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“A PARCERIA DO CONSELHO TUTELAR COM A ESCOLA”

1. INTRODUÇÃO

De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania 1, no ano


de 2021, o total de registros de violência contra crianças e adolescentes
(aproximadamente 35 mil denúncias) resultaram em 132,4 mil violações contra esse
público.

Sendo que as mais recorrentes são as que violam a integridade de crianças


e adolescentes, como violência física (maus-tratos, agressão e insubsistência
material) e violência psicológica (insubsistência afetiva, ameaça, assédio moral e
alienação parental).

A violência física é citada em 25,7 mil denúncias. Já a violência psicológica


esteve presente em 25,6 mil denúncias. Cerca de 20,8 mil denúncias possuem pais e
mães como suspeitos da violação, 59,6% do total relacionado ao grupo crianças e
adolescentes.

Os dados mostram ainda que a maioria das denúncias tem como vítimas
meninas (66,4%) na faixa etária de 12 a 14 anos (5,3 mil). Logo atrás estão 5,1 mil
denúncias crianças de 2 a 4 anos. Nessa faixa etária, 52% das denúncias possuem
meninas como vítimas.

O preenchimento dos dados de perfil das vítimas e suspeito não é


obrigatório durante a realização da denúncia. Dessa forma, o perfil médio das vítimas
considera apenas aqueles itens em que as denúncias tiveram essas informações
prestadas.

2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Breve Histórico

2.2. A visão do Gestor/Professor em relação aos limites de sua atuação


ante os alunos

Inicialmente, cabe destacar o valor que o professor tem para a vida do


aluno, depois do primeiro grupo familiar ao qual ele pertence.

1
BRASIL. Ministério da Cidadania e Direitos Humanos. Disponível em: Disque 100 tem mais de 6 mil
denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes em 2021 — Ministério dos Direitos
Humanos e da Cidadania (www.gov.br)
Isso porque, quando nasce, o indivíduo é inserido em grupos, o primeiro
deles é o familiar, em seguida tem-se os grupos vicinal (vizinhos), educativo, religioso,
profissional, lazer e político.

O professor deve atuar trazendo estudos de acordo com as necessidades


de seu aluno, sem ofender, sem ultrapassar seus limites e os de sua família.

O docente atua para combater o estado de vulnerabilidade em que alguns


de seus alunos se encontram, provocando-os a refletir para que possam lutar contra
todas as formas de desrespeito a direitos, sejam seus, sejam de outras pessoas.

Isto porque é necessário considerar a realidade a qual o docente faz parte,


trazendo diversos temas pautados nos livros didáticos, mas, também, temas sensíveis
(sexo, meio ambiente, o respeito a etnias, religiões). Não as discutir, é privar o aluno
de conhecimentos fundamentais a sua educação e desenvolvimento.

O professor em conjunto com a gestão escolar pode estimular tarefas que


façam com que os alunos trabalhem em comunhão, se conheçam e reconheçam que
existem pessoas diferentes deles. Essas interações podem se dar por meio de
gincanas temáticas na escola ou entre escolas, torneios de esportes, dentre outros.
Como a maior parte das escolas públicas não tem a estrutura adequada, o Estado
forneceria o fomento a este tipo de atividade.

Levar esse conhecimento para o aluno é oferecer oportunidade de


conhecer outras realidades e abrir sua visão para o mundo.

Reforçando essa perspectiva, Evyla da Silva Costa em seu artigo


Vulnerabilidade Social no Contexto Escolar: Implicações no desempenho e
aprendizagem2, indicando a importância dessas atividades para o enfrentamento de
mazelas sociais que têm assolado as crianças/adolescentes.

(...) Ainda que seja necessária a intervenção do Estado para combater


problemáticas sociais e a implementação de políticas públicas voltadas para a
infância e juventude que cheguem até o melhoramento escolar do
desenvolvimento dos alunos em vários aspectos, a escola pode e deve
realizar trabalhos com o intuito de contribuir no enfretamento das
problemáticas supracitadas, quer seja por meio de projetos didáticos,
gincanas, palestras. Contudo o objetivo é provocar nos alunos aprendizagem
e medidas preventivas tanto da evasão quanto do uso de drogas, gravidez na
adolescência, envolvimento com a criminalidade entre outros (...)

