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Sumário
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 2
CAPÍTULO 1 – O QUE É DISCALCULIA? ...................................................................................... 3
CAPÍTULO 2 – DISCALCULIA: A DIFICULDADE EM LIDAR COM OS NÚMEROS .............. 6
CAPÍTULO 3 – O RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO .......................................................... 10
CAPÍTULO 4 – DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM: avaliação contínua e interdisciplinar.
............................................................................................................................................................... 14
CAPÍTULO 5 –O USO DE JOGOS MATEMÁTICOS NO TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS
DE APRENDIZAGEM......................................................................................................................... 19
CAPÍTULO 6 – DISCALCULIA: uma abordagem à luz da educação matemática ............. 24
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 28
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................... 29
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INTRODUÇÃO

As habilidades matemáticas, como somar, subtrair, dividir, multiplicar, resolver


problemas relacionados à lógica, calcular porcentagens, entre outras, são
solicitadas nos indivíduos não só na escola, mas no cotidiano, ao longo de toda
a vida social. Essas habilidades, porém, não estão desenvolvidas em todas as
pessoas. Em alguns casos, se trata de uma questão de alfabetização e
letramento, em outros, no entanto, pode se tratar de um distúrbio de
aprendizagem: a discalculia.
Na atualidade, cada vez mais estudantes têm apresentado problemas de
aprendizagem na área de matemática, e em muitos casos, constata-se que esse
problema tem origem neurológica. No presente estudo, iremos investigar quais
são as principais dificuldades escolares em relação à matemática e quando elas
estão relacionadas à discalculia.
Primeiramente, iremos descrever esse distúrbio, quais suas características e
seus sintomas e quando procurar ajuda de profissionais para solicitar
diagnóstico. Em seguida, iremos explicar como são as intervenções que são
feitas pelos profissionais para tornar a vida do discálculo mais funcional em
relação às operações lógicas e matemáticas.
Nos nossos estudos, iremos entender como funciona a parte neurológica e
cognitiva de um indivíduo com discalculia e o que a escola e a família devem
fazer para ajudar na superação do distúrbio. Para isso, apresentaremos
atividades e práticas que podem ajudar o aluno com discalculia. Essas práticas
incluem jogos e interações sociais que simulam o uso dos conhecimentos
necessários para se usar no dia-a-dia.
Por fim, é interessante pensarmos como as aulas de matemática estão sendo
repensadas não só para atender as crianças que têm distúrbios de
aprendizagem, como a discalculia, mas também as que possuem outras
dificuldades. Além disso, as aulas estão se tornando mais focadas no letramento
e no uso social dos cálculos matemáticos, o que serve não só para sanar alguns
problemas de aprendizagem, mas para preveni-los.
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CAPÍTULO 1 – O QUE É DISCALCULIA?

A Discalculia é um distúrbio de aprendizagem que está presente em várias


crianças, mas ainda tem diagnóstico tardio. Ela é notada no período escolar da
alfabetização. O professor percebe que o aluno tem dificuldades em aprender
conceitos relacionados aos números, operações lógicas e similares. Discalculia
é, portanto, um distúrbio de aprendizagem relacionado à matemática. Neste
capítulo, iremos aprender o que é discalculia e quais as principais características.
A discalculia é bastante comum e os estudos sobre ela têm avançado e se
ampliado recentemente. Embora seja notada na escola, não se restringe a ela.
Esse distúrbio afeta o aluno em suas atividades cotidianas, principalmente as
que envolvem operações numéricas como: horários, tarefas sequenciais, noções
de espaço, entre outras coisas. Mesmo sendo bastante extenso o
comprometimento da rotina, também são muitas as estratégias que podemos
ensinar ao aluno com discalculia para superar esses problemas (PIMENTA,
2017).
A discalculia é uma dificuldade de origem neurológica que ainda vem sendo
estudada e não tem, portanto, uma causa comprovada cientificamente. Isso
significa que embora existam propostas diagnósticas entre especialistas, ainda
não existem testes universais e padronizados que permitam um diagnóstico mais
fechado.
Na prática diária de superação, a participação da família é muito importante. Ela
precisa assumir a condição do distúrbio, informar-se sobre ele e ajudar a criança
com as estratégias para lidar com o problema. O distúrbio não tem uma cura,
então essa criança irá lidar com ele a vida toda, porém, ela pode viver uma vida
funcional se contar com auxílio e tratamento adequados.
Esse distúrbio afeta também a memória. O aluno não consegue lembrar com
clareza e coerência fatos com características numéricas, como datas, horas,
ordem de eventos. Eles compreendem a lógica por trás da matemática, mas não
conseguem aplicar esse entendimento de forma prática. Até a idade acaba
sendo algo muito difícil de se lembrar ou calcular (PIMENTA, 2017).
Assim como em outros distúrbios, o grau de comprometimento da discalculia irá
variar de aluno para aluno. Como já dissemos, tudo depende da identificação
precoce e efetiva dos sintomas e das intervenções adequadas, vejamos quais
são esses sintomas (PIMENTA, 2017):

 Ignora números e tem dificuldades em contar objetos e estabelecer ordem


lógica;
 Não conseguem identificar quantidades e dimensões de objetos;
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 Tem dificuldade de reconhecer símbolos numéricos.

Esses sinais aparecem antes da idade escolar, percebe-se a dificuldade que a


criança tem em contar, em sequenciar, em organizar por ordem numérica, em
entender a idade, em se localizar espacialmente se isso envolver números.
Conforme essa criança cresce e aprende, as dificuldades com questões
matemáticas aumentam. Na escola, ela irá apresentar então, problemas que
chamarão atenção para uma intervenção, tais como:

 Identificar os números e as quantidades que eles representam;

 Problemas em entender as quatro operações básicas: soma, subtração,


multiplicação e divisão;

 Apresenta formas de contar rudimentares, como os dedos, enquanto os


colegas avançam para as operações mentais;

 Tem dificuldades com volume, massa, quantidade, grupos e subgrupos,


noções de maior e menor, entre outras operações mentais.

Conforme avançam na vida escolar, os alunos com discalculia podem apresentar


dificuldades com cálculos mais complexos como frações e medidas. Na parte de
educação física, eles têm dificuldades em acompanhar os jogos, em entender
regras e a contagem de pontos. Também aparece a dificuldade com valores
financeiros e em lidar com dinheiro.
As dificuldades com a matemática financeira acabam por se estender pela vida
adulta e é preciso que se crie estratégias para lidar com elas. O adulto com
discalculia também pode apresentar dificuldade em ler gráficos, planilhas,
tabelas, calendários, agendas, cronogramas. Isso pode afetar as tarefas do
cotidiano e as relações sociais se não for feita uma intervenção efetiva.
Assim como na dislexia, o diagnóstico da discalculia é feito por uma equipe
multidisciplinar (pediatra, neurologista, psicólogo, psicopedagogo,
neuropsicólogo), assim como o tratamento e as intervenções. A participação da
escola nesse tratamento é fundamental já que é no contexto escolar que
aparecem as maiores dificuldades de aprendizagem. Com o apoio adequado, o
aluno com discalculia pode superar suas dificuldades e ter uma vida escolar
plena.
Para que o aluno possa ser ajudado é preciso que primeiro se conheça as
dificuldades mais imediatas, por isso, o professor deve avaliar a condição real
do aluno em relação à matéria. Em seguida, o professor poderá traçar metas e
estratégias para alcançá-las. Entre as estratégias para lidar com a discalculia
podemos citar:
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 Inserir jogos matemáticos nas aulas;

 Permitir uso de calculadora e tabela tabuada;

 Ser paciente e prestar atenção nas dificuldades que o aluno apresentar;

 Usar materiais como: caderno quadriculado, material dourado, blocos


lógicos, entre outros;

 Usar materiais concretos para solucionar problemas de matemática;

 Adaptar as provas e outras avaliações;

 Usar o máximo que conseguir os recursos tecnológicos.

