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Práticas para

uma educação
inclusiva
Coelho; Orlando
SST Práticas para uma educação inclusiva /
Orlando Coelho
nº de p. : 12

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Práticas para uma educação
inclusiva

Apresentação
Nesta unidade discutiremos questões relativas à atuação do psicólogo em uma
perspectiva de educação inclusiva nas situações de mediação e adaptação
de atividades para o estudante em processo inclusivo. Nesse contexto,
apresentaremos o conceito de mediação e os aspectos éticos envolvidos nesse
processo.

Posteriormente, comentaremos o papel histórico do psicólogo e as intervenções


junto à educação inclusiva na contemporaneidade. Por fim apresentaremos
algumas das modalidades de atendimento à pessoa com deficiência por meio
de salas de estimulação essencial, classe comum, classe especial, escola
especializada, classe hospitalar, oficina pedagógica, atendimento domiciliar, sala de
recursos, centros de apoio.

Mediação e adaptação de
atividades para o estudante em
processo inclusivo
Iniciamos as discussões compreendendo o conceito de mediação no processo
educativo e o que significa adaptar com base no mesmo conceito de mediação. O
mediador escolar pode ser um profissional das mais diversas formações (psicólogo,
psicopedagogo, fonoaudiólogo), pois isso varia conforme a demanda da pessoa
com deficiência. Vamos aqui discutir o papel desse mediador de uma forma mais
geral. Assim, o mediador é

[...] aquele que no processo de aprendizagem favorece a interpretação


do estímulo ambiental, chamando a atenção para os seus aspectos
cruciais, atribuindo significado à informação recebida, possibilitando que
a mesma aprendizagem de regras e princípios sejam aplicados às novas
aprendizagens, tornando o estímulo ambiental relevante e significativo,
favorecendo o desenvolvimento. (MOUSINHO et al., 2010, p. 94)

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Como você pode observar, as principais características que se espera de um
mediador é a capacidade de facilitar a aprendizagem, bem como identificar os
estímulos e as possibilidades da pessoa com deficiência no ambiente escolar. O
psicólogo que atua na mediação da aprendizagem de pessoas com deficiência
precisa conhecer e desmistificar conceitos errôneos baseados no senso comum
em relação à criança com deficiência. Um dos primeiros mitos se refere à
necessidade de pessoas com deficiência de forma geral precisarem de cuidados
especiais. Dependendo da deficiência, e em uma perspectiva inclusiva, uma parcela
considerável das pessoas com deficiência prefere ser tratada sem nenhuma
distinção especial (RAMOS, 2015). Assim, uma pessoa com deficiência visual ou
deficiência física nem sempre vai necessitar ser a primeira da fila para beber água,
por exemplo.

Outro mito é que o professor deve ser um especialista para atuar com pessoas
com deficiência. Isso não é de todo verdade, pois, se assim o fosse, os pais não
saberiam educar e lidar com seus filhos com deficiência. Para cada pessoa se faz
necessário um diagnóstico e um acompanhamento adequados.

Outro preconceito é o de que as pessoas com deficiência devem frequentar


somente escolas especiais. Esse talvez seja um dos pilares da inclusão e envolve
desde uma visão da escola como um espaço de competição e preparação para o
trabalho e a universidade, e não como um espaço de convivência e aprendizagem
para além de imediatismos. Estudos comprovam que a convivência da criança com
deficiência junto a outras que não são deficientes pode ajudar no desenvolvimento
de ambas (RAMOS, 2015).

Convivência das diferenças

Fonte: Plataforma Deduca (2021).

#PraCegoVer: Rostos sorrindo de jovens de raças, etnias e


culturas diferentes.

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Para finalizar, o último mito diz que a presença de crianças com deficiência na sala
de aula pode atrapalhar as demais não se sustenta pelos mesmos argumentos
anteriormente usados em relação à necessidade de crianças estudarem unicamente
em escolas especiais. Reforçamos que uma pessoa com deficiência e as limitações
físicas e intelectuais inerentes à deficiência não perde seus sentimentos,
habilidades sociais, temperamento (RAMOS, 2015).

O papel do mediador tem a premissa de desmistificar preconceitos em relação a


pessoas com deficiência e à inclusão escolar. Assim, o mediador é aquele que:

Pode contribuir para que a criança tome mais iniciativa mediante diferentes
contextos, sem deixar que este processo siga automaticamente, e
encorajar a criança a ser menos passiva no ambiente [...]. [Ele] pode atuar
criando pequenas mudanças e problemas para que a criança perceba,
inicie, tolere mudanças e aprenda a lidar com estas situações. (MOUSINHO
et al., 2010, p. 94)

Curiosidade
Entre as características da mediação estão a possibilidade de
diferenciar informações sensoriais, identificar obstáculos à
aprendizagem e à sociabilidade, bem como contribuir para a
integração da criança em sua autonomia.

