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SÍNDROMES PATOLOGICAS NO CONTEXTO DOS PROCESSOS DO ENSINO E DA

APRENDIZAGEM

Prof. Esp. Irineu Junior

1 O QUE É APRENDIZAGEM
Existem diversos conceitos sobre o que é aprendizagem, porém, entendemos que pode
ser mais bem definida como um processo evolutivo e constante, que envolve um conjunto de
modificações no comportamento do indivíduo. Existem diversos fatores que são
fundamentais para que a aprendizagem ocorra: saúde física e mental, motivação,
maturação, inteligência, concentração e memória são alguns deles.
Quando algum desses fatores não se encontra ajustado, ou mesmo quando há uma
inadequação pedagógica, pode ocorrer uma dificuldade de aprendizagem.
A Aprendizagem é um processo que se realiza no interior do indivíduo e se manifesta
por uma mudança de comportamento relativamente permanente.

2 O QUE SÃO AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM, CONCEITUAÇÃO.


De acordo com a idade cronológica e o desenvolvimento maturacional da criança,
espera-se que ela apresente determinados comportamentos e habilidades. Uma dificuldade
de aprendizagem – seja ela acadêmica ou não – é definida quando a criança não se ajusta
aos padrões de comportamento de outras crianças da mesma faixa etária.
Historicamente, para Núnez Pérez e González-Pumariega (1998), até o final dos anos
60 e princípio dos anos 70, as investigações em torno do campo dos transtornos de
aprendizagem se centraram fundamentalmente no estudo dos aspectos cognitivos
(como, por exemplo, atenção, percepção e memória) que podiam conduzir os estudantes a
terem problemas para a realização de suas tarefas escolares.
No entanto, pouco a pouco, foram surgindo ideias para considerar o que pensam os
alunos quando enfrentam essas tarefas, o significado e sentimento que lhes atribuem, como
elementos que podem contribuir para uma melhor compreensão de como enfrentam as
atividades escolares. Dessa forma, novas pesquisas começaram a ser realizadas, surgindo
diferentes estudos sobre os aspectos psicológicos envolvidos nas dificuldades de
aprendizagem.
Nesta perspectiva, Núnez Pérez e González-Pumariega (1998) mencionam que,
dentro da dimensão cognitiva da aprendizagem, é concebido, com devida relevância, o
papel das variáveis, como as atitudes ou processos cognitivos, os conhecimentos prévios,
os estilos cognitivos, intelectuais e de aprendizagem, assim como as estratégias gerais e
específicas da aprendizagem; e as variáveis motivacionais mais importantes parecem ser
expectativas de realizações futuras do aluno.
Piaget afirmou que, mesmo para as aprendizagens mais elementares, toda
informação adquirida desde o exterior é sempre em função de um marco ou esquema
interno mais ou menos estruturado (Paín, 1985). É necessário um entendimento da
aprendizagem em sua dimensão mais ampla, englobando, principalmente, as respostas
afetivas das crianças (Mc Leod, 1989).
Barca Lozano e Porto Rioboo (1998) expõem um conceito de aprendizagem que
integra três aspectos:
 O primeiro é o de que a aprendizagem é um processo ativo, pois os alunos,
necessariamente, têm que realizar uma série de atividades para que os conteúdos possam
ser assimilados.
 O segundo menciona que a aprendizagem é um processo construtivo, porque as
atividades que os alunos realizam têm como finalidade a construção do conhecimento.
 O terceiro aborda a aprendizagem como um processo significativo, pois o aluno
deverá gerar estruturas cognitivas organizadas. Concebem, portanto, a aprendizagem como
um processo de assimilação/adaptação de hábitos, conceitos, acontecimentos, procedimentos
e atitudes, valores e normas; em que o sujeito adquire determinados esquemas
cognitivo/mentais provenientes do meio a que pertence, através de sua própria estrutura
cognitiva, com a finalidade de resolver tarefas e adaptar-se de forma ativa e construtiva.
Para os autores, as aprendizagens ocorrem em meio a cinco grandes áreas, sendo
as áreas “perceptiva/atencional, psicomotriz, linguística, sócio/afetiva e a do
pensamento lógico” (p.48). Consideram que é através dessas cinco áreas, que são
organizadas e estruturadas as aprendizagens básicas universais.
As últimas correspondem às funções superiores como linguagem, processos
perceptivos, de atenção e de memória, raciocínio, psicomotricidade, pensamento lógico e
desenvolvimento social, que têm um caráter universal, porque pode ser afirmado que todas
as pessoas dependem da aquisição desses tipos de aprendizagens,
independentemente da cultura a que pertencem. Por outro lado, deve-se pensar que
também é necessário que ocorra o desenvolvimento das aprendizagens básicas
