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WBA0046_V2.

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Problemas e distúrbios da aprendizagem
Problemas e distúrbios da aprendizagem
Autoria: Eveline Tolonetto Barbosa Pott
Como citar este documento: TONELOTTO BARBOSA POTT, Eveline. Problemas e distúrbios da aprendi-
zagem. Valinhos: 2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olha-
06
res e traçando horizontes
Unidade 2: Distúrbios da aprendizagem: características e problemas 30
Unidade 3: O TDAH e suas possibilidades de intervenção 53
Unidade 4: A dislexia e suas possibilidades de intervenção 76

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2/201
Autoria: Sandra Cristina Malzinoti Vedoato
Como citar este documento: VEDOATO, Sandra. C. M. O tradutor interprete de Libras: formação e práti-
ca. Valinhos: 2017.

Sumário
Unidade 5: A discalculia e suas possibilidades de intervenção 97
Unidade 6: A disortografia e suas possibilidades de intervenção 121
Unidade 7: A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção 142
Unidade 8: Aprendizagem e a neurociência 163

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Apresentação da Disciplina

Nesta disciplina, temos como objetivo problemas da aprendizagem, como o Trans-


abordar o tema dos problemas e distúrbios torno de Déficit de Atenção com Hiperativi-
da aprendizagem, apresentando uma visão dade (TDAH), dislexia, discalculia e disorto-
atual e contextualizada do assunto. A de- grafia. E ainda, discutir-se-ão os problemas
manda por profissionais qualificados para psicomotores e a contribuição da neuroci-
atuarem com este tipo de queixa é cada ência na compreensão dos problemas da
vez maior e foi pensando nesta necessida- aprendizagem.
de que este curso foi desenvolvido, a fim Não obstante, destacaremos a necessidade
de atender aos profissionais que trabalham de compreender a dificuldade de aprendi-
com educação, como professores, gestores zagem para além de seu diagnóstico, colo-
escolares e psicólogos. cando em xeque as práticas que visam rotu-
Abordaremos as influências da dificuldade lar e patologizar o sujeito e que pouco têm
de aprendizagem e os possíveis caminhos ajudado a superar as dificuldades no pro-
para lidar com este problema, destacando o cesso de aprendizagem. Será demonstrado
papel da educação inclusiva neste proces- que tão mais importante que o diagnóstico
so. Também serão abordados alguns diag- é a busca de caminhos e soluções para en-
nósticos que historicamente vêm sendo uti- frentar os problemas de aprendizagem.
lizados por profissionais para justificarem Assim, vamos abordar várias temáticas que
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se relacionam aos problemas e aos distúr-
bios da aprendizagem e esperamos que
possamos contribuir com o seu aprendiza-
do. Boa leitura!

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Unidade 1
Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e tra-
çando horizontes

Objetivos

• Discutir o contexto atual da educação escolar no Brasil.


• Compreender quais são os fatores que influenciam os problemas da aprendizagem.
• Compreender a proposta da educação inclusiva e educação especial.

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Introdução 1. O contexto da educação esco-
lar no Brasil
Neste texto, temos como principal objetivo
trazer informações importantes para você, Avaliações internacionais e nacionais apon-
profissional que trabalha ou trabalhará com tam para problemas de aprendizagem em
os chamados problemas da aprendizagem, nossos alunos. O Programme for Interna-
educação inclusiva e educação especial. tional Student Assessment (Pisa) – Pro-
Assim como o processo de inclusão esco- grama Internacional de Avaliação de Estu-
lar, os chamados problemas e distúrbios da dantes –, por exemplo, é uma avaliação que
aprendizagem vêm se tornando cada vez ocorre a cada três anos e que tem como ob-
mais comuns, o que tem aumentado a ne- jetivo avaliar os sistemas educacionais no
cessidade de profissionais qualificados para mundo, envolvendo alunos de 15 anos de
atuarem nestas áreas. Antes mesmo de fa- idade. No Pisa, realizado em 2015, foram
lar sobre esses temas, é importante discutir avaliados 70 países, e o Brasil ocupou umas
e conhecer o cenário da educação escolar das últimas colocações, ficando em 68° lu-
no Brasil, a fim de compreender as influên- gar (PISA, 2015).
cias que estão na base desse tipo de queixa
e demanda profissional.

7/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
No âmbito nacional, podemos citar o Índi- iniciais do ensino fundamental, caindo para
ce de Desenvolvimento da Educação Bási- 3,06 nos anos finais e para 2,25 no ensino
ca (Ideb) que foi desenvolvido para avaliar médio. Nota-se que quanto maior o tempo
a qualidade do aprendizado dos alunos no do aluno na escola, menor é o seu desem-
Brasil, além de estabelecer metas de desem- penho escolar. Para os estudiosos e pro-
penho escolar para melhoria do ensino. Em fissionais que conhecem os bastidores da
2015, os resultados do estado de São Pau- educação, sobretudo do contexto público,
lo apontaram a nota de 5,25 para os anos estes resultados não são surpreendentes,
entretanto, isto não diminui a preocupação
quanto ao desempenho escolar desses es-
tudantes (IDESP, 2015).

Link
Caso você queira encontrar o Ideb das escolas
de seu estado ou cidade, basta consultar no
site do INEP – Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

8/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
Compreender estes resultados leva a refletir dos profissionais quanto ao processo de en-
sobre suas causas: será que este desempe- sino-aprendizagem, a precarização da for-
nho é parte de uma dificuldade individual mação dos profissonais da educação, entre
que remete exclusivamente à incapacida- outros fatores.
de do aluno de se apropriar dos conteúdos Assim, em meio a essa realidade na educa-
escolares? Ou é uma dificuldade em relação ção, não é novidade a existência de tantos
aos processos de ensino-aprendizagem e problemas e distúrbios da aprendizagem.
como estes vêm ocorrendo nas escolas? Podemos pensá-los apenas como a ponta
Autores como Libâneo (2012) e Saviani de um iceberg, ou seja, é o aparente, sen-
(2013) apontam que o baixo desempenho do que há muitos fatores históricos e sociais
escolar desses alunos é fruto de um contex- que contribuem para sua manifestação e
to social e politico que cada vez mais vem que não são vistos e considerados.
sendo fonte da precarização da educação Se a educação escolar pública vem nos pre-
escolar pública em nosso pais. Estes auto- ocupando com o baixo desempenho dos
res citam vários fatores que influenciam tal alunos, no âmbito privado a lógica é total-
cenário, como: o baixo investimento finan- mente oposta em vista da exigência para
ceiro na educação, a falta de sentido dos um melhor desempenho escolar dos alunos.
alunos pelo conhecimento, a desmotivação É crescente a pressão das escolas para au-
9/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
mentar o número de aprovações nos vesti- co esta questão, você já assistiu a um filme
bulares, com a promessa de que estes alu- chamado “Contador de Histórias”? Caso
nos serão bem-sucedidos e terão melhores não tenha assistido, deixo como indicação.
condições de viver em nossa sociedade. Via Trata-se de uma história verídica que narra
de regra, quando não conseguem acompa- a vida de um menino chamado Roberto, en-
nhar o “ritmo” da escola, muitas vezes são tregue pela mãe à Fundação Estadual para
encaminhados a profissionais especializa- o Bem-estar do Menor – FEBEM – aos seis
dos com a queixa de dificuldade de apren- anos de idade, e lá, em um determinado
dizagem (LIBÂNEO, 2012). momento, passa por avaliações psicológi-
Sendo assim, tanto no âmbito público quan- cas, recebendo diagnóstico de dislalia, dis-
to no privado, não podemos negar o papel lexia, discalculia, sendo visto como um caso
do contexto social na produção dos proble- irrecuperável aos olhos da instituição. En-
mas e distúrbios da aprendizagem e estas tretanto, Roberto encontra uma pedagoga
questões precisam ser levadas em conside- que oferece todo o suporte que ele precisa-
ração na compreensão deste tipo de queixa va e que acreditava em sua capacidade de
escolar, a fim de não minimizar os fatores superação daquela condição que vivia. Ro-
que influenciam em seu diagnóstico. berto foi adotado por esta professora e hoje
é pedagogo e considerado um dos maiores
Para aprofundar e problematizar um pou-
10/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
contadores e escritores de histórias infantis Este tipo de diagnósticos não mudou em
do mundo. nada a vida de Roberto, tampouco sua posi-
ção em relação ao seu desempenho escolar.
Para saber mais Neste sentido, muito sábio foi Roberto em
não deixar que os diagnósticos determinas-
O filme narra a história verífica de Roberto Carlos sem quem ele era. Entretanto, será que esta
Ramoso, mais conhecido em sua cidade (Belo Ho- mesma posição aplica-se a todos os casos?
rizonte) por Roberto Carlos Contador de Histórias.
O foco da avaliação psicológica de Roberto
concentrou-se tanto no diagnóstico, em lhe
A sigla FEBEM era a abreviação da Fundação Esta- rotular, que se quer houve espaço para ana-
dual para o Bem-estar do Menor, que atualmente lisar suas potencialidades e interesses. Tal-
alterou-se para Fundação Centro de Atendimento vez se tivessem focado na grande habilida-
Socioeducativo ao Adolescente – Fundação Casa. de de Roberto em contar histórias e guiado
seu processo de aprendizagem por esta via,
A partir desta história questiono você: em sua vida teria sido mais fácil no que se refe-
que os diagnósticos mudaram a vida de Ro- re aos processos de aprendizagem. Portan-
berto? Eles trouxeram algo de bom para sua to, tão mais importante do que compreen-
formação e dificuldade de aprendizagem? der os problemas e dificuldades do sujeito é
11/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
compreender suas potencialidades, afim de zagem apresenta uma visão individualizan-
tentar conduzir seu processo de aprendiza- te dos problemas e distúrbios da aprendiza-
gem por essas vias. Abordaremos sobre este gem, atribuindo a causa a algo associado ao
tema ao longo deste curso. aluno, à escola ou à família. Pesquisas mais
Assim, ao discutir sobre a questão da apren- atuais apontam para a necessidade de su-
dizagem e seus problemas, é importante, perar estas concepções individualizantes
primeiramente, compreender a história do da dificuldade de aprendizagem, colocando
sujeito e o contexto no qual este está inse- como necessário a existência de uma ava-
rido, acessando sua lógica de pensamento e liação mais contextualizada, que leve em
buscando caminhos diferentes para condu- consideração todo o processo histórico de
zir seu processo de aprendizagem. Entretan- escolarização do aluno, bem como as esfe-
to, ainda nos deparamos com concepções ras que participam de seu envolvimento es-
que visam buscar as causas para a dificul- colar.
dade da aprendizagem no indivíduo (SCOZ, O fato de destacar a necessidade de uma
1994). Artigos de revisão da literatura (AN- análise contextualizada sobre os fatores
GELUCCI et al, 2004; LEONARDO; LEAL; que ocasionam a dificuldade de aprendiza-
ROSSATO, 2015) apontam que a maioria gem não exclui de modo algum a existência
dos estudos sobre dificuldades da aprendi- de casos em que por conta de alguma de-
12/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
ficiência, transtorno global do desenvolvi- muitas vezes a inclusão é associada a algum
mento ou outros fatores não relacionados tipo de deficiência física ou cognitiva.
a alguma deficiência, o aluno necessite de Começo a reflexão deste tema com algumas
algum atendimento individualizado, a fim perguntas para você refletir: os alunos des-
de favorecer seu processo de aprendiza- critos no início deste texto, que apresentam
gem. Para estes casos, ele deve ser benefi- um baixo desempenho escolar, segundo as
ciado com a modalidade da educação inclu- avaliações sobre a escola pública, não esta-
siva tão discutida nos dias atuais e que será riam excluídos em relação a seus direitos em
aprofundada a seguir. acessar uma educação de qualidade? E os
alunos com superdotações? Jovens e adul-
2. Inclusão escolar e educação tos que não conseguiram concluir a educa-
especial: caminhos para uma ção escolar no tempo correto, também não
educação para todos precisam de um atendimento educacional
especializado? Claro que sim! Não restam
É de extrema importância ampliar o olhar em dúvidas de que todos esses alunos preci-
relação à inclusão escolar e à dificuldade de sam ser incluídos no contexto da educação
aprendizagem. É preciso compreender estas escolar. Portanto, os desafios da educação
questões para além da deficiência, visto que inclusiva são mais amplos e complexos, en-
13/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
volvendo não só o aluno com alguma defi- colas quanto em centros especializados.
ciência, mas todos aqueles que possuem al- Em 2008, a Convenção sobre os Direitos
guma necessidade educacional especial. das Pessoas com Deficiência incorporou à
Apesar desta ampla visão sobre a inclusão legislação brasileira os postulados da con-
escolar, via de regra, em estudos e no co- venção da Organização das Nações Unidas
tidiano escolar a inclusão geralmente está – ONU – sobre os direitos das pessoas com
associada à pessoa que apresenta alguma deficiência, assegurando sua acessibilida-
deficiência, seja ela fisica e/ou cognitiva, por de em toda esfera social. No que se refere
meio da oferta de uma educação especial. à educação, o referido documento, em seu
Este processo de escolarização das pessoas artigo 24, assegura à pessoa com deficiên-
com necessidades educacionais especiais cia o seu direito à educação, postulando seu
é uma modalidade da educação conhecida direito de frequentar o ensino regular gra-
como educação especial. tuito, destacando claramente o dever do
A educação especial é compreendida como estado em assegurar este direito por meio
um foco da educação escolar que trabalha da organização física do espaço escolar e da
com crianças, jovens e adultos que não se contratação de profissionais qualificados
beneficiam com o sistema convencional de para facilitar este processo (BRASIL, 2012).
ensino. Ela pode ser exercida tanto em es- Entretanto, os profissionais que trabalham
14/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
com educação inclusiva, sobretudo no con- de que insiste em se camuflar em meio a
texto público, sabem que estes direitos nem alguns discursos. Para exemplificar, ao tra-
sempre são ofertados pelo estado e as di- balhar com educação inclusiva, é frequente
ficuldades encontradas neste processo são o seguinte questionamento: “meu filho que
inúmeras (BARBOSA; SOUZA, 2010). não possui nenhuma deficiência não será
prejudicado com a inclusão, pois os conteú-
Apesar da expansão do processo de inclu- dos serão ofertados de modo mais lento?”.
são escolar, ainda é frequente deparar-se É importante refletir sobre esta questão,
com a barreira do preconceito da socieda- porque você certamente lidará com ela em
algum momento.
Costumamos dizer que os alunos da educa-
ção regular são os que mais se beneficiam
com o processo de inclusão, isto porque na
prática com educação especial vivencia-
mos momentos em que a interação entre
os alunos com necessidades especiais e os
demais alunos favorece o aprendizado de
muitas formas. Por exemplo, ao conviver
15/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
com alunos com necessidades especiais, os
demais aprendem a lidar com a diversidade Para saber mais
e isto é um valor importante que precisa ser
Conceitos científicos são aqueles aprendidos
trabalhado na escola, uma vez que é a base
principalmente na escola; que exigem certa abs-
para a formação de uma sociedade justa e
tração do pensamento e a mediação de uma ou-
humanizada. Pais e familiares que apoiam a
tra pessoa para serem aprendidos. Exemplos de
educação inclusiva no ensino regular estão
conceitos científicos: seres vivos, reino animal,
proporcionando aos seus filhos a possibili-
sistema digestivo etc.
dade de aprenderem a respeitar as pessoas
e conviverem com a diversidade. Portanto, a Quanto ao conteúdo oferecido, habitual-
aprendizagem no contexto escolar vai mui- mente é apenas adaptado para que o alu-
to além da apreensão de conceitos cientí- no com necessidade educacional especial
ficos. consiga aprender. Para isto, o professor na
maioria das vezes conta com a ajuda de pro-
fissionais para o auxiliarem neste processo.

16/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
de modo diferente, a partir de suas necessi-
Para saber mais dades, para que todos consigam acessar os
mesmos horizontes e possibilidades de de-
estes profissionais que auxiliam no processo de in-
senvolvimento (SAMPAIO; FREITAS, 2011).
clusão podem ser contratados pela escola, como
professores de educação especial ou auxiliares de
inclusão; ou no caso de algumas escolas privadas,
estas indicam aos pais a contratação de um me-
diador que pode ser professor ou psicólogo.

A inclusão escolar no ensino regular não ex-


clui de modo algum o fato de que este aluno
não possa/deva receber atendimento es-
pecializado e individualizado. Muitas vezes
é preciso que o sujeito tenha um trabalho
individualizado para ser incluído no ensino
regular. Esta é a base do conceito de equi-
dade que sustenta os princípios da educa-
ção inclusiva que significa tratar as pessoas
17/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
Glossário
Educação escolar: trata-se do processo de escolarização realizado no sistema regular de ensino.
Iceberg: bloco de gelo que se desprendeu de alguma plataforma de gelo e vaga pelo mar. No iceberg
somente uma pequena parte emerge à superfície, sendo que 90% de seu tamanho encontra-se sub-
merso na água.

Rotular: sinônimo de classificar, etiquetar, marcar uma pessoa ou objeto com determinada caracterís-
tica de qualquer natureza.

18/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
?
Questão
para
reflexão

Como você viu, é muito importante realizar uma avalia-


ção cuidadosa e contextualizada sobre os problemas e
distúrbios da aprendizagem e, neste sentido, convido-o
a pensar: quais são os aspectos que devem ser conside-
rados na avaliação do aluno com a queixa de dificuldade
e distúrbio da aprendizagem?

