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TEXTO 1 - AS HIPÓTESES DE ESCRITA E A ALFABETIZAÇÃO

Quando falamos em alfabetização estamos nos referindo, antes de ser


um tema pedagógico, a uma das mais importantes ferramentas de
comunicação, registro e expressão de que a humanidade faz uso, desde há
muito tempo.
E cabe uma reflexão sobre isso: nos tempos remotos ler e escrever
sempre foram atividades destinadas aos sábios e aos poderosos e isso a história
já cuidou de nos revelar. Mas será que efetivamente não foi a capacidade de ler
e escrever que de forma reversa entregou sabedoria e poder aos detentores
destas possibilidades?
Seja como for, vivemos hoje a democratização do conhecimento que nos
é entregue pelas mais diversas formas, especialmente com o avanço das
tecnologias, e isto é maravilhoso. Mas certo é, também, que a leitura e a boa
interpretação e compreensão de textos guarda sua importância muito vigorosa
na relação ensino/aprendizagem.
Desta forma, a todos nós, especialmente aos educadores, cabe conhecer
com mais proximidade os caminhos que se percorrem no processo de
alfabetização e como identificar de forma personalizada e individual, onde cada
criança está neste processo, para o máximo aproveitamento de suas ações.
O que é a sondagem no processo de alfabetização?
A “sondagem” ou avaliação diagnóstica é um mecanismo que
possibilita ao educador a exata compreensão do “momento” em que cada criança
está, no que diz respeito ao processo de alfabetização. Apesar de ter caráter
diagnóstico, como o próprio nome nos revela, ela pode ser considerada uma
forma de “escuta”, já que possibilita uma aproximação entre o educador atento
e o necessário “próximo passo” a ser dado pela criança.
A sondagem nada mais é do que uma espécie de ditado, aplicado de
forma individual, onde uma lista de palavras do mesmo campo semântico (que
sejam comuns a um mesmo tema), deve ser escrita pelas crianças, e repetida
em voz alta.
E aqui vale destacar que não se trata de aferir conhecimento, como um
teste ou prova. O interesse específico neste caso é identificar a relação que a
criança já tem estabelecida com a escrita e com a língua.
Assim diz Emilia Ferreiro, psicóloga e pedagoga argentina, doutora pela
Universidade de Genebra sob orientação de Jean Piaget:
“Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou
deveria escrever certo conjunto de palavras, está oferecendo um
valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para ser
avaliado. Aprender a lê-las , interpretá-las é um longo aprendizado
que requer uma atitude teórica definida.”

Interpretar, avaliar e agir de forma teórica definida, a partir da forma de


pensar a escrita que já habita a criança, antes mesmo da intervenção escolar.
Esta conclusão está contida na pesquisa desenvolvida por Emilia Ferreiro e Ana
Teberoski e está na obra Psicogênese da língua escrita, e é de leitura
merecida.
Esta interpretação para as necessárias avaliação e ação passa pelas
quatro hipóteses de escrita:
HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA

Quando a criança está neste momento de seu aprendizado, algumas


características são muito presentes e marcantes. Elencamos aqui algumas
delas:
- Desenhar e escrever tem o mesmo significado
- Não relaciona a fala à escrita
- Não diferencia letras e números
- Imagina que a palavra representa o objeto e não o seu nome
- Apresenta traços típicos da escrita de forma desordenada
- Caracteriza uma palavra como letra inicial
- Usa as letras do próprio nome para quase todas outras escritas
- Lê a palavra como um todo.
HIPÓTESE SILÁBICA

Silábico sem valor sonoro Silábica com valor sonoro

Neste momento, em especial a criança já pode relacionar a escrita à fala


e para cada fonema, se utiliza de uma letra para representá-lo. Além disso:
- Pode atribuir valor sonoro à letra
- Pode se utilizar de muitas letras na escrita e, ao ler, aponta cada letra a um
fonema
- Ao escrever frases, pode usar uma letra para cada palavra

HIPÓTESE SILÁBICA ALFABÉTICA


Pode ser entendida como uma transição entre a Silábica e a Alfabética.
Nela há o rompimento de uma fronteira, e a criança já compreende que a
escrita representa os sons da fala e onde ela supera a hipótese silábica. A partir
deste momento, passa a perceber a necessidade de mais uma letra na formação
da sílaba. E mais:
- Pode dar ênfase à escrita dos sons das vogais ou das consoantes
- Já atribui valor de fonema em algumas letras.
HIPÓTESE ALFABÉTICA