instrumentais, que se referem a quatro grandes áreas: linguagem oral, leitura, escrita e
matemática/cálculo.
Para Prieto Sánchez (1998), quando alguns autores analisam as dificuldades de
aprendizagem, referem-se aos déficits ou transtornos de tipo neurológico,
incapacidades ou insuficiências que afetam direta ou negativamente o rendimento
acadêmico. Os estudos mais comuns da maioria dos autores, que tratam desse tema,
avaliam a discrepância que existe entre o nível de rendimento do aluno e o seu
desenvolvimento intelectual ou capacidade de raciocínio.
Fonseca (1995) comenta que, entre as inúmeras definições de dificuldades de
aprendizagem, a do National Joint Committee of Learning Disabilities – NJCLD, 1988, é a que
reúne maior consenso internacionalmente. Essa definição, para Fonseca (1995, p.71),
compreende o seguinte conteúdo:
 Dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo
heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e
utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático.
Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a
uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida.
Problemas na autorregulação do comportamento, na percepção social e na interação
social podem existir com as DA. Apesar das DA ocorrerem com outras deficiências (por
exemplo, deficiência sensorial, deficiência mental, distúrbios sócio emocional) ou com
influências extrínsecas (por exemplo, diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada
instrução, etc), elas não são o resultado dessas condições. Tal definição, na opinião do
autor, é extremamente complexa, agrupando uma variedade de conceitos, critérios, teorias,
modelos e hipóteses.
Do ponto de vista teórico de Almeida et al. (1995), é sabido que a conceituação e a
diferenciação entre distúrbios e dificuldades de aprendizagem têm causado polêmica, não
havendo consenso entre os diferentes autores quanto à sua etiologia.
Moysés e Collares (1992) apontam os distúrbios ou as dificuldades de aprendizagem
como implicados em alterações biológicas, orgânicas, individuais, envolvendo uma disfunção
neurológica. É necessário que se faça uma distinção entre os dois termos e acredita-se
que as dificuldades de aprendizagem, apesar de se manifestarem no sujeito que aprende,
não têm sua origem apenas nas características pessoais do aluno, envolvendo também
fatores relacionados ao núcleo familiar, à escola e ao meio social. Dessa forma, os
distúrbios referir-se-iam a alterações ou perturbações na aquisição do conhecimento,
cujas explicações encontrariam respostas na clínica e nos discursos médicos, uma vez que o
problema seria visto como uma entidade nosológica, como uma “doença” ou uma “disfunção”
(Almeida et al., 1995).
As autoras concluem que o termo dificuldades de aprendizagem não pode ser
entendido como distúrbio de aprendizagem. Comentam que o uso indiscriminado e
bastante disseminado dos termos distúrbios, dificuldades, perturbações ou disfunções de
aprendizagem leva, muitas vezes, a rotulações que não contribuem para a compreensão,
prevenção e minimização dos problemas que podem ocorrer na relação ensino-
aprendizagem.
Acreditam que a imensa maioria dos problemas de aprendizagem, apontados pela
escola, não constituem uma “doença”, uma patologia neurológica, pois se fosse esse o
caso, estaria referindo-se a uma verdadeira epidemia. As dificuldades de aprendizagem
seriam decorrentes de uma constelação de fatores (internos e/ou externos) de ordem
pessoal, familiar, emocional, pedagógica e social que só adquirem sentido quando
relacionados à história das relações e interações do sujeito com o seu meio, inclusive e,
sobretudo, o escolar.
García Sánchez (1998) cita que as dificuldades de aprendizagem afetam crianças,
jovens e adultos e não constituem um único problema, mas um conglomerado de
problemas heterogêneos de dificuldades não acadêmicas com uma base principal na
linguagem (processos fonológicos, morfológicos, processamento verbal na memória,
processos visuais e auditivos, etc.), e dificuldades acadêmicas na leitura, na escrita, no
soletrar e na matemática.
Menciona que essa condição é diferente do baixo rendimento produzido por outras
causas como por fatores ambientais; déficits sensoriais ou motores; dificuldades de atenção
no controle dos impulsos ou hiperatividade; falta de motivação para aprender e outros
transtornos do desenvolvimento.
Dockrell e McShane (1997) apreciam que as dificuldades de aprendizagem podem ser
relativas a uma dificuldade específica, conforme ocorre quando uma criança tem problemas
em alguma área particular como a leitura; ou pode tratar-se de uma dificuldade geral, como
ocorre quando a aprendizagem é mais lenta que o normal em uma série de tarefas.

