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Concepções sobre

Linguagem, Alfabetização
e Letramento
Jair Rodrigues da Silva
Concepções sobre Linguagem,
Alfabetização e Letramento

Introdução
Prezados (as) estudantes,

Neste conteúdo de Alfabetização e Letramento, nosso objetivo é refletir acerca das


concepções de alfabetização e letramento. Vamos conhecer um breve histórico
sobre os métodos de alfabetização utilizados na história da educação brasileira, dos
tradicionais até a abordagem construtivista.

Partiremos dos conceitos de alfabetização e do conceito de letramento. É importante


ressaltar que alfabetizar e letrar são atividades que se complementam e que fazem
parte da missão dos educadores e educadoras que atuam nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, para tanto, conhecer e refletir sobre esses conceitos faz todo o sentido
durante a graduação em Pedagogia.

Estão prontos(as)?

Bons estudos!

Objetivo da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:

• identificar as concepções e métodos de alfabetização em um contexto


histórico;
• compreender o conceito de alfabetização ligado ou associado ao letramento.
• identificar as principais teorias que envolvem a aquisição da linguagem falada.

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Desenvolvimento da Fala ao Longo do Processo de
Alfabetização e Letramento
Muito antes de saber ler e escrever, as crianças estão envolvidas em práticas
sociais de leitura e escrita e pode-se investir no letramento das mesmas. A criança
observa as imagens, letras e números na cidade, nas situações vividas em casa e
na escola. Percebe como os adultos leem, fazem listas, anotações, e imitam seus
comportamentos, brincando de ler um livro, escrever ou ouvir histórias. Em todas
essas situações, vai percebendo a função social da fala.

Figura 1 - Leitura
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma pilha de livros, com oito livros ao todo, com capas de diferentes
cores, o livro do topo da pilha está aberto, mostrando movimento das páginas e focando no conteúdo.

É durante a alfabetização e letramento que também se desenvolve a linguagem falada


com mais intensidade. É claro que a linguagem falada se desenvolve de maneira
peculiar em cada um dos indivíduos falantes, pois cada um tem seu processo de
aquisição desde quando tomamos contato com a linguagem oral desde muito cedo
em nosso seio familiar.

Porém, ao longo do processo de alfabetização e letramento na escola, esse processo se


potencializa substancialmente, pois há o contato com gêneros literários e igualmente
com a forma individualizada de fala das pessoas que compõe a comunidade escolar.

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Portanto, nessa seção, consideraremos as contribuições da literatura em situações
de letramento e repertoriamento ao longo processo de aquisição da linguagem
falada. No entanto, antes das contribuições literárias para a aquisição da linguagem
oral, pensemos na missão das escolas em trabalhar a linguagem falada para além do
repertório familiar dos alunos.

Segundo Finkenauer e Silva (2017), antes de ler e escrever, as crianças percebem


como os adultos leem e imitam seus comportamentos ao brincar de ler um livro, ou
ouvir histórias. Em todas essas situações, vão se apropriando da função social da fala
e criando seu próprio vocabulário.

É neste contexto que a leitura se constitui numa atividade fundamental para a


aquisição e desenvolvimento da fala. Para Finkenauer e Silva (2017), a leitura contribui
significativamente nesse processo.

É importante você lembrar que o processo de aquisição da leitura e


da escrita é contínuo, passando pela fase inicial da alfabetização e
prosseguindo no decorrer de todos os anos do Ensino Fundamental e do
Médio. Com aquisição de conhecimentos básicos, a criança vai adquirindo
outros mais complexos e desenvolvendo a habilidade de argumentação.
Nesse ponto é que a leitura se faz de extrema importância, pois, por meio
dela, o aluno poderá consolidar conhecimentos já adquiridos, adquirir
outros e aprender a organizar as ideias para transportá-las para o texto
escrito. (FINKENAUER e SILVA,2017, p. 141)

Sobre o processo de aquisição da fala caminhar junto à prática de leitura, é importante


destacar as contribuições da leitura literária nesse processo de ensino aprendizagem.
Para tanto, a ação do professor e da professora, em se colocar como modelo de leitor,
propõe-se do artigo Compartilhar Literatura nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
de Silva e Aparício (2018). Nessa pesquisa são apresentadas as possíveis contribuições
da leitura literária para o desenvolvimento da linguagem oral, da leitura e da escrita.

