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PRÁTICAS DE LINGUAGEM ORAL E

ESCRITA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


BRUNA CARDOSO
OS GÊNEROS DO DISCURSO, A
LINGUAGEM ORAL E A
LINGUAGEM ESCRITA
O estudo de Linguagem aqui apresentado está focado em um trabalho
pautado no DISCURSO.

As formas estáveis de enunciados, padrões de estruturas de textos, ou


seja, formas padronizadas, são entendidas como gêneros do
discurso.
Para se inserir socialmente, o indivíduo se comunica por meio dos
diferentes gêneros. Esses devem ser objeto de estudo dentro da
escola, uma vez que cada esfera social conhece seus próprios
gêneros do discurso.

A relação entre Linguagem Oral e


Linguagem Escrita
O conceito de linguagem é a atividade de comunicação entre
interlocutores, que só produz sentido na interação entre falantes e
ouvintes ou entre quem escreve e quem lê.
Os discursos são produzidos nas diferentes esferas de atividade
humana (uma reunião, uma aula, um encontro). Cada uma dessas
esferas exige dos participantes do discurso o uso de um gênero
específico do discurso.

É discurso tudo que o homem fala ou escreve, isto é, produz em termos de linguagem. Dessa forma,
há um número enorme e bastante variável de discursos produzidos ou que estão sendo produzidos
na sociedade. (...).
Os discursos são produzidos de acordo com as diferentes esferas de atividade do homem. Por
exemplo, em relação ao discurso escolar: a escola é um lugar em que aparecem diferentes esferas
de atuação; cada uma dessas esferas de atividade gera uma serie de discurso também diferentes.
Assim, temos uma esfera de atividade que é a aula, outra é a reunião do PL, ou a reunião de
professores, o encontro dos alunos no recreio etc. Cada uma dessas situações que constitui uma
esfera de atividade vai exigir do falante um uso diferente da linguagem, isto é, um gênero de
discurso diferente: a aula, a reunião, a conversa. Os gêneros do discurso são, portanto, diferentes
formas de uso da linguagem conforme as esferas de atividade em que o falante/escritor está
engajado. (BRANDÃO, 2009, p. 16)
O que se escreve x o que se fala
Na perspectiva tradicional, geralmente a linguagem oral e a linguagem
escrita são vistas como opostas. Linguagem oral e linguagem escrita
representariam, respectivamente: o informal e o formal. Uma não
exigiria planejamento e a outra, sim; uma seria fragmentada e a outra,
completa; uma seria produzida na presença do interlocutor, a outra,
não; uma possibilitaria a resposta imediata do interlocutor, o que não
aconteceria com a outra; uma apresentaria suporte sonoro e a outra,
suporte gráfico.

Mas será que é assim que as coisas acontecem?


Outro ponto que se deve considerar: a produção e a publicação.
No discurso oral: acontecem ao mesmo tempo.
No discurso escrito: a produção ocorre antes da publicação.
A linguagem oral nas práticas escolares
No início da vida escolar de uma criança, valoriza-se o
desenvolvimento da linguagem oral, pois a criança encontra-se “em
fase de aquisição”. No entanto, apesar dessa preocupação, muitas
vezes o professor não tem clareza de seus objetos e acaba fazendo
isso espontaneamente, como se fosse algo que acontecesse
independentemente de qualquer coisa.

Depois vem a linguagem escrita que se torna o foco, e o tempo


escolar passa a ser tomado por atividades que tem por objetivo
desenvolver esse tipo de linguagem.
Quando o aluno chega ao ensino superior, a linguagem oral volta a ter
importância, pois o aluno, ao se preparar para os desafios
acadêmicos, tem de saber se expressar bem. Portanto, algo que não
foi trabalhado ao longo de grande parte da vida escolar é fundamental
para a vida inteira.

Para se compreender as implicações do trabalho com linguagem oral


na escola é preciso diferenciar linguagem oral e oralidade.