Muitas compreensões surgem a partir da hipótese alfabética. Aqui a


criança já compreende que a escrita é uma forma de comunicação e que pode
fazer uso social dela. Ela já conhece o valor sonoro de todas ou quase todas as
letras e já apresenta uma estabilidade na escrita das palavras.
- Compreende que cada letra corresponde aos menores valores da
sílaba
- Já é capaz de adequar a escrita à fala
- Faz leitura com ou sem uso de imagens
- Já podem iniciar as preocupações com as questões ortográficas

Para complementar esse estudo veja o vídeo abaixo


https://www.youtube.com/watch?v=nm2eUG5fBE0&t=5s

TEXTO 2 - COMO FAZER EM SUA ESCOLA UM AMBIENTE


ALFABETIZADOR?

Você se lembra de quem é o “terceiro educador”?


Assim como se reconhece a importância dos espaços ambientados na
construção de aprendizagens e de melhor aproveitamento das potencialidades
e individualidades das crianças, e da construção das relações interpessoais e
sociais, também podemos identificar como absolutamente válida a participação
dos ambientes nos processos de alfabetização.
A partir das possibilidades ofertadas pelos ambientes, desde que
planejados por educadores também potentes e atentos, maiores serão as
aproximações das crianças com os recursos nele contidos e, por consequência,
o desenvolvimento voluntário de práticas e vivências que evidenciem e
favoreçam a alfabetização.
Mas acredite, não se trata de espalhar cartazes e fichas com as letras e
nomes próprios pelas paredes da escola e estará construído um ambiente
alfabetizador. É necessário partirmos do princípio de que a criança é sujeito ativo
em suas aprendizagens para permitirmos sua mais completa interação com o
ambiente. É preciso fazer sentido.
Ler e escrever como prática cotidiana

Ainda antes do pensamento na elaboração física do ambiente, é


importante refletir no conceito imaterial da prática. O convívio com a escrita e a
leitura em movimentos diários agrega interesse, importância e desenvolvimento
no próprio processo.
Seja para apropriar-se das primeiras letras ou, ainda mais adiante siga se
aproximando da escrita do próprio nome ou de seus colegas, a interação
reiterada é quem vai garantir o protagonismo da criança em seus processos de
aprendizagem e construção de conhecimento.
A partir do momento em que é dado o “start” neste interesse legítimo e
genuíno de aproximação com os processos de alfabetização, a criança passa a
comparar sons e grafemas, inicia reflexões sobre a escrita e passa a utilizar
modelos de escrita de novas palavras que serão agregadas aos contextos.
A importância das ações participativas
Outro importante pilar na construção de ambientes alfabetizadores é fazer
com que haja interação direta das crianças com quaisquer que sejam as ações
propostas. Para que as letras, números ou as escritas expostas de alguma forma
sejam acessíveis em propostas que façam sentido em suas vivências.
Fotos: Escola Semear

Vamos elencar algumas dicas que podem inspirar nossa criatividade:


• Que tal construir um varal de letras e números, em altura
que permita o manuseio livre pelas crianças para que alterem a partir de
seus interesses?
• E o que acha de fazer uso de calendários para
aproximação deles com os números e com o conceito do correr dos
dias? Bem como com a escrita estável dos dias da semana e mês
vigente.
• Já pensou em deixar com que façam a lista de presença
permitindo a escrita de seus próprios nomes e o contato com a escrita
dos nomes de seus pares?
• Não seria interessante também deixar à disposição
encartes de jornais (há jornais especializados em crianças, sabia?),
revistas infantis e gibis para que o acesso à leitura ocorra em diferentes
suportes?
• Quem sabe também deixar à disposição das crianças os
textos que fizeram parte das leituras compartilhadas, para que possam
retomar quando desejarem?
• E a elaboração de um chaveiro com palavras escolhidas e
consideradas importantes para as crianças? Um chaveiro exclusivo e
singular com palavras que carregam sentido e afeto.
• E que tal um painel com as tarefas coletivas fixado em
algum ponto visível na sala e fichas móveis para compor a organização
diária?
• Cartazes envolvendo o projeto que acompanha a sala no
momento também são bem-vindos, sabia? Por exemplo: Se o estudo
atual envolve as folhas do jardim, vamos montar um cartaz com o nome
das folhas e aproximar as crianças também dessas palavras estáveis?
Ou ainda, o projeto tem o foco no espaço? Que tal agregar mais valor
ambientando a sua sala com elementos que provoquem investigação e
um convite à escrita?
• Que tal preparar uma mesa com diferentes tipos de
papéis, canetas, carimbos, cola, envelopes, lápis e deixá-la em um
cantinho da sala? Ela é um convite constante ao ato de escrever.
• Imagine então se fizermos todos estes movimentos e ainda
acrescentarmos nosso próprio “algo a mais”?
Certamente quando permitimos o acesso facilitado e livre da criança aos
materiais, estamos evidenciando as construções de conhecimento e reforçando
sua autoestima com a validação daquilo que nos demonstram, à sua maneira.
Importante lembrar: a distribuição e a altura das propostas fixadas nas
paredes devem estar de acordo com a altura das crianças. O contato visual e
tátil faz parte dessa busca por informações.
Não é só copiar e colar?

Definitivamente não. Sabemos que decorar e imitar podem até ter alguma
função no arregimentar de conteúdo. Mas é definitivo, também, que
a construção de processos de aquisição de conhecimento precisa passar
necessariamente pelas vivências e pelo aproveitamento das situações do
cotidiano.
Especialmente para este processo, que sabidamente é dos mais
importantes pilares na aquisição de outros saberes, nosso blog já trouxe algumas
reflexões como “A alfabetização na construção da vida humana” e “As
hipóteses de escrita e a alfabetização” cuja leitura também recomendamos.
A ideia da construção de um ambiente alfabetizador passa pela
proatividade preconizada por Jean Piaget e pela pesquisadora argentina Emilia
Ferreiro. O ponto central é a possibilidade de entregar à criança: acesso,
interação, ação e transformação dos ambientes, promovendo experiências
cotidianas de aprendizagem e desenvolvimento.
Se você tem alguma sugestão para compartilhar conosco sobre práticas
cotidianas que possam contribuir na formação de um ambiente alfabetizador,
coloque aqui abaixo nos comentários colaborando conosco e com todos os
nossos leitores.
Como já nos foi ensinado por Ana Teberosky, uma das mais renomadas
pesquisadoras sobre o tema, coautora da Psicogênese da Língua Escrita:
“Um ambiente alfabetizador aquele em que há uma cultura letrada,
com livros, textos digitais ou em papel, um mundo de escritos que
circulam socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses
escritos, que faz circular as ideias que eles contêm, é chamada
alfabetizadora.”

Para ampliar os conhecimentos assista o vídeo abaixo


https://www.youtube.com/watch?v=LpbxqznlC00

TEXTO 3 - A ALFABETIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA VIDA


HUMANA

Os traços da nossa história


Houve um período no processo de evolução da espécie humana em que,
organizada minimamente nossa inteligência, o instinto puro foi deixando de ser
o guia único de nossas ações.
Nossos mais primitivos ancestrais passaram a se perceber seres sociais
quando perceberam que as atividades daquele cotidiano tão hostil seriam mais
fáceis se compartilhadas com seus semelhantes, na busca pelo objetivo comum.
Sobreviver.
Aos poucos, fomos nos organizando para a construção de pequenos
grupos sociais. Ainda somos assim até os dias atuais. As nossas tarefas e
nossas dificuldades mudaram muito, mas existe algo que segue firme em nós.
Nossa necessidade de comunicação.
Registrar nossas experiências e entregá-las ao futuro pode garantir não
apenas o sinal de nossa passagem, mas garante a construção histórica da
sociedade, contribuindo para a evolução de nossas gerações futuras.
As primeiras escritas

A arqueologia e suas buscas já localizaram pinturas rupestres que


datam de aproximadamente 40 mil anos atrás, gravadas nas paredes de
cavernas espalhadas por todo o mundo. Logo após a comunicação oral,
as formas gráficas foram o próximo passo na comunicação, com seus símbolos
e desenhos.
Mas uma forma de escrita organizada e sistematizada surgiu apenas por
volta de 3.500a.C entre os povos Sumérios. Eles desenvolveram uma espécie
de escrita cuneiforme destinada aos registros de suas atividades econômicas,
políticas e do cotidiano.
Neste mesmo período, no antigo Egito, eram produzidos também os
“Hierógllifos”, uma espécie de escrita sagrada dominada exclusivamente por
quem detinha poder, como sacerdotes, membros da realeza e escribas.

