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A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Marcilane Alves do Santos1

RESUMO

Este estudo tem como objetivo apresentar os processos de alfabetização e letramento


refletindo a definição de cada um deles. Ambos os processos fazem parte do alicerce da
vida escolar da criança, e oferecem contribuições para o ensino/aprendizagem na
Educação Infantil, promovendo a inserção e a participação do aluno nas mais diversas
práticas sociais. É preciso identificar como ocorrem esses processos na escola,
estabelecer critérios para torna-los mais atraentes e interativos, e propor maneiras como
o professor pode oferecer um espaço alfabetizador em sala de aula, dando recursos dos
quais estimulem a criança a desenvolver seu aprendizado de forma prazerosa e lúdica.

Palavras-chave: Alfabetização, letramento, Educação Infantil.

1 Pedagoga, Psicopedagoga clínica e institucional com especialização em inclusão


1. INTRODUÇÃO

Alfabetização e o letramento não tem o mesmo significado, tratam-se de


dois processos diferentes que ocorrem de forma indissociável e interdependente.
Alfabetizar é tornar a pessoa capaz de escrever e compreender o que está escrito, porém
nem sempre essa pessoa é letrada. Aquele que consegue ler, escrever, porém não faz uso
da leitura e nem da escrita no seu dia a dia, não possui o hábito de ler livros, jornais ou
até mesmo uma revista, é um exemplo de uma pessoa que é alfabetizada (pois consegue
decifrar os códigos da escrita), mas não é letrada.
Para Magda Soares alfabetização é um processo de representação de
códigos, é a capacidade de compreender e expressar; e letramento como a prática de ler
e escrever, um o processo contínuo da alfabetização (2008).
Existe então uma diferença entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e ser
letrado. A pessoa que aprende a ler e a escrever se torna alfabetizada, mas quando passa
a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e de
escrita se torna letrada. Uma pessoa analfabeta não sabe ler e escrever, a alfabetizada
que sabendo ler e escrever, não faz uso da leitura e da escrita não é letrada, pois não
vive no letrado ou condição de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita.
Ainda que alfabetizar e letrar sejam ações distintas o ideal seria alfabetizar
letrando, ou seja: ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da
escrita, de modo que o indivíduo se torne, ao mesmo tempo, alfabetizado e letrado.
Conclui-se que Alfabetização é a ação de ler e escrever e letramento é mais
que isso, não é apenas saber ler e escrever, é usar socialmente a leitura e a escrita,
praticar a leitura e a escrita, responder adequadamente às demandas sociais de leitura, e
de escrita. O indivíduo que sabe ler e escrever é alfabetizado, aquele que coloca em
prática essa habilidade, que faz uso dela é letrado.
Este trabalho foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica e tem como
objetivo principal abordar a temática da alfabetização e letramento na educação infantil,
como o ensino infantil podem ser realizados por este ponto de vista, apontando a
importância de que alfabetização e letramento aconteçam juntos, pois ambos fazem
parte do alicerce da vida escolar da criança. Essa pesquisa se apresenta significativa pois
é necessário propiciar as crianças, modos de aprendizagens com as diversas práticas
sociais de leitura e escrita, aprendendo gradualmente e utilizando-as de forma
competente e prazerosa.

