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CONTRAPONTO: Discussões Científicas e Pedagógicas em Ciências, Matemática e Educação

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Dificuldade de ensino e aprendizagem na matemática: os jogos como alternativa


para o entendimento do aluno que apresenta o transtorno da discalculia

Teaching and learning difficulty in mathematics: games as alternative for the student affected by
dyscalculia disorder

Elisabele Maria de Oliveira


Lindomar Duarte de Souza

Resumo: A discalculia é um transtorno específico de aprendizagem (TEA), o qual afeta a


capacidade de se compreender as operações matemáticas, e acomete muitos alunos em fase de
aprendizado. Por muito tempo a discalculia foi tratada apenas como uma dificuldade ou como
pouca dedicação do aluno nos estudos, porém, já se sabe que tem origem biológica e seu
diagnóstico ocorre a partir de avaliações e testes específicos de equipe multidisciplinar, composta
de pediatra, neuropsicóloga, psicopedagogo, psiquiatra e fonoaudiólogo. Dentre as dificuldades
apresentadas pelos indivíduos que são acometidos pela discalculia, as mais frequentes são: troca de
sinais em operações e símbolos matemáticos invertidos; dificuldades na ordem numérica;
dificuldade de transformar o abstrato em concreto; montagem errada de operações; dificuldade de
seguir muitas etapas em uma determinada resolução; e não compreender com clareza problemas
apenas falados. Estas percepções são observadas pelo professor, que poderá permitir que o aluno
acesse materiais de apoio específicos para as aulas de matemática, bem como, avaliações adaptadas
e o uso de jogos para estabelecer normas e critérios úteis na matemática. O presente trabalho
pretende estudar as características sobre a discalculia, contribuir para a identificação de alunos com
este transtorno e apresentar jogos que auxiliem o professor na relação ensino e aprendizagem da
matemática. Para tanto, foi utilizada uma abordagem qualitativa de caráter bibliográfico, de
natureza básica e com objetivo exploratório, de modo a permitir o entendimento sobre o tema
abordado.
Palavras-chave: Transtorno de Aprendizagem. Atividades Pedagógicas Específicas. Aluno com
Discalculia.

Abstract: Dyscalculia is a specific learning disorder (SLD), which affects the capability to
understand mathematical operations. It affects many students in the learning phase. For a long time,
dyscalculia was only treated as a difficulty or as a lack of commitment of the student with his
studies, nevertheless, it is already known that it has a biological origin and its diagnosis occurs from
specific evaluations and tests from a multidisciplinary team, composed of pediatrician
neuropsychologist, psychopedagogue, psychiatrist and speech therapist. Among the difficulties
shown by individuals who are affected by dyscalculia, the most frequent are: change of signs in
operations and inverted mathematical symbols; difficulties with the numerical order; difficulty in
transforming the abstract into concrete; wrong set-up of operations; difficulty in following many
steps in a given resolution; and not clearly understanding problems that are only spoken. These
perceptions are observed by the teacher, who may allow the student to access specific support
materials for math classes, as well as, adapted evaluations and the use of games to establish useful
rules and criteria for mathematics. This research aims to study the characteristics about dyscalculia,
to contribute to the identification of students with this disorder and to show games that can assist

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the teacher in the teaching and learning of mathematics. For this purpose, it was used a qualitative
study consisting of literature, a basic research and an exploratory objective, in order to allow the
understanding of the addressed theme.
Keywords: Learning Disorder. Specific Pedagogical Activities. Student with Dyscalculia.