2
Vulnerabilidade Social no Contexto Escolar: Implicações no desempenho e aprendizagem. CONEDU.
Disponível em:
https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2019/TRABALHO_EV127_MD1_SA18_ID10744_280920
19210052.pdf. Acesso em: 03/07/2023.
p.6.
Como bem cita Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido (Rio de
Janeiro, 1978): “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se
libertam em comunhão”.

Nesse sentido, Benedito de Oliveira em seu artigo científico Contribuições


Piagetianas à Prática Pedagógica do/a professor/a 3, ressalta a partir do pensamento
de Piaget a importância do “instruir” por parte do professor em detrimento da
intervenção impositiva.

A abordagem da construção das regras pela criança mostra que a prática


pedagógica deve ser no sentido de desenvolver atividades em que os alunos
se sintam envolvidos na produção do significado de suas ações e
conseqüentemente, o aprendizado se torne mais prazeroso e mais
significativo. Isso exige repensar as formulações forjadas historicamente
sobre o papel do professor como transmissor de conteúdos ou facilitador do
mesmo. De acordo com Piaget, em seu processo de desenvolvimento, o
indivíduo percorre três tipos de regras: a) a regra motora que nasce da
inteligência pré-verbal e independente de toda relação social; b) a regra
coercitiva que é conseqüência do respeito unilateral e c) a regra racional que
decorre do respeito mútuo.

Nesse mesmo viés, afirma ainda que:


(...) O respeito unilateral conduz à obediência passiva, cerceando o aluno do
seu direito à liberdade, enquanto o respeito mútuo conduz à cooperação. Esta
é definida por Piaget como sendo

(...) o conjunto das interações entre indivíduos iguais (por oposição às


interações entre superiores e inferiores) e diferenciados (em contraposição ao
conformismo compulsório). Sociologicamente, a cooperação organizou-se em
correlação com a divisão do trabalho social e com a diferenciação psicológica
dos indivíduos que dela resultou. A cooperação supõe, então, a autonomia
dos indivíduos, ou seja, a liberdade de pensamento, a liberdade moral e a
liberdade política (1998a, p. 153).4

Em razão disso, destaca-se a importância do professor conhecer a


realidade do aluno, para que ele não se sinta incapaz de pertencer ao mesmo grupo
(escola) que o professor, por isso é fundamental que o professor saiba os limites de
suas intervenções.

A interferência direta, sem a autorização do próprio aluno, pode ferir muito


mais que “fazer um suposto bem”, já que existem diversos vieses a serem
considerados (cultura, contexto histórico, status social) antes de qualquer coisa.

Justamente por isso, antes de qualquer intervenção, deve haver uma


conversa lúdica sobre o assunto para que a criança/adolescente possa entender que
é necessária a mudança ou se ignora e entende que está bem do modo que está,

3
Revista da Faculdade de Educação - Cáceres - MT - Ano II nº 2 / Jan-Jun 2004. Disponível em:
https://dokumen.tips/documents/contribuies-piagetianas-prtica-pedaggica-doa-.html?page=1. Acesso em
03/07/2023.
4
Piaget,1998a, p.153 apud Oliveira, 2004, p.53.
principalmente, nas situações em que se encontra em estado de vulnerabilidade
social.

Reforçando essa perspectiva, Evyla da Silva Costa em seu artigo


Vulnerabilidade Social no Contexto Escolar: Implicações no desempenho e
aprendizagem, traz a perspectiva de Paulo Freire, reafirma…

(...) o docente deve proporcionar o conhecimento de diversas realidades, indo


além do seu contexto. Nesse sentido se torna mais que evidente que no que
tange a escola a mesma deve considerar não apenas para além dos muros da
escola, mas mesmo com todas as questões que vêm dos portões da escola,
ou seja, a realidade de cada aluno. Freire (1996, p.70) ressalta a diferença
entre possuir poder para “transformar/mudar o mundo”, diante do potencial
para sensibilizar o aluno e ação de instrumentalizá-lo para essa
transformação, sendo este último, o papel do professor. Ou seja, a prática
docente é instrumentalizadora para a transformação de realidades.5

Levar o aluno a refletir e a sentir-se seguro das suas prioridades e direitos


não é fácil. Difícil é fazê-lo de modo que não ultrapasse os limites dele e de sua
família. Assim, é importantíssimo cuidar quando verificar a situação de
vulnerabilidade, todavia, não se pode olvidar do “saber cuidar”, o que vai além da
esfera conteudista.

E é nessa linha que o aluno é conduzido/ajudado a se entender e conhecer


e, ao mesmo tempo, entender quais são os seus direitos e deveres, além de o próprio
discente estimular a família a mudar sua visão como ser de um meio e não como parte
excluída.