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Saiba mais
Para ler esse artigo sobre as contribuições de compartilhar
literatura para aquisição e desenvolvimento da fala e da leitura,
acesse: Compartilhar Literatura nos anos iniciais do ensino
fundamental. Disponível em: http://periodicos.uniso.br/ojs/index.
php/quaestio/article/view/3108

Como percebemos, o uso da leitura literária traz contribuições para o processo de


aquisição da linguagem oral. É importante notar que o desenvolvimento da fala
acontece também enquanto o processo de alfabetização e letramento.

Processos Distintos e Indissociáveis

Como percebemos, ao longo do processo de alfabetização, o letramento é um processo


concomitante. O letramento, no entanto, não se restringe apenas à linguagem da leitura\
literatura como denominamos o letramento literário. O letramento abrange diferentes
linguagens, é dessas linguagens que vamos tratar. Para Bes e outros autores (2018),
alfabetização e letramento são indissociáveis:

Se você analisar os dois conceitos, vai notar que ambos caminham


para a mesma direção. Ambos entendem que alfabetizar não é apenas
decodificar ou dominar a leitura e a escrita. É preciso ir além e se torna
fundamental pensar na formação de sujeitos capazes de interpretar e
transformar a leitura e a escrita utilizando-as em práticas cotidianas. (BES
et al. 2018, p.40).

Atualmente o termo letramento é usado em determinados contextos no plural – letramentos


– devido às várias possibilidades de uso das diferentes linguagens para se comunicar e
se expressar. A leitura e a escrita, as artes, a linguagem digital e até mesmo a matemática,
constituem-se em linguagens que compõe a comunicação na contemporaneidade.

Os letramentos são também chamados de multiletramentos, uma vez que essa


denominação marca as várias possibilidades de ser letrado na sociedade complexa
em que estamos inseridos. A escola, acompanhando essas múltiplas formas de
letramento, deve se preocupar em contextualizar os conteúdos escolares com as
práticas da vida cotidiana.

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Essas novas interações exigem cada vez mais um letramento multimodal, pois
buscamos novas formas de atribuir sentido, criamos novas formas de nos comunicar
nas redes sociais, para além do modo verbal, usando imagens e gifs animados, letra
maiúscula para representar um grito ou braveza, bem como “navegamos” ao invés de
apenas ler um texto, tendo um papel de leitor ativo e interativo.

Curiosidade
Letramento multimodal refere-se às várias formas que temos de
nos comunicar na atualidade, por meio de textos que nem sempre
utilizam apenas a linguagem escrita, mas agrega outros símbolos
e imagens no texto.

Na multimodalidade, são criados novos significados construídos socialmente.


Desenvolver o letramento multimodal seria, portanto, ter conhecimentos acerca de
como se dá essa comunicação para além da leitura e escrita convencional.

A multimodalidade refere-se ao uso de duas ou mais formas linguísticas, compostas com


linguagem verbal (ex: escrita) e não verbal (ex: imagens). O uso de formas linguísticas
variadas insere o leitor no mundo contemporâneo e facilita o entendimento, pois há
mais de um recurso linguístico sendo utilizado para se compreender melhor o texto.

Vamos refletir sobre os processos de letramento digital e matemático.

Letramento Digital

O conceito de letramento digital desenvolve-se junto ao conceito de letramento, em


que se usa a leitura e a escrita nas mais diversas situações do cotidiano, para designar
a capacidade que as pessoas desenvolveram para lidar com o computador, o celular
e as tecnologias atuais.

Você já vivenciou situações em que uma criança tem mais facilidade em usar uma
tecnologia do que um adulto? Ou observou idosos que tem dificuldade até para fazer
uma ligação no celular ou enviar uma mensagem?

