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Dislexia na Aprendizagem

Article · July 2018


DOI: 10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/dislexia-na-aprendizagem

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Renan Mota Silva


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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 17749 - ISSN: 2448-0959
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/dislexia-na-aprendizagem

Dislexia na Aprendizagem

SILVA, Renan Mota [1]

SILVA, Renan Mota. Dislexia na Aprendizagem. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do


Conhecimento. Ano 03, Ed. 07, Vol. 05, pp. 107-138, Julho de 2018. ISSN: 2448-0959

Resumo

A Dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura, escrita e soletração que condiciona o
fracasso escolar de muitas crianças. No ambiente escolar esse transtorno ainda é desconhecido pela
maioria dos educadores, que geralmente consideram a dislexia como um resultado de má alfabetização. O
objetivo desse estudo é identificar recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentarem no seu
cotidiano em sala de aula, os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar os
problemas da criança que sofre de dislexia. Pretendo analisar como a escola poderá implementar
alternativas para assessorar os professores no reconhecimento de alunos com dislexia. Apresenta-se no
estudo algumas alternativas como a importância do enfoque psicopedagógico no melhor delineamento da
prática dos profissionais que atuam na educação com crianças dislexas. A metodologia da pesquisa
orientou pelo método indutivo voltado para o ambiente escolar focalizando a dificuldade de aprendizagem
delimitada à dislexia, envolvendo um trabalho de entrevistas com os professores em uma instituição. O
estudo aponta como hipótese que a dislexia está relacionada a dificuldades de aprendizagem exigindo
posturas de acompanhamento psicopedagógico especializado para a superação das dificuldades de
aprendizagens que levam ao fracasso escolar do aluno. Os resultados elencados demonstraram que a
dislexia pode ser um distúrbio, onde a escola poderá desenvolver ações de conscientização da família e do
educando para a realização de um diagnóstico e o desenvolvimento de ações de intervenção
psicopedagógica, fonoaudiológica e psicomotora. Dessa forma, contribuir na locomoção das crianças com
dislexia ajudando-as a superar suas dificuldades, disfunções, limitações ou deficiências.

Palavras-chave: Dislexia, Recursos, Ações Alternativas, Escola, Professores.

1. Introdução

1.1 Apresentação do tema

Este trabalho é fruto de vivência nos espaços escolares com um olhar voltado para as posições de quem

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ensina e de quem aprende no contexto mundial da atualidade. O campo da pedagogia visa, primeiramente,
evitar que não aja deficiência na aprendizagem e prevenir de forma ampla, para que todos possam
desenvolver suas funções (alunos e professores) da forma mais harmônica possível. No entanto, as
deficiências acontecem e buscamos solucioná-las da melhor maneira, mas para isso é preciso,
inicialmente, entender que campo é esse que se descortina na atualidade e se faz tão necessário.

Se o campo de aprendizagem desde a mais tenra infância é a escola, é neste minucioso terreno (espaço)
que irei enfocar e abordar o tema “Dislexia na aprendizagem”.

A Dislexia é uma perturbação ou transtorno ao nível de leitura, escrita e soletração que condiciona o
fracasso escolar de muitas crianças. No ambiente escolar esse transtorno ainda é desconhecido pela
maioria dos educadores, que geralmente consideram a dislexia como um resultado de má alfabetização. O
desconhecimento gera discriminação e não ajuda nas possíveis ações da escola para a superação desse
problema.

Os estudos de Scoz (2004) comprovaram a dislexia como distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área
da leitura, escrita e soletração, é muito incidente nas salas de aula. A crescente expansão de alternativas
que poderão atuar como fonte de auxílio pedagógico como a Psicopedagogia e a Psicomotricidade são
ainda pouco afetivas nas escolas públicas. Essa problemática contribui para dificultar o trabalho do
educador no processo de aprendizagem frente aos problemas decorrentes em lidar com crianças dislexas.

1.2 Justificativa

A motivação para a realização deste estudo partiu do reconhecimento de que poderão existir alunos com
dislexia frequentando a instituições, o que torna o problema ainda mais grave. A suposição parte do
número de alunos que apresentam dificuldades em assimilar os conhecimentos. No entanto, nesta
reflexão, “existem os perigos de confundir problemas de aprendizagem relativos à dislexia, com as
dificuldades inerentes ao processo natural de desenvolvimento da criança”, mas também aponta para a
existência de reais problemas de aprendizagem causados pela dislexia que necessitam de uma atuação
específica da escola.

A gestão escolar não pode cruzar os braços diante dessa realidade, por isso deve procurar mecanismos
que minimizem as dificuldades e promovam as condições de o educando superá-las. Como são vários os
problemas que afligem os nossos alunos, a opção de delimitação do estudo será a “Dislexia”.

O fracasso escolar, no entanto, é motivo para que os professores reflitam sobre as dificuldades de
aprendizagem que um aluno possa ter e também inserir a isso, o problema da dislexia. É muito importante
reconhecer que as instituições escolares precisam analisar quais são os fatores que interferem no
andamento do aprendizado e no seu rendimento. Dessa pesquisa, resta a questão para a abordagem do
tema proposto. Como identificar a dislexia? Quais as causas que têm levado os alunos a apresentar
dificuldades de aprendizagem escolar mesmo sendo considerados bons estudantes? Até que ponto a
presença da dislexia no educando tem colocado em risco seu processo de ensino-aprendizagem? Quais as
medidas possíveis que podem ser tomadas pelo educador, para facilitar o processo de ensino-
aprendizagem a alunos que apresentam dificuldades de dislexia?

1.3 Objetivos

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O objetivo desse estudo é identificar recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentar em sala de
aula, os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar os problemas da criança que
sofre de dislexia. Pretende-se analisar como a escola implementará alternativas para assessorar os
professores no reconhecimento de alunos com dislexia; apresenta-se no estudo algumas alternativas como
a importância do enfoque psicopedagógico no melhor delineamento da prática dos profissionais que
atuam na educação com crianças dislexas.

1.4 Procedimentos metodológicos

A metodologia da pesquisa orientou-se pela observação voltado para o ambiente escolar focalizando a
dificuldade de aprendizagem delimitada à dislexia, envolvendo um trabalho de entrevistas com os
professores de uma instituição de ensino voltada para a Educação Infantil e Ensino Fundamental.

Neste sentido, o estudo aponta como hipótese que a dislexia está relacionada a dificuldades de
aprendizagem. Contudo, aponta-se que as escolas praticamente não oferecem alternativas para que o
educador possa atender as dificuldades de aprendizagens da criança, de forma a identificar os fatores que
interferem na aprendizagem. Um enfoque psicopedagógico e/ou psicomotor no ambiente escolar poderá
orientar os professores a ter clareza sobre os processos de dificuldades da criança dislexa, compreendendo
as formas de articulações que deverão utilizar nas intervenções para a aprendizagem.

Justifica-se a realização do estudo com base nos pressupostos de autores sobre a dislexia, dimensiona a
questão de que os professores não devem fazer juízos errados sobre as condições do educando de
aprender, e deve, portanto, conhecer as formas de amenizar as dificuldades inerentes à aprendizagem em
face do transtorno na criança e a existência de seus dilemas que necessitam de uma atuação da escola.

A motivação para a escolha do tema partiu da necessidade de conhecer as formas de assessorar os


educadores a identificar a dislexia no educando, além de averiguar a contribuição da Pedagogia como
área de atuação no ambiente escolar que poderá produzir modificações qualitativas às questões que a
escola enfrenta atualmente, como a inclusão educativa.

