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DISLEXIA X ALFABETIZAÇÃO:

INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL

Johara de Andrade Fary - UNIFAVENI1


Orientador: 2

RESUMO
Esse artigo tem como objetivo a reflexão acerca da importância, necessidade e eficácia da
ação de intervenção psicopedagógica institucional, no processo de alfabetização de alunos
com dislexia do desenvolvimento no ensino fundamental, para o pleno êxito no processo
ensino-aprendizagem. Para discutir e aprofundar mais sobre esse estudo, utilizamo-nos
juntamente com a fundamentação bibliográfica, a pesquisa de campo feita com alguns
professores da educação pública que lecionam nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no
município de Antonina (PR.), para possível direcionamento e embasamento da pesquisa.
Através dos dados coletados conseguimos verificar num primeiro momento que alguns
docentes, ao mesmo tempo em que defendem a inclusão e a utilização de novas metodologias
de ensino, ainda mostram relutância quanto a prática da mudança, adotando posturas
tradicionalistas, tanto no modo de interação como o de avaliação de seus alunos com dislexia,
tornando o processo de aprendizagem mais lento e dificultoso.
Palavras-chave: Dislexia. Alfabetização. Intervenção Psicopedagógica. Processo Ensino-
Aprendizagem.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a ABD - (Associação Brasileira de Dislexia, acessado em 16/02/2023), a


dislexia do desenvolvimento é considerada:

“Um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica,


caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na

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Aluna do curso de pós-graduação em Educação Inclusiva e Especial – Graduada em Linguagem e
Comunicação pela UFPR Litoral e Professora de educação básica em Antonina – Pr. E-mail:
joharaandrade@hotmail.com.
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habilidade de decodificação e em soletração. Essas dificuldades normalmente


resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas
em relação a idade e outras habilidades cognitivas. (Definição adotada pela IDA-
International Dyslexia Association, em 2002)”

Saber ler e escrever é essencial e fundamental para a aprendizagem de vários outros


conhecimentos e capacidades. O aluno com dislexia do desenvolvimento acaba sendo um
desafio para a escola, no contexto ensino-aprendizagem, pela necessidade de se fazer uso de
possíveis metodologias alternativas, para que possa ter meios de aprender.
Pensando na ação de intervenção psicopedagógica indicada a um aluno com dislexia do
desenvolvimento, e aplicada pelo professor regente, surgem-nos algumas questões, tais como:
O professores utilizam-se da metodologia individualizada sugerida pelo psicopedagogo? Por
quanto tempo ela é utilizada? Os pais participam do processo de intervenção ? Qual a eficácia
de uma intervenção psicopedagógica? Ocorre uma continuidade da metodologia aplicada nos
anos seguintes? A interação professor e psicopedagogo se faz durante todo o ano letivo?
Segundo Fonseca (2015, p.95):

Atualmente, vive-se num momento em que as necessidades dos alunos com


dificuldade de aprendizagem estão cada dia mais presente no dia a dia. Chega-se no
momento em que a escola não pode ser apenas transmissora de conteúdos e
conhecimentos, muito mais que isso, a escola tem a tarefa primordial de
“reconstruir” o papel e a figura do aluno, deixando o mesmo de ser apenas um
receptor, proporcionando ao aluno que seja criador e protagonista do seu
conhecimento. É preciso levar o aluno a pensar e buscar informações para o seu
desenvolvimento educacional, cultural e pessoal é uma das tarefas primordiais e
básicas da educação.