Muitos idosos, em contrapartida, têm se apropriado dessa multimodalidade dos textos


utilizados nas tecnologias digitais. Como a facilidade com os textos multimodais vai
se construindo a partir do momento que temos contato com esses textos, em um

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processo em que, quanto mais se usa essas formas linguísticas, mais facilidade terá,
pois o repertório que a pessoa tem vai se ampliando gradualmente.

Figura 2 - Digital
Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A fotografia representa um grupo de 5 crianças, sendo uma menina negra, duas meninas
brancas e loiras, um menino branco com cabelos castanhos e um menino branco e loiro, interagindo com um
computador. O menino de cabelos castanhos está digitando no computador.

O mundo está mudando rapidamente! Para as crianças que já nasceram na era digital
não há receio de explorar os aparelhos eletrônicos a que têm acesso. Não é o simples
contato com o aparelho que proporcionará um letramento digital, mas a interação e
exploração a que já se acostumaram e fazem parte de suas aprendizagens.

O letramento na sociedade contemporânea já é digital. Mesmo sem uso direto do


computador, sempre há algo digital, como na produção e distribuição do material
escrito, por exemplo.

Os computadores ainda não fazem parte do cotidiano de todas as escolas, apesar de


muitas já terem laboratórios e salas de informática, porém as professoras também
precisam ter um letramento digital, que possibilite utilizar este tipo de letramento em
prol da aprendizagem dos alunos.

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As redes sociais e comunicadores (programas que enviam e recebem mensagens
simultaneamente) trouxeram junto com eles novas formas de nos comunicarmos,
escrevemos de forma diferente da escrita convencional, porém quem tem um
letramento digital, é capaz de ler o que foi escrito.

Figura 3 - Nativos digitais


Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraTodosVerem: A imagem representa um menino ruivo interagindo com um notebook. O menino está
sorrindo ao apertar a tecla do notebook. Ao lado do menino, temos blocos nas cores azul, amarela, vermelha e
roxa, com letras e números.

Letramento Matemático

A Matemática foi criada para resolver problemas do cotidiano. Apesar da discussão


entre os teóricos entre defini-la como uma ciência ou como linguagem, todos reforçam
sua importância para compreender e lidar melhor com o mundo que nos cerca.

A matemática está presente de tal forma no mundo contemporâneo que se torna


fundamental para formar um cidadão crítico, afinal, é mais uma forma de conhecer e
agir sobre a realidade que nos cerca, pois amplia nossa leitura de mundo. Por meio da
matemática, desenvolvemos o raciocínio lógico e criamos instrumentos de trabalho,
úteis para a vida em sociedade.

A concepção de letramento é recente. O conceito de letramento matemático é ainda


mais, portanto, existem poucos estudos e conceituações a respeito desse tema.
Podemos dizer que o letramento matemático está relacionado ao entendimento
de como a matemática está em nosso cotidiano e saber utilizar os conhecimentos
matemáticos para satisfazer suas necessidades.

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Para isso, o aluno pode utilizar-se apenas de estratégias matemáticas, mas pode
também fazer uso de estratégias menos óbvias. Nessa perspectiva, torna-se
fundamental perguntar ao aluno como chegou naquela resposta, buscando entender
seu raciocínio e valorizar o processo e o erro construtivo, não apenas a assertividade
da resposta.

Curiosidade
Emília Ferreiro (1996) denomina por erro construtivo, as tentativas
dos alunos para ler e escrever, que vão aos poucos se aproximando
da escrita convencional. Esse conceito pode ser aplicado para
outras aprendizagens.

Sabemos que os conhecimentos são construídos e, para o professor, é fundamental


conhecer o processo de aprendizagem do aluno para poder mediar sua aprendizagem.

A seguir, vamos tratar de como o conceito de letramento matemático pode contribuir


com as práticas de ensino da matemática em cada um desses blocos de conhecimento.

Figura 4 - Números e operações


Fonte: Plataforma Deduca (2023).
#PraTodosVerem: A imagem representa quatro mãos de crianças escrevendo com giz coloridos letras, símbo-
los das operações matemáticas e números (+, x, %, A, B, C, 7, 3 e 2) no chão.

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Neste conteúdo, refletimos sobre o uso do letramento matemático. É importante notar
que o conceito de letramento, como vimos, não se restringe apenas à alfabetização
e à língua portuguesa.