INTRODUÇÃO
A essência da matemática é a compreensão, e atualmente se considera que um aluno pense e
raciocine além de fazer as operações. O conhecimento da matemática é construído de forma ativa,
assim a criança compreende, e o seu esforço é orientado para a busca de soluções, portanto ela
estará capacitada para a resolução de problemas reais com dados reais.
A maioria dos professores encontra obstáculos quando precisa nortear o conhecimento
matemático, e entendendo isso, devemos considerar que se algo impossibilita o aluno de aprender,
primeiro o professor tem que conhecer o que está causando isso para que, depois, possa dar suporte
para o aluno aprender. Campos (2019, p. 14) descreve que: “Para ajudar os alunos com ou sem
dificuldades de aprendizagem, é preciso uma comunicação simples e clara, usando recursos
didáticos que facilitem o entendimento de assuntos tão abstratos, como é o caso da Matemática.”
A discalculia é um tema que precisa de estudo e de preparo para minimizar seus efeitos, para
que não piore mais ainda a vida do aluno que sofre com esse transtorno, e, portanto, é importante o
professor buscar conhecer sobre esse tema, suas características, suas limitações e como identificá-
la.
Para Bernardi (2014, p. 17): “discalculia ou discalculia do desenvolvimento, se caracteriza
como uma desordem estrutural da maturação das capacidades matemáticas, sem manifestar, no
entanto, uma desordem nas demais funções mentais generalizadas.”
Até não ser diagnosticado com discalculia, o aluno pode ser estigmatizado de várias formas,
prejudicando sua autoestima e provocando a evasão escolar em casos mais graves, e isso não
ajudará este indivíduo a superar esse problema, pois, além da matemática na escola, ele também tem
a matemática na vida.
Campos (2019, p. 50) esclarece que:

As crianças com dificuldade de aprendizagem ou discalculia não interagem com o grupo


escolar, por se julgarem incapazes, diferentes, e isso leva ao isolamento. Por meio de uma
atividade lúdica, a criança comunica-se de maneira eficaz, pois durante a brincadeira, ela se
expõe sem medo de ser criticada ou ainda rejeitada.

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Portanto, o planejamento de atividades para alunos com discalculia deve levar em


consideração o uso de material lúdico, que pode ser, por exemplo, jogos. Campos (2019, p. 14) trata
disso da seguinte forma: “A criança quando entende um conceito matemático de forma lúdica e
divertida tende a não esquecer o conteúdo.”
Assim, para elucidar as dúvidas que permeiam esse problema de investigação, a fim de
contribuir com a melhoria do ensino da matemática, é importante responder a alguns
questionamentos como:
O que é a discalculia?
Como os professores podem identificar alunos com discalculia?
Como é possível ajudar alunos com discalculia no processo de ensino e aprendizagem?
Quais jogos funcionam como técnicas de ensino para alunos que apresentam a discalculia?

2. DISCALCULIA
O transtorno específico de aprendizagem (TEA) discalculia, tem origem biológica, e estudos
apontam que meninos têm maior chance de o terem. Para alguém que tenha esse transtorno, nada é
óbvio, e os conceitos matemáticos abstratos são os mais difíceis de assimilar.
O indivíduo com discalculia é mais tímido, justamente por só conhecer o fracasso, tendo
dificuldades no dia a dia, como ver as horas, direita e esquerda, associação de símbolos e
dificuldade de interpretar problemas falados. Ele não consegue observar o absurdo em respostas de
operações, por exemplo.
O diagnóstico é feito na fase de alfabetização, entre 6 e 7 anos, por profissional da área da
psicopedagogia. É possível amenizar, e até mesmo quase zerar o transtorno com técnicas escolares
apropriadas, mas, sem tratamento, o aluno com discalculia só carregará traumas da vida escolar e
cotidiana. Para tanto, o professor deve observar esse aluno, questionar como ele chegou em
determinada resposta, além de fragmentar o conteúdo de modo a atingir o aprendizado.
Diante disso, nesta seção, procurou-se responder aos questionamentos descritos no final da
seção Introdução, de modo a contribuir para o entendimento e resolução do problema desta
investigação.