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Considerações Finais

• Necessidade da avaliação cuidadosa quanto aos problemas de aprendiza-


gem, destacando a necessidade de considerar o contexto escolar, social, fa-
miliar e individual de cada aluno.
• Importância de compreender o aluno, sua história de vida, buscando acessar
os sentidos sobre o seu processo escolar.
• Para além da preocupação com o diagnóstico e rótulo de um aluno com pro-
blema ou distúrbio da aprendizagem, é importante compreender suas capa-
cidades, potencialidades e buscar estratégias de ação guiadas por estas vias.
• A inclusão escolar como forma de oferecer uma educação de qualidade para
todos.

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Referências

ANGELUCCI, C. B. et al. O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um


estudo introdutório. Revista Estudo e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 51-72, 2004.
BARBOSA, E. T.; SOUZA, V. L. T. A vivência de professores sobre o processo de inclusão: um estu-
do da perspectiva da Psicologia Histórico-Cultural. Rev. psicopedagia, São Paulo, v. 27, n. 84, p.
352-362, 2010.
BRASIL. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 4. ed. 2012. Disponível em:
<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/publicacoes/convencaopes-
soascomdeficiencia.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2017.

IDESP. Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo. Secretária de Educação


do Estado de São Paulo. 2015. Disponível em: <http://idesp.edunet.sp.gov.br/>. Acesso em: 17 jul.
2017.
LEONARDO, N. S. T.; LEAL, Z. F. R. G.; ROSSATO, S. P. M. A naturalização das queixas escolares em
periódicos científicos: contribuições da psicologia histórico-cultural. Psicol. Esc. Educ., Maringá,
v. 19, n. 1, p. 163-171, abr. 2015.
LIBANEO, José Carlos. O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento
para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 38, n. 1,
p. 13-28, mar. 2012.
21/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
Referências

PISA. Programme for International Student Assessment. Organization for economic co-ope-
ration and development, 2015. Disponível em: <http://www.oecd.org/pisa/>. Acesso em: 2 abr.
2017.
SAMPAIO, S.; FREITAS, I. B. (Orgs.). Transtornos e dificuldades de aprendizagem: entendendo
melhor os alunos com necessidades educativas especiais. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.
SAVIANI, Dermeval. Vicissitudes e perspectivas do direito à educação no Brasil: abordagem his-
tórica e situação atual. Educ. Soc., Campinas, v. 34, n. 124, p. 743-760, set. 2013.
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Pe-
trópolis, RJ: Vozes, 1994.

22/184 Unidade 1 • Problema da aprendizagem, educação inclusiva e educação especial: ampliando olhares e traçando horizontes
Questão 1
1. No diagnóstico dos problemas e distúrbios da aprendizagem, é importan-
te o profissional avaliar:
a) O contexto social, político, familiar e o próprio desenvolvimento do aluno.
b) Somente o desenvolvimento individual.
c) Os contextos familiar e individual.
d) O contexto político.
e) O desenvolvimento afetivo.

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Questão 2
2. No texto, faz-se uma crítica quanto aos procedimentos de avaliação dos
problemas e distúrbios da aprendizagem que folocalizam somente o âm-
bito:
a) Político.
b) Afetivo.
c) Indivídual.
d) Social.
e) Familiar.

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Questão 3
3. A educação inclusiva deve beneficiar o aluno:

a) Que possui qualquer tipo de necessidade educacional especial.


b) Que possui alguma deficiência física.
c) Que possui algum transtorno global do desenvolvimento.
d) Que possui algum déficit cognitivo.
e) Que possui deficiência cognitiva e /ou motora.

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Questão 4
4. A educação especial pode ser oferecida:

a) Preferencialmente no ambiente familiar.


b) No ambiente familiar e na instituição especializada.
c) Nas escolas e centros especializados.
d) Somente na educação regular.
e) Somente em instituição especializada.

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Questão 5
5. O que significa o conceito de equidade?
a) Trabalhar com todas as pessoas com deficiências de modo diferente, colocando limitações
para sua inserção no contexto social.
b) Direitos perante a lei.
c) Aprofeitar as oportunidades.
d) Tratar as pessoas de modo diferente a partir de suas necessidades, a fim de que todos aces-
sem as mesmas condições de aprendizado e desenvolvimento.
e) Tratar todas as pessoas deficientes de modo igual.

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Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: A.

Os problemas e distúbios da aprendizagem A educação inclusiva envolve uma modali-


precisam ser pensados a partir de uma ava- dade de educação que contempla todas as
liação ampla, que considera todas as ins- pessoas que possuem alguma dificuldade
tâncias formadoras do sujeito, como: o con- com a adaptação ao ensino regular, envol-
texto social, político, familiar e o próprio de- vendo as pessoas com e sem deficiências.
senvolvimento do aluno.
4. Resposta: C.
2. Resposta: C.
Com a ampliação dos postulados da educa-
É necessário a superação da concepção dos ção inclusiva, a educação especial passou a
problemas e distúrbios da aprendizagem ser oferecida não mais unicamente em ins-
que parte da concepção individualizante tituições especializadas, mas também na
desta queixa, visto que suas causas envol- educação regular.
vem outros aspectos da vida do sujeito.

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Gabarito
5. Resposta: D.

O conceito de equidade dentro dos postula-


dos da educação inclusiva veio para romper
com a ideia de que todos devem ser trata-
dos da mesma forma no processo de inclu-
são, objetivando a necessidade de um tra-
tamento diferenciado a depender da neces-
sidade de cada pessoa com o intuito de que
todos consigam aprender e se desenvolver.

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Unidade 2
Distúrbios da aprendizagem: características e problemas

Objetivos
• Apontar as diversas áreas do conhecimento que buscam respostas para os distúrbios da
aprendizagem.
• Definir o conceito de aprendizagem, assim como seus distúrbios.
• Favorecer a reflexão sobre os processos de patologização da aprendizagem e da vida.
• Refletir sobre a concepção médica dos distúrbios da aprendizagem.
• Destacar a necessidade da compreensão contextualizada e avaliação cuidadosa dos dis-
túrbios da aprendizagem.

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Introdução

Neste texto, temos como objetivo caracte- conduzir tal queixa. Portanto, para caracte-
rizar os chamados distúrbios da aprendiza- rizar a dificuldade de aprendizagem, muitos
gem, bem como problematizar sua abran- são os caminhos possíveis. E neste desafio,
gência e variações quanto à sua definição. buscamos caracterizar as dificuldades e dis-
Ao abordar este assunto, o seguinte para- túrbios da aprendizagem começando pelo
doxo emerge: se por um lado os diagnósti- conceito de aprendizagem, conforme você
cos de distúrbios da aprendizagem crescem verá a seguir.
cada vez mais, por outro, também aumen-
tam suas definições e conceituações, apre- 1. O que é aprendizagem? Bus-
sentando concepções distintas e contradi- cando caminhos para compre-
tórias entre si, o que dificulta um consenso ender os distúrbios da aprendi-
quanto à sua definição. zagem
Na história das dificuldades de aprendiza-
gem são muitos os campos de interesse que Inspirado nas ideias de Vygotsky (1991,
buscam explicar tal fenômeno envolvendo, 2001), compreende-se o conceito de apren-
por exemplo, professores, psicólogos, médi- dizagem como a capacidade humana de
cos, nutricionistas e neurocientistas, o que apreender a realidade material e simbóli-
resulta nas mais diversas teorias e modos de ca, em um processo contínuo que ocorre ao

31/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


longo da vida.
Para Vygotsky (1991, 2007, 2001), a apren- Vygotsky (1991), inspirado nas ideias de
dizagem se dá a partir da necessidade apre- Marx, vai relacionar a questão da aprendi-
sentada pelo sujeito em sua relação com o zagem ao processo de trabalho, dizendo que
contexto social. O surgimento desta carên- aprender é trabalhoso, visto que exige um
cia ocorre no momento em que o repertó- grande esforço do sujeito. Portanto, é neces-
rio de conhecimento do sujeito já não é su- sário desconstruir a ideia de que aprender é
ficiente para lidar com a realidade na qual algo somente prazeroso, discurso bastante
está inserido. E este processo é acompanha-
do por momentos de crises, de sentimentos
negativos, visto que o sujeito entra em con-
tato com o seu “não saber”, com sua falta
e dificuldade de compreensão e adaptação
ao meio. Isto é acentuado, quanto maior a
complexidade dos conceitos que o sujeito
precisa aprender.

32/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


proclamado nos dias de hoje. Obviamente O que quero destacar com esta reflexão,
que a aprendizagem é acompanhada, mui- é que aprender é trabalhoso, exige esfor-
tas vezes, de emoções positivas, entretanto ço e a dificuldade de aprendizagem é algo
isto não é a regra. Geralmente o que ocorre extremamente comum e esperado a qual-
é que a emoção positiva acompanha o re- quer pessoa. Ela tanto faz parte do desen-
sultado da aprendizagem, ou seja, quando o volvimento como o promove, uma vez que
sujeito consegue apreender o conceito, am- quanto maior a dificuldade, maior é o de-
plia sua visão de mundo. senvolvimento do pensamento. No entan-
to, a dificuldade de aprendizagem torna-se
Para saber mais realmente um problema quando é genera-
Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo que cons- lizada, envolvendo vários âmbitos, a saber:
truiu uma vasta teoria sobre sociedade, econo- escola, família, relacionamento com amigos
mia e política, revolucionando o modo de pensar e as atividades práticas do dia a dia.
de várias pessoas e estudiosos. Nos dias atuais, os Além disso, outro importante fator a ser
trabalhos de Marx ainda são amplamente utiliza- considerado sobre o processo de aprendi-
dos como referência teórica para explicar sobre a zagem é que ele ocorre, segundo Vygotsky
vida cotidiana, como a estrutura da vida no capi- (1991), nas interações que tem a fala como
talismo e as relações de poder no trabalho. principal instrumento mediador. Como um
33/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
exemplo deste processo, citamos um caso bilidades dos animais para, em seguida, em
descrito há muitos anos sobre um garo- seu processo de socialização na cultura hu-
to conhecido como Victor de Aveyron, que mana aprender os comportamentos e cos-
foi encontrado já adolescente na floresta, tumes humanos. Este exemplo mostra que
vivendo em meio aos animais. Victor não aprendemos aquilo que faz parte do nosso
falava, emitia somente alguns grunhidos, meio, de nossas interações, apropriando-
andava em quatro apoios, não vestida rou- -nos de conceitos e características que fo-
pas e demonstrava comportamentos mui- ram construídos ao longo dos anos, em um
to próximos aos de um animal. Ele foi ado- processo histórico.
tado por um cientista chamado Jean Marc
Gaspard Itard, responsável por lhe ensinar
habilidades e comportamentos caracterís- Para saber mais
ticos da espécie humana, como tomar ba- É por meio da fala humana em suas várias expres-
nho, usar roupas e dizer algumas palavras. sões, como a escrita e falada, que nos apropria-
Este caso ilustra o fato de que Victor apren- mos da cultura, do conhecimento e, por conse-
deu as habilidades que faziam parte de seu guinte, nos desenvolvemos.
contexto, pois na ocasião em que viveu na
floresta aprendeu comportamentos e ha-

34/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


Portanto, se a aprendizagem ocorre nas in- • Como é a relação dos professores com
terações sociais e é fruto de um processo o aluno?
histórico, isto significa que ao olhar para a • Como é a relação familiar deste aluno?
dificuldade de aprendizagem é preciso vi-
sualizar também estes dois fatores como • Quais são os sentidos que o aluno
elementos fundamentais. atribui ao conteúdo escolar?

Ao pensar na dificuldade de aprendizagem, • De que modo este conteúdo, fonte da


é importante analisar o contexto no qual dificuldade de aprendizagem, é ensi-
este processo ocorre, levando em conside- nado?
ração o ambiente escolar, a relação fami- • Já foi tentado ensinar este mesmo
liar, o conceito aprendido e o aluno. A se- conteúdo de uma outra forma?
guir apresentamos algumas questões im-
• O aluno possui dificuldade de apren-
portantes que precisam ser investigadas no
dizagem em uma determinada área
processo de compreensão da dificuldade
do conhecimento ou é uma dificulda-
de aprendizagem:
de generalizada?
• Como é a estrutura escolar na qual o • Este aluno apresenta a mesma dificul-
aluno está inserido? dade de aprendizagem em casa ou na

35/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


relação com os amigos? é desviado, a escola geralmente encaminha
Estas são algumas questões importantes a este aluno a um profissional (psiquiatra,
serem consideradas no diagnóstico da difi- psicólogo, psicopedagogo) com a queixa de
culdade de aprendizagem, buscando iden- dificuldade ou transtorno de aprendizagem.
tificar suas causas e avaliar se é algo comum Moyses e Collares (2013) apontam que o
ao desenvolvimento, conforme abordado “não saber/conhecer” sobre as reais causas
anteriormente, ou se a dificuldade é gene- da dificuldade de aprendizagem favorece
ralizada, caracterizando-se como um pro- encaminhamentos e tratamentos bastante
blema ou distúrbio do desenvolvimento. preocupantes, como a utilização de medi-
Portanto, ressalto a importância de uma camentos que visam tratar o aluno conce-
análise contextualizada da dificuldade de bido como aquele que é culpado por seu
aprendizagem, uma vez que na maioria das fracasso escolar.
vezes ela remete a um obstáculo em rela-
ção aos processos de ensino-aprendizado
e como eles ocorrem na escola. Segundo
Leonardo, Leal e Rossato (2015), a escola
é acostumada a ensinar a um padrão mui-
to específico de aluno, e quando o padrão
36/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
2. O normal versus patológico fiscalizar e tratar os indivíduos que social-
nas dificuldades e distúrbios da mente não se enquadram nos padrões de
aprendizagem normalidade (MOYSES; COLLARES, 2013).
Quais são estes padrões? No que eles con-
Na sociedade ocidental, a busca pela padro- sistem? Quem dita o que é normal e anor-
nização das pessoas é cada vez mais recor- mal? Estas são questões de difícil resposta,
rente. Lidar com a diversidade e a diferença visto sua fluidez e inconstância que se mo-
parece ser algo mais difícil, sendo atribuí- difica o tempo todo a depender do período
do a algumas instâncias sociais o poder de histórico e social em que se vive.
Por muitos anos a religião foi a instância
que fiscalizava e era responsável pela or-
dem social, entretanto, nos dias atuais cada
vez mais a medicina vem ocupando este lu-
gar, colocando-se na função social de res-
ponder ao que é anormal e normal, ao que
é saúde e doença. Neste campo, psiquiatras
e neurologistas sofisticaram e desenvol-
veram mecanismos para explicar o desen-
37/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
volvimento humano, especializando-se em Sobretudo a partir dos anos 1980, é obser-
casos em que há um desvio em relação ao vado um crescente número de enfoques te-
padrão comportamental normal. Neste ce- óricos, bem como sua consolidação, que vão
nário, é crescente a transformação de pro- concebem as dificuldades e distúrbios da
blemas inerentes à vida, que tem em sua aprendizagem como problemas neurológi-
base aspectos sociais e políticos, distúr- cos, envolvendo certa limitação das sinap-
bios individuais, de ordem biológica, como ses cerebrais, sustentando a construção
ocorre em alguns casos de diagnóstico de dos seguintes diagnósticos: dislexia, trans-
distúrbios da aprendizagem. Ainda, ao atri- torno e déficit de atenção e hiperatividade
buir as dificuldades e distúrbios da aprendi- (TDAH), entre outros (MOYSES; COLLARES,
zagem a uma doença orgânica inerente ao 2013).
sujeito, o caminho mais utilizado para so-
lucionar este problema é a medicalização
– fenômeno crescente que atinge crianças
e adolescentes em idade escolar (MOYSES;
COLLARES, 2013).

38/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


Para saber mais Para saber mais
Sinapses são as conexões entre os neurônicos que O mecanismo de ação do metilfenidato é seme-
promovem o desenvolvimento cerebral. lhante ao da cocaína, sendo um poderoso psico-
estimulante. Aumenta-se o nível de dopamina no
cérebro, neurotransmissor responsável pela sen-
Para exemplificar este problema, em relação
sação de prazer. Muitos são os riscos deste au-
ao TDAH nos últimos dez anos, cresceu es-
mento da dopamina na infância e adolescência,
pantosamente o número de casos de crian-
como: dependência e busca de outras fontes de
ças e adolescentes diagnosticados, bem
prazer artificias, como as drogas, o efeito conhe-
como o uso de metilfenidato como trata-
cido como “zombie-like”, em que a pessoa fica
mento medicamentoso (MOYSES; COLLA-
contida, obediente, tranquila (MOYSES; COLLA-
RES, 2013).
RES, 2013).

