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Já dizia Paulo Freire (2001) que aprender a ler e a escrever é aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto

numa relação dinâmica vinculando linguagem e realidade e ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a
escrita como meio de tomar consciência da realidade e de transformá-la.

Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e metodológicas, exigindo que
a escola e, os educadores se posicionem em relação às mesmas, construindo suas práticas a partir do que está sendo
discutido no meio acadêmico e transposto para a sala de aula a partir de suas reinterpretações e do que é possível e
pertinente ser feito.

Essas mudanças nas práticas de ensino podem ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a serem desenvolvidos
quanto na natureza da organização do trabalho pedagógico.

Hoje o desafio maior é “Como alfabetizar letrando”?

A palavra letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa Literacy “condição de ser letrado”.

Assim, letramento é o estado ou a condição de quem responde adequadamente às demandas sociais pelo uso amplo
e diferenciado da leitura e da escrita.

De acordo com Soares (2003), alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza essencialmente
diferente, porém, são interdependentes e indissociáveis, pois uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada ou
ser letrada e não ser alfabetizada.

Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos podem ser vistos como
simultâneos, entendendo que no conceito de alfabetização estaria compreendido o de letramento e vice-versa.

Isto será possível se a alfabetização for entendida além da aprendizagem grafofônica e que em letramento inclui-se
a aprendizagem do sistema de escrita. A conveniência da existência dos dois termos, que embora designem
processos interdependentes, indissociáveis e simultâneos, são processos de natureza diferente, uma vez que
envolve habilidades e competências específicas, implicando, com isso, formas diferenciadas de aprendizagem e em
conseqüência, métodos e procedimentos diferenciados de ensino.

Assim, a participação das crianças em experiências variadas com leitura e escrita, conhecimento e interação com
diferentes tipos e gêneros de material, a habilidade de codificação e decodificação da língua escrita, o
conhecimento e reconhecimento dos processos de tradução da fala sonora para a forma gráfica da escrita implica
numa importante revisão dos procedimentos e métodos para o ensino, uma vez que cada fase desse processo exige
procedimentos e métodos diferenciados, pois cada criança e cada grupo de crianças necessitam de formas
diferenciadas na ação pedagógica.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. 41ª ed.Cortez. 2001.
MORAIS A. & Leite T. Como promover o desenvolvimento das habilidades de reflexão fonológica dos
alfabetizandos. MEC :UFPE/ CEEL 2005.

SOARES, Magda.Letramento e escolarização. São Paulo: Global, 2003.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

A partir de 1983, através de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, o professor começou a repensar a sua prática
cotidiana em sala de aula. Nos dias de hoje, sabemos que um indivíduo plenamente alfabetizado é “aquele capaz de
atuar com êxito nas mais diversas situações de uso da língua escrita. Dessa forma, não basta apenas ter o domínio
do código alfabético, isto é, saber codificar e decodificar um texto: é necessário conhecer a diversidade de textos
que percorrem a sociedade, suas funções e as ações necessárias para interpretá-los e produzi-los.” O processo de
alfabetização ocorre durante toda a escolaridade e tem início antes mesmo da criança ingressar na escola. Implica
em tomar como ponto de partida, o texto, pois este é revestido de função social e não mais as palavras ou sílabas
sem sentido. O professor deve buscar um vocabulário que tenha realmente significado para a classe, isto é, que seja
retirado das suas experiências. Atualmente, a cartilha não é o recurso mais favorável à aprendizagem da leitura e da
escrita, principalmente, porque não tem qualquer significado para o aluno e apresenta textos desconexos, apenas
garantindo a “memorização das famílias silábicas.”

Para Teberosky, deve ser considerada no processo de alfabetização, a diferenciação entre a escrita e a linguagem.

Segundo a referida autora, a escrita deve ser entendida como um sistema de notação, que no caso da língua
portuguesa é alfabetização (conhecer as letras, sua organização, sinais de pontuação, letra maiúscula, ortografia,
etc.). A linguagem escrita é definida como as formas de discurso, as condições e situações de uso nas quais a
escrita possa ser utilizada (cartas, bilhetes, notícias, relatos científicos, etc.)

Inicialmente, o professor precisa tomar por base o texto e não mais as palavras-chaves. O texto deve ser o elemento
fundamental para inserir a criança no universo letrado’.

Além da escrita espontânea, pode ser considerado também o trabalho com modelos, que possibilitam ‘as crianças
comparem suas hipóteses com o convencional. Através de listas de palavras de um mesmo campo da semântica
(brinquedos, jogos prediletos, comidas preferidas, personagens de livros e gibis, nomes dos alunos da classe, frutas,
etc.) das parlendas e de outros textos, as crianças, hoje, podem ampliar suas concepções e progredir na aquisição
da base alfabética, como na compreensão de outros aspectos (a grafia correta das palavras, o uso de sinais gráficos,
etc.).

Simultaneamente, os diversos tipos de texto necessitam aparecer como objeto de análise, propiciando aos alunos
diferenciá-los, conhecer melhor suas funções e características particulares. Para que isso ocorra, é essencial que
saibam interpretá-los e escrevê-los. A expressão pessoal (bilhetes, cartas, diários, receitas culinárias, etc.) deve
fazer parte do trabalho do professor, no entanto, esta deve vir acompanhada pela escrita de outros textos, inclusive
com o apoio de modelos.

Cabe à escola, desde a Educação Infantil, alimentar a reflexão sobre as palavras, observando, por exemplo, que há
palavras maiores que outras, que algumas palavras rimam, que determinadas palavras tem “pedaços” iniciais
semelhantes, que aqueles “pedaços” semelhantes se escrevem muitas vezes com as mesmas letras, etc.

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