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A ARTE NO ATENDIMENTO ESCOLAR ESPECIALIZADO:

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ENTRE REFLEXÕES E POSSIBILIDADES

Daiane Marcelino Cabral da Silva - FAEL 1


Orientador: Profº MsC. Gilmar Dias - FAEL 2

RESUMO

É na Educação Infantil onde acontecem os primeiros contatos com a rotina escolar.


Na pré-escola, através do relacionamento interpessoal das crianças, principalmente
durante as brincadeiras, já é possível identificar se a criança apresenta necessidades
educacionais especiais. Nesse sentido, o aluno precisará de um apoio mais
específico. Para tal, o objetivo deste trabalho é fomentar a participação do especialista
da sala de atendimento escolar especializado em apoio ao professor regente na
solução de problemas no processo de ensino-aprendizagem através da arte. Apesar
da notória discriminação e consequente exclusão social, existem pessoas que lutam
por direitos iguais. E foi a partir dessa luta que surgiram as primeiras políticas públicas
em favor dos deficientes. Ao se acreditar na possibilidade de educação, novos
projetos surgiram e foram aperfeiçoados ao longo dos anos. Entretanto, a arte-
educação ainda não é bem difundida em nosso país. Neste trabalho, a arte é, então,
apresentada como uma opção valiosa na superação de dificuldades, principalmente
em relação a conceitos abstratos. Algumas leis e documentos que servem como
suporte para a Educação Inclusiva são apresentadas e discutidas, visando esclarecer
os direitos de acesso e permanência desses alunos nas instituições de Educação
Básica no Brasil. Tendo o educador um papel fundamental na formação do cidadão,
fica clara a necessidade de mais pesquisas que garantam uma educação igualitária e
de qualidade para todos.

Palavras-chave: AEE. Educação Infantil. Educação Inclusiva. Artes.

1
Aluna do curso de pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado – Licenciada em Ciências
Biológicas pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) e em Pedagogia pela Faculdade Educacional
da Lapa (FAEL). E-mail: daiane@marcelino.com.br.
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Adm. de Empresas, Matemático, Tecnólogo em Processos Gerenciais, Pedagogo pela UFPR, Mestre em
Educação pela UTP, Especialista em Educação a Distância, Especialista em Adm. Financeira e Informatização e
professor da pós-Graduação da FAEL. E-mail: gilmar.dias@fael.edu.br.
1 INTRODUÇÃO 2

Brincar faz parte da vida e do cotidiano das crianças, sendo de grande


importância para o seu desenvolvimento. Considerando que é na Educação Infantil
que são construídas as primeiras vivências e experiências, é necessário um olhar
sensível para propor ações que envolvam brincadeiras que possibilitem o
desenvolvimento integral da criança.
Crianças em idade pré-escolar, entre 4 e 5 anos, já aprendem a desenhar seus
nomes e a reconhecer letras e números. Algumas têm o apoio dos familiares para
melhorarem seu desempenho, mas muitas dependem exclusivamente do professor
para adquirir esse conhecimento.
No caso de crianças com dificuldades de aprendizagem, as necessidades
educacionais não se limitam ao apoio familiar e do professor, mas exigem um
especialista no ambiente escolar que proponha atividades específicas de acordo com
as suas necessidades, objetivando a superação das suas dificuldades e limitações.
Nesse sentido, o especialista da sala de Atendimento Escolar Especializado
(AEE) busca propostas para a superação das dificuldades em apoio ao professor
regente. Para tal, a arte é uma ferramenta acessível, pois, além de trazer o prazer da
diversão, é capaz de estimular a criatividade, promover a interação e minimizar as
dificuldades encontradas por crianças com Necessidades Educacionais Especiais
(NEE).
O objetivo deste trabalho é fomentar a participação do especialista da sala de
AEE em apoio ao professor regente na solução de problemas no processo de ensino-
aprendizagem através da arte.
2 FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA E DO AEE NA EDUCAÇÃO
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INFANTIL

