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FRACASSO

ARTIGOESCOLAR:ESPECIAL
DUAS VERTENTES

DUAS VISÕES PSICOPEDAGÓGICAS


SOBRE O FRACASSO ESCOLAR

Lúcia Gracia Ferreira

RESUMO - Esse artigo faz uma análise reflexiva de duas visões


psicopedagógicas (social/pedagógica e psicanalítica) sobre o fracasso escolar.
Nesta análise, procuramos compreender a aprendizagem e as dificuldades
de aprendizagem, esta última é possível causadora do fracasso escolar.
Também ressaltamos a importância da abordagem psicopedagógica para a
compreensão do insucesso do aluno na escola, pois esta abordagem se insere
na área de estudos responsável pela compreensão das dificuldades de
aprendizagem. A partir desse estudo entendemos que a psicopedagogia dá
respostas para alguns problemas que surgem no aluno, durante o processo
de aprendizagem, mas que o maior problema está na educação. Portanto,
acreditamos que quando houver melhoria na educação, também haverá
melhoras no processo de aprender.

UNITERMOS: Psicologia educacional. Baixo rendimento escolar.


Transtornos de aprendizagem.

Lúcia Gracia Ferreira - Mestranda em Educação e Correspondência


Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Lúcia Gracia Ferreira
Bahia-UNEB/Salvador. Especialista em Linguagem: Travessa Um, nº 65 - Nova Itapetinga – Itapetinga –
pesquisa e ensino pela Universidade Estadual do BA – CEP: 45700-000
Sudoeste da Bahia/Campus de Vitória da Conquista. E-mail: luciagraciaferreira@bol.com.br
Pedagoga pela Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia/Campus de Itapetinga.

Rev. Psicopedagogia 2008; 25(77): 139-45

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FERREIRA LG

INTRODUÇÃO “o sujeito que não aprende não realiza


O presente artigo pretende oferecer alguns nenhuma das funções sociais da educação,
subsídios para a reflexão de duas visões diferentes acusando sem dúvida o fracasso da mesma, mas
e possíveis indicadoras do fracasso escolar. Com sucumbindo esse fracasso. A psicopedagogia,
o intuito de compreender porque o aluno não como técnica da condução do processo
aprende, o artigo vem também apresentar uma psicológico da aprendizagem, traz com seu
pesquisa analítica, calcada nos fundamentos de exercício o cumprimento de ambos os fins
autoras como Maria Lúcia Weiss e Alicia educativos.”
Fernández, visto que estas autoras enfatizam em Para a compreensão das Dificuldades de
suas obras os entraves no aprender, como uma Aprendizagem (DA’s), torna-se necessário
causa participante do Fracasso Escolar. conhecer a origem dessas, pois este é um fator
As dificuldades de aprendizagem acabam por importante para compreendermos a criança no
provocar o fracasso escolar e, a psicopedagogia, processo de aprender. Para Fonseca3, dificuldade
como abordagem que estuda o processo de de aprendizagem é:
aprendizagem, age para a superação dessas “Um termo geral que se refere a um grupo
dificuldades sob um caráter institucional ou heterogêneo de desordens manifestas por
clínico. dificuldades significativas na aquisição e
O fracasso escolar nos remete a um “olhar utilização da compreensão auditiva, da fala,
atento”. Um olhar que procure vislumbrar o da leitura, da escrita e do raciocínio mate-
sensível que está oculto. Veremos a visão mático. Tais desordens, consideradas intrín-
psicanalítica a respeito do fracasso, definida por secas ao indivíduo, presumindo-se que sejam
uma das autoras como sintoma, e diferenciá-la devidas a uma disfunção do sistema nervoso
da segunda visão que dá ao fracasso outro central, podem ocorrer durante toda a vida.
conceito. Problemas de auto-regulação do compor-
Falar em fracasso escolar não é muito atraente, tamento, na percepção social e interação social
mas é uma questão que precisa ser discutida e podem existir com as DA’s. Apesar das DA’s
solucionada. Por isso, esse estudo tem o objetivo ocorrerem com outras deficiências (por exemplo,
de analisar duas visões psicopedagógicas sobre deficiência sensorial, deficiência mental,
o fracasso escolar. distúrbios socioemocionais) ou com influências
extrínsecas (por exemplo, diferenças culturais,
ENTENDENDO AS DIFICULDADES DE insuficiente ou inadequada ou inapropriada
APRENDIZAGEM instrução, etc.), elas não são o resultado
Faz-se necessário, para se reconhecer em dessas condições.”
uma criança a dificuldade de aprendizagem, Por meio desse conceito é possível perceber a
primeiramente entender o que é aprendizagem complexidade do termo e o vasto campo de
e quais os fatores que nela interferem. Sisto1 atuação das DA’s. Essas crescem cada vez mais e
define a aprendizagem como aquisição de uma absorvem uma diversidade de problemas
habilidade ou informação baseada nas estruturas educacionais e acontecimentos externos.
intelectuais existentes. Sendo as DA’s problemas enfrentados pelas
Pode-se dizer que a aprendizagem é um crianças no processo de aprender, que podem
processo complexo que se realiza no interior do estar relacionadas à própria dinâmica do
indivíduo e se manifesta em uma mudança de comportamento, Sisto1 argumenta que o termo
comportamento. Assim, é o desenvolvimento dificuldades de aprendizagem engloba um
cognitivo que determina a aprendizagem (Paín2). grupo heterogêneo de transtornos, manifes-
A partir desse conceito, reconhecemos que no tando-se por meio de atrasos ou certos tipos de
processo de aprendizagem: dificuldades.

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O mesmo autor fala da importância de olhar sendo obrigadas a adaptar-se às condições


os aspectos orgânicos, cognitivos, emocionais, antagônicas das salas de aula. Ainda as DA’s
sociais, afetivos e pedagógicos, que levam o têm como ponto desencadeador dois tipos de
aluno a não aprender. Segundo ele, os fatores problemas: o da escola (reativo) e o da criança
externos e internos são os responsáveis pelas (sintoma)2,4.
DA’s. Ainda para o autor as dificuldades de
aprendizagem são vistas pelos pais e professores, A ABORDAGEM PSICOPEDAGÓGICA
no primeiro caso porque são os que convivem A Psicopedagogia é a abordagem que
constantemente com as crianças, e que tanto um investiga e compreende o processo de apren-
quanto o outro são pessoas que podem dar dizagem e a relação que o sujeito aprendente
informações que ajudarão no diagnóstico e no estabelece com a mesma, considerando a interação
tratamento da mesma. dos aspectos sociais, culturais e familiares. O
Segundo Fonseca 3 , as DA’s podem ser psicopedagogo articula contribuições de áreas
primárias ou secundárias: as primárias são as como a Psicologia, Pedagogia e Medicina, entre
que não têm causa atribuída a elementos outras, com o objetivo de por à disposição do
psiconeurológicos bem esclarecidos – dis- indivíduo a construção do seu conhecimento e a
funções cerebrais e, dentro dessas disfunções, retomada do seu processo de aprendizagem. E,
teríamos Transtorno da Leitura, Transtorno da ainda, busca possibilitar o florescimento de novas
Matemática, Transtorno da Expressão Escrita e necessidades, de modo a provocar o desejo de
Transtornos da Linguagem Falada (englobam aprender e não somente uma melhora no
o Transtorno da Linguagem Expressiva e o rendimento escolar.
Transtorno Misto da Linguagem Receptivo- Os primeiros Centros Psicopedagógicos
Expressiva) e, as secundárias, que são origi- originaram-se na Europa, a partir da segunda
nadas de fatores biológicos específicos e alte- metade do século XX, e atendiam pessoas que
rações comportamentais e emocionais – dentre apresentavam DA’s, isso pela coerência de
as alterações biológicas (neurológicas) teríamos conhecimentos pedagógicos e psicanalíticos5.
as lesões cerebrais, Paralisia Cerebral, Epile- Nessa época, nos EUA, esse movimento
psia e Deficiência Mental. Acrescenta ainda os entendia as DA’s como sendo de fundo biológico,
sistemas sensoriais, através da Deficiência Audi- o que possibilitou o surgimento de muitas
tiva, hipoacusia, deficiência visual e ambliopia. definições para distinguir aqueles que aprendiam
Ainda sobre as causas biológicas, as situa- dos que não aprendiam. E, assim, na Europa teve
ções de DA são conseqüentes a outros pro- origem a Psicopedagogia que influenciou a
blemas perceptivos que afetam a discrimi- Argentina, que passou a usar a reeducação para
nação, síntese, memória e relação espacial e cuidar das pessoas portadoras de DA’s, sendo que
visualização. nos EUA o movimento estimulou a Psicologia
As principais causas das DA’s são: causas Escolar.
físicas, sensoriais, neurológicas, intelectuais ou De acordo com Bossa6, o objeto de estudo da
cognitivas, socioeconômicas e emocionais Psicopedagogia é o próprio processo de
(principal). As DA’s levam as crianças a ficarem aprendizagem e seu desenvolvimento normal e
mais frágeis, tendo um baixo nível de estímulo e patológico em contexto. Estejam estes
confiança, que pode levá-las a falta de motivação, relacionados com o mundo interno ou externo,
isolamento, crises de angústia, estresse e, até sem deixar de lado os aspectos cognitivos, afetivos
mesmo, à depressão. e sociais que estão envolvidos no processo de
Muitas vezes, as DA’s são reações incom- aprendizagem.
preendidas de crianças biologicamente (neu- A autora afirma que o objeto de estudo deve
rologicamente) normais, mas que estão ser entendido a partir de dois enfoques: o enfoque

