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1. Introdução
Antes de ter sido prevista na legislação trabalhista, a jornada de trabalho 12x36 já era
adotada para algumas atividades em que é necessária mão de obra 24 horas por dia, em
razão da própria natureza da prestação dos serviços. É bastante utilizada em diversas
categorias, tais como atividades de segurança privada, indústria e área da saúde.
A partir de 2012 foi editada a Súmula n° 444 do TST que considerava válida a jornada 12x36
desde que tivesse previsão em instrumento coletivo, ou seja, Acordo ou Convenção Coletiva
de Trabalho.
A presente matéria abordará as regras aplicáveis ao regime previstas na CLT, bem como,
os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca do assunto, haja vista que a
legislação é omissa em diversos pontos.
2. Conceito
A jornada 12 x 36 é aquela em que o empregado trabalha 12 horas consecutivas e folga 36
horas ininterruptas.
Saliente-se que dentro do período das 12 horas o empregado tem direito ao intervalo
intrajornada para alimentação e descanso, que pode ser usufruído ou indenizado, conforme
previsto no artigo 59-A da CLT.
Conforme mencionado no item anterior, essa jornada especial pode ser convencionada
mediante acordo individual escrito, Acordo Coletivo ou Convenção Coletiva de Trabalho,
conforme artigo 59-A da CLT.
Assim sendo, a partir de 24.04.2018 voltou a vigorar a disposição do artigo 59-A da CLT que
permite estabelecer a jornada 12x36 por acordo individual.
3. Jornada de Trabalho
A jornada de trabalho é considerada, nos termos do artigo 4° da CLT, como o período em
que o empregado está à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens e,
via de regra, deve ser estabelecida no contrato de trabalho.
A jornada semanal no regime 12x36 é variável, visto que em uma semana o empregado vai
trabalhar 3 dias totalizando 36 horas semanais e na semana seguinte o labor se dará em 4
dias, total de 48 horas semanais.
Via de regra, nos termos dos artigos supracitados, o descanso semanal remunerado
corresponde a 24 horas consecutivas que deve preferencialmente coincidir com o domingo.
Quando se trata da jornada 12x36 não se aplica essa regra por força do artigo 59-
A da CLT e, dessa forma, o empregado não faz jus ao DSR, pois as horas do descanso
semanal já estão compensadas nas 36 horas de folga que também incidem durante a
semana.
Nos exatos termos do artigo 59-A da CLT, a remuneração mensal pactuada no regime de
12x36 abrange os pagamentos devidos pelo descanso semanal remunerado e pelo
descanso em feriados.
Assim, no tocante aos feriados, não é mais devido o pagamento em dobro quando a escala
do empregado recair em feriado, pois é considerado como compensado.
Implica em dizer que a Súmula n° 444 do TST, que trazia o entendimento de que o feriado
trabalhado nessa escala deveria ser remunerado em dobro, perdeu a eficácia após a
Reforma Trabalhista e, portanto, não tem mais aplicabilidade.
Além disso, para a adoção da escala 12x36 nas atividades não autorizadas a trabalhar em
domingos e feriados pelo Decreto n° 27.048/49, por força do artigo 68 da CLT é necessário
uma autorização específica expedida pela Secretaria do Trabalho, tendo em vista que nessa
escala de trabalho haverá dias recaindo em domingos e feriados.
Por fim, para mais esclarecimentos sobre a autorização para trabalho em domingos e
feriados, indicamos a leitura da seguinte matéria:
1 Trabalho em Domingos e Feriados - Boletim n° 15/2020
6. Remuneração
Com base no artigo 444 da CLT, empregador e empregado podem pactuar livremente as
cláusulas do contrato de trabalho, dentre elas a forma de remuneração.
Assim sendo, as partes têm liberdade para estabelecer se o pagamento do salário será
apurado por hora, dia, tarefa, comissão ou mês.
Isso porque nas demais formas de remuneração (horista, diarista, comissionista, tarefeiro),
além do valor estipulado por hora/dia/comissão/tarefa é necessário calcular a remuneração
do DSR.