A estrutura desta monografia está formada por quatro capítulos. A parte introdutória apresenta os
objetivos gerais, a justificativa, a relevância e motivação do estudo, assim como sua atuação enquanto
objeto de estudo.

O primeiro capítulo enfoca os aspectos gerais das dificuldades de aprendizagem na criança dislexa, os
estudos e pesquisas sobre dislexia e os desafios da aprendizagem, as dificuldades no processo ensino-
aprendizagem, a importância da motricidade para o corpo e sua relação com a aprendizagem da criança e
a atuação da Pedagogia e da Fonoaudiologia como suporte ao aluno dislexo.

O segundo capítulo expressa as dificuldades da aprendizagem infantil quando o problema se caracteriza


pela dislexia, a educação da criança e os fatores que provocam dificuldades de aprendizagem.

O terceiro capítulo aponta os procedimentos e métodos de pesquisa, seus instrumentos e amostragem, sua
natureza, a pesquisa de campo e os resultados estatísticos.

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O quarto capítulo apresenta a discussão dos resultados. As considerações finais apresentam uma visão
geral do estudo com base em interpretação pessoal.

2. Dificuldades da aprendizagem

2.1 Aspectos gerais da dificuldade

A necessidade de avançar nos estudos sobre os distúrbios de aprendizagem como um dos sintomas do
fracasso escolar no Brasil pode ser justificado com base em várias perspectivas: o sofrimento que causa às
crianças; os prejuízos que representa ao país; a necessidade de rever a teoria e a prática educacional diante
da natureza do problema; enfim, a necessidade de repensá-lo à luz de paradigmas pós-modernos.

Hoje, em um tempo de globalização da economia e das comunicações e também de uma época de


acirramento das contradições inter e intra povos e nações, o fracasso escolar não pode ser visto como algo
natural. Especialmente quando se trata de medidas que dimensionem a inclusão educacional. A escola
tem um novo desafio para cumprir: o desafio de aceitar as crianças que apresentam características
diferentes por sofrerem de distúrbios que dificultam o seu aprendizado.

Assim, notadamente em uma sala de aula, existem as diferenças de aprendizagem entre os alunos, além da
heterogeneidade cultural e social existentes nas escolas brasileiras, deve-se considerar também àqueles
que têm problemas para aprender. Esse desafio coloca os educadores diante da necessidade de contemplar
novos métodos e técnicas de ensino ao se depararem com uma criança diagnosticada com dislexia e ajudá-
la a se desenvolver.

A construção de uma educação para a inclusão e minimização do fracasso escolar depende de posturas
diante de crianças com dificuldades. A inclusão educacional e a aceitação de crianças com distúrbios na
sua vida escolar exigem dos professores, a reconstrução do saber da escola, além de melhoria na
formação para trabalhar pedagogicamente com a heterogeneidade.

Considera-se que o fracasso escolar se constitui em um dos problemas que se caracteriza pela falta de
reconhecimento das diferenças existentes entre os alunos nas condições de aprendizagem, na qual se
observa vários fatores de ordem psicológica, neurológicas, hereditária, econômica e social.

Nesse contexto, há duas dimensões: a dimensão interdisciplinar e a dimensão da diversidade ou


heterogeneidade no processo educacional, como fatores determinantes na minimização do fracasso
escolar.

Assim, compreende-se que com a utilização de métodos e técnicas variados para contemplar todas as
necessidades didático-pedagógicas dos alunos, surgirão às oportunidades de vivências de experiências
significativas que possam ajudar nas funções de maturação da criança nas séries iniciais.

O fracasso escolar é um elo que dimensiona a questão da tendência à seletividade da escola, a


discriminação que exclui os alunos que não se integram de imediato no aprendizado. Neste contexto, para
que o ensino possa abranger a todos e permitir que cada aluno possa vivenciar a experiência educativa de
forma integral, a escola deve valorizar o conhecimento da realidade dos alunos que são considerados
fracos ou inaptos para aprender, com isso ajudar a escola a lidar com a heterogeneidade e com a dislexia o

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seu ambiente de forma a desenvolver condições favoráveis na condução da aprendizagem. Dando as


mesmas oportunidades a todos os educandos.

2.2 Problemática da aprendizagem

A criança é um ser social, afetivo, cognitivo e com um desenvolvimento motor, psicomotor e perceptivo a
ser considerado, também. Como bem coloca Visca (2001), os problemas de aprendizagem no ser humano
não se dão apenas na realidade da organização escolar. Alguns sujeitos apresentam problemas na
aprendizagem assistemática. Este estudo propõe-se analisar os problemas da aprendizagem em geral.
Fica, porém, a ressalva de que qualquer aprendizagem implica em uma organização ou sistema.

Antes de definir alguns dos problemas de aprendizagem, cabe retornar ao conceito de sintoma ou
problema de aprendizagem. Para Visca (2001, p. 51) sintoma “é o que emerge da personalidade em
interação com o sistema social ou seus mediadores”. Logo, algo só vai se apresentar como problema
quando é exigido pelo meio.

Visto na linha da Psicopedagogia Convergente Visca (2001, p. 56) avalia que:

(...) o sintoma é o aspecto que põe em maior evidência como a aprendizagem é o resultado de uma
construção (princípio construtivista) dada em virtude de uma interação (princípio interacionista que
coloca em jogo a pessoa total princípio estruturalista).

Cumpre lembrar que é diversa a fundamentação teórica que permite a análise da questão. Cada vez mais,
os autores que estudam os problemas de aprendizagem insistem na necessidade da interdisciplinaridade e
no seu tratamento.

Mutschele (2000, p. 97), caracteriza “o estudo como o ato de aprender e de ensinar, levando sempre em
conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto”. Nesta linha, deve-se
procurar estudar a construção do conhecimento, com os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe
estão implícitos.

Segundo Pain (2002), é preciso entender o sintoma de aprendizagem como um estado particular de um
sistema que, para equilibrar-se precisou adotar este tipo de comportamento. Segundo ela, este deveria
receber um nome positivo, mas é caracterizado como não-aprendizagem.

Conforme a autora pode-se distinguir três etiologias patológicas e históricas que dificultam a
aprendizagem: À primeira deu-se o nome de obstáculo epistêmico, no qual o problema se dá por
alterações da estrutura cognitiva, quando há interrupção no desenvolvimento e lentidão, em segundo
lugar, ela utiliza o conceito de obstáculo epistemofílico, “vínculo afetivo que o sujeito estabelece com os
objetos e situações de aprendizagem” Pain (2002, p. 102). Assim, vê-se que os problemas afetivos podem
impedir ou dificultar a aprendizagem também. Finalmente cumpre incluir a categoria de obstáculo
funcional, como sendo o levantamento de hipóteses auxiliares para a análise dos problemas surgidos. De
acordo com a mesma autora, para se chegar a uma explicação ou compreensão dos problemas
apresentados por determinado sujeito, as causas a-históricas devem ser somadas às informações
relacionadas com a história deste.

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Os quadros de problemas de aprendizagem geralmente diagnosticam a disgrafia, dislexia e problemas de


prolação ou pronúncia, escrita irregular e dificuldade na correlação de sons com as letras. De acordo com
Visca (2001), outros parâmetros devem ser utilizados, pelo profissional que lida com educação, na
definição de problemas de aprendizagem, em determinado indivíduo. A preocupação de Pain (2002) é
distinguir as dificuldades de aprendizagem que advêm de problemas de nível do sujeito dos daqueles
surgidos exclusivamente na instituição escolar. Para esta autora, problemas escolares se manifestam na
resistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de pares, na inibição mental ou expressiva,
etc.