Métodos e Abordagens de Alfabetização

Figura 5 - Alfabetização
Fonte: Plataforma Deduca (2023).

#PraTodosVerem: A imagem representa uma sopa de letrinhas, com uma colher centralizada sen-
do retirada da sopa. Na colher consta as letras ABC em destaque.

Existem diferentes técnicas de alfabetização, algumas com características mais


tradicionais e outras que trazem um “novo” enfoque, sendo as mais difundidas
atualmente, por exemplo, o construtivismo. Nessa seção, vamos conhecer exemplos
dessas diferentes técnicas utilizadas na alfabetização.

Aqui, você vai estudar uma breve evolução histórica do conceito e dos métodos de
alfabetização no Brasil. Iniciaremos abordando o conceito tradicional de alfabetização.

No Brasil, no final do século XIX, desde a Proclamação da República (1889), a


educação ganhou espaço, pois a escola foi considerada a instituição que preparava
as novas gerações para atender os ideais do Estado Republicano, ou seja, trazendo

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conhecimento para a população iletrada. Assim, saber ler e escrever tornou-se fator
essencial da modernização e do desenvolvimento social.

Reflita
O acesso à educação, no Brasil, não era massificado. Só por volta de
1940 começou-se a investir na alfabetização de toda a população,
devido à Constituição de 1934, que definiu que o ensino deveria ser
gratuito e obrigatório.

Com a necessidade de alfabetização do povo brasileiro, era necessário pensar em


técnicas e métodos de alfabetização. Muitas discussões ocorreram acerca dos
métodos de ensino da leitura e escrita, uma vez que alguns estudiosos defendiam
métodos revolucionários de alfabetização e outros defendiam os métodos tradicionais.

Dessa forma, o processo de alfabetização passou por diferentes vertentes até os dias
de hoje. Embora muito se fale do construtivismo, é notório que outras teorias voltadas
para a alfabetização ocorrem dentro das escolas.

A história da alfabetização no Brasil, segundo Mortatti (2008), pode ser dividida em quatro
momentos, destacando, em cada um deles, os métodos de alfabetização utilizados.

1. A metodização do ensino da leitura

2. A institucionalização do método analítico.

3. A alfabetização sob medida.

4. Alfabetização: construtivismo e desmetodização.

Quadro 1 - Os quatro momentos da história da alfabetização


Fonte: MORTATTI (2008).
#PraTodosVerem: No quadro conta os quatro momentos da história da alfabetização que são: a metodização
do ensino da leitura; a institucionalização do método analítico; a alfabetização sob medida e Alfabetização:
construtivismo e desmetodização.

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O Primeiro período, denominado “A metodização do ensino da leitura”, cujo ensino
acontece por meio do uso do método sintético (partindo das letras e para as sílabas),
tem início em 1876 e se estende até 1890, final do Império, quando, até então, poucas
crianças aprendiam a leitura e a escrita em aulas régias.

Assim, naquela época, o ensino da leitura se dava pelos métodos da marcha sintética
(soletração, fônico e silabação), da “parte” para o “todo”. O ensino da escrita se
restringia à caligrafia e à ortografia e era realizado por meio de cópias, ditados e
formação de frases. Além disso, o conteúdo era de cunho religioso e escrito em latim.

Esse método tem a memorização como recurso didático, por meio do qual a criança
associa o nome da letra à sua grafia e, depois, decorava as sílabas comuns da Língua
Portuguesa e, assim, formavam palavras isoladas.

O método analítico defendia que o ensino da leitura deveria ser iniciado pelo “todo”,
para depois proceder à análise de suas partes, em outras palavras, parte de um todo
significativo, para chegar, por meio de diferentes etapas, às partes que o compõem, ou
seja, das palavras inteiras para as sílabas e letras.

No início do século XX, foram produzidas cartilhas baseadas no método analítico


(processos da palavração e sentenciação), adequando-se às instruções oficiais
paulistas, iniciando uma disputa entre os que defendiam o método analítico e os que
preferiam o tradicional método sintético.