2.3. Como gestores escolares e Conselho tutelar podem atuar em


parceria: quais os limites da intervenção da escola na esfera do poder
familiar?

As escolas através dos seus gestores juntamente com os Conselhos


Tutelares podem ser aliadas no enfrentamento de questões disciplinares e
comportamentais no ambiente escolar.

Em vista, o Conselho Tutelar pode ser conceituado como sendo um órgão


coletivo de tomada de decisões que visa garantir pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente. Conforme o que dispõe o Art. 131 do Estatuto da criança
e do adolescente (ECA), o Conselho Tutelar (CT) é um órgão Municipal,
permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado por garantir os direitos
5
COSTA, 2019, p.5.
previstos pelo ECA. Assim, é importante que ele atue e dialogue de forma direta
com diversos outros setores.

Vale ressaltar, que para o melhor desempenho e funcionamentos dos


CTs, é indispensável que haja participação da comunidade local, pais, educadores,
entidades assistenciais ou movimentos comunitários, enfim. A criança e ao
adolescente perpassam por várias instituições e a escola fará de forma direta, parte
integrante ao longo do seu desenvolvimento.

Para Sacristán (2005,p.14):


(...) a infância construiu em parte o aluno, e este construiu
parcialmente a infância. as duas categorias pertencem e aludem
a mundos nos quais se separam os menores dos adultos (a
infância da maturidade e o aluno da pessoa emancipada); isso
contribui uma característica das sociedades modernas: ser
escolarizado é a forma natural de conceber aqueles que têm a
condição infantil.
Percebe-se que falta entendimento de muitas escolas de quando acionar o
CT, quais situações podem ser identificadas na prática às reais necessidades que
possam assim garantir os direitos da criança e do adolescente.

Manter o diálogo entre a escola e o Conselho Tutelar, é uma boa forma de


contribuir para que ambos melhorem essa parceria. Na possibilidade de um ou outro
faltar, deve agir outro, bem como ambos, escola e CT podem atuar
concomitantemente.

Nesse sentido, é imprescindível dar ênfase para enorme importância do


papel da família e sua participação na vida escolar da criança e do adolescente.
Como diz Piaget:

[...] uma ligação estreita e continuada entre os professores e os


pais leva, pois a muita coisa que a uma informação mútua: este
intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e,
frequentemente em aperfeiçoamento real dos métodos. ao
aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais
dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um
interesse pelas coisas da escola chega-se até mesmo a uma
divisão de responsabilidades [...] (2007, p.50)

Conforme o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),


estabelece que:
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária”. (Brasil,1990).

Sendo assim, a proteção integral da criança e do adolescente deve ser


assegurado por toda a sociedade que está intrinsicamente interligado ao seu pleno
desenvolvimento social, em que todos os esforços conjuntos são necessários para
garantir os direitos do menor.

Tânia Pereira da Silva (PEREIRA, 2000, p.14) afirma que:

(...) de acordo com essa doutrina, a população infanto-juvenil, em qualquer


situação, deve ser protegida e seus direitos garantidos, além de terem
reconhecidas prerrogativas idênticas às dos adultos. Por ela, crianças e
adolescentes são sujeitos de direitos universalmente conhecidos, não
apenas de direitos comuns aos adultos, mas além desses, de direitos
especiais, provenientes de sua condição peculiar de pessoas em
desenvolvimento, que devem ser assegurados prla família, Estado e
sociedade. A proteção, como prioridade absoluta, não é mais obrigação
exclusiva da família e do estado: é um dever social. As crianças e os
adolescentes devem ser protegidos em razão de serem pessoas em
condição peculiar de desenvolvimento.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) no seu artigo 2º afirma


que:

(...) a educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios de


liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.

Nesse contexto, fica claro os direitos que lhe são garantidos a cada
pessoa, direito à educação, à instrução, bem como é dever também da família,
prover e matricular seus filhos na escola.

Sabemos que a interação entre a família e escola é de extrema


importância, no entanto essa relação por vezes ainda é muito conflitante. Como já
foi falado anteriormente, apesar da escola tentar melhorar essa relação a fim de
contribuir orientando as famílias, estreitando os laços, cabe a escola deixar claro o
seu papel e as competências delimitadas da atuação de cada uma na vida da
criança.

