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Ler e Escrever em Um Mundo Letrado

RESUMO

O presente ensaio apresenta resultados de uma pesquisa bibliográfica


de caráter qualitativo. A escolha do tema “Ler e Escrever em Um
Mundo Letrado” se deu por pensarmos que os estudantes ao saber ler
e escrever, ou seja, ser “alfabetizado” não é o suficiente para atender
as demandas sociais da sociedade contemporânea. Estamos em nosso
ensaio considerando as definições de alfabetização e letramento,
leitura e escrita pensadas por estudiosos do tema. Aprender a ler e
escrever por meio de práticas sociais de letramento pode facilitar a
produção de novos conhecimentos, favorecendo as competências e
habilidades do estudante em relação a interpretação das diferentes
formas textuais que circulam na dinâmica social e em relação a
criação e produção de novos textos num mundo letrado.

Palavras chave: Alfabetização, letramento, leitura, escrita.

INTRODUÇÃO

Podemos dizer que na nossa sociedade atual, saber ler e escrever, ou seja, ser
“alfabetizado” não é o suficiente para atender as demandas sociais da sociedade. Há tempos
atrás, bastava que o indivíduo soubesse apenas assinar o nome, isso, porque da pessoa só
interessava o voto. Atualmente, ser alfabetizado e conseguir saber ler e escrever
mecanicamente não dá ao indivíduo condições de compreender e entender, isto é, interpretar
as diferentes formas textuais que circulam no meio social. É necessário que tenhamos

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capacidade de compreender e entender plenamente os sentidos e signos dos diversos textos
em múltiplos contextos, ao invés de apenas decodificarmos sons e letras.
Perguntamos: Por que algumas pessoas terminam a Educação Básica sem entender
textos simples? Por que algumas pessoas não conseguem escrever um texto simples?
A leitura só é plena quando sabemos escrever, e vice versa, isso é fato. Porém, ler e
escrever letras e palavras não garante a ninguém a compreensão e entendimento da realidade.
Vivemos numa sociedade capitalista de privilegiados letrados, e saber ler e escrever nessa
sociedade se torna um privilégio. Atrevemo-nos a dizer que se preocupam em ensinar ao
indivíduo a leitura e a escrita mecânica para que posteriormente, quando se tornar um
indivíduo trabalhador, apenas leia e escreva seu nome e rótulos de produtos.
Diante disso, aparece a preocupação que gira em torno da leitura de mundo, então, no
meio dos pesquisadores, em meio aos seus estudos surge o conceito de "letramento", para
alguns, em detrimento do conceito de "alfabetização". Alguns estudiosos passam a afirmar
que o conceito de alfabetização se torna inconsistente para explicar o ato de saber ler ou
escrever.
Assim, de certa forma, podemos dizer que nas sociedades letradas, saber ler e escrever
mecanicamente não é o suficiente para compreender e entender plenamente a realidade e
responder de forma eficaz e eficiente as demandas da sociedade capitalista atual.
Mas, afinal o que é letramento? Letrar é melhor que alfabetizar? Existe pessoa letrada
e pessoa não letrada? Existem diferenças entre alfabetização e letramento? Diante dessas
questões Zacur (2015) responde:

O nome é o que menos importa, quando historicamente se confrontam desde


a famosa querela dos métodos às lutas discursivas mais recentes relativas à
alfabetização e letramento; desde as propaladas dificuldades de
aprendizagem às aplicações teóricas que se anunciam como salvadoras;
desde a implementação de políticas públicas de alfabetização à adoção de
novas tecnologias, que frequentemente terminam em fiasco, a despeito de
seu alto custo para os cofres públicos (ZACCUR, 2015, p. 161).

É possível que não consigamos dar respostas concretas e definitivas a todas essas
questões, temos a consciência de que é necessário buscarmos explicações mais sensíveis e
verdadeiras a cerca da realidade educacional posta com um novo olhar, um jeito diferente de
caminhar, com o intuito de desenvolvermos o processo ensino/aprendizagem da leitura e da

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escrita de forma que afete positiva e concretamente as pessoas que estão buscando aprender a
ler e escrever corretamente de forma plena.