Os suportes naqueles tempos eram a argila (barro), paredes e pedras e o


alfabeto contava com aproximadamente 6900 sinais. Tanto a dificuldade na
gravação em virtude dos suportes, quanto à grande dificuldade em identificar
este número enorme de símbolos levou ao desaparecimento deste modelo, para
a construção e adoção de outros mais simplificados.
Ler e escrever para que?
O que era anteriormente apenas uma forma de comunicar, com o passar
do tempo foi se incorporando nas sociedades como uma forma de aquisição de
conhecimento e crescimento pessoal.
Aos poucos, a leitura e a escrita foram se disseminando entre as
“pessoas comuns”, deixando de ser uma ferramenta destinada exclusivamente
aos poderosos e passando a ser um conhecimento disponível ao coletivo.
Na mesma proporção em que a capacidade de leitura e escrita crescia
numericamente entre as pessoas, cresciam também os registros de suas
experiências e o volume das comunicações entre elas.
Nós educadores, que reconhecemos a importância dos registros,
sabemos o quão enriquecedores podem ser um ambiente ou uma sociedade
que se dedica a gravar na história suas vivências cotidianas.
Pois para que isso seja possível, a leitura e a escrita devem ser instaladas
de forma a que nossa capacidade humana de exercício intelectual seja grafada,
interpretada e compreendida como um todo. A mera reprodução escrita daquilo
que se ouve precisa repousar em nosso passado.
À medida que a inteligência vai se incorporando em nossa escrita,
possibilitando o exercício intelectual e cognitivo do leitor, nossa comunicação vai
deixando de ser apenas uma entrega isolada de dados, para assumir o
importante papel de troca de experiências e crescimento mútuo.
As primeiras escolas
No início, o conhecimento era passado de pai para filho, passando
posteriormente pela figura do “preceptor”, uma espécie de professor particular
(como o que Aristóteles foi para Alexandre, o Grande), até o modelo mais
próximo da escola atual nascida no século XII, na Europa, onde se acredita tenha
nascido a alfabetização propriamente dita.
Crianças sentadas em carteiras enfileiradas aprendiam a leitura e a
escrita (vale dizer, apenas para reflexão, que ainda hoje temos escolas neste
formato do século XII) por intermédio das obras de instituições de caridade
católicas.
A necessária alfabetização, em qualquer período histórico, sempre teve
importância fundamental na construção de escritores e leitores e ainda hoje
guarda seu papel na estrutura da relação ensino/aprendizagem.
Decifrar um código alfabético de forma a compreender seu significado e
sua mensagem aproxima os seres humanos de sua condição de liberdade e o
faz dono de suas decisões e de suas vontades, entregando a si o leme de sua
própria história, mas a alfabetização é muito mais que do que isso.
Alfabetização nos dias atuais
Durante toda a história da educação, a alfabetização sempre ocupou um
lugar de destaque a partir sua importância, mesmo que as discussões sobre seus
métodos sejam algo relativamente novo.
Muito possivelmente, com a introdução e ampla utilização dos
equipamentos tecnológicos em nossa sociedade, especialmente pelas crianças
em fase de alfabetização, novas formas de alfabetizar devem surgir e
precisamos estar atentos a elas.
Entretanto, é preciso ter em mente e conhecermos todas as formas
possíveis e já conhecidas dos processos presentes porque, seja qual for o
modelo, não se pode desconectar sua importância como processo de construção
pessoal, social e histórica.
Para ampliar os nossos conhecimentos assista os vídeos abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=sW7-fPifdQY&t=359s

ATIVIDADE PARA DESENVOLVER

1 – Após a leitura e de assistir os vídeos sugeridos acima, monte um mapa


mental sobre as hipóteses silábicas. Neste mapa descreva cada hipótese e
como deve ser p0ensado as palavras para o diagnóstico ser aplicado:

Criança
Hipóteses de escrita

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