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Brazilian Journal of Development


Indisciplina: grande obstáculo ao ensino e à aprendizagem

Indiscipline: great obstacle to teaching and learning


DOI:10.34117/ bjdv6n6-603

Recebimento dos originais: 08/05/2020


Aceitação para publicação: 27/06/2020

Cleide Selma Lelis Silva Bastos


Doutoranda em Ciências da Educação pela UTIC
Universidad Tecnológica Intercontinental-PY
cleidelelis1@yahoo.com.br

RESUMO
A indisciplina na escola é um assunto que está sempre presente nas discussões na sala dos
professores, como também durante as reuniões pedagógicas. A comunidade escolar se sente
incomodada e ameaçada por esse fenômeno que muitas vezes tem sido um entrave para que o ensino
e a aprendizagem não ocorram com êxito. As origens da indisciplina estão também atreladas a
fatores externos à escola, envolvendo o contexto familiar e a comunidade. Buscar quem tem sido o
algoz ou responsável precípuo desse comportamento inadequado, não tem auxiliado para que essa
situação que se instalou na sala de aula, seja extirpada. Porém, não resta dúvida que é o no diálogo
que tem nascido propostas para dirimir ou atenuar esse processo conturbado. A família tem um
papel preponderante na formação sob todos os aspectos desse estudante e cabe à escola dar
continuidade para que os jovens adentrem na sociedade sabendo e desempenhando o seu real papel,
dentre eles, o seu desenvolvimento acadêmico e a adaptação psicossocial.

Palavras-chave: indisciplina, ensino, aprendizagem, estudante, família.

ABSTRACT
Indiscipline at school is a subject that is always present in discussions in the teachers' room, as well
as during pedagogical meetings. The school community feels uncomfortable and threatened by this
phenomenon, which has often been an obstacle for teaching and learning not to occur successfully.
The origins of indiscipline are also linked to factors outside the school, involving the family context
and the community. Searching who has been the executioner or the main responsible for this
inappropriate behavior, has not helped to remove this situation that was installed in the classroom.
However, there is no doubt that it is in the dialogue that proposals have been born to resolve or
mitigate this troubled process. The family has a preponderant role in training in all aspects of this
student and it is up to the school to continue so that young people enter society knowing and playing
their real role, among them, their academic development and psychosocial adaptation.

Keywords: indiscipline, teaching, learning, student, family.

1 INTRODUÇÃO
A indisciplina causada pelos estudantes na sala de aula é um problema recorrente no meio
escolar, e com ela pode se perceber o advento de enormes malefícios, tanto para os professores que
ministram as aulas, como também para os próprios alunos que estão na busca do conhecimento.

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Cotidianamente, esse fenômeno se apresenta, deixando os educadores impotentes, pois não têm
conseguido apresentar uma resolução satisfatória para esse problema. Segundo Antunes (2017, p.7)
a falta da disciplina na sala de aula prejudica a aprendizagem e torna o ensino uma farsa.

Está muito difícil conseguir a disciplina na escola. Vemos muitos professores perplexos,
angustiados e pensando até mesmo em desistir da profissão, pois além dos baixos salários,
do desprestígio social, ainda têm que aguentar desaforos e desrespeito dos alunos em sala
de aula. Vasconcellos (2004, p.25)