Uma questão singular da inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar


é o preconceito. Como já pontuamos, ele está presente na concepção histórica
que vincula a deficiência àquilo que falta. A pessoa deixa de ser observada na
sua integralidade, sendo observada exclusivamente por sua deficiência. Isso é
importante de perceber-se, pois existe a possibilidade de vincular a pessoa com
deficiência ao fracasso escolar antes mesmo do próprio fracasso se constituir (se é
que isso acontecerá). Assim, a criança se torna a própria queixa escolar.

Mas de que maneira efetiva o profissional pode realizar uma atuação que se
configure como a de mediação escolar, na qual este profissional seja um entre a
pessoa com deficiência, a aprendizagem e a comunidade escolar? Vamos descobrir
a seguir.

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Criança com baixa autoestima

Fonte: Plataforma Deduca (2021).

#PraCegoVer: Criança de aproximadamente 6 anos de idade


sentada no chão com a cabeça baixa entre as pernas, com sua
mochila ao lado.

O psicólogo e as intervenções junto à


educação inclusiva
Pesquisas realizadas consideram que ainda há muito o que mudar na relação e
atuação do profissional de Psicologia no contexto escolar, sendo que ainda persiste
a demanda de pais, educadores e gestores por uma atuação baseada no paradigma
clínico e médico. Cabe aos profissionais compreenderem melhor a atuação do
psicólogo para além das questões “curativas” ou “terapêuticas” e vislumbrarem a
sua atuação preventiva e como mediador no espaço, permitindo a circulação dos
diferentes discursos e saberes sobre a aprendizagem, a deficiência, os limites e
possibilidades de integração (ALMEIDA, 2010).

A Política Nacional de Educação Especial, vigente desde 2008 no Brasil, define o


conceito de educação especial:

[...] uma modalidade de educação escolar que permeia todas as etapas e


níveis de ensino. Esta definição permite desvincular “educação especial”
de “escola especial”. Permite também, tomar a educação especial como
um recurso que beneficia a todos os educandos e que atravessa o trabalho
do professor com toda a diversidade que constitui o seu grupo de alunos.
(BRASIL, 2005, p. 19).

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Diversidade

Fonte: Plataforma Deduca (2021).

#PraCegoVer: Imagem com figuras representativas de


símbolos de figura humana de mulher, e homem em sequência,
e ao lado há o símbolo de pessoa com deficiência (cadeirante).

O psicólogo e as intervenções junto


à educação inclusiva: formas de
atuação
Nesse momento, pensa-se na forma de atuação do psicólogo escolar como
mediador/interventor considerando as diversas possibilidades de atuação no
contexto escolar. Assim, abordaremos as possíveis ações mediadoras nos
contextos de atuação possíveis ao psicólogo escolar a seguir.

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Diagnóstico:

se vamos atuar em um contexto de atendimento a crianças com deficiência,


devemos observar com atenção e respeito às formas de realizar um
diagnóstico, pois todo diagnóstico é em si um ato interventivo. Isso significa
observar para além das limitações inerentes a uma deficiência específica.
O psicólogo escolar deve pensar em formas diversas de diagnosticar
(observação dos alunos em situações de atividade escolar cotidiana, as
conversações com eles e com aqueles com quem interagem –, de jogos
e de situações diversas para a compreensão das causas que originam as
dificuldades) (MARTÍNEZ, 2010, p.44).
Essa variedade de instrumentos é que determinará as adaptações
necessárias tanto na relação ensino e aprendizagem quanto nas adaptações
físicas, metodológicas e de materiais que facilitem a integração da pessoa
com deficiência.

Orientação a pais e alunos:

diferentemente do trabalho clínico e terapêutico, a orientação de pais e


professores aqui sugerida pauta-se pela ação para a resolução de uma
dificuldade específica de aprendizagem ou limitação inerente à deficiência
apresentada (MARTINEZ, 2010).

Formação e orientação de professores:

se a atuação do psicólogo escolar deve se pautar na sua integração à


equipe multidisciplinar, uma das possibilidades de atuação é justamente na
formação de professores.

Diagnóstico e intervenção institucional:

uma das formas de atuação mais contemporâneas para o psicólogo no


contexto educacional e de inclusão numa perspectiva multidisciplinar é
a avaliação institucional. Os aspectos psicossociais das instituições que
atuam junto a pessoas com deficiência ou da escola que tem que acolher as
crianças não é separado das formas de atuação individuais dos profissionais
que nela atuam. Assim, um dos desafios colocados é
[...] poder vislumbrar a escola, simultaneamente, nas dimensões
psicoeducativa e psicossocial permite ao psicólogo o delineamento
de estratégias de trabalho que, a partir da articulação das duas
dimensões, sejam mais efetivas para a otimização dos processos
educativos que ocorrem nela. (MARTINEZ, 2010, p. 48).