Podemos então verificar que a problemática da aprendizagem está ligada diretamente a um sistema /meio
estabelecido.

2.3 Fatores que provocam dificuldades de aprendizagem

Atualmente as discussões sobre “Problemas de aprendizagem”, passaram a ter um patamar significativo


entre intelectuais educadores, sociólogos, pedagogos e leigos. A coexistência de uma grave crise no
sistema educacional intensificou as análises acerca do tema e hoje encontramos um número razoável de
literaturas crítica sobre as mais variadas abordagens, tendo todos por objetivo entender a constituição do
fracasso escolar e definir sua natureza. Porém tantas análises e questionamentos sobre métodos didático-
pedagógicos, ainda não foram suficientes, para reverter o processo de crise na escola atual
(contemporânea).

As questões educacionais que mais têm preocupado os profissionais ligados ao ensino, referem-se aos
altos índices de evasão e reprovação escolar que têm sido registrados nas Escolas Municipais e Estaduais
e o grande número de crianças que tem recorrido ao sistema de recuperação e a tratamentos
psicopedagógicos com problemas de aprendizagem.

As condições internas para a aprendizagem, na visão de Pain (2002) se dão em três planos estreitamente
inter-relacionados que envolvem o corpo, como infra-estrutura neurofisiológica ou organismo, incluídas
aí as condições de alimentação, de abrigo e de sono, as condições cognitivas da aprendizagem
correspondente e a dinâmica do comportamento.

Segundo Bettelheim (1999) vários problemas são decorrentes dos insucessos da aprendizagem, sobretudo
da aprendizagem escolar: angústia, perda da auto-estima e uma variedade de outras manifestações.

Scoz (1998) chama a atenção para o fato de que certas teorias sobre a aprendizagem não admitem que o
fator memória seja uma alteração do organismo; outras tendem a atribuir a tais alterações um papel menor
na aprendizagem. Entretanto, o ponto de vista de que a experiência deixa alterações mais ou menos
permanentes na função das unidades nervosas, oferece implicações cuja importância para a educação
merece que se tenha em conta. Segundo a concepção de Scoz (1998), a memória e a aprendizagem são
processos dinâmicos, cujo resultado é a modificação de todas as futuras atividades do organismo.

A memória tem natureza dupla: é uma forma de organização figurativa e uma forma de organização
cognitiva. É figurativa, porque serve de imagem como instrumento; e cognitiva, porque usa os esquemas
da inteligência para o conhecimento do já vivido (passado). Não se confunde, porém, com a imagem,
porque não é simbólica como esta, nem com a percepção, por que não processa dados atuais, nem com a

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inteligência em si, porque sua função precípua não é a solução de problemas novos, embora a
reconstituição do passado seja um problema, cuja solução não é automática.

Ao examinar a aprendizagem como processo dinâmico, Scoz (1998) observa que defeitos menores do
sistema de percepção produzem alterações de maior vulto, do que as resultantes de defeitos maiores. Isto
ocorre devido à interferência causada pelo defeito menor e transitório e produz, portanto, uma informação
contraditória, insegura, enquanto que a interferência produzida por um defeito maior afeta a percepção de
um modo constante, o que facilita a compensação. É o que ocorre no caso da organização do aprendizado.

Dessa forma, observa-se que a aprendizagem é resultado de ações tanto do indivíduo (aprendente) quanto
do processo (meio) ao qual está inserido o humano, com isso produzir desenvolvimento, ou seja, uma
pequena ação ou ausência dela refletirá numa não ação ou presença dela.

3. Tipos de dislexia

Se quanto à gênese da dislexia as opiniões são assaz divergentes, já o mesmo não se poderá dizer
relativamente à sua classificação, já que, neste aspecto, nos deparamos com pareceres bastante
consensuais. Basicamente, os autores apresentam dois tipos de dislexia: a adquirida e a
de desenvolvimento. A primeira é um distúrbio adquirido que ocorre (geralmente em adultos) devido a
uma lesão cerebral; na segunda, as perturbações na leitura e na escrita manifestam-se desde a infância
(cfr. CUBEROS et all, 1997, p.121). Assim, podemos classificar a dislexia em três grupos distintos (ou
subtipos):

dislexia disfonética(auditiva)
dislexia diseidética(visual)
dislexia mista(visual e auditiva)

O primeiro sinal de possível dislexia pode ser detectado quando a criança, apesar de estudar numa boa
escola, tem grande dificuldade em assimilar o que é ensinado pelo professor. Criança cujo
desenvolvimento educacional é retardatário podem ser bastante inteligente, porém pode sofrer de dislexia.
O melhor procedimento a ser adotado é permitir que profissionais qualificados examinem-na, para
averiguar se ela é disléxica. A dislexia não é o único distúrbio que inibe o aprendizado, mas é o mais
comum.

Ellis (1995) enfatiza a referência à dislexia-síndrome e a dislexia-sintoma. Para ele, a dislexia específica
de evolução é a dislexia-síndrome, e a dislexia-sintoma, como o próprio nome sugere, é a dislexia que
ocorre em consequência de uma lesão cerebral, de um retardo mental, etc.

Autores como Bee (1996) e Ellis (1995) embora citem em suas obras a dislexia como “transtorno de
aprendizagem” reconhecem que o termo é muito amplo e tem levado os profissionais a certa confusão,
uma vez que existem muitos tipos de problemas deste gênero.

Com as publicações de Ellis (1995, p. 48), a definição foi se tornando mais consistente e científica. Por
exemplo, se classificam as “discapacidades de aprendizagem” em relação a algumas capacidades que
podem ser qualificadas como especificamente humanas tais como comunicação simbólica, linguagem,
leitura, escrita e cálculo matemático.

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Na visão de Drouet (2003), a dislexia específica ou dislexia de evolução, se traduz por um conjunto de
sintomas reveladores de uma disfunção pariental (o lobo do cérebro onde fica o centro nervoso da
escrita), geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num processo
contínuo que se estende do leve sintoma ao sintoma grave. A dislexia é frequentemente acompanhada de
transtornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e redação.

Segundo Pamplona (2000, p. 31), a dislexia não é uma doença, mas um fracasso inesperado na
aprendizagem, que embora muitos estudiosos afirmem que sua origem está na alfabetização infantil. Não
há índices comprobatórios que concluam a hipótese, levando-se em consideração que as causas ou a
etiologia da síndrome disléxica são de diversas ordens e dependem do enfoque ou análise do investigador.

Quanto ao termo “Dislexia Específica”, parece haver, na atualidade, uma concordância internacional; em
sua origem, estão os fatores constitucionais determinantes, àqueles que se traduziam por uma deficiência
perceptiva ao nível visual, conduzindo ao transtorno da leitura-escrita e à perturbação de suas correlações
com a linguagem falada. Conforme Ellis (1995, p. 44):

A dislexia causa sérios problemas na aprendizagem infantil, como o atraso na aquisição das primeiras
palavras, fala inadequada, dificuldades de aprendizagem e, consequentemente, dificuldades de retenção
na memória de palavras impressas, inversões e rotações dos movimentos gráficos e omissões e
substituições na leitura, repetição de erros ortográficos e outros problemas identificados no processo de
aprendizagem.

Assim, compreende-se as dificuldades dos educandos para acompanhar o desenvolvimento das atividades
nas séries iniciais. A falta de maturação biológica impede o completo desenvolvimento da aprendizagem.

Conforme Bee (1996, p. 117), a Dislexia é uma disfunção genética caracterizada por uma falha no
funcionamento do processamento da linguagem, esse transtorno é um dos muitos distúrbios da
aprendizagem identificados, em geral, somente na idade escolar.