Incontáveis são os obstáculos enfrentados pelos docentes na classe, quando esses se deparam
com a falta da disciplina, pois certamente, aí estarão presentes a falta de respeito, a organização,
ausência da participação dos alunos durante as aulas e não há dúvidas que isso será um embaraço
para o ensino e consequentemente para a aprendizagem. E dessa forma, na melhor das hipóteses um
clima de desânimo, desmotivação e baixo aproveitamento serão instaurados na escola, porque
muitas vezes essa indisciplina tem sido a geradora substancial da violência escolar, trazendo
prejuízos irreparáveis.
Muitas são as causas apontadas para esse comportamento indesejado, e entre elas podem ser
citadas aulas desinteressantes, professores mal preparados, problemas orgânicos dos estudantes, mas
sem titubear, aponta-se que é na desestruturação familiar onde reside o motivo fundamental.
É de extrema importância a presença da família na formação da criança e quando essa se alia
à escola procurando dirimir e conter esse mau comportamento, percebe-se que os resultados são
eficazes e louváveis. A instituição educacional necessita ter esse convívio harmônico no dual família
e escola, pois só assim conseguirá melhorar o desempenho do aluno na sala de aula. Uma família
distante do âmbito escolar poderá ser um estorvo ao ensino-aprendizado. Mas, infelizmente como
escreve Tiba (2011), há motivos que geram a indisciplina e estão atrelados ao convívio familiar. Há
pais que não cobram respeito dos filhos, não lhes apresenta a figura do professor e autoridades como
pessoas que merecem consideração, não lhes mostram sentimentos de gratidão, cordialidade como
o uso das expressões: “com licença”, “por favor”, “obrigado”. Dessa forma esses estudantes não
têm incentivo para serem disciplinados, mesmo que seja por obrigação.
É salutar que a família, a escola e a comunidade se unam na busca de trilhas que venham
amenizar ou solucionar o fenômeno da indisciplina, objetivando assim, que os alunos se tornem
adultos com uma profissão e vida alvissareira.
Os estudantes vistos como indisciplinados geralmente não param quietos, não prestam
atenção no conteúdo transmitido pelo professor, quebram regras e combinados e muitas vezes usam
palavras de baixo calão e a agressividade. E quando esse comportamento se manifesta com

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veemência na sociedade, pode haver o surgimento de grandes problemas sociais, culminando com
a criminalidade.

2 METODOLOGIA
Este trabalho tem como objetivo geral descrever as influências oriundas da indisciplina na
sala de aula. Quanto à metodologia utilizada, este artigo possui como procedimento técnico a
pesquisa bibliográfica, ou seja, não se utilizou dessa forma, dados primários (campo) para alcançar
o objetivo proposto, que se refere a: apresentar os malefícios, possíveis causas e consequências da
indisciplina na classe, sobretudo durante a ministração da aula pelo professor, fundamentou-se,
portanto em renomados autores que tratam da temática estudada. Lakatos e Marconi (2010)
asseguram que a pesquisa bibliográfica é inerente a eleição do assunto, pois é oriunda tanto das
análises pessoais quanto profissionais, das percepções e comprometimentos do investigador com o
tema a ser escrutinado. Dessa forma, surge a escolha deste pela abordagem metodológica. Quanto
aos objetivos, se caracteriza como uma pesquisa explicativa. Segundo Gil (2012) “a pesquisa
explicativa tem como objetivo identificar os fatores que determinam ou contribuem para a
ocorrência dos fenômenos”.
Realizou-se essa pesquisa entre os meses de maio de 2019 e finalizou-se em dezembro de
2019. No primeiro momento catalogou-se e fez-se fichamento de todos os livros, artigos e trabalhos
com os temas pertinentes, ou seja, a influência da indisciplina na escola. Depois, debruçou-se sobre
a leitura, análise do material e a realização de resumos, com o objetivo de trazer um corpo à revisão
bibliográfica. Posteriormente, pautado na visão dos inúmeros autores, analisou-se os dados.
Usou-se para citação e referência o modelo que reza nas Normas da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT) - NBR 10520/2002, NBR 6023/2002 e NBR 14724/2011, NBR
6027/2013.

3 A INDISCIPLINA E SEUS ENTRAVES PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM


Os professores, não raras vezes, alegam que as influências da indisciplina na sala de aula
vêm crescendo consideravelmente e com ela surge a precariedade tanto no ensino quanto na
aprendizagem, o ambiente barulhento e desconcentrado pode prejudicar demasiadamente a
formação de outros alunos na classe. Eles declaram que é praticamente impossível uma aula ser
ministrada a contento se esta estiver no meio de uma sala repleta de alunos turbulentos, que não
respeitam regras nem limites, fazendo também com que o professor se sinta desmotivado. A
definição do conceito de (in) disciplina vem se transformando da mesma forma que as definições