Seguindo a linha de pensamento do autor e sabendo da problemática acerca dislexia do


desenvolvimento, infelizmente, nos deparamos com a realidade da educação no Brasil, com
algumas escolas e educadores pouco preparados e motivados para lidarem com tal situação,
optando por continuarem a adotar posturas e metodologias tradicionais.
Diante disso, o presente artigo visa uma breve discussão acerca da importância da ação
de intervenção psicopedagógica, na fase de alfabetização, de alunos com dislexia do
desenvolvimento, dos anos iniciais do ensino fundamental. Para tal proposta foi feita uma
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pesquisa bibliográfica de autores que abordam o tema, juntamente com a pesquisa de campo,
feita com 5 (cinco) educadores que lecionam para turmas do 1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública no município de Antonina (PR), entre os meses de
fevereiro a agosto do ano de 2022. Todos os professores pesquisados lecionam ou já
lecionaram para alunos com dislexia do desenvolvimento. Para as coletas de dados foram
utilizados questionários estruturados com 10 perguntas abertas e fechadas, com o objetivo de
averiguar a opinião e atuação do educador diante da possível utilização de uma intervenção
psicopedagógica.

2 DISLEXIA E A INCLUSÃO ESCOLAR

A inclusão de um aluno disléxico na escola, como sendo portador de necessidades


especiais, está garantida por lei, como podemos verificar na Constituição Federal de 1988, no
Art. 205, que diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
(BRASIL, 1988).
A LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, em seu art. 58, nos
esclarece sobre a condição de portador de necessidades especiais, informando-nos que:
“Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação
escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.”
(BRASIL, 1996).
Vários documentos fundamentam a Educação Inclusiva, dentre os quais destacamos a
Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994, p.8-9), que propõe incluir alunos com
necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino, pois: “constituem os meios
mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, construindo uma sociedade inclusiva
e atingindo a educação para todos.”
Não se faz necessário separar alunos disléxicos dos demais, ao contrário, para que a
sua aprendizagem tenha sucesso, é fundamental que haja interação com os colegas, ocorrendo
com isso, troca de saberes, habilidades, competências e afetos. Apesar do aluno fazer parte de
uma mesma classe, sua condição necessita de uma metodologia e tratamento diferenciados.
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Sobre esse fato, verificamos que no Conselho Nacional de Educação - CNE - em sua
Resolução nº 02 que trata das Diretrizes Nacionais para a educação de alunos com
necessidades educacionais especiais, propõe que deverá haver:

III – flexibilidade e adaptações curriculares que considerem o significado prático e


instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos
diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos
que apresentam necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto
pedagógico da escola respeitada a frequência obrigatória. (BRASIL, 2001, Art. 8º)

Rodrigues e Ciasca (2016, s/p.), relatam que de 3% a 10% dos alunos apresentam a
dislexia do desenvolvimento. O diagnóstico precoce e a intervenção adequada são
fundamentais para auxiliar o educando, afim de evitar várias problemáticas futuras. O olhar
sensível do professor faz-se imprescindível para que o aluno possa ser auxiliado.
Dentre as várias atribuições da Psicopedagogia Institucional, destacamos o diagnóstico e
tratamento de alunos com transtornos e dificuldades na aprendizagem como essenciais para o
pleno desenvolvimento do educando. Segundo Bossa, (2000, p.12): “Os psicopedagogos são,
portanto, profissionais preparados para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento dos
problemas de aprendizagem escolar.” Necessitamos desse profissional, juntamente com o
outros, afim de formar uma equipe de trabalho eficaz, objetivando o êxito no processo ensino
– aprendizagem.
O trabalho do psicopedagogo institucional está voltado para uma ação coletiva envolvendo
não só alunos, mas também a escola e a família. Vercelli (2012, p. 73), nos informa que a
intervenção psicopedagógica institucional ocorre nas escolas, com o objetivo de prevenir as
dificuldades de aprendizagem, e com isso, o fracasso escolar. O psicopedagogo divide com
pais e professores, as angústias, culpas e responsabilidades de lidarem com certas dificuldades
e transtornos de aprendizagem, apresentadas pelas crianças.
A ação de intervenção consiste em mostrar que não há culpados, mas que podemos
sim, com informação, estratégias e trabalhos em conjunto, mudar a realidade escolar e social
de dificuldades, apresentadas pelos indivíduos com esse transtorno. Quanto a isso, Bossa
(1999, p.03), nos esclarece informando que: “O trabalho psicopedagógico implica na
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compreensão da situação de aprendizagem do sujeito, o que requer uma modalidade particular