Santos & Marinho (2005) define a dislexia como transtorno da aprendizagem que pode ser entendido
como uma deficiência especial na aprendizagem. Referem-se a uma alteração em um ou mais dos
processos psicológicos básicos para a compreensão ou o uso da linguagem escrita ou oral, que pode se
manifestar como uma falta de habilidade para escutar, pensar, ler, escrever, soletrar ou desempenhar
cálculos matemáticos.

Para a Associação Internacional de Dislexia (IDA), dislexia é um distúrbio específico da linguagem,


constitucional (neurológico), de origem genética, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras
simples, resultando em problemas como dificuldades de leitura e de aquisição de linguagem, além de
falhas na capacidade de escrever e soletrar. Os estudiosos não a consideram uma doença, portanto não é
possível falar em cura.

Drouet (2003) considera que a dislexia específica ou dislexia de evolução um conjunto, se traduz por um
conjunto de sintomas reveladores de uma disfunção pariental (o lobo do cérebro onde fica o centro
nervoso da escrita), geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura
num contínuo que se estende do leve sintoma ao sistema grave.

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Segundo Ellis (1995, p. 31), quando se fala em dislexia específica de evolução, supõe-se um quadro “com
perturbações perceptivo-cognitivas que dificultam a aquisição da leitura e da escrita”. O termo
“perceptivo-cognitivas” significa que as dificuldades se localizam na esfera da percepção simbólica, tanto
ao nível de palavras visualizadas como ao de palavras ouvidas.

Os estudos de Ellis (1995) comprovaram que existe um fator genético causador da dislexia que produz as
dificuldades de fala, audição, escrita e fracasso escolar. Esses estudos permitiram a realização de
pesquisas mais profundas sobre a dislexia que culminaram com vários projetos específicos sobre o tema
nas Universidades Paulistas e Cariocas, estimulando as instituições de ensino superior a pesquisas mais
abrangentes para a descoberta de outros genes vinculados à dislexia.

Nas pesquisas desenvolvidas os estudos apontaram a existência de três genes ligados a esse problema,
tornando-se possível proceder ao completo mapeamento de todos os genes ligados à dislexia. Essas
pesquisas abrangentes envolvem tecnologia e permitem aos profissionais investirem em procedimentos de
avaliação, intervenção e orientação a pais e professores.

Assim, verifica-se que os procedimentos com a criança dislexa envolvem necessariamente uma iniciativa
multidisciplinar que vai envolver, além de geneticistas, também fonoaudiólogos, pediatras, psicólogos,
neurologistas, neuropsicólogos e outros colaboradores da área de pesquisa e ciência.

Salles & Parente (2002) demonstraram que os alunos que sofrem o transtorno têm dificuldade na leitura e
escrita abaixo do esperado para sua idade e escolaridade. A dislexia produz na criança efeitos que causam
confusão na associação da imagem auditiva, visual e mental do som.

Os estudos de Santos & Marinho (2005) apontam que além da confusão entre imagem auditiva, visual e
mental do som, a criança poderá apresentar problemas com a memória e falha de percepção.

Os estudos de Pinheiro & Parente (1999) sobre a aprendizagem permitiram identificar que a dislexia se
trata de um distúrbio de aprendizagem escolar, assim a pesquisa aponta que o processo de aprendizagem
desemboca numa nova modalidade funcional do organismo que se expressa com um comportamento que
difere em alguma medida do que era característico da etapa anterior ao processo de aprendizagem.

Neste contexto, compreende-se que a aprendizagem é constatada e estudada indiretamente, através de


seus efeitos sobre o comportamento humano, geralmente identificado nas formas de atuação em que o
sujeito utiliza seus conhecimentos teórico-práticos e é conceituada como qualquer mudança relativamente
permanente no comportamento e que resulta de experiência ou prática. As mudanças permanentes de
comportamento se efetivam a partir do momento que o conhecimento adquirido se transforma, a partir da
realidade vivencial, unindo a experiência ou a prática e transformando-a em uma situação nova.

O aprendizado depende também da conduta motriz e da linguagem para se fazer pleno na relação sujeito-
objeto. Para Pinheiro e Parente (1999, p. 31), a conduta motriz com suas numerosas implicações
neurológicas, considerando que a capacidade motriz da criança constitui o ponto de partida natural na
estimação de sua maturação para aprender. Com isso, o processo de aprendizagem permite à criança a
manipulação de objetos bem como a habilidade para usar coerentemente a capacidade motora na solução
de problemas práticos e para realizar novas adaptações. Dessa forma, podemos dizer que
independentemente da gênese da dislexia, o que importa é o não-resultado (resultado) produzido por ela.

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É que de posse desse resultado (identificado) possa se conduzir o processo de ensino aprendizagem.

3.1 Desafios da aprendizagem

Os autores identificam que os quadros de distúrbio de aprendizagem, as falhas ou sintomas estão voltados
para a influência da maturação e para o subsequente registro dos erros específicos da leitura e da escrita.
E como processos causados na aprendizagem, não devem ser encarados como doença, mas como falta de
aptidão para aprender, eles dimensionam a necessidade dos educadores realizarem planejamentos
didáticos que possam estimular a normalização do processo maturativo.

Nesse contexto, os estudos de Pinheiro e Parente (1999), contribuíram para esclarecer que é possível
desenvolver intervenções para melhorar as funções de maturação que se encontram, prejudicadas nas
crianças disléxicas apontadas por Salles & Parente (2002) como falhas nos processos de senso-percepção,
atenção, memória, imaginação, motricidade, esquema corporal, lateralidade, espacialidade e ritmo.

Todas essas problemáticas certamente condicionam a criança às falhas que estão vinculadas ao processo
de aprendizagem e são detectadas com facilidade pelos pais, professores e terapeutas; elas representam os
erros cometidos na escrita e na leitura.

É importante ressaltar que estes dois grupos sintomáticos fundamentais, de maturação e de aprendizagem,
nem sempre podem ser considerados separadamente. Existe entre eles uma interação, uma
interdependência que obriga o profissional a estabelecer relações bastante precisas. De qualquer forma,
acreditamos na fundamental prioridade do processo de maturação.

Assim, analisa-se a importância que o processo de maturação desempenha para a aprendizagem, já que
sua base é a capacidade genética através dos pais e que se perpetua por toda a vida, em maior ou menor
grau, influenciando toda a aprendizagem.

Conforme Ellis (1995, p. 45) as crianças com transtornos específicos de aprendizagem apresentam
alteração em um ou mais processos psicológicos básicos, envolvendo a compreensão e o uso da
linguagem falada ou escrita. As manifestações apresentam-se como transtorno de atenção, do
pensamento, da fala, da leitura, da escrita, da soletração ou da aritmética.

Portanto, as crianças apresentam dificuldades de aprendizagem devido ao quadro de dislexia, que do


ponto de vista educacional, se constitui em um transtorno específico de aprendizagem.

Os estudos realizados por Ellis (1995, p. 59) têm a classificação específica do grupo das “dislexias” que
engloba um importante conglomerado de afecções que se caracterizam, fundamentalmente, pelas
dificuldades no aprendizado da linguagem lida-escrita, apesar de, aparentemente, não se observarem
outras causas que justifiquem tais dificuldades.

No processo de leitura, os disléxicos recorrem somente à área cerebral que processa fonemas. A
consequência disso é que, disléxicos têm dificuldade em diferenciar fonemas de sílabas, pois sua região
cerebral responsável pela análise de palavras permanece inativa. Suas ligações cerebrais não incluem a
área responsável pela identificação de palavras e, portanto, a criança disléxica não consegue reconhecer
palavras que já tenha lido ou estudado. A leitura se torna um grande esforço para ela, pois toda palavra

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que ela lê, aparenta ser nova e desconhecida.