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de caráter preventivo, que esclarece sobre as A primeira perspectiva é a sociedade, onde


características das diferentes etapas do levamos em consideração, como agentes
desenvolvimento e o enfoque de caráter influenciadores na educação, a cultura, as
terapêutico, que identifica, analisa e elabora o condições e relações político-sociais e econô-
diagnóstico e tratamento das DA’s. micas vigentes, o tipo de estrutura social, as
Scoz7 concebe o psicopedagogo como atuante ideologias dominantes, etc. A sociedade priva
ora na área clínica, ora na institucional, mas muitos aprendentes de aprender, tirando-lhes
explicita que ambas estão atreladas ao processo oportunidades de crescimento cultural, de
de aprendizagem. Nesse sentido, este desenvolvimento da linguagem e da construção
profissional está ligado historicamente à cognitiva.
educação. Weiss9 afirma que se priva o aprendente do
Visca8 foi um dos primeiros psicopedagogos desenvolvimento da linguagem, priva-o ao
que se preocupou com a epistemologia da mesmo tempo do acesso ao desenvolvimento
Psicopedagogia e propôs estudos baseados no da leitura e da escrita, e que as condições
que se chamou de epistemologia convergente, socioeconômicas e culturais influenciarão nos
resultado da assimilação recíproca de conhe- aspectos físicos de alunos pobres, pois eles estarão
cimentos fundamentados no construtivismo, expostos a vários tipos de doenças que poderão
estruturalismo construtivista e no interacionismo. deixá-los com deficiência na aprendizagem.
Esses estudos deram subsídios à psicopedagogia A segunda perspectiva é a escola, que
brasileira. contribui e muito para o fracasso escolar de seus
Hoje, a Psicopedagogia abre caminhos para a alunos. A falta de profissionais qualificados, a
articulação de saberes, contribuindo para a carência de material didático, carência na
educação do Terceiro Milênio, promovendo a estrutura física e pedagógica, a má qualidade
uniformidade e a junção dos diferentes conhe- de ensino, tudo isso faz com que a escola
cimentos sobre o ensinar e o aprender. seja um agente contribuinte dos problemas de
Então, a Psicopedagogia surgiu para aprendizagem e do fracasso escolar. Mas esse é
preencher um espaço vazio deixado pela Psico- um problema que precisa da contribuição social
logia e pela Pedagogia no que tange as suas e também educacional.
dificuldades em explicitar questões ligadas à Temos que reconhecer que falta nas escolas
aprendizagem. o estímulo para ensinar e aprender, e o reco-
É evidente que a Pedagogia, não dando nhecimento de que somos todos aprendentes.
conta da demanda, necessite de um saber Que, a cada minuto, todos os indivíduos contri-
articulado à Psicologia, para superação do saber buem para a construção da história geral, da
marginalizado - marginalizado porque a história do seu país, da sua sociedade, da sua
sociedade despreza todo saber que não atende a escola, da sua família, e principalmente para a
uma determinada norma. história do próprio sujeito. Reconhecemos que
todos nós somos capazes de produzir conhe-
A VISÃO SOCIAL SOBRE O FRACASSO cimento, e que a falta de oportunidade para
ESCOLAR construir feri o ontológico de sermos sujeitos da
Para Weiss9, o não-aprender na escola é uma nossa história.
das causas do fracasso escolar. A autora ressalta O saber docente criado pela classe dominante
que essa questão é também bem mais ampla. Ela também é um agente que impede o saber
considera como fracasso escolar uma resposta aprender, pois muitas vezes quem decide se os
insuficiente do aluno a uma exigência ou saberes do professor valem ou não são grupos
demanda da escola, e ela estuda a questão por distantes do dia-a-dia de sala de aula, ou seja,
diferentes perspectivas. são “profissionais de gabinete”, que mudam