3 O QUE CAUSA AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM, FATORES ETIOLÓGICOS

Principais causas das dificuldades de aprendizagem

Causas físicas – São aquelas representadas pelas perturbações somáticas transitórias ou


permanentes. São provenientes de qualquer perturbação do estado físico geral da criança/
como, por exemplo: febre, dor de cabeça, dor de ouvido, colícas intestinais, anemia, asma,
verminoses e todos os males que atinjam o físico de uma pessoa, levando-a a um estado
anormal de saúde.

Causas sensoriais – são todos os distúrbios que atingem os órgãos dos sentidos, que são os
responsáveis pela percepção que o indivíduo tem do meio exterior. Qualquer problema que
afete os órgãos responsáveis pela visão, audição, gustação, olfato, tato, equilíbrio, reflexo
postural, ou os respectivos sistemas de condução entre esses órgãos e o sistema nervoso,
causará problemas no modo de a pessoa captar as mensagens do mundo exterior e, portanto,
dificuldade para ela compreender o que se passa ao seu redor.

Causas neurológicas – são as perturbações do sistema nervoso, tanto do cérebro, como do


cerebelo, da medula e dos nervos. O sistema nervoso comanda todas as ações físicas e
mentais do ser humano. Qualquer distúrbio em uma dessas partes se constituirá em um
problema de maior ou menor grau, de acordo com a área lesada.

Causas emocionais – são distúrbios psicológicos, ligados às emoções e aos sentimentos


dos indivíduos e à sua personalidade. Esses problemas geralmente não aparecem sozinhos,
eles estão associados a problemas de outras áreas, como por exemplo, da área motora,
sensorial etc.

Causas intelectuais ou cognitivas – são aquelas que dizem respeito à inteligência do


indivíduo, isto é, à sua capacidade de conhecer e compreender o mundo em que vive, de
raciocinar sobre os seres animados ou inanimados que o cercam e de estabelecer relações
entre eles.

Causas educacionais – o tipo de educação que a pessoa recebe na infância irá condicionar
distúrbios de origem educacional, que a prejudicarão na adolescência e na idade adulta, tanto
no estudo quanto no trabalho. Portanto, as falhas de seu processo educativo terão
repercussões futuras.

Causas socioeconômicas – não são distúrbios que se revelam no aluno. São problemas que
se originam no meio social e econômico do indivíduo. O meio físico e social exerce influência
sobre o indivíduo, podendo ser favorável ou desfavorável à sua subsistência e também às
suas aprendizagens.
Todas essas causas originam distúrbios, que irão constituir-se nos diferentes
problemas de aprendizagem.
A presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica necessariamente em
um Transtorno de Aprendizagem. Os Transtornos de Aprendizagem compreendem uma
inabilidade específica com a leitura, escrita ou matemática em indivíduos que apresentam
resultados significativamente abaixo do esperado para o seu nível de desenvolvimento,
escolaridade e capacidade intelectual.
Os Transtornos de Aprendizagem, como a dislexia, a discalculia, entre outros,
interferem no processo de aquisição e manutenção de informações de uma forma acentuada
provocando perturbações (distúrbios) mais acentuadas no aprender da criança do que as
dificuldades de aprendizagem.