A discriminação e consequente exclusão de pessoas com deficiências de


qualquer natureza pode ser evidenciada desde os princípios da história humana.
Porém, Urbanek e Ross (2011) afirmam que, com a evolução da sua história, a
humanidade passou a criar acordos de respeito e compreensão de todas as raças e
credos, entendendo que a inclusão social das pessoas com necessidades especiais
está alicerçada na concepção dos direitos humanos.
Apesar de todos os acordos e legislações existentes em favor da inclusão, a
realidade na prática não acontece dessa forma. Ainda é possível observar atitudes e
posicionamentos preconceituosos, mesmo no ambiente escolar.
Para alunos de licenciaturas, o primeiro contato com uma turma como docente
ocorre durante o período de estágio. E já nessa primeira experiência é possível
observar atitudes preconceituosas, mesmo em turmas da educação infantil. As
crianças com alguma deficiência, ou alguma diferença mais marcante, geralmente são
deixadas de lado, principalmente por não conseguirem acompanhar as atividades e
brincadeiras realizadas pelas demais crianças. Em turmas com crianças um pouco
mais velhas pode-se acrescentar apelidos, brincadeiras de mau gosto e, até formas
de violência física.
As pessoas com deficiência sempre estiveram presentes na sociedade, porém
não eram consideradas dignas de conviver em sociedade. Não havia a preocupação
com a sua educação, portanto as diferenças tornavam-se ainda maiores. E assim foi
por longos anos. Dicher e Trevisam (2008) afirmam que apenas no princípio do século
XIX, embora ainda não se cogitasse sobre a efetiva integração das pessoas com
deficiência na sociedade, deu-se início a uma nova e boa fase para estes, pois a
sociedade começou a assumir sua responsabilidade quanto a essas pessoas.
Percebe-se, então, que só a partir do momento que surge alguma forma de
preocupação com as pessoas com necessidades especiais, que sua consequente
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inclusão passa a ser possível.
No Brasil, Urbanek e Ross (2011) consideram o pioneirismo da educação
especial como datado da época do Império, quando foram criadas as primeiras
instituições com esse objetivo no Rio de Janeiro. Tanto Urbanek e Ross (2011) quanto
Pagnez e Sofiato (2014) relatam que primeiro foi criado um centro para meninos cegos
(atual Instituto Benjamim Constant – IBC), depois um para surdos mudos3 (atual
Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES). Apenas na década de 20 as
pessoas com deficiência intelectual foram alcançadas e na década de 40, as pessoas
com superdotação.
Todas essas instituições podem ser consideradas um avanço na educação
inclusiva, ainda que apresentassem certa insuficiência no atendimento prestado
devido ao pouco conhecimento que se tinha na época. Entretanto, o pouco
conhecimento não deve ser considerado uma barreira. Para Passos, Bastos e Gomes
(2011), a educação inclusiva trouxe para a educação como um todo a inserção de
novos conceitos e terminologias, bem como novas responsabilidades. Nesse sentido,
a busca pelo conhecimento e pela informação garantiu maior qualidade na educação
especial e inclusiva ao longo dos anos.
As diretrizes da educação inclusiva não surgiram sem fundamentos. Urbanek e
Ross (2011) afirmam que essas referências surgiram em decorrência de ações
públicas, culturais, sociais e pedagógicas cobradas pelos cidadãos inconformados
com a segregação existente nos diversos níveis da sociedade, onde se defendia o
direito de todos serem educados juntos, sem nenhuma forma de discriminação.
Percebe-se, portanto, que apenas após uma iniciativa popular é que projetos
começaram a ser desenvolvidos no sentido da inclusão escolar.

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Atualmente o termo surdo mudo foi substituído apenas por surdo, pois entende-se que as pessoas surdas não
falam porque não aprenderam a falar. Poucos são os surdos que realmente são mudos. Trata-se de um erro
devido à falta de conhecimento do significado correto de ambas as palavras, erro este que é totalmente
compreensível na época do Império no Brasil, período em que se tinha conhecimento mínimo sobre o assunto.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), ou
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simplesmente LDB, é o documento que define a educação especial como sendo uma
modalidade de educação que transpõe todas as etapas e níveis de ensino. Brasil
(1996) indica, ainda, que a educação básica tem como finalidade o desenvolvimento
do educando, garantindo uma formação considerada comum e indispensável para o
exercício da cidadania e fornecendo meios para a progressão, tanto no trabalho
quanto em estudos posteriores.
Atualmente, o país dispõe de vários projetos que visam a educação das
pessoas com necessidades especiais. Nesse sentido, Urbanek e Ross (2011)
reafirmam a crença no que eles denominam de “educabilidade” e nas possibilidades
da pessoa portadora de necessidades especiais, sejam elas de qualquer natureza,
aprender a se comunicar, desenvolver hábitos, habilidades e atitudes para interagir
socialmente e, também, para produzir alguma modalidade de trabalho.
Percebe-se, portanto, que sendo oferecida uma oportunidade, ainda que a
pessoa tenha alguma necessidade especial, torna-se possível realizar atividades que
gerem interação e conhecimento. Portanto, evidencia-se, aqui, a participação efetiva
do especialista da sala de AEE em apoio ao professor regente, o qual nem sempre
tem o conhecimento necessário para atender alunos com essas características.
A educação inclusiva é fundamentada em leis e documentos que estão
disponíveis até mesmo na internet. Um desses documentos é o que registra a Política
Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, o qual afirma
que:

Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento


educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos
estudantes, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino. Deve ser
realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro
especializado que realize esse serviço educacional (BRASIL, 2008, p.12).

Sendo esse serviço considerado obrigatório nos sistemas de ensino, preza-se


pela formação adequada com capacitação de profissionais para ofertarem esse
atendimento de forma satisfatória e que proponham atividades que se enquadrem nas
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necessidades de cada aluno. Para tal, a arte evidencia a possibilidade de alcançar a
todos, independente da necessidade específica, de forma prazerosa e eficiente.
O processo de inclusão escolar requer planejamento, porém não é um processo
penoso. Passos, Bastos e Gomes (2011) afirmam que a inclusão de crianças com
quaisquer deficiências, sejam de natureza física, sensorial, intelectual e/ou
comportamental, só se tornou operacional em consequência de sua inserção nas
salas de aula comuns ou, em alguns casos, nas salas de recursos multifuncionais, as
quais estão disponíveis nas escolas de educação básica das instituições públicas de
ensino do Brasil, onde se faz necessária a prestação de serviços de apoio pedagógico
especializado para esse processo inclusivo.
Nesse contexto, fica explícito o desafio que o professor especialista da sala de
AEE encontra ao organizar seus projetos de apoio. Porém, com dedicação e boas
referências, é possível superar esse desafio.

3 INCLUSÃO ATRAVÉS DA ARTE

A arte é uma expressão que permite várias definições e interpretações,


dependendo do contexto ao qual está inserida. Sendo assim, adotaremos nesta
pesquisa uma das definições presentes no Dicionário Priberam de Língua Portuguesa,
a saber: “[...] 9. Produção de obras, formas ou peças, orientada por um ideal estático
ou com o objetivo de expressar subjetividade ou transmitir um conceito ou uma
mensagem [...]” (ARTE, 2008-2013).
Essa definição foi escolhida, pois reafirma o objetivo da utilização da arte no
processo de ensino-aprendizagem, já que visa transmitir um conceito. O conceito
existe e é definido, porém a utilização da arte vai facilitar o entendimento do conceito
para as crianças com NEE.
Até o presente momento, nota-se que a utilização da arte no ambiente escolar
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ainda não tem sua devida importância e valorização. Segundo Reily (2010), o número
de livros publicados no Brasil, até 2010, que abordavam o uso da arte como forma de
educação de públicos especiais não chegava a uma dezena. Para a autora, a
sociedade a qual estamos inseridos ainda atribui valores desiguais aos conteúdos
escolares, de tal forma que os conhecimentos de língua portuguesa, matemática,
ciências, história e geografia são considerados de maior importância, enquanto
educação física e artes, incluindo artes plásticas, música, teatro e dança, ficam em
segundo plano, não havendo grande incentivo quanto arte na escola.
Sendo assim, pode-se dizer que pouco se conhece sobre os benefícios da arte
no processo de educação inclusiva. Para Reily (2010), a precariedade dos registros e
divulgação das atividades profissionais na área de artes é latente, pois muitas das
experiências bem-sucedidas neste sentido que já foram realizadas, não tiveram sua
divulgação de forma eficiente. Por este motivo, considera-se de fundamental
importância a busca por referências acerca desse assunto e sua divulgação de forma
ampla para auxiliar o especialista da sala de AEE em suas atividades específicas
utilizando a arte como ferramenta de superação.
A arte está presente na humanidade desde os primórdios. Em várias partes do
mundo é possível encontrar registros históricos de alguma forma de comunicação
através de pinturas rupestres, as quais são consideradas uma forma de arte.
Puccetti (2005) defende que a arte e a educação estão relacionadas de forma
dinâmica, inspiradas por teorias que apresentam formas de compreensão do homem
e do mundo. Dessa forma, fica claro que não apenas é possível, mas é também viável
a utilização da arte na educação de crianças com NEE.
A arte tem papel fundamental na sociedade e na cultura desde sempre. Vieira
(2017) defende que ela oferece formas distintas de comunicação, oportunizando a
expressão e o desenvolvimento da criatividade. Nesse sentido, favorece a
socialização e auxilia no desenvolvimento psicomotor, colaborando com o processo
de ensino/aprendizagem. Em se tratando de crianças, a socialização ocorre,
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principalmente, por meio das brincadeiras.
O lúdico deve estar presente no processo educacional, pois contribui para um
melhor desenvolvimento social e individual, sendo estes fatores considerados
essenciais para a formação de conceitos. Segundo Almeida:

A educação lúdica é uma ação inerente na criança e aparece sempre como


uma forma transacional em direção de algum conhecimento, que se redefine
na elaboração constante do pensamento individual em permutações
constantes com o pensamento coletivo (1995, p.11).

Nesse sentido, a arte está totalmente envolvida no processo de ludicidade,


trazendo inúmeros benefícios para os alunos que participam dessas atividades.
Entretanto, deve-se entender como essa relação de arte-educação pode ser
estabelecida para que não sejam gerados prejuízos ao invés de superações. Nesse
sentido, Puccetti (2005, p. 3 apud CASTANHO, 1982) relaciona a arte com a
construção da linguagem onde ocorre interação entre o racional e o sensível,
afirmando que no fazer artístico se fazem presentes “processos mentais de raciocínio,
memória, imaginação, abstração, comparação, dedução, generalização, indução e
esquematização”.
Todos esses processos são fundamentais para a aquisição de conhecimento.
Ao produzir de forma artística, seja com pinturas, composições, leituras, danças ou
quaisquer outras formas de arte, a criança se torna capaz de estruturar o sentir e o
pensar. Conceitos que poderiam ser considerados abstratos e de difícil
contextualização passam a fazer mais sentido com a utilização da arte. Sendo assim,
o objetivo da educação através da arte é alcançado.

4 METODOLOGIA

O presente trabalho se enquadra em uma proposta de pesquisa do tipo


bibliográfica com enfoque qualitativo.
A pesquisa bibliográfica é considerada de grande valor para um trabalho
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científico. Pizzani et al. (2012) a definem como sendo um trabalho investigativo
minucioso, o qual encontra-se em busca do conhecimento e oferece o
embasamento considerado fundamental para a pesquisa em sua totalidade.
Gomides (2002, p. 7) sugere como primeiro passo a definição do problema
de pesquisa, o qual “consiste em dizer de maneira explícita, clara, compreensíve l
e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos
resolver”.
Vidigal et al. (2016) oferecem algumas orientações de como formular um
problema de pesquisa de forma eficiente, onde suas principais recomendações
sugerem que o problema deve ser formulado em forma de pergunta, de forma clara
e precisa, com base empírica, sendo possível de solução e delimitado a uma
dimensão considerada viável.
A etapa seguinte foi a de coleta de dados, a qual buscou referências que
oferecessem embasamento para a solução do problema da pesquisa proposto.
Referências complementares também foram selecionadas com o intuito de
agregar informações pertinentes ao assunto, garantindo, assim, um trabalho mais
completo.
Para atender ao objetivo deste estudo, foi utilizada a Revisão Integrativa, a
qual, segundo Souza et al. (2010 apud MEDEIROS et al., 2015), sintetiza os
estudos disponíveis sobre determinado tema e proporciona aos leitores os
antecedentes para a compreensão do conhecimento atual, facilitando o acúmulo
de conhecimentos.
Os critérios adotados para a seleção dos artigos foi: todas as categorias de
artigo (original, revisão de literatura, reflexão, atualização, relato de experiência etc.)
com textos completos disponíveis para análise, publicados no idioma português e que
apresentassem os descritores pré-definidos: educação inclusiva, educação especial,
atendimento escolar especializado e arte. O critério de exclusão dos artigos foi:
aqueles que não atendessem aos critérios de inclusão.
As leis e políticas públicas vigentes no Brasil foram apresentadas com o
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objetivo de fornecer o embasamento legal para as atividades realizadas em prol
da educação inclusiva e o atendimento educacional especializado, bem como para
a Educação Infantil, que é a fase escolar abordada nesta pesquisa.
Para organização e tabulação dos dados foi utilizado o processo de fichamento.
Lopes et al. sugerem o fichamento como uma forma