A associação entre aprendizagem e desen-


volvimento neurológico é algo bastante
discutido pela neurociência e não há dú-
vidas de sua relação. É consenso na litera-
39/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
tura científica atual que a aprendizagem doenças. O desenvolvimento de um pensa-
agiliza as sinapses cerebrais, e o contrário mento crítico, que afinal está cada vez mais
também, que a “não aprendizagem” limi- em extinção, sobre as dificuldades e distúr-
ta o desenvolvimento neurológico (CAPO- bios da aprendizagem, não exclui de modo
VILLA; VALLE, 2011, ROTTA; OHLWEILER; algum a existência de deficiências e doen-
RIESGO, 2006). Entretanto, atualmente a ças que afetam o desenvolvimento cogni-
grande dificuldade é que via de regra apre- tivo do sujeito e limitam seu processo de
ende-se este conhecimento para justificar a aprendizagem. No entanto, estes são casos
dificuldade de aprendizagem, tendo como raros, não correspondendo à quantidade de
causa uma disfunção neurológica, e aí resi- alunos que encontramos hoje sendo diag-
de o problema na grande maioria dos casos: nosticados com distúrbios da aprendiza-
transformam-se problemas sociais em do- gem e em tratamento medicamentoso.
enças. Desta forma, destaco dois tipos de proble-
É importante para você profissional que mas de aprendizagem: o específico, que
tem interesse por este tipo de queixa esco- refere-se àquele aluno que possui algu-
lar envolvendo dificuldades e distúrbios da ma dificuldade em determinada área, por
aprendizagem, conhecer estas questões de exemplo, em matemática ou português; e
transformação de dificuldades normais em o generalizado em que a criança apresenta
40/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
dificuldade em múltiplas áreas, envolvendo distúrbio da aprendizagem.
os conteúdos escolares, os valores e normas Geralmente, a dificuldade de aprendizagem
da sociedade, o uso das diversas tecnolo- generalizada é associada ao déficit cogniti-
gias etc. Para exemplificar e demarcar esta vo que algumas crianças possuem em vista
diferença, trazemos um caso ilustrativo, de alguma deficiência orgânica, transtorno
mas bastante frequente, que envolve o alu- global do desenvolvimento ou algum ou-
no com dificuldade de aprendizado na es- tro tipo de doença que afeta suas possibi-
cola, sendo incapaz de atingir a média ne- lidades cognitivas. Portanto, o distúrbio da
cessária, porém que em casa joga videoga- aprendizagem só pode ser considerado a
me, conversa com os amigos normalmente partir da dificuldade generalizada de apren-
e consegue acompanhar suas séries e filmes dizado, e nunca a partir de uma dificuldade
favoritos. Aí perguntamos a você: este alu- específica.
no possui uma dificuldade específica ou ge-
neralizada? Certamente, a dificuldade deste Saber caracterizar os tipos de dificuldade de
aluno é do tipo específica, restringindo-se aprendizagem é importante para que você,
às atividades e conceitos escolares, não profissional, realize uma avaliação adequa-
afetando as suas atividades cotidianas e, da e estabeleça planos de intervenção que
portanto, não se caracterizando como um favoreçam o desenvolvimento pleno do alu-
no. Entretanto, apesar da diferença entre
41/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
os tipos de dificuldade de aprendizagem, a
conduta profissional sempre será múltipla,
envolvendo um trabalho com o aluno, com
a escola e com a família.

42/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


Glossário
Realidade material: é aquilo que consigo sentir, ver ou tocar.
Realidade simbólica: é aquela que meus sentidos não conseguem apreender, como os valores e ide-
ologias que permeiam nossa cultural.
Emoções positivas: são aquelas que causam certa sensação de bem-estar no sujeito, como a alegria,
satisfação, felicidade etc.

Psicoestimulantes: são drogas que ativam o sistema nervoso central, aumentando a atividade moto-
ra e cognitiva, além de acentuar o estado de vigília, alerta e atenção do usuário.

43/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas


?
Questão
para
reflexão

Como você pode observar na leitura do texto, há uma di-


ferença entre dificuldade e distúrbio de aprendizagem e
neste sentido convidamos você a pensar em estratégias
de ações para estes dois tipos de dificuldades de apren-
dizagem. Como você planejaria uma intervenção envol-
vendo um caso de dificuldade e um outro de distúrbio
de aprendizagem?

44/184
Considerações Finais

• Nem toda dificuldade de aprendizagem deve ser vista como um problema, uma vez que sua
presença é importante e normal ao desenvolvimento humano.
• O aprendizado ocorre nas interações sociais, portanto, na queixa de dificuldade de aprendiza-
gem também é necessário considerar o contexto social no qual os processos de ensino-apren-
dizagem são realizados.
• A dificuldade de aprendizagem pode ser um distúrbio quando é generalizada, envolvendo to-
dos os âmbitos sociais do sujeito, como família, escola, relacionamento com amigos e tarefas
do dia a dia.
• Na maioria das vezes a dificuldade de aprendizagem generalizada está associada a um quadro
de deficiência cognitiva, transtorno global do desenvolvimento ou outro tipo de doença que
afeta o funcionamento cognitivo.
• Independentemente do tipo de dificuldade de aprendizagem (específica ou generalizada), é
importante que o profissional englobe em seu processo de avaliação e intervenção todo o
contexto social do aluno.
45/184
Referências

CAPOVILLA, F. C.; VALLE, L. E. L. R. Neuropsicologia e aprendizagem. 3. ed. Ribeirão Preto: Novo


Conceito, 2011.
LEONARDO, N. S. T.; LEAL, Z. F. R. G.; ROSSATO, S. P. M. A naturalização das queixas escolares em
periódicos científicos: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural. Revista Quadrimestral da
Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. v. 19, n. 1, p. 163-171, 2015.
MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. Control y medicaliación de la infancia. Desidades, n. 1, p.
11-21, 2013.
ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobio-
lógica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos
superiores. Organizadores Michael Cole et al. Tradução José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna
Barreto, Solange Castro Afeche. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. (Original publicado em
1935)
______. Obras escogidas II. Madrid: Vysor Aprendizaje y Ministerio de Cultura y Ciencia, 2001.
(Original publicado em 1932)
______. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. (Original publicado
em 1934).
46/184 Unidade 2 • Distúrbios da aprendizagem: características e problemas
Questão 1
1. Em relação à definição e caracterização dos problemas da aprendizagem
há um consenso?
a) Sim, existe apenas uma teoria científica para caracterizar os problemas da aprendizagem.
b) Sim, principalmente em relação ao encaminhamento psicopedagógico.
c) Não, sendo possível encontrar várias teorias distintas que explicam os problemas da apren-
dizagem.
d) Não, entretanto, tal cenário está mudando.
e) Sim, principalmente na educação.

47/184
Questão 2
2. O que é aprendizagem?

a) É um processo orgânico.
b) É a capacidade humana de apreender a realidade material e simbólica.
c) É prestar atenção.
d) É a capacidade do aluno em permanecer em silêncio na sala de aula.
e) É tirar boas notas.

48/184
Questão 3
3. A dificuldade de aprendizagem torna-se um problema quando:

a) É uma dificuldade generalizada, envolvendo vários âmbitos sociais do sujeito.


b) O aluno não consegue alcançar a média necessária na escola.
c) A família é culpabilizada.
d) Associa-se a uma dificuldade cognitiva.
e) Ocorre um problema escolar.

49/184
Questão 4
4. Na avaliação da dificuldade de aprendizagem, é importante realizar:

a) Uma análise do contexto familiar.


b) Uma avaliação escolar.
c) Uma avaliação neurológica.
d) Uma avaliação afetiva.
e) Uma avaliação contextualizada.

50/184
Questão 5
5. Quais são os dois tipos de dificuldade de aprendizagem?

a) Geral e específica.
b) Familiar e escolar.
c) Afetiva e cognitiva.
d) Individual e social.
e) Ampla ou complexa.

51/184
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: E.

Atualmente há muitas teorias e áreas do Na avaliação da dificuldade de aprendiza-


conhecimento que visam explicar os pro- gem, é importante realizar uma avaliação
blemas da aprendizagem, não encontrando contextualizada que leve em consideração
um consenso. o contexto escolar, familiar, social e indivi-
dual de cada aluno.
2. Resposta: B.
5. Resposta: A.
A aprendizagem refere-se à capacidade hu-
mana de apreender a realidade em que se Há dois tipos de dificuldade de aprendiza-
vive. gem, a específica e a geral, sendo que esta
última se refere a um déficit de aprendiza-
3. Resposta: A. gem.

A dificuldade de aprendizagem só pode ser


considerada como um problema a partir da
dificuldade generalizada.

52/184
Unidade 3
O TDAH e suas possibilidades de intervenção

Objetivos

• Caracterizar o TDAH.
• Problematizar as causas e linhas de tratamento do TDAH.
• Destacar a importância da construção de outros modos de compreender o TDAH.
• Favorecer a reflexão sobre possibilidades de intervenção.

53/184
Introdução

Na história do Transtorno do Déficit de Aten- 1. Em busca da compreensão do


ção com Hiperatividade (TDAH) muitas são TDAH
as teorias que buscam explicar suas causas
e seu tratamento. Via de regra, o enfoque Segundo a Associação Brasileira do Défi-
maior são suas alterações orgânicas, expli- cit de Atenção (ABDA), o TDAH tem como
cadas pelo olhar neurológico, colocando em principal causa alterações neurobiológicas
demanda a necessidade de outras áreas do que podem afetar o desenvolvimento da
conhecimento também se posicionarem a pessoa por toda a vida.
respeito deste problema. Portanto, é funda-
mental olhar o TDAH a partir de várias óti- Há estudos que buscam comprovar que o
cas, dispondo-se a compreender este pro- TDAH afeta algumas regiões do cérebro em
blema pela conduta multiprofissional (CA-
POVILLA; VALLE, 2011; ROTTA, OHLWEILER;
RIESGO, 2006).

54/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção


especial a região frontal, responsável pela diagnóstica em situações em que a crian-
regulação do comportamento, principal- ça apresenta dificuldades na escola, prin-
mente no que se refere ao controle da aten- cipalmente no que se refere à capacidade
ção, memória, autocontrole, planejamen- de concentração nas atividades, resultando
to e organização. Estes estudos também em um baixo desempenho escolar. Em adul-
apontam para a existência de várias teorias tos tal transtorno também pode estar pre-
que buscam explicar a causa do TDAH, apre- sente, entretanto, na maioria das vezes seu
sentando diferentes fontes do problema: diagnóstico é realizado ainda na infância ou
questões hereditárias, substâncias ingeri- na adolescência, quando seu desempenho
das durante a gravidez, fatores ambientais escolar é acompanhado de modo mais pró-
e orgânicos que levaram a sofrimento fetal, ximo por educadores e pais. Estima-se que
exposição ao chumbo, entre outras causas 3 a 5% das crianças no mundo são afetadas
(ABDA, 2017). pelo TDAH.
Não obstante, a ABDA descreve no TDAH a Em relação ao seu diagnóstico, não há ne-
presença de alguns sintomas como: desa- nhum exame específico que comprove sua
tenção, inquietude e impulsividade, sobre- existência, sendo realizado com base em al-
tudo no contexto escolar. Na maioria das guns indícios e exclusão de outras causas.
vezes, o TDAH é pensado como hipótese A ABDA aponta que somente o profissional
55/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
médico é habilitado para realizar o diagnós- afirmações hegemônicas sobre o TDAH, in-
tico do TDAH e sugere como principal via de serindo outras possibilidades de compreen-
tratamento a utilização de medicamentos. são deste problema cada vez mais crescen-
A partir destas informações, cabe reali- te.
zar alguns questionamentos: por que atri-
buir somente problemas de ordem biológi-
ca como causa do TDAH? Qual o papel da
Para saber mais
sociedade, da educação, neste processo? Maria Aparecida Affonso Moysés é medica e li-
Como o profissional médico saberá diferen- vre-docente em Pediatria. Atualmente é profes-
ciar um problema escolar de um problema sora titular em Pediatria da Faculdade de Ciências
neurobiológico já que não existe um exame Médicas da Universidade Estadual de Campinas
específico para o diagnóstico? Qual o posi- (UNICAMP). Nos últimos anos tem produzido mui-
cionamento de áreas como a pedagogia e tos estudos científicos questionando o proces-
a psicologia que estudam os processos de so de patologização da vida e dos problemas de
aprendizagem e desenvolvimento humano? aprendizagem.

Alguns pesquisadores (MOYSÉS; COLLA- Cecília Azevedo Lima Collares é pedagoga e livre-
RES, 2013) tanto do campo da medicina -docente em Psicologia Educacional. É profes-
quanto da pedagogia têm questionado as
56/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
ou paciente. Portanto, destacamos a impor-
Para saber mais tância de uma compreensão para além da
sora aposentada pela faculdade de Educação da
lógica médica (que visa buscar o problema,
UNICAMP. Sua produção científica volta-se prin-
a doença e tratar com a utilização de medi-
cipalmente para temas como fracasso escolar e
camentos ou intervenções cirúrgicas), que
medicalização dos processos de ensino-aprendi-
incorpore uma compreensão educacional
zagem. Também é militante no movimento pela
do TDAH.
despatologização da vida. Tal forma de compreender o TDAH consiste
na construção de ideias que ofereçam sub-
sídios para a prática de educadores e de-
Para você, profissional que trabalha com os
mais profissionais no geral, preocupando-
processos de aprendizagem, seja profes-
-se muito mais com o “devir”, com as pos-
sor, gestor ou psicólogo, pouco sentido faz
sibilidades de desenvolvimento do sujeito.
apresentar o enfoque neurológico do TDAH,
Neste sentido, muito mais importante do
sendo necessário pensar e discorrer sobre
que questionar sobre as causas e consequ-
o que, no âmbito de sua prática profissio-
ências do déficit de atenção, é pensar em
nal, pode ser desenvolvido para melhorar
caminhos para seu desenvolvimento. Como
as condições de aprendizagem de seu aluno
a atenção se desenvolve? Quais são as vias
57/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
para sua potencialização? Portanto, nesta ção, assunto que abordaremos a seguir.
compreensão educacional o foco não é tan-
to o déficit de atenção, mas, sim, o desen- 2. O desenvolvimento da atenção
volvimento da atenção. e possibilidades de intervenção
Entretanto, adiantamos que abordar o TDAH
Segundo Vygotsky (1991b), a atenção é uma
por este viés não é o caminho mais fácil,
função psicológica que o sujeito possui ao
tampouco confortável, visto exigir empe-
nascer, são as condições biológicas neces-
nho do profissional com o aluno, bem como
sárias para seu desenvolvimento. Portanto,
o desenvolvimento de pensamentos criati-
a atenção só pode se desenvolver a partir
vos que possibilitem pensar em estratégias
de um arcabouço biológico que é próprio da
de ensino para encontrar a melhor forma de
espécie humana. Entretanto, a atenção no
favorecer o desenvolvimento da atenção.
início da vida é muito volátil, sendo que na
Também, não é o caminho mais rápido, vis-
criança quanto menor sua idade maior é a
to que as mudanças são lentas e demoram
dificuldade de permanecer atenta a algo.
para ocorrer, porém não há dúvidas de que
são as ações mais efetivas!
Para isto, é importante que você compreen-
da como ocorre o desenvolvimento da aten-
58/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
Com o processo de inserção na cultura, a a uma determinada situação. Portanto, a
criança aprende a significar o mundo, ou capacidade de significação e o desenvolvi-
seja, cada vez mais consegue reconhecer mento da atenção estão interligados e são
e nomear os objetos, processo este que se interdependentes (VYGOTSKY, 1991b).
dá em função do desenvolvimento da fala.
Na criança, quanto maior sua capacidade
de significar o mundo, maior será sua capa- Para saber mais
cidade de regular a atenção, ou seja, maior Para Vygotsky (1991a), é por meio da fala humana
será sua capacidade de manter-se atenta (que envolve a fala oral, gestual e a escrita) que o
homem se apropria da cultura, ao mesmo tempo
que também a produz.

59/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção


velmente, sua atenção nesta palestra não
Para saber mais se sustentará nem por cinco minutos e ra-
A significação é o processo de atribuição de senti-
pidamente pensará em outros assuntos (na
dos e significados pelo sujeito a situações da vida
família, em seu emprego, em alguma tarefa
ou a algum conhecimento. Os sentidos são da or-
que ficou pendente, por exemplo).
dem do privado, cada sujeito atribui um sentido Portanto, toda vez que você estiver dian-
único ao que vivencia. Já o significado é da ordem te de alguma situação que não consegue
do público, refere-se à definição dicionarizada da atribuir nenhum sentido e significado, sua
palavra. Por exemplo: a palavra casa, todas as pes- atenção dificilmente será regulada. O in-
soas vão saber descrever o que é uma casa (isto é verso também ocorre, imagine esta mesma
o significado), entretanto cada pessoa atribuirá palestra só que agora há uma pessoa que
um sentido para esta palavra (afeto, medo etc.). faz a tradução (ou seja, agora você conse-
gue compreender o que está sendo dito),
Explicamos o que foi dito com um exemplo: entretanto, o conteúdo abordado não lhe
imagine que você está assistindo a uma pa- traz muitos conhecimentos novos, visto que
lestra sobre determinado assunto e desco- a maioria já são de seu domínio. Também,
nhece totalmente o idioma do palestrante nesta condição sua atenção não se manterá
e não há nenhum tipo de tradução. Prova- por muito tempo (BARBOSA, 2017). Então,
60/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
em quais situações a atenção permanece outra que é desconhecida (que não faz par-
ativa? te da experiência do sujeito). Esta relação
se apresenta como um conflito a ser vivido
A atenção é mantida por um período mais e superado pelo sujeito, visto a necessidade
longo quando há o equilibro entre os ele- de transformar o desconhecido em conhe-
mentos que o aluno conhece e aqueles que cido. E é a partir do surgimento deste con-
desconhece. Em outras palavras, nas inte- flito que a atenção permanece constante
rações sociais em que a atenção está pre- e se desenvolve cada vez mais (BARBOSA,
sente há sempre uma parte que é conhecida 2017). Você lembra que no começo deste
(que faz parte da experiência do sujeito), e curso disse que no processo de aprendi-
zagem muitas são as dificuldades vividas?
Pois é, no processo de aprendizagem o su-
jeito está em conflito o tempo todo.
Portanto, isto permite dizer que a aten-
ção ocorre a partir do vínculo que o sujei-
to faz entre sua experiência (ou seja, aquilo
que conhece) e o desconhecido, ou seja, é
a consideração do conhecido que garante
61/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
o desconhecido como possibilidade, como Tal concepção rompe com a ideia de que
“devir”. para produzir a atenção do aluno é neces-
sário ficar no mundo dele, incorporando a
Vamos explicar com um exemplo: imagine
necessidade de inserir elementos que o alu-
que você está na mesma palestra que des-
no desconhece e que se relacionam de cer-
crevemos anteriormente, em que há um bom
ta forma com sua experiência, promovendo
sistema de tradução e que agora mudou o
assim seu aprendizado.
assunto da palestra, sendo apresentado um
tema do seu interesse e que traz muitos ele- Diante desta exposição, o que você, como
mentos que até então eram desconhecidos profissional, pode fazer para promover o de-
por você. Agora, consegue compreender o senvolvimento da atenção de seu aluno/pa-
que está sendo dito, há elementos que es- ciente? A seguir trazemos algumas suges-
tão sendo aprendidos, e, por conseguinte, tões que consideramos muito importantes:
sua atenção permanecerá constante na pa- • Pensar em atividades que sejam do in-
lestra toda. Assim, é na síntese entre o que teresse do aluno/paciente.
faz parte de minha experiência (conhecido)
com aquilo que ainda não experienciei (des- • Propor atividades que exigem a regu-
conhecido) que a atenção é desenvolvida e lação da atenção de modo gradativo,
regulada. respeitando sempre o limite de cada
aluno.
62/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
• Estabelecer relações entre a vida do envolver outros que ajudem a potencializar
aluno/paciente e o conhecimento que o desenvolvimento da atenção no aluno/
será apresentado. paciente.
• Na escola, utilizar estratégias diferen- Em uma escola havia um grupo de alunos
ciadas de ensino. que apresentavam a queixa de desatenção.
• Ouvir a opinião do aluno/paciente so- A partir desta queixa foram realizados vários
bre o conteúdo. encontros de intervenção a fim de promover
atividades que favorecessem o desenvolvi-
• Sugerir ao aluno a apresentação de mento da atenção desses alunos. Para isto,
um seminário sobre determinado as- foram realizados encontros de contação e
sunto. produção de histórias, trabalhados contos
• Pedir que o aluno/paciente explique clássicos da literatura, sendo os preferidos
com suas palavras determinado as- pelos alunos os contos de Edgar Allan Poe
sunto. e Clarice Lispector. As atividades de conta-
Estes são apenas alguns encaminhamen- ção de histórias eram organizadas a fim de
tos a serem pensados nas situações em que despertar maior interesse nos alunos, orga-
há a necessidade de desenvolvimento da nizando a sala do seguinte modo: estendia-
atenção, mas que em sua prática poderão -se um pano no chão, sugerindo que os alu-
63/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção
nos sentassem em círculo, colocava-se uma
música de fundo e também apagavam-se
as luzes. O envolvimento dos alunos com
a intervenção surpreendeu toda a escola,
principalmente pela capacidade de conse-
guir prestar atenção em contos clássicos,
narrados em muitas páginas, com certa di-
ficuldade gramatical e densidade poética.
Este é apenas um exemplo de uma ativida-
de que se bem elaborada e planejada, com
a intencionalidade de promover o interesse
e a participação dos alunos, pode levar ao
sucesso da aprendizagem e ao desenvolvi-
mento da atenção.