Linguagem oral – saber falar (roda de conversa);

Oralidade – Oralização da linguagem escrita – previamente produzida


(leitura em voz alta);

É necessário direcionar o olhar para o discurso oral como conteúdo,


não apenas como algo que acontece acidentalmente e sem
planejamento.
E a linguagem escrita nas práticas
escolares?

Essa linguagem sempre teve seu lugar de destaque nas práticas


escolares.
Na perspectiva da psicogênese da língua escrita de Emília Ferreiro,
com base na teoria construtivista da aprendizagem, as crianças
levantam hipóteses, questionam e reformulam-nas até conseguirem
compreender o sistema alfabético. Ao fazer isso, levam em
consideração nomes, letras e palavras que conhecem, relacionando o
saber que possuem com o que acontece à sua volta.
Pensar alfabetização amplamente é não considerar apenas o processo
de construção da escrita, é também entrar em contato com os
diferentes gêneros textuais, compreendendo suas funções e seus
usos.
Portanto, a leitura e a escrita de diferentes textos, são aqui entendidas
com práticas incorporadas ao cotidiano escolar, tornando-se objeto de
ensino, antes mesmo da criança ter formalmente construído o sistema
de escrita.
E quando se deve ensinar a ler e a escrever na pré-escola?

É preciso respeitar as características e as possibilidades de cada faixa


etária. Porém, desde a pré-escola, pode haver múltiplas atividades de
contato com diversos tipos de livros e de pequenos textos, que
constituirão os primeiros passos em uma prática que se fará mais
complexa a cada ano.
A formação de leitores

Tradicionalmente vista como a decifração de um código, a leitura


envolve uma série de capacidades: compreensão, interação e
interpretação. É comprovado que quem aprende a ler apenas
decodificando não atribui significado ao texto e não compreende o que
lê – analfabetismo funcional.
A escola tem papel importante e complexo, pois mostra desde cedo às
crianças como desenvolver e utilizar as capacidades de leitura,
trabalhando diariamente com diversos gêneros.
O adulto, no processo de formação das crianças como leitoras,
assume papel fundamental no contato com materiais escritos, pois o
educador serve como modelo trazendo como referência sua prática
como leitor.
Fica como grande tarefa das escolas de Educação Infantil, oferecer
modelos de leitores e inserir as crianças em práticas de leitura, para
que elas tenham a chance de começar a desenvolver, desde cedo, as
capacidades de leitura tão importantes para toda a vida.
O TRABALHO COM OS
GÊNEROS DO DISCURSO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
O desenvolvimento da linguagem:
os gêneros primários e os gêneros
secundários

GÊNEROS DO DISCURSO: são as formas de se organizarem os


discursos produzidos nas diferentes esferas de atividade humana.
Existem inúmeros gêneros, cada um adequado a determinada
situação de comunicação.

Com base na obra de Bakhtin (1992), rediscutido por Schneuwly


em uma perspectiva vigotskiana:
GÊNEROS PRIMÁRIOS = conceitos cotidianos = situação imediata =
constituem-se pela ação = nível de desenvolvimento real.
Se constituem no contexto familiar e na espontaneidade do
cotidiano. Ex.: telefonemas, recados, bilhetes etc.

GÊNEROS SECUNDÁRIOS = conceitos científicos = aprendizagem


escolar = mais autonomia à ação + complexos = nível de
desenvolvimento proximal.
Se constituem através de modelos construídos socialmente que
necessitam da aprendizagem formal escolar.
Há uma preocupação quanto às construções primárias da linguagem.
Assim, para tais construções são utilizadas como unidades
de análise = o diálogo/discurso e o jogo.

Jogos de linguagem = constituem a comunicação inicial entre a


criança e os adultos. Eles podem ser:

De ordenar – solicitação de algo;


De papéis – utilização da imaginação;
De nomear – dar nomes;
De contar – solicitar um relato;
Deônticos - lógica usada para analisar as normas;
Epistêmicos - conhecimento que será construído.
Como trabalhar com os gêneros do
discurso na sala de aula?

Os gêneros tem o grande propósito que é o de comunicar. Na


escola, será preciso aliar a comunicação aos objetivos de ensino e
de aprendizagem.