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usadas comumente na escola. Segundo Garcia (2011, p.103) a (in) disciplina escolar apresenta
“Atualmente, expressão diferente, é mais complexa e criativa, e parece aos professores mais difícil
de equacionar e resolver de um modo afetivo”.
Na atualidade a situação educacional tem apresentado altos índices de indisciplina e muitas
vezes esse fenômeno tem culminado em violência. É indiscutível que a disciplina é uma das bases
para que o adulto alcance sua formação pessoal e profissional. Onde não há disciplina, ocorre o
aparecimento da falta de respeito, do bullying, das agressões verbais, indo muitas vezes às vias de
fato, ou seja, à agressão física. A formação inicial conseguida pelos profissionais da educação nas
faculdades, não é de forma nenhuma satisfatória para se deparar e lutar contra esse problema. Há
uma grande necessidade de uma formação constante e continuada através de outros cursos ou
palestras. O profissional da educação que trabalha com jovens e crianças terá também de ser
conhecedor das leis que foram criadas objetivando ampará-los, assegurando assim, seus direitos e
deveres a exemplo da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente. É
necessário perseguir a solução para que a indisciplina na sala de aula enfraqueça, pois, ao contorná-
la consequentemente os casos de violência diminuirão na escola.
Aquino (1998, p. 09) fala que os educadores quase sempre acabam padecendo de uma
espécie de sentimento de “mãos atadas” e esmorecimento, quando enfrentam situações que tiram a
placidez durante a prática pedagógica.
Trabalhar neste ambiente conturbado tem deixado os profissionais de educação, sobretudo,
os professores impotentes diante do fato, não sabendo o que fazer para dirimir ou atenuar essa
situação, pois dessa forma, nesse lugar confuso, os ensinamentos não acontecem e muitas vezes a
autoestima baixa e a desmotivação se instalam.
Gomes (2011) apresenta estudos que apontam como obstáculos do aprender problemas que
envolvem questões sociais, culturais, familiares, orgânicos, pedagógicos, afetivo e intrapsíquico.
Percebe-se que o aluno não é o único culpado quando a aprendizagem não ocorre. Muitos
fatores podem contribuir para a indisciplina em sala de aula, afetando diretamente na educação dos
estudantes, ou seja, fazendo com que eles não aprendam, os quais podem ser causas ambientais,
problemas psicológicos, problemas sociais, problemas familiares ou falta de disciplina em casa.
Segundo Parrat-Dayan (2008, p.7) “os problemas de indisciplina manifestam-se com
frequência na escola, sendo um dos maiores obstáculos pedagógicos do nosso tempo”.
Nas escolas surgem reclamações constantes por partes dos professores alegando que a sua
prática pedagógica está difícil de ser realizada como planejada, pela falta de disciplina por parte dos

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estudantes. Nota-se que a indisciplina escolar tem sido uma grande barreira no processo de ensino-
aprendizagem das escolas brasileiras.
Segundo Vasconcellos (2004, p.45) há um consenso sobre o fato de que sem disciplina não
se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo.
O senso comum mostra que em qualquer ambiente devem aparecer regras que venham
normatizar o comportamento e a convivência daqueles que nele estão inseridos. Quando há a quebra
desse acordo, consequentemente surgem o desrespeito, desorganização ou rebelião, que em outras
palavras, quer dizer, indisciplina, influenciando assim também o processo ensino-aprendizagem.
Júlio Groppa Aquino (1996) mostra que a Indisciplina escolar não é um problema da
atualidade, desde que o ensino foi instituído, esse fenômeno já estava presente, apesar da mesma
não ter essa proporção grandiosa como é manifestada hoje.
Na escola grega, por exemplo, já havia uma preocupação com os assim chamados alunos
indisciplinados, alguns textos de Platão a exemplo de “Leis” ou “Protágoras” já demonstravam a
inquietação em manter a disciplina. Na Idade Média, Santo Agostinho demonstra certa aflição por
causa da indisciplina dos alunos durante as suas aulas e dizia que a disciplina deveria ser
estabelecida, e seria benéfica para o próprio discente.
Segundo Aquino (1999 p.84), o conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é
estático, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e
expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade.
Segundo Vasconcelos (2010) a disciplina é o respeito aos limites impostos ao próximo, ele
explica da seguinte forma: Sempre que se pensa em disciplina, vem à mente a ideia de limite, mas
não limite pelo limite, qual seja, o limite está sempre associado a algum sentido, a alguma finalidade
(seja legitimada ou não).
Zagury (2015, p.25) a indisciplina tornou-se uma problemática, um dos grandes desafios da
educação atual, este tem se tornado alvo de preocupações de modo geral, desde direção, pais e
professores. Afirma que as regras disciplinares fazem com que a criança seja tolerante a frustações,
seja persistente, que tenha autocontrole, pois essas são qualidades primordiais para que se torne uma
pessoa equilibrada emocionalmente. A disciplina vem sendo uma das principais preocupações dos
educadores, pois, é indispensável na organização dos ambientes escolares; faz-se necessário uma
reflexão e análise em torno da realidade e da finalidade da busca pela disciplina, ela é importante
não só na escola, mas na vida dos educandos, pois além de ser um dos principais fatores para que a
aprendizagem aconteça, torna os seres humanos aptos pelo seu controle emocional não somente
durante o processo de ensino, mas por toda sua vida.