64/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção


Glossário
Hegemonia: palavra utilizada para afirmar que determinada concepção é mais preponderante, possui
um maior destaque e aceitação.

Função psicológica: são todas aquelas funções que compõem e constituem o sistema psicológico,
como: atenção, fala, imaginação, pensamento, emoção, entre outras.

Cultura: refere-se a tudo aquilo que foi construído pelo homem, por exemplo: o conhecimento, as leis,
os valores, as instituições sociais.

Devir: processo permanente de vir a ser algo.

65/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção


?
Questão
para
reflexão

Você como profissional especializado em distúrbios da


aprendizagem, qual atividade proporia para favorecer o
desenvolvimento da atenção de alunos, tanto em aten-
dimento individual quanto coletivo?

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Considerações Finais

• Necessidade de compreender o TDAH a partir de múltiplas concepções, não se limitando à vi-


são biológica deste distúrbio.
• Mais importante do que a caracterização do TDAH, é pensar em possibilidades de intervenção
tanto em contextos institucionais, como na clínica.
• Necessidade de buscar estratégias de desenvolvimento da atenção pela via da ampliação das
possibilidades de significação.
• Oferecer atividades que promovam o interesse e a participação dos alunos.
• Pensar em estratégias diferenciadas para promover a aprendizagem.

67/184
Referências

ABDA. Associação Brasileira de Déficit de Atenção. Sobre o TDAH. Disponível em: <http://www.
tdah.org.br/>. Acesso em: 20 abr. 2017.

BARBOSA, Eveline Tonelotto. Os “donos da imaginação”: a contação e produção de histórias


promovendo o interesse e a participação de adolescentes em atividades escolares. Tese (Douto-
rado em Psicologia) – Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Centro de Ciências da Vida,
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Campinas, 2017.
CAPOVILLA, F. C.; VALLE, L. E. L. R. Neuropsicologia e aprendizagem. 3. ed. Ribeirão Preto: Novo
Conceito, 2011.
MOYSÉS, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. Control y medicaliación de la infancia. Desidades, n. 1, p.
11-21, 2013.
ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobio-
lógica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991a.
______. Obras escogidas I. Madrid: Vysor Aprendizaje y Ministerio de Cultura y Ciencia, 1991b.

68/184 Unidade 3 • O TDAH e suas possibilidades de intervenção


Questão 1
1. Segundo a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH é
resultado de uma alteração:
a) Ambiental.
b) Afetiva.
c) Neurobiológica.
d) Intelectual.
e) Social.

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Questão 2
2. Quais são as principais características do TDAH?

a) Desmotivação, atenção e concentração.


b) Agressividade, fraqueza e retardo no desenvolvimento motor.
c) Desatenção, inquietude e impulsividade.
d) Desinteresse pela escola, impulsividade e bom desempenho nos estudos.
e) Agressividade, desatenção e desmotivação.

70/184
Questão 3
3. Em relação ao diagnóstico do TDAH, ele é realizado nas seguintes condi-
ções:
a) Não há um exame específico, sendo que seu diagnóstico é realizado com base na exclusão
de outras causas.
b) A partir de um exame específico realizado por um médico.
c) A partir da aplicação de um teste psicológico.
d) Atualmente há vários exames neurológicos que favorecem o diagnóstico preciso do TDAH.
e) A partir de uma avaliação socioeconômica.

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Questão 4
4. O desenvolvimento da atenção está relacionado:

a) Ao nível socioeconômico.
b) À vontade.
c) Ao estímulo sensorial.
d) Ao desenvolvimento afetivo.
e) À capacidade de significação.

72/184
Questão 5
5. Em relação ao TDAH, é mais importante:

a) Realizar seu diagnóstico.


b) Buscar estratégias a fim de promover o desenvolvimento da atenção.
c) Conversar com a família.
d) Utilizar medicamentos.
e) Realizar exames.

73/184
Gabarito
1. Resposta: C.

A ABDA concebe os problemas envolvidos no TDAH como causa neurobiológica, a partir de algu-
mas evidências científicas que ainda não possuem um consenso na literatura científica.

2. Resposta: C.
Segundo a definição da ABDA (2017), as principais características do TDAH são desatenção, in-
quietude e impulsividade, principalmente no contexto escolar.

3. Resposta: A.
Ainda não há um consenso na literatura sobre a forma de realizar o diagnóstico do TDAH, sendo
que seu diagnóstico é considerado como hipótese a partir da exclusão de outras causas, como
ambiental, pedagógica etc.

4. Resposta: E.
A atenção é desenvolvida na relação com o processo de significação, ou seja, quanto mais o su-
jeito conhece o mundo, atribuindo sentidos e significados, maiores serão suas possibilidades de
regulação da atenção.
74/184
Gabarito
5. Resposta: B.

Vários estudos apontam que é necessário a superação de práticas que visam apenas diagnos-
ticar os problemas, colocando-se a necessidade de pensar em intervenções que promovam sua
superação, no caso do TDAH em práticas que promovam o desenvolvimento da atenção.

75/184
Unidade 4
A dislexia e suas possibilidades de intervenção

Objetivos
• Caracterizar a dislexia.
• Discorrer sobre as dificuldades e limitações em relação ao diagnóstico de dislexia.
• Favorecer uma reflexão sobre os processos de ensino da leitura e da escrita.
• Descrever como ocorre o processo de desenvolvimento da leitura e da escrita.
• Apontar estratégias de atuação profissional para trabalhar com problemas de leitura e es-
crita.

76/184
Introdução

A dislexia é um tipo de transtorno da apren- 1. Em busca da compreensão da


dizagem que afeta principalmente as habi- dislexia
lidades de leitura e escrita, dificultando, na
maioria das vezes, o processo de escolariza- Segundo a Associação Brasileira de Disle-
ção. Entretanto, muitas são as ações pos- xia (ABD), a dislexia trata-se de um distúr-
síveis para superar este tipo de problema, bio de aprendizagem que tem como origem
despertando a necessidade de criar novas fatores neurobiológicos, que acarretam di-
práticas de alfabetização e de estímulo à ficuldade em reconhecer de modo preciso a
leitura e à escrita. Para além das questões palavra, sobretudo, em sua decodificação e
neurobiológicas que sustentam as causas soletração. Tal transtorno afeta o compo-
da dislexia, é importante pensar e repensar nente fonológico da fala, dificultando o re-
os modos como a escola habitualmente vem conhecimento e diferenciação de algumas
trabalhando com os processos de leitura e letras. Neste sentido, a dislexia pode resul-
escrita, a fim de pensar em novas práticas tar dificuldades com a leitura e a escrita.
para superar este problema que é cada vez
mais frequente, em especial em relação aos
alunos que frequentam o ensino público.

77/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção


Entretanto, para a realização do diagnósti- a criança ou adolescente apresenta os se-
co de dislexia, é necessário que a criança já guintes sinais:
tenha sido alfabetizada, visto que os sinto-
• Dificuldade na leitura e escrita.
mas característicos da dislexia são comuns
em pessoas que estão em processo de alfa- • Problema no conhecimento de sons
betização. iguais no final e início das palavras.
Segundo a ABD, na idade escolar, quan- • Desatenção e dispersão em ativida-
do o diagnóstico da dislexia se torna mais des de leitura e escrita.
aceitável perante a literatura, comumente • Troca de algumas letras na escrita.
• Dificuldade em cópia de textos.
• Dificuldade na coordenação motora.
• Confusão para identificar direções
como esquerda e direita.
• Dificuldade em manusear dicionários,
mapas etc.
• Vocabulário pouco desenvolvido.
78/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
A dislexia é um diagnóstico bastante co- aquelas pessoas que passaram pelo proces-
nhecido e utilizado para justificar os proble- so de escolarização, mas que possuem mui-
mas em relação ao desenvolvimento da lei- tas dificuldades em relação à leitura e, por
tura e da escrita. Entretanto, é importante conseguinte, na escrita (MARSIGLIA; SA-
considerar que nem todos os problemas em VIANI, 2017; SILVIA; TULESKI, 2014, SCOZ,
relação à leitura e à escrita remetem a um 1994). Assim, cabe o seguinte questiona-
quadro patológico, visto que muitas pes- mento: como pensar que aquelas pessoas
soas em processo de apropriação da leitu- que estão em processo de escolarização (ou
ra e escrita ou que foram mal alfabetizadas que já concluíram) não possuem o domínio
apresentam as mesmas características des- da leitura e da escrita por um problema in-
critas pela ABD. dividual?
Estudos e avaliações nacionais apontam
para um percentual significativo de pesso-
as com dificuldades em relação à leitura e
à escrita, em especial aqueles provenien-
tes de escolas públicas. Isto é tão verdade
que cada vez mais aumenta o número dos
chamados analfabetos funcionais, que são

79/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção


los vários casos de problemas de aprendiza-
Para saber mais gem que são superados com uma eficiente
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação intervenção pedagógica.
Básica (Saeb) é uma avaliação bienal que avalia o Assim, é muito importante que você, pro-
desempenho de estudantes, sendo que em seus fissional, faça uma avaliação bastante cui-
resultados demonstram pouca melhora no de- dadosa sobre as reais causas da dificuldade
sempenho de estudantes ao longo dos últimos 15 de leitura e escrita, buscando considerar o
anos na disciplina de Língua Portuguesa, em que modo como o aluno foi ou está sendo alfa-
a prática da leitura e da escrita é exigida de modo betizado, seu contexto social e familiar.
mais intenso.
Além disto, é importante considerar que
as dificuldades que caracterizam a dislexia
Portanto, alguns estudos (MARSIGLIA; SA- são passíveis de serem superadas, uma vez
VIANI, 2017; SILVIA; TULESKI, 2014) vão de- que não há um comprometimento do siste-
fender que os problemas relacionados à di- ma cognitivo da pessoa. Atualmente, temos
ficuldade de aprendizagem, como o caso da vários gênios da nossa história que quando
dislexia, são considerados muito mais pro- crianças apresentaram um quadro bastante
blemas de escolarização ou ensino do que próximo à dislexia, por exemplo, Albert Eins-
individuais. Tal afirmação é comprovada pe- tein, pai da Teoria da Relatividade e um dos
80/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
maiores intelectuais da nossa história, que tempo em que também nos apropriamos
começou tarde a falar e foi alfabetizado so- destes elementos que passam a nos cons-
mente por volta dos nove anos, apresentan- tituir. É por meio das diversas formas de re-
do inúmeras dificuldades em seu processo gistros (desenho, escrita) que temos acesso
inicial de escolarização. ao que aconteceu no passado, na história
Então, para que as dificuldades em relação da humanidade, e é em função deles que
à leitura e à escrita sejam superadas, é im- conseguimos nos apropriar dos aconteci-
portante compreender como ocorre o de- mentos de determinada época ou período
senvolvimento da leitura e da escrita, tema histórico. Este conhecimento regulará as
este que será abordado a seguir. ações e o modo de pensar sobre si e a rea-
lidade. Por exemplo, é o meu conhecimento
sobre os valores da sociedade socialista ou
2. O desenvolvimento da leitura
capitalista que me fará questionar e pensar
e da escrita
sobre os modos de vida da sociedade atual.
Segundo Vygotsky (1991), a fala é o que ca-
racteriza o homem como um ser social, visto Para saber mais
que é por meio dela que se constrói a histó- Entende-se por fala qualquer forma de lingua-
ria, os valores, o conhecimento, ao mesmo gem, como a oral, a escrita, a gestual.
81/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
Vygotsky (1991) vai destacar que a fala e o criança ser capaz de apropriar o significa-
pensamento se constituem mutuamente, do. Um exemplo é a criança bem pequena
uma vez que não é possível falar sem pen- que aprende a falar a palavra “não” e para
samento e pensar sem a fala. Faça um exer- várias situações utiliza esta palavra. Neste
cício você mesmo tentando pensar em algo caso, será pela repetição da palavra, inse-
sem ser por meio da palavra. Dificilmente rida em um contexto social (com a ajuda de
isto será possível. outras pessoas de seu convívio) que a crian-
Entretanto, ao longo do desenvolvimento ça irá se apropriar do significado da palavra.
nem sempre pensamento e fala estão liga- No momento em que a criança for capaz de
dos. Aproximadamente antes dos dois anos compreender as palavras, não somente re-
de idade, fala e pensamento são funções peti-las, é porque pensamento e fala estão
que percorrem separadamente, isto porque interligados, processo este que ocorre apro-
muitas vezes a criança aprende a falar por ximadamente a partir dos dois anos de ida-
meio da repetição de palavras, sem se apro- de. Após esta ligação entre pensamento e
priar de seu significado (ou seja, sem a pre- fala, um passa a constituir o outro e devem
sença do pensamento). Este é um primei- caminhar juntos no processo de desenvol-
ro nível de aprendizado da fala, que ocorre vimento.
pela repetição, pela cópia, para só depois a Compreender a importância da ligação en-
82/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
tre fala e pensamento leva a questionar as sional qualificado.
práticas escolares que muitas vezes se pau- Diferentemente da fala oral que é apreen-
tam na repetição, na cópia de textos da lou- dida nas práticas sociais, a escrita depende
sa, por exemplo, sem exigir a atuação do de uma ação intencional, pedagógica, para
pensamento, da reflexão. Este tipo de prá- seu desenvolvimento. Tal apropriação exige
tica não favorece o processo de aprendiza- um grande esforço tanto por parte do alu-
gem, em especial no que se refere aos pro- no quanto do profissional que precisará re-
cessos de leitura e escrita. correr a diversas estratégias para ensiná-lo
Nos processos de aprendizagem da leitu- (VYGOTSKY, 2007).
ra e escrita, é importante que o aluno não Na apropriação da escrita e da leitura, é
apenas aprenda a repetir as palavras, co- importante superar a concepção de que se
piando-as de modo repetitivo ou lendo de trata de um processo linear, constante e ir-
modo mecânico. É necessário a atuação do reversível, ou seja, que o aprendizado da
pensamento, em que o aluno seja capaz de leitura e escrita uma vez alcançado perma-
pensar sobre o que está lendo e escrevendo. necerá para sempre nesta mesma condição.
Portanto, para além da repetição das pala- As habilidades da leitura e escrita percor-
vras, o aluno deve compreendê-las, proces- rem um longo processo de dificuldades que
so este que exige a mediação de um profis- deverão ser superadas, uma vez que se am-
83/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
plia a complexidade dos conceitos (VYGOT- SKY, 2007). Para que me servem a leitura e a
SKY, 2007). escrita? Qual a diferença de assistir a um fil-
me e ler um livro de história? O mesmo vale
para a escrita: por que preciso me comuni-
Para saber mais car sem ser pela fala oral? Qual a função da
As habilidades de escrita e leitura acontecem escrita? Estas são questões que precisam
muito antes da criança aprender a escrever e a ler ser trabalhadas e focalizadas no processo
suas primeiras palavras. Por exemplo, em relação de alfabetização.
à escrita, sua origem está nos gestos, nos rabiscos Portanto, a escola precisa oferecer um es-
e desenhos das crianças. Para Vygotsky (2007), a paço para os alunos exercitarem a escrita
criança primeiro aprende a desenhar coisas para e a leitura, focalizando especialmente em
depois aprender a desenhar palavras. temas que sejam do interesse deles. Via de
regra, a escola trabalha com temas prontos,
A leitura e a escrita só são desenvolvidas fechados, de escrita, o mesmo ocorre com a
a partir da necessidade da criança. Neste leitura, oferecendo obras que são determi-
sentido, a criança deve ter alguma necessi- nadas previamente. Claro que há algumas
dade para se apropriar da escrita, existindo obras clássicas que precisam ser socializa-
alguma relevância para sua vida (VYGOT- das no processo de escolarização, entre-
84/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
tanto, é importante também considerar os tórias, sem oferecer um tema específico, e
interesses de leitura dos alunos e contem- que após vários momentos de correção e
plá-los nas práticas de ensino. Isto porque, reescrita, com ajuda da professora de Lín-
no processo de leitura e escrita, o aluno es- gua Portuguesa as histórias que forem cria-
tabelecerá muitas relações com sua vida e o das pelos alunos sejam organizadas em um
interesse pela leitura e a escrita será desen- livro. Dessa forma, é possível que a relação
volvido. desses alunos com o processo de leitura e
Marsiglia e Saviani (2017) destacam a im- escrita surpreenda a toda a escola e tenham
portância de criar um espaço estético para bons resultados. Estes são somente alguns
o conhecimento, o que significa pensar em exemplos de prática que podem ser pen-
situações diferenciadas para conduzir as sados e desenvolvidos, a fim de promover o
atividades de leitura e escrita. Há várias es- interesse e a participação em atividades de
tratégias para desenvolver essas ativida- leitura e escrita.
des, tais como modificações na sala (como
apagar as luzes, sentar em roda no chão,
colocar música de fundo) ou até mesmo ir
a outros espaços da escola, além disso, po-
de-se sugerir que os alunos criem suas his-
85/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção
Entretanto, considero também que há casos em que a dificuldade de leitura e escrita exige um
atendimento mais individualizado e o acompanhamento de outros profissionais, como fonoau-
diólogo, psicólogo ou psicopedagogo. Portanto, a atuação multiprofissional é necessária e im-
portante para superar este problema (ROTTA; OHWEILER; RIESGO, 2006).