de ação para cada caso no que diz respeito à abordagem, tratamento e forma de atuação”.
Devemos perceber o trabalho preventivo do psicopedagogo como fundamental e
essencial, afim de que as dificuldades apresentadas e não tratadas possam bloquear a
aprendizagem. Vercelli (2012, p. 73, apud Fernández 1990), diz que, quando a criança ou
adolescente chega para atendimento com alguma dificuldade na aprendizagem, com
desinteresse pela escola e falta de sentido em aprender, possivelmente não foi diagnosticada
e /ou nem recebeu atendimento necessário. Mudar a realidade do aluno com dificuldade,
tornar a sua vida mais simples e com esperança de sucesso é possível, com o trabalho preciso
e eficaz desse profissional.

3 REVISÃO ESPECIFICA DA BIBLIOGRAFIA

Antigamente, a forma de educação tradicional era tida pela grande maioria, como
sendo a única forma correta de se ensinar e assim era passada de geração para geração.
Atualmente, através da evolução, muito estudo, pesquisa e discussões, ficou constatada a
necessidade de se haver uma grande mudança na forma de como se ensinar e o que se ensinar,
devido a diferença entre os seres, ficando com isso evidente a importância da inclusão social,
não somente no âmbito escolar, mas na sociedade como um todo.
Na Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994, p.17-18), verificamos nesse parágrafo,
a preocupação com a inclusão dos alunos:

Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e tem, portanto,


necessidades educativas especiais em algum momento de sua escolarização. As
escolas tem que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive
as que tem deficiências graves.

Teles (2014), Bossa (2011, 2012) e Conquista (2020), afirmam que, felizmente, já
ocorre certa mudança, no ambiente escolar, as pessoas estão mais “conscientes” das
diferenças e da inclusão, mas ainda há muito caminho a ser percorrido. Em relação a dislexia
do desenvolvimento, os autores entram em concordância sobre a importância de se haver um
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diagnóstico precoce e na ação de intervenção psicopedagógica imediata, evitando muitos


sofrimentos e exclusões.
Como pudemos perceber a dislexia do desenvolvimento não é uma doença, mas sim
um transtorno, e esse transtorno precisa de diagnóstico e tratamento específico para cada caso.
Teles (2014, p. 713), declara que a identificação e intervenção precoce são a chave para o
sucesso na aprendizagem, ou seja, quanto mais cedo for percebido, tão logo poderá ser
ajudado, o que descartaria com informação e trabalho muitos sofrimentos e fracassos. A
informação é com certeza uma das formas mais eficazes de auxílio ao tratamento da dislexia
do desenvolvimento.
Teles (2014, p. 713), afirma que o processo de aprendizagem da leitura e escrita, apesar
de toda a sua complexidade, torna-se relativamente fácil para maioria das pessoas, fato que
não ocorre, infelizmente, para um aluno com dislexia do desenvolvimento, ao contrário, a
aprendizagem torna-se mais difícil, lenta e complicada, necessitando de intervenções
metodológicas específicas para cada caso.
Conforme a ABD (1983), é no ambiente escolar que podemos perceber o aluno disléxico,
pois nesse ambiente faz-se o uso diário da leitura e escrita, bem como sua valorização. Esse
local deve adequar-se a condição do aluno, tendo suporte de vários profissionais da educação,
trabalhando de forma conjunta, para que o mesmo consiga interagir e aprender com maior
facilidade.
Para Teles (2014, p. 713), a grande maioria dos casos dislexia do desenvolvimento não
é identificada e nem tratada corretamente, sendo talvez a causa mais frequente do insucesso e
baixo rendimento escolar. Cada indivíduo tem suas peculiaridades acerca do tempo e modo de
aprendizagem, mas a ação de intervenção torna-se fundamental para mudar essa realidade.
Faz-se necessário que o professor fique atento a dificuldades recorrentes, recusas pertinentes
nas atividades, além de conversações com pais e antigos professores, sobre a trajetória do
aluno, afim de reunir vários subsídios para possível encaminhamento.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos devem passar por uma