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De acordo com Vasconcellos (2010), as múltiplas formas que a indisciplina se apresenta são
os obstáculos vivenciados pelos educadores em sala de aula e na escola e tem sido causadora de
muitos embaraços de caráter quantitativo para o processo de ensino e da aprendizagem.
A ausência da disciplina, indubitavelmente é um dos maiores empecilhos que os professores
encontram durante a ministração de suas aulas, e de todo desenvolvimento pedagógico. Um aluno
bagunceiro chama a atenção dos demais estudantes e passa a ser o centro das atenções na sala,
desviando o foco da aula ministrada. Logicamente, o professor não explanará uma aula satisfatória,
como também outros colegas poderão ter problemas em acompanhar e assimilar o conteúdo
apresentado, nesse ambiente indisciplinado.
Silva (2007, p.18), diz que “[...] além de se configurar como um indicador do insucesso no
trabalho de socialização dos alunos, pode ainda funcionar como uma forte inviabilizadora do
processo de ensino-aprendizagem”.
Geralmente essa desordem na sala de aula manifesta-se pela desobediência às normas e não
cumprimento pelos alunos do que foi proposto pela escola, a exemplo de: falar o tempo todo durante
a aula, agressão constantemente com palavras de baixo calão e muitas vezes chegam a agressão
física, não portar o material usado em sala, estar quase sempre em pé, interromper o professor, gritar
e pular durante a aula, atirar aviãozinho e bolas de papal nos colegas, e muitas vezes nem o professor
escapa, dentre outras manifestações que torna inviável a transmissão do conteúdo pelo educador.

A violência e a indisciplina que ocorre no interior de nossas escolas interferem de forma


significativa na qualidade e no aprendizado dos alunos, a aula é interrompida em diversos
momentos, prejudicando o rendimento de todos, sem contar o tempo que o professor perde
para resolver os conflitos e dar encaminhamentos para a orientação educacional. Sabemos
que muitos professores não estão recebendo formação adequada para isso. (VAGULA,
RAMPAZZO e STEINLE, 2009, p.84)

Os problemas da indisciplina manifestam-se com frequência na escola, como já tido


anteriormente, sendo um dos maiores obstáculos pedagógicos do nosso tempo. A maioria dos
docentes não sabe como interpretar nem como enfrentar um ato de indisciplina. Deve compreendê-
lo? Reprimi-lo? Ignorá-lo? Transformá-lo? (PARRAT-DAYAN, 2016 p.7)
Dessa forma é inquestionável a importância de se trabalhar em um ambiente onde as regras
se fazem presentes, pois somente assim ocorrerá um convívio harmônico e ordenado. E no ambiente
escolar essas normas deverão ser redobradas, sobretudo, na sala de aula, pois caso contrário, o
ensino e a aprendizagem dos conteúdos será algo praticamente impossível de acontecer. Segundo
Aquino (1996, p. 40) muitos professores relatam que a questão disciplinar tem sido a dificuldade