86/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção


Glossário
Decodificação: ação de interpretação da palavra.
Soletração: pronúncia de letras, sílabas e palavras.
Estético: refere-se à forma como o conhecimento é trabalhado.

87/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção


?
Questão
para
reflexão

Você como profissional que possui um conhecimento


sobre problemas e distúrbios de aprendizagem, qual
atividade faria em sala de aula (caso seja professor) ou
sugeriria para a escola (caso seja um profissional clínico)
para favorecer o interesse e a participação de alunos em
atividades de leitura e escrita?

88/184
Considerações Finais

• Importância de uma avalição cuidadosa em relação ao diagnóstico da dis-


lexia.
• Necessidade de conhecer o contexto e histórico escolar do aluno/paciente,
a fim de não tratar um problema de alfabetização como um distúrbio indi-
vidual, orgânico.
• Necessidade de pensar em práticas que favoreçam o interesse e a participa-
ção em atividades de leitura e escrita.
• Em casos mais específicos, em que há uma necessidade de um trabalho mais
individualizado, considerar a importância de um trabalho multiprofissional,
envolvendo: fonoaudiólogo, psicólogo, psicopedagogo, entre outros.

89/184
Referências

MARSIGLIA, A. C. G.; SAVIANI, D. Práticas pedagógicas alfabetizadoras à luz da psicologia histó-


rico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Psicologia em Estudos, 22 (1), p. 3-13, 2017.
ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobio-
lógica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 1994.
SILVIA, M. A. S.; TULESKI, S. C. Dificuldades de aprendizagem em cena: o que o cinema e a psico-
logia histórico-cultural têm a dizer sobre a dislexia. Interfaces da Educação, 5(14), p. 177-199,
2014.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
______. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.
7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

90/184 Unidade 4 • A dislexia e suas possibilidades de intervenção


Questão 1
1. A dislexia é uma dificuldade relacionada:
a) Ao reconhecimento e à diferenciação de algumas letras.
b) A atividades envolvendo cálculos.
c) À capacidade de concentração.
d) À dificuldade em manter-se concentrado em determinada atividade.
e) Ao processo de aprendizagem.

91/184
Questão 2
2. Quais são os principais problemas em relação ao diagnóstico da disle-
xia?
a) Não há nenhum problema quanto ao seu diagnóstico.
b) Trata-se de um problema que afeta as pessoas em processo de alfabetização ou que foram
mal alfabetizadas.
c) Criança não consegue se concentrar nos testes.
d) É necessário um relatório da equipe escolar.
e) É necessário a aplicação de vários testes.

92/184
Questão 3
3. Em relação ao tratamento da dislexia, é possível afirmar que:

a) Não tem cura.


b) Tem duração de três anos.
c) Não há tratamento específico.
d) É importante o uso de medicação.
e) São possíveis de serem superadas suas dificuldades a partir de uma efetiva intervenção pe-
dagógica.

93/184
Questão 4
4. Nos processos de leitura e escrita, quais são as funções psicológicas
principais?
a) Consciência e memória.
b) Atenção e percepção.
c) Pensamento e fala.
d) Significado e atenção.
e) Pensamento e memória.

94/184
Questão 5
5. No processo de aprendizagem da leitura e da escrita, além da repetição
das palavras, é importante que o aluno:
a) Compreenda as palavras.
b) Grave as palavras.
c) Repita as palavras.
d) Copie as palavras.
e) Desenhe as palavras.

95/184
Gabarito
1. Resposta: A. pedagógica e quando necessário com o au-
xílio e outros profissionais.
A dislexia é um problema que afeta o reco-
nhecimento e a diferenciação de algumas 4. Resposta: C.
letras, dificultando o processo de leitura e
escrita. No processo de escrita e leitura as principais
funções são o pensamento e a fala.
2. Resposta: E.
5. Resposta: A.
Um dos problemas em relação ao diagnósti-
co da dislexia é que seus sintomas são tam- No processo de leitura e escrita, muito mais
bém presentes em pessoas em processo de importante do que a repetição das palavras,
alfabetização ou que foram mal alfabetiza- é que o aluno as compreendam, exigindo a
das. atuação do pensamento.

3. Resposta: E.

A dislexia é um problema possível de ser re-


solvido a partir de uma efetiva intervenção
96/184
Unidade 5
A discalculia e suas possibilidades de intervenção

Objetivos
• Caracterizar a discalculia.
• Realizar uma compreensão crítica sobre as definições e intervenções nos casos de discal-
culia.
• Apontar alguns caminhos para a intervenção.
• Discutir a importância do conhecimento numérico no desenvolvimento do psiquismo.

97/184
Introdução

A discalculia é um problema relacionado à 1. A discalculia e sua caracteri-


aprendizagem de conhecimentos que exi- zação
gem habilidades numéricas. Estudos apon-
tam (LONGAREZI; FRANCO, 2016; KRANZ; Atualmente, entre os problemas específi-
HEALY, 2013) que sua principal causa não cos de aprendizagem, a discalculia é a que
pode ser restrita a fatores neurológicos ape- possui menor índice de diagnóstico, sendo
nas, como defendem a maioria dos estudos pouco citada em comparação a outros pro-
sobre o tema, sendo importante levar em blemas de aprendizagem como a dislexia e
consideração todo o processo de escolari- o TDAH. Também, diferentemente da disle-
zação do sujeito. Portanto, ainda não há um xia e do TDAH, a discalculia não possui uma
consenso na literatura em relação às causas associação responsável por divulgar sua
da discalculia, no entanto pensar em estra- caracterização e seu critério diagnóstico.
tégias e formas de intervenção que visam No entanto, é descrita e caracterizada nos
superar este tipo de problema é de extre- dois manuais de classificação de doenças, o
ma importância e relevância (TOPCZEWSKI, CID-10 e o DSM-V, apresentando algumas
2000). variações em relação à sua terminologia e
definição.
No CID-10, a discalculia enquadra-se no
98/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
código F81.2 cuja nomenclatura refere-se a transtorno específico da habilidade em aritmética
(OMG, 1997). Segundo sua definição trata-se de um:

Transtorno que implica uma alteração específica da habilidade em arit-


mética, não atribuível exclusivamente a um retardo mental global ou à
escolarização inadequada. O déficit concerne no domínio de habilidades
computacionais básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão mais
do que as habilidades matemáticas abstratas envolvidas na álgebra, trigo-
nometria, geometria e cálculo. (OMG, 1997).

99/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção


Tal definição presente no CID-10 não engloba os casos de dificuldade em habilidades aritméticas
associados à acalculia e inadequação do ensino. Para a classificação presente no DSM-5, elabo-
rada pela Associação Americana de Psiquiátrica, a:

Discalculia é um termo alternativo usado em referência a um padrão de


dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informa-
ções numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos e realização de cálcu-
los precisos ou fluentes. (APA, 2014, p. 67).

A partir destas definições, nota-se que a discalculia é concebida como uma doença que ocasiona
um déficit em relação à capacidade da pessoa em aprender conhecimentos associados a diver-

100/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção


sas formas e modalidades numéricas. En- que muitas vezes eles são utilizados como
tretanto, estas definições não esclarecem única fonte de informação para o diagnósti-
sobre as causas deste tipo de dificuldade de co, desconsiderando todo o contexto social
aprendizagem. e educacional do aluno ou paciente. Por-
Em um estudo de revisão da literatura tanto, a utilização de testes pode ser uma
(KRANZ; HEALY, 2013), constatou-se que das estratégias de busca de informações,
a maioria dos estudos sobre discalculia a sendo necessário também conhecer o sujei-
compreende como um déficit relacionado to que está sendo avaliado, seu processo de
ao desenvolvimento da pessoa, associado a escolarização, seu contexto familiar, indivi-
uma disfunção neurológica, inata, relacio- dual, entre outros aspectos (KRANZ; HEALY,
nada ao funcionamento biológico. 2013).

A partir desta forma de compreender a dis-


calculia, na maioria das vezes seu diagnósti-
co é realizado pela aplicação de testes que
avaliam a capacidade da pessoa na resolu-
ção de cálculos, envolvendo diferente níveis
de dificuldade. Uma das limitações em re-
lação à utilização de testes padronizados, é
101/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
funcionamento “normal” das capacidades
Para saber mais cognitivas para que o aprendizado ocorra
(KRANZ; HEALY, 2013). Esta ideia susten-
Atualmente, há alguns testes validados que tra-
ta algumas correntes teóricas da educa-
zem como proposta avaliar o desempenho em
ção, como é o caso do construtivismo, que
habilidades envolvendo números, por exemplo,
tem como principal representante Piaget
o ZAREKI-R, bateria de testes neurológicos para
que defendia que primeiro é necessário um
processamento numérico e cálculo em crianças e
amadurecimento do sujeito para depois
o Discalculia Butterworth Screender.
ocorrer o aprendizado. Desta forma, para
esta concepção teórica, o desenvolvimento
Por trás desta forma de compreender os
ocorre antes da aprendizagem, o que sig-
problemas de aprendizagem e realizar seu
nifica que primeiro é necessário o desen-
diagnóstico, permeia uma concepção de
volvimento neurológico e psicológico para
educação que vem sendo utilizada há mui-
somente depois ser possível o processo de
to tempo para compreender os processos
aprendizagem (VYGOTSKY, 2003).
de ensino, que se refere à ideia de que a
aprendizagem é um processo que depende
unicamente da pessoa, em que há a neces-
sidade de um amadurecimento orgânico e
102/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
FRANCO, 2016).
Para saber mais Portanto, nessa forma de entender o desen-
Um dos principais representares do construtivis- volvimento humano, a discalculia não pode
mo é Jean William Fritz Piaget, biólogo e psicólogo se restringir apenas a uma disfunção neu-
que viveu entre 1896 e 1980, considerado um dos rológica e biológica, desconsiderando toda
maiores pensadores do século XX, sendo bastan- e qualquer influência social e educacional
te referenciado em estudos atuais do campo da que envolve este tipo de problema.
educação e da psicologia.
Outro fator importante associado à com-
preensão unicamente orgânica da discalcu-
Para contrapor esta ideia, Vygotsky (2003) lia é que uma vez que suas causas se asso-
defende que será pelo processo de apren- ciam às disfunções neurológicas, as pesso-
dizagem que ocorrerá o desenvolvimento as enquadradas neste tipo de diagnóstico
neurológico e a ampliação das funções psi- estão fadadas ao fracasso e à incapacidade
cológicas, compreendendo que o processo de aprendizagem em relação a diferentes
de aprendizagem é que impulsiona o desen- formas numéricas. Esta forma de compre-
volvimento. Neste sentido, a aprendizagem ensão pode ocasionar tanto o não investi-
antecede o processo de desenvolvimen- mento por parte da pessoa diagnosticada,
to psicológico e neurológico (LONGAREZI; que se vê como incapaz de aprender concei-
103/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
tos relacionados à abstração numérica, não
se motivando a apreendê-los, quanto por Para saber mais
parte de quem ensina (no caso o professor) A Psicologia Histórico-cultural tem como princi-
(LONGAREZI; FRANCO, 2016; KRANZ; HE- pal representante Lev Semenovitch Vygotsky, que
ALY, 2013). viveu entre 1896 a 1934 no contexto da União
Na perspectiva teórica da Psicologia His- Soviética e tornou-se um dos maiores pensadores
tórico-Cultural ou da Pedagogia Crítica, no campo da psicologia e da educação.
a mediação do social ganha destaque para
explicar os problemas de aprendizagem,
oferecendo uma visão esperançosa sobre o A Pedagogia Crítica tem como principal represen-
desenvolvimento humano, acreditando no tante Paulo Freire, que viveu entre 1921 e 1997,
importante papel da superação e da trans- era pedagogo e filósofo brasileiro, considerado
formação no processo de aprendizagem. um dos maiores pensadores do campo da educa-
ção.

Portanto, tão mais importante do que bus-


car compreender as causas individuais que
ocasionam a discalculia, é buscar formas
de compreender como ocorre o desenvol-
104/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
vimento das habilidades relacionadas ao ciência sobre si, o outro e a realidade.
cálculo e como proceder em relação ao seu
processo de ensino. Estas questões serão Para explicar como ocorre o processo de
abordadas no item a seguir. aprendizagem, Vygotsky (2003) utiliza o
conceito de Zona de Desenvolvimento Pro-
2. O processo de aprendizagem ximal (ZDP) que se refere à forma como o
e o desenvolvimento da habili-
dade de cálculo
Um dos princípios que sustentam a pers-
pectiva da Psicologia Histórico-Cultural
e da Pedagogia Crítica, é que a educação
promove o desenvolvimento humano. Nes-
ta compreensão, encontra-se em seu cerne
o importante papel do processo de escola-
rização na constituição do sujeito, no que se
refere à sua possibilidade de alcançar for-
mas mais abstratas de pensamento e cons-