mudança, sendo o conteúdo aplicado com meta de desenvolvimento de capacidades dos
alunos, afim de permitir-lhes usufruir dos bens sociais, culturais e econômicos, e não de uma
aprendizagem sem um fim específico. (BRASIL, 1997, p.51).
Para compreender um pouco mais, Rodrigues e Ciasca (2016, s /p.), nos esclarecem
informando que o aluno disléxico, nas séries iniciais do ensino fundamental, apresenta
normalmente as seguintes características: “ dificuldade em entender que as palavras são
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‘divididas em partes’; incapacidade de associar letras a sons; erros de leitura (sem conexão
entre fonemas/grafemas – por exemplo, ler panela, em vez de boneca), incapacidades de ler
palavras mesmo simples; reclamações ou recusas em situações em que tenha que ler.” Cabe
ao professor, perceber essas dificuldades, suas recorrências, bem como possíveis outras e
encaminhar esses casos para auxílio psicopedagógico.
Pensando na aptidão dos professores em atender esses alunos com
condições especiais, verificamos que nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 25), se
propõem fazer necessário ao docente ter: “[...]Além de uma formação inicial consistente, é
preciso considerar um investimento educativo contínuo e sistemático para que o professor se
desenvolva como profissional de educação.” E concluem que: “[...] A formação não pode ser
tratada como um acúmulo de cursos e técnicas, mas sim como um processo reflexivo e crítico
sobre a prática educativa.

4 METODOLOGIA

O artigo utilizou-se da pesquisa de tipo estudo do caso, da revisão bibliográfica referente


ao tema e da aplicação de instrumentos investigação, como entrevista, questionário e
observação in loco. Os dados foram analisados de maneira qualitativa. A pesquisa foi
realizada numa escola pública municipal, no município de Antonina- Pr., que atende alunos
da pré-escola ao 5 ano do ensino fundamental.

Apesar de muito se pesquisar e discutir sobre esse transtorno, a realidade na educação


brasileira ainda não é a ideal. Rodrigues e Ciasca (2016, s/p.), nos esclarecem que a dislexia
do desenvolvimento é o transtorno de aprendizagem mais pesquisado e difundido, porém
ainda se veem nas escolas muitos professores frustrados e impotentes diante dessa
problemática e alunos com sentimento constante de fracasso. Muitos docentes sem a devida
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informação e formação, ainda tem uma ideia errônea de que a intervenção deva ser apenas
clínica.
Diante de uma visão menos técnica e sensível de um professor, as dificuldades de um
aluno dislexia do desenvolvimento podem passar despercebidas, principalmente na fase da
alfabetização. Contamos com professores despreparados, tendo que lidar alunos com
dificuldades e transtornos, muitas vezes desconhecidos para eles. Segundo Teles (2014, p.
713), os alunos em sua grande maioria, dependem da bondade dos professores, muitos sem
formação para auxiliá-los, além da formação deficiente e incompleta dos responsáveis pela
formação desses professores, o que agrava mais a situação da educação em si.
Conquista (2018, p. 7), afirma que estão sendo feitas muitas descobertas e análises sobre a
dislexia do desenvolvimento e que vários mitos e clichês estão sendo abandonados. Com a
facilidade da internet percebemos hoje que além dos professores, muitos pais e familiares tem
buscado mais informações sobre o transtorno, afim de tirarem dúvidas, ouvirem conselhos e
relatos, trocarem experiências e dicas, buscando uma solução, um caminho certo a seguir para
auxiliarem suas crianças.
O sentimento de frustração e a baixa autoestima são sentimentos constantes para um
aluno disléxico. Para Bossa (2000, p. 11), a aprendizagem e a construção do conhecimento
devem ser processos naturais e espontâneos do ser humano, se não está ocorrendo
normalmente, este processo deve ser investigado imediatamente, afim de se fazer seguir
normalmente o percurso. Ter meios e bases para auxiliar esse aluno, torna-se um presente,
uma esperança para o professor, que muitas vezes sofre muito com a incapacidade de lidar
com a situação.
Como verificamos há muito amparo nas Leis que visam o bem estar do aluno com
necessidades especiais, o cumprimento legal de todas as normas tornaria a realidade mais
simples e o aprendizado eficaz.
Segundo Bossa (1999, p. 03): “[...] o psicopedagogo deve tomar atitude de investigador
e inventor”. Concluímos com isso, que o profissional deve entender o significado das
informações dadas pelo aluno, que muitas vezes não compreende suas próprias dificuldades,
para que assim possa elaborar uma forma de atuação mais apropriada, efetiva e individual.