As disputas entre os métodos de ensino, marcaram o início do terceiro período, chamado


de “A alfabetização sob medida”, em 1920, com término no final da década de 1970,
partindo de questões didáticas que envolvem “o como ensinar” e “a quem ensinar”.

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Figura 6 - Alfabetização
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma sala de aula com uma professora ao fundo, em frente à lousa,
apontando para uma letra escrita na lousa e três crianças, sendo duas meninas e um menino, sentadas em
suas carteiras com as mãos erguidas.

O quarto período, chamado de “Alfabetização: construtivismo e desmetodização” teve


início na década de 1980 e perdura até os dias atuais. Devido às novas urgências
políticas e sociais, após longo período da ditadura militar e com objetivo de enfrentar
o fracasso da alfabetização, mudanças na educação são impulsionadas e, assim,
começou no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização, resultantes de
pesquisas sobre a Psicogênese da Língua Escrita, desenvolvidas pela pesquisadora
argentina Emília Ferreiro, Ana Teberosky e colaboradores.

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Conceitos e Discussões Sobre Alfabetização e
Letramento

Figura 7 - Letramento
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraTodosVerem: A imagem representa uma estrada ao centro; tanto no lado direito quanto no lado esquerdo,
há uma série de números, letras e pinceis coloridos.

Neste conteúdo, vamos conhecer e refletir sobre dois tipos de métodos de


alfabetização: o sintético e o analítico. Refletiremos também acerca do conceito
de letramento. Contudo, é necessário compreender que esses dois processos
(alfabetização e letramento) não ocorrem em momentos distintos, como se fosse
primeiro um e depois outro. Ao contrário do que se pensa, ambos podem ocorrer
simultaneamente.

Iniciaremos nossa reflexão partindo do método sintético de alfabetização. O Método


Sintético estuda as famílias silábicas, começando pelas vogais, consoantes, sílabas
simples e sílabas complexas. Vale destacar, que no método sintético, temos algumas
divisões. Acompanhe a tabela a seguir:

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A Carta do ABC – o livro apresenta o alfabeto de letras maiúsculas e
minúsculas, de imprensa e cursiva. A ideia é ensinar a combinação de
Soletração letras e sons, partindo das letras até chegar às palavras.
Importante situar, a título de informação, que a Carta do ABC foi uma das
primeiras cartilhas usadas no Brasil para alfabetização.

Usa uma palavra apenas como fonte para seleção da sílaba a ser
estudada. Dá ênfase nos mecanismos de codificação e decodificação
pela memorização e repetição excessiva de exercícios e treinos
ortográficos.
Exemplo de família silábica: Ba-be-bi-bo-bu. Um exemplo de material do
Silabação método de silabação está na
Cartilha da Infância, cujo método consiste em apresentar as vogais,
depois os ditongos, e em seguida as sílabas formadas com as seguintes
letras V, P, B, F, D, T, L, J, M e N. As dificuldades ortográficas aparecem do
meio para o fim da cartilha, incluindo os dígrafos, as sílabas complexas e
as letras G, C, Z, S e X.

O fônico parte dos sons, fonemas, juntando e formando palavras que


possuem um significado (monossílaba, dissílaba, trissílaba e polissílaba).
Nesse método, não se estuda mais as famílias silábicas. Segundo
Fônico Carvalho (2005), ao trabalhar este método o professor dirige a atenção da
criança para o som das palavras, isto é, para o fonema, enquanto unidade
mínima de sons da fala, representados pelas letras do alfabeto.

Segundo Carvalho (2005), esse método de alfabetização fonético foi


criado pelas educadoras Alzira Brasil, Lúcia Marques Pinheiro e Risoleta
Ferreira Cardoso, em 1965, e foi experimentado na escola Guatemala,
Abelhinha criada pelo grande educador brasileiro Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro.
O método teve grande aceitação por seus resultados satisfatórios de
aprovação de 80 a 95% dos alunos em escolas do estado fluminense.