105/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção


processo de aprendizagem deve ocorrer, aluno apreende determinado conhecimen-
sendo subsídio para explicar e conduzir as to, seu nível potencial torna-se real, criando
ações didáticas de ensino. outras possibilidades de desenvolvimen-
O processo de aprendizagem deve sempre to potencial. Você lembra da relação entre
partir do nível de desenvolvimento real do o conhecido e o desconhecido que abordei
aluno, que se refere àquilo que conhece so- no texto referente ao Tema 3 sobre disle-
bre determinado conceito. Com a ajuda de xia? Pois bem, o nível de desenvolvimento
um parceiro mais experiente, que na maio- real é aquilo que o sujeito conhece, e o nível
ria das vezes é representado pela figura de desenvolvimento potencial é aquilo que
do professor, é oferecido apoio e conheci- desconhece, mas que pela mediação con-
mento necessários para o aluno alcançar seguirá ter acesso, transformando o desco-
seu nível de desenvolvimento potencial, nhecido em conhecido – processo este que
que se refere àquilo que o aluno não pos- deve ocorrer por toda vida.
sui domínio, mas tem as possibilidades para O que este conceito de ZDP ajuda você a
acessá-lo. A aproximação entre o nível de compreender sobre a discalculia? Ou me-
desenvolvimento real e o potencial é o que lhor, sobre o desenvolvimento da aprendi-
caracteriza e legitima o processo de apren- zagem relacionado a cálculos? Primeiro é a
dizagem, sendo que no momento em que o importância de um adulto mais experiente
106/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
que ajude o aluno em seu processo de apren- do deste tipo de conhecimento.
dizagem, como o professor; o segundo é a Neste sentido, é necessário um trabalho
necessidade de que este profissional adote mais individualizado, que tenha como pon-
como ponto de partida o que o aluno co- to de partida o que o aluno conhece, e de
nhece, domina, sem importar-se tanto com modo gradativo promover a apropriação
o que este aluno deveria saber com base em de novos conhecimentos relacionados ao
sua série e faixa etária. A partir desta iden- cálculo. Também é importante um trabalho
tificação, o profissional trabalhará de modo no sentido de apoiar este aluno, fazendo-o
gradativo, processual, complexificando aos acreditar que é possível aprender, superan-
poucos as exigências e habilidades numé- do sua condição de incapaz que muitas ve-
ricas, respeitando sempre o ritmo de cada zes é naturalizada e cristalizada (LONGARE-
aluno. ZI; FRANCO, 2016).
Via de regra, o ensino de habilidades en- Frente a estas orientações, cabe questionar:
volvendo cálculo torna-se tão complexo, por que é tão importante buscar estraté-
distante das possibilidades reais do aluno, gias que favoreçam o desenvolvimento da
que ele não consegue se apropriar dos con- aprendizagem de habilidades envolvendo
ceitos ensinados, podendo estabelecer um cálculo? Muitas vezes ouvimos de alunos o
sentimento aversivo quanto ao aprendiza- seguinte comentário: “não vou fazer facul-
107/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
dade de matemática ou outro curso na área modo direto, como aprender a lidar com
de exatas, então não preciso saber mate- números para ir no supermercado ou ou-
mática”, “só preciso decorar como faz a re- tras atividades do dia a dia. Entretanto, nem
solução deste exercício para passar na pro- sempre o conhecimento pode ser aplicado à
va”. Em contrapartida, também ouvimos a realidade, característica da maior parte das
seguinte justificativa de professores: “mes- disciplinas da educação regular. A história,
mo não cursando a faculdade de matemá- como pode ser aplicada na realidade? E a
tica ou outras áreas relacionadas a exatas, física? Assim, dificilmente o conhecimento
você precisa saber matemática, como vai escolarizado será aplicável de modo direto
dar um troco no supermercado? Fazer con- na realidade, mas oferece subsídios para a
tas básicas?”. Estas falas me fazem pensar pessoa compreender a realidade e favorecer
em outra questão mais profunda: para que seu desenvolvimento psicológico.
serve o conhecimento escolarizado, em es- Como dito anteriormente, a aprendizagem
pecial a matemática? impulsiona o desenvolvimento, portanto,
Na maioria das vezes, compreende-se que o fundamento que sustenta o processo de
o conteúdo escolarizado tem a funcionali- aprendizagem de várias disciplinas diferen-
dade de ser aplicado somente nas ativida- tes é favorecer o desenvolvimento das fun-
des práticas, relacionando ao cotidiano de ções psicológicas superiores, como o pen-
108/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
samento, a consciência, a imaginação, en- volver determinada função psicológica, por
tre outras (VYGOTSKY, 2006). exemplo, a história desenvolve mais a me-
No que se refere à aprendizagem de ha- mória, a literatura mais a emoção, e assim
bilidades envolvendo cálculos, sua apro- por diante. Dizer que uma disciplina favore-
priação favorecerá o desenvolvimento do ce o desenvolvimento de determinada fun-
pensamento lógico, função psicológica ção não exclui de modo algum o fato de que
bastante utilizada e exigida nos problemas as outras funções que compõem o sistema
envolvendo cálculo. Este desenvolvimento psicológico também não estejam sendo
surtirá efeito nas mais diversas atividades desenvolvidas. Segundo Vygotsky (2006),
futuras do sujeito, não necessariamente as funções psicológicas superiores atuam
apenas naquelas que envolvam números, como um sistema em que uma influência
mas em todas as que exigem a atuação do depende das demais, constituindo o desen-
pensamento lógico, por exemplo: visuali- volvimento do sistema psicológico.
zar um objeto tridimensionalmente, realizar Também, é importante dizer em relação à
probabilidades rápidas que determinarão aprendizagem que cada pessoa se apropria
alguma escolha etc. dos conceitos de uma determinada forma
Portanto, cada disciplina do sistema regu- e nível, apresentando, às vezes, maior difi-
lar de ensino será responsável por desen- culdade em determinada disciplina (SCOZ,
109/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
1994). Entretanto, esta diversidade não
deve ser compreendida como um problema,
mas como um processo normal e necessário
que caracteriza nossa sociedade pela diver-
sidade. O importante é que o conhecimento
seja disponibilizado para qualquer pessoa,
independentemente de sua condição so-
cial, cognitiva ou emocional, partindo sem-
pre da ideia de que é necessário pensar em
estratégias diferenciadas que promovam o
aprendizado do aluno, caminho este nada
fácil, mas que corresponde aos pressupos-
tos da educação inclusiva de que toda pes-
soa tem direito a acessar o conhecimento
historicamente produzido.

110/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção


Glossário
Acalculia: incapacidade geral em relação a habilidades de cálculo após uma lesão no córtex ce-
rebral.
Naturalização: processo de conceber algo como natural, que segue suas próprias leis, indepen-
dentemente da interferência do meio externo.
Cristalização: forma de conceber algo como estático, não mutável.

111/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção


?
Questão
para
reflexão

Você, profissional, quais propostas de intervenção promoveria


para incentivar o aprendizado de alunos com problemas em
cálculo?

112/184
Considerações Finais

• Necessidade de questionar as teorias hegemônicas que defendem a discal-


culia como uma doença associada ao desenvolvimento neurológico somen-
te.
• Necessidade de compreender a discalculia para além de seu diagnóstico, a
fim de buscar estratégicas de aprendizagem, em especial no que se refere à
habilidade de cálculo.
• No processo de aprendizagem, é importante partir sempre das possibilida-
des reais de desenvolvimento do aluno.
• O conhecimento envolvendo cálculos é importante para o desenvolvimento
do pensamento lógico.
• As disciplinas escolares, de modo geral, favorecem o desenvolvimento do
sistema psicológico.

113/184
Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de trans-


tornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
KRANZ, C. R.; HEALY, L. Pesquisas sobre discalculia no Brasil: uma reflexão a partir da perspectiva
histórico-cultural. Revista de Matemática, Ensino e Cultura (UFRN), v. 8, p. 58-81, 2013.
LONGAREZI, A. M.; FRANCO, P. L. J. A formação-desenvolvimento do pensamento teórico na pers-
pectiva histórico-cultural da atividade no ensino de matemática. Educativa, v. 19, n. 2, p. 449-
473, 2016.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMG). CID-10 Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997.
vol.1.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 1994.
TOPCZEWSKI, A. Aprendizado e suas dificuldades: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo,
2000.
VYGOTSKY, L. V. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.
VYGOTSKY, L. S. Desarrollo de las funciones psíquica superiores en la edad de transición. In: Obras
escogidas IV - Psicologia Infamtil. 2. ed. Madrid: Visor y A. Machado Livros, p. 117-203, 2006.
114/184 Unidade 5 • A discalculia e suas possibilidades de intervenção
Questão 1
1. Segundo a definição do DSM-V (APA, 2014), a discalculia refere-se a um
problema:
a) No processamento de informações numéricas.
b) Na dificuldade de concentração.
c) No transtorno de personalidade.
d) No transtorno opositivo defensivo.
e) Na codificação de algumas palavras.

115/184
Questão 2
2. Para Vygotsky (2006), o desenvolvimento é:

a) Posterior ao processo de aprendizagem.


b) Anterior ao processo de aprendizagem.
c) Interligado ao funcionamento neurológico.
d) Relacionado ao desenvolvimento biológico.
e) Relacionado ao desenvolvimento social.

116/184
Questão 3
3. No processo de aprendizagem, é necessário que o ensino adote como
ponto de partida:
a) O nível de desenvolvimento ideal do aluno.
b) O desenvolvimento social do aluno.
c) O desenvolvimento econômico do aluno.
d) O desenvolvimento afetivo do aluno.
e) O nível de desenvolvimento real do aluno.

117/184
Questão 4
4. O que significa zona de desenvolvimento proximal?

a) Condição neurofisiológica.
b) Desempenho escolar.
c) Processo de aprendizagem do aluno.
d) Condição social.
e) Desenvolvimento potencial.

118/184
Questão 5
5. A aprendizagem de habilidades envolvendo cálculo favorece principal-
mente:
a) O desenvolvimento do pensamento lógico.
b) As habilidades de leitura e escrita.
c) O desenvolvimento real do aluno.
d) O desenvolvimento afetivo.
e) O desenvolvimento da memória.

119/184
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: C.
Segundo a definição do DSM-V (APA, 2014), Zona de desenvolvimento proximal refere-
a discalculia trata-se de um problema em -se ao processo de aprendizagem do aluno.
relação ao processamento de informações
numéricas. 5. Resposta: A.

2. Resposta: A. A aprendizagem de habilidades envolvendo


cálculo favorece principalmente o desen-
Segundo Vygotsky (2006), o desenvolvi- volvimento do pensamento lógico.
mento ocorre posteriormente ao processo
de aprendizagem.

3. Resposta: E.
No processo de aprendizagem, é muito im-
portante que o ponto de partida do professor
seja sempre o desenvolvimento real do alu-
no.
120/184
Unidade 6
A disortografia e suas possibilidades de intervenção

Objetivos

• Caracterizar a disortografia.
• Apresentar as principais causas da disortografia.
• Destacar a importância do contato com a leitura e a escrita para superar os problemas de
escrita.
• Apontar alguns caminhos para promover o desenvolvimento da escrita.

121/184
Introdução

Cada vez mais é crescente o número de pes- 1. A disortografia e sua caracte-


soas com dificuldades na escrita, sendo um rização
dos principais obstáculos em relação a um
efetivo desempenho escolar. Para tanto, é A disortogrofia é compreendida como mais
importante compreender as várias causas um tipo de transtorno de aprendizagem es-
desse tipo de problema, bem como realizar pecífico que afeta, em especial, o desenvol-
uma análise cuidadosa das condições es- vimento da escrita, sobretudo no que se re-
colares e familiares no que se refere ao es- fere a erros ortográficos e gramaticais (FER-
tímulo à leitura e à escrita. Entretanto, em NANDEZ et al, 2010).
alguns momentos essa dificuldade com a
Segundo definição apresentada pelo DSM-
escrita é associada a uma doença, um pro-
5 (APA, 2014), a disortografia enquadra-se
blema, utilizando-se do diagnóstico da di-
no transtorno específico da aprendizagem,
sortografica para justificar tal dificuldade
em que há um prejuízo na expressão escri-
(FERNANDEZ, et al, 2010; TULESKI; CHAVES;
ta, no que se refere à precisão na ortografia,
BARROS, 2012).
gramática, pontuação e clareza na organi-
zação da escrita.
A disortografia afeta somente a escrita,
sendo que a leitura é desenvolvida normal-
122/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil
mente. Nos casos em que a dificuldade de mesmo com o processo de ensino conside-
escrita associa-se à dificuldade e a erros na rado “adequado” o aluno não consegue su-
leitura, enquadra-se no diagnóstico da dis- perar seus erros e dificuldades (FERNANDEZ
lexia. Os casos de disortografia são bastan- et al, 2010). E aí cabem questões como: o
te raros, visto que a maior parte das crianças que seria um ensino adequado? Aquele em
que possui dificuldades na escrita também que o professor ensina e o aluno apropria-
têm dificuldades com a leitura (FERNANDEZ -se por completo do que lhe foi dito? Será
et al, 2010). que uma mesma forma de ensino serve para
Segundo Fernandez et al (2010), os sintomas qualquer aluno?
característicos da disortografia são comuns Via de regra, o que parece sustentar a con-
e fazem parte do processo da aprendizagem cepção de ensino-aprendizagem presente
da escrita, mas devem ser superados ao lon- nos chamados problemas e distúrbios de
go do processo de escolarização, o que nem aprendizagem é a ideia de que se ensina ao
sempre acontece por vários motivos. aluno e este deve aprender, caso contrário
Entretanto, assim como os demais proble- pode ser um sinal de algum problema, do-
mas específicos de aprendizagem, a disor- ença ou transtorno. Que bom seria se nos
tografia só pode ser considerada como hi- apropriássemos de uma única vez tudo
pótese diagnóstica nas situações em que aquilo que nos foi dito, ensinado ou apre-
123/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil
sentado, não é mesmo? Entretanto, o pro- crita, a qual é afetada nos casos de disorto-
cesso de aprendizagem é muito mais com- grafia, trata-se de uma habilidade extrema-
plexo. mente complexa, que exige a apropriação
Na relação ensino-aprendizagem, há um de muitas regras, conceitos e abstrações do
aluno que fará a mediação deste processo, pensamento. Este tema será aprofundado a
constituído por afetos, emoções e diferen- seguir:
tes formas de pensamento, que com sua his-
tória e bagagem de conhecimento atribuirá 2. O desenvolvimento da escrita
seus próprios sentidos e significados ao que e possibilidades de intervenção
lhe é ensinado. Portanto, o que determina o
A escrita, entendida como construção hu-
ensino não é exatamente o que é ensinado,
mana, surgiu pela necessidade do homem
mas sim os sentidos e significados que o su-
em comunicar fatos e acontecimentos que
jeito atribui a este processo. Também, nos-
não são possíveis de serem transmitidos
sas funções psicológicas são extremamente
apenas pela fala oral. É pela escrita que te-
seletivas e apreendem informações especí-
mos acesso ao que aconteceu no passado,
ficas sobre o que está sendo dito, observado
no presente e inclusive a algumas especula-
e sentido (VYGOTSKY, 2006).
ções e hipóteses para o futuro. Entretanto, a
No que se refere ao desenvolvimento da es-
124/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil
escrita não se restringe somente a sua fun- possui duas grandes funções: comunica-
ção social no que se refere à comunicação, ção social e o desenvolvimento das funções
ela também promove o desenvolvimento, psicológicas (TULESKI; CHAVES; BARROS,
uma vez que amplia e constitui muitas das 2012; LURIA, 1988).
nossas funções psicológicas como, o pen- Conforme abordado brevemente no texto
samento, a memória, a imaginação, entre referente ao tema da dislexia, a habilidade
outras (TULESKI; CHAVES; BARROS, 2012). de escrita é desenvolvida bem antes do mo-
É pela escrita que nos apropriámos do co- mento em que a criança começa a escrever
nhecimento historicamente produzido, bem propriamente dito. Neste sentido, segundo
como produzimos novos conhecimentos, Luria (1988), a criança ao ingressar na esco-
constituindo assim as mais diversas formas la já tem desenvolvido habilidades e destre-
de pensamento. A memória, pelo auxílio da zas que favorecem o aprendizado da escrita.
escrita, consegue armazenar informações, Em um primeiro momento, a escrita é re-
ou seja, a escrita é utilizada como recurso produção, em que a criança reproduz mo-
mnemônico. A imaginação, em que no pro- vimentos e rabiscos com a intencionalidade
cesso de escrita articula muitas situações e de imitar o processo da escrita, sem atribuir
eventos, cria outras formas de viver e com- nenhum significado. Em um estágio mais
preender a realidade. Portanto, a escrita desenvolvido, a criança já passa a significar
125/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil
seus rabiscos, utilizando-os para expres- para depois relatar o que havia sido dito. As
sar algo ou como recurso mnemônico. Lu- crianças foram instruídas a utilizar registros
ria (1988) chamou este momento de escri- escritos que as ajudassem a memorizar as
ta pictográfica, em que a criança começa a palavras e frases. Estes riscos e desenhos
aprender a se relacionar com o mundo por tornaram-se cada vez mais complexos con-
meio de signos, que são representações que forme a idade da criança e a frequência dos
visam expressar determinado pensamento, exercícios realizados.
ideia ou situação. Neste momento, ainda
não tem desenvolvido a escrita alfabética,
que é aquela desenvolvida no processo de
Para saber mais
escolarização. Alexander Luria, que viveu entre 1902-1977, foi
um famoso psicólogo soviético que trabalhou
Para demonstrar a escrita pictográfica, Lu-
junto com Vygotsky, sendo um dos criadores da
ria (1988) realizou diversos experimentos,
Teoria Histórico-Cultural.
a fim de identificar e demonstrar a gênese
do processo de escrita. Para isto, realizou
O próximo nível de escrita é a alfabética,
sessões, com crianças de quatro a seis anos
em que a criança em idade escolar passa a
de idade, em que falava algumas palavras
aprender a escrever suas primeiras palavras
ou frases e a criança tinha que memorizar
126/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil
e frases. Entretanto, isto não é um processo Isto significa que a criança ou inclusive o
que acontece de um dia para o outro, tra- adulto, mesmo tendo o domínio da escri-
ta-se de um processo longo, complexo, em ta, poderá utilizar a escrita pictográfica ou
que haverá muitos momentos de avanços e a imitação da escrita de algumas palavras
retrocessos. Sobre isto, Luria (1988, p. 180) sem saber seu significado. Você já teve a
afirma que “a escrita não se desenvolve, de experiência de estar em outro país que não
forma alguma, em uma linha reta, com um possuía fluência na língua? Se não, imagine
crescimento e um aperfeiçoamento contí- você nessa situação, precisando obter in-
nuo. formações sobre determinada localidade.
Na impossibilidade de comunicação oral,
Para saber mais você provavelmente recorrerá à escrita, uti-
lizando de desenhos ou algum texto que co-
Além da escrita alfabética, que se pauta pela uti-
piou de algum lugar.
lização de letras, também há a escrita tátil, como
é o caso do Braille, desenvolvida para as pessoas
com deficiência visual.

127/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil


mediação de um adulto mais experiente
Para saber mais pela correção) e também da leitura. Quanto
mais contato o aluno tiver com a produção
A escrita pictográfica teve um papel muito impor-
escrita e a leitura, menores serão seus er-
tante na história da escrita, sendo origem de to-
ros ortográficos (SCOZ, 1994; TOPCZEWSKI,
das as formas de escrita, ainda bastante utilizada
2000).
por pessoas que não possuem o seu domínio, na
sinalização de trânsito e em locais públicos. Portanto, é muito importante pensar em
práticas que favoreçam o contato com a
Até mesmo no processo da escrita alfabética escrita e leitura em atividades, por exemplo:
da língua a qual possui domínio, muitos er- • Investir na leitura de livros com temas
ros ortográficos ocorrerão, visto a comple- de interesse do aluno.
xidade da constituição das nossas palavras.
Muitas vezes, será comum a troca de letras • Promover atividades diferenciadas de
que possuem uma fonética muito parecida contação de histórias.
entre si e erros gramaticais ocorrerão. Estas • Estimular a escrita de várias maneiras,
dificuldades serão superadas com a imer- como a utilização de um diário.
são da cultura escrita, seja pela prática da • Permitir que o aluno escreva sobre te-
escrita, reescrita rotineira (que ocorre pela
128/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil
mas que sejam de seu interesse.
• Pedir para que o aluno leia em voz alta o que escreveu, oferecendo um espaço de reflexão e
diálogo sobre o conteúdo escrito.
• Nos casos em que ainda não há o domínio da escrita alfabética, estimular a expressão pelo
desenho e outras formas de registro.

