, finalmente, compreender o modo de relação entre fonemas e grafemas, em uma língua
específica.

Quadro 1 - Etapas do processo de alfabetização


Fonte: BNCC (2018, p. 91).
#PraTodosVerem: O quadro representa as sete etapas de alfabetização descritas como habilidades de escrita
a serem alcançadas pelos alunos ao longo da alfabetização, entre eles: Diferenciar desenhos/grafismos
(símbolos) de grafemas/letras (signos); Desenvolver a capacidade de reconhecimento global de palavras
(que chamamos de leitura “incidental”, como é o caso da leitura de logomarcas em rótulos), que será depois
responsável pela fluência na leitura; Construir o conhecimento do alfabeto da língua em questão; Perceber
quais sons se deve representar na escrita e como; Construir a relação fonema-grafema: a percepção de que
as letras estão representando certos sons da fala em contextos precisos; Perceber a sílaba em sua variedade
como contexto fonológico desta representação; Até, finalmente, compreender o modo de relação entre fone-
mas e grafemas, em uma língua específica.

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Todo esse percurso de alfabetização e letramento se resume, segundo a BNCC (2018),
ao processo de desenvolver habilidades/capacidades de leitura, tais como:

Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas (outros sistemas de


representação);

Dominar as convenções gráficas (letras maiúsculas e minúsculas, cursiva e script);

Conhecer o alfabeto;

Compreender a natureza alfabética do nosso sistema de escrita;

Dominar as relações entre grafemas e fonemas;

Saber decodificar palavras e textos escritos;

Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras;

Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de texto que meras palavras, desenvolvendo
assim fluência e rapidez de leitura (fatiamento).

Quadro 2 - Processo de desenvolvimento de habilidades/capacidade de leitura


Fonte: BNCC (2018, p. 93).
#PraTodosVerem: O quadro representa as sete etapas de desenvolvimento da leitura descritas como habilida-
des/capacidades de decodificação a serem alcançadas pelos alunos ao longo da alfabetização e letramento,
entre eles: Compreender diferenças entre escrita e outras formas gráficas (outros sistemas de representação);
Dominar as convenções gráficas (letras maiúsculas e minúsculas, cursiva e script); Conhecer o alfabeto;
Compreender a natureza alfabética do nosso sistema de escrita; Compreender a natureza alfabética do nosso
sistema de escrita; Dominar as relações entre grafemas e fonemas; Saber decodificar palavras e textos es-
critos; Saber ler, reconhecendo globalmente as palavras; Ampliar a sacada do olhar para porções maiores de
texto que meras palavras, desenvolvendo assim fluência e rapidez de leitura (fatiamento).

Essas habilidades/capacidades são horizontes a serem alcançados pelos alunos


e alunas ao longo do ciclo de alfabetização, todavia não devem ser vistos como
horizontes utópicos. Ao contrário disso, possibilitar aos alunos e alunas um processo
de construção da alfabetização e letramento emancipatórios, garantindo assim o
direito de todos à educação.

Ortografia e Gramática, Oralidade e Escrita

Para refletir acerca do uso de atividades que englobam a ortografia, gramática,


oralidade e escrita durante a alfabetização e letramento, retomaremos alguns
conceitos que dão base ao nosso estudo, dentre ele o de alfabetização a partir da
perspectiva de Soares (1998) a fim de fundamentar nossa reflexão teórica.

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Figura 4 - Livro aberto
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa um livro aberto sobre uma pequena pilha de livros à direita. Ao fundo,
há 21 livros coloridos organizados em fileira.

Retomada do Conceito de Alfabetização

Em “Letramento: um tema em três gêneros” (1998), Soares faz uma análise das
palavras: analfabetismo, analfabeto, alfabetizar e alfabetização.