(Iracema Meireles – 1950) A aprendizagem ocorre por meio do jogo,


portanto, o método propõe que a sala de aula seja um espaço para a
criatividade e a livre expressão das crianças. Consiste em associar a
Casinha Feliz forma da letra a um personagem que representa um determinado som. O
essencial é que conduza à figura-fonema capaz de fazer sempre, se for
consoante, um barulhinho característico da letra. O resto é um jogo de
dramatização que possibilite a curiosidade e a aprendizagem.

Tabela 1 - Método Sintético


Fonte: Elaborado pelo autor (2021).
#PraTodosVerem: No quadro, temos a descrição de técnicas e procedimentos utilizados no método sintético
de alfabetização. Há, assim, a descrição dos métodos de alfabetização utilizados são eles: Soletração, silaba-
ção, fônico, abelhinha e casinha feliz utilizados ao longo da história da educação brasileira.

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Curiosidade
Dígrafo: É quando duas letras emitem um único som. São exemplos:
SS, RR, NH, QU, LH.

Ditongo: É o encontro de duas vogais que pertencem à mesma


sílaba e são pronunciadas numa só emissão de voz. São exemplos:
beijo, causa, pai e noite.

Fonema: Unidade mínima sonora. O fonema é a menor unidade


sonora de uma língua. (letras do alfabeto) Os fonemas combinados,
constituem sílabas e por conseguinte palavras e frases.

Pensemos agora sobre a perspectiva do método analítico de alfabetização. O Método


Analítico parte de uma unidade de sentido significativa da língua como pequenos textos
ou frases, para chegar à letra e ao som, mas sem perder de vista o texto original e seu
significado. Entre esses métodos, destacamos o pensamento do educador Freinet.

Saiba mais
Conheça mais o método natural de Freinet, disponível em: https://
www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/o-
metodo-natural-da-educacao-pedagogica/32698.

Este método de alfabetização parte de um conto, ou uma história


oral compartilhada pelo professor como tema disparador. Após
apresentar a história completa, ela é separada em frases que a
criança aprende a reconhecer e a repetir. Depois, vem a etapa
Contos de reconhecer as palavras, em seguida, em sílabas e, por fim, a
composição de novas palavras com as sílabas decoradas. O método
não previa a utilização de livros ou cartilhas, deixando os professores
inseguros, pois eles deveriam preparar os materiais didáticos,
criando textos para alfabetizar.

O aluno reconhecia a forma, o desenho total e a imagem gráfica


Ideovisual de da frase. Em seguida, aprendia a distinguir as palavras, por meio
da observação de semelhanças e diferenças entre elas; depois as
Decroly (Ovide
sílabas, e por fim, as letras.
Decroly – início O aluno aprendia a grafia das palavras a partir da observação de
do século XX) imagens e associava nestas as diferenças e semelhanças. Partia da
letra, depois para a formação de sílabas e, por fim, a grafia de palavras.

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Consiste em estimular a reflexão, criatividade, trabalho, cooperação
Natural Freinet e solidariedade. Parte do pressuposto que a criança terá maior
(Célestin Freinet) interesse em ler e escrever com textos relacionados às suas
experiências. Portanto, a leitura e a escrita têm um significado social.

A alfabetização tem início com a produção e reconhecimento de


Base linguística frases sugeridas pelas próprias crianças. A professora escolhe uma
ou duas frases produzidas, que devem conter palavras escolhidas
ou psicolinguís- para atender a três critérios: dificuldade (começar pelo mais fácil em
tica (Helena relação letra-som – correspondência fonema-grafema e de sílabas
Gryner e colabo- formadas por consoante-vogal); alternância entre o fácil e o difícil (as
letras podem representar mais de um som – S, M, L e X – devem ser
radores, década alternadas com as consideradas fáceis) e produtividade (selecionar
de 1970) palavras-chave que depois de separadas em sílabas permitam
formar um bom número de novas palavras).

(Alfabetização a partir de palavras-chave)


Propõe o ensino das primeiras letras a partir de palavras-chave,
Palavração destacadas de uma frase ou texto. As palavras destacadas são
desmembradas em sílabas, que recombinadas entre si, formam
novas palavras.