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constantemente de opinião, provocando, Para Fernández 4, no processo de apren-


assim, a má condução do processo ensino- dizagem, o sujeito aprendente está em contato
aprendizagem. Essas interferências no processo com os recursos cognitivos, mas não somente
ensino-aprendizagem prejudicam não só o estes, e não somente mentais. Estão em contato
professor, que tem que se adaptar constantemente também com a sua história afetiva desejante, sua
às mudanças, mas também o aluno, que mesmo corporeidade, sua estrutura orgânica, suas
sem saber tem que aprender a aprender e relações com os colegas e professores.
aprender a se adaptar aos retoques e acréscimos Para ela, o problema de aprendizagem não se
feitos por esses profissionais. Esses retoques e origina na estrutura individual. O sintoma se
acréscimos provocam no aluno dificuldades de funde em uma rede particular de vínculos
aprendizagem e, conseqüentemente, o fracasso familiares, que se entrecruzam com uma também
escolar. particular estrutura individual. Esta condição
O fracasso escolar é também oriundo da má interna de aprendizagem está ligada à história
condução do processo de ensino, pois o processo pessoal e familiar do sujeito aprendente. O não
educativo mal conduzido causa indisciplina. Isto aprender por parte do aluno tem a ver com
porque, por uma particular situação vincular aspectos afetivo-relacionais vivenciados e que
ou social vivenciada pelo indivíduo, desenca- afetam a construção do conhecimento.
deiam-se processos que levam a indisciplina, Para Fernández4, muitas vezes, o fracasso
principalmente em sala de aula, e a situação escolar pode intervir como fator desencadeante
vivenciada pode também ter sido provocada pelas de um problema de aprendizagem que, de outro
carências da escola e pelo professor. A indisciplina modo, não teria aparecido.
é prejudicial ao aluno a ponto de provocar o seu Sara Paín2 diferencia problema reativo de
fracasso na escola, pois a disciplina é um agente aprendizagem de problema de aprendizagem
necessário para a construção do saber. sintoma. As causas do problema reativo de
A terceira perspectiva está ligada ao aluno aprendizagem estão na estrutura física da escola,
enquanto aprendente, isto é, às suas condições na falta de material didático, na má motivação
internas de aprendizagem. A autora nos leva a dos professores em função dos salários e do
olhar para os aspectos orgânicos, cognitivos, cansaço físico, na exaustão das crianças que
emocionais, sociais e pedagógicos que levam o exercem tarefas em casa ou trabalham para ajudar
aluno a não aprender. Segundo ela, os fatores na renda familiar, enfim, numa situação externa
externos e internos são os responsáveis pelo aversiva pouco propícia ao estabelecimento de
fracasso escolar. um espaço pedagógico que estimule a vontade
de aprender. Trata-se de uma rede de fatores
A VISÃO PSICANALÍTICA SOBRE O sociopolíticos. Então, problema reativo de
FRACASSO ESCOLAR aprendizagem é o que decorre de uma reação
Na visão psicanalítica de Alícia Fernández4, desmotivadora em relação ao aprender.
o indivíduo em processo de aprendizagem que Fernández4 salienta que as causas do fracasso
apresenta dificuldades no aprender pode estar escolar não podem ser delegadas exclusivamente
desenvolvendo um mecanismo único para a fatores externos ao aprendiz. Trata-se de uma
suportar as alterações de sua história emocional. situação na qual o aluno está diante de um es-
Assim, pode-se entender o fracasso como sendo paço físico com certa estrutura e não apresenta
um sintoma escolar (segundo a autora), ou seja, problemas orgânicos aflitivos, mas, em função dos
um tipo de obstáculo no aprender que desenvolve obstáculos de caráter afetivo e relacional, a sua
uma interseção de aspectos sociais, culturais, dimensão cognitiva (inteligência) é prejudicada,
familiares, orgânicos, pedagógicos, como também atrapalhada em seu curso, o que faz com que este
fatores afetivos e intrapsíquicos. sujeito apresente DA’s ou até mesmo regrida em