5 REFLEXOES SOBRE AS LEITURAS REALIZADAS


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Como pudemos compreender, torna-se fundamental a ação do diagnóstico precoce,


bem como formas de prevenção e intervenção psicopedagógica, para êxito no processo
ensino-aprendizagem de alunos com dislexia do desenvolvimento. Intervenções essas,
aplicadas em conjunto com pais e professores regentes, para haver maior facilidade e eficácia
de assimilação por parte do educando. Segundo Teles (2014, p. 727), vários estudos nos
mostram que as intervenções mais eficientes para a dislexia, são os métodos multissensoriais,
estruturados e cumulativos.
Bossa (2000, p. 12), nos informa que para ser feito o diagnóstico de um aluno que
apresenta dificuldades na aprendizagem, o psicopedagogo utiliza-se de várias formas para
compreender a realidade da criança, como: desenhos, histórias, jogos, brincadeiras entre
outros. Após esse primeiro contato, o psicopedagogo juntamente com o professor regente e
outros profissionais da escola, elaboram um plano de intervenção para prevenir e tratar as
possíveis dificuldades de aprendizagem.
Quanto ao momento certo de se fazer uma intervenção psicopedagógica, Rodrigues e
Ciasca (2016, s/p.), nos esclarecem informando que: “[...] há consenso de que o ensino
infantil e as séries iniciais representam uma ‘janela de oportunidades’ para se prevenir
problemas com a leitura (assim como com os outros problemas de aprendizagem) [...].”
Devemos compreender que é nessa hora que devem ser feitos os “ajustes” necessários de
adequação para o educando em sala de aula, para que o mesmo possa ter êxito em sua
trajetória de aprendizagem.
Segundo a ABD – Associação Brasileira de Dislexia (1983), a intervenção se faz
necessária sempre, sejam quais forem as limitações no processo de aprendizagem. Toda a
ajuda e suporte, bem como o trabalho diário e a rotina, se torna mais favorável e eficaz para a
aprendizagem do aluno.
Para Vercelli (2012, p. 72), a ação de intervenção psicopedagógica leva em conta a
individualidade do aluno. Cada indivíduo tem seu tempo e modo de aprendizagem, o mesmo
ocorre com um aluno disléxico, com a ressalva de que sua aprendizagem se concretize, faz-se
necessária a ação de intervenção psicopedagógica.
A metodologia proposta, segundo a ABD (1983), propõem do professor estabelecer
uma rotina diária de atividades, com o intuito do aluno conseguir organizar-se; levar os alunos
disléxicos para outro ambiente, como a biblioteca, para a realização de avaliações, pois os
mesmos necessitam de um tempo maior para a conclusão das atividades; valorizar acertos; as
avaliações poderiam ser feitas de forma formativa, qualitativa, construtivista e multimeios,
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entre outras ideias, lembrando que as adaptações deverão ser feitas a partir das dificuldades
apresentadas pelos educandos.
Conquista (2018, p.08), nos chama a atenção para que professores e comunidade
escolar, trabalhem em conjunto, criando estratégias para que o aluno tenha meios de ter êxito
na aprendizagem e na inclusão escolar, mantendo a qualidade do ensino. A construção de uma
melhor metodologia de adaptação deve ser diária e continua, para que a mesma obtenha
eficácia.
Os pais devem atuar de maneira efetiva, participando da vida social e escolar da
criança, buscando compreender e ajudar com suas dificuldades. Para Bossa (2000, p. 13),
atualmente é inaceitável que os pais culpem os filhos ou os professores pelo fracasso escolar,
pois através de vários estudos concluímos que a questão é muito complexa e merece
tratamento adequado.
Rodrigues e Ciasca (2016, sp.), ressaltam que os pais devem trabalhar em parceria,
para haver êxito no processo de aprendizagem, bem como na interação com os colegas.
Alunos disléxicos, apesar de apresentarem certas dificuldades, conseguem na maioria ter êxito
na aprendizagem, possuem facilidade em atividades orais e artísticas. Para que a vida escolar
desses alunos tenham uma continuidade com essa metodologia inserida, todos os demais
professores, bem como o próprio aluno, devem ter conhecimento sobre o transtorno, além da
metodologia diferenciada que foi aplicada. Quanto aos demais colegas saberem ou não, fica a
critério do aluno expor-se.