“O que a criança é capaz de fazer hoje em cooperação, será capaz


de fazer sozinha amanhã”.

A ideia é articular as atividades regulares da rotina, projetos de


diferentes áreas do conhecimento e sequências de atividades ao
trabalho com os diferentes gêneros discursivos.
A seguir, adaptação do quadro de
Schneuwly e Dolz:
COMO INCORPORAR O
TRABALHO COM OS GÊNEROS
ORAIS E ESCRITOS NO DIA A
DIA DA SALA DE AULA
Rotina
Entre as diversas atividades que fazem parte da rotina destacamos
algumas que possibilitam o trabalho com a linguagem oral:
FAZ DE CONTA

Momentos riquíssimos para:


• Experimentação;
• Desenvolvimento do discurso narrativo;
• Incluir as crianças com necessidades especiais.
A HORA DA RODA

Momento de:
• Reunir as crianças para conversar, iniciar ou realizar uma atividade;
• Todos os integrantes do grupo se visualizar e não apenas escutar.

Não é regra que todos se manifestem durante a roda.

ALGUNS TIPOS DE RODA:


RODA DA NOVIDADE
A RODA DE ESCOLHER HISTÓRIAS E CANTAR
MÚSICAS
A RODA DE HISTÓRIA
RODA DA BIBLIOTECA
O educador nessa fase é o que consegue colocar a
importância de seu papel nas sutilezas presentes nas
instituições que permeiam a relação diária ( olha, escuta,
sente, pensa, fala, toca, acolhe e se comunica com o
aluno ) tendo condições de observar suas necessidades e
apresenta-lo ao mundo da linguagem e da nossa cultura.
ORGANIZAÇÃO DO TEMPO
DIDÁTICO: ATIVIDADES QUE
ENVOLVEM DISCURSO ORAL E
ESCRITO
Sequência de Atividades e Projetos:

Atividades Independentes - não possui relação


com os temas trabalhados.

Sequência de Atividades - relacionadas a leitura


com intuito de explorar, acompanhar e comparar
diferentes leituras.

Projetos Didáticos - propósitos comunicativos e


didáticos.
Letras de músicas e parlendas como
recurso de construção do sistema de
escrita
- As crianças são capazes de realizar atividades de leitura e escrita
antes mesmo de conseguir ler e escrever convencionalmente;

- Desde pequenos já pensam sobre a escrita;

- É preciso propiciar situações para que as crianças possam escrever


e ler;

- Sala como ambiente alfabetizador. Não etiquetá-la, mas trazer a


escrita como função comunicativa;
- A sala de aula precisa ter grandes repertórios de informações para
realizarem seus conceitos sobre o sistema de escrita;

- Ao interagir com textos (da sala), a criança conhece as letras e


estabelece relações;

- Depois de adquirir certo repertório, torna-se possível propor às


crianças de 5 e 6 anos atividades de leitura e escrita com letras de
músicas e parlendas;

- Convidar uma criança que ainda não escreve convencionalmente


para fazê-lo, é mostrar a ela que é capaz;

- Grande desafio é intervir. Intervenções produtivas instrumentalizam o


aluno para a reflexão sobre o sistema de escrita e avanço na
aprendizagem;
Recontos e escrita de bilhetes e convites –
A produção oral com destino escrito
- Aprender a produzir texto é uma atividade
complexa, mas deve ser o objeto de ensino;
- Por isso, considera-se a necessidade de planejar
situações didáticas, visando ensino aprendizagem
da produção de texto desde cedo;
- Se a escrita de texto acontece desde cedo, logo,
não será uma tarefa penosa e árdua, e passará a
ser mais tranquila e prazerosa;
- No trabalho de escrita com crianças pequenas, os
alunos ditam e o professor escreve (escriba e
mediador), fazendo as intervenções e ajustes da
fala em função do texto. É preciso reler e revisar o
texto;
- O professor como escriba, dá chances para as
crianças realizarem o processo de textualização.
Sabe-se que crianças de 4 e 5 anos já têm
condições de perceberem características dos
gêneros textuais, tanto quando alguém lê, como
quando produzem.
Como pode ser realizado o planejamento de
atividades de produção oral com destino
escrito:
- Produção de texto
Para quem estamos produzindo esse texto? Quem serão os leitores?