Primeiro, a professora registra, fazendo-se de escriba, bilhetes,


convites, avisos, fatos ocorridos na sala de aula ou algo dito pelas
crianças; em seguida, estimula a percepção dos sons finais e iniciais
Natural de palavras oralmente; num terceiro momento, forma um vocabulário
de 35 a 40 palavras entre substantivos e verbos que a criança deve
Heloísa Marinho reconhecer em sentenças ou pequenos textos; depois, estimula a
criança a descobrir o som dentro da palavra e a associar o som à
(1940) letra; por fim, estimula a criança a ler e a escrever palavras novas com
compreensão e rapidez, incentiva a leitura para ampliar o vocabulário
e como fonte de comunicação e a escrita como instrumento de
comunicação, evidenciando a função social do ler e escrever.

Iniciou-se no nordeste brasileiro, na década de 1959. Além de


alfabetizar, seu objetivo era inserir o adulto iletrado no seu contexto
social e político. Para isso, Freire pesquisava por meio de conversas
informais, as palavras mais usadas na comunidade e pelos alunos,
as quais denominava palavras geradoras. Essas palavras eram
Paulo Freire apresentadas em cartazes com imagens. Cada palavra geradora
passava a ser estudada pela divisão silábica. Cada sílaba se
desdobrava em sua respectiva família silábica (ba, be, bi, bo, bu). As
palavras geradoras – grupo de 17 a 20 palavras – constituíam pontos
de partida dos debates entre os participantes dos círculos de cultura.

Tabela 2 - Método Sintético


Fonte: criado pelo autor (2021).
#PraTodosVerem: No quadro, vemos a descrição de técnicas e procedimentos de alfabetização utilizadas no
método analítico, como contos, Ideovisual de Decroly (Ovide Decroly – início do século XX), Natural Freinet
(Célestin Freinet), Base linguística ou psicolinguística (Helena Gryner e colaboradores, década de 1970), Natu-
ral Heloísa Marinho (1940) e Paulo Freire.

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Saiba mais
Paulo Freire foi um grande alfabetizador de adultos e é considerado
um dos maiores educadores brasileiros. Assista ao documentário
sobre sua obra: Paulo Freire Contemporâneo no site Domínio
Público. Clique aqui para acessar o conteúdo.

Vamos falar de letramento? O conceito de pessoa letrada tem mudado nos últimos
tempos. Antes, no senso comum, era considerada letrada a pessoa que dominasse
a leitura e a escrita, ou seja, se referia ao ato de escrever e falar dentro do padrão da
norma culta. Então, de fato, há algumas décadas, essa era a definição exclusiva para
letrado e alfabetizado.

Vamos abordar os conceitos e as abordagens do letramento: o modelo Autônomo e o


modelo Ideológico. Veremos como são entendidas a alfabetização e o letramento em
cada um dos modelos e que resultados pessoais e sociais eles oferecem.

No modelo Autônomo, o letramento é funcional, ou seja, a pessoa aprende a ler e


a escrever o suficiente para realizar funções cotidianas, como fazer compras e
trabalhar e conviver com o grupo social a que pertence. Essa aprendizagem se dá
necessariamente na sala de aula com recursos e métodos próprios da escola. Como
resultado, esse modelo traz a segregação de poder e sobrepõe uma cultura a outra.

O modelo autônomo reduz a escrita a um resultado linear, entende a aprendizagem


como uma forma única e sem relação social ou cultural. Não cabe nele refletir sobre
o texto lido ou ouvido, porque a interpretação é intrínseca ao texto. Além disso, nesse
modelo, existe um distanciamento entre linguagem oral e escrita, o que reforça as
relações de poder.

Nessa definição, ele tem como importância ajudar o indivíduo a sobreviver na


sociedade escrita, haja vista que ele irá precisar usar habilidades básicas de letramento
em seu emprego, no lazer, no comércio e entre outros lugares que exigirem o uso da
leitura ou a produção de símbolos escritos. Isto é, ele é capaz de identificar o número
de um ônibus, ler e escrever pequenos textos – como avisos, por exemplo –, mas terá
dificuldade em analisar e refletir textos mais complexos, como um texto jornalístico.

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Figura 8 - Prática de leitura
Fonte: Plataforma Deduca (2023).