6 PROPOSIÇÕES DE AÇÕES PARA A SOLUÇAO DE PROBLEMAS


LEVANTADOS COM A PESQUISA

A escolha do objeto de pesquisa surgiu no decorrer da minha docência na Escola


Municipal “Prof. Gil Feres”, no município de Antonina – Pr., onde ministro aulas há 15 anos.
Infelizmente, lecionei para alunos com o transtorno apresentado e tive conhecimentos de
haver outros casos na escola. Senti na pele a angústia de não estar preparada para lidar com a
situação e não ter para quem recorrer, pois a escola não contava com um profissional
especializado para possível intervenção. A frustação é enorme diante de uma realidade sem
esperança. Um dos meus alunos desistiu, por ser já ser repetente e os demais reprovaram.
Atualmente, a escola conta com uma psicopedagoga para apoio e suporte a pais e alunos,
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começando com isso a mudar o cenário de sofrimento na escola, tanto de alunos, como pais e
professores.
O presente artigo utilizou-se de pesquisa do tipo bibliográfica, tendo por base sete
obras principais, sendo que três destas obras possuem o mesmo autor. São eles: Bossa (1999),
(2000) e (2002), Vercelli (2012), Teles (2014), Rodrigues e Ciasca (2016) e Conquista (2018).
Os autores pesquisados apresentam ideias que se entrelaçam em concordância de que
os alunos com dislexia, principalmente nas séries iniciais, necessitam de diagnóstico precoce,
estratégias educacionais e metodologias alternativas, não convencionais, para terem êxito no
processo de ensino-aprendizagem.
A base teórica deste trabalho está fundamentada em outras fontes de consulta, tais
como: publicações científicas, legislação, documentos, etc., que abordam sobre a temática da
dislexia e aprendizagem escolar.
O autor secundário para esta pesquisa, porém, não menos importante, foi: a
Associação Brasileira de Dislexia – ABD, (1983). Ainda foram realizadas pesquisas em Leis,
Deliberações e Resoluções que tratam sobre a educação inclusiva no Brasil. Tais como:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 205 e 206; Resolução nº 02/2001
do CNE/CEB, órgão colegiado integrante do Ministério da Educação, que institui diretrizes
nacionais para educação especial; Deliberação nº 02/2003 – CEE – Conselho Estadual de
Educação do Paraná; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96 – Cap. V –
art. 58 e 59 ; os PCns, o PPP e o RE da Escola Municipal Prof. “Gil Feres”, e o documento
internacional que influencia a política nacional, a Declaração de Salamanca. Ainda, outras
consultas se estenderam a pesquisas informais em sites idôneos, revistas e periódicos de
grande circulação.
A escolha dos autores deu-se em razão da clareza que as obras abordam sobre a
problemática da dislexia na aprendizagem. Apesar do tema ser frequentemente abordado, a
realidade de haver um diagnóstico precoce e da ação de intervenção psicopedagógica na
escola, ainda é distante da maior parte das escolas municipais do nosso país. Entretanto,
verificamos que a maioria dos professores tem consciência da necessidade da formação
continuada, para que possam atuar com maior eficiência em sua área. Todos os autores
pesquisados neste trabalho abordam de maneira muito objetiva e clara sobre o tema proposto.