[...] para guardar informações a respeito de obras lidas [...]. Deverá seguir
uma uniformidade durante toda sua investigação. A ficha deverá ser sempre
organizada da forma para poder manter-se uma harmonia consensual
opinativa e conclusiva, com todos as anotações referenciais necessárias para
um perfeito reconhecimento (2006, p. 123).

Com todo o material selecionado em mãos, foi realizada a leitura e


interpretação dos artigos, seguido do preenchimento de uma tabela com as
informações mais relevantes de cada artigo: referência, tema, problema, objetivo
geral, resumo, palavras-chave e conclusão, elaborado pela autora da pesquisa com
base nessas orientações.
A coleta de dados ocorreu a partir do mês de setembro de 2019 e, conforme
necessidade, novas buscas foram realizadas com a utilização dos descritores citados
para garantir a qualidade da pesquisa.

5 REFLEXÕES E POSSIBILIDADES

A igualdade é um direito garantido. A Constituição Federal do Brasil de 1988


assume esse princípio como fundamental, dentre outros, quando reza no seu artigo
5º que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]"
(BRASIL, 1988). Este é o primeiro documento que estabelece a Educação Infantil
como direito. Nesse sentido, a educação deve ser ofertada de maneira igualitária e
com qualidade para todos, mesmo para aqueles portadores de alguma NEE.
A LDB também é um documento de fundamental importância quando se trata
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de Educação Básica, estabelecendo que esta é a única etapa que está vinculada a
uma idade própria, atendendo crianças de 0 a 3 anos na creche e de 4 e 5 anos na
pré-escola, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e
da comunidade.
A Educação Especial também está regulamentada na LDB, sendo considerada
uma modalidade de educação escolar que deve ser ofertada, principalmente, na rede
regular de ensino, sendo garantido, quando necessário, serviços de apoio
especializado, que é onde se reforça a participação do especialista em AEE em apoio
ao professor regente.
Para garantir o processo de inclusão de maneira eficiente, este deve ser um
tópico importante dentro do Projeto Político Pedagógico (PPP) das instituições de
ensino. O PPP é um documento que apresenta o direcionamento e o planejamento da
escola quanto ao que se pretende realizar. Betini (2005) orienta que durante a
construção de um PPP, deve-se ter em mente a realidade que envolve a escola quanto
ao contexto social, geográfico, político e econômico, dentre outros. Tudo o que
envolve a escola deve ser levado em consideração.
Nesse contexto, sugere-se que ainda que a escola não possua alunos com
NEE, deve-se pensar de forma inclusiva e já propor orientações para o acesso futuro
de alunos nessas condições. Quando porventura esse aluno chegar, a escola já estará
preparada para recebê-lo da melhor maneira possível.
Ao incluir as bases para a educação especial no PPP apenas após a chegada
do aluno portador de NEE, é provável que sua adaptação seja ainda mais demorada,
já que ainda não há nenhum planejamento específico para esse público. Ainda que o
especialista de AEE seja contratado posteriormente, toda a fundamentação para o
atendimento desse aluno já deve compor o PPP da escola.
Cabe, portanto, a toda a comunidade escolar, tanto professores, funcionários,
comunidade e família, garantir não apenas o acesso, mas a permanência na escola e
a boa qualidade no ensino, visando sempre a formação do futuro cidadão brasileiro
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de forma plena.