4 DIS + TURBARE = alteração violenta da ordem natural da aprendizagem

No Distúrbio ou Transtorno de aprendizagem, há a presença de uma disfunção


neurológica, que pode envolver imaturidade, lesões específicas do cérebro, fatores
hereditários e ou disfunções químicas. Devido à forma irregular que as habilidades mentais se
desenvolvem, aparecem discrepâncias marcantes entre a capacidade e a execução nas
tarefas acadêmicas.
São características marcantes dos Distúrbios de Aprendizagem:
– início do comportamento ou atraso sempre na infância;
– o transtorno está sempre ligado à maturação biológica do sistema nervoso central;
– curso estável;
– as funções afetadas incluem geralmente a linguagem, habilidades viso-espaciais e/ou
condições motora;
– há uma história familiar de transtornos similares e fatores genéticos têm importância na
etiologia (conjunto de possíveis causas) em muitos casos.
Segundo estimativas da Organização Psiquiátrica Americana, a prevalência dos
Transtornos da Aprendizagem, variam entre 2 a 10% na população, dependendo da natureza
da averiguação e das definições aplicadas e estes podem persistir até a idade adulta.
Os principais Transtornos de Aprendizagem são os de Leitura e Escrita, de Cálculo, o
Transtorno do Déficit de Atenção e/ou Hiperatividade e o Transtorno não Verbal de
Aprendizagem.
O diagnóstico desses Transtornos deve ser realizado por profissionais especializados e
experientes, em uma equipe multiprofissional que garanta também o planejamento e a
intervenção objetivando minimizar os efeitos de tais distúrbios sobre a vida da criança.
5 TIPOS BÁSICOS EM LEITURA E ESCRITA

- Dislexia: é a dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser fluente, pois faz
trocas ou omissões de letras, inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá pulos de linhas ao ler
um texto, etc. Estudiosos afirmam que sua causa vem de fatores genéticos, mas nada foi
comprovado pela medicina.
- Disgrafia: normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz trocas e inversões
de letras, consequentemente encontra dificuldade na escrita. Além disso, está associada a
letras mal traçadas e ilegíveis, letras muito próximas e desorganização ao produzir um texto.

- Discalculia: é a dificuldade para cálculos e números, de um modo geral os portadores não


identificam os sinais das quatro operações e não sabem usá-los, não entendem enunciados
de problemas, não conseguem quantificar ou fazer comparações, não entendem sequências
lógicas. Esse problema é um dos mais sérios, porém ainda pouco conhecido.

- Dislalia: é a dificuldade na emissão da fala, apresenta pronúncia inadequada das palavras,


com trocas de fonemas e sons errados, tornando-as confusas. Manifesta-se mais em pessoas
com problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino.

- Disortografia: é a dificuldade na linguagem escrita e também pode aparecer como


consequência da dislexia. Suas principais características são: troca de grafemas,
desmotivação para escrever, aglutinação ou separação indevida das palavras, falta de
percepção e compreensão dos sinais de pontuação e acentuação.

- TDAH: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de ordem


neurológica, que traz consigo sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de
concentração e impulsividade. Hoje em dia é muito comum vermos crianças e adolescentes
sendo rotulados como DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção), porque apresentam alguma
agitação, nervosismo e inquietação, fatores que podem advir de causas emocionais. É
importante que esse diagnóstico seja feito por um médico e outros profissionais capacitados.

6 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA


É normal que as crianças exibam alguns dos sintomas desta lista. Uma dificuldade de
aprendizagem pode ser possível, se muitos desses comportamentos estiverem presentes e se
persistirem além da idade na qual esses erros são típicos.

6.1 Escrita
• antipatiza com a escrita e evita aprendê-la;
• as tarefas escritas são curtas ou incompletas, frequentemente, caracterizadas por sentenças
breves, vocabulário limitado;
• atrasos na aprendizagem da escrita;
• cópia imprecisa;
• dificuldade em preparar esboços gerais e organizar o trabalho escrito.
• dificuldade para recordar as formas das letras e dos números;
• em testes, é mais bem-sucedido em questões de múltipla escolha do que em ensaios
• erros bizarros de ortografia (não-fonéticos); o estudante pode ser incapaz de decifrar a
própria escrita;
• espaçamento desigual entre letras e palavras;
• fraca ortografia (escreve foneticamente);
• frequentes inversões de letras e números;
• idéias nas tarefas escritas são mal organizadas, não logicamente apresentadas;
• não consegue localizar erros no próprio trabalho;
• omissão de letras das palavras e de palavras das sentenças;
• os trabalhos escolares são sujos e incompletos; muitas rasuras e apagamentos;
• persistem problemas com a gramática;
• pouco desenvolvimento do tema; os estudantes estão mais propensos a escrever listas
rápidas de pontos ou eventos do que a oferecer detalhes ou desenvolver idéias, personagens
ou trama;
ou preenchimento de espaços em branco.