As Leis mencionadas no referencial teórico deste projeto, são voltadas para a inclusão de
alunos portadores de necessidades especiais de uma forma ampla.
Foi fundamental fazer o fichamento de todas as obras pesquisadas para a elaboração
deste projeto, para organização e escrita das ideias mais importantes sobre o tema proposto.
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Após a leitura das obras ficaram marcados e selecionados os trechos mais relevantes, sendo a
base das principais ideias contida nessa obra. Para a complementação deste artigo, se fez
ainda necessário uma conversação com a equipe pedagógica da escola onde trabalho, com os
colegas professores, com pais e alunos portadores do transtorno pesquisado. Foi também
realizada uma pesquisa no PPP e no Regimento Municipal de Antonina.
Com esse estudo percebo que apesar das leis e estatutos garantirem acesso e qualidade de
ensino a alunos com a dislexia, bem como outros transtornos e dificuldades, essa não é a
realidade da educação brasileira. Quanto a isso, Bossa (2002, p.19), afirma que precisamos
buscar novas soluções buscando promover o conhecimento, vencendo assim os problemas
crônicos do nosso sistema educacional.
O crescente interesse pelo assunto mostra a preocupação de pais e professores para
uma solução imediata do problema. Uma esperança para quem convive com a dificuldade às
vezes por anos. Segundo Vercelli (2012, p.74), a escola deve ser a solução e não o problema,
pois é na escola que os indivíduos se instruem de modo que possam viver em sociedade.
Para compreender e comentar sobre o tema proposto, foi imprescindível consultar o
site da ABD – Associação Brasileira de Dislexia (1983), que foi fundada por um pai que
buscava compreender as dificuldades de aprendizagem escolares, apresentadas por seu filho.
O objetivo do site e informar e interagir com pais, alunos e professores acerca desse
transtorno, dando suporte especializado online, com vídeo aulas, seminários, entre outros.
Verificando as ideias dos autores primários e secundários utilizados para subsidiar e
fundamentar esta pesquisa, a ABD – Associação Brasileira de Dislexia, confirma a
necessidade de haver um diagnóstico precoce e ações de intervenção para alunos com dislexia
do desenvolvimento, na fase inicial da aprendizagem escolar. Tais intervenções dentro de uma
sala de aula, podem ser compreendidas como metodologias alternativas ou estratégias de
ensino utilizada pelo professor.
As legislações utilizadas nesta pesquisa tratam de forma muito específica em relação
ao acesso, permanência, igualdade e metodologias adequadas no processo ensino-
aprendizagem ao aluno com necessidade especial na escola. A Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, refere-se à educação inclusiva no art. 206, propondo que se
prevaleça no âmbito escolar a: “III – Igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;” (BRASIL, 1988). Podemos perceber essas condições igualitárias no art. 59 da LBD,
que propõe que: “Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades
especiais I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para
atender às suas necessidades.”
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As legislações citadas, de forma explícita ou implícita, conduzem ao mesmo