Conclui-se, dessa forma, que a remuneração do empregado na jornada 12x36 deve ser
pactuada de forma mensal, vez que a legislação não considerou outras formas de
remuneração.
6.1. Divisor
Os divisores são utilizados para calcular o valor do salário-hora do empregado.
Nesse sentido, considerando a jornada de 44 horas semanais, seis dias por semana, então
a média de horas trabalhadas por dia é de 7,333h que multiplicado por 30 dias resulta em
220 horas mensais.
Dessa forma:
Horas Semanais Cálculo Divisor Final
Por sua vez, a jornada 12x36 é considerada uma compensação de jornada conforme
explicado no item 4 e, por tal motivo, equivale-se a uma jornada mensal normal de 44 horas
semanais.
Tendo em conta a regra do artigo 64 da CLT que considera o mês 30 dias para fins de
apuração do salário-hora, este empregado trabalharia 15 dias no mês.
Assim, multiplica-se 12 horas por 15 dias, o que resulta em 180 horas mensais.
Concluindo, além da legislação ser omisssa, a doutrina e jurisprudência não são unânimes
quanto ao divisor correto a ser aplicado à jornada 12x36.
7. Hora Extra
Antes da Reforma Trabalhista, o entendimento que prevalecia nos tribunais era de que a
realização de horas extras além da 12ª hora de trabalho descaracterizava a jornada 12x36
e as horas extras passavam a ser assim consideradas a partir da 8ª hora.
Dessa forma, por expressa previsão legal, o trabalho extraordinário ainda que realizado com
frequência não é suficiente para desconstituir a jornada 12x36.
Apesar disso, entende-se que o regime de trabalho 12x36 e a realização de horas extras
habituais são incompatíveis entre si.
Isso porque quando o empregado trabalha além da 12ª hora não estaria respeitando as 36
horas de descanso.
No entanto, acaso realizada a hora extra, é devido o adicional de 50% nos mesmos moldes
do cálculo das horas extras na jornada habitual, em conformidade com o § 1° do artigo
59 da CLT.
8. Faltas
A ausência de previsão legal acerca da forma de individualizar o DSR da jornada 12x36,
reiteradamente mencionada ao longo da presente matéria, traz também dúvidas na forma
correta de proceder ao desconto no salário do empregado relativo às faltas injustificadas.
Via de regra, o empregado que não cumpre integralmente a sua jornada semanal perde o
direito à remuneração do DSR da semana seguinte, como prevê o artigo 6° da Lei n° 605/49.
Assim, um empregado que não comparece ao serviço por um dia, sofrerá o desconto do dia
da falta e da remuneração do DSR da semana seguinte.
9. Intervalo Intrajornada
Em jornadas superiores a seis horas é assegurado ao empregado um intervalo para
alimentação e repouso de no mínimo uma hora, não podendo exceder a duas horas, salvo
acordo escrito ou previsão em instrumento coletivo do trabalho, segundo estipula o artigo
71, da CLT.
O intervalo mínimo de uma hora poderá ser reduzido mediante Acordo ou Convenção
Coletiva de Trabalho, com base no artigo 611-A, inciso III, da CLT, respeitado o limite
mínimo de 30 minutos.
Também poderá ser reduzido por ato da Secretaria do Trabalho, consoante dispõe o §
3° do artigo 71 da CLT e Portaria MTE n° 1.095/2010, se verificar que o estabelecimento
atende integralmente às exigências concernentes à organização dos refeitórios, e quando
os respectivos empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado a horas
suplementares.
Assim, tendo em vista que a legislação não regulamentou como se dará o gozo do intervalo
para repouso e alimentação, orienta-se verificar se a Convenção Coletiva traz alguma
previsão a respeito ou consultar o posicionamento do Sindicato da Categoria.
De acordo com o mesmo dispositivo, a verba tem natureza indenizatória, ou seja, não integra
a remuneração do empregado e não gera incidências de INSS e FGTS.
Considera-se trabalho noturno aquele realizado pelo trabalhador urbano entre as 22 horas
de um dia até 5 horas do outro, conforme definido pelo artigo 73 da CLT.