2. DESENVOLVIMENTO

O período de vida escolar na Educação Infantil, tem como propósito


proporcionar às crianças experiências variadas e opulentas, a fim de desenvolver suas
capacidades. Nesse período utiliza-se de atividades lúdicas e jogos para estimular as
crianças a exercitarem suas capacidades cognitivas e motoras, também desenvolverem
suas habilidades.
Pensando nesse propósito, é possível afirmar que o processo de
alfabetização e letramento deve ter início na Educação Infantil, desde que sejam
consideradas as individualidades de cada criança, tal como o seu desenvolvimento.
A educação infantil é a base para o ensino de toda a vida escolar, é nesta
etapa que a alfabetização na perspectiva do letramento pode alcançar resultados
favoráveis ao processo de leitura e escrita. Quando a criança é alfabetizada ela apropria-
se do conhecimento da escrita, e será capaz de ler e escrever. Porém quando esse
processo é realizado na perspectiva do letramento alcança uma aprendizagem
significativa, na qual a criança, poderá exercer práticas sociais de leitura e escrita.
Durante o letramento, a leitura e a escrita são utilizadas de maneira diversa
da comum ação de ler e escrever, pois reflete o uso da leitura e da escrita em várias
circunstâncias sociais, fazendo uso de inúmeros objetos que apresentem algo que possa
ser lido ou quaisquer objetos que levem um texto impresso ou manuscrito. Por mais que
as atividades de alfabetização e letramento se diferencie, tanto em relação às operações
cognitivas, quanto em relação às ações sistemáticas de ensino e aprendizagem, devem
desenvolver-se de forma integrada.
Adrianne Guedes e Tereza Cristina Barreiros (2007) fazem uma emenda a
respeito do desenvolvimento infantil, afirmando que “a criança não chega à classe de
alfabetização como uma folha em branco; ela pensa e formula hipóteses sobre a língua,
observa o mundo letrado a sua volta, reconhece nele sentido [...]”. Diante esta
declaração percebe-se a criança como pessoa participante na sociedade que aprende
através da interação com o mundo a sua volta, tornando-se um ser humano ativo no seu
processo de ensino-aprendizagem. Luciana Muniz (2007) ainda contribui dizendo que a
criança recebe e produz cultura.
Concebendo a importância da aprendizagem nos ambientes atribuídos à
educação infantil, nota-se que é inevitável a inserção da criança no mundo da escrita
desde a educação infantil. Portanto, é fundamental que estejam presentes na Educação
Infantil as atividades de introdução ao sistema alfabético, bem como as práticas de
leitura e escrita (SOARES, 2008).
Uma proposta interessante é apresentar à criança os diversos gêneros
literários. Nelly Novaes Coelho (2003) escreve que os contos de fadas fazem parte dos
livros eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração, são
redescobertos e voltam a encantar leitores ou ouvintes de todas as idades. Estes livros
possuem personagens pertencentes ao mundo dos mitos onde a Fada ocupa um lugar
privilegiado na aventura humana. Através dos contos se trona possível a realização de
sonhos, ideais e aspirações.
Diante dessa experiência, as crianças vão formando sua ideia de língua
escrita, dos papéis da oralidade, leitura e escrita, sua compreensão de letras e números, a
distinção entre gêneros, entre as narrações que são lidas, em revistas, livros, bilhetes e
outros portadores de texto que as pessoas leem ou escrevem para elas. Quanto mais
instigadas por meio de atividades lúdicas que aprimorem a oralidade, leitura e escrita
vão produzindo e expandindo seu acervo de conhecimento e o desejo de acesso ao
mundo letrado.
Portanto, alfabetização e letramento devem fazer parte do processo de
ensino aprendizagem da educação infantil, proporcionando as crianças o contato com as
diversas práticas de uso social da leitura e da escrita. Diante dessa conjuntura Soares
(2008) descreve os objetivos que devem contemplar a educação infantil dentro processo
de alfabetização e letramento:
Compreender o que é lido e escrever de forma que os outros
compreendam o que se escreve;
Conhecer diferentes gêneros e diferentes portadores de textos e fazer uso
deles para ler e para escrever;
Participar adequadamente dos eventos de várias naturezas de que fazem
parte a leitura ou a escrita;
Construir familiaridade com o mundo da escrita e adquirir competências
básicas de uso da leitura e da escrita;
Desenvolver atitudes positivas em relação a importância e ao valor da
escrita na vida social e individual.
O processo de alfabetização na visão de letramento deve ser iniciado no
ensino infantil e prosseguir nas séries subsequentes, dado que, é uma etapa muito
importante no progresso escolar. É a base do ensino para que a criança desenvolva seu
intelecto com palpabilidade durante toda sua vida escolar. Regina Scarpa (2007) afirma
que, quando o ensino infantil desenvolve o seu papel nesse processo de alfabetização e
letramento de forma eficaz, é bem provável que os alunos já consigam sair do ensino
infantil aptos a ler e escrever.
Assim sendo, alfabetização e letramento são uma aditiva e não uma
alternativa, admitindo-se, que ambos os processos devem ter presença na educação
infantil: O letramento será a base, já que leitura e escrita são essenciais meios de
comunicação e interação, enquanto a alfabetização, deve ser vista como instrumento