O mais importante ao ensinar um aluno com distúrbios de aprendizagem é a


dedicação a este aluno. O professor precisa conhecer as dificuldades, traçar
objetivos práticos e concretos, e estar sempre motivando o aluno a continuar seu
caminho de aprendizado. No decorrer de nossos estudos conheceremos mais
sobre esse distúrbio e sobre as estratégias para lidar com ele.
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CAPÍTULO 2 – DISCALCULIA: A DIFICULDADE EM LIDAR COM OS


NÚMEROS

Lidar com as operações lógico-matemáticas não é uma tarefa fácil, nem para
crianças, nem para adultos. As dificuldades podem surgir ainda nos primeiros
anos de vida, quando a criança demonstra desinteresse em relação aos números
ou cálculos, como quantidade, seriação, blocos lógicos, etc. Nem sempre o
desinteresse se torna dificuldade e nem sempre a dificuldade se revela um
distúrbio. Então como poderemos entender as diferenças entre esses aspectos?
É o que explicaremos a seguir.
Não se sabe exatamente qual a causa da discalculia, porém, é de origem
neurobiológica, assim como a dislexia. O funcionamento de uma área do cérebro
é diferente, possivelmente a área relacionada aos conceitos matemáticos. Existe
a hipótese de uma causa genética, já que existem muitos casos em que pais e
filhos manifestam o distúrbio.
A origem também pode estar relacionada ao desenvolvimento cerebral. “Estudos
de imagem cerebral mostraram algumas diferenças na função e estrutura
cerebral de indivíduos com discalculia. As diferenças estão na área de superfície,
espessura e volume de certas partes do cérebro (PIMENTA, 2017) ”. Partes do
cérebro ligadas à memória e ao planejamento também parecem ser afetadas.
Também existe a possibilidade de influência do ambiente. Pode ocorrer em
bebês prematuros, que nascem com baixo peso ou com Síndrome do Alcoolismo
Fetal (SAF). Lesões cerebrais também podem resultar em discalculia, havendo
a possibilidade então de ela ser adquirida. O fato é que não está ainda concluído
nenhum estudo que comprove que esse funcionamento cerebral seja originado
na genética ou no ambiente (PIMENTA, 2017).
Mesmo tendo uma origem comum, ou sinais parecidos, as dificuldades em
relação aos números sofrem variações, no próprio indivíduo ou entre indivíduos.
Assim, essas dificuldades podem ter duas classificações (BASTOS, 2016), que
veremos em seguida.

• Acalculia
O prefixo A pressupõe negação, ou seja, acalculia, de uma forma geral, significa
impossibilidade de calcular. Essa dificuldade tem origem em algum
comprometimento adquirido após lesão cerebral, sendo que o indivíduo já
possuía habilidades desenvolvidas. Então, se trata de uma perda de habilidades,
após acidente neurológico. A Acalculia, segundo Hecaen et. al. (1961, apud
BASTOS, 2016), se divide em:

 Alexia e grafia para números: compromete o hemisfério cerebral esquerdo


causando dificuldade para lidar com quantidades;
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 Acalculia espacial: compromete o hemisfério cerebral direito dificultando


a orientação espacial e os cálculos relacionados a esta;

 Anaritmetia: falta de habilidades com operações aritméticas, resultado de


um comprometimento dos dois hemisférios cerebrais.
A acalculia é distinguida de duas formas: a primária e a secundária. A primária é
caracterizada por uma dificuldade nas operações matemáticas, no raciocínio
envolvido nelas. A secundária está relacionada à orientação espacial e grafia de
números. Esse distúrbio, portanto, está relacionado às dificuldades com
operações lógico-matemáticas, assim como a discalculia, mas sua causa é uma
lesão, que acontece durante a vida do indivíduo que já havia adquirido
habilidades matemáticas. Sendo assim, ela pode ser contornada e até curada.

• Discalculia do Desenvolvimento (DD)

A discalculia ainda não tem a quantidade de estudos e informações de outros


distúrbios de aprendizagem como a Dislexia ou o TDAH (Transtorno de déficit
de atenção com hiperatividade), portanto, ainda é difícil identificar sintomas, listar
características e principalmente construir intervenções. Isso dificulta bastante o
trabalho do professor tanto para identificar o distúrbio, como para elaborar as
aulas que atendam ao mesmo.
É consenso que a discalculia é de origem neurológica, ou seja, existe alguma
característica no funcionamento do cérebro que prejudica os cálculos lógico-
matemáticos. Ela acomete ente 5 e 7% dos alunos do ensino regular, no mundo,
e se dá tanto em meninos como meninas. Geralmente aparece em comorbidade
com outros distúrbios, principalmente a dislexia, sendo que de forma pura só
aparece em 1% dos casos (VILLAR, 2017). Quanto à classificação científica,
segundo CID 10 - Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (apud VILLAR, 2017, p.46) temos:

O CID 10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e


Problemas Relacionados à Saúde) descreve que Discalculia é o:
transtorno que implica uma alteração específica de habilidade
em aritmética, não atribuível exclusivamente a um retardo
mental global ou à escolarização inadequada. O déficit concerne
ao domínio de habilidades computacionais básicas de adição,
subtração, multiplicação e divisão mais do que as habilidades
matemáticas abstratas envolvidas na álgebra, trigonometria,
geometria ou cálculo.

Para o diagnóstico, o CID-10, propõe os seguintes critérios: medida da


capacidade matemática através de testes padronizados; a inteligência medida
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pelo teste de Q.I (quociente de inteligência) e escolaridade do indivíduo. Outro


manual de classificação de problemas mentais, o DSM-V (Diagnostic and
Statistical Manual), desenvolvido pela Associação Psiquiátrica Americana –
APA,

Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um


padrão de dificuldades caracterizado por problemas no
processamento de informações numéricas, aprendizagem de
fatos aritméticos e realização de cálculos precisos ou fluentes.
Se o termo discalculia for usado para especificar esse padrão
particular de dificuldades matemáticas, é importante também
especificar quaisquer dificuldades adicionais que estejam
presentes, tais como dificuldades no raciocínio matemático ou
na precisão na leitura de palavras. (DSM-V, 2014, p. 67).

Assim, a APA define a discalculia como um distúrbio relacionado a uma


inabilidade aritmética, focando mais em operações mentais. Alguns autores
fazem ressalvas a isso, já que os prejuízos do distúrbio envolvem também
habilidades sociais. Além disso, a discalculia nem sempre é completa, ou seja,
nem sempre o sujeito tem comprometimento de todas as habilidades
relacionadas à matemática. Pensando nisso, Kosc (1974, apud, PIMENTEL &
LARA, 2020, p.6), classifica a discalculia em seis tipos:

 Discalculia verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas,


os números, os termos e os símbolos;

 Discalculia practognóstica: dificuldades para enumerar, comparar,


manipular objetos reais ou em imagens;

 Discalculia léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;

 Discalculia gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos;

 Discalculia ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e na


compreensão de conceitos matemáticos;

 Discalculia operacional: dificuldade na execução de operações e


cálculos numéricos.
Os estudos sobre discalculia, como já dissemos, estão avançando, mas ainda
são escassos, por isso, muitos pesquisadores têm se aplicado a delinear as
características do distúrbio, facilitando assim o diagnóstico. Farrel (2008, apud
Villar, 2017, p.48) divide a discalculia em:

a) Discalculia Espacial: dificuldade em avaliação e organização viso espacial;


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b) Anaritmetria: perturbação na utilização de procedimentos aritméticos, como


confusões entre operações escritas como adição, subtração, divisão e
multiplicação.
c) Discalculia Léxica: dificuldade em compreender a linguagem matemática (e
seus sinônimos) com a simbologia, como exemplo, subtrair, retirar, deduzir,
menos e “- ”
d) Discalculia Gráfica: dificuldade em escrever os símbolos e dígitos que são
indispensáveis para a realização do cálculo.
e) Discalculia Practográfica: deficiência na capacidade de manipular objetos
concretos ou ilustrados, ou seja, pode apresentar dificuldade em comparar dois
objetos em relação ao tamanho e peso.
Embora essas classificações ainda não sejam um consenso, podem ajudar a
entender as dificuldades que o aluno tem em relação à matemática e se estas
dificuldades podem estar relacionadas a um distúrbio neurológico. Por fim,
Campos (2014, p. 26, apud Villar, 2017, p. 49), divide a discalculia em três
classes:

 Natural: a criança ainda não foi exposta a todo processo de contagem,


logo não adquire conhecimentos suficientes para compreender o
raciocínio matemático;

 Verdadeira: não apresenta evolução favorável no raciocínio


lógicomatemático, mesmo diante de diversas intervenções pedagógicas;

 Secundária: sua dificuldade na aprendizagem matemática está


associada a outras comorbidades, como por exemplo, a dislexia.
A discalculia pode aparecer junto com a dislexia, o que reforça ainda mais a
necessidade de um diagnóstico adequado e intervenção efetiva. Não se trata de
um simples problema com a matemática, a discalculia vai além disso. Portanto,
é importante que o diagnóstico seja o mais preciso possível para se elaborar
uma intervenção adequada.
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CAPÍTULO 3 – O RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO

O desenvolvimento do raciocínio lógico inicia-se bem antes de a criança passar


pelo processo de alfabetização nos primeiros anos início do Ensino
Fundamental. Na faixa etapa da Educação Infantil já são trabalhados alguns
conceitos de número e operações lógicas. Esse trabalho deve ser muito
concreto, baseado no manuseio de materiais, permitindo que as crianças se
familiarizem mais facilmente com os conceitos matemáticos. Se esse trabalho
for realizado adequadamente, a relação da criança não só será menos
traumática, como se tornará amigável. Neste capítulo, iremos descrever o início
da relação da criança com a matemática e o desenvolvimento do conceito de
número e do raciocínio lógico-matemático.
A Matemática pode ser considerada uma linguagem simbólica que expressa
relações espaciais e de quantidade. Sua função, assim como a da linguagem, é
desenvolver o pensamento. Os números são instrumentos usados para se
registrar ou comunicar ideias e relações de quantidade (SOMERA, 2013).
O biólogo suíço Jean Piaget (1964), importante teórico usado na educação
infantil, considera um erro supor que a criança apenas adquira a noção de
número quando ensinada. Ele afirma que a relação da criança com números se
inicia muito cedo, nas relações com objetos, brinquedos e com o
desenvolvimento da linguagem. A escola, segundo ele, precisa tomar cuidado
para não alfabetizar a criança muito precocemente (nem em letras, nem em
números) para não prejudicar a aquisição do letramento, tornando o processo
excessivamente mecânico.
As primeiras interações da criança com os números são bastantes lúdicas e
naturais. À medida que brinca com formas, com quebra-cabeças e com caixas
que cabem dentro de caixas, a criança adquire uma noção do conceito pré-
simbólico de tamanho, de número e de forma. Ao enfiar contas em um barbante
ou colar figuras, adquire a noção de sequência e de ordem. E quando utiliza as
palavras “não cabe mais” e “acabou”, vai adquirindo a noção de quantidade
(SOMERA, 2013). Assim, importantes ações lógicas são construídas
mentalmente nessas relações com os objetos, tais como: Analisar; Sintetizar;
Comparar; Transformar; Relacionar; Generalizar/Implicar; Classificar; Criar
e Ordenar.

• Etapas do Raciocínio Lógico-Matemático


O raciocínio lógico-matemático envolve uma série de operações mentais e
habilidades que permitem ao indivíduo não só exercer um pensamento abstrato,
refletindo sobre situações e teorias complexas, resolvendo problemas e
equações, como fazer uso pleno da matemática em nível social. Para que a
criança possa desenvolver esse raciocínio e essas habilidades, ela deve passar
por algumas fases importantes (SOMERA, 2013):
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 Identificação: a criança irá manipular os objetos, reconhecendo suas


características como cor, tamanho e forma; desse modo, estará
percebendo os atributos inerentes ao material. Nessa etapa, é importante
que entre em contato com um material de cada vez;

 Relação: após identificar as características dos objetos a criança


começará a fazer comparações e estabelecer relações entre os mesmos;

 Classificação: Nesta etapa as crianças já têm o conceito de igualdade.


Poderão assim, classificar e nomear os atributos semelhantes e agrupá-
los. Essa classificação de acordo com uma propriedade lhes dará a ideia
de pertinência, isto é, todos os elementos com aqueles mesmos atributos
pertencem a um só conjunto. Seres e atributos podem ser classificados
segundo uma hierarquia de valores, ou sua utilidade, denominação, etc.

A fase de classificação envolve muitas ações e muitas formas de raciocinar,


assim ela também apresenta algumas etapas, que podem ser descritas assim
(SOMERA, 2013):

- Aos 4 anos: As crianças já classificam por identidade os objetos


equivalentes pela semelhança. Depois, trabalham com mais de dois
objetos, “este é igual a este” e “aquele é igual a estes dois”;

- Aos 5 anos: São capazes de certa generalização e agrupam maior


número de objetos, procurando o atributo que os torna equivalentes. Já
conseguem formar subgrupos;

- Aos 6 anos: Estabelecem relações, separam subgrupos e sabem que


são partes de um grupo maior. Já definem atributos pelos quais o objeto
foi classificado.

Nesta etapa, crianças com discalculia já começam a apresentar dificuldades.


Elas não conseguem estabelecer relações a ponto de classificar os objetos,
tampouco formar subgrupos e compará-los. Continuando as etapas de
desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, após a etapa da classificação,
temos (SOMERA, 2013):

 Seriação (ordenação): a criança precisa estabelecer as diferenças para


saber seriar o que é igual (estabelecer uma sequência, organizar uma
fileira). Nesta etapa, o professor pode trabalhar com todos os conceitos
matemáticos: grande e pequeno, grosso e fino, largo e estreito, alto e
baixo. O professor pode fazer diversas atividades com materiais como:
grãos, pedaços de madeira, contas, blocos, etc. É importante que a
criança trabalhe concretamente porque, além de verbalizar, estará lidando
objetivamente com a linguagem matemática;
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 Sintetização (composição): A criança consegue estruturar seu


conhecimento e fazer uma análise dos objetos. Ainda não usa o conceito
de tridimensionalidade, mas já tem noção de tamanho, de distância e sabe
que pode mudar os elementos diferentes, formando novos conjuntos;

 Transformação: a criança percebe que pode fazer mudanças,


substituições, mas não tem condições ainda de perceber a constância,
pois não tem a noção de reversibilidade, ou seja, a noção de que, se um
elemento muda de aparência, não significa que ele seja outra coisa.
Exemplo: ao dar à criança um pedaço de massinha em cilindro e uma
mesma quantidade em forma de bola, a criança não conseguirá perceber
que ambas têm a mesma quantidade embora estejam em formas
diferentes. Tais alterações somente serão percebidas à medida da
experiência, na medida em que faz e desfaz;

 Implicação (generalização): Nesta etapa, a criança já adquiriu uma série


de conceitos e já consegue estendê-los para outras áreas de sua vida.
Implicação significa resultado final de uma ação, é a dedução feita a partir
da observação dos elementos expostos. Sua compreensão depende da
noção que a criança consegue ter inicialmente a respeito de causa e
efeito. Exemplo: “e eu caio de uma escada, posso quebrar o braço”. E
também da noção de antes e depois. A cada novo conceito é necessário
que a criança integre os já conhecidos. Por isso, cada etapa deve
respeitar a sequência estabelecida;

 Equivalência: A noção de equivalência é fundamental para que a criança


possa comparar dois elementos. Tanto as noções de volume como de
quantidade deverão ser trabalhadas concretamente. Materiais a serem
usados: líquidos, grãos em recipientes como caixas, copos, etc.

• A Construção do Conceito de Número pela Criança


A aprendizagem escolar não parte nunca do zero: ela é sempre precedida pelas
ideias e hipóteses que a criança já construiu acerca dos objetos que busca
conhecer. A importância dos estímulos provenientes do meio ambiente para a
construção de conceitos matemáticos é muito grande. Esse ambiente precisa
oferecer: cores, formas, densidades, texturas e tamanhos para os objetos. Estes,
são percebidos pela criança pela sua observação e vivência das seguintes
experiências (SOMERA, 2013):

- Manipulação de objetos, separando-os ou agrupando-os segundo seus


atributos;
- Nomear objetos e seus atributos;
- Seriar objetos (ordenar por tamanhos e quantidades);
- Classificar objetos (os de papel, os de madeira, os de metal, os de vidro).
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Usufruir de um ambiente que estimule a experiência matemática e ter vivência


concretas, favorecem a compreensão conceitual de números, ou seja, que estes
representam quantidades concretas. A construção do conceito de número não
pode ser ensinada 1; é uma ideia construída internamente pela criança a partir de
relações entre quantidades. Por exemplo:

- Ordenar objetos para contá-los (não precisa ordená-los espacialmente,


mas sim, mentalmente);
- Concluir que as quantidades contadas independem da disposição dos
objetos e estão dentro do todo que os integra (SOMERA, 2013, p.82).
Favorecer a aquisição do conceito de número significa proporcionar as situações
nas quais os alunos possam pensar raciocinar, fazer quantificações (quantos
elementos têm uma coleção?), comparações (esse é maior que, é menor que, é
igual a) e operações simples entre as quantidades (adição, subtração). Assim,
durante a primeira infância, um processo que já é natural, se torna efetivo, com
o auxílio da escola e seus profissionais.

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Antigos educadores acreditavam que os exercícios de cobrir pontinhos no formato dos números
ensinavam a criança os numerais e seus conceitos. Nota de Somera, 2013.
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CAPÍTULO 4 – DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM: avaliação contínua e


interdisciplinar.

No cotidiano escolar, podemos notar que muitas crianças têm problemas para
aprender, para se adaptar, para se sentirem integradas e acolhidas. Atualmente,
a escola tem tentado ensinar, de modo justo, a todos os alunos que recebe.
Porém, com a grande diversidade do seu público, essa tarefa tem sido bastante
trabalhosa, já que além de atender muitos alunos, estes também apresentam
ritmos de aprendizagem diferenciados.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 afirma que todas as crianças
entre 4 e 17 anos devem estar matriculadas e frequentando a escola. Sendo
assim, existe uma grande quantidade e variedade de alunos que a escola
recebe, os educadores então, identificam dificuldades e problemas de vários
níveis que interferem no progresso de alguns alunos. Antes de se encaminhar
para uma intervenção, o educador precisa ter algumas informações sobre essas
dificuldades, então, é importante que diferenciemos os conceitos antes de nos
aprofundarmos mais especificamente nos distúrbios. Vamos ver as diferenças
conceituais entre dificuldade, distúrbio e deficiência (BRASIL, 2003):

• Dificuldade de aprendizagem: inadequação de rendimento, sem déficit


cognitivo, prejuízo sensorial, mental ou físico. Geralmente têm problemas
de atenção, baixa autoestima, dificuldades de memória, problemas
linguísticos, atrasos motores;

• Distúrbio de aprendizagem: são caracterizados por problemas


neurológicos. O cérebro funciona de um modo que perturba a relação com
a oralidade, a escrita, o raciocínio lógico ou outros fatores. Exemplos:
dislalia, dislexia, disgrafia;

• Deficiência de aprendizagem (deficiência mental): incapacidade


intelectual acentuada, geralmente com algum grau de retardo mental e
comprometimento cognitivo, motor e social; isso causa um atraso no
aprendizado e desenvolvimento do aluno.

Visto isso, podemos entender que existem problemas que podem ser resolvidos
dentro da escola, já que estão ao alcance desta, porém, existem outros que
fogem da responsabilidade da mesma e precisam de uma intervenção que
envolva não só um diagnóstico, mas o tratamento de uma equipe multidisciplinar.
Essa possibilidade de tratamento, porém, é algo bem recente. Até o século XX,
muitas crianças com dificuldades simples de aprendizado, acabaram
estigmatizadas e ridicularizadas por falta de conhecimento científico sobre os
distúrbios de aprendizagem. A escola era padronizada de tal forma que alunos
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que não se adaptassem aos métodos tradicionais de ensino acabavam


reprovados e em algum tempo abandonavam os estudos.
A partir de 1980, a Psicopedagogia começa a trabalhar com uma visão global da
aprendizagem e seus decorrentes processos. Atua desde então, frente aos
casos mais frequentes de problemas de aprendizagem, tais como: disgrafias,
discalculias, dislexias, hiperatividades, que sempre causaram estigmas aos
estudantes, considerados “incapazes para aprender” (SOMERA, 2013). Antes
de prosseguir, retomemos algumas definições:

 Transtorno: conjunto de sintomas que dificultam o aprendizado e outras


funções;

 Disfunção: comportamento que foge ao padrão esperado causado por


doenças ou condições temporárias ou não;

 Inabilidade: carência de determinada habilidade ou diferença significativa


da habilidade esperada (SOMERA, 2013).

 Síndrome: “conjunto de sinais e sintomas observáveis em vários


processos patológicos diferentes e sem causa específica” (dicionário do
Google, 2020).

Os problemas de aprendizagem englobam distúrbios, dificuldades, deficiências,


transtornos, desordens, qualquer aspecto que afete o desenvolvimento do aluno
e o que este aluno aprende. Em alguns casos, a intervenção de um profissional
capacitado que auxilie o professor a ensinar esse aluno e complemente as aulas
regulares é obrigatória. Alunos com Transtornos Globais de Desenvolvimento,
por exemplo, têm direito ao atendimento educacional especializado (AEE), no
contra turno escolar.
Ensinar é um desafio, sempre. Não existe uma única sala de aula que tenha
alunos totalmente iguais, no mesmo nível. Toda classe tem alunos com ritmos
de desenvolvimento diferentes. A escola atual recebe um público diversificado e
precisa estar atenta a essa diversidade. Essa escola, também precisa adotar
algumas estratégias para que os distúrbios de aprendizagem não prejudiquem o
rendimento de seus alunos, vejamos:

 Usar as metodologias ativas: o método tradicional de ensino não dá


conta de ensinar alunos com problemas de aprendizagem, eles precisam
que os conteúdos sejam aplicados de forma ativa, ou seja, com atividades
práticas e significativas;
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 Atentar para o aspecto individual: cada aluno precisa ser


acompanhado individualmente, pelo menos nas avaliações, com tarefas
e provas adaptadas. Por exemplo, o aluno disléxico precisa de um ledor
para sua prova. Além disso, o progresso avaliado não deve ser
comparado ao dos outros alunos;

 Usar o lúdico: a escola deve contar com as atividades lúdicas para


estimular o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos;

 Investir em tecnologias: muitos programas de computador têm sido


desenvolvidos para auxiliar pessoas com problemas de aprendizagem.
Também há aplicativos e recursos de tecnologia de assistiva, materiais
didáticos adaptados, atividades digitalizadas, entre outros;

 Criar uma rede de apoio: através de grupos em redes sociais, a escola


pode criar uma rede de troca de informações e ideias, que envolva pais,
professores, psicopedagogos e gestores.

As tecnologias digitais muitas vezes vistas como inimigas pela escola, mas o fato
é que elas podem se tornar uma ferramenta bastante útil nas aulas,
principalmente auxiliando alunos com dificuldades. Existem muitas formas de o
aluno aprender através do computador, vejamos algumas delas:

 Programas tutoriais: existem muitos vídeos na internet ensinando a


fazer todo tipo de coisas, como cozinhar, consertar objetos, fazer
artesanato. Com os conteúdos acadêmicos não é diferente, existem
muitos tutoriais ensinando as matérias que são aprendidas na escola. A
vantagem dos tutoriais é o fato de o computador poder apresentar o
material com outras características que não são permitidas no papel como
a animação, sons e a possibilidade de interação;

 Programa de exercício e prática: os programas de exercício e prática


são utilizados para revisar o material visto em classe principalmente o que
envolve memorização e repetição, como matemática e vocabulário. A
vantagem desse tipo de programa é o fato do professor dispor de uma
infinidade de exercícios que o aprendiz pode resolver de acordo com o
seu grau de conhecimento e interesse;

 Jogos educacionais: é um recurso que une o aspecto lúdico e a


aprendizagem, ou seja, através dos jogos eletrônicos didáticos, o aluno
aprende e se diverte.

Quanto mais cedo a escola perceber os sinais de um distúrbio, sinais estes que
já descrevemos aqui, para cada um deles, mais cedo a criança pode ser
17

encaminhada para o tratamento. Portanto, é na Educação Infantil que se


identifica alguns desvios dos padrões de desenvolvimento físico, cognitivo e
psíquico. Se a escola não distingue em seus alunos suas dificuldades e o ajuda
a superá-las, esse aluno vai se sentir inseguro, ansioso e desmotivado com o
aprendizado.
Por esse motivo, distúrbios de aprendizagem sempre causaram evasão escolar.
O aluno não se adapta aos modelos engessados e tradicionais, e acaba não se
sentindo adequado ao ambiente e à rotina da escola. Desde a LDB de 1996 (Lei
de Diretrizes e Bases da Educação) a escola recebe uma grande quantidade de
alunos e muitos são de inclusão, por isso, a educação tem tentado se atualizar
e se adaptar à diversidade escolar e também ao ensino de crianças com
problemas de aprendizagem.

• Avaliação Formativa e Cumulativa


Assim, a escola atual tenta conhecer e se informar sobre os distúrbios de
aprendizagem, tenta conhecer ao máximo seu público, com sua cultura, seu
grupo social e suas peculiaridades, e tenta adaptar seus métodos a uma nova
geração, que nasceu em meio à tecnologia digital. O papel do professor nesse
cenário é muito importante, pois é ele quem irá ter o primeiro contato com as
dificuldades de aprendizagem dos alunos.
Ao identificar que o aluno tem alguma dificuldade, o professor pode informar a
gestão que comunicará aos pais a necessidade de procurar uma avaliação
psicopedagógica. Mas a responsabilidade do professor não para por aí, ele
precisa adotar algumas estratégias em relação a esses alunos, tais como:

 Prestar atenção diária a esses alunos, atentando-se às suas dificuldades,


auxiliando-os sempre que possível;

 Adotar um método flexível de ensino, que valorize as habilidades dos


alunos;

 Adotar avaliações adaptadas aos alunos com distúrbios e outras


dificuldades;

 Estar sempre atualizado sobre atividades e práticas pedagógicas


adequadas para os distúrbios de aprendizagem;

 Não estigmatizar, nem humilhar, nem repreender excessivamente alunos


com dificuldades, devemos lembrar que a criança não tem culpa do
distúrbio;

 Manter o psicopedagogo e a família informados sobre o rendimento do


aluno;
18

 Acolher e motivar o aluno com dificuldade, mostrando a ele que pode


ensiná-lo e que ele é capaz de aprender.

Com essas estratégias o professor irá conseguir fazer uma avaliação: formativa
(que contempla todo o progresso realizado pelo aluno ao longo do
ano/semestre/bimestre) e cumulativa, que consegue identificar as etapas do
progresso realizado pelo aluno na aquisição dos conteúdos, no desenvolvimento
de habilidades e de competências, etc. Também é importante que todos os
professores se envolvam no planejamento das avaliações, para que estas sejam
interdisciplinares.
Portanto, existem múltiplas possibilidades de a escola e o professor
diversificarem seus métodos e suas práticas para conseguir ensinar aos alunos
que têm problemas de aprendizagem, basta estarem atentos e informados e não
desistir desses alunos. Uma das ferramentas mais usadas para auxiliar alunos
com dificuldades de aprendizagem é a atividade lúdica. Ela inclui, dentre outras
práticas, os jogos e brincadeiras, vejamos a seguir como esse tipo de atividade
pode ajudar, principalmente ao aluno com discalculia.
19

CAPÍTULO 5 –O USO DE JOGOS MATEMÁTICOS NO TRATAMENTO DOS


DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

O uso de jogos matemáticos tem se mostrado cada vez mais eficaz no processo
de alfabetização e letramento, tanto de crianças, como de adultos (na EJA). Além
desse auxílio, eles também têm sido bem aproveitados no tratamento para os
distúrbios de aprendizagem, principalmente a discalculia. A seguir, iremos
descrever todos os tipos de atividades práticas que podem ser usadas no
tratamento desses distúrbios.

• Brinquedos: Sistema ESAR de classificação


Esse método foi elaborado pela psicóloga canadense Denise Garon, em 1982.
Sua sigla significa: E de exercício, S de símbolo, A de acoplagem (montagem,
encaixe) e R de regra simples. Se trata de um esquema de análise das etapas
de interação das crianças com brinquedos, brincadeiras e jogos e foi inspirado
da teoria piagetiana de desenvolvimento cognitivo.
Trata-se de um sistema para análise e classificação dos brinquedos de maneira
lógica e eficaz, que considera as dimensões educativas dos jogos e dos
brinquedos, e cujas categorias são referidas em linguagem psicopedagógica,
apresentadas numa ordem cumulativa e hierárquica (SOMERA, 2013, p.83/84).
A seguir, vamos identificar esses aspectos presentes nas brincadeiras, jogos e
brinquedos.

 Jogos Lúdicos:

♦ Jogo de exercício: jogo sensorial do tipo visual, auditivo, tátil, olfativo,


gustativo; jogo motor; jogo de manipulação;

♦ Jogo simbólico: de faz-de-conta, de representação de papéis;

♦ Jogo de construção: de montagem, de arranjo de peças, de construções


mecânicas, eletromecânicas, elétricas, científicas e artísticas;

♦ Jogos de regras simples: loto, dominó, de sequência, de circuito, de destreza,


jogo esportivo elementar, jogo estratégico elementar, jogos de azar, de
questões/resposta elementar, de vocabulário, de matemática, de teatro;

♦ Jogos de regras complexas: de reflexão, esportivo complexo, estratégia


complexa, de azar, questões/respostas complexas, vocabulário complexo,
análise matemática complexa, de montagem complexa, de representação
complexa, de cenas complexas.

 Condutas Cognitivas:
20

♦ Conduta sensório-motora: de repetição, de reconhecimento sensório-motor,


de generalização sensório-motora, de raciocínio prático;

♦ Conduta simbólica: evocação simbólica, ligações imagens/palavras,


expressão verbal, pensamento representativo;

♦ Conduta intuitiva: triagem, pareamento, discriminação das cores, de


tamanhos, de formas, de texturas, discriminação temporal, espacial,
associação de ideias, raciocínio intuitivo;

♦ Conduta operatória-concreta: classificação, seriação, correspondência de


agrupamento, relação imagens/palavras, enumeração, operações
numéricas, conservação de quantidades físicas, relações espaciais e
temporais, coordenadas simples, raciocínio concreto;

♦ Conduta operatória-formal: raciocínios hipotéticos, dedutivos, indutivos,


combinatório, sistema de representações complexas e de coordenadas
complexas.

 Habilidades Funcionais:

♦ Exploração: percepções visuais, auditivas, táteis, gustativas, olfativas;


localização visual e auditiva; preensão; deslocamento; movimento dinâmico
no espaço;

♦ Imitação: reprodução de ações, de objetos, de eventos, de papéis, de


modelos, de palavras, de sons, aplicação de regras, atenção visual e auditiva,
discriminação tátil, gustativa, olfativa, memória visual, tátil, gustativa, olfativa,
coordenação olho – mão, olho - pé, orientação espacial, orientação temporal;

♦ Performance: acuidade visual e auditiva, destreza, flexibilidade, agilidade,


resistência, força, rapidez, precisão, paciência, concentração, memória
lógica;

♦ Criação: criatividades expressivas, produtivas, inventivas.

 Atividades Sociais:

♦ Atividade individual: atividade solitária e atividade paralela;

♦ Participação coletiva: atividades associativas, competitivas, cooperativas;

♦ Participação variável: atividade solitária ou paralela; solitária associativa;


solitária competitiva; solitária cooperativa.
21

 Habilidades Linguísticas

♦ Linguagem receptiva oral: discriminação verbal, pareamento verbal,


decodificação verbal;

♦ Linguagem produtiva oral: expressão pré-verbal, reprodução verbal de sons,


nomeação verbal, sequência verbal, expressão verbal, memória fonética,
memória semântica, memória léxica, consciência da linguagem, reflexão
sobre a língua;

♦ Linguagem receptiva escrita: discriminação de letras, correspondência letra-


som, decodificação silábica, decodificação de palavras, decodificação de
frases e de mensagens;

♦ Linguagem produtiva escrita: memória ortográfica, gráfica, gramatical,


sintática, expressão escrita.

 Condutas Afetivas

♦ Confiança: não diferenciação, sorriso como resposta social, apego a um


objeto transacional, angústia frente ao desconhecido;

♦ Autonomia: conhecimento do nome, do corpo, de si;

♦ Iniciativa: diferenciação de sexos, identificação parental, aprendizagem de


papéis sociais;

♦ Trabalho: curiosidade intelectual, reconhecimento social, identificação


extrafamiliar;

♦ Identidade: procura de uma personalidade, aprendizagem de formas de


aprendizagem social.

Como podemos observar, são várias as atividades, brincadeiras, jogos ou


práticas pedagógicas que podemos oferecer para a criança de modo a auxiliar
ou identificar seu desenvolvimento, seja ele físico, motor, cognitivo, emocional,
social, etc. Cada brinquedo disposto numa escola deve ter sua ficha de cadastro
correspondente ou o dossiê pedagógico, com dados fundamentais para o
esclarecimento da proposta educacional que aquele brinquedo contém e sua
relação com a educação da criança.

• Brinquedos por faixa etária


As fases de desenvolvimento apresentadas por Piaget nos ajudam a entender
as características do desenvolvimento cognitivo da criança em cada etapa de
sua vida, são elas:
22

 Período Sensório-Motor (0-2 anos): fase de imitação, de exercício dos


reflexos, a criança desenvolve a linguagem, é egocêntrica;

 Período Pré-Operacional (2-6 anos): a criança inicia o processo de


socialização e exercita o jogo simbólico, o faz-de-conta;

 Período Operacional Concreto (7-12 anos): período das operações


mentais concretas, aprende a lógica, conceitos de número, de tempo, de
reversibilidade. Existe um material de apoio ao professor, chamado “Caixa
de Piaget”, na qual encontramos provas operatórias desenvolvidas por ele
para analisar em qual período a criança se encontra;

 Período Operacional Formal (a partir dos 12 anos): início do


pensamento lógico-dedutivo, a criança começa a entender e criar
pensamentos formais, abstratos, teorias mais complexas.
Assim, para cada etapa de desenvolvimento da criança existem materiais
didáticos próprios, jogos adequados e claro, brinquedos indicados. A seguir,
vejamos quais os brinquedos ideais para cada faixa etária:

 Para as crianças de 2 a 4 anos: brinquedos ou jogos de encaixar (figuras


geométricas), empilhar (vários tamanhos), enroscar, manipular, de ligar
peças. Blocos grandes de armar, quebra-cabeças, bolas, carrinhos de
empurrar ou arrastar, conjuntos plásticos de brincar na areia, roupas de
super-heróis, personagens infantis, bichos, maquiagem, perucas, etc.;

 Para as crianças de 4 a 6 anos: jogos de ensinar a contar, a reconhecer


tamanhos e cores, blocos de armar, blocos lógicos, dominós, jogos de
correspondência numérica, de memória, quebra-cabeças (encaixes de 20
a 50 peças), roupas, sapatos, bolsas, chapéus, óculos, perucas,
maquiagem, outros adereços para dramatização, panelinhas, fogões, kit
para cozinha, vassourinhas, pás, kit para limpeza, maleta do médico,
ferramentas para consertos, bonecas, roupinhas, banheira, cadeirinha,
carrinho de passear, berço, carrinho de feira, prateleiras de mercado,
frutinhas plásticas, etc.