As investigações de Santos & Marinho (2005, p. 4) comprovam que a etiologia dos distúrbios de
aprendizagem é multifatorial, refletindo influências genéticas e anormalidades na função e estrutura
cerebrais, sendo que as ligações familiares e hereditárias são as causas mais comuns. Segundo o autor,
deve-se levar em conta a interferência de fatores extrínsecos como, a conduta em relação ao dormir, saúde
em geral, nutrição e assistência à escola.

No processo de aprendizagem escolar a integração e organização da noção espacial, corporal e exterior


são fundamentais para a criança ter acesso a um aprendizado específico, uma atenção do educador para
que o aluno possa entender de forma clara. Esse trabalho pedagógico é importante porque permite que o
educando evolua nas funções maturacionais, a partir do desenvolvimento das condutas biologicamente
herdadas e de suas exteriorizações, através de condutas adquiridas (aprendizagem), proporcionadas pelo
ambiente escolar.

Compreende-se, portanto, que a criança precisa de estímulo para desenvolver suas habilidades no
processo de leitura, comprovando que conforme Santos & Marinho (2005, p. 4), as manifestações clínicas
dos transtornos da aprendizagem dependem notavelmente da idade da criança e do ambiente educacional
ou falta do mesmo, em que ocorrem.

Estudos atuais comprovam que o desenvolvimento da dislexia está ligado a um fator genético, no entanto,
para a manifestação da dificuldade na leitura, há necessidade de sobreposição de fatores genéticos e
variações ambientais, o que determinarão quais serão os indivíduos afetados ou não. Os resultados dos
estudos de Santos e Marinho (2005) demonstraram que os maiores riscos ambientais para a manifestação
da dislexia são o nível sócio-econômico; a oportunidade educacional; e o ambiente literário domiciliar.

Assim, os estímulos serão sempre o melhor caminho a ser adotado para estimular o desenvolvimento no
processo de aprendizagem, independentemente das causas na interferência de conduta. O que de fato
importa é como agir na hora do desenvolvimento e gerar a possibilidade para que a criança caminhe com
as próprias pernas.

3.2 Especificidades da dislexia

A suspeita de dislexia pode ser levantada quando a criança demonstra alguns problemas no cotidiano
escolar como: desatenção, dificuldades no relacionamento com as outras crianças, atraso no
desenvolvimento da fala e da linguagem, atraso no desenvolvimento visual, dificuldades da coordenação
motora, dificuldades com a linguagem e escrita, dificuldades em escrever, dificuldades com a ortografia,
lentidão na aprendizagem da leitura, disgrafia (letra feia), discalculia (dificuldade com a matemática,
sobretudo para assimilar símbolos e decorar a tabuada), dificuldades com a memória de curto prazo e com
a organização, dificuldades em seguir indicações de caminhos e em executar sequências de tarefas
complexas, dificuldades para compreender textos escritos, dificuldade com a percepção espacial e
confusão entre direita e esquerda. (Martins; 2007)

Dentre as dificuldades que pode ser demonstradas como problemas específicos da aprendizagem da
criança dislexa, podem-se apontar a defasagem no processo da linguagem simbólica, onde o educando
não consegue acompanhar devidamente o ritmo de sala de aula, especialmente por que a falta de

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conhecimento do problema por parte dos educadores, favorece a imagem de que a criança é desmotivada.

A Dislexia não consiste de uma alfabetização precária, desatenção, condição sócio-econômica ou baixa
inteligência, ela reduz-se em uma condição hereditária com alterações genéticas, apresentando ainda
alterações no padrão neurológico, cujos fatores relacionados são: problemas de lateralidade, de
organização espacial, de organização temporal, atraso de linguagem, problemas de ordem afetiva e, além
dos antecedentes hereditários.

De acordo com Ajuriaguerra (1999), observa-se que a dislexia é frequentemente acompanhada de


transtornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática. A aprendizagem, a aquisição e o uso
adequado da leitura e da escrita como um nível de linguagem requer condições com estímulos, mas nem
sempre o aluno recebe essa estimulação específica em sala de aula, e raramente possibilitam a essas
crianças as atividades lúdicas especiais para estimular o desenvolvimento da linguagem. Logo, tanto a
aquisição como o desenvolvimento da linguagem dependem da adequada estimulação ambiental, sobre as
possibilidades biológicas de cada individuo. Se os aspectos biológicos e o ambiente são favoráveis,
suficientemente há aprendizagem.

Conforme Santos & Marinho (2005, p. 3), a leitura envolve a integração de múltiplos fatores relacionados
à experiência do indivíduo, habilidades e funcionamento neurológico. Estudos constatam que na prática
pedagógica, no cotidiano escolar a maioria das crianças e adultos com dificuldades de leitura
experimentam uma variedade de problemas com a linguagem que origina uma função cerebral alterada e
secundariamente, fatores emocionais e do ambiente podem ter um efeito prejudicial no processo de
aprendizagem em cada criança.

As investigações de Santos & Marinho (2005, p. 5), descrevem que a dislexia tem forte predomínio
cerebral, constatando que na criança dislexa existe um notável grau de equipo-tencialidade dos dois
hemisférios que se perdem rapidamente quando a criança adquire a fala.

Alguns autores afirmam ainda que nem todos os indivíduos com dificuldades de leitura apresentam
deficiência na lateralidade e que muitos aprendem a ler normalmente com predomínios laterais
incompatíveis.

Alguns autores como Bee (1996) e Ellis (1995) comentam de forma restrita a questão da lateralização,
mas expõem que acreditam que esses indivíduos poderão apresentar dificuldades de aprendizagem e
defasagem no decurso escolar.

Por isso adotamos a visão de Santos & Marinho (2005), pois ele chegou a essa conclusão em um estudo
mais criterioso que permitiu a identificação e evolução da frequência em relação aos atrasos no
desenvolvimento da fala, defeitos na percepção espacial, dificuldades motoras e dos problemas relativos à
dislexia, demonstrando a relação entre disléxicos totalmente destros e os fatores genéticos que poderiam
ser responsáveis pelo quadro. Ao mesmo tempo em que buscou as respostas para explicar as causas do
atraso do desenvolvimento e o transtorno da leitura. Os resultados demonstraram que tais
comportamentos e inabilidades motoras são manifestações independentes de uma alteração generalizada
da organização neurológica e não se relacionam entre si.

4. Desafios e métodos para a superação das dificuldades

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Entende-se que os desafios das dificuldades de aprendizagem por dislexia se constituem uma
problemática, cuja escola deverá ter alternativas para oferecer recursos às necessidades especiais dos
educandos.

Do ponto de vista pedagógico, a situação do aluno disléxico é reversível, a orientação adequada é o


acompanhamento da reeducação psicomotora. (Pamplona; 2000)

Este processo é fundamental e pode ser tratado a partir de exercícios que expressem os seguintes
aspectos: diferenciação do “eu” espacial, organização e representação do esquema corporal, noção e
sentido de deslocamento, noção de orientação, de distância e intervalo, duração, intensidade, ritmo,
coordenação dinâmica geral, associações múltiplas sensoriais e expressão corporal. Nas disgrafias, os
métodos de recuperação devem iniciar-se com exercícios de motricidade, coordenação dinâmica geral.
(Cruz; 2003)

O corpo é o ponto de referência de a criança interagir com o mundo, e é esse ponto que servirá de base
para o desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem de conceitos tão importantes para uma boa
alfabetização. Um exemplo disso é gerar os conceitos de: atrás, embaixo, em cima, ao lado, à direita,
esquerda... através desses conceitos ela visualiza e seu corpo capta a mensagem, posteriormente ele
consegue visualizá-lo nos objetos entre si, isso fará com que a criança domine o seu corpo, para realizar
determinada tarefa.