2.1 O QUE É A DISCALCULIA?

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Muitos alunos apresentam dificuldades em Matemática, as quais podem ser classificadas


como Discalculia do Desenvolvimento. A palavra discalculia, significa etimologicamente a
alteração da capacidade de cálculo, ou seja, cálculo mental, leitura e/ou escrita dos números.
No DSM-5 encontramos a seguinte classificação para a Discalculia do Desenvolvimento:
“discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de dificuldades caracterizado
por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e
realização de cálculos precisos ou fluentes”.
Para Santos (2017, p. 62):

O Consenso Internacional define que a Discalculia do Desenvolvimento é um transtorno


heterogêneo que decorre de diferenças individuais tanto no desenvolvimento quanto no
funcionamento da cognição numérica, nos níveis: neuroanatômico, neuropsicológico e
comportamental, bem como em suas interações.

Muitos estudos têm buscado entender a discalculia e de onde ela surge, se é genética ou não
e se pode ser curada. O que se sabe é que a Discalculia do Desenvolvimento é um transtorno de
aprendizagem, que pode estar ou não relacionada a outros transtornos como dislexia, e não
compromete a inteligência da criança. Considerando que a Discalculia do Desenvolvimento tem
origem biológica,

[...] experiências feitas com técnicas modernas de neuroimagem indicam uma ativação do
lobo parietal quando os indivíduos estão envolvidos na comparação de quantidades. Lesões
localizadas nessa região podem ter como sintoma uma incapacidade de realizar operações
matemáticas, uma discalculia, ao mesmo tempo em que aparecem problemas espaciais,
como uma dificuldade de distinguir entre esquerda e direita. (COSENZA; GUERRA, 2011,
p. 111).

Algumas crianças, mesmo tendo bom nível de inteligência e vivendo em ambiente saudável,
não apresentam dificuldades de aprendizagem matemática, mas ainda assim pode-se perceber que
elas têm discalculia, pelo fato de apresentarem dificuldades de abstração de conceitos, troca e
confusão de símbolos matemáticos, dificuldade em seguir etapas de resolução de problemas, não
conseguir classificar números, entre outros fatores, sendo, portanto, um problema resultante da
deficiência da noção de quantidade e suas relações. Cabe ressaltar que o aluno com Discalculia do
Desenvolvimento tem dificuldade apenas em matemática, portanto não afeta a inteligência desse
indivíduo, pois os circuitos cognitivos do aluno que tem prejuízo no funcionamento são aqueles que
trabalham especificamente com os números.

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São dificuldades de aprendizagem matemática:


- Relacionar termo a termo;
- Associar símbolos aditivos e visuais aos números;
- Contar;
- Aprender sistemas cardinais e ordinais;
- Visualizar grupos de objetos;
- Compreender o princípio da conservação;
- Realizar operações aritméticas;
- Perceber a significação dos sinais de adição e subtração, de multiplicação e divisão, e de
igualdade;
- Ordenar números espacialmente;
- Lembrar operações básicas e tabuadas;
- Transportar números;
- Seguir sequências;
- Perceber princípios de medidas;
- Relacionar o valor de moedas, entre outras.
Sobre as dificuldades de aprendizagem, Bernardi (2014, p. 18) escreve que: “Estudos na
área da Neuropsicologia demonstram que essas dificuldades relacionadas anteriormente evidenciam
que as funções neuropsicológicas indispensáveis nos processos de realização de cálculos não estão
suficientemente desenvolvidas.”
Há uma classificação de Kosc (1974), que engloba seis tipos de discalculia, afirmando que
essas discalculias podem estar manifestadas sob diferentes combinações e unidas a outros
transtornos de aprendizagem:
I. Discalculia verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas, os números, os
termos e os símbolos;
II. Discalculia practognóstica: dificuldades para enumerar, comparar, manipular objetos
reais ou em imagens;
III. Discalculia léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;
IV. Discalculia gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos;
V. Discalculia ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão
de conceitos matemáticos;

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VI. Discalculia operacional: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos.