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fundamental quanto ao trabalho escolar, o ensino teria como um dos seus obstáculos principais a
conduta desordenada dos alunos.
Outras formas da indisciplina na sala de aula seriam entre outros fatores, a falta de respeito,
desinteresse, brincadeiras inadequadas, conversas paralelas fora de hora, e tudo isso faz com que
apareçam prejuízos nas aulas, não permitindo assim, a construção de novos conhecimentos e novas
aprendizagens pelos alunos.
“É certo que uma série de fatores influencia, mas é necessário analisar que os inúmeros
determinantes que a influencia e determina” (VASCONCELLOS, 2010, p. 25).
Por vezes essa indisciplina se transforma em ameaças, xingamentos e até na violência
propriamente dita, deixando esse professor com um nível de estresse altíssimo. Alunos rebeldes no
âmbito escolar são vistos em cada época, mesmo que essa indisciplina não adentre na fase adulta,
como pessoas portadoras de um comportamento que tende a acabar com tudo que é bom e que
inspire respeito.
É importante enfatizar que segundo Garcia (2011, p.105) “existem vários fatores que
contribuem para a indisciplina, cada um com seu grau de importância”.
Inúmeros são os motivos que fazem com que esses estudantes tenham esse comportamento
maléfico, e aqui podem ser citados, mudanças no desenvolvimento do cérebro, questões hormonais,
estresse e pressão dentro da própria sala de aula.
Para Aquino (1996, p. 98) “é impossível negar, portanto a importância e o impacto que a
educação familiar tem (do ponto de vista cognitivo, afetivo e moral) sobre o indivíduo. Entretanto,
seu poder não é absoluto e irrestrito”.
É notório que o âmbito escolar não é o único lugar onde os alunos estão inseridos, porém,
logicamente não se pode duvidar que é no seio da família que o indivíduo cresce e passa a
desenvolver o seu papel dentro da comunidade a qual pertence. A família também terá que ter
consciência que sua participação na vida desse aluno não deverá ser somente em casa, e é de grande
valia, que ocorra a interação entre ela e a escola, favorecendo assim, as condições necessárias para
que uma boa aprendizagem ocorra.

Sabe-se da importância do entendimento global do aluno em formação para o trabalho em


prol de um desenvolvimento satisfatório em termos emocionais, cognitivos, pedagógicos e
sociais. A criança passa grande parte de sua vida na escola e lá desenvolve e demonstra
muitas de suas habilidades e limitações. É provável que fragilidades emocionais fiquem à
mostra na escola. É comum que problemas externos à classe enfrentados pela criança
interfiram em seu rendimento escolar cabendo ao professor, quando possível, detectar e
denunciar que algo não está bem. (ARAMAN, 2009, p.145)

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Especialistas apontam que o maior motivo seria o crescimento da desestruturação dos lares,
e dessa forma essas crianças e jovens acabam levando uma vida dissoluta e desregrada. Percebem
que no seio das famílias tidas como normais e estáveis, há também um grande vazio da presença
dos pais, haja vista, que hoje em dia a maioria deles trabalha o dia todo e as horas desfrutadas ao
lado dos filhos são muito poucas e consequentemente não sobra tempo para orientá-los e educá-los
de uma forma correta, e assim, para compensar essa lacuna na vida do filho, os pais adotam atitudes
permissivas. Segundo Aquino (1998, p.7), “as crianças de hoje em dia não têm limites, não
reconhecem a autoridade, não respeitam as regras, a responsabilidade por isso é dos pais, que teriam
se tornado muitos permissivos”.
De acordo com Augusto Cury (2017), a família traz segurança para a criança, e essa
segurança auxilia na formação de um adulto confiante. Na família se encontra toda a base do
processo de ensino e aprendizagem do homem e é nela que o estudante está suscetível a receber
várias influências classificadas como boas ou ruins.
Problemas familiares ou falta de disciplina em casa podem contribuir para a indisciplina na
sala de aula e interferir diretamente na educação da criança e do adolescente. A clientela da escola
é composta daqueles que tiveram uma educação exemplar, como também por aqueles que não
receberam boas influências, assim, surge essa diversidade enorme de estudantes na sala de aula. Não
se pode esquecer que é na família que as crianças encontram o exemplo precípuo. Elas aprendem
principalmente pelo exemplo, ou seja, o discurso vem em segundo plano. Porém, seja como for, a
responsabilidade de colocar limites e regras tem ficado cada vez mais com o professor.
Franco (2008, p.163) apresenta que as escolas que usam ações coercitivas praticam atos de
indisciplina e salienta, que as ações pautadas no castigo não solucionam os problemas, na maioria
das vezes podem evidenciar ainda mais o comportamento indesejado.
Será inútil lançar mão do autoritarismo através das brigas, gritos, repreensões ou surras, na
esperança de dirimir a insubordinação. Essa conduta poderá ter um resultado inverso do esperado,
levando-os a se comportarem de maneira mais rebelde. Uma aplicação incoerente das regras da sala
de aula poderá acarretar em indisciplina, quer dizer, aplicando normas de forma aleatória, o
professor pode estar colocando em risco a harmonia na sala de aula. Decisões de expulsão ou
suspensão tomadas pela escola não ajudarão na luta contra esse fenômeno tão recorrente, pois, o
aluno precisa frequentar a escola.
Aqui o autor comunga com a ideia que a indisciplina do aluno “pode ser compreendida como
uma espécie de termômetro da própria relação do professor com seu campo de trabalho, seu papel
e suas funções” (Aquino, 1999 p. 201).