4.1 Esquema corporal

O corpo deve ser entendido por um conjunto, como biológico, orgânico (os cinco sentidos), em seus
aspectos psicológicos, psicomotores, emocionais, cognitivos e sociais. Na realidade, a criança tem uma
representação gráfica da imagem de si. Por esta razão, queremos conhecer a visão da criança sobre si
própria.

4.1.1 Coordenação motora

Para uma pessoa manipular os objetos que os cercam, precisam ter certa habilidade e isso depende da
capacidade de equilíbrio postural. Um indivíduo desde cedo pratica algumas atividades como: correr,
pular, saltar, nadar, andar, sentar, ou seja, já possui uma coordenação global de seus movimentos. Já a
coordenação fina, diz respeito à habilidade e destreza manual e constitui um aspecto particular da
coordenação global.

Brandão (1984) analisa a mão como um dos instrumentos mais úteis para a descoberta do mundo,
afirmando que ela é um instrumento de ação a serviço da inteligência. Portanto, só possuir uma
coordenação fina não é suficiente. É necessário que haja um controle ocular, ou seja, a visão
acompanhada com os gestos da mão, isso é chamado de coordenação viso-motora. E esta coordenação é
essencial para a escrita. O desenvolvimento da escrita depende de diversos fatores como: sistema nervoso,
psicomotor, em relação á coordenação dos movimentos e do desenvolvimento da motricidade fina dos
dedos da mão.

4.1.2 Lateralidade

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A lateralidade é a propensão que o ser humano possui mais um lado do corpo do que o outro, e em
especial em três níveis: mão, olho e pé. Isto significa dizer, que existe um predomínio motor, uma
prevalência de um dos lados. Mas não podemos dizer que a criança só vai usar um lado. Ela poderá usar
um dos lados ou ainda, os dois lados, o que não é comum, é chamada de ambidestra. Podem ocorrer que
em alguns casos, algumas crianças possam usar a mão não-dominante em detrimento da dominante.

São diversos os motivos que ocasionam um desvio da lateralidade, podem ocorrer também, casos em que
a mudança de prevalência manual se modifique por motivo de identificação com alguém ou ainda por
imposição dos pais ou professores, por motivo afetivo ou outro tipo de motivo.

4.1.3 Estrutura Espacial

É essencial que vivamos em sociedade e, portanto, é através desse espaço e das relações espaciais que nos
situamos no meio em que vivemos, em que estabelecemos relações entre as coisas.

Segundo Ajuriaguerra (1988, p. 33), a escrita é uma atividade motora que obedece a exigências muito
precisas de estruturação espacial. A criança deve compor sinais orientados e reunidos de acordo com as
leis. (...) A escrita é, pois, uma atividade espaço-temporal muito complexa.

A criança move mão para pegar algum objeto qualquer e por meio dessa cinestesia a criança calcula a
distância que tem que percorrer, e a partir dessa avaliação, determina a distância que se encontra o objeto.
A visão nesse caso é fundamental de acordo com a nossa própria experiência. Já a percepção auditiva é
representada pela associação do símbolo verbal a outra sensação do próprio corpo. A estruturação
espacial não nasce com a criança, é uma elaboração e construção mental, que se opera através dos seus
próprios movimentos em relação ao objeto que está em seu meio.

4.1.4 Estrutura Temporal

As noções de corpo, espaço e tempo têm que estar ligadas intimamente em relação ao movimento
humano. O corpo coordena-se e movimenta-se sempre dentro de um espaço determinado, em função do
tempo.

A leitura exige uma percepção temporal, da mesma forma que a palavra escrita exige que se tenha uma
orientação no papel, isso também vai obedecendo um certo ritmo e dentro de um tempo determinado.
Para uma criança aprender a ler e escrever, é necessário que possua domínio de tempo, de ritmo, uma
sucessão de sons no tempo, uma memorização auditiva, uma diferenciação de sons. É a orientação
temporal que lhe garantirá uma experiência de localização dos acontecimentos do passado, presente, e
uma capacidade de projetar-se para o futuro. Nesse contexto, a criança passa a tomar consciência das
relações do tempo.

A educação psicomotora tem muito interesse em trabalhar com os movimentos ritmados, espaço de
tempo, pois, além de ser um dos elementos de expressão dos sentimentos, o ritmo permite, também, uma
maior flexibilidade de movimentos, um maior poder de atenção e concentração, isso também diz respeito
ao espaço temporal.

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Assim, a psicomotricidade é fundamental no tratamento da criança dislexa que tem dificuldades motoras
corporais. Do ponto de vista pedagógico, a situação do aluno disléxico é reversível, segundo a autora
Pamplona (2000, p37):

A orientação adequada é o acompanhamento da reeducação psicomotora pode ser tratada a partir de


exercícios que expressem os seguintes aspectos: diferenciação do “eu” espacial, organização e
representação do esquema corporal, noção e sentido de deslocamento, noção de orientação, de distância e
intervalo, duração, intensidade, ritmo, coordenação dinâmica geral, associações múltiplas sensoriais e
expressão corporal.

Assim, constata-se que a psicomotricidade, poderá produzir no educando dislexo um tipo de intervenção
pedagógico-terapêutica para a organização do esquema corporal. Nesses casos, o uso da ludicidade
através do jogo e do brincar é um importante elemento pedagógico, que privilegia a criação,
representação e a imaginação. Além de que essas atividades com enfoque psicomotriz poderá ser uma
vertente terapêutica na organização do esquema corporal de crianças dislexas.

Piaget (1969) aponta a relação entre a formação da inteligência e a experiência motriz da criança.
Portanto o esquema de desenvolvimento corporal faz parte inerente da unidade biológica ou psíquica e,
portanto, atua na base do desenvolvimento da personalidade da criança.

5. Procedimentos e métodos de pesquisa/observação

O presente estudo baseia-se no método indutivo, pois parte de questões particulares até chegar a
conclusões generalizadas de acordo com as teorias gerais. Conforme Barros (2002, p. 34), o método é
próprio das ciências naturais também aparece na Matemática através da Estatística, envolvendo resultados
manipulação estatística dos resultados da pesquisa com os alunos e o professor pesquisados.

O método de apresentação dos resultados se constitui no método estatístico. Segundo Barros (2002, p.
76), “o método estatístico compreende duas partes, o cálculo do tamanho da amostra e a análise estatística
que são utilizados para responder as perguntas da pesquisa”.

O estudo é também de caráter exploratório. Conforme Andrade (2003, p. 124), a pesquisa exploratória é o
primeiro passo de todo trabalho científico. São finalidades de uma pesquisa exploratória, proporcionar
maiores informações sobre determinado assunto, facilitar a delimitação do estudo e a definição de
objetivos ou formulação de hipóteses. Portanto, através da pesquisa exploratória avalia-se a possibilidade
de desenvolver uma boa pesquisa sobre determinado assunto.

A respeito da pesquisa exploratória Martins (2000, p. 41) descreve que “toda pesquisa bibliográfica ou de
campo é também exploratória, estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. Pode-se dizer que estas
pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.

O estudo tem a finalidade de conhecer as contribuições científicas sobre o tema, tendo como objetivo
recolher, selecionar, analisar e interpretar as contribuições teóricas existentes sobre o fenômeno
pesquisado, com tem base descritiva das características apresentadas pelos vários autores que
fundamentaram a pesquisa.