Segundo Santos (2017), a discalculia é persistente, mas não imutável; não é degenerativa, mas é
constituída de disfunções resistentes ao tratamento.

2.2 COMO OS PROFESSORES PODEM IDENTIFICAR ALUNOS COM DISCALCULIA?


Identificar um indivíduo acometido pela Discalculia do Desenvolvimento, não é tarefa fácil.
Na escola, é necessário que o professor esteja atento aos sinais que seu aluno com discalculia pode
apresentar: símbolos matemáticos malformados, incapacidade de operar com quantidades
numéricas, não reconhecer os sinais de operações, evidenciar memória insuficiente, apresentar
dificuldades na leitura de números, não conseguir localizar espacialmente a multiplicação e a
divisão, entre outros.
A aprendizagem matemática, é feita de muitos fatores, dentre eles a estimulação, a
contextualização, a abstração, a diversificação dos métodos para ampliar a compreensão de
conceitos; e sabe-se que

[...] as crianças nascem com um sentido de representação de quantidade. Posteriormente, a


exposição à linguagem e à educação matemática desenvolve o reconhecimento dos
algarismos, sua expressão verbal, bem como os procedimentos para a realização de cálculos
com múltiplos algarismos, por exemplo. (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 112).

Assim, algumas atitudes diárias do professor podem ajudar o aluno com Discalculia do
Desenvolvimento a se sentir mais seguro com relação a disciplina: fazer revisões constantemente,
moderar a quantidade de questões por prova, dar tempo livre durante a prova para que seja possível
o aluno se acalmar e retomar de onde parou sem prejuízos, permitir consultas em materiais como
tabuada e calculadora, usar material concreto, ofertar provas orais/verbais, adotar o caderno
quadriculado, utilizar desenhos e gráficos para a compreensão, evitar palavras que o evidencie para
os colegas, não fazer distinção entre os alunos, usar computador para despertar interesse na
matemática e utilizar de jogos diversos.
Além disso, é necessário que o professor tenha o apoio de equipe multidisciplinar, que o
ajudará a trabalhar e desenvolver os métodos adequados ao ensino e aprendizagem do aluno com
discalculia. Neste sentido, Bernardi (2014, p.20), diz que “o reconhecimento da discalculia só será
possível mediante a adoção de atividades pedagógicas específicas que possam explicitar a presença
de alguns desses distúrbios”.

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Alunos que apresentam dificuldades em habilidades espaciais, perseverança, linguagem,


raciocínio abstrato, memória, processamento perceptivo, problemas emocionais, tendem a ter
dificuldades em matemática, pois essas áreas fazem parte do contexto matemático: noção de espaço
e direção; necessidade de repetição de tarefas; dificuldade em ouvir e depois associar à símbolos;
dificuldade de processamento da leitura com grandezas e quantidades; dificuldade em persistir e
concentrar-se.
Conforme Cosenza e Guerra (2011, p. 138):

As dificuldades de aprendizagem são identificadas pelo educador por meio da observação


de comportamentos ou habilidades, gerais ou característicos, que destoam da maioria dos
alunos e que comprometem o desenvolvimento do estudante segundo o padrão mais
frequente na escola.

Dessa forma, o diagnóstico da discalculia precisa ser feito o mais cedo possível, para que as
interações necessárias para o desenvolvimento cognitivo matemático iniciem brevemente e possam
minimizar qualquer perda que possa haver com relação à aprendizagem matemática.