Reis (2007, p.06) diz que:

(...) os pais devem tomar consciência de que a escola não é uma entidade
estranha, desconhecida e que sua participação ativa nesta é a garantia da
boa qualidade da educação escolar. As crianças são filhos e estudantes ao
mesmo tempo. Assim, as duas mais importantes instituições da sociedade
ontemporânea, a família e a escola, devem unir esforços em busca de
objetivos comuns.
Assim gestores, educadores e família precisam estabelecer uma relação
de confiança em prol da educação da criança. Porém, infelizmente, a família
transfere sua responsabilidade para a escola, que por sua vez esta culpa a família
por não acompanharem como deveriam a vida escolar dos seus filhos.

Outra realidade, ainda é a situação econômica das famílias, custos


crescentes com a educação e saúde dos filhos, situações de vulnerabilidade com
que muitos alunos convivem.

Para CASTEL,2005:

“A vulnerabilidade social pode ser definida através de parâmetros de


inserção precária no mundo do trabalho e acesso à renda por meios
informais, destituição da seguridade social e pela fragilidade das relações
sociais e vínculos familiares, sociais ou comunitários, que se configuram
como fonte de suporte.”

Essa realidade, afeta a condição de vida das famílias, deixando-as em


extrema desigualdade social, fazendo assim com que muitas deixem de oferecer o
suporte e o cuidado aos seus dependentes.

Segundo um estudo da UNICEF com base na pesquisa nacional por


amostra de domicílios contínua (Pnad contínua) de 20019, já antes da pandemia de
Covid 19, a pobreza na infância e adolescência em suas múltiplas dimensões, tinha
atingido quase dois terços da população de até 17 anos de idade no Brasil. Sendo
assim, cerca de 32 milhões de crianças e adlescentes em situação de privação no
país. Este número corresponde a pouco mais que a soma do total de habitantes das
sete cidades mais populosas do Brasil, segundo o que diz os dados coletados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Durante a pandemia, os dados disponíveis apontam para o aumento do


número de crianças e adolescentes privados(as) dos seus direitos.

A pobreza multidimensional entre 2020 e 2022 houve piora em alguns


indicadores. O que mais contribui para a pobreza é saneamento com 33,8%,
seguida de renda com 32,9%.

É preocupante o cenário para as áreas de alimentação, educação e renda.


Entre 2020 e 2021 dados mostram, que o número de crianças e adolescentes com
privação no acesso à alimentação, passou de 16,1 % para 25,7%. Todos esses
dados foram os últimos dados disponibilizados pelo IBGE.

Vale destacar, que as privações se dividem de maneira desigual entre a


população, ao ser analisado critérios de raça/etnia, religião, moradia e gênero. Em
outro aspecto, é importante frisar, que a pobreza multidimensional impacta
fortemente as regiões Norte e Nordeste, negros e indígenas.

Contudo, através de todas as informações pode-se compreender que a


baixa escolaridade é uma das características de famílias que apresentam
vulnerabilidade social. Muitas crianças e adolescentes que se encontram nesta
situação, são negligenciadas e constantemente sofrem com as principais
consequências que vai da pobreza, exclusão, falta de acesso à educação, à saúde,
lazer, alimentação, cultura e trabalho.

De acordo com o ECA – Lei nº 8.069/ 90, “Para afastar crianças e


adolescentes do seu convívio familiar, o afastamento apenas é justificado quando o
dever de sustento, guarda e educação dod filhos menores é descumprido.” (Art.22).

Segundo Bee: “ a mais óbvia influência que não a família sobre a criança
entre os 6 e 12 anos é a escola que ela frequenta.” (1997, p.284).

Diante de tudo que foi discutido até aqui, não podemos deixar de ressaltar
as situações que certamente são de responsabilidade do Conselho Tutelar, como
evidências de abandono, abuso ou violência. Casos como esses o gestor (a) precisa
acionar o CT, a fim de que sejam evitados problemas mais graves a essa criança e
adolescente.

Outras questões relacionadas a indisciplina, envolvendo bullying, brigas


entre alunos que estão ligados a comportamentos, podem ser sanados pela própria
escola.

Problemas como o consumo de drogas, porte de armas, sinais de


violência física ou psicológica, abandono, evasão escolar, maus tratos, quantitativo
crescente de faltas injustificadas, altos índices de reprovação escolar, são exemplos
do que cabe imediatamente a escola informar o Conselho Tutelar.

Portanto, como estratégias para melhorar o vínculo entre família e escola


são sugeridas a convocação das famílias, seja para reuniões, palestras, encontros.
A realização de reuniões incluindo os pais, docentes e gestores. A escola precisa
buscar articulação com o Conselho Tutelar para solucionar os principais problemas
que afetam a vida do aluno. Deve propiciar meios para a interação com a família,
buscando integrar e acolher o aluno. Por fim, é importante que todos assumam suas
responsabilidades, sendo fundamental que todos tenham consciência do seu papel
no pleno desenvolvimento dessa criança e do adolescente.
Como já esmiuçado no tópico anterior, o papel fundamental do professor é
instruir o discente para que tome consciência de seus direitos e de sua condição de
cidadão no mundo, sempre respeitando suas peculiaridades e os limites impostos pela
família.

Importa consignar que a figura da criança e do adolescente como sujeito de


direito em razão de seu especial estágio de desenvolvimento surgiu a duras penas e é
fruto de uma construção conjunto no âmbito internacional e nacional.

No direito internacional podemos citar a Declaração de Genebra de 1924


que foi a pioneira ao tratar a Criança e o Adolescente como sujeito de direitos.

Em seguida, a Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959 que


prevê já em seu preâmbulo a proteção da Criança, resguardando, da mesma forma, o
direito do nascituro.

Outrossim, a Declaração Universal dos Direitos Humanos que mesmo não


tendo a Criança e o Adolescente fez menção em seu artigo 25.2 salientado que a
maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais, sendo que
todas as Crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção
social.

Por fim, importante citar a Convenção sobre os direitos da Criança foi


adotada pela ONU em 1989 e ratificada pelo Brasil em 26 de janeiro de 1990.

Salienta-se que não apenas os teóricos da educação se preocuparam com


a criança e o adolescente enquanto sujeitos detentores de dignidade humana, que é o
princípio basilar de nossa Constituição. Princípio este que estabelece um núcleo duro
de direitos para se guarnecer o mínimo existencial para se ter uma vida digna. Tão
verdade que a Constituição Federal em seu Art. 227 prevê a proteção integral deles,
bem como nortea as demais normas.

Art.227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.6

Feita a apresentação dos principais diplomas legais que garantem direitos a


crianças e adoelescente, deve-se conceituar criança e adolescente na lógica do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990). Segundo Guilherme Freire
de Melo Barros (2015, p.28)7, criança é pessoa com até 12 (doze) anos incompletos,
6
BRASIL, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05/07/2023. não paginado.
7
COLEÇÃO SINOPSES PARA CONCURSO. Barros, Guilherme Freire de Melo.Estatuto da Criança e do
ou seja, adolescente é aquele que conta 12 (doze) anos completos e 18 anos
incompletos (art.2º do ECA). O critério adotado é puramente cronológico, sem
adentrar em distinções biológicas ou psicológicas acerca do atingimento da
puberdade ou do amadurecimento da pessoa.

Visando a proteção dessa pessoa em especial estágio de desenvolvimento,


os arts. 7º ao 69 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) 8 trazem
os direitos fundamentais que englobam a condição especial da pessoa em
desenvolvimento, proteção integral, melhor interesse da criança e atendimento com
prioridade absoluta.

Esse rol de direitos fundamentais englobam o direito à vida e à saúde, até a


disciplina do direito à convivência familiar, seja a família natural, seja a família
substituta (guarda, tutela, adoção). Tais direitos são em sua maioria de caráter
prestacional (dever fazer ou dar impostos ao Poder Público e aos pais e responsáveis.
São eles o direito à saúde (arts.7º a 14); direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
(arts.15 a 18); direito à convivência familiar e comunitária (arts.19 a 52-D); direito à
educação, à cultura, ao esporte ao lazer (arts.53 a 59); direito à profissionalização e à
proteção no trabalho (arts. 60 a 69).

Sendo assim, nota-se que a conduta ética dos professores de instruir não
tem fundamento apenas nos teóricos da Educação, mas também na Norma
Fundamental e na própria legislação ordinária. Assim, o respeito ao aluno se trata de
um dever do docente que está previsto no art.53, II, do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei nº 8.069/1990).

No mesmo sentido, o art. 58, do referido diploma legal determina que “No
processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos
próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a
liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.”

Feitas essas observações, Paulo Freire sabiamente ensina que “não há


educação sem o desejo de ser outro alguém”, ela serve para aprendermos a ser o que
ainda não somos.

