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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO SEGUNDO MAGDA SOARES

Alfabetização

É tomar o indivíduo capaz de ler e escrever. A alfabetização se ocupa da aquisição da escrita,


por um indivíduo ou grupo de indivíduos. É o processo pelo qual se adquire o domínio de um
código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia,
técnicas para exercer a arte e ciência da escrita.

A alfabetização é um processo no qual o indivíduo assimila o aprendizado do alfabeto e a sua


utilização como código de comunicação. Esse processo não se deve resumir apenas na
aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do ato de ler, mas na
capacidade de interpretar, compreender, criticar e produzir conhecimento. A alfabetização
envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de
uma maneira geral.

Elatem sido entendida tradicionalmente como um processo de ensinar e aprender a ler e


escrever, portanto, alfabetizado é aquele que lê e escreve. O conceito de alfabetização para
Paulo Freire tem um significado mais abrangente, na medida em que vai além do domínio do
código escrito, pois, enquanto prática discursiva possibilita uma leitura crítica da realidade,
constitui-se como um importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o
engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de
vida e pela transformação social. Ele defendia a idéia de que a leitura do mundo precede a
leitura da palavra, fundamentando-se na antropologia: o ser humano, muito antes de inventar
códigos lingüísticos, já lia o seu mundo.

A alfabetização de qualquer indivíduo é algo que nunca será alcançado por completo, ou seja,
não há um ponto final. A realidade é que existe a extensão e a amplitude da alfabetização no
educando, no que se diz respeito às práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Nesse
âmbito, muito estudiosos discutem a necessidade de se transpor os rígidos conceitos
estabelecidos sobre a alfabetização, e assim, considerá-la como a relação entre os educandos e
o mundo, pois, este está em constante processo de transformação.

Letramento

O termo letramentotem sido utilizado atualmente por alguns estudiosos para designar o


processo de desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita nas práticas sociais e
profissionais. Por que esse termo surgiu? Segundo alguns autores, a explicação está nas novas
demandas da sociedade, cada vez mais centrada na escrita, que exigem adaptabilidade às
transformações que ocorrem em ritmo acelerado, atualização constante, flexibilidade e
mobilidade para ocupar novos postos de trabalho. Os defensores do termo "letramento"
insistem que ele é mais amplo do que a alfabetização ou que eles são equivalentes.

Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa "literacy" que pode ser
traduzida como a condição de ser letrado. A palavra letramento ainda não está dicionarizada,
porque foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa, tanto que quase podemos
datar com precisão sua entrada na nossa língua, identificar quando e onde essa palavra foi
usada pela primeira vez.
Parece que a palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo
da escrita: uma perspectiva psicolinguística, de 1986.

Letramento é o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como


conseqüência de ter-se apropriado da escrita. É usar a leitura e a escrita para seguir instruções
(receitas, bula de remédio, manuais de jogo), apoiar à memória (lista), comunicar-se (recado,
bilhete, telegrama), divertir e emocionar-se (conto, fábula, lenda), informar (notícia), orientar-
se no mundo (o Atlas) e nas ruas (os sinais de trânsito).

É o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais e da escrita, ou seja, um


conjunto de práticas sociais, que usam a escrita, enquanto sistema simbólico, enquanto
tecnologia, em contextos específicos da escrita denomina-se letramento que implica
habilidades várias, tais como: capacidade de ler e escrever para atingir diferentes objetivos,
permitir que o sujeito interprete, divirta-se, seduza sistematize, confronte, induza, documente,
informe, oriente-se, reivindique, e garanta a sua memória, garantindo-lhe a sua condição
diferenciada na relação com o mundo. Compreender o que se lê.

Na ambivalência dessa resolução conceitual, encontra-se o desafio dos educadores em face do


ensino da língua escrita: o alfabetizar letrando. Desenvolvendo a necessidade de associar a
teoria e prática.

O letramento tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações
da escrita na sociedade e se amplia cotidianamente por toda vida, com a participação nas
práticas sociais que envolvem a língua escrita. Abarca as mais diversas práticas de escrita na
sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é
analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro e o ônibus que deve
tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir marcas de mercadorias etc., porém
não escreve cartas, não lê jornal, etc. Se a crianças não sabe ler, mas pede que leiam histórias
para ela, ou finge estar lendo um livro, se não sabe escrever, mas faz rabiscos dizendo que
aquilo é uma carta que escreveu para alguém, é letrada, embora analfabeta, porque conhece e
tenta exercer, no limite de suas possibilidades, práticas de leitura e de escrita.