- Escrita de bilhetes
Se vamos escrever um bilhete, que informações não podem faltar?

- Reescrita de contos/cantigas conhecidas


Esta atividade acontece após uma boa conversa a respeito da
história para que se apropriem da mesma e possam reescrevê-la
na produção coletiva ou individual.
Convite para lançamento do livro de receitas

Objetivos e encaminhamentos: conversar sobre as questões


propostas, roda com exploração de convites expressando opiniões
a respeito do texto, reconhecer estrutura textual, diferenciar
aspectos da oralidade e da escrita.
Levantamento das características da estrutura do gênero,
conversar sobre a função do gênero.

As atividades de produção oral com destino escrito podem


levar alguns dias ou até algumas semanas.
Abordar um gênero, um autor ou tema

Construir repertório é conhecer mais profundamente gênero, autor,


tema ou versões de uma mesma história:

- O professor precisa pesquisar livros que encadeiam atividades e as


intervenções para que percebam características dos textos,
semelhanças e diferenças;

- Um bom exercício de exploração oral do texto é identificar


características no texto;
A comunicação em todas as áreas do
conhecimento
A comunicação oral e escrita com função e como forma de
interação permeia todas as áreas do conhecimento.

Comunicação investigativa: sujeitos participantes aprendem com a


troca de experiências e acabam se tornando mais autônomos e
responsáveis por seu processo de aprendizagem.

Propósito didático: O que o professor quer que os alunos


aprendam.
A ideia central é trabalhar o texto com enfoque na comunicação.

Aqui, concluem-se sugestões e reflexões sobre a prática com base


em uma concepção que considera a importância das interações e
da função social dos textos que serão apresentados ou produzidos.
AVALIAÇÃO E REFLEXÃO FINAL

A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Cada sujeito tem seu ritmo de aprendizagem. É preciso levar em conta
o processo de internalização, tendo o professor um olhar sensível para
cada aluno, percebendo suas dificuldades e potencialidades, para
ajudá-los a avançar na aprendizagem.
O educador reflete sobre os caminhos a tomar. O registro deve se
efetivar nas atividades de grupo dos alunos bem como nas
aprendizagens. Caso o professor opte por atividades de sondagem,
elas devem ser contextualizadas.
“O que está em jogo, portanto, em termos dos registros em avaliação,
é a consistência da “memória” do professor sobre cada aluno, que irá
possibilitar-lhe ou não uma ação intencional e diferenciada sobre suas
manifestações singulares de aprendizagem.
Para isso é preciso muitas anotações, arquivar exemplares de textos,
de trabalhos e tarefas, reunir-se um conjunto de dados evolutivos e
complementares acerca dos processos individuais que favoreçam
decisões pedagógicas pertinentes.”

Jussara Hoffmann
REFLEXÃO FINAL

Na Educação Infantil, grande parte das atividades acontecem em


grupo, o que é muito positivo;
Para que se alcance o desenvolvimento potencial, segundo o conceito
de Vigotski, deve sempre haver interação e intervenção entre
professor e aluno. Situações coletivas, constituem momentos
potenciais.
Para interações mais produtivas é preciso pensar em como dispor os
alunos no espaço de forma a propiciar as trocas tão necessárias a
aprendizagem. Neste caso é fundamental o professor como mediador.
Eis aqui o grande desafio do professor: realizar seu planejamento e
sua avaliação considerando a importância das trocas necessárias para
a aprendizagem; ser um mediador que desafia os alunos em direção
ao seu potencial, sempre pensando na organização do ambiente e nos
agrupamentos.

Esperamos ter contribuído para as mais diversas maneiras, por meio


da reflexão que surge da articulação entre teoria e prática sobre as
concepções da linguagem oral e escrita.
Adicionar imagem bebê lendo

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