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A seguir, apresentamos algumas das modalidades de atendimento que existem para
pessoas com deficiência na política pública de educação especial vigente no país. O
primeiro deles é o conceito de estimulação essencial.

Estimulação

Fonte: Plataforma Deduca (2021).

#PraCegoVer: Mãe carregando bebê e falando com ele, esti-


mulando de maneira visual, tátil e auditiva.

A ação de conversar com o recém-nascido, que podemos considerar cotidiana e


quase automática, é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança.
Quando estudamos o desenvolvimento humano, o processo de maturação do
Sistema Nervoso Central (SNC) e suas implicações no processo de ensino e
aprendizagem ficamos sabendo da importância dos mais diversos estímulos
sensoriais, motores, afetivos, táteis, auditivos, visuais.

O termo estimulação essencial que alguns profissionais utilizam não é o mais


adequado segundo o Ministério da Educação, que por meio das Diretrizes
Educacionais para a Estimulação Precoce orienta e utiliza a terminologia e o
conceito de estimulação precoce assim definido:

Assim, para melhor esclarecimento, o conceito da “estimulação precoce” adotado é:


“Conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais incentivadores que
são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências
significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo”. (BRASIL,
1995, p. 11)

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É quase consensual na literatura científica que o período entre 0 e 3 anos de idade
é fundamental para o desenvolvimento pleno da criança. Embora tenha sua origem
voltada para crianças com deficiência, os recursos utilizados na metodologia de
estimulação precoce são fundamentais para todas as crianças nesta faixa etária.

Comenta-se de forma incisiva os cuidados que se devem ter para não estigmatizar
as pessoas com deficiência ou dedicarmos a um olhar que reduza a deficiência.
Porém, é fundamental que a prevenção, o diagnóstico e a intervenção junto a
crianças que necessitem de um apoio clínico e psicológico via programas de
estimulação precoce sejam rápidos e eficazes para garantir uma intervenção
adequada.

Saiba mais
Para que você possa ter acesso à política de saúde, os critérios de
avaliação e diagnósticos e centros de apoio, acesse as “Diretrizes
de Estimulação Precoce” do Ministério da Saúde no link: <http://
portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/34/
Diretrizes-de-estimulacao-precoce.pdf>.

A seguir, temos a definição de classe hospitalar:

Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional


que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância
de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância
do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de
atenção integral à saúde mental. (BRASIL, 2002, p. 13).

Para finalizar, temos as oficinas pedagógicas, que têm como premissa a preparação
das pessoas com deficiência para o mundo do trabalho, e que podem ser ofertadas
em municípios de forma direta pela administração municipal ou em conjunto com
organizações não governamentais.

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Fechamento
A inclusão é vista como o processo de identificar e responder à diversidade
das necessidades de todos os alunos por meio de um maior envolvimento na
aprendizagem, nas culturas e nas comunidades, e reduzindo a exclusão na
educação. Envolve mudanças e modificações de conteúdo, abordagens, estruturas
e estratégias, com uma visão comum que inclui todas as crianças, com a convicção
de que é responsabilidade do sistema regular educar todas as crianças e oferecer
acessos igualitários.

As ideias discutidas na unidade pretendem remover todas as barreiras à


aprendizagem e facilitar a participação de todos os alunos vulneráveis à​​ exclusão
e marginalização. Inclusão significa permitir que todos os alunos participem
plenamente da vida e do trabalho nas comunidades.

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Referências
ALMEIDA, S. Psicologia escolar. Campinas: Alínea, 2010.

BRASIL. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento pedagógico


domiciliar: estratégias e orientações. Brasília: MEC/SEESP, 2002.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes


educacionais sobre estimulação precoce: o portador de necessidades educativas
especiais. Brasília: MEC/SEESP, 1995. (Série Diretrizes; 3).

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Garantindo o


acesso e permanência de todos os alunos na escola: alunos com necessidades
educacionais especiais. Brasília: MEC/SEESP, 2005.

MARTINEZ, A. M. O que pode fazer o psicólogo na escola? Em aberto, Brasília, v. 23,


n. 83, 2010.

MOUSINHO, R. et al. Mediação escolar e inclusão: revisão, dicas e reflexões.


Revista de Psicopedagogia. São Paulo, v. 27, n. 82, p. 92-108, 2010. Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862010000100010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 26 fev. 2018.

RAMOS, R. Inclusão na prática. São Paulo: Summus, 2015.

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