Assim, a autora traz as definições presentes no dicionário Aurélio. Então, analfabetismo


é o estado ou condição do analfabeto.

a (n) +
ismo

a:
prefixo grego (acrescenta-se
um - n - quando a palavra -ismo: sufixo indica: modo de
alfabet +
a que é adicionado começa proceder, de pensar
com vogal) indica: privação, Exemplos:
falta de heroísmo: procedimento
Exemplos: acéfalo: sem de herói servilismo:
cabeça, sem cérebro amoral: procedimento servil.
privado de moral.

Quadro 3 - Definição de analfabetismo


Fonte: Soares (1998, p. 30).

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#PraTodosVerem: O quadro representa a definição do termo analfabetismo segundo o dicionário Aurélio.

A seguir, Soares (1998) continua sua análise com as palavras analfabetismo e


analfabeto.

Curiosidade
Analfabeto: o que não conhece o alfabeto, que não sabe ler e
escrever (a(n)+alfabeto).

Segundo a autora, nessas palavras aparecem o prefixo a(n):

Analfabeto é aquele que é privado do alfabeto, a que falta o alfabeto, ou


seja, aquele que não conhece o alfabeto não sabe ler e escrever. Que ao pé
da letra, significa aquele que não sabe nem o alfa, nem o beta (alfa e beta
são as primeiras letras do alfabeto grego); em outras palavras: aquele que
não sabe o be-a-bá (SOARES, 1998, p. 30).

Curiosidade
Analfabetismo: o sufixo –ismo: significado da palavra, modo de
proceder como analfabeto.

Em seguida, Soares (1998) define alfabetizar e alfabetização:

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ALFABETIZAR: ensinar a ler e escrever

Alfaber + izar

-izar: sufixo indica: tornar, fazer com que


Exemplos: suavizar, tornar suave; industrializar tornar industrial.
Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever.
Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar “alfabeto”.

Quadro 4 - Definição alfabetizar


Fonte: Soares (1998 p. 31).
#PraTodosVerem: O quadro representa a definição do termo alfabetizar, segundo o dicionário Aurélio, como:
Alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever.

Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar “alfabeto”.

Figura 5 - Alfabetizando
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma professora fazendo mediação de aprendizagem com uma aluna,
a aluna está sentada e tem um porta lápis com lápis de cor e a menina escreve no caderno que tem à sua fren-
te. Ambas têm a pele clara. Ao fundo, há uma menina estudando, também de cor clara numa sala de aula.

Tomando como base essa análise, a alfabetização está relacionada ao domínio do


código e dos conjuntos de técnicas para executar a escrita. Quando buscamos a
história da alfabetização, percebemos que desde o período colonial o ler e o escrever

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esteve presente, num primeiro momento, por meio da educação jesuíta, que de acordo
com pesquisas, manteve o monopólio da educação colonial por dois séculos. Este
período pode ser dividido em duas fases:

No primeiro século dos jesuítas no Brasil colônia, o objetivo era de catequizar os


índios e promover a aculturação destes, infundindo a cultura europeia e a religião
cristã por meio da alfabetização. Na segunda fase, os jesuítas voltaram a sua atenção
na alfabetização dos filhos dos colonos. Com isso, surgiram dois tipos de escola: a
escola de ler e escrever e o colégio.

A escola de ler e escrever ensinava aos meninos boas maneiras e a técnica da leitura
e da escrita. Já o colégio, era o seminário, e o ensino era voltado sobretudo para a
Moral, Filosofia e Línguas Clássicas. Depois, era possível estudar Teologia, Direito ou
Medicina na Universidade de Coimbra, dirigida pelos jesuítas.

Sendo assim, em meados do século XVIII, por questões econômicas, ideológicas e


políticas, os jesuítas foram expulsos do Brasil. O governo precisou suprir a lacuna
que houve com a saída dos jesuítas, então a educação ficou no comando do Estado.
Para alguns estudiosos, esse momento histórico deu início a uma característica
marcante da educação brasileira: a destruição e substituição das antigas propostas
pelas novas. Este período, conhecido como reforma pombalina, é um marco nos
estudos históricos da educação brasileira.