No âmbito rural, o trabalho noturno é aquele prestado entre 21h de um dia e 5h do outro no
caso de serviço prestado na agricultura e entre 20h e 4h em se tratando de serviço prestado
na pecuária, conforme artigo 7° da Lei n° 5.889/73.
De acordo com o artigo 73 da CLT o adicional noturno é de pelo menos 20% sobre o valor
da hora diurna.
Antes da Reforma Trabalhista, o trabalho noturno na jornada 12x36 era regido pela Súmula
n° 60 do TST e pela Orientação Jurisprudencial n° 388 SDI-1/TST, das quais se extraía o
entendimento de que o empregado tinha direito ao adicional noturno relativo às horas
trabalhadas após as 5 horas da manhã.
No entanto, tais dispositivos perderam a eficácia e não tem mais aplicabilidade em razão do
disposto no parágrafo único do artigo 59 da CLT que estabelece que é considerada
compensada a prorrogação de trabalho noturno de que trata o § 5° do artigo 73 da CLT.
Vale dizer que a prestação de serviços após as 5h da manhã está incluída na própria jornada
normal no regime de trabalho 12x36.
Convém salientar que o § 2° do artigo 8° da CLT estipula que Súmulas e outros enunciados
de jurisprudências editados pelo TST e pelos TRT's não podem restringir direitos previstos
em lei nem criar obrigações que não estejam previstas em lei.
11. Férias
Estabelece o § 3° do artigo 134 da CLT que o gozo das férias não pode iniciar nos dois dias
que antecedem o DSR do empregado.
Desse modo, entende-se que as férias do empregado nessa jornada devem se iniciar em
um dia em que efetivamente trabalharia em sua escala de revezamento.
Dessa forma, assim como determina o artigo 487 da CLT, o aviso prévio trabalhado deve
ser de 30 dias corridos, independente dos dias que o empregado trabalha no mês e, se
motivado pelo empregador, a cada ano completo de serviço será acrescido três dias no
aviso prévio do empregado, com base na Lei n° 12.506/2011.
A contagem do aviso prévio se inicia no dia seguinte ao da comunicação, ainda que seja a
folga das 36 horas, nos termos do artigo 20 da Instrução Normativa SRT n°
015/2010 e Súmula 380, do TST.
Conforme artigo 488 da CLT, no caso de dispensa motivada pelo empregador, o empregado
tem o direito de optar pela redução de sete dias corridos ou duas horas diárias.
Nesse sentido, optando pela redução de sete dias, o empregado vai cumprir a sua jornada
de acordo com a escala, trabalhando 12h e descansando 36h, nos 23 dias corridos do aviso
prévio.
Se a opção for pela redução de duas horas, ele irá trabalhar dez e o descanso será as 36
horas mais as duas horas reduzidas, totalizando 38 horas, mas sem que isso descaracterize
a jornada.
15. eSocial
De acordo com o Manual e Leiautes do eSocial as informações relativas ao contrato de
trabalho na jornada 12x36 devem ser prestadas conforme a seguir especificado.
E, ainda, orienta o Leiautes do eSocial, página 84, que o empregador deverá informar o
horário contratual diário do empregado, preenchendo com o código relativo ao dia do
horário, conforme abaixo:
1 - Segunda-Feira;
2 - Terça-Feira;
3 - Quarta-Feira;
4 - Quinta-Feira;
5 - Sexta-Feira;
6 - Sábado;
7 - Domingo;
8 - Dia variável.
Dessa forma, no envio do evento S-2200 deve ser informado o horário contratual do
empregado, de acordo com os códigos criados na tabela S-1050 - Tabela de
Horários/Turnos de Trabalho, conforme os seguintes exemplos constantes da página 152
do Manual de Orientações do eSocial:
Observa-se que os dias que são os numerais 1, 2, 3, 4, 5 e 6 referem-se aos dias da semana,
já os números 001 e 002 referem-se aos códigos de horários cadastrados no evento S-1050
(tabela exposta no exemplo anteriormente).
Empregado - 12 x 36
Observação: o numeral oito refere-se a dia variável e os números 003 e 004 referem-se aos
códigos de horários cadastrados no evento S-1050 (tabela exposta no exemplo
anteriormente).