#PraTodosVerem: A imagem representa um grupo de seis crianças, sendo uma menina branca de
cabelos escuros, uma menina branca e loira, duas meninas negras, um menino branco e louro e
um menino negro, com livros abertos, em volta diversas letras e lápis desenhados. Há uma lousa
em branco ao fundo.

Entretanto, o indivíduo letrado dessa forma se acomoda nessa situação, uma vez que
ele consegue sobreviver com o conhecimento que tem. O letramento funcional limita
a pessoa a pequenas atividades em sua rotina diária e a valorizar e considerar, até,
como padrão a serem seguidos os comportamentos básicos de grupos dominantes.

Em seguida, conceituamos o modelo Ideológico. Nele, ocorre a alfabetização por meio


da codificação de símbolos, mas o que o diferencia do modelo anterior é que nele
ocorre um aprofundamento do uso social da leitura e da escrita. O resultado desse
modelo é um letramento com definição de crenças e valores do próprio grupo social e
cultural e de outros grupos, propagando igualdade social e cultural.

A função do modelo ideológico é compreender o uso social da escrita nas diferentes


culturas. Por isso, entendendo o letramento dessa forma, ele deixa de ser “funcional”,
ou seja, de servir exclusivamente a situações de experiência vividas no dia a dia e feitas
como decodificação de símbolos, e passa a ser intertextual e intercultural, porque
envolve textos de diferentes grupos sociais e culturais diversos. Mais que codificar
símbolos, dialoga-se com o significado deles para a sua cultura e a do outro.

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A consequência desse modelo está ligada ao aprofundamento de processos
culturais. Para o modelo ideológico, o objetivo está em fazer o uso da linguagem de
maneira social e cultural em que o indivíduo não fará apenas o uso mais elementar da
habilidade de ler; ao contrário, ele usará a língua como comunicação e para tanto se
utiliza de diferentes linguagens. O letramento refletirá sua ação de estar no mundo.

Encerrando nossa reflexão sobre o processo de letramento, podemos concluir que:


Tanto no modelo ideológico quanto no modelo autônomo, acontecem práticas
de letramento diversas. Porém, com consequências distintas. Elas fazem parte e
modificam-se nos diferentes contextos em que estão presentes a leitura e a escrita.

O letramento como apropriação mais social que individual vem tomando espaço nas
pesquisas e nas práticas curriculares. Atualmente, temos visto uma mudança de
pensamento, antes voltado para um modelo psicológico, em que a apropriação e o
uso da escrita eram tidos como habilidade individual, e hoje para uma apropriação que
envolve práticas socioculturais considerando também o momento histórico.

Contudo, ambos os modelos têm a função de alfabetizar, de ensinar a ler e a escrever,


o que os diferencia é a forma que eles se apropriam do uso social da escrita. O modelo
Autônomo reproduz um letramento funcional com forma hierárquica e de poder. Já o
modelo Ideológico apresenta, por meio dos textos lidos e ouvidos, diferentes formas
de leituras e escritas.

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Conclusão
Neste conteúdo de estudo, abordamos os conceitos de alfabetização e letramento.
Abordamos as contribuições de práticas de leitura e literatura na aquisição e
desenvolvimento da linguagem oral. Apresentamos os diferentes métodos utilizados
na história da alfabetização no Brasil e discutimos o conceito de letramento e
de multiletramentos, ou seja, que para além da leitura e da escrita, o sujeito pode
desenvolver o letramento em diversas áreas como na matemática ou mesmo em
relação às tecnologias digitais. Alguns pontos importantes foram destacados, a saber:

O multiletramento se faz presente na atualidade, considerando a ampla diversidade


cultural e linguística que vivenciamos. Destacamos em nosso estudo o letramento
matemático e suas possibilidades e o letramento digital. Há, todavia, outras tantas
possibilidades de letramentos, como o letramento musical por exemplo. A compreensão
do conceito de multiletramentos permite aos educadores explorar a estratégia de
interdisciplinaridade nas rotinas e planejamentos das aulas.

Muito bem, prezados(as) estudantes, é isso. Encerramos nosso conteúdo.

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Referências
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2018.

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Rio de


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