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A pesquisa tem base qualitativa, com perguntas estruturadas e respostas objetivas, onde os dados serão
analisados qualitativamente e apresentados sob a forma gráfica com seus percentuais equivalentes.
Conforme Martins (2000, p. 41):

As pesquisas quantitativas são mais adequadas para apurar opiniões e atitudes explícitas e conscientes dos
entrevistados, pois utilizam instrumentos estruturados (questionários). Portanto são representativas de um
determinado universo de modo que seus dados possam ser generalizados e projetados para aquele
universo. Seu objetivo é mensurar e permitir o teste de hipóteses, já que os resultados são mais concretos
e, conseqüentemente, menos passíveis de erros de interpretação. Em muitos casos geram índices que
podem ser comparados ao longo do tempo, permitindo traçar um histórico da informação.

A pesquisa qualitativa, segundo Lüdke (1986, p. 11) “tem o ambiente natural como sua fonte direta de
dados e o pesquisador como seu principal instrumento”. Ainda segundo ao autor a pesquisa qualitativa
preocupa-se mais com o processo do com o produto.

A pesquisa é também de cunho etnográfico, que segundo Azevedo (1991, p. 34), “a pesquisa etnográfica
ou estudos do tipo etnográfico representam o estudo e o relato de experiências de vida, em um processo
que requer reflexão, habilidade na descrição e clareza, de tal forma que permita expressar em palavras,
acontecimentos, comportamentos, processos sociais e contextos com vivências e experiências dos
sujeitos”

5.1 Instrumentos de pesquisa/observação e amostragem

O instrumento da pesquisa/observação se constituiu no questionário aberto semi-estruturado e a


observação direta tendo como sujeitos uma pequena amostragem de 20% das professoras (8) de um
universo total de 100% representado por 40 professoras.

A técnica de observação direta compreende uma modalidade sistemática, planejada, estruturada, não
participante e individual, a partir das observações realizadas no ambiente escolar. Com a realização da
coleta de dados foi possível avançar para uma análise da dislexia.

5.2 A natureza da pesquisa/observação

Quanto à natureza da pesquisa pode-se classificá-la como trabalho científico na área de Pedagogia,
fundamentado nos trabalhos, interpretação e idéias concebidas por autores como DOUET (2003), ELLIS
(l995); FONSECA (1995); GARCÍA (l998) e PAMPLONA (2000).

Quanto à natureza dos dados, a pesquisa teve a finalidade de contribuir com novas análises sobre o tema.

5.3 Pesquisa de campo

A população alvo se constituiu por oito professoras. A pesquisa compreendeu uma visão mais ampla do
objeto a ser observado, portanto, a escola é um microcosmo que favorece a pesquisa educacional e requer
critérios de seleção de instrumentos e rigores metodológicos para investigar a realidade.

Segundo Andrade (2003, p. 127), a pesquisa de campo trata-se de “uma pesquisa com o objetivo de

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conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta,
ou de uma hipótese, que se queira comprovar ou, ainda descobrir novos fenômenos ou as relações entre
eles”. Portanto para o estudo e sua gênese, a pesquisa de campo foi à principal forma de conhecer e
analisar como se dá a realização de uma técnica específica pedagógica com o uso de texto.

5.4 Resultados estatísticos da observação

1) Existem casos de alunos com dislexia na sala de aula?

Constatou-se na observação que existem três casos de criança dislexa com diagnóstico confirmado e que
poderá haver casos na escola de outras que ainda não foram identificados com o problema.

2) Foi possível identificar em sala de aula alunos que apresentam o distúrbio da dislexia?

Segundo os resultados da observação, em 80% dos casos é notório identificar esse tipo de distúrbio
multifatorial.

3) Quais as sugestões que poderiam ser dadas à escola para atender as necessidades especiais dos alunos
com dislexia?

Conforme observação, aponto como alternativas para atender as necessidades especiais dos educandos o
atendimento psicopedagógico, o trabalho de fonoaudiologia, o desenvolvimento de algum tipo de ajuda
psicológica e a realização de um trabalho pedagógico interdisciplinar.

4) Quais os métodos e técnicas que poderiam ser utilizados com esses alunos?

Observou-se que 42,86% das professoras utilizam como meio de facilitar o trabalho destes alunos as
técnicas de leitura e caligrafia, 28,57% utilizam o método global[2] de leitura com junção de aspectos
fonológicos nas palavras e 28,57% realizam atividades de caligrafia e ortografia para melhorar as
competências linguísticas.

5) A instituição educativa oferece algum profissional para atender às necessidades especiais de alunos
dislexos?

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Constatou-se na observação que a instituição oferece trabalho de orientação educacional e atendimento


psicopedagógico.

6) Os alunos dislexos ficam em classes especiais?

Foi observado que esses alunos se encontram em classes regulares.

7) É um desafio ensinar alunos com problemas de aprendizagem por dislexia?

A observação demonstrou que 100% das professoras reconhecem os desafios de educar uma criança com
problemas de aprendizagem causada por dislexia.

8) Em que campo da aprendizagem esses alunos apresentam mais necessidade de intervenção


educacional?

Verificou-se na observação que 50% dos alunos têm dificuldades no processo de leitura e escrita; 25%
têm grandes dificuldades motoras e 25% apresentam dificuldades de atenção e motivação para a
aprendizagem, o que dificultaria o ensino.

6. Uma síntese dos resultados da pesquisa/observação

Constatou-se na observação que a dislexia se constitui em um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na


área da leitura, escrita e soletração que depende de intervenções pedagógicas dos professores para que os
alunos tenham uma formação educacional de mais qualidade Assim, apresentam-se através da pesquisa
algumas sugestões como o atendimento psicopedagógico, o atendimento psicológico, a atuação de ações
interdisciplinares no ambiente escolar para minimizar os problemas de aprendizagem da criança dislexa.

A pesquisa demonstrou a importância da psicomotricidade, da psicopedagogia, e da fonoaudiologia como


suporte de apoio e recursos que obtiveram uma crescente expansão nas alternativas que poderão atuar
como fonte de auxílio pedagógico. Portanto, a realização de intervenções pedagógicas exige a ação de
apoio profissional interdisciplinar entre os educadores e a presença de profissionais que atuem em
diversas áreas que possam favorecer a criança a superar suas dificuldades de aprendizagem.

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A presença de equipes interdisciplinares, do apoio da gestão escolar e da direção em geral é importante


para evitar que os professores possam confundir problemas de aprendizagem relativos à dislexia, com as
dificuldades inerentes ao processo natural de desenvolvimento da criança. Portanto, é fundamental que os
educadores tenham conhecimentos sobre a dislexia para que possam identificar os alunos que tenham
problemas de aprendizagem relativos a esse distúrbio e necessita de uma atuação específica da escola ou
de profissionais adequados.

Autores como Scoz (2002); Pamplona (2000) e Fonseca (1995) avaliam a importância dos mecanismos
que minimizem as dificuldades e promovam as condições de o educando superar as dificuldades,
indicando que a dislexia não é uma doença, mas um distúrbio que poderá ser sanado diante de alternativas
que possam favorecer as crianças dislexas os meios de reeducação dos aprendizados e eliminar os
problemas que as afligem.

Identificou, também, que vários são os indícios para reconhecer quando o educando poderá ser um
dislexo no andamento do aprendizado e no seu rendimento. É importante que os educadores possam
reconhecer e identificar a dislexia, estudar sobre as causas, assim como se preocuparem com as medidas
possíveis que podem ser tomadas para facilitar o processo ensino-aprendizagem.