2.3 COMO É POSSÍVEL AJUDAR ALUNOS COM DISCALCULIA NO PROCESSO DE


ENSINO E APRENDIZAGEM?
Ao entender que a discalculia é um distúrbio caracterizado pela dificuldade neurológica em
relação aos números, pode-se perceber que as formas tradicionais de ensino e aprendizagem, como,
por exemplo, quando o professor escreve no quadro, o aluno copia e então resolve exercícios
conforme o modelo recém mostrado pelo professor, não ajudam o aluno com Discalculia do
Desenvolvimento a esclarecer as suas dúvidas, nem a formular os conceitos matemáticos
necessários. Isso acaba por prejudicar a evolução deste aluno no contexto da matemática, assim
como prejudica a sua autoestima, por julgar-se como incapaz de resolver exercícios propostos,
quando, na verdade, ele precisa de outras formas de estímulo para que possa aprender e resolver
problemas matemáticos. Para corroborar, Bernardi (2014, p.10) diz:

Ao pensar sobre as práticas pedagógicas e o papel da escola na formação dessas crianças, é


necessário saber trabalhar temáticas relacionadas à lógica e à Matemática, com aspectos da
subjetividade que promovam uma interrelação mais saudável em sala de aula.

Desta forma, percebe-se que o aluno com Discalculia do Desenvolvimento é um indivíduo


que precisa de maior atenção do professor de matemática, para que consiga internalizar conceitos,

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resolver operações corretamente, abstrair conteúdos e fazer as relações entre símbolos e palavras.
Além disso é necessário que o professor esteja preparado para esse aluno, para que na sala de aula
não haja exclusão nem exposição, transformando um transtorno neurológico que o aluno não
controla em algo que o ridicularize.
A criança com discalculia é incapaz de conservar a quantidade, sequenciar números,
classificar números, compreender símbolos, montar operações, lembrar de sequência de passos para
resolução de problemas, estabelecer relação entre números e ideias. Além disso tudo, o aluno com
discalculia tem dificuldade de memória, dificuldade de cumprir etapas em passos, dificuldade de
contagem. Essas dificuldades aparecem desde muito cedo, nos primeiros anos da vida escolar.
Assim, para ajudar alunos com Discalculia do Desenvolvimento, uma possibilidade seria o
professor relacionar os conteúdos matemáticos com o cotidiano, para que o aluno desenvolva suas
habilidades e competências matemáticas. Uma maneira de contribuir para o processo de
aprendizagem destes alunos, de acordo com Campos (2019, p. 34), seria a de que “usar materiais
concretos facilita a visualização dos exercícios, transformando a sala de aula em um laboratório de
aprendizado com competências e habilidades”.
Corroborando, Vygotsky (apud Campos, 2019, p. 36) defendia que um dos fatores para a
aprendizagem é o trinômio socio-histórico-cultural, portanto, o meio é responsável pelo nosso
desenvolvimento biopsicossocial. Se somos resultado da estimulação e do ambiente que vivemos, e
a aprendizagem surge disso, o professor deve entender que cada um dos seus alunos é diferente
entre si no modo de aprender, e por isso é tão importante que haja interações sociais, jogos e
brincadeiras em sala de aula, que proporcionem uma aprendizagem significativa, pois a partir
dessas atividades o senso comum da criança, que é a consciência, a intuição, o reconhecimento, o
conhecimento, a habilidade, o desejo, o sentimento, a expectativa, o processo, a estrutura conceitual
ou linha numérica mental, o qual toda criança já tem desde o nascimento, se desenvolverá.
Neste sentido, seguem algumas recomendações ao professor para ajudar alunos com
discalculia:
- Não forçar o aluno a fazer as atividades quando ele estiver nervoso por já ter cometido
algum erro;
- Explicar ao aluno que você está ali para ajudá-lo sempre que ele precisar;
- Propor jogos em sala de aula, que complementem as explicações de conteúdos;
- Não corrigir atividades e provas com caneta de tinta vermelha;

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- Usar situações concretas para explicações;


- Fragmentar o conteúdo para otimizar o aprendizado;
- Questionar o aluno sobre as respostas dadas;
- Permitir consultas a tabuadas e calculadoras;
- Ao invés de somente falar um problema, escrevê-lo;
- Comedir a quantidade de questões em trabalhos;
- Indicar que o aluno seja atendido por um profissional da área da psicopedagogia, para
avaliação e acompanhamento.