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relação às competências já alcançadas, CONCLUSÃO


caracterizando assim o problema “sintoma” de Então, fazendo uma análise comparativa entre
aprendizagem. Vejamos que o problema de as autoras, a psicopedagogia de orientação
aprendizagem sintoma é gerado através da psicanalítica, segundo Fernández 4, é apre-
história pessoal do sujeito, geralmente criado pela sentada como alternativa para o entendimento
rede vincular familiar, enquanto que o “reativo” é da dimensão afetiva e desejante do sujeito
criado dentro da própria escola. aprendente, e Weiss9 adota a psicopedagogia de
Fernández4 salienta que: orientação que é mais pedagógica, e que se
“(...) o olhar, a escuta e a intervenção apresenta como alternativa para entendimento
psicopedagógica devem estar direcionados à dos fatores externos e internos, que influenciam
modalidade de aprendizagem em relação à tanto o sujeito aprendente, quanto o sujeito
modalidade de ensino, que surge das posições ensinante. Mas ambas visões apresentam
subjetivas entre o aprendente e o ensinante frente soluções/tratamento para os problemas de
ao conhecimento, no decorrer da construção da aprendizagem e também para o fracasso
história de vida do sujeito no ato de aprender, escolar.
tendo como finalidade a autoria do pensamento, Devemos lembrar que as autoras citam em
que é a descoberta da originalidade, da suas obras o que elas acham que ocasionam o
diferença, da marca, e a partir daí, abrir espaços fracasso escolar de acordo com pesquisas
para a criatividade.” psicopedagógicas, que elas fizeram tanto em
Ainda, para a autora4, “o sintoma problema seus consultórios, quanto em escolas. Mas isso,
de aprendizagem toma a inteligência como na visão psicopedagógica, é mais psico do que
terreno onde o aprender e o pensar estão pedagógico.
comprometidos, a inteligência é uma prisioneira Talvez se a parte pedagógica das escolas
muito particular ”. Assim, entendemos que se sofresse uma reforma ou fosse ao menos revisada,
não há autoria de pensamento, a aprendiza- grande parte dos problemas causadores do
gem fica lenta ou inexistente; aprisiona-se fracasso escolar seria resolvida.
inteligência. Houve, neste estudo, o empenho em delinear
Winnicott10 diz que “há crianças cujo intelecto uma reflexão analítica de educação que, ao
é impedido pela ansiedade e trabalha em regime propiciar emancipação subjetiva, promova,
de sobrecarga, novamente devido a algumas concomitantemente, saúde psíquica e física,
perturbações emocionais”. Fernández4 afirma que estando ciente da necessidade de que ela precisa
“os aspectos de amor e sustentação, ainda que só resgatar no aluno o desejo de aprender e de
sejam visíveis quando se colocam como obstáculo, transformar a si e ao mundo.
são as condições necessárias para que qualquer A educação é importante também para a
aprendizagem seja possível”. continuidade na transmissão do saber. A
Assim, os fatores internos, ou seja, fatores educação em si não é perfeita, como relata
afetivos são os principais responsáveis pelo Kupfer11 em sua bibliografia, expressando a
fracasso escolar, pois estes bloqueiam o aprender. opinião de Freud - educar é impossível.

