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Aprendizagem e Comportamento 7
1- Introdução
Muitas crianças são identificadas para os serviços de apoio com base em critérios
arbitrários, que se fundamentam quase exclusivamente em medidas de avaliação
psiquiátrica e psicológica (Fonseca, 1996).
Contudo, os dados da investigação neste domínio apontam para a
necessidade de uma intervenção atempada e um atendimento adequado, sob pena
de evoluírem posteriormente para trajectórias de risco que redundam em insucesso
e abandono escolar podendo mais tarde conduzir ao desemprego e à criminalidade
(Bairrão, 1998).
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2- Dificuldades de Aprendizagem
2.1. Definição
descreverem o que são as DA, podem ser usadas para desenvolver definições
operacionais que em termos práticos são fundamentais, para a identificação de
indivíduos DA (Hammill, 1990), uma vez que especificam as operações ou
procedimentos pelos quais o constructo das DA pode ser reconhecido e medido.
No entanto, embora existam várias definições conceptuais, para muitos
investigadores o campo das DA continua a necessitar de uma definição
operacional, dadas as reais dificuldades em diferenciar estudantes com DA de
estudantes com outros tipos de problemas escolares (Citoler, 1996).
Actualmente, a definição do NJCLD (“National Joint Committee on
Learning Disabilities”) é considerada a que reúne maior acordo e consenso
internacional (Hammill, 1990; Fonseca, 1996). A definição mais recente é a
seguinte:
“ Dificuldades de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo
heterogéneo de distúrbios manifestados por dificuldades significativas na
aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou competências
matemáticas. Estes distúrbios são intrínsecos ao indivíduo, presumivelmente
devem-se a disfunções do sistema nervoso central e podem ocorrer ao longo da
vida. Problemas na auto-regulação dos comportamentos, percepção social e
interacção social podem existir com as dificuldades de aprendizagem, mas não
constituem por eles próprios uma dificuldade de aprendizagem. Embora as
dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras
condições deficitárias (handicapping) (por exemplo, deficiências sensoriais,
deficiência mental, distúrbios emocionais sérios) ou com influências ambientais
(tais como diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada), elas não
são o resultado dessas condições ou influências” (NJCLD, 1994).
Esta definição oferece uma série de vantagens, uma vez que, segundo Shaw
et al. (1995, cit. in Citoler, 1996), é a definição mais descritiva das dificuldades de
aprendizagem e tem em conta o conceito das diferenças intra-individuais nas
diferentes áreas; especifica que as dificuldades de aprendizagem podem estar
presentes ao longo do ciclo de vida; estabelece que as dificuldades de
aprendizagem são uma condição primária, enquanto reconhece outras condições
de deficiência concomitantes; não exclui que pessoas com talento possam ter
dificuldades de aprendizagem e tem o apoio de uma grande variedade de
profissionais.
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3- Problemas de Comportamento
3.1. Definição
distúrbios no âmbito das escolas; por outro lado, a maioria destes problemas
questiona a prática docente, e o professor sente-se muitas vezes desorientado, sem
saber o que fazer, além de que muitos deles podem tornar-se permanentes e
impedir uma vida satisfatória à criança.
Da mesma forma, para Brophy (1996), são estes os alunos que requerem
mais tempo, energia, atenção e paciência dos seus professores e por várias razões
são frequentemente motivo de frustração para quem trabalha com eles. São alunos
aos quais é difícil ensinar, fazem progressos lentamente e muitas vezes necessitam
de uma intervenção especializada.
Não há uma percepção comum das manifestações ou causas que deverão
definir os problemas de comportamento, havendo pois pouca clareza quanto à sua
definição conceptual. Comportamentos semelhantes podem ter diferentes causas,
desde distúrbios metabólicos e do cérebro, até distúrbios situacionalmente
induzidos, associados a disfunções familiares (Stephens & Lakin, 1995). O próprio
termo é confuso, utilizando-se muitas vezes expressões diferentes que
aparentemente se referem ao mesmo conceito. Por outro lado há autores que
identificam os problemas comportamentais em função do limiar de tolerância dos
adultos nos contextos em que estes ocorrem. Segundo Hobbs (1982, cit. in Edgar
& Siegel, 1995), os problemas comportamentais podem definir-se como “ a
discord between the behavior of an individual and the tolerances of that
individual’s immediate environment” (pág. 254).
Existem pois, múltiplas etiologias para estes distúrbios que resultam num
amplo universo de manifestações comportamentais. Desta confusão deriva a
necessidade de se chegar a um consenso tanto no que respeita ao conceito usado
na definição, como no que respeita ao diagnóstico e intervenção.
Na avaliação dos distúrbios da infância e da adolescência colocam-se
problemas muito específicos. Em primeiro lugar tem-se constatado que
determinados comportamentos excessivos na infância (por ex: medos, birras)
apesar de serem relativamente frequentes, têm tendência a diminuir com a idade.
Em segundo há que ter em conta que os problemas de comportamento
(relacionado com o crescimento rápido da criança) tendem a atenuar-se com o
desenvolvimento (por ex. a mentira é um problema "normal" aos 6 anos e diminui
razoavelmente por volta dos 10 anos). Em terceiro, também devido às mudanças
desenvolvimentais, é possível que um problema possa desaparecer rapidamente
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mas ser substituído por outro. Por último, durante bastante tempo acreditou-se que
as crianças não pudessem apresentar certos distúrbios como é o caso da depressão
infantil, crença que a investigação veio a revelar como errada (Kazdin, 1989).
Além do mais, são geralmente os pais ou os professores que referem os
problemas e dão conta dos sintomas, constituindo um obstáculo à avaliação, uma
vez que se pode registar a interferência de outros factores como a percepção dos
próprios adultos e o seu grau de ansiedade face aos problemas e à própria criança
(Kazdin, 1989).
A diferença entre o normal e o patológico, bem como a problemática que
se prende com a identificação, definição e avaliação dos problemas de
comportamento tem sido desde há muito tempo, uma das preocupações centrais da
Psicopatologia, bem com de outras disciplinas, tais como a Psicologia da
Educação e a Psicologia do Desenvolvimento (Lopes, 1998,b).
A partir dos anos setenta, os problemas de comportamento, bem como
outras perturbações específicas da infância e da adolescência, começam a ser
objecto de uma ampla investigação, nomeadamente no âmbito da Psicopatologia
do Desenvolvimento, que de acordo com Achenbach (1992), procura estudar a
psicopatologia em relação com as mudanças mais significativas que ocorrem ao
longo do ciclo de vida. É uma abordagem dinâmica que oferece uma grelha
conceptual para organizar o estudo da psicopatologia em torno das sequências do
desenvolvimento físico, cognitivo, sócio-emocional e educacional. O
desenvolvimento é visto no quadro de um contexto alargado, onde múltiplas forças
(sociais, culturais e económicas) interagem (Richters & Cicchetti, 1993).
Para além de enfatizar o estudo dos processos desenvolvimentais ao longo
do ciclo de vida, a psicopatologia do desenvolvimento, dá também especial
atenção aos processos patológicos, uma vez que considera que estes podem dar
indicações valiosas sobre o modo como a sua ontogénese pode ser investigada e
compreendida (Achenbach, 1992).
Numa perspectiva tradicional, clínica, os problemas e alterações de
comportamento classificam-se como meros desvios da norma dominante num
determinado contexto social, sendo esses comportamentos perturbados,
qualitativamente distintos de outras perturbações, considerando-se a patologia
interna aos indivíduos (Hinshaw, Lahey, & Hart, 1993) e assumindo-se que existe
uma descontinuidade entre comportamento normal e patológico.
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1992; Prior, 1996), considerando-se que está em risco percurso escolar daquelas
crianças.
Não menos graves são as perturbações de comportamento internalizadas
associadas à timidez, medo, isolamento e dependência, sobre as quais se conhece
menos devido à sua natureza (Prior, 1996). Muitas vezes os pais e os professores
não se apercebem das dificuldades quer dos filhos quer dos alunos, pois estas
características atraem menos a atenção dos adultos. Estes problemas ocorrem mais
frequentemente nas raparigas, embora possam ocorrer nos rapazes numa fase
inicial da escolaridade ou, mais tarde, associados a comportamentos
exteriorizados. (Prior, 1996). São menos refractários ao tratamento do que os
comportamentos exteriorizados, não sendo por isso referenciados como os mais
comuns no estudo da psicopatologia da criança e do adolescente.
As crianças com estes problemas, principalmente aquelas com
perturbações de comportamento exteriorizadas, são geralmente referenciadas como
menos pró-sociais, menos socializadas e menos competentes em lidar com
situações conflituosas (Milich & Landau, 1989), evidenciando um relacionamento
social pobre e problemas com os pares. Geralmente estas crianças são descritas
como perturbadoras, agressivas e abusivas em situações sociais (ex. intrometem-se
inapropriadamente em actividades em curso, não respeitam as regras dos jogos e
utilizam soluções agressivas para problemas triviais). Em estudos que empregaram
medidas sociométricas relativamente a crianças com perturbações de
hiperactividade, encontrou-se resultados elevados no estatuto de rejeição pelos
pares (DuPaul, & Stoner, 1994). Este estatuto parece manter-se estável ao longo
do tempo, implicando uma situação crónica de dificuldades interpessoais.
Parece também existir evidência empírica de que o seu raciocínio social é
mais negativo, identificando com frequência comportamentos indesejáveis nos
pares, ou seja, avaliam de uma forma negativa situações sociais ambíguas, tendo
tendência a interpretar sistematicamente o comportamento do outro como
agressivo (Lopes, 1998,b; Kazdin, 1990).
As crianças com problemas comportamentais são frequentemente criticadas
pelos adultos e rejeitadas pelos pares, situação que conduz a que tenham uma
imagem deficiente de si próprias, reduzindo a sua auto-estima. O fracasso
sucessivo em vários domínios, acentua e eterniza os problemas motivacionais,
emocionais e interpessoais destas crianças.
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encontrados com mais frequência nos rapazes do que nas raparigas, estas por seu
lado, manifestam, mais frequentemente, a par das dificuldades de aprendizagem,
problemas de comportamento internalizados (Hinshaw, 1992; Prior, 1996).
Barkley et al. (1990, cit in Lopes, 1998,b) realçam o facto, de que estas
crianças correm severos riscos de abandono escolar, uma vez que apresentam uma
sub-realização académica que pode tornar-se crónica e apresentam também uma
taxa de retenção superior à das crianças normais.
5- Trajectória Desenvolvimental
literacia. Para inferir o nível de literacia de um indivíduo, não basta conhecer o seu
grau de ensino. É suposto que os níveis de literacia evoluam favoravelmente na
idade adulta, mas tal evolução depende dos contextos de vida dos indivíduos, que
podem proporcionar o desenvolvimento e manutenção dessas competências ou por
outro lado, a sua regressão e perda (Benavente, 1996)