2.4 QUAIS JOGOS FUNCIONAM COMO TÉCNICAS DE ENSINO PARA ALUNOS QUE
APRESENTAM A DISCALCULIA?
A Matemática é comumente relacionada a fórmulas, a lista de exercícios sem fim, tabuada
decorada e conteúdos abstratos, mas é indispensável que a criança compreenda que Matemática é
uma atividade diária, e que não se resume a fórmulas e operações. Os alunos precisam de estímulo
para desenvolverem suas habilidades.
Atividades lúdicas podem e devem ser usadas para desenvolver habilidades matemáticas por
crianças com ou sem discalculia. Segundo Campos, (2019, p. 49) “os diversos tipos de jogos podem
contribuir para a aprendizagem, pois ajudam a desenvolver habilidades de forma mais descontraída,
permitindo a interação de todos”.
Os alunos precisam de desafios, de atividades as quais construam conhecimento, analisem,
questionem e sintetizem as informações recebidas e adquiridas. É papel do professor construir o
aprendizado por meio de diversos instrumentos pedagógicos, como jogos, exercícios, tecnologia e
vídeos.
Assim, o professor pode criar um mundo paralelo, em que atividades lúdicas e jogos ajudem
os alunos a compreender as relações matemáticas por meio dos objetos utilizados. Estimular o
raciocínio lógico, a imaginação e conquistar objetivos do tipo: educar, instruir, desenvolver a
inteligência deve ser o principal objetivo da utilização de jogos na sala de aula. Reiterando isso,
Campos (2019, p. 37) esclarece que:

Ao empregarmos os jogos na Educação Matemática, conseguimos mostrar aos alunos que a


Matemática pode ser divertida. Quando o professor utiliza recursos didáticos em sala de

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aula, seja vídeo, jogos ou materiais de apoio pedagógico, ele está demonstrando de uma
forma concreta o que até então era abstrato e assustador à criança.

Além disso, Campos (2019, p. 37), também relata:

O jogo pelo seu caráter motivador deve ser usado para introdução de conceito, revisão de
conteúdo ou para sanar lacunas durante o aprendizado do aluno. É interessante usar o jogo
para confrontar os conhecimentos que o aluno já tem e os adquiridos durante seu processo
ensino-aprendizagem.

Sendo assim, percebe-se que os jogos (eletrônicos, de tabuleiro, individuais e coletivos) são
recursos que podem auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, pois podem ser trabalhados de
forma lúdica, o que desperta interesse dos alunos e, também, porque é possível estabelecer regras e
padrões, o que permite uma melhor apropriação de determinados conceitos matemáticos. Portanto, a
variação de materiais, a diversidade de jogos e a forma lúdica de atuar nas aulas, poderão ajudar os
alunos e, especialmente, os alunos com Discalculia do Desenvolvimento, promovendo sua
aprendizagem matemática.
Para contribuir, seguem sugestões de jogos e métodos que podem auxiliar os professores, na
relação ensino e aprendizagem da matemática, com alunos que tenham o transtorno de
aprendizagem discalculia:
- Usar os dedos para contar, montar sequências, associação dos dedos das mãos com
quantidade de objetos, associar antecessor e sucessor;
- Material dourado, que pode ser confeccionado em sala de aula com E.V.A., ou em papel
colorido, para adição e subtração, tratando do abstrato nas operações que “sobe” ou “empresta”, de
modo concreto;
- Material como Lego, pois como são coloridos e são de montar, auxiliam no
desenvolvimento motor e percepção de formas e tamanhos, além de estimular o raciocínio lógico
com os encaixes;
- Jogo da memória com operações e resultados, somente adição e seus resultados,
posteriormente subtração e seus resultados, e assim sucessivamente, sempre considerando o nível de
aprendizado do aluno, para não o frustrar ainda mais;
- Jogo que solicite que o aluno siga a sequência numérica, com peças avulsas ou folha
impressa com a sequência a ser encontrada;

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- Figuras geométricas desenhadas ou pintadas no chão, em tamanho grande, para que os


alunos possam explorar o perímetro delas com passos por cima das arestas, e ainda possam explorar
conceito de área, nomes das figuras, principais elementos das formas geométricas;
- Utilização do Geoplano para que cada aluno explore individualmente o que foi estudado
com as formas geométricas desenhadas no chão;
- Utilização do GeoGebra, para que os alunos associem tecnologias virtuais com a
matemática, estreitando os conceitos;
- Construção de sólidos geométricos com materiais como palitos e massinha de modelar, a
fim de identificar os sólidos por nomes e verificar as formas geométricas que cada sólido precisa ter
para existir;
- Montar um mercadinho, com embalagens vazias de produtos que os alunos conheçam, e
promover o dia da compra, para que os alunos possam trabalhar e explorar o sistema monetário;
- Utilizar modalidades esportivas que sejam mais atraentes aos alunos, para estabelecer
rankings, por exemplo maiores campeões de Olimpíadas, para ilustrar o conceito de números
ordinais, além de explorar sequências, e sucessor e antecessor;
- Jogo banco imobiliário, que explora a ideia de disciplina, compra e venda, sistema
monetário, vida real, estratégias de lucro, cálculo mental, economia...;
- Medir objetos da sala de aula, e os colegas, de modo a comparar as grandezas e materiais
de medição como régua, trena, fita métrica;
- Charadinhas em forma de texto, que tenham respostas matemáticas;
- Discos de frações, em madeira ou materiais alternativos confeccionados em sala,
associados ao relógio para relacionar frações e horas;
- Usar o jogo do dominó com peças coloridas, para facilitar a visualização;
- Dominós diversos, que podem ser feitos em sala de aula, com temas de: frações básicas,
operações, grandezas de medidas de comprimento e de volume, formas geométricas e seus nomes,
tabuada, expressões numéricas;
- Jogo das diferenças, para trabalhar a concentração e atenção;
- O tangran para explorar o raciocínio lógico ao ser desafiado a formar determinada figura
com as suas peças;
- Usar o baralho de cartas para jogos como: rouba monte para associar os números, ou
montar sequências com os naipes do baralho, ou para a contagem de números;

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- Jogo matix, para trabalhar a adição de números inteiros, além do cálculo mental;
- A atividade de pintura de figuras diversas, com apenas 4 cores, estimulando o raciocínio
lógico e habilidade de encontrar estratégias de solução;
- O jogo de xadrez ajuda na concentração e na elaboração de estratégias para vencer
desafios;
- Utilizar blocos lógicos, que escolas os tem em madeira, para montar figuras geométricas,
ou desenhos solicitados pelo professor. Ou ainda trabalhar com as cores e tamanhos distintos, para
memorização;
- Usar dados para fazer a soma com anotações e possíveis competições entre os alunos;
- Usar palitos de sorvete pintados de cores diversas para operações;
- Fazer desafios com palitos de fósforo ou de picolé, para formar figuras geométricas.

3. METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida dentro da abordagem qualitativa, a qual significa que os dados
coletados são verbais e visuais, e não numéricos, e seus resultados são oriundos de dados coletados
de modo sistemático. Segundo Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa envolve uma
abordagem interpretativa do mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em
seus cenários naturais, tentando entender os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a
eles conferem.
Já a classificação utilizada para a pesquisa foi a básica, para que se pudesse gerar
conhecimento útil acerca do tema discalculia, sem aplicabilidade prática. Ao tratar da classificação,
Schwartzman (1979), descreve que a pesquisa básica é “aquela que acumula conhecimentos e
informações que podem eventualmente levar a resultados acadêmicos ou aplicados importantes,
mas sem fazê-lo diretamente”.
A fim de obter maior conhecimento sobre o transtorno da discalculia, optou-se por utilizar a
pesquisa exploratória, pois ela oferece espaço para que as ideias surjam ao longo da pesquisa,
proporcionando intimidade com o tema, possibilitando que ele fique mais compreensível. Para
Malhotra (2001, p.106), a pesquisa exploratória “é um tipo de pesquisa que tem como principal
objetivo o fornecimento de critérios sobre a situação-problema enfrentada pelo pesquisador e sua
compreensão”.