Para dizer que uma pessoa é letrada é quando faz uso das habilidades de ler e escrever
inserindo um conjunto de práticas sociais, não apenas no conhecimento das letras e do modo
de associá-las, mas usar esse conhecimento em benefício de formas de expressão e
comunicação, reconhecidas e necessárias em um determinado contexto cultural, letramento
depende da alfabetização, ou seja, da teoria e prática, pessoas letradas e não alfabetizadas
mesmo incapazes de ler e escrever compreendem os papeis sociais da escrita distinguem
gêneros ou reconhecem as diferenças entre a língua escrita e a oralidade.
OS DESAFIOS DE ALFABETIZAR LETRANDO
PEDAGOGIA

Os desafios de alfabetizar letrando, questionamentos sobre a prática de alfabetização, as


controvérsias teóricas e metodológicas, as mudanças nas práticas de ensino, como alfabetizar
letrando.

Ampliação do tempo de escolaridade de oito para nove anos impôs importantes


questionamentos sobre a prática de alfabetização. O que ensinar às crianças de seis anos? Que
conhecimentos essas crianças precisam construir? Que habilidades precisam desenvolver? Que
atividades realizar na escola para que alcancem as habilidades desejadas?

Já dizia Paulo Freire (2001) que aprender a ler e a escrever é aprender a ler o mundo,
compreender o seu contexto numa relação dinâmica vinculando linguagem e realidade e ser
alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tomar consciência da
realidade e de transformá-la.

Ao longo dos anos a alfabetização tem sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas e
metodológicas, exigindo que a escola e, os educadores se posicionem em relação às mesmas,
construindo suas práticas a partir do que está sendo discutido no meio acadêmico e transposto
para a sala de aula a partir de suas reinterpretações e do que é possível e pertinente ser feito.

Essas mudanças nas práticas de ensino podem ocorrer tanto nas definições dos conteúdos a
serem desenvolvidos quanto na natureza da organização do trabalho pedagógico.

Hoje o desafio maior é “Como alfabetizar letrando”?

A palavra letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa Literacy “condição
de ser letrado”.

Assim, letramento é o estado ou a condição de quem responde adequadamente às demandas


sociais pelo uso amplo e diferenciado da leitura e da escrita.

De acordo com Soares (2003), alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza
essencialmente diferente, porém, são interdependentes e indissociáveis, pois uma pessoa
pode ser alfabetizada e não ser letrada ou ser letrada e não ser alfabetizada.

Na concepção atual, a alfabetização não precede o letramento, os dois processos podem ser
vistos como simultâneos, entendendo que no conceito de alfabetização estaria compreendido
o de letramento e vice-versa.

Isto será possível se a alfabetização for entendida além da aprendizagem grafofônica e que em
letramento inclui-se a aprendizagem do sistema de escrita. A conveniência da existência dos
dois termos, que embora designem processos interdependentes, indissociáveis e simultâneos,
são processos de natureza diferente, uma vez que envolve habilidades e competências
específicas, implicando, com isso, formas diferenciadas de aprendizagem e em conseqüência,
métodos e procedimentos diferenciados de ensino.
Assim, a participação das crianças em experiências variadas com leitura e escrita,
conhecimento e interação com diferentes tipos e gêneros de material, a habilidade de
codificação e decodificação da língua escrita, o conhecimento e reconhecimento dos processos
de tradução da fala sonora para a forma gráfica da escrita implica numa importante revisão
dos procedimentos e métodos para o ensino, uma vez que cada fase desse processo exige
procedimentos e métodos diferenciados, pois cada criança e cada grupo de crianças
necessitam de formas diferenciadas na ação pedagógica.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo. 41ª ed.Cortez. 2001.

MORAIS A. & Leite T. Como promover o desenvolvimento das habilidades de reflexão


fonológica dos alfabetizandos. MEC :UFPE/ CEEL 2005.

SOARES, Magda.Letramento e escolarização. São Paulo: Global, 2003.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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