• “Sala dos Cantinhos Simbólicos”

Retomando a teoria piagetiana, a criança de 0 a 6 anos costuma exercitar os


jogos simbólicos, ou seja, brincar de faz-de-conta. Inspirados nessa teoria,
podemos criar “cantinhos” contendo os seguintes componentes:

 Cantinho da leitura;

 Cantinho de passear;

 Cantinho de cozinhar: fogãozinho, panelinhas, comidinhas plásticas, mamadeiras;


23

 Cantinho da feira: carrinho de feira, barracas, frutinhas e legumes plásticos;

 Cantinho do Supermercado: carrinho de supermercado, sucatas de


embalagens;

 Cantinho do banho: banheira, bonecas plásticas, roupinhas para trocar,


pentes e adereços para enfeitar os cabelos das bonecas;

 Cantinho de dormir: bonecas, caminhas, bercinhos, travesseiros, panos;

 Cantinho das profissões: cabelereira, costureira, médico, dentista,


marceneiro, sapateiro;

 Cantinho dos transportes: caminhões, blocos de madeira, carrinhos de


empurrar e de puxar;

 Cantinho do faz-de-conta/ teatros (fantasias, roupas, chapéus, espelho,


maquiagem, perucas).

• Jogos de percurso
O jogo sempre teve espaço garantido na rotina pedagógica da escola para
crianças de 3 a 10 anos de idade. No entanto, o interesse por esta atividade está
quase sempre ligado às aprendizagens mais básicas: conhecer regras e saber
respeitar a vez de jogar. Mas, participar de jogos de percurso ou mesmo
confeccionar tabuleiros para jogar, colocam para as crianças desafios que
podem ajudá-las a pensar e compreender a complexidade do sistema numérico.

O mais simples percurso, aquele em que as crianças precisam avançar casas


de acordo com os números tirados no dado, apresenta, no mínimo, o desafio da
criança recitar a série numérica, de contar e de somar, avançando de um em um.
Trilhas mais complexas levam as crianças a aprender mais sobre relações de
ordem numérica, contagem, leitura dos números e operações de soma ou
subtração. E ainda, buscar soluções, estabelecer relações, refletir, argumentar
e validar seus conhecimentos.

Como se vê, existem muitos conteúdos envolvidos, mas podem não ser,
igualmente, importantes para cada turma. Existem jogos melhores para trabalhar
com as operações, outros para apresentar a sequência numérica, etc. Os
tabuleiros e as regras podem variar de acordo com os objetivos didáticos que o
professor pretende alcançar. Portanto, cabe-lhe decidir quais são os conteúdos
significativos para a faixa etária com a qual trabalha.
24

CAPÍTULO 6 – DISCALCULIA: uma abordagem à luz da educação


matemática

A discalculia é um problema de aprendizagem que interfere muito no cotidiano


de quem tem esse distúrbio. A matemática, mesmo que não percebamos, faz
parte de várias atividades diárias, dentro e fora da escola. Sendo assim, uma
educação matemática voltada para a superação da discalculia deve envolver
aspectos da vida do aluno, atividades práticas, conteúdo contextualizado, entre
outras adaptações. Neste capítulo, iremos entender como o ensino de
matemática deve ser aplicado para que ela deixe de ser um tabu.

• Novo Paradigma Educacional


Durante muitas décadas a escola brasileira era um lugar restrito aos que tinham
condições de acesso a ela, através de meios socioeconômicos, estruturais e
culturais, ou seja, crianças e adolescentes de elite. A partir do século XX, no
entanto, o governo passa a construir escolas populares e estruturar suas leis
para que estas recebessem mais alunos, de diversas condições e origens
sociais. Desde a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996,
a escola de ensino regular tem recebido todas as crianças em idade escolar (4-
17 anos).
Com o aumento na quantidade de alunos, aumentou também o grau de
diversidade dentro da escola. Além disso, nos últimos anos, as novas gerações
têm crescido imersas em uma enorme variedade de informações, por conta do
avanço nas tecnologias digitais. Sendo assim, os alunos estão cada vez mais
desmotivados com os métodos tradicionais de ensino.
Todas essas questões influenciaram o novo contexto escolar, no qual existem
alunos com ritmos e formas de aprendizagem diferentes, com interesses
diferentes, e bagagens cognitivas e culturais também diferentes. Assim,
problemas de adaptação escolar e de aprendizado estão ganhando força, na
mesma proporção em que os estudos sobre as dificuldades têm crescido e se
ampliado. Nesse contexto, o professor acaba por lidar todos os dias com
diversos problemas de aprendizagem.
Um dos problemas mais comuns é o que tem relação com o ensino de
matemática. Não é fácil para o professor motivar o aluno a estudar, a se
interessar por essa disciplina, tampouco mostrar a ele que as dificuldades podem
ser superadas. Isso piora quando o aluno apresenta distúrbios como a
discalculia. Esse professor, muitas vezes se sente inseguro diante desse quadro,
ainda desconhecido, de uma forma geral. Como não só os distúrbios variam em
quantidade e intensidade, mas também as suas manifestações, ensinar diante
desse problema é algo delicado e que inspira temor no professor.
Atualmente, os educadores têm consciência de sua responsabilidade diante
desses problemas e também têm o discernimento de saber que suas ações irão
25

interferir diretamente nesse quadro. Sendo assim, o melhor que educadores e


pais devem fazer em relação aos distúrbios é se informar e procurar ajuda de
profissionais adequados. Antes de se encaminhar para uma intervenção, o
educador precisa ter algumas informações sobre essas dificuldades, para poder
planejar suas ações.
O professor de matemática, porém, não está sozinho na tarefa de atender e
ensinar seu aluno com discalculia. Para essa tarefa, ele terá ajuda do
psicopedagogo, que irá atender esse aluno pelo menos três vezes por semana,
planejando e aplicando intervenções. A Psicopedagogia é uma área de atuação
bem recente que pretende fazer uma ponte entre o aluno, seu contexto social,
sua família e a escola, ajudando assim esse aluno a superar possíveis
dificuldades de aprendizagem e desenvolver habilidades cognitivas, emocionais
e sociais. O foco da atenção do Psicopedagogo são os problemas da
aprendizagem de cada aluno, atendendo individualmente, mas de forma global.
É preciso que se faça uma avaliação do quadro geral da criança, para analisar a
evolução cognitiva e as consequências do distúrbio e, em seguida, elaborar uma
intervenção que ajude a melhorar o funcionamento dos processos neurais.
Assim, o trabalho do neuropsicólogo também será muito importante para auxiliar
o psicopedagogo, ajudando-o a entender as dificuldades cognitivas. Alguns
aspectos atendidos pela neuropsicologia e suas intervenções, para auxiliar no
tratamento dos distúrbios de aprendizagem, são:

 Problemas de memória;
 Melhorias na coordenação motora, fina e grossa;
 Percepção sensorial mais efetiva;
 Desenvolvimento da linguagem e da comunicação;
 Treinamento do raciocínio lógico.
Quanto mais cedo a escola perceber os sinais de um distúrbio, sinais estes que
já descrevemos aqui, mais cedo a criança pode ser encaminhada para o
tratamento. Se a escola não distingue em seus alunos suas dificuldades e o
ajuda a superá-las, esse aluno vai se sentir inseguro, ansioso e desmotivado
com o aprendizado, e a matemática continuará sendo um tabu dentro e fora da
escola.