REFLEXÕES TEÓRICAS

As Nuances Entre a Alfabetização e o Letramento

Pode ser que o letramento seja mais importante que a alfabetização, pois, podemos
dizer que letramento é quando a pessoa sabe ler e escrever o mundo, a vida, a realidade, a
partir de contextos múltiplos e distintos, numa prática social, na qual a escrita e a leitura
tenham e façam sentido a quem lê e escreve.

A palavra letramento foi incorporada ao vocabulário educacional


recentemente, fruto da necessidade de se diferenciar o conceito
de letramento do de alfabetização. Segundo Soares (2004), a palavra
letramento aparece pela primeira vez em um texto de Mary Kato, publicado
em 1986, mas é só em 1988 que Leda Tfouni define a palavra com um
significado técnico. [...]. Desta forma, a palavra alfabetização se refere à
aprendizagem de um código escrito, ao passo que a palavra letramento se
refere às próprias práticas sociais da leitura e escrita ou às consequências
e/ou condições de quem exerce essas práticas. Ser alfabetizado não garante
que se seja letrado, assim como é possível encontrarmos sujeitos com certo
grau de letramento, aqueles, por exemplo, capazes de utilizar a escrita em
diversos contextos, sem que sejam alfabetizados. (MOTA, 2007, p. 119).

Então podemos dizer que letramento é o sentido ampliado da alfabetização, ou seja,


caracteriza hábitos de leitura e escrita. Isso acontece quando a pessoa entra no mundo da
leitura e escrita pelo processo ensino/aprendizagem por meio de metodologias complexas.
Porém, a pessoa deve ter o hábito de envolver-se em atividades e situações diversas de leitura
e escrita. Isto é, para ser considerada uma pessoa letrada, é necessário que se aproprie do
hábito de ler, assim, convivendo assiduamente com a leitura, apropriar-se-á do hábito de
escrever.
Em fim, entendemos que letramento compreende, além da aprendizagem das técnicas
para a alfabetização, também a apropriação do convívio e hábito constante da leitura e da
escrita. Vejamos algumas diferenças entre alfabetização e letramento na tabela abaixo:

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Tabela 1: Diferenças Entre Alfabetização e Letramento

Fonte: https://www.diferenca.com/alfabetizacao-e-letramento/

Sendo assim, a pessoa letrada possui a capacidade de se orientar e se informar através


de textos jornalísticos (jornais e revistas), entender e seguir receitas, produzir discursos,
interpretar objetiva e subjetivamente as múltiplas formas textuais, entre outros.
Ser uma pessoa alfabetizada não significa ser uma pessoa letrada. Ou seja, uma pessoa
letrada pode realizar atividades em seu cotidiano, como pegar um transporte público, sem que
ele seja alfabetizado.
Cabe lembrar que “A aquisição da leitura é fundamental para o progresso de uma
cultura. A aprendizagem da leitura tem como base o reconhecimento de que os símbolos
(letras/grafemas) representam unidades, que, por sua vez, formam palavras no sistema de
escrita”. (MENDES e BRUNONI, 2015, p. 15). Ou seja, a leitura e a escrita são
importantíssimas e necessárias para o processo de alfabetização e letramento ou vice versa.
Podemos definir o processo da leitura de diversas maneiras. Sua definição vai
depender do enfoque dado, que pode ser: linguístico, psicológico, social, entre outros, o que
acaba dando a ideia de generalidade. No entanto, aqui vamos apresentar de forma resumida a
definição de leitura a partir do ponto de vista legal, vejamos:

A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de


construção do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a
língua: características do gênero, do portador, do sistema de escrita, etc.
(Parâmetros Curriculares Nacionais, 2001, p. 53).

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E o que podemos dizer sobre a escrita? Consideramos a escrita uma tecnologia que foi
criada e desenvolvida historicamente pelo ser humano. De forma superficial podemos dizer
que a escrita mundialmente possui como principal característica: é uma marca sobre algum
suporte – papel, tela, madeira, pedra, tecido etc. Apesar de ser habitual atribuirmos à escrita a
função primeira de registrar informações, é inegável sua importância na socialização de
informações no processo de construção do saber. Mas qual o sentido da aprendizagem da
escrita?