para envolver-se nas práticas e usos da língua escrita. O essencial é que as crianças
estejam imersas em um contexto letrado e que sejam aproveitadas, de maneira
planejadas e sistemáticas, oportunizando-as para continuidade aos processos de
alfabetização e letramento.
O desafio do professor, educador e pedagogo é escolher quais práticas são
apropriadas para o desenvolvimento da escrita e leitura na criança em idade pré-escolar,
aplicar tais práticas sem perder a especificidade do verdadeiro significado da educação
infantil, porém atendendo a necessidade de promover situações de
ensino/aprendizagem, que inclua ao conhecimento da criança a escrita com o
desenvolvimento da linguagem.
O educador é o mediador do processo de aprendizagem, ele oferece
momentos de interação da criança com o mundo escrito. Mello (2009) reitera que é
necessário que a criança se expresse durante o processo de aquisição da linguagem
escrita utilizando as muitas possibilidades de linguagem possíveis na escola,
exemplificando que o educador pode promover momentos de experiências com a escrita
através de passeios escolares pelos arredores da escola, leituras de histórias, poesias,
músicas, entre outros.
O professor não é mais um simples propagador de conteúdo, ele agora
recebe a função importante de orientador, ele é um facilitador da aprendizagem. Ele
precisa investigar mais minuciosa das questões de leitura, e ainda ter conhecimento das
crianças que serão seus alunos, se interessar em conhece-las, o perfil, saber o que elas já
trazem de conhecimento e saber aproveitar tais conhecimentos. O professor saberá o
que fazer no momento necessário para ensinar o aluno a aprender a ler. Não é um papel
fácil, o professor deve se dedicar muito. Seria tão fácil ter em mãos um planejamento já
todo elaborado, e que apenas fosse necessário segui-lo. Mas infelizmente, não é bem
assim. (BARBOSA, 2013)
Entre os alunos e os objetos do conhecimento está o professor, como
mediador, que organiza e assegura espaços e situações de aprendizagem, em que são
preparados os recursos afetivos, emocionais, sociais e cognitivos de cada criança aos
conhecimentos prévios em cada área. O professor realiza a tarefa de detalhar as
situações de aprendizagem, considerando todas as suas capacidades e potencialidades e
planejar as condições de aprendizado, com base nas necessidades e ritmos individuais e
características próprias de cada grupo.
Segundo Gadotti (2013) “assim, pensamos num novo professor, mediador
do conhecimento, sensível e critico aprendiz permanente e organizador do trabalho na
escola, um orientador, um cooperador, curioso e, sobretudo, um construtor de sentido. ”
Ensinar é algo muito importante, não é apenas transmitir o que se sabe, mas desenvolver
todas as possibilidades necessárias para a sua produção do saber.
José Juvêncio Barbosa (2013) diz que é importante ensinar de forma
envolvente, onde o aluno se sinta atraído, tendo interesse pelo que faz, o professor deve
levar muito em conta os interesses do aluno. Quando a criança não gosta do que faz, ela
não vai até o fim. Por exemplo, se não gostamos da leitura de um livro, muito difícil
chegaremos ao final desta leitura. O professor deve trazer para a sala de aula tudo que
tem sentido, o que não faz sentindo, não importa, não atrai atenção e então o que se
ensina ou que se aprende acaba que não valendo de nada.
O trabalho do professor alfabetizador é árduo, pois há muitos impasses no
dia a dia dentro de uma sala de aula, são muitos os desafios a serem enfrentados. O
professor alfabetizador irá conduzir ao início do processo de leitura e escrita para que o
aluno possa desenvolver e avançar em direção as novas aprendizagens. O professor
deve proporcionar meios que favoreçam a construção da leitura e da escrita, envolvendo
os alunos, e que possam assim se desenvolver no contexto escolar.
O professor além de ter os conhecimentos necessários, precisa ter respeito
por seus alunos, procurar conhecer sua realidade, seus interesses, suas dificuldades,
acreditar que seus alunos são capazes de crescer, sempre agir de forma criativa, atrativa,
ter iniciativa e não menos importante acreditar em si mesmo.
O professor alfabetizador incentivará o aluno a descobrir o mundo da leitura
e da escrita, e assim possibilitar que este aluno alcance um nível de leitura e escrita mais
avançado. O papel do professor nos primeiros momentos da aprendizagem não se
resume a transmitir conhecimentos; seu papel é o de criar situações significativas que
deem condições à criança de se apropriar de um conhecimento ou de uma prática. Já nas
atividades de sistematização, o papel do professor é mais diretivo; ele explica, informa,
mostra e corrige. É por isso que estes momentos não devem ser muito longos.
(BARBOSA, 2013)
A criança não é apenas um recipiente onde queremos depositar informações
prontas e acabadas, ela tem capacidade de aprender sozinha, não se ensina a criança a
ler, o professor fica encarregado de ajudá-la a conquistar tal feito. Através de um
ambiente propicio consegue-se realizar essa ajuda, ou seja, um ambiente rico e variado,
a criança precisa estar inserida num ambiente alfabetizador e letrado. Assim
favorecendo o surgimento das aprendizagens necessárias. (BARBOSA, 2013)

