Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Renata
Nunes,
SANTOS,
Jacia
Soares
and
SANTIAGO,
Ana
Lydia
Bezerra.
Abordagem
clínico-‐pedagógica
do
mal-‐estar
das
crianças
frente
às
dificuldades
escolares.
In
Proceedings
of
the
7th
Formação
de
Profissionais
e
a
Criança-‐Sujeito,
2008
()
[online].
2009
[cited
24
September
2012].
I
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Fae/UFMG; integrante
do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Psicanálise e Educação - NIPSE e
professora da Fae-UEMG e da rede municipal de Belo Horizonte
II
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Fae/UFMG; integrante
do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Psicanálise e Educação e professora da
rede municipal de Belo Horizonte
III
Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Fae /UFMG e
Coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Psicanálise e Educação -
NIPSE
RESUMO
Saber o que fazer diante dos índices persistentes que anunciam o fracasso escolar
tem sido um desafio para as políticas públicas educacionais e para os profissionais
da educação há pelos menos quatro décadas. Desde a década de 1970, o fracasso
escolar tem se apresentado como um problema persistente, como se fosse um
fenômeno primo-irmão da universalização da educação básica. Se os altos índices
de reprovação escolar eram o desafio que se apresentava inicialmente, na
atualidade os índices de defasagem idade-série e os processos de avaliação
confirmam a precariedade do ensino na escola pública brasileira.
No decorrer desse tempo, já acumulamos muito saber sobre o fracasso escolar com
a elaboração de proposições que tentam fazer com que esse processo se reverta.
As gestões, principalmente as municipais, comprometidas com a qualidade da
escola pública, têm, nos últimos 20 anos, elaborado políticas públicas e
intervenções pedagógicas no sentido de enfrentar o problema. Podemos destacar
as propostas de avaliação diagnóstica, os ciclos de idade de formação – em
substituição à série –, a ampliação do tempo escolar, projetos de atendimento
extraclasse aos alunos com dificuldades de aprendizagem, investimento na
formação docente, criação do FUNDEB, proposições curriculares, para citar
algumas.
Nosso objetivo aqui é analisar o fracasso a partir daqueles que não aprendem;
aqueles que incomodam os profissionais da escola depois de esgotadas as
tentativas no ensino. Estes recebem diferentes nomes no decorrer de sua trajetória
escolar. Alguns efeitos do fracasso sobre os alunos já são conhecidos. O indivíduo
não sabe por que não aprende e não compreende o que acontece com ele, o que o
torna incapaz de atuar sobre a própria aprendizagem. Não há motivos aparentes ou
indícios que mostrem por que ele não consegue o sucesso na aquisição, por
exemplo, da leitura e da escrita (CORDIÈ, 2003). Por isso, para a psicanálise,
quando tudo falha depois de tudo ser tentado, podemos afirmar estar diante de um
sintoma, sintoma este que não se caracteriza como um disfuncionamento ou
patologia. Foi Freud (1926[1974]) quem deu ao sintoma outro estatuto,
diferentemente da tradição hipocrática, concebendo-o como uma formação do
inconsciente.
Falamos de sintoma sem falar de disfuncionamento, mesmo que este possa ser um
sintoma. Se estivermos no campo do Ideal, o sintoma significa algo que falha, que
disfunciona o laço social, rompendo a sua coesão, a sua harmonia, como nos diria
Durkheim. No Ideal, a lógica de funcionamento é o enquadramento de todos a um
modo de ser, homogêneo e único. Aqueles que não conseguem se enquadrar nesse
modo de funcionamento universal e ideal são chamados de esquisitos, estranhos,
disfuncionais e tantos outros nomes já conhecidos. Quando nos deslocamos dessa
relação com o Ideal, sintoma é funcionamento e nos revela a complexidade das
relações linguajeiras presentes no meio social, nas quais o sujeito está imerso. Isso
dá lugar a um espaço vago entre o Ideal coletivo e o sujeito, o que permite uma
investigação sobre o sintoma que ali se localiza (SANTIAGO, 2007).
Paulo tem oito anos e está cursando a terceira etapa do primeiro ciclo da Escola
Plural – o equivaleria à terceira série no sistema seriado. Foi encaminhado para
atendimento clínico-pedagógico com a queixa de que, mesmo com três anos de
escolarização, apresentava uma escrita pré-silábica. Na escola, era unânime a
crença de que Paulo não aprenderia a ler enquanto não reconhecesse as letras.
Assim, todos os esforços em sala de aula eram para que essa criança aprendesse a
nomear as letras.
Referências bibliográficas: