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APRENDIZAGEM II
As dificuldades
escolares e os
distúrbios de
aprendizagem
Claudio Luciano Dusik
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O crescimento das diferentes ciências, os avanços e as diferenciações teóricas
e metodológicas e a crescente construção do saber fizeram emergir uma série
de disciplinas e atuações profissionais. Com isso, nasce o encargo de revisar e
refletir o desenvolvimento teórico de cada área, para haver uma seleção dos
conhecimentos que se aproximam de uma prática cada vez mais eficaz.
Em relação à educação e à saúde, não é diferente. Distintas disciplinas,
como a biologia, a sociologia, a psicologia, a psicopedagogia e a epistemo-
logia, revisaram seus saberes e hoje tentam explicar e resolver problemas e
fenômenos que permeiam essas áreas, como as dificuldades e os distúrbios
de aprendizagem. Assim, surge a pergunta: do que depende a aprendizagem?
Sabe-se que os impedimentos de aprendizagem, se não forem adequadamente
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[...] a vasta comunidade científica que trabalha com transtornos mentais reco-
nhece que, anteriormente, a ciência não estava madura o suficiente para produzir
diagnósticos plenamente válidos — ou seja, proporcionar validadores científicos
consistentes, sólidos e objetivos para cada transtorno do DSM. A ciência dos
transtornos mentais continua a evoluir. Contudo, as duas últimas décadas desde
o lançamento do DSM-IV testemunharam um progresso real e duradouro em áreas
como neurociência cognitiva, neuroimagem, epidemiologia e genética. Em suma,
reconhecemos que os limites entre transtornos são mais permeáveis do que se
percebia anteriormente.
Uma criança pode achar que ir para a escola não é importante, pois
seus pais não conseguem mostrar essa importância.
Uma criança pode pensar que assim como seus pais não precisaram
estudar, ela também não vai precisar.
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Uma criança pode não aprender porque não sabe lidar com as leis e
as regras da vida.
Uma criança pode não aprender porque seus pais, na tentativa de
acertar, erraram ao não estabelecer regras e limites. Assim, não pos-
sibilitaram que a criança aprendesse a ser disciplinada.
Uma criança pode ter raiva da escola por acreditar que ela só vai para
lá para deixar sua mãe sozinha com seu irmãozinho.
Uma criança pode ter um problema de saúde que atrapalha sua apren-
dizagem escolar.
Uma criança pode ir mal na escola por ser muito desorganizada. Ela
esquece de fazer as tarefas, perde o material escolar, se atrasa na hora
de ir para a escola e sua vida vira uma bagunça.
Uma criança pode ser muito inteligente e aprender muitas coisas, mas
seu cérebro falha na hora de realizar aprendizagens específicas, como
leitura e escrita.
Uma criança pode não aprender porque está em uma escola onde a
forma de ensinar não está de acordo com sua forma de aprender.
Uma criança pode não compreender a importância do que está sendo
ensinado na escola porque o professor não lhe mostra como utilizar
aquele conhecimento na vida.
Uma criança pode não aprender porque o seu professor não sabe
ensinar.
Uma criança pode não aprender porque o seu professor não gosta da
sua profissão, e por isso pode não ser um bom profissional.
Essas situações são apenas alguns exemplos que podem surgir no contexto
avaliativo da dificuldade de aprender. Bossa (2007, p. 60) ainda destaca:
Só para você ter uma ideia, eu poderia ficar o dia inteiro escrevendo sobre as coisas
que podem atrapalhar uma criança na escola. Mesmo assim não terminaria. Por
isso, pode ser que o que atrapalha a criança na escola nem esteja escrito aqui. Mas
se ela está com dificuldades para aprender, certamente tem um bom motivo para
isso. O que o psicopedagogo pode fazer é descobrir esse motivo e ajudar você e
a escola a encontrarem formas de solucionar esse problema. Pode, ainda, evitar
que essas coisas cheguem a atrapalhar a aprendizagem escolar.
Por isso, tanto nas considerações caso a caso quanto em uma casuística
mais ampla, encontrar um fio condutor para explicar a multiplicidade de
sintomas é, às vezes, impossível, mesmo para os especialistas. Isso porque
essa complexa e ampla sintomatologia corre paralela à igualmente complexa
rede de possibilidades que a origina (BOSSA, 2000).
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Leitura recomendada
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