Saiba mais
A atuação de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de
Pombal, Primeiro Ministro de Portugal de 1750-1777, (...) suscitou
ao longo de décadas, o lastro ideológico, reformador e autoritário,
voluntarista e despótico e de tirano esclarecido. Deste modo, a
análise das transformações da sociedade portuguesa em meados
do século XVIII, consubstanciadas nas Reformas Pombalinas, que
abarcaram os âmbitos econômico, administrativo e educacional,
tanto em Portugal como nas suas colônias, requer o conhecimento
da situação da metrópole neste período. Leia mais em: www.
histedbr.fe.unicamp.br/navegando/periodo_pombalino_intro.html
.

Nesse conteúdo, refletimos sobre os termos analfabetismo e alfabetização a partir


das pesquisas de Soares (1998). Soares é uma pesquisadora de referência na área de
alfabetização e letramento, é recomendável pesquisar e ler mais sobre essa autora.

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Refletimos também sobre um breve histórico da história da educação brasileira que
foi a Reforma Pombalina, que originou a educação pública gerida pelo poder público.

Seguiremos, agora, nosso estudo com esse breve histórico da alfabetização no Brasil.

Reflexão Histórica Sobre Gramática e Oralidade

Para Soares (1998), este período das reformas Pombalinas, no entanto, é de


controvérsias, pois alguns estudiosos, diferentemente dos que apontam os
problemas anteriormente mencionados, defendem que na Reforma Pombalina surgiu
um público alfabetizado, leitor de traduções dos filósofos enciclopedistas. Logo,
dentro desta visão, a reforma pombalina contribuiu para, de forma significativa, para
a consolidação da língua portuguesa no Brasil e valorização da escola.

No entanto, mesmo após a Reforma Pombalina, ainda era utilizada a gramática da língua
latina. No período pombalino, recomendou-se que a língua portuguesa – denominada
“vulgar” – deveria ser usada como instrumento para aprender a gramática latina ao
mesmo tempo que a gramática da língua portuguesa deveria servir de apoio para a
aprendizagem da gramática latina. À medida que aos poucos o latim foi perdendo seu
uso e valor social, a gramática da língua portuguesa foi ganhando autonomia.

Figura 6 - Processo de leitura


Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem mostra uma mão, de cor clara, apontando para um livro aberto no que represen-
taria um processo de leitura. O livro tem um aspecto antigo.

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Entre os séculos XVI e XIX, havia como componente curricular a retórica voltada
para a prática social. Além da arte de falar bem, a retórica incluía o estudo da poesia
(Poética), das regras de métrica e versificação, dos gêneros literários, da avalição da
obra literária, o que na atualidade se aproxima da Literatura.

Curiosidade
Retórica: a retórica é uma área relacionada com a oratória e dialética,
e remete para um grupo de normas que fazem com que um orador
comunique com eloquência. Tem como objetivo expressar ideias
de forma mais eficaz e bonita, sendo também responsável pelo
aumento da capacidade de persuasão.

Até o fim do Império, a Retórica, a Poética e a Gramática eram as disciplinas que


faziam parte do ensino da Língua Portuguesa. Após esse período, elas se juntaram
em uma disciplina única, denominada Português. Mesmo com essa junção, não
havia uma estrutura didática para a alfabetização. O material que era disponível
para o ensino da leitura era precário. Os poucos materiais impressos, como os livros
de ensino de leitura, eram editados ou produzidos na Europa. Então, comumente,
iniciava-se o ensino da leitura com as chamadas “cartas ABC”, e depois, os alunos
liam e copiavam documentos manuscritos.

Figura 7 - Biblioteca
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma biblioteca com livros todos da mesma cor e com aspecto antigo.
Os livros estão numa prateleira e há uma mão, de cor clara, que seleciona e puxa um dos livros.

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Portanto, nessa época, era utilizado o método sintético de alfabetização (da parte
para o todo); da soletração (alfabético), partindo do nome de letras, fônico (sons
correspondentes às letras); e, da silabação, partindo das sílabas e considerando
uma ordem crescente de dificuldade. Primeiro ensinava-se a ler palavras formadas
por letras com seus correspondentes sons e/ou sílabas. Depois, ensinava-se frases
isoladas ou agrupadas. A escrita se restringia à caligrafia e ortografia. O ensino era
por meio de cópias, ditados e formação de frases ressaltando-se o desenho correto
das letras.

Método sintético
Corresponde a um método de alfabetização rápido e antigo. Ele acontece por meio de uma
correspondência entre o som e grafia, oral e escrita.
Caracteriza-se:
• Pela aprendizagem por meio de letra por letra e sílaba por sílaba e palavra por palavra.
• O indivíduo é capaz de perceber os símbolos gráficos de uma forma geral.
• O aluno apresenta dificuldades de compreender e criar textos, a leitura dura pouco.
• Método sintético se divide em três tipos:
• Método alfabético - é muito mais utilizado, tendo como princípio que a leitura parta da
decoração oral das letras do alfabeto. A principal crítica a este método está relacionada à
repetição de exercícios.
• Método fônico - consiste no aprendizado por meio de associação entre fonemas e grafemas,
ou seja, sons e letras basearem-se no ensino do código alfabético, tem como crítica o
método da soletração.
• Método silábico - a aprendizagem é feita por meio de uma leitura mecânica do texto,
decifração das palavras. Nesse método, as cartilhas são utilizadas para orientar os alunos e
são usados fonemas e seus grafemas.

Quadro 5 - Prosseguindo em nossa reflexão histórica,


vamos retomar o método Sintético de alfabetização.
Fonte: Portal Educação (2021).

#PraTodosVerem: O quadro representa o método sintético de alfabetização dividido


em três partes: Método alfabético (é muito mais utilizado, tendo como princípio que a
leitura parta da decoração oral das letras do alfabeto. A principal crítica a este método
está relacionada à repetição de exercícios), fônico (consiste no aprendizado por meio de
associação entre fonemas e grafemas, ou seja, sons e letras basearem-se no ensino do
código alfabético, tem como crítica o método da soletração) e silábico (a aprendizagem
é feita por meio de uma leitura mecânica do texto, decifração das palavras. Nesse mé-
todo, as cartilhas são utilizadas para orientar os alunos e são usados fonemas e seus
grafemas).

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Vamos retomar, pois já analisamos os métodos de alfabetização nas unidades
anteriores, o conceito de Método Analítico no quadro a seguir.

Método Analítico
Corresponde ao método que analisa o todo (palavra).
Caracteriza-se:
• Inicia-se com palavras frases ou contos.
• Faz com que as crianças compreendam o sentido de um texto.
• Não ensina a leitura por meio da silabação, estimulando a leitura e deixando o aluno à vontade.
• As Habilidades dos alunos devem ser consideradas.
• Priorizar as habilidades de ouvir, falar e escrever.
• Método analítico se divide em três:
• Palavração: a palavra é apresentada ao aluno acompanhada da imagem, porém, é dirigida
aos detalhes da palavra como as sílabas. A palavra é composta e decomposta.
• Sentenciação visualiza e memoriza as palavras para formar novas palavras.
• Contos e historietas, é um método de sentenciação, método como ideia fundamental,
fazendo com que a criança entenda que ler é descobrir o que está escrito. E também
decompor pequenas histórias em partes cada vez menores.

Quadro 6 - Prosseguindo em nossa reflexão histórica, vamos retomar o método


Sintético de alfabetização
Fonte: Portal Educação (2021).
#PraTodosVerem: O quadro representa o método analítico de alfabetização dividido em três partes: Métodos
de Palavração (a palavra é apresentada ao aluno acompanhada da imagem, porém, é dirigida aos detalhes da
palavra como as sílabas. A palavra é composta e decomposta), Sentenciação (visualiza e memoriza as pala-
vras para formar novas palavras) e Contos e Historietas (é um método de sentenciação, método como ideia
fundamental, fazendo com que a criança entenda que ler é descobrir o que está escrito. E também decompor
pequenas histórias em partes cada vez menores).

Figura 8 - Alfabetizando
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A ilustração representa uma sala de aulas com seis crianças sentadas em fileiras e a pro-
fessora em frente à lousa. À esquerda, há um quadro de rotinas e a mesa da professora.

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Porém, ainda nos anos de 1940, a tradição da gramática e da retórica e da Poética
se mantinha. Isto porque o ensino ainda era restrito a uma elite que considerava
útil aquele tipo de ensino. A Retórica e a Poética foram ganhando um espaço mais
estilístico, pois aos poucos foi se distanciado o ensino das regras para se falar bem
do ensino das regras para de escrever bem.

Por isso, várias gramáticas para uso escolar foram produzidas nesse período. O
professor da disciplina de Português, na maioria das vezes, era um estudioso da língua
e de sua literatura e se dedicava ao ensino. Transformações nas condições culturais
e sociais a partir dos anos de 1950 acarretaram várias transformações no ensino da
Língua Portuguesa.

Houve uma maior possibilidade de acesso à escola, o que exigiu reformular novos
conceitos e função do ensino na escola. Assim, há uma mudança no perfil de
aluno, agora não mais filhos da elite faziam parte da escola, mas também filhos de
trabalhadores.

Neste período, que vai até década de 1970, acreditava-se numa base teórica que
propunha a necessidade de medida do nível de maturidade para o aprendizado da leitura
e da escrita. Eles eram mensurados de acordo com os testes ABC criados por Manoel
Bergström Lourenço Filho. Os testes iam de encontro aos ideais escolanovistas.

O objetivo era escolher um método mais adequado para a alfabetização eficiente


e eficaz em classes homogêneas. O foco era ensinar a ler e a escrever com caráter
instrumental, levando em consideração: o nível de maturidade, as características e
os interesses da criança. Neste conceito, a importância de método de alfabetização
passou a ser relativizada e vista como tradicional.

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Figura 9 - Sala de aula
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma professora de cor clara em pé ministrando aula. Sentados há 3
alunos de cor clara, sendo um menino que está à esquerda e duas meninas mais ao centro. Todos estão com
as mãos levantadas.

Curiosidade
Escolanovista: adeptos da Escola Nova. Foi um movimento que
propunha uma nova compreensão das necessidades da infância e
questionava a passividade na qual a criança estava condenada pela
escola tradicional, conhecido também como Educação Nova. No
Brasil, a Escola Nova buscava a modernização, a democratização,
a industrialização e urbanização da sociedade. Os educadores
que apoiavam suas ideias entendiam que a educação seria a
responsável por inserir as pessoas na ordem social.

Os professores, nesse período, eram parte já formados nos conteúdos de língua e


literatura, mas também pedagogia e didática. A exigência passa a ser o estudo da
gramática e do texto. Assim, em alguns momentos, a gramática serve de suporte

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para a compreensão e a interpretação de texto e em outros é no texto que se encontra
recursos para a aprendizagem da gramática.

Vimos até aqui, que a alfabetização na história do Brasil do período colonial até os
anos de 1940 teve sua função social voltada para o interesse de uma elite dominante
e seu ensino voltado para a gramática e estudo de textos. Foi a partir dos anos de
1950, que ocorreu a democratização do ensino e a classe trabalhadora pôde ter
acesso à escola. Mas será que esse acesso garantiu qualidade no ensino?