entendimento dos autores utilizados nesta pesquisa, bem como das informações extraídas do
ABD (1983), de que a igualdade de condições, acesso e permanência dos alunos com dislexia
do desenvolvimento, devido aos prejuízos causados pelo transtorno, só será possível mediante
a adoção de metodologias adequadas e alternativas no processo ensino-aprendizagem.
Por fim, foi imprescindível coletar dados acerca da legislação do município de
Antonina-Pr. A Lei nº 02/2008, no art.10, estabelece que a Secretaria de Educação e Esportes
do município, em relação aos professores, deva: “desenvolver programas de orientação
pedagógica, objetivando aperfeiçoar o professorando municipal dentro das diversas
especialidades, buscando aprimorar a qualidade de ensino.” (ANTONINA).
No PPP da Escola Municipal Prof. “Gil Feres”, em relação a classe especial, declara a
necessidade de um acolhimento, independentemente de suas condições físicas, sociais,
emocionais, linguísticas ou outras. Expressa também a importância de adaptar e viabilizar o
uso dos recursos pedagógicos, econômicos e humanos, além de adequações pedagógicas nos
conteúdos curriculares aos alunos com deficiência e ou transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades. (ANTONINA).
No RE da Escola Municipal Prof. “Gil Feres”, verificamos que cabe a equipe
pedagógica juntamente com o corpo docente, detectar casos e proporcionar encaminhamento
e/ou atendimento adequado a alunos que apresentem problemas específicos. (ANTONINA).
Em resumo, o resultado de todos os dados coletados por meio das obras autorais,
científicas e legislações pesquisadas convergem na mesma direção de ideias e propostas em
que as dificuldades impostas pela dislexia, só poderão ser amenizadas, compensadas e
superadas mediante estratégias pedagógicas e metodologias alternativas no processo ensino-
aprendizagem. Daí a importância de metodologias alternativas no processo ensino
aprendizagem aos alunos com dislexia do desenvolvimento no ensino fundamental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ser professor do ensino básico tendo como meta principal alfabetizar os alunos, não e
uma tarefa simples, ao contrário, necessita de uma formação solida, muita flexibilidade,
criatividade e sem dúvida formação continuada.
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A dislexia tornou-se uma barreira no processo ensino-aprendizagem, pelo fato da


leitura e da escrita serem as principais bases de sustentação para o sucesso da aprendizagem.
O não tratamento acaba sendo um dos principais motivos não só do desinteresse pela escola,
mas também pelo abandono dos estudos, impossibilitando com isso o crescimento pessoal e
social do indivíduo.
Por falta de informação ou conhecimento técnico para intervir, o professor pode deixar
de contribuir no processo educacional do aluno com dislexia. E, é na fase da alfabetização que
o aluno apresenta os sintomas claros do transtorno, onde a atuação do educador se faz
imprescindível.
Na escola pesquisada pudemos verificar no PPP e no RE a preocupação e o interesse
em haver uma qualidade de ensino, bem como a inclusão.
As medidas legais apresentadas na Legislação Brasileira, em relação ao acesso,
educação e permanência dos alunos com necessidades especiais, nos mostram que além de
necessárias, tornam-se fundamentais para o atendimento e desenvolvimento do educando.
Infelizmente, o despreparo e falta de informação por parte dos profissionais de educação são
alguns dos fatores contribuem para o fracasso e a evasão escolar em nosso país.
Com essa pesquisa podemos concluir que, por maiores que tenham sido os prejuízos
causados pela dislexia, na evolução cognitiva de um aluno do ensino fundamental, este poderá
ainda ter uma compensação intelectual significativa, através da utilização de estratégias e
metodologias psicopedagógica, trabalhados em conjunto entre psicopedagogo, pais e
educadores, para o sucesso e êxito no processo ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ABD – Associação Brasileira de Dislexia. Disponível em: www.dislexia.org.br


Acessado: em 03 maio 2020.

BOSSA, Nádia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

_____________________. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. São Paulo.


Artmed Editora, 2002.
15

_____________________. Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como tratá-las?


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