Para saber mais


Atualmente há vários livros e contos clássicos em domínio público que podem ser
acessados e utilizados em suas intervenções, por exemplo, os textos de Machado de
Assis, disponível no Ministério da Educação.

129/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil


Assim, a partir dessas considerações sobre o desenvolvimento da escrita, é possível afirmar que
sua aquisição não ocorre apenas a partir do treino repetitivo e da reprodução das palavras, ou até
mesmo de um amadurecimento cognitivo do sujeito, mas envolve o domínio de uma habilidade
cultural extremamente complexa, que exige uma imersão processual do aluno no mundo letrado
e o aprendizado de que a escrita permite muitas formas de expressão, sendo um caminho bas-
tante frutífero para a constituição do aluno como protagonista de sua história.

130/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil


Glossário
Mnemônico: recurso de auxílio à memória.
Signo: recurso utilizado para ocupar o lugar do objetivo, sendo a palavra um dos mais impor-
tantes tipos de signo.
Gênese: relaciona a origem de determinado fenômeno.

131/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil


?
Questão
para
reflexão
No final do texto, citamos algumas ações que podem
ser realizadas para intensificar o contato do aluno com
o processo de escrita e leitura. E você, quais outras ati-
vidades proporia?

132/184
Considerações Finais

• A disortografia trata-se de um problema associado à dificuldade na escrita.


• Nos casos de disortografia não há nenhum comprometimento na capacidade de leitura.
• Quando a dificuldade de escrita é associada também a uma dificuldade de leitura, enquadra-
-se no diagnóstico da dislexia.
• Necessidade de pensar em práticas que favoreçam um maior contato com a leitura e a escrita.

133/184
Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de trans-


tornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
FERNANDEZ, A. Y.; et al. Avaliação e intervenção da disortografia baseada na semiologia dos er-
ros: revisão da literatura. Rev. CEFAC, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 499-504, 2010.
GOTIJO, C. M. M.; LEITE, S. A. S. A escrita como recurso mnemônico na fase inicial de alfabetiza-
ção escolar: uma análise histórico-cultural. Educação & Sociedade, 78, 2002.
LURIA, A. R. O desenvolvimento da escrita. In: VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Lin-
guagem, desenvolvimento e aprendizagem. 9. ed. São Paulo: Ícone, p. 143-190, 1988.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMG). CID-10 Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997.
vol.1.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 1994.
TOPCZEWSKI, A. Aprendizado e suas dificuldades: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo,
2000.

134/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil


Referências

TULESKI, S. C.;et al.. Aquisição da linguagem escrita e intervenções pedagógicas: uma aborda-
gem histórico-cultural. Fractal: revista de psicologia, v. 24, n. 1, p. 27-44, 2012.
VYGOTSKY, L. S. Desarrollo de las funciones psíquica superiores en la edad de transición. In: Obras
escogidas IV - Psicologia Infantil. 2. ed. Madrid: Visor y A. Machado Livros, p. 117-203, 2006.

135/184 Unidade 6 • Proibição do Trabalho Infantil


Questão 1
1. A disortografia é um problema que afeta:

a) A escrita.
b) A leitura.
c) A escrita e a leitura.
d) O desenvolvimento motor.
e) As funções psicológicas.

136/184
Questão 2
2. Em relação ao desenvolvimento da escrita, quais seriam suas principais
funções?
a) O desenvolvimento psicológico e afetivo.
b) A Comunicação social e desenvolvimento interpessoal.
c) A comunicação social e o desenvolvimento das funções psicológicas.
d) O desenvolvimento socioafetivo e comunicação.
e) O desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

137/184
Questão 3
3. Em relação ao processo de apropriação da escrita, é possível afirmar
que seu início ocorre:
a) No processo escolar.
b) Aproximadamente com sete anos de idade.
c) Quando criança aprende as letras.
d) Começa bem antes da escrita alfabética.
e) Antes do desenvolvimento da fala oral.

138/184
Questão 4
4. Quais são os principais recursos de escrita da criança antes da escrita
alfabética:
a) Rabiscos e desenhos.
b) Palavras.
c) Gestos.
d) Fala.
e) Expressões corporais.

139/184
Questão 5
5. Para promover o desenvolvimento da escrita, é importante investir em
práticas que:

a) Focalizem o desenvolvimento motor.


b) Focalizem a repetição das palavras.
c) Focalizem a cópia das palavras.
d) Favoreçam a leitura e a escrita.
e) Favoreçam o amadurecimento neurológico.

140/184
Gabarito
1. Resposta: A. 4. Resposta: A.
A disortografia é um problema que afeta Os principais recursos utilizados pela crian-
especificamente a escrita. ça antes da escrita alfabética são os rabis-
cos e o desenho.
2. Resposta: C.
5. Resposta: D.
A escrita tem como principal função favo-
recer a comunicação social e o desenvolvi- Para favorecer o desenvolvimento da escri-
mento das funções psicológicas superiores, ta, é importante o contato com as diversas
como o pensamento, a memória etc. formas de leitura e escrita.

3. Resposta: D.
No processo de desenvolvimento da escrita,
seu início é anterior ao aprendizado da es-
crita alfabética propriamente dito, uma vez
que a criança se utiliza de outros recursos
de comunicação escrita.

141/184
Unidade 7
A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção

Objetivos

• Discorrer sobre o papel da psicomotricidade.


• Analisar a dimensão motora nos processos de aprendizagem.
• Discutir o papel da psicomotricidade frente aos problemas e distúrbios da aprendizagem.
• Refletir sobre o papel do corpo no atual contexto educacional.

142/184
Introdução

Até o momento, discutimos sobre os trans- do diagnóstico, é pensar em práticas que


tornos e distúrbios da aprendizagem em favoreçam o aprendizado do sujeito inde-
que há um comprometimento em relação pendentemente de sua condição física, so-
ao processo de aprendizagem, associado, cial ou cognitiva. A partir deste momento,
na maioria dos casos, a doenças genéti- abordaremos alguns aspectos importantes
cas, transtornos globais do desenvolvimen- que vêm ganhando destaque no proces-
to etc. Também discorremos sobre os pro- so de superação dos problemas escolares
blemas específicos de aprendizagem, nos e oferecendo caminhos para o processo de
quais não há um comprometimento cog- inclusão escolar, como a questão da psico-
nitivo, mas sim uma dificuldade específica motricidade.
na apropriação de determinada forma de
conhecimento. Independentemente do tipo 2. A psicomotricidade no con-
de problema e distúrbio da aprendizagem, texto escolar
hoje todas as pessoas com algum tipo de
dificuldade possuem o direto de frequen- A psicomotricidade é uma área do conheci-
tar o ensino regular, favorecendo-se com o mento que vem ocupando crescente espaço
processo de aprendizagem. Neste sentido, no contexto escolar. Segundo a Associação
tão mais importante do que a realização Brasileira de Psicomotricidade (ABP, 2017):

143/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção


No desenvolvimento da psicomotricidade
Psicomotricidade é a ciência que tem como área de conhecimento, muitas teorias
como objeto de estudo o homem atra- e concepções a influenciaram, em especial
vés do seu corpo em movimento e em aquelas que se debruçaram na tarefa de
relação ao seu mundo interno e exter- compreender o papel do corpo no desen-
no. Está relacionada ao processo de volvimento do psiquismo.
maturação, onde o corpo é a origem
A discussão sobre o papel do corpo partiu
das aquisições cognitivas, afetivas e or-
em especial pelo questionamento dos pos-
gânicas. É sustentada por três conheci-
tulados de René Descartes, autor da famosa
mentos básicos: o movimento, o inte-
frase “penso, logo existo”. Segundo Descar-
lecto e o afeto.
tes (1979), a única forma de acessar o co-
nhecimento seria pela razão, apresentando
uma concepção que cinde corpo e mente.

144/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção


Para saber mais Para saber mais
René Descartes viveu entre 1596 a 1650 e foi um Espinosa viveu entre 1632 a 1677, nasceu em
grande filósofo e matemático francês. Amsterdã e é considerado um dos maiores nomes
da Filosofia Moderna.
Alguns autores contemporâneos a Descar-
tes, como Espinosa (2009), questionam a Henri Wallon é um dos autores que inspirou
cisão apresentada entre corpo e mente, jus- os postulados da psicomotricidade. Para
tificando que no processo de apreensão de este autor, organismo e meio não se sepa-
determinado conhecimento, não é apenas ram, o que significa que o homem é pro-
a dimensão do pensamento que é deman- duto e produtor de seu contexto. A pessoa
dada, mas sim o sujeito por inteiro, formado é compreendida a partir de uma perspecti-
por aspectos cognitivos, afetivos e motores. va monista, pela integração dos conjuntos
funcionais – motor, afetivo e cognitivo. Tais
conjuntos precisam ser compreendidos de
um modo imbricado, sendo que a afetação
de um deles interfere nos demais. Apesar
da inseparabilidade dos conjuntos funcio-
145/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
nais, para Wallon há um predomínio de de- O conjunto motor envolve o movimento do
terminado conjunto funcional nas fases de corpo no tempo e no espaço, movimentos
desenvolvimento (MAHONEY; ALMEIDA, voluntários, reações posturais e expres-
2005). sões faciais diante de diferentes situações.
É pelo corpo que a criança conhece o mun-
do, explora os objetos, aprende as relações
Para saber mais de causa-efeito, entre outros aspectos. O
Henri Wallon viveu entre 1879 a 1962, foi filósofo, corpo, neste sentido, seria a primeira via de
médico, psicólogo e político francês. aprendizagem da criança, presente muito
antes do desenvolvimento da fala (MAHO-
NEY; ALMEIDA, 2005).
O conjunto cognitivo é responsável pela
apreensão e transformação de informações
e conhecimentos, permitindo lembrar e ela-
borar o passado, focalizar-se no presente e
projetar-se para o futuro (MAHONEY; AL-
MEIDA, 2005).
O conjunto afetivo envolve as emoções, os
146/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
sentimentos e as paixões. As emoções se- prevalência do motor e afetivo.
riam a expressão corporal da afetividade, • Sensório-motor e projetivo (1-3
por exemplo, o choro. Os sentimentos cor- anos): prevalência da cognição.
respondem à elaboração da emoção, não
envolvendo uma manifestação direta como • Personalismo (3-6 anos): prevalência
a emoção. A paixão seria o controle da emo- do afetivo.
ção pelo intelecto (MAHONEY; ALMEIDA, • Categorial (6-11 anos): prevalência
2005). da cognição.
A pessoa seria a integração destes conjun- • Puberdade e adolescência (11 anos
tos funcionais. Em cada pessoa os conjun- em diante): prevalência do afetivo.
tos funcionais são estruturados de uma de-
• Adulto: equilíbrio entre os conjuntos
terminada forma, bem como a prevalência
funcionais.
de determinado conjunto funcional, o que
constituirá a individualização das pessoas Além de Wallon, outros teóricos também
(MAHONEY; ALMEIDA, 2005). foram importantes para o desenvolvimento
da psicomotricidade, como as ideias de Le
Os estágios propostos por Wallon são: Boulch. A partir de seus estudos a psicomo-
• Impulsivo-emocional (0-1 anos): tricidade passou a ser aplicada no contexto

147/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção


educacional, principalmente como funda- determinando o uso de maior força,
mento da educação física, como forma de agilidade e precisão pelo membro de-
trabalhar a dimensão do corpo na relação terminado.
com a aprendizagem, especialmente de • Coordenação oculomanual: tem
alunos que possuíam alguma dificuldade ou como finalidade o domínio do campo
distúrbio de aprendizagem. visual, associado à motricidade fina
Segundo Le Boulch (1992), o processo edu- das mãos – elementos básicos para o
cativo que envolve a dimensão do corpo fa- grafismo.
vorece o desenvolvimento de conhecimen- • Estruturação espaçotemporal: loca-
tos e habilidades importantes como: lizar os objetos em relação a si mes-
• Desenvolvimento do esquema cor- ma e depois entre eles. Compreensão
poral: reconhecimento do próprio e noção de tempo – “antes”, “depois”,
corpo, bem como sua capacidade e “agora”, “lento”, “rápido” etc.
atuar sobre ele. • Conceitos espaciais: direita, esquer-
• Lateralidade: identifica não somente da, atrás, na frente, entre, perto, lon-
a preferência manual, mas a organiza- ge, maior, menor etc.
ção do conceito de esquerda e direita,
148/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
• Motricidade fina das mãos e dos de- tricidade e que também inserem uma nova
dos: gesto requerido para a escrita. dimensão para trabalhar com os problemas
Além destas habilidades, há também o inte- e distúrbios de aprendizagem envolvendo o
resse dos alunos pelas atividades envolven- coletivo. Geralmente, os trabalhos com difi-
do a dimensão do corpo, não sendo possível culdades e distúrbios da aprendizagem são
ficar “indiferente” ao processo de aprendi- realizados individualmente, em consultório
zagem. Portanto, a psicomotricidade deve ou na própria escola em atividade de refor-
estar presente nas práticas escolares de ço escolar, dificultando o processo de in-
muitas formas, não se restringindo às aulas clusão destes alunos. Com as atividades de
de educação física. Deste modo, outras dis- psicomotricidade, além dos alunos apende-
ciplinas e práticas que envolvam a dimen- rem muitos conceitos, também aprendem a
são do corpo podem estar presentes em ati- lidar com o outro, com suas próprias limita-
vidade como: jogos ou dinâmicas; estudos ções e potencialidades.
observacionais e de exploração; e utilização
de expressões artísticas (teatro, dança, por
exemplo).
Portanto, muitas são as possibilidades de
intervenção para o trabalho com a psicomo-
149/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
Entretanto, ainda é necessário superar al- caracterizado? Qual a dimensão mais va-
gumas barreiras, desmistificando concep- lorizada no processo de ensino-aprendiza-
ções sobre a dimensão do corpo na educa- gem? No processo de ensino o aluno é con-
ção, tema este que será abordado a seguir. siderado em suas multideterminações? Es-
tas são questões que visam problematizar
o modo como os processos de ensino vêm
2. Os desafios da psicomotrici-
sendo caracterizados no contexto escolar.
dade no contexto escolar
Comumente o foco do processo de ensino-
De que modo as práticas escolares têm se -aprendizagem está na busca pelo desen-
volvimento cognitivo, racional do sujeito.
Há a concepção de que a escola (principal-
mente a partir da idade escolar) não é lugar
para a expressão das emoções e que o cor-
po precisa estar sobre “controle”, deixando
apenas o cognitivo em foco. Expressões do
tipo: ”não pode chorar”, “não pode correr”,
“precisa ficar quieto para aprender” são re-
correntes nas práticas pedagógicas, trans-
150/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
parecendo a ideia de que as emoções e o ficiar do processo de aprendizagem?
motor precisam ser colocados em suspen- Os estudos com a psicomotricidade come-
se para o aprendizado ocorrer. Na maioria çam pelo estudo da pessoa com deficiência
das vezes, o afetivo e a dimensão do corpo física e na literatura científica muitas pro-
são concebidos como algo que atrapalha o duções podem ser acessadas. Apesar dos
processo de aprendizagem e que, portanto, estudos demonstrarem que considerar a
precisam ser contidos. dimensão do corpo traz inúmeras possibi-
Neste sentido, a psicomotricidade vem lidades para o processo de aprendizagem,
questionar em especial a exclusão do cor- nos casos em que há alguma limitação fí-
po nos processos de ensino-aprendizagem, sica grave o desenvolvimento cognitivo
destacando a necessidade de compreender nem sempre é afetado. Um exemplo disto
o aluno como um todo (PEREIRA; CALSA, é a história de Stephen Willian Hawking,
2014). que possui uma doença degenerativa gra-
Entretanto, ao discorrer sobre a importân- ve a qual limita seu aspecto motor, mas que
cia de considerar a dimensão do corpo, você se tornou um dos grandes físicos de nossa
pode questionar-se: e no caso daqueles história. Sua história de vida retrata que a
alunos que possuem alguma limitação ou limitação motora não é um impedimen-
dificuldade motora, como poderão se bene- to para o funcionamento da cognição e na
151/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
maioria dos casos quando há uma limitação e distúrbios da aprendizagem dentro de
muito séria em determinado conjunto fun- muitas possibilidades (TOPCZEWSKI, 2000;
cional (neste caso no aspecto motor) os de- SCOZ, 1994).
mais conjuntos funcionais se estruturam de
modo a equilibrar o psiquismo. No caso de
Stephen Hawking, a cognição e as emoções
ganharam destaque e o constituiram com
os dos maiores gênios da história.

Portanto, a psicomotricidade é apenas uma


das estratégias para lidar com os problemas
152/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
Glossário
Coletivo: refere-se à interdependência entre os seres humanos.
Desmistificar: desconstruir o aspecto místico ou misterioso de determinado conhecimento.
Doença degenerativa: doença que gradualmente compromete o funcionamento de uma célu-
la, tecido ou órgão.

153/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção


?
Questão
para
reflexão

Quais seriam as atividades que você proporia em uma


atividade envolve o grupo, utilizando seus conhecimen-
tos sobre psicomotricidade?