3. CONCLUSÃO
A partir deste estudo podemos ressaltar a importância da alfabetização na
perspectiva de letramento. Deve-se alfabetizar junto com o letramento para que haja
uma aprendizagem de qualidade e formam pessoas que não apenas consegue ler e
escrever o básico, mas sim que conseguem ler, escrever, produzir, interpretar, que
consigam escrever o que sentem, o pensam sem terem dificuldades. Essa missão se
caracteriza em colocar o aluno diante do mundo, que ás vezes, para ele não era possível.
Percebemos que uma prática pedagógica pode propiciar o desenvolvimento de
atividades significativas que contribui muito para que as crianças desenvolvam
conhecimentos sobre o sistema de leitura e escrita desde a Educação Infantil. Mas é
importante ressaltar a necessidade de ter clareza desse processo para não fazer uso de
uma prática pedagógica voltada para conteúdos segmentados e fragmentados, apenas
cumprindo tarefas e passando a maior parte do tempo sentado dentro de uma sala de
aula fazendo atividades como cópia de letras, silaba e palavras.
A sala de Educação Infantil deve ser um espaço que motive e incentive a
criança a descobrir o novo é nessa fase, na escola, que deve ser apresentado a histórias,
os contos, músicas e trabalhar o conhecimento dos objetos que estão ao seu redor.
Respeitar o desenvolvimento e o ritmo da criança na Educação Infantil é indispensável.
Apresentar a ela tudo o que ela pode aprender/descobrir, mas jamais exigir que ela saiba
de tudo, esperar que a compreensão venha de acordo com o ritmo de cada criança.
O papel da escola não deve ser apenas de ensinar a ler e escrever, mas sim
de ensiná-los a terem a praticarem a leitura, e estar sempre lendo e transcrevendo o que
leu e o que adquiriu com aquela leitura. E é nossa responsabilidade quanto educadores e
pais provocar essa paixão pela leitura em nossos alunos. Neste contexto, devemos
proporcionar aos estudantes da Educação Infantil, uma prática pedagógica que vise o
desenvolvimento integral das crianças, com o trabalho voltado às atividades lúdicas,
aprendizagens significativas capazes de promover o aprimoramento das habilidades
necessárias à construção do conhecimento, para que possamos garantir que nossas
crianças se desenvolvam, construam e adquiram conhecimento e se tornem autônomas e
cooperativas
BIBLIOGRAFIA

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GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra / Moacir Gadotti. 7. ed. São Paulo: Peirópolis,
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