Nessa senda, a criança está inserida, antes de mais nada, em um contexto


familiar que são estabelecidas regras e modelos de condutas a serem adotados e isso

Adolescente. 3ª edição, Revista, ampliada e atualizada, Juspodivm: Salvador, 2015,


8
BRASIL, 1990. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990: Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm. Acesso em
05/07/2021, não paginado
é automaticamente tomado como válido. Somente fora do seio familiar que a indivíduo
como a ter outros parâmetros, como a estabelecer comparações e a perceber-se
enquanto pessoa num contexto social.

Ora, se uma criança começa a ser agredida em casa por qualquer motivo,
ela entende que agredir é a forma adequada de tratar seus iguais e começa a replicar
esse comportamento. Essa reprodução de comportamento acaba por se tornar um
ciclo vicioso, já que cresce e acaba fazendo o mesmo com os próprios filhos. Daí a
importância do convite à reflexão e o do instruir que do docente e o peso da Lei.

Além disso, por acompanhar de perto os alunos, os discentes tomam


conhecimento dos abusos sofridos e devem repassar essas situações para que o
gestor escolar tome providências. Não se trata de um favor ao aluno, mas um dever
de denunciar fundamentado no art. 56 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental


comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os
recursos escolares;
III - elevados níveis de repetência.9

Fato é que escolas e conselho tutelar devem atuar em conjunto. Uma


denunciando abusos, o outro averiguando as queixas e verificando quais providências
deve tomar, isso sob o acompanhamento da escola.

Nessa senda, a não-comunicação de suspeita ou confirmação de maus-


tratos contra crianças e adolescentes, quando se tratar de professores e outros
profissionais, é uma infração administrativa e está prevista no art. 245 do ECA.

Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de


atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de
comunicar à autoridade competente os casos de que tenha conhecimento,
envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou
adolescente:

Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em


caso de reincidência. (sem grifo no original)

Não suficiente, o legislador, visando dar ainda mais proteção à criança e ao


adolescente, acrescentou que medidas protetivas serão aplicadas sempre que houver
ameaça ou efetiva lesão a direito, inclusive, aplicadas pelo próprio conselheiro tutelar.
9
BRASIL, 1990, não paginado.
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis
sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.

Reforçando essa tese, Evelyn de Lima Machado Alves e Charles Henrique


Voos (2021, p.221), em seu artigo científico “A atuação do Conselho Tutelar no
sistema escolar municipal em Joinville/SC”10 reforçam a importância do fortalecimento
do diálogo entre professores, gestores e conselheiros tutelares.

A luta pelos direitos das crianças e dos adolescentes ocorre por meio de
algumas instituições intituladas governamentais e não-governamentais, dentre
estas estão o Conselho Tutelar e a escola, instituições essenciais e
indispensáveis para que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) se
estabeleça em plenitude. Para efetivação do estatuto, é necessário que
aconteça uma interação de parceria entre essas instituições, pois ambas
possuem grande importância no processo de prevenção, identificação e
intervenção dos casos.

Isto posto, verifica-se que num primeiro momento, a escola faz uma espécie
de filtro dos alunos que merecem atenção do Conselho Tutelar, que por sua vez
tomará as medidas cabíveis dentro de sua esfera de atuação.

Assim, a atuação do Conselho Tutelar é órgão fundamental na defesa dos


direitos da criança e do adolescente porque enquanto os professores e gestores têm
limitações éticas e profissionais para interferir na esfera da intimidade da criança e de
sua família, ele pode interferir de modo direto, fazendo valer toda a estrutura
normativa que protege as crianças e adolescentes, eis que respaldado pelo próprio
ECA.

Isso porque, pelo princípio da inércia, o judiciário deve ser provocado para
que possa fazer valer o aparato punitivo Estatal sobre aquele que tem um
comportamento desviante, isso tudo devidamente apurado pela polícia ostensiva,
sendo chamado a intervir apenas nos casos excepcionais em que o Conselho Tutelar
não pode atuar.

Tão verdade que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº


8.069/1990) determina em seu Art. 131 que: “o Conselho Tutelar é órgão permanente
e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo

10
; VOOS, Charles Henrique; ALVES, Evelyn de Lima Machado Alves. A atuação do Conselho Tutelar no
sistema escolar municipal em Joinville/SC. Monumenta – Revista Estudos Interdisciplinares. Joinville, v. 2 , n.
4 , jul. / dez., 2021, p. 214 - 235. ISSN 2675 - 7826.
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei”11.

No referido diploma legal, o tema Conselho Tutelar tem por escopo


normativo o Título V, composto de cinco capítulos, que vão do arts.131 a 140.

Importante destacar que, até para evitar punições injustas, por se tratar de
intervenção muito sensível, já que se toca na estrutura familiar, vale citar a violência
intrafamiliar, tipo mais comum de maus-tratos enfrentado pela criança e o adolescente
que tem por subsespécies, a negligência e o abandono, além da violência física,
violência psicológica, abuso sexual, além de outras formas de maus-tratos que as
crianças podem sofrer.

Ganha destaque a negligência, o tipo mais comum e mais complicados de


identificar. Segundo, o Ministério da Saúde (BRASIL, p.12), é a omissão de cuidados
básicos, seja por parte dos pais ou outros responsáveis (inclusive institucionais),
quando deixam de prover as necessidades básicas para o desenvolvimento físico,
emocional e social da criança e do adolescente.12

Em razão dos altos índices de pobreza no Brasil, depara-se com famílias


que não tem o mínimo para sobreviver, que não deixam de alimentar as crianças
porque querem, mas porque não têm condições.

Justamente por causa desses casos, o Ministério da Saúde tentou


estabelecer parâmetros para compreendermos o que é negligência, sem esquecer
que, independente disso, deve se proteger o menor que está sofrendo com a
negligência, ainda que não intencional.

Por causa da situação de miséria e de extrema pobreza em que muitas


famílias vivem no Brasil, grande parte delas chefiada por mulheres que
precisam trabalhar fora de casa para garantir a sobrevivência dos filhos, a
identificação da negligência freqüentemente é um ato de difícil discernimento.
Principalmente quando o profissional ou a equipe de saúde se depara com o
questionamento da existência de intencionalidade numa situação objetiva de
negligência. Alguns autores refletem que uma boa referência é comparar os
recursos que aquela família dispõe para suas crianças com os recursos
oferecidos por outras famílias de mesmo estrato social. Outros estudiosos
sugerem a comparação dos tratos dispensados a cada filho, buscando
identificar algum tratamento especialmente desigual. No entanto,
independente da culpabilidade dos pais ou dos responsáveis pelos cuidados
da vítima, é necessária a notificação e a tomada de decisão a favor da
proteção desse menino ou dessa menina que está sofrendo a situação de
desamparo.

11
BRASIL, 1990, não paginado.
12
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Notificação de maus-tratos contra crianças e
adolescentes pelos profissionais de saúde: um passo a mais na cidadania em saúde. Ministério da Saúde, Secretaria
de Assistência à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/notificacao_maustratos_criancas_adolescentes.pdf. Acesso em:
05/07/2023.
Feitos esses apontamentos, após identificada a situação de violação de
direitos da criança e do adolescente, deve se providenciar a notificação do conselho
tutelar.

O Conselho Tutelar poderá interferir efetivamente na condição da Criança e


do Adolescente, fazendo cumprir, por aplicação ou requerimento aos Órgãos
competentes, as medidas materializadas no art.101 do ECA.

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de
responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção,
apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; (Redação dada
pela Lei nº 13.257, de 2016)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime
hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência

Por oportuno registrar que este órgão também pode tomar uma série de
providências, as quais estão elencadas no art. 139 do ECA, conforme pode ser
observado a seguir.

Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e


105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas


previstas no art. 129, I a VII;

III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,


previdência, trabalho e segurança;

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento


injustificado de suas deliberações.

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração


administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as


previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;
VII - expedir notificações;

VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente


quando necessário;

IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta


orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos


direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal ;

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou


suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais,


ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas
de maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046,
de 2014)

XIII - adotar, na esfera de sua competência, ações articuladas e efetivas


direcionadas à identificação da agressão, à agilidade no atendimento da
criança e do adolescente vítima de violência doméstica e familiar e à
responsabilização do agressor; (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
Vigência

XIV - atender à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência


doméstica e familiar, ou submetido a tratamento cruel ou degradante ou a
formas violentas de educação, correção ou disciplina, a seus familiares e a
testemunhas, de forma a prover orientação e aconselhamento acerca de seus
direitos e dos encaminhamentos necessários; (Incluído pela Lei nº 14.344,
de 2022) Vigência

XV - representar à autoridade judicial ou policial para requerer o afastamento


do agressor do lar, do domicílio ou do local de convivência com a vítima nos
casos de violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente;
(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência

XVI - representar à autoridade judicial para requerer a concessão de medida


protetiva de urgência à criança ou ao adolescente vítima ou testemunha de
violência doméstica e familiar, bem como a revisão daquelas já concedidas;
(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência

XVII - representar ao Ministério Público para requerer a propositura de ação


cautelar de antecipação de produção de prova nas causas que envolvam
violência contra a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº 14.344, de
2022) Vigência

XVIII - tomar as providências cabíveis, na esfera de sua competência, ao


receber comunicação da ocorrência de ação ou omissão, praticada em
local público ou privado, que constitua violência doméstica e familiar
contra a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022)
Vigência

XIX - receber e encaminhar, quando for o caso, as informações reveladas por


noticiantes ou denunciantes relativas à prática de violência, ao uso de
tratamento cruel ou degradante ou de formas violentas de educação, correção
ou disciplina contra a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei nº 14.344,
de 2022) Vigência

XX - representar à autoridade judicial ou ao Ministério Público para requerer a


concessão de medidas cautelares direta ou indiretamente relacionada à
eficácia da proteção de noticiante ou denunciante de informações de crimes
que envolvam violência doméstica e familiar contra a criança e o adolescente.
(Incluído pela Lei nº 14.344, de 2022) Vigência

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar


entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará
incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os
motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o
apoio e a promoção social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência (sem grifo no original)

Como exemplo da atuação dos conselheiros tutelares podemos citar trecho


de artigo publicado no site do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a qual
faz uma descrição detalhada de como é na prática a rotina do conselheiro tutelar.

O dia a dia desses profissionais é intenso. Os conselheiros tutelares estão


envolvidos em uma realidade de muitas violações e ameaças aos direitos de
crianças e adolescentes. Vale ressaltar que o Conselho Tutelar é uma
instituição municipal, o que faz com que a realidade e a rotina das situações
encontradas variem de acordo com a realidade de cada cidade.

O conselheiro tutelar, diante de um caso denunciado, agirá para dimensionar


a violação de direito com o objetivo de aplicar a medida de proteção que leve
a criança ou o adolescente a superar a situação vivenciada.

“No caso, por exemplo, de uma criança vítima de abuso sexual, precisamos
buscar a intervenção inicial da saúde, a fim de evitar uma gravidez indesejada
ou que se contraia uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), além dos
próprios danos físicos em razão do abuso”, explica um conselheiro tutelar do
Distrito Federal (DF)*.13

“Em seguida, precisamos comunicar a Polícia Civil para a investigação


criminal acerca do caso ou a Polícia Militar em caso de possível prisão em
flagrante. Depois, precisamos de um estudo multiprofissional sobre o caso. No
Distrito Federal, temos o Centro Integrado 18 de Maio, incumbido da escolta
especializada da criança ou adolescente vítima de violência. A partir disso,
vamos buscar a aplicação de medidas junto ao Colegiado com vistas a
superar a situação vivenciada, como, por exemplo, acompanhamento
psicológico”, detalha.

O conselheiro salienta ainda que o órgão não atende somente casos de


violência ou abuso sexual. Segundo ele, as violações podem ocorrer também
por parte do Poder Público, em casos de negligência. “Infelizmente, o abuso e
a violência sexual estão entre os casos mais frequentes. Mas a procura por
atendimento pela rede de saúde mental, devido à ausência de vaga em
creche, matrícula em escola distante do domicílio, vulnerabilidade
socioeconômica e falta de atendimento pela rede de saúde pública também
estão entre os nossos atendimentos mais comuns”, enumera o profissional.

Ante o exposto, observa-se que as normas estão todas postas, mas quem
realmente faz a diferença na defesa dos direitos da criança e do adolescente são os
profissionais que estão na base, quais sejam: o professor, o gestor, o agente de
saúde, o médico, dentre outros. Assim, para que se possa realmente proteger nossas

13
BRASIL. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.CONSELHOS TUTELARES: Saiba o que faz e
como é a rotina de um conselheiro tutelar, profissional essencial para proteger os direitos das crianças e
adolescentes. Disponível em https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2023/julho/saiba-o-que-faz-e-como-
e-a-rotina-de-um-conselheiro-tutelar-profissional-essencial-para-proteger-os-direitos-das-criancas-e-adolescentes.
Acesso em 05/07/2023.
crianças e adolescentes é indispensável um esforço conjunto tanto da família, quanto
do Estado e da própria Sociedade.

3. CONCLUSÃO

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