• Aprendizagem Significativa
Na escola, atualmente, é preciso que se desenvolvam métodos mais ativos de
aprendizagem. Os alunos da nova geração crescem cercados de recursos
digitais e tecnológicos em seu contexto social, a velocidade e o fluxo de
informações são muito grandes, e assim, o aluno não tem mais motivação para
aprender em uma escola com métodos antiquados, com ensino onde o aluno é
passivo e não participa de seu processo de aprendizagem.
26

O método tradicional de ensino de matemática, somente com aulas teóricas e


expositivas, usando cópia e lousa, não dá conta mais de ensinar sequer os
alunos mais hábeis, quem dirá os que têm problemas de aprendizagem. Não se
concebe mais um ensino de matemática que seja descontextualizado e
desprovido de significação.
Assim, a Teoria de Aprendizagem Significativa, desenvolvida pelo psicólogo
americano David Ausubel, é de imensa importância da atualidade quando
pensamos em pedagogias mais ativas. Ausubel afirma que a aprendizagem deve
fazer sentido para quem aprende. O conteúdo ensinado deve ter alguma relação
com a realidade do aluno e também com o que este já aprendeu.
Essa teoria dá ao aprendizado escolar uma razão de ser que não tem sido
encontrada atualmente. A escola precisa ensinar um novo modo de lidar com a
informação e com o conhecimento (MOREIRA, 2011). Uma das formas de
ensinar seria apresentar ao aluno problemas do cotidiano que precisam de
matemática para se resolverem, ou situações nas quais os cálculos são
necessários, entre outras medidas.

• Jogos Matemáticos
Já vimos que os jogos, brincadeiras e atividades lúdicas são muito importantes
na educação dos alunos com distúrbios de aprendizagem. No caso da
discalculia, os jogos matemáticos têm uma função ainda maior. Eles possibilitam
que as crianças superem suas dificuldades na área e ainda se desenvolvam
fisicamente e cognitivamente (SILVA, 2008).
Ao falarmos de uma educação que proponha conteúdos significativos e
contextualizados aos seus alunos pensamos em práticas que atendam a essa
abordagem e a utilização de jogos matemáticos é uma dessas práticas. Eles
estimulam o raciocínio lógico, cobram a resolução de problemas, usam cálculos,
entre outras habilidades.

Através da conexão entre jogos, brincadeiras e a matemática, o


professor pode criar situações na sala de aula que impulsione os
alunos à compreensão e à familiarização com a linguagem
matemática, estabelecendo ligações cognitivas entre a
linguagem materna, conceitos da vida real e a linguagem
matemática formal, dando oportunidades para eles escreverem
e falarem sobre o vocabulário matemático, além de
desenvolverem habilidades de formulação e resolução de
problemas, enquanto desenvolvem noções e conceitos
matemáticos (SILVA, 2008, p. 29)

A resolução de situações-problema é uma das ferramentas mais importantes nas


aulas de matemática. Através dessa prática, os alunos irão entender como a
matemática permeia suas atividades cotidianas e como o conhecimento
adquirido nessa matéria é importante na vida do aluno fora da escola. Para que
27

consiga desenvolver a habilidade lógico-matemática, o aluno precisa


primeiramente, entender o proposto pelo problema, em seguida, ele terá que:

 Organizar as informações fornecidas no enunciado;

 Elaborar um esquema de como usar essas informações em seus cálculos;

 Selecionar conhecimentos para resolver o problema, como buscar


fórmulas, por exemplo;

 Calcular e analisar resultados;

 Verificar se a solução encontrada é adequada ao que foi pedido.


Os jogos matemáticos, além de apresentar esse tipo de situação, propõe outros
desafios ao aluno, como representação do pensamento abstrato, estratégia,
interação social, conhecimento sobre regras, desenvolvimento de competências
e habilidades verbais, cognitivas e físicas. Alguns exemplos de jogos que podem
ser utilizados na aula de matemática são:

 Matix: jogo de tabuleiro;

 Palitos: movimentar os palitos para construir as formas exigidas,


seguindo as regras;

 Tangram: com sete peças disponíveis o jogador deve formar um


quadrado;

 Jogo dos Hexágonos: o jogador deve unir os hexágonos de acordo com


as numerações.

Os jogos matemáticos devem estar presentes desde a Educação Infantil e


acompanhar o ensino de matemática até o Ensino Médio, de forma a
contextualizar os conteúdos e desenvolver as habilidades matemáticas em
alunos de diferentes níveis.
28

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de matemática sempre foi um desafio para os professores, seja na fase


de alfabetização, seja no decorrer da vida escolar. Muitas dificuldades que
vemos na escola são ocasionadas por desmotivação, desinteresse, inabilidade
de alunos e professores em aproveitar os conteúdos ensinados, mas outras têm
origem neurológica, sendo causadas por um distúrbio chamado Discalculia.
Como pudemos entender, a discalculia é de origem neurológica e não tem cura,
porém, existem estratégias que devem ser ensinadas ao aluno para que ele
supere os obstáculos em relação ao aprendizado dos conteúdos matemáticos e
desenvolva o raciocínio lógico-matemático. Esse tipo de raciocínio, como vimos,
se inicia muito antes da vida escolar, ainda quando somos bebês e por isso, deve
ser estimulado pelo ambiente e pelas interações sociais.
Ensinar matemática, atualmente, requer muito mais que o domínio da matéria e
de seus conteúdos, requer do professor a habilidade de motivar o aluno, de
entender suas dificuldades, mas também seus pontos fortes. Esse professor
precisa captar o interesse dos alunos através de atividades contextualizadas e
práticas significativas, como o uso dos jogos matemáticos, por exemplo.
Assim, o aprendizado de matemática precisa ser mais lúdico e mais significativo,
para que os alunos entendam como usam o raciocínio lógico com mais
frequência do que imaginam. Essa noção da importância dos cálculos no nosso
cotidiano é útil não só para os alunos com discalculia, mas para todos os outros,
que enxergarão a matemática de uma forma mais positiva.
29

BIBLIOGRAFIA

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ROTTA, N. T; OHLWEILER, L; RIESGO, R. dos S. (Orgs.) Transtornos da
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DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-V/


(American Psychiatric Association). 5ªed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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Universitária, 1964.

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Relatório de Iniciação Científica. Guarulhos: PIBIC-UnG, 2008.

SOMERA, E.A.S. Coletânea de notas das aulas para a formação em


Psicopedagogia. São José do Rio Preto: Faculdade de Medicina de São José
do Rio Preto (FAMERP)/Psicopedagogia Clínica e Institucional, 2013.
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caso com dois estudantes. Programa de Pós-Graduação em Educação
Matemática, Dissertação de Mestrado Profissional. JUIZ DE FORA – MG: maio
de 2017.

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