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Lidando com diferentes perfis de alunos, os professores terão que estar preparados para
contornar os diversos tipos de conflitos que podem surgir na sala de aula. Devem procurar entender
o contexto que esses estudantes estão inseridos e, depois, criar relações fundamentadas no amor, na
reverência e no carinho. Esse comportamento ajuda no surgimento de um comportamento similar
nos alunos, e isso ocorrendo, sem sombra de dúvidas diminuirá os conflitos, aparecendo a calmaria
e a paz será mantida no ambiente escolar.
Ainda hoje, existem educadores que insistem em lidar com a indisciplina, com métodos
arcaicos e ultrapassados que residem na pedagogia tradicional onde o professor era visto como o
detentor de todo saber e conhecimento e o estudante, um mero ser passivo, incapaz e que estaria na
sala de aula, apenas para receber o que fosse transmitido sem questionamentos. “É preciso
diversificar a metodologia, pois interagimos com alunos conectados ao mundo de diferentes
maneiras", diz Maria Tereza Trevisol (2015).
A disciplina imposta à força não permite que o estudante participe das resoluções de
problemas que surgem na sala de aula, não o deixa crescer como ser social que é podando-o de agir
conscientemente na transformação da sociedade. “Toda vez que se tenta impor a disciplina com
autoritarismo, surge a revolta. Com mais conhecimento, todo professor adquire segurança em
relação aos conteúdos didáticos e aprende a planejar aulas eficazes” (Trevisol, 2015).
A disciplina não deve ser imposta através da coerção, do castigo, submissão ou
subordinação, pois quando ela é exigida dessa forma na sala de aula, pode tornar o aluno um ser
subserviente e apático. Essa ação por parte do educador faz parte da pedagogia tradicional, já a
pedagogia renovada progressista, que tem como princípio maior atender os anseios e necessidades
do aluno, tem interpretado essa indisciplina de uma maneira distinta da visão tradicionalista, que
está firmada num comportamento adequado. A pedagogia progressista como também os
construtivismos por vezes veem nesse comportamento irreverente a busca de conhecimentos por um
aluno ativo, curioso e criativo. Segundo Piaget (1994) antes de partir para a imposição e o
autoritarismo, na busca da ordem, o professor deve procurar a reciprocidade, “que favorece mais do
que qualquer imposição ou qualquer disciplina exterior, o desenvolvimento da personalidade
moral”.
Para Antunes (2017 p.19) “Ao escolher um método de ensino, o professor também está
optando por uma teoria, sobre como o saber é construído pelo aprendiz e a maneira mais coerente
de produzi-lo em cada aula”
Os educadores também terão que entender que muitas vezes a sua forma tão arcaica de
ensinar, pautada na repetição, na mesmice, na monotonia, sem usar nenhuma técnica de ensino