6.2 Leitura
• a compreensão para o que está sendo lido é consistentemente fraca ou deteriora-se,
quando as sentenças se tornam mais longas e mais complexas;
• antipatiza com a leitura, evitando-a.
• atrasos significativos para aprender a ler;
• com frequência, perde-se durante a leitura;
• confunde letras de aparência similar (b e d, p e a);
• confunde palavras de aparência similar (preto e perto);
• dificuldade com conceitos matemáticos de nível superior.
• dificuldade na citação de nomes de letras;
• dificuldade para analisar sequências de sons; erros frequentes de sequência (como ler
“sabe” como “base”);
• dificuldade para reconhecer e recordar palavras que vê (mas pode pronunciá-las
foneticamente);
• fraca compreensão das idéias principais e dos temas;
• fraca memória para a palavra impressa ( também para sequências de números, diagramas,
• fraca retenção de novas palavras no vocabulário;
• inverte as palavras (lê mala por lama);
• lê muito lentamente. A leitura oral deteriora-se após algumas sentenças (devido ao declínio
na capacidade para recuperar rapidamente sons da memória);
• problemas para associar letras a sons, discriminar os sons nas palavras, mesclar sons para
formar palavras;
• tem problemas para encontrar letras em palavras ou palavras em sentenças;
• tenta “adivinhar” palavras estranhas, ao invés de usar habilidades de análise da palavra;
ilustrações, etc.);

6.3 Problemas relacionados


• “faz uma salada” de mensagens telefônicas; entende mal o que é ouvido no rádio ou na TV;
• antipatia por quebra-cabeças, labirintos ou outras atividades com um forte elemento visual;
• confunde esquerda e direita;
• dificuldade com o raciocínio verbal; pode entender todas as palavras no provérbio “Pedra
que rola não cria limo”, mas ser incapaz de explicar o que isso significa; pode considerar difícil
extrair conclusões lógicas;
• dificuldade para apresentar uma história ou instruções em uma ordem lógica;
• dificuldade para fazer comparações e classificar objetos ou idéias;
• dificuldade para iniciar ou manter uma conversa.
• dificuldade para julgar velocidade e distância (interfere em muitos jogos; pode ser um
problema ao dirigir um veículo);
• dificuldade para perceber estratégias que garantam a sucesso em jogos (pode não
compreender o objetivo).
• dificuldade para recordar informações ou produzir fatos ou idéias, quando solicitado;
• fraco planejamento e habilidades de organização;
• fraco senso de direção; demora a aprender o caminho correto em local novo;
• frequentemente perde as coisas; não consegue localizar objetos “bem à sua frente”;
• não capta o humor e os sentimentos de outras pessoas (frequentemente, acaba dizendo as
coisas erradas no momento errado);
• problemas para entender trocadilhos e piadas; pode não detectar gozações;
• tem dificuldade para “chegar ao ponto”; perde-se em detalhes;
• tem dificuldade para estimar a hora, para ser pontual;
• tipos de problemas encontrados na aprendizagem da língua materna tendem a ser repetidos
ao estudar uma língua estrangeira;

7 DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

O diagnóstico e a intervenção das dificuldades de aprendizagem envolvem


interdisciplinaridade em pelo menos três áreas: neurologia, psicopedagogia e psicologia,
para possibilitar a eliminação de fatores que não são relevantes e a identificação da causa
real do problema.
Alguns sintomas podem ajudar os profissionais da escola a perceberem os sinais da
Dificuldade de Aprendizagem, a partir da pré-escola e durante todo trajeto escolar da criança:

– Persistentes problemas na área da Linguagem: de articulação, aquisição lenta de


vocabulário, restrito interesse em ouvir histórias, dificuldade em seguir instruções orais,
soletração empobrecida, dificuldade em argumentar, problemas em redigir e resumir, etc.;
– Problemas com a Memória: dificuldades na aprendizagem de números, dos dias da
semana, em recordar fatos, em adquirir novas habilidades, em recordar conceitos, na
memória imediata e de longo tempo, etc.;
– Atenção: dificuldade em concentrar-se em algo que não seja de seu interesse pessoal, de
planejar, de autocontrole, impulsividade, atenção inconstante, etc;
– Problemas com a Motricidade: problemas na aquisição de comportamentos de autonomia
(ex. amarrar os cordões do tênis); relutância para desenhar; problemas grafo-motores da
escrita (forma da letra, pressão do traço, etc); escrita ilegível, lenta ou inconsistente;
relutância em escrever;
– Lentidão na aquisição das noções de espaço e tempo, domínio pobre de conceitos
abstratos; dificuldade na planificação de tarefas; dificuldades na realização de tarefas
acadêmicas, provas, etc; dificuldade de aquisição de novas aprendizagens cognitivas;
problemas sociais.
Dockrell e McShane (1997) explicam que, para o entendimento das dificuldades de
aprendizagem, devem-se compreender três aspectos que englobam a tarefa, a criança e o
ambiente e a análise de cada um deles tem algo a contribuir para o tratamento das
dificuldades de aprendizagem. Também é importante que sejam inseridos os métodos que
avaliam as habilidades cognitivas, assim como outros atributos psicológicos relevantes.
Se analisarmos a tarefa ou as tarefas nas quais a criança apresenta dificuldades,
temos que compreender quais seriam as habilidades necessárias para uma atuação com
êxito. O objetivo da análise da tarefa é o de decompô-la em uma série de tarefas menores.
Quando são conhecidas essas séries de tarefas, pode ser determinado em que medida
uma criança que apresenta uma dificuldade pode realizar cada uma das subtarefas. Desse
modo, tenta-se o mais precisamente possível identificar a natureza da dificuldade.
Pode-se considerar, por exemplo, uma criança que tem dificuldades para escrever as
letras. Cada letra pode ser decomposta nas linhas que a compõem e a forma em que se
conectam entre si. Se a criança não conseguir traçar as linhas, pode ser decidido trabalhar
o aperfeiçoamento de tal habilidade, porém, se ela conseguir traçar as linhas
razoavelmente bem, a intervenção pode ser concentrada na habilidade para juntar essas
linhas com a orientação apropriada para formar as letras.
No que se refere ao ambiente, ele representa o contexto externo no qual é manifestada
a dificuldade infantil; é onde há a interação criança e tarefa. Compreender o papel do
ambiente pode ser muito importante na relação com as dificuldades de aprendizagem,
pois as crianças que as têm, podem ser mais dependentes do ambiente do que as que não as
apresentam, já que estas podem ser mais fortes para combaterem as situações ambientais
que podem ter um sério efeito nas crianças que apresentam um baixo rendimento.
Compreender o ambiente é importante em dois sentidos: ele pode, em alguns casos,
ser um fator importante que contribua para os problemas das crianças; e também, pode
não contribuir para a dificuldade, sendo possível, às vezes, modificá-lo para que seja
facilitada a aquisição da habilidade de que a criança necessita.
Talvez a maioria das dificuldades de aprendizagem seja resultado de problemas
educativos ou ambientais que não estão relacionados às habilidades cognitivas da criança.
As recentes pesquisas sobre o pensamento do professor e o processo de alfabetização
têm fornecido informações e novos conhecimentos tanto sobre o papel e a atuação dos
professores, quanto sobre o processo de ensino-aprendizagem (Teberosky e Cardoso, 1991).
Para Assis (1990), a conduta dos professores em sala de aula também é um dos
fatores que contribui de forma diferente e inter-relacionada para a configuração do
desempenho escolar de uma criança, mas, dificilmente, pode ser especificado o “quantum”
dessa influência e pouco se tem de conhecimento sobre ela.
O papel do adulto, em uma situação de aprendizagem, é fundamental, porque ele é o
intermediário entre a criança e o objeto de conhecimento; é ele que veicula esse objeto,
tal como a mãe que medeia a relação do bebê com o mundo. Assim sendo, se a relação com
o adulto for positiva, é mais provável que a criança receba bem o que virá dele; e, se for
negativa, é provável que veja com desconfiança ou mesmo rejeite o que lhe é oferecido por
ele.
O professor até pode auxiliar o aluno a entender a relação existente entre
pensamentos, motivação, emoção e conduta, ajudando a desenvolver sentimentos de
controle sobre os resultados acadêmicos que os alunos obtêm, propiciando que as
expectativas deles sejam mais positivas, de modo a afetar positivamente o rendimento.
As crianças, que têm dificuldades de aprendizagem, necessitam de intervenções para
que desenvolvam uma imagem positiva baseada na percepção de si mesmas como
pessoas capazes de aprender e de serem os agentes dessa aprendizagem, o que repercute
favoravelmente tanto sobre sua conduta acadêmica, como também sobre a afetiva e social,
contribuindo para a formação de uma personalidade mais equilibrada e madura (Núnez Pérez
e González-Pumariega, 1998).
Basicamente, o professor tem três opções:
1. Intensificar a instrução para a preparação. O professor pode providenciar auxílio
adicional
em áreas nas quais a criança está apresentando atraso. A instrução adicional pode ser
oferecida por um professor, um auxiliar na sala de aula, um pai uma mãe ou voluntários, ou
um professor assistente.
2. Tentar diferentes métodos e materiais de instrução. O professor pode ver se o
aluno responde às atividades ou aos materiais diferentes daqueles que estão sendo usados
pelo restante da classe. Um aluno que não se saiu bem na aprendizagem de letras e números
em um caderno, por exemplo, poderá ter sucesso se lhe pedirem para recortar esses
números ou letras e colá-los em folhas de papel.
3. Reduzir a carga escolar. Se a criança parece sobrecarregada por demandas para
absorver coisas demais muito cedo, o professor pode tornar mais lento o ritmo da instrução e
manter seu foco sobre as habilidades mais importantes para o sucesso na primeira série do
Ensino Fundamental (geralmente, habilidades de pré-leitura, de contagem e de escrita). Essa
forma de intervenção dá aos alunos um espaço para a construção de uma sólida base escolar
em seu próprio ritmo.