Será que os métodos de ensino da língua portuguesa, incluindo a gramática,


possibilitaram um acesso à alfabetização e letramento eficaz para a população
brasileira? Fica a reflexão.

Para corroborar nessa discussão, vamos abordar, na seção seguinte, as avaliações


em larga escala da alfabetização e letramento em nosso país.

O Processo de Avaliação da Alfabetização

Neste conteúdo, vamos refletir acerca das avaliações realizadas na educação brasileira
ao longo do processo de avaliação. Vamos falar da avaliação em larga escala, a
Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) e seu histórico.

Iniciamos retomando o conceito de Letramento como o resultado da ação do ensino


e aprendizagem no que diz respeito à leitura e à escrita, e o que os sujeitos fazem
com sua aprendizagem diante do seu grupo social.

A palavra letramento surge a partir década de 1980 com a necessidade de criar


um termo que contemplasse a alfabetização – saber ler e escrever – junto com as
necessidades do uso da leitura e da escrita nas práticas sociais.

Emília Ferreiro, no livro “Com todas as letras”, começa referindo-se à Conferência


Regional de Ministros da Educação e de Ministros encarregados do Planejamento
Econômico da América Latina e Caribe que aconteceu na Cidade do México em 1979.

O objetivo dessa Conferência era conseguir, antes de 1999, a escolarização de todas


as crianças, oferecer uma educação geral de 8 a 10 anos, eliminar o analfabetismo
adulto e ampliar a qualidade e eficiência dos sistemas de educativos. No entanto, a
crise econômica provocou a forte redução do gasto público em educação.

Na década de 1990, o Banco Mundial passou a investir na educação básica e a


acompanhar as políticas educacionais dos governos. Assim, em março de 1990, em

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Jomtien, na Tailândia, é firmada a Declaração Mundial sobre Educação para Todos.
Um dos pontos que traziam em seus artigos se refere a tomar medidas consolidadas
para o enfrentamento da desigualdade na educação, tendo para isso a missão de
elevar os níveis de qualidade para todos e todas.

Figura 10 - Livros

Fonte: Plataforma Deduca (2023).

#PraTodosVerem: A imagem mostra uma pilha de livros à direita que estão sobre uma mesa de cor
preta. Ao fundo, temos uma lousa verde, não há nada escrito.

Para fazer cumprir o que foi elencado na declaração, os países participantes foram
incentivados a elaborar Planos Decenais, em que as diretrizes e metas do Plano de
Ação da Conferência fossem contempladas. No Brasil, o Ministério da Educação
divulgou o Plano Decenal de Educação Para Todos para o período de 1993 a 2003,
elaborado em cumprimento às resoluções da Conferência.

Em 1996, é aprovada a Lei de Diretrizes e Base da educação Nacional (LDB


9394/1996) que representou um marco na legislação educacional brasileira. Um dos
pontos presentes nesta legislação diz respeito ao plano nacional de educação e a
instrumentos de coleta de dados e de avaliação da qualidade de ensino.

A partir disso, os Estados e Municípios precisariam criar estratégias para garantir as


exigências tanto da Declaração da Educação, quanto do Plano Nacional da Educação.
Instrumentos de avaliação foram criados para mensurar a qualidade do ensino e
sobretudo da alfabetização. Nesse contexto, no ano de 2012, houve a criação do
Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) que tinha como objetivo
central que todas as crianças já estivessem alfabetizadas ao final do 3º ano dos anos
iniciais do Ensino Fundamental. Porém, diferentemente da alfabetização do início da

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colonização, a leitura e a escrita passam a ser vistas de forma contextualizada. Ela
está relacionada às práticas sociais em que os sujeitos estão inseridos.

Atenção
O ANA é um dos instrumentos do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb), avalia os níveis de alfabetização e
letramento em língua portuguesa, a alfabetização em matemática
e as condições de oferta do ciclo de alfabetização das redes
públicas. Passam pela avaliação todos os estudantes do terceiro
ano do ensino fundamental matriculados nas escolas públicas no
ano da aplicação da avaliação. Em 2016, os testes da ANA foram
aplicados para 2,5 milhões de estudantes, de 50 mil escolas e 100
mil turmas.

O objetivo da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) é produzir indicadores que


possam contribuir para o processo de alfabetização nas escolas públicas brasileiras.

Atenção
A Avaliação Nacional da Alfabetização era aplicada no 3º ano dos
anos iniciais do Ensino Fundamental, e agora como SAEB, passa a
ser realizada no 2º ano. Isto ocorre pelo ciclo de alfabetização ser
concluído no 2º e não mais no 3º ano, conforme determina a BNCC.

Desta forma, as exigências atuais do ensino da leitura e da escrita envolvem a


relação do aluno com as práticas sociais. É um ensino contextualizado, que envolve
a gestão escolar, a infraestrutura, a formação docente e a organização do trabalho
pedagógico, pois os organizadores da avaliação acreditam que esses fatores
intervêm na aprendizagem. Para a coleta de dados desses indicadores são aplicados
questionários aos professores e gestores das instituições de ensino que atendem ao
Ciclo de Alfabetização.

Podemos perceber que a avaliação da alfabetização em larga escala, como a ANA


e outras avaliações institucionais, passam a ser denominadas como Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB). Essas avaliações objetivam avaliar a educação
básica no sistema de educação brasileiro e promover a melhoria da qualidade com o
intuito de promover a melhora nos índices internacionais de educação como o PISA

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(sigla em língua inglesa para Programa Internacional de avaliação de estudantes), no
qual o Brasil se posiciona sempre abaixo das expectativas.

Saiba mais
Para saber mais sobre as grandes avaliações acesse os links a
seguir:

Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB)

https://www.somospar.com.br/saeb/

PISA

https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-
exames-educacionais/pisa

Nosso objeto de estudo, nesta seção, foram as avaliações e, larga escala na educação
brasileira.

Para tanto, refletimos a partir de um breve histórico dessas avaliações na educação


brasileira. Importante ressaltar que, a partir de 2019, todas as avalições ficam inseridas
no Sistema de Avaliação da Educação Brasileira (SAEB) mudanças que tiveram que
ser repensadas devido à pandemia de COVID-19 e a paralisação do ensino presencial.

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Conclusão
Ao longo deste conteúdo, refletimos sobre as orientações e apontamentos acerca
da alfabetização e letramento ao longo dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em
especial, no primeiro ciclo realizado entre o primeiro e segundo ano de escolarização.

Estudamos sobre o ensino de gramática e oralidade a partir de um breve histórico


da alfabetização nacional. Neste sentido, vimos os métodos sintético e analítico de
alfabetização, passando pelo período do movimento escolanovista em meados de
1930, após esse período tivemos a ampliação da educação para as camadas mais
pobres da sociedade.

Neste conteúdo, discutimos sobre a avaliação na alfabetização e as avaliações em


larga escala para dimensionar a qualidade na educação no Brasil. E, sobre isso, qual
sua opinião? Será que a escola está formando a ler e escrever para a autonomia ou
apenas para decodificar palavras?

Frisamos que os assuntos tratados ao longo da disciplina são de importância para


sua futura ação enquanto educador e educadora nesta missão primordial que é a
alfabetização e letramento.

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Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 2018. Disponível
em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 8 ago. 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 8 ago. 2023.

BATISTA, Priscila K. Quadro comparativo dos métodos sintéticos, analíticos, tradicional,


construtivista. Portal Educação. Disponível em: https://siteantigo.portaleducacao.
com.br/conteudo/artigos/pedagogia/quadro-comparativo-dos-metodos-sinteticos-
analiticos-tradicional-construtivista/67693. Acesso em: 8 ago. 2023.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São
Paulo: Cortez, 1993.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

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