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FRACASSO ESCOLAR: DUAS VERTENTES

SUMMARY
Two psychopedagogical points of view on the failure school

In this article, the author does a reflexive analysis of two


psychopedagogical points of view (social/pedagogical and psychoanalytic)
on the school failure. In this analysis, we tried to understand the learning
and the learning difficulties; this last one as possible origin of the school
failure. We also emphasized the importance of the psychopedagogic approach
for the understanding of the student’s failure in the school, because this
approach interferes in the area of responsible studies for the understanding
of the learning difficulties. To leave of that study we understood that the
psychopedagogy gives answers for some problems that appear in the student,
during the learning process, but that the largest problem is in the education.
Therefore, we believed that when there is improvement in the education,
there will also be improvements in the process of learning.

KEY WORDS: Psychology, educational. Underachievement. Learning


disorders.

REFERÊNCIAS 6. Bossa N. A psicopedagogia no Brasil: contri-


1. Sisto FF. Dificuldades de aprendizagem. In: buições a partir da prática. Porto Alegre:
Sisto FF, Boruchovitch E, et al. orgs. Artes Médicas;2000.
Dificuldade de aprendizagem no contexto 7. Scoz B. Psicopedagogia e realidade escolar,
psicopedagógico. Petrópolis:Vozes;2001. o problema escolar e de aprendizagem.
2. Paín S. Diagnóstico e tratamento dos Petrópolis:Vozes;1994.
problemas de aprendizagem. Porto Alegre: 8. Visca J. Clínica psicopedagógica: a episte-
Artes Médicas;1985. mologia convergente. Porto Alegre: Artes
3. Fonseca V. Introdução às dificuldades de Médicas; 1987.
aprendizagem. 2ª ed. Porto Alegre:Artes 9. Weiss ML. Psicopedagogia clínica: uma
Médicas;1995. visão diagnóstica dos problemas de apren-
4. Fernández A. A inteligência aprisionada: dizagem escolar. 8ª ed. Porto Alegre: DP&A;
abordagem psicopedagógica clínica da 1994.
criança e sua família. Porto Alegre:Artes 10. Winnicott DW. Natureza humana. Rio de
Médicas; 2001. Janeiro:Imago;1971.
5. Mery J. Pedagogia curativa escolar e 11. Kupfer MC. Freud e a educação: o mestre
psicanálise. Porto Alegre:Artes Médicas;1989. do impossível. São Paulo:Scipione;2001.

Este trabalho é fruto de um estudo teórico realizado Artigo recebido: 12/03/2008


durante o curso de Pedagogia na disciplina Psicologia Aprovado: 27/07/2008
da Educação II, Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia/Campus Itapetinga.

Rev. Psicopedagogia 2008; 25(77): 139-45

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