8 SINAIS DE ALERTA EM CASA E NA ESCOLA


Uma vez que as dificuldades de aprendizagem são definidas como problemas que
interferem no domínio de habilidades escolares básicas, elas só podem ser formalmente
identificadas até que uma criança comece a ter problemas na escola.
A criança não apenas deve estar passando por problemas dessa ordem, sendo
possível haver “uma séria discrepância” entre a capacidade intelectual de um estudante e
suas conquistas escolares, antes que a presença de uma dificuldade de aprendizagem possa
ser confirmada. A maioria das escolas não sugere uma avaliação a menos que uma criança
esteja um ano atrasada na leitura, na escrita ou na matemática em relação ao nível de sua
série.
A identificação de dificuldades de aprendizagem envolve horas de observação, de
entrevistas e de avaliação individualizada; ela consome tempo, é intensiva e, portanto, é um
processo lento. Portanto, quando um aluno começa a ficar para trás, as escolas com
frequência recomendam uma abordagem de “esperar para ver”, tentando meios tradicionais
de “auxílio extra” por um ano ou dois, antes de decidirem-se por uma ação adicional.
Entretanto, o que tal prática significa, na realidade, é que as crianças com dificuldades
de aprendizagem geralmente precisam enfrentar suas dificuldades por anos antes de ser
feito um esforço intensivo para descobrir-se o melhor meio de ajudá-las. Infelizmente,
quanto mais tempo uma dificuldade de aprendizagem permanece sem reconhecimento, mais
provável é que os problemas de um aluno comecem a aumentar. A frustração e o embaraço
por causa do fraco desempenho começam a destruir a motivação e a autoconfiança da
criança. As expectativas são reduzidas, e o entusiasmo pela educação é perdido.
Nossa finalidade aqui é discutir os mais precoces sinais de alerta de dificuldades de
aprendizagem, de modo que você saiba quando uma avaliação é necessária. Alguns
problemas nas seis áreas descritas a seguir serão observáveis bem antes do início da
escolarização, enquanto outros se tornarão mais óbvios depois que a criança começa a
estudar.
Ocasionalmente, esses comportamentos podem indicar outro problema que não uma
dificuldade de aprendizagem. Todos, contudo, devem ser considerados como um sinal de que
algo está errado – e, se existirem problemas em diversas das áreas discutidas aqui, uma
avaliação para dificuldades de aprendizagem não deverá ser adiada.
O aluno pode executar muitas dessas tarefas na lista a seguir antes de iniciar a pré-
escola, desta forma ele estará preparado para o sucesso na escola. As habilidades restantes
precisarão ser desenvolvidas durante a pré-escola, para que o sucesso na primeira série
seja promovido.
Se os atrasos persistirem além do ingresso na escola, os pais e professores não
deverão hesitar em solicitar uma intervenção precoce. O primeiro passo é ajudar o
professor da criança a identificar as habilidades que apresentam atraso.