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atrativa ou buscar as inovações das novas tecnologias, não atrairá a atenção desses alunos e assim a
bagunça na sala de aula certamente aparecerá. Segundo o psicólogo austríaco Alfred Adler (1870-
1937), “a Educação se reduz ao ato de o aluno transcrever o que está no caderno do professor sem
que nada passe pela cabeça de ambos” (Revista Nova Escola, outubro/2009, ed. 226) e a educadora
Luciene Tognetta, do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da
Unicamp, comenta essa assertiva "o resultado é o tédio. E gente entediada busca algo mais
interessante para fazer, o que muitos confundem com indisciplina. A escola é, sem dúvida, a
instituição do conhecimento, mas é preciso deixar espaço para a ação mental da turma”.
Os docentes deverão trazer para o seio da sala de aula, ministrações mais dinâmicas e
matizadas, realizando, principalmente atividades práticas, envolvendo o grupo. Essa turma de
estudantes que temos atualmente é aquela que já nasce com um celular da mão e sempre está
conectada ao mundo virtual, e ali se depara com todo tipo de informações e atrações e dessa forma
consegue se relacionar através das redes sociais, acostumada ao novo e à velocidade.
Para Almeida (2000 p.78) os educadores, terão que estar preparados e preparar seus alunos
para que os mesmos enfrentem as exigências desta nova tecnologia, e de todas que estão a sua volta,
a exemplo da TV, do vídeo, da telefonia celular. A informática quando inserida na sala de aula tem
dimensões gigantescas que não aparecem a primeira vista.
Eis um grande desafio que os professores têm que enfrentar, ou seja, fazer valer o seu papel
de mediador do conhecimento, ensinando aos alunos a fazerem uso da tecnologia em prol do seu
próprio desenvolvimento, mostrando e ajudando-os na escolha do que seria mais proveitoso em
meio ao mar de informações advindas do mundo virtual, não consentindo que os alunos da geração
denominada Z, usuários constantes das novas tecnologias, cheguem à fase adulta sem a qualificação
devida. Os assuntos que dizem respeito aos valores e à vida em grupo devem ser tratadas como
conteúdos de ensino.
Nesse contexto, é preciso resgatar a imagem do professor e valorizar o seu importante papel
na escola e na sociedade. O professor deve ensinar o aluno a aprender a aprender, deve promover a
formação de um aluno ativo, sujeito da sua ação. Para que isso ocorra, é preciso que o professor seja
integrador, comunicador, questionador, criativo, colaborador, eficiente, flexível, produtor de
conhecimento e comprometido com as mudanças do seu tempo.
Entretanto, se a sua prática for conservadora, irá contribuir para a manutenção dos valores
tradicionais da sociedade e pouco poderá avançar na formação de alunos críticos. “Sendo o professor
um agente de mudança, e sabendo que toda inovação encontra resistências que exige a organização,
podemos nesse processo enfatizar a importância do planejamento de ensino, como fundamento de

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toda ação educacional, como forma de gerenciar as mudanças”. (VAGULA, RAMPAZZO e
STEINLE, 2009, p.23).
Não se pode ignorar que muitos professores não preparam suas aulas com esmero, há muitos
que não o fazem de forma nenhuma, deixando o acaso decidir qual conteúdo e qual didática será
aplicada quando já estão na sala de aula enfrentando sua turma. O preparo da aula faz com que o
professor saiba qual é sua ação presente e qual o próximo passo deverá ser dado, e esse plano de
aula terá que ser flexível, buscando adequar os conteúdos e metodologias às necessidades da classe
de aula, contemplando as particularidades da turma e por que não dizer a individualidade do aluno?
O professor que planeja suas aulas terá menos desgaste com os problemas da bagunça dos alunos.
Uma prática pedagógica surgida em meio à improvisação não funcionará, porque, os alunos
certamente perceberão o descaso e não se sentirão atraídos pelo aprendizado. Saber o que vai realizar
em cada momento quando estiver dentro da sala de aula, simboliza o planejamento antecipado e
bem elaborado, podendo trazer momentos agradáveis para o desenvolvimento da prática pedagógica
e aprendizagem dos discentes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa se fez necessária ao perceber-se que a indisciplina tem trazido influências
negativas do ponto de vista da prática pedagógica- o professor muitas vezes não consegue expor o
que foi planejado; da aprendizagem- o professor não conseguindo ministrar de uma forma
satisfatória sua aula, nota-se que a aprendizagem também não ocorre por parte dos alunos. Nesse
clima confuso e indesejável depara-se com um professor desestimulado e esmorecido.
Pretende-se mostrar que a indisciplina na sala de aula é um problema corriqueiro e que o
mesmo tem atrapalhado em demasia as atividades propostas em sala de aula. Durante o estudo,
através da pesquisa bibliográfica pode se perceber que são muitas as causas que ocasionam esse
fenômeno, entre eles encontra-se a negligência familiar, aulas desmotivadas, como também
problemas de ordem orgânica e psíquica que acomete os alunos.
Percebe-se que os pontos conflitantes abordados nesse Artigo é, indubitavelmente, um
assunto que carece reflexão devendo ser compartilhado com todos aqueles que estão imbuídos na
missão de educar, e juntos deverão buscar soluções para que esse cenário seja transformado. Caso
contrário, será praticamente impossível se ter um ensino-aprendizagem pautado no respeito, na
motivação e na eficiência.

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 41241-41253 jun. 2020. ISSN 2525-8761


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