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Para embasar esta investigação, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, no intuito de
buscar apoio para este trabalho, revisando e analisando a literatura já publicada sobre o tema. Ela
foi feita:

[...] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios


escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos e páginas de web sites. Qualquer
trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se
baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas
com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a
respeito do qual se procura a resposta. (FONSECA, 2002, p. 32).

Assim, por ser um estudo de revisão bibliográfica, não houve recolha de dados quantitativos,
mas, sim, a reunião de literatura já existente sobre o tema em questão, além da apresentação de
novas perspectivas de ensino e aprendizagem por meio de jogos matemáticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A motivação da pesquisadora no tema discalculia foi sendo construída ao longo da pesquisa
bibliográfica e nas observações em sala de aula, enquanto professora. Compreender o transtorno
específico de aprendizagem (TEA) da discalculia e como o professor de Matemática pode ajudar
seu aluno que sofre com isso foram as perguntas que nortearam este trabalho.
As diversas leituras feitas ao longo da investigação corroboraram com a preocupação da
pesquisadora no sentido de que é necessário que os profissionais da educação e da neuropsicologia
estejam atentos aos sinais que os alunos nos dão, durante a sua vida escolar, pois através destes
sinais podemos auxiliar aqueles que apresentarem o transtorno. Sem essa atenção dos profissionais,
os estudantes ficam à mercê de sua condição neurológica, sem apoio e sem direcionamento
pedagógico que os ajude a evoluir no conhecimento matemático.
Diante da análise do que é discalculia, e o que esse transtorno pode causar na vida do aluno,
ficou evidente a importância de mais estudos sobre este tema, a fim de desmistificar e detalhar os
sinais que o aluno nos dá, de modo que seja possível aperfeiçoar técnicas de aprendizagem
significativa para todos, indistintamente se o aluno possuiu ou não algum transtorno neurológico.
Uma pessoa que sofre com a Discalculia do Desenvolvimento não tem sua inteligência
comprometida, tem apenas a parte matemática do seu cérebro com diferença de interpretação, se
comparada aos demais indivíduos que não tenham discalculia. Não se pode resumir essa pessoa ao

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transtorno neurológico que ela tem, pois é apenas a concepção matemática que apresenta
dificuldade.
Uma possibilidade de minimizar os traumas e proporcionar uma boa relação de ensino e
aprendizagem apresentada nesta pesquisa foi o uso dos jogos, tanto os eletrônicos como os de
tabuleiros, os confeccionados em sala de aula ou os adquiridos prontos. Cabe destacar que estes
jogos podem auxiliar o professor a tornar a matemática mais atraente e lúdica, o que motiva o aluno
a aprender. O uso pedagógico destes jogos pode contribuir para a compreensão de conceitos mais
abstratos, como também pode auxiliar na concentração e memorização de passos e regras, que serão
úteis no dia a dia do aluno com discalculia.
Para concluir, entende-se que o estudo desenvolvido mostrou que é importante que
professores de Matemática estejam sempre atentos aos seus alunos, às demonstrações de
dificuldades que eles tenham, e especialmente que estejam dispostos a ajudar seus alunos que
sofrem com a Discalculia do Desenvolvimento, para que a aprendizagem significativa aconteça, e
que seus alunos tomem gosto pelo conhecimento Matemático, o qual está presente em muitas áreas
da ciência e da vida cotidiana.

REFERÊNCIAS
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DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e
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