• Canta musiquinhas do alfabeto.


• Reconhece e dá nomes às letras do alfabeto.
• Identifica palavras que rimam. Acrescenta uma palavra que rima no lugar apropriado em
uma história.
• Identifica se as palavras ditadas começam com o mesmo som ou com um som diferente.
• Bate palmas de acordo com o número de sílabas ouvido em uma palavra.
• Reconhece e dá nomes a cores, objetos e partes comuns do corpo.
• Diz seu nome completo, idade, endereço, número de telefone e data de aniversário.
• Compreende o vocabulário e histórias apropriadas à idade.
• Recita rimas infantis familiares.
• Reconhece sequências completas (p. ex., café da manhã, almoço, ___; ontem,
hoje,_______).
• Faz analogias completas (p. ex., durante o dia é claro, à noite é __; pássaros voam, peixes
___).
• Pode responder a várias formas de questões, tais como “quanto” (“Quantos olhos você
tem?”); “qual” (“Qual é mais lento [mais longo, mais]?); “onde” (“Onde as pessoas compram
gasolina?”); “a quem” (“A quem você procura quando está doente?”); “o quê” (“O que você
faz quando está com fome?”); “por que” (“Por que precisamos do fogão?”); “o que...se” (“O
que acontece se esquentamos seu sorvete?”).
• Expressa relacionamentos opostos (“De que modo uma colher e um copos são diferentes?”).
• Conta histórias simples que contêm diversos personagens interagindo.
• Obedece a instruções simples de duas ou três etapas, como “Calce suas botas, pegue sua
jaqueta e entre no carro”.
• Tem sucesso em jogos simples, que exigem concentração e combinação de figuras por
meio
da memória.
• Reconhece o nome por escrito.
• Escreve o próprio nome.
• Reconhece alguns sinais comuns ou rótulos por suas formas (McDonald’s, Coca-Cola).
• Seleciona e cita nomes de objetos por categoria: alimentos, vestuário, animais.
• Recita e reconhece números até 10.
• Conta grupos de objetos, até 10 ou mais.
• Combina conjuntos iguais de objetos, como três triângulos e a mesma quantidade de
círculos.
• Aponta para posições em uma série: começo, meio, fim; primeiro, segundo, último.
• Reconhece e cita nomes de formas comuns, como círculos, quadrados e triângulos.
• Copia desenhos: círculo, cruz, quadrado, X, triângulo.
• Copia letras e palavras simples.
• Desenha casa, pessoa, árvore reconhecíveis como tais.
• Recorta uma figura razoavelmente perto da borda.
• Veste-se com razoável independência.
• Ata os sapatos.
• Usa o garfo e a colher adequadamente; corta os alimentos macios com a faca.
• Geralmente, conclui atividades próprias à idade (tais como montar um quebra-cabeças,
escutar uma história curta, fazer um objeto com argila), ao invés de abandonar a atividades
pela metade.
• Desenvolve amizades e brinca cooperativamente com outras crianças.
Se for necessário, essas estratégias podem ser continuadas na primeira série. Porém,
se o estudante não respondeu a esses métodos no meio da primeira série, uma avaliação
para dificuldades de aprendizagem é apropriada.

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