Aprender a escrita somente tem sentido se implicar a inclusão das pessoas no


mundo da escrita, ampliando sua inserção política e participação social.
Toma-se por base o modo como os processos de escolarização e de
alfabetização são concebidos por Paulo Freire - como ato político e prática
de liberdade. Nosso país, vale lembrar, tem apresentado muitas dificuldades
para efetivar esses processos de forma a transformar a condição de cidadania
da população brasileira como um todo. (GOULART, 2014, P. 37-38).

Cabe dizer sobre o avanço acelerado das novas tecnologias e as múltiplas formas de
interações humanas entre os mais variados tipos de suportes, em especial, papel e tela, e as
múltiplas linguagens – verbais, não verbais, imagéticas, etc – tal fato têm ocasionado o
surgimento de maneiras coletivas de criação e produção textual, a Wikipédia é um exemplo
que podemos destacar apesar dela possuir alguns pontos negativos.
O principal objetivo da escrita é o registro em suportes da produção textual (textos
verbais e não verbais) que servirão para concretizar o ato da leitura. A escrita possui uma
diversidade de instrumentos e suportes utilizados para dar concretude ao registro das marcas
(letras, palavras, símbolos, imagens etc). Alguns estudiosos consideram que a escrita possui
uma característica especial, sua durabilidade, dando-a certa importância, visto que a “fala”
possui certa volatilidade. O que determina essa durabilidade à escrita seriam seus
instrumentos, suportes, maneiras de como ela circula, e ainda a função comunicativa que
possui.

CONCLUSÃO

Entendemos que na sala de aula, o educador deva dar mais valor aos conhecimentos
prévios dos estudantes em relação a leitura e a escrita aprendidos no cotidiano social, para
alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando. O educador, ao executar atividades que envolvam

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os usos da leitura e escrita que ainda não fazem parte do cotidiano social do estudante, pode
aos poucos introduzir práticas sociais de letramento de maneira que os estudantes não só
aprendam, mas também compreendam a função e importância da leitura e da escrita no
contexto dinâmico da sociedade contemporânea, em especial, no contexto escolar.
Assim, aprender a ler e escrever por meio de práticas sociais de letramento pode
facilitar a produção de novos conhecimentos, favorecendo as competências e habilidades do
estudante em relação a interpretação das diferentes formas textuais que circulam na dinâmica
social e em relação a criação e produção de novos textos.
Cabe à escola, onde se desenvolve o processo da educação formal, vista como lugar de
formação do indivíduo e espaço de socialização e de circulação das ideologias, promover
possibilidades para os estudantes exercitarem e exercerem a leitura, escrita, compreensão e
entendimento da realidade, proporcionando-lhe competências e habilidades para utilizar-se da
palavra falada ou escrita uns dos outros num exercício mútuo de interpretação num mundo
letrado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3. ed. Brasília: MEC, 2001.

GOULART, Cecília M. A. O conceito de letramento em questão: por uma perspectiva discursiva da


alfabetização. Bakhtiniana, São Paulo, p. 37-38. 2014.

MENDES, E.C.C.S. E BRUNONI, D. Competência em leitura: interface entre contextos psicossocial,


familiar e escolar. São Paulo: Editora: Mackenzie, 2015. Saberes em tese collection, vol. 11, 84 p. ISBN: 978-
85-8293-724-2.

MOTA, Márcia Elia da. Algumas considerações sobre o letramento e o desenvolvimento metalinguístico e
suas implicações educacionais. Estudos e pesquisas em psicologia, UERJ, RJ, Ano 7. Nº 3. 2007.

ZACCUR, Edwiges. Alfabetização: falsas questões em meio a pistas quentes e frias. In: Saberes cotidianos
em diálogo. GARCIA, Regina Leite e ESTEBAN, Maria Teresa e SERPA, Andréa (Orgs.). 1ª Ed. - Petrópolis,
RJ. De Petrus; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2015.

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