Atualmente existem muitos recursos e meios de auxiliar os professores a enfrentarem no seu cotidiano em
sala de aula os desafios de intervir em níveis didático-pedagógicos para minimizar os problemas da
criança que sofre de dislexia, bastando para isso, a boa vontade da gestão escolar de implementar
alternativas para assessorar os professores no reconhecimento de alunos com dislexia e na utilização de
recursos e profissionais que possam dar um apoio à criança. Os alunos disléxicos necessitam de
acompanhamento pedagógico, de suporte psicomotor e de acompanhamento fonoaudiológico
especializado para a superação das dificuldades de aprendizagens que levam ao fracasso escolar do aluno.

Considerações finais

A questão do olhar pedagógico se dá de forma cíclica. Quando a criança ou o jovem chega ao foco do
pedagogo, vem acompanhando de sua história familiar, escolar e sócio-política. O que lhes trouxe, ou
seja, a queixa, também vem envolvida de valores, agentes ocultos e moldada à dinâmica e ao
funcionamento familiar e escolar do aprendente. O pedagogo tem como alicerce de sua intervenção, não
somente os dados reais ou os fatos apresentados, mas sim o que está por trás, oculto e que poderá tomar
forma e sentido através do olhar pedagógico, pulverizado para todos os espaços.

Ele é um instrumento de análise fundamental do pedagogo. Suas variáveis assumem valores diferentes em
situações diferentes. O diagnostico pedagógico é antes de tudo uma investigação e, nesse sentido, o
discurso, a postura, a atitude do “aprendente” e dos envolvidos são pistas importantes que ajudam a
chegar nas questões a serem desvendadas. É através do desenvolvimento do olhar nos espaços que o
aprendente transita, além da escola, em que a ação se dá de fato. Trabalhados e incorporados pelo
profissional que poderão ser lançadas as primeiras hipóteses à cerca do indivíduo. Esse olhar ultrapassa os
dados reais relatados e busca as entrelinhas, a emoção, a elaboração do discurso inconsciente que o
atendido diz.

Da mesma forma que o olhar e o discurso, as entrelinhas são o centro do interesse, os desdobramentos
evolutivos do “aprendente” tem igual valor na busca de uma compreensão pedagógica. Busca-se o

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processo, a construção e não apenas fatos históricos congelados. Dessa forma, a compreensão pedagógica
circunda idéias em busca da abertura de novos caminhos que possibilitem a leitura articulada de como a
criança ou o jovem incorpora seus conhecimentos fora e dentro do espaço escolar relacionando-se com
sua produção, ou seja, suas modalidades. Essa compreensão, porém, não é construída apenas por uma via
é também e, principalmente, uma construção individual; formada pela bagagem teórica, prática e pessoal
de todos os envolvidos no caso.

Assim, é através da relação dinâmica nos espaços do aprender que o pedagogo oferece um olhar de
confiança e de escuta livre de julgamentos ou idéias pré-concebidas. A postura do profissional pedagogo
nos espaços de aprender e ensinar, somada aos seus conhecimentos e à articulação de sua práxis serão os
instrumentos para a construção do lugar e ajuda ao outro.

Pela proposta do trabalho em desenvolvimento, o pedagogo responsável, comprometido e ético valoriza


sua formação continuada e, consciente de suas limitações, deve buscar um trabalho que possibilite sua
auto-análise e seu conhecimento, pois este é o único caminho para a construção do olhar/saber
pedagógico formado pela práxis, a supervisão e auto-análise.

Embora nem todos tenham seus diagnósticos determinados por profissionais especializados, constatou-se
na pesquisa/observação a importância dos métodos e técnicas que poderão favorecer o educador a superar
os desafios de ensinar alunos com dificuldades de aprendizagem provenientes de fatores que geram a
dislexia. Assim, a observação na instituição permitiu analisar que existem alunos que apresentam o
distúrbio, embora não esteja determinado o diagnóstico de todos os alunos que enfrentam dificuldades de
aprendizagem.

Verificou-se que a maioria das professoras considera que tem dúvidas quanto à identificação de alunos
com dislexia e muitas afirmaram que não estão preparadas para identificar esse tipo de distúrbio
multifatorial. Portanto, é papel da escola desenvolver ações que possam assessorar o trabalho das
professoras diante dos desafios de desenvolver ações pedagógicas para superar as dificuldades de
aprendizagem.

As professoras apontaram que a escola deve desenvolver algumas ações com a finalidade de eliminar as
dificuldades de aprendizagem, a partir de alternativas para atender as necessidades especiais dos
educandos. Dentre as ações de intervenção foram apontados o atendimento psicopedagógico, o trabalho
de fonoaudiologia e a realização de trabalho pedagógico interdisciplinar.

Verificou-se que os métodos e técnicas mais utilizados na instituição educativa observada são as técnicas
de leitura e caligrafia, o método global e de apoio em técnicas fonológicas nas palavras durante as aulas
de aprendizagem de leitura, atividades de caligrafia e ortografia para melhorar a escrita.

Neste aspecto, a observação demonstrou que a dislexia pode ser um distúrbio e que a escola poderá
desenvolver intervenções a partir da conscientização da família e do educando para a realização de um
diagnóstico e a o desenvolvimento de ações de intervenção psicopedagógica, fonoaudiológica e
psicomotora. As crianças com dislexia poderão superar suas dificuldades, disfunções, limitações ou
deficiências.

Referências

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Apêndice:

QUESTIONÁRIO MODELO QUE PODERÁ SER APLICADO NA OBSERVAÇÃO DE UMA


INSTITUIÇÃO:

1) Existem casos de alunos com dislexia na sala de aula?

2) Foi possível identificar em sala de aula alunos que apresentam o distúrbio da dislexia?

3) Quais as sugestões que poderiam ser dadas à escola para atender as necessidades especiais dos alunos
com dislexia?

4) Quais os métodos e técnicas que poderiam ser utilizados com esses alunos?

5) A instituição educativa oferece algum profissional para atender às necessidades especiais de alunos
dislexos?

6) Os alunos dislexos ficam em classes especiais?

7) É um desafio ensinar alunos com problemas de aprendizagem por dislexia?

8) Em que campo da aprendizagem esses alunos apresentam mais necessidade de intervenção


educacional?

[1]
Licenciado em Pedagogia pela Universidade Estácio de Sá, Especialista em Psicopedagogia

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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: 17749 - ISSN: 2448-0959
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/dislexia-na-aprendizagem

Institucional, Clínica e Educação Infantil pela Faculdade Venda Nova do Imigrante e Especialista em
Educação a Distância / Docência do Ensino Superior também nesta Universidade. Tem experiência na
área de educação, com ênfase em capacitação de professores. Pesquisador da memória, cidadania, direitos
e educação da Comunidade dos Remanescentes de Quilombo da Ilha da Marambaia. Possui interesse na
área de Educação Quilombola

[2]
Método de alfabetização que utiliza técnicas como a Palavração: diz respeito ao estudo de palavras,
sem decompô-las, imediatamente, em sílabas; assim, quando as crianças conhecem determinadas
palavras, é proposto que componham pequenos textos; Sentenciação: formam-se as orações de acordo
com os interesses dominantes da sala. Depois de exposta uma oração, essa vai ser decomposta em
palavras, depois em sílabas; Conto: a ideia fundamental aqui é fazer com que a criança entenda que ler é
descobrir o que está escrito. Da mesma maneira que as modalidades anteriores, pretendia-se decompor
pequenas histórias em partes cada vez menores: orações, expressões, palavras e sílabas.

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