154/184
Considerações Finais

• A psicomotricidade é uma forma de trabalho que favorece tanto os alunos com pro-
blemas ou distúrbios de aprendizagem quanto os sem nenhuma dificuldade em seu
processo de escolarização.
• Necessidade de considerar o aluno por inteiro, considerando sua dimensão cogniti-
va, afetiva e corporal no processo de aprendizagem.
• Necessidade de as escolas criarem mais oportunidades de expressão corporal.
• Importância de ressignificar o papel do corpo nos processos de aprendizagem.
• A psicomotricidade como forma de trabalho coletivo.

155/184
Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE (ABP). O que é psicomotricidade?. Disponí-


vel em: <http://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/>. Acesso em: 2 Mai.
2017.
DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 35.
ESPINOSA, Benedictus de. Ética. Tradução de Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2009.
LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1992.
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de
Henri Wallon. Psicologia da educação, São Paulo, 20, p. 11-30, 2005.
PEREIRA, L, A., CALSA, G. C. A importância da psicomotricidade e do processo de tomada de
consciência para prevenção de dificuldade de aprendizagem na educação infantil. Revista Ele-
trônica de Psicologia e Epistemologia Genética, 6, 2, p. 93-114, 2014.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópo-
lis, RJ: Vozes, 1994.
TOPCZEWSKI, A. Aprendizado e suas dificuldades: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo,
2000.
156/184 Unidade 7 • A psicomotricidade e suas possibilidades de intervenção
Questão 1
1.A psicomotricidade significa a ciência que estuda:

a) O organismo humano.
b) O psicológico.
c) O desenvolvimento neurológico.
d) As relações afetivas.
e) O corpo em movimento.

157/184
Questão 2
2. A psicomotricidade sustenta-se em três princípios básicos que consti-
tuem o sujeito:
a) Motor, intelecto e afeto.
b) Emoção, razão e paixão.
c) Cognição, aprendizagem e desenvolvimento.
d) Movimento, emoção e corpo.
e) Relações interpessoais, cognição e aprendizagem.

158/184
Questão 3
3. Para Wallon (MAHONEY e ALMEIDA, 2005), quais são os conjuntos fun-
cionais que integram a pessoa?
a) Intelecto, pensamento e afeto.
b) Afetivo, intelecto e paixão.
c) Motor, afetivo e cognição.
d) Motor e afetivo.
e) Intelecto e paixão

159/184
Questão 4
4. Qual é um dos principais desafios da psicomotricidade?

a) Pensar em práticas que favorecem a contenção do corpo.


b) Descrever o perfil psicológico de cada sujeito.
c) Oferecer caminhos para superar as dificuldades escolares.
d) Refletir sobre o processo de aprendizagem.
e) Ressignificar a dimensão do corpo nos processos de aprendizagem.

160/184
Questão 5
5. A psicomotricidade faz uma crítica quanto aos processos de aprendiza-
gem, com a justifica de que:
a) A escola focaliza somente o desenvolvimento cognitivo.
b) A escola não favorece a socialização.
c) A escola não favorece o aprendizado escolar.
d) A escola focaliza somente o afetivo.
e) A escola focaliza somente o aspecto neurológico.

161/184
Gabarito
1. Resposta: E. 4. Resposta: E.

A psicomotricidade é a ciência que estudo Um dos principais desafios da psicomotri-


o corpo em movimento e sua relação com o cidade é ressignificar a dimensão do corpo
desenvolvimento do psiquismo. nos processos de ensino-aprendizagem.

2. Resposta: A. 5. Resposta: A.

A psicomotricidade sustenta-se em três A psicomotricidade de modo implícito faz


princípios básicos: motor, intelecto e afeti- uma crítica à forma como a escola focaliza
vo. somente no desenvolvimento cognitivo.

3. Resposta: C.

Para Wallon (MAHONEY E ALMEIDA, 2005),


os conjuntos funcionais são formados por:
motor, afetivo e cognição.

162/184
Unidade 8
Aprendizagem e a neurociência

Objetivos

• Sintetizar os conceitos sobre os processos de aprendizagem.


• Destacar a importância de considerar toda a complexidade envolvida nos problemas e dis-
túrbios de aprendizagem.
• Necessidade de considerar o aluno por inteiro.
• Apresentação das contribuições e limitações da neurociência na relação com a aprendiza-
gem.

163/184
Introdução

Muitas são as teorias que buscam discor- de problemas e distúrbios de aprendizagem.


rer sobre os processos de aprendizagem. Também, você pôde notar que o processo
Na maioria das vezes elas focalizam aspec- de aprendizagem é algo complexo, cheio de
tos diferentes que constituem os processos conflitos, dificuldades e problemas. Portan-
de ensino-aprendizagem. Isto ocorre pela to, a dificuldade de aprendizagem deve ser
complexidade e multideterminações en- considerada como algo normal e, inclusive,
volvidas no processo de aprendizagem, co- esperado no processo de escolarização.
locando-se como desafio a necessidade do No entanto, algumas crianças possuem difi-
profissional estar em constante atualização, culdades mais acentuadas em seu processo
não somente para agregar conhecimentos, de escolarização e precisam de um atendi-
mas também para repensar suas concep- mento mais focado em suas necessidades.
ções. A dificuldade de aprendizagem não deve ser
justificativa para a exclusão desses alunos
2. O processo de aprendizagem de seu direito de frequentar a escola regular,
bem como de se beneficiar deste processo.
Ao longo deste curso foram abordados os
processos de ensino-aprendizagem como Via de regra, os professores costumam
caminho para superar ou trabalhar os casos queixar-se da falta de condições para ofe-
recer um atendimento mais individualiza-
164/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
do ao aluno que possui algum problema ou grupos de alunos. Em atividades grupais as
distúrbio de aprendizagem, justificando- possibilidades são maiores, sendo possí-
-se pela quantidade expressiva de alunos vel melhorar resultados e perspectivas não
que são responsáveis. Esta é uma realidade só do aluno com problema ou distúrbio de
da maioria dos profissionais da educação, aprendizagem, mas de todos.
principalmente daqueles que trabalham
no contexto público, onde as condições de
trabalho são bastantes desmotivadoras Para saber mais
em vários sentidos. Entretanto, é necessá- Segundo Madalena Freire (2008), o que caracteri-
rio pensar em caminhos e possibilidades za um grupo é um conjunto de pessoas que pos-
de trabalho frente à realidade crescente suem necessidades e motivos semelhantes e se
de alunos com problemas e distúrbios de reúnem em busca de um mesmo objetivo.
aprendizagem.
Ao longo deste curso você pôde observar a Você viu também a necessidade de conside-
importância do atendimento especializado, rar o aluno em toda sua complexidade, en-
realizado no âmbito individual, entretanto, volvendo a dimensão afetiva, motora e cog-
também pôde constatar caminhos e estra- nitiva. No âmbito afetivo, é importante con-
tégias de trabalho no coletivo, envolvendo siderar que o processo histórico de fracasso
165/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
escolar vivido pelos alunos com problemas Tais afetos negativos frente ao processo
e distúrbios de aprendizagem é real e, mui- de escolarização precisam ser ressignifica-
tas vezes, fonte de sofrimento. São muitos dos, o que envolve a necessidade de cons-
os anos dedicados ao processo de escolari- truir novos afetos que sejam favoráveis ao
zação, anos em que esses alunos estão em processo escolar. Para isto, o conhecimento
contato permanente com seus rótulos, fra- precisa emocionar, tocar o aluno de alguma
cassos, insucessos e desmotivação frente forma para que sejam configurados senti-
ao processo de aprendizagem, desenvol- dos e significados em relação ao conteúdo.
vendo em algumas situações o sentimento Desta forma, o processo de aprendizagem é
de aversão ou até mesmo falta de sentido
em relação à escola (MAHONEY; ALMEIDA,
2005). Geralmente, o reflexo desta situação
é expresso sob a forma de desinteresse, de-
satenção, hiperatividade etc.

166/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência


muito mais complexo do que a reprodução das vezes, vivenciam de modo muito próxi-
mecânica dos conteúdos. mo o histórico de fracasso escolar.
No âmbito cognitivo, é importante conside-
Para saber mais rar que os processos de aprendizagem favo-
recem o desenvolvimento das funções psi-
Muitas vezes os aspectos afetivos são considera-
cológicas superiores. É pela aprendizagem
dos apenas em sua dimensão positiva, por exem-
dos conhecimentos escolares que o sujeito
plo: a alegria, felicidade, riso etc., no entanto, há
tem a possibilidade de acessar outras reali-
também afetos negativos que limitam o desen-
dades, situações e emoções que permitirão
volvimento humano, como a indiferença, o desin-
ampliar sua consciência. Nos casos em que
teresse etc.
há um comprometimento com a dimensão
cognitiva, é importante favorecer dentro da
Também, é importante o suporte da escola
capacidade de cada pessoa seu processo de
oferecendo condições para que a aprendi-
aprendizagem. Assim, mesmo que o sujeito
zagem ocorra, valorizando as potenciali-
não alcance o nível ideal, é importante ofe-
dades desses alunos e trabalhando sempre
recer condições para que este desenvolvi-
dentro de suas possibilidades de desenvol-
mento seja potencializado ao máximo (VY-
vimento. Tal apoio deve ser estendido para
GOTSKY, 2007).
as famílias destes alunos que, na maioria
167/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
Em relação ao aspecto motor, vimos no aluno a partir de todos os elementos que o
tema sobre a psicotricidade que o corpo não constituem, acompanhamos um movimen-
deve ser concebido como algo que atrapa- to em relação aos problemas e distúrbios
lha o processo de aprendizagem, mas que a de aprendizagem que busca cindir o sujeito,
favorece (LE BOULCH, 1992). considerando apenas seu desenvolvimento
cognitivo e neurológico. A seguir aprofun-
Entretanto, apesar de muitos autores des- daremos esta questão.
tacarem a necessidade de compreender o
2. A neurociência e a educação

As reflexões da neurociência na interlocu-


ção com a educação tiveram início com o
neurologista e educador americano chama-
do Henry Donaldson Herbert, no final do sé-
culo XIX. Seus estudos discorreram sobre as
contribuições da neurociência à educação
(MARQUES, 2016).
Com o crescente interesse de vários profis-
168/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
sionais pela neurociência, nos últimos 30 não podem ser vistos de modo a determinar
anos houve um avanço expressivo de tec- o desempenho escolar da pessoa por toda
nologias como a neuroimagem, a qual per- sua vida. Por meio de uma situação favo-
mite o estudo das áreas cerebrais que fa- rável ao desenvolvimento, o aluno poderá
vorecem a explicação do sistema nervoso superar suas dificuldades ou, quando não
central. Neste processo, ocorreram várias possível, acentuar suas potencialidades
descobertas sobre a relação entre o funcio- (MARQUES, 2016).
namento cerebral e o processo de aprendi- Sobre isto, Vygotsky (1997) vai dizer que o
zagem (CAPOVILLA; VALLE, 2011; ROTTA; psiquismo diante de algum problema ou
OHSWEILER; RIESGO, 2006). deficiência desenvolve mecanismos de
A principal contribuição da neurociência compensação que fazem com que a pes-
ao campo da educação é em relação ao seu soa tenha um desenvolvimento saudável ao
conceito de plasticidade cerebral que sig- longo de sua vida. Desta forma, nosso cére-
nifica que o cérebro é capaz de se adaptar bro possui muitas possibilidades de desen-
às condições, dependendo dos estímulos volvimento, desde que sejam oferecidas si-
que o meio oferece. Portanto, isto nos traz tuações sociais de desenvolvimento.
a importante informação de que os casos
de problemas e distúrbios de aprendizagem
169/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
visto não considerar o aluno em suas multi-
Para saber mais determinações e complexidade.

Situação social de desenvolvimento foi um termo Em alguns momentos deste curso, você
descrito por Vygotsky (1997) ao relatar a ação de pôde observar que é necessário não mini-
criar situações no contexto com a intencionalida- mizar os problemas e distúrbios de aprendi-
de de promover o desenvolvimento humano. zagem a uma condição neurológica, indivi-
dualizando o problema no aluno. Na maio-
ria das vezes, os problemas e distúrbios de
Na maioria dos problemas e distúrbios de
aprendizagem são de ordem social, relacio-
aprendizagem que foram apresentados ao
nados ao modo como os processos de ensi-
longo deste curso, suas definições apoia-
no-aprendizagem acontecem no ambiente
vam-se na compreensão neurológica, as-
escolar. Este é um dos principais problemas
sociados a uma disfunção cerebral. Neste
na educação: transformam problemas que
sentido, a neurociência se destaca na ex-
são sociais, resultantes de toda uma com-
plicação sobre os problemas e distúrbios de
plexidade do modo como os processos de
aprendizagem (CAPOVILLA; VALLE, 2011;
ensino-aprendizagem acontecem no in-
ROTTA; OHSWEILER; RIESGO, 2006). Entre-
terior da escola, em problemas individuais
tanto, este cenário precisa ser repensado
(MOYSES; COLLARES, 2013). Tal fenômeno
170/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
não acontece somente com os alunos, mas vas, práticas e intervenções que favoreçam
também com professores. a potencialização da aprendizagem de cada
Nas formações de professores é possível pessoa, independentemente de sua condi-
ver o quanto a maioria está cansada de dis- ção física, social ou cognitiva.
cursos que colocam o problema de toda a
educação em seus ombros, justificando os
problemas escolares como sendo culpa da
incapacidade do professor. Refletir e ques-
tionar sobre os conhecimentos que visam
simplificar e individualizar os problemas de
aprendizagem é importante e faz-se neces-
sário.
Deste modo, encerro este curso com a re-
flexão de que os problemas e distúrbios de
aprendizagem são reais e existem, mas que
sua ação como profissional não deve res-
tringir-se apenas à busca pelo diagnóstico.
É necessário ir além, pensar em alternati-
171/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência
Glossário
Sentimento de aversão: sentimento de antipatia, necessidade de afastamento em relação a
uma pessoa ou coisa.
Ressignificação: processo de atribuição de novos significados a algum determinado aconteci-
mento.
Cindir: dividir em duas partes ou mais.

172/184 Unidade 8 • Aprendizagem e a neurociência


?
Questão
para
reflexão

Após a realização deste curso, quais seriam as principais


mudanças de concepção frente aos problemas e distúr-
bios de aprendizagem?

173/184
Considerações Finais

• O processo de aprendizagem envolve muitas dificuldades e conflitos em seu decorrer.


• Necessidade de considerar o sujeito por inteiro no processo de aprendizagem.
• Importância de considerar os problemas de aprendizagem como um fenômeno complexo as-
sociados a múltiplos fatores.
• A neurociência como área do conhecimento oferece explicações sobre os problemas e distúr-
bios de aprendizagem.
• Necessidade de considerar várias concepções teóricas sobre os problemas e distúrbios de
aprendizagem.

174/184
Referências

CAPOVILLA, F. C.; VALLE, L. E. L. R. Neuropsicologia e aprendizagem. 3. ed. Ribeirão Preto: Novo


Conceito, 2011.
FREIRE, M. O que é um grupo? In: FREIRE, M. Educador. São Paulo: Paz e Terra, 2008
LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1992.
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. Afetividade e processo ensino-aprendizagem: contribuições de
Henri Wallon. Psicologia da educação, 20, p. 11-30, 2005.
MARQUES, S. Neurociência e inclusão: implicações educacionais para um processo inclusivo mais
eficaz. Trama Interdisciplinas, 7, 2, p. 146-163, 2016.
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Referências

______. Obras escogidas: fundamentos da defectologia, tomo V, Madrid: Vysor Aprendizaje y Mi-
nisterio de cultura y ciencia, 1997.

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Questão 1
1. O trabalho com problemas e distúrbios de aprendizagem pode ser reali-
zado:
a) Individualmente ou em grupo.
b) Individualmente.
c) Em grupo.
d) Individualmente no contexto escolar.
e) Em escolas e centros especializados.

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Questão 2
2. No âmbito, afetivo quais são os impactos dos problemas e distúrbios da
aprendizagem?
a) Sentimento de potencialização.
b) Sentimento de satisfação.
c) Sentimento de fracasso frente ao processo de aprendizado.
d) Ressignificação do processo de aprendizagem.
e) Problemas associados ao aspecto motor.

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Questão 3
3. No âmbito cognitivo, quais são os impactos dos problemas e distúrbios
de aprendizagem?
a) Desmotivação.
b) Desinteresse e hiperatividade.
c) Falta de concentração.
d) Limitação do desenvolvimento neurológico
e) Limitação do desenvolvimento das funções psicológicas superiores.

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Questão 4
4. Qual o papel da neurociência nos processos de aprendizagem?

a) Discutir o desenvolvimento cerebral.


b) Discutir as conexões neurais.
c) Relacionar o aspecto motor e a cognição.
d) Discutir a relação entre o funcionamento cerebral e o processo de aprendizagem.
e) A neurociência não discorre sobre os processos de aprendizagem.

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Questão 5
5. Qual é um dos principais problemas da neurociência?.

a) Individualização dos problemas de aprendizagem.


b) Concepção contextualizada dos problemas de aprendizagem.
c) Discordância em relação aos processos de aprendizagem.
d) Compreensão monista do sujeito.
e) A neurociência não possui nenhum problema.

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Gabarito
1. Resposta: A.

Trabalho com problemas e distúrbios de aprendizagem pode ser realizado tanto individualmente
quanto em grupo.

2. Resposta: C.

Em relação aos problemas e distúrbios de aprendizagem, muitas vezes o sujeito vivencia o senti-
mento de fracasso frente a seu processo de escolarização.

3. Resposta: E.

Os problemas e distúrbios de aprendizagem podem limitar o desenvolvimento das funções psi-


cológicas superiores.

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Gabarito
4. Resposta: D.

A neurociência no campo da educação tem como objetivo analisar o funcionamento cerebral no


processo de aprendizagem.

5. Resposta: A.

Um dos principais problemas da neurociência no campo da educação é a individualização dos


problemas e distúrbios de aprendizagem.

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