6 PROPOSTAS PARA SUPERAÇÃO DE DIFICULDADES DAS CRIANÇAS EM


IDADE PRÉ-ESCOLAR ATRAVÉS DA ARTE

Tendo ficado claro o importante papel que a arte possui na melhora da


qualidade do processo de ensino-aprendizagem de alunos com NEE, e frente a
escassez de referências acerca de atividades nesse sentido, serão apresentadas aqui
algumas propostas com bases em trabalhos já realizados e publicados acerca do
assunto.
Segundo Schroeder (2012), toda forma de arte tem três dimensões: uma
cognitiva, através de conhecimentos, técnicas e/ou modos de fazer; uma afetiva, a
qual envolve sentimentos, escolhas e/ou intenções; e uma motora, a qual exige o
gestual, seja esse gesto mais explícito, como nas artes cênicas, ou mais implícito,
como na música e nas artes plásticas. Nesse contexto, pode-se entender a arte como
uma atividade interdisciplinar que traz inúmeros benefícios.
A música está sempre presente na educação infantil, desde o momento das
refeições até as atividades realizadas na sala de aula. Quanto aos seus benefícios,
Chiarelli e Barreto (2005) destacam o desenvolvimento da inteligência e da interação
social, facilitando os processos de integração e inclusão. A música é capaz, ainda, de
produzir novos conhecimentos através das novas palavras que podem ser
acrescentadas ao vocabulário das crianças, o que também pode ser alcançado
através da utilização de poesia, a qual também trabalha sentimento, razão e emoção.
Muitos alunos com NEE, por diversas razões, apresentam baixa autoestima.
Nesse sentido, Vieira indica que:
O fazer artístico poderá estimular diversas funções e habilidades integrando
os sistemas: sensorial, motor, emocional e cognitivo. Através da ampliação,
percepção e exteriorização de sentimentos, a arte é capaz de despertar a
motivação e resgatar a autoestima daqueles que a utilizam (2017, p. 138).
Alunos com autoestima elevada podem tornar-se mais participativos, o que
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facilitaria a interação e o processo de aprendizagem.
Atividades com pintura também estão sempre presentes na educação infantil.
Quanto aos benefícios das artes plásticas, Vieira (2017 apud SILVEIRA, 2001) relata
que através de atividades de pintura é possível revelar questões do subconsciente
que nem sempre são reveladas durante uma terapia. Através da análise dessas
pinturas torna-se possível compreender um pouco mais o que se passa na cabeça do
aluno, favorecendo o processo de autoconhecimento e aceitação. Além disso, a
utilização de pinceis e outros instrumentos favorece o desenvolvimento da
coordenação motora da criança.
A coordenação motora também pode ser desenvolvida através da dança, já que
trabalha com o movimento do corpo como um todo através das coreografias. Salmazio
et al. (2013) afirmam que a dança possibilita às crianças criar, estimular novas
situações de relacionamento de grupo, entretenimento, relaxamento e excitação. Além
disso, favorece a memorização, já que a criança tem que lembrar os passos para se
manter na dança.
A arte é interdisciplinar. Segundo Freitas e Pereira (2007), através da arte é
possível repensar conceitos, alterando e criando opiniões e possibilitando o
direcionamento com liberdade das escolhas. É uma ação contínua que trabalha com
informação e descoberta. Tal afirmativa também é relatada por Vieira (2017, p. 144),
que classifica esse conceito como “fazer um novo uso do que se percebeu”. Fica claro,
então, que a arte traz benefícios incalculáveis para o desenvolvimento das crianças,
principalmente àquelas com NEE.
Existem inúmeras atividades acessíveis que podem ser realizadas na sala de
aula com crianças com NEE, visado seu melhor desenvolvimento e aprendizado. De
forma mais prática e direta, Vieira (2017) sugere algumas atividades e seus
respectivos objetivos na superação de dificuldades. De acordo com a autora, a
elaboração de retratos e autorretratos é capaz de desenvolver o autoconhecimento, a
autoestima e um conhecimento maior do real; a manipulação de objetos tendo os
olhos vendados é capaz de trabalhar a representação mental e discriminação de
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estímulos táteis; a expressão oral, plástica e corporal são de fundamental importância
no desenvolvimento global e motor; a pintura a dedo favorece o desenvolvimento
afetivo, principalmente por garantir a livre-expressão e assegurar o equilíbrio
emocional, além de favorecer o desenvolvimento da coordenação motora; o manuseio
de argila ou massa de modelar também favorece o desenvolvimento da coordenação
motora fina e, ainda, da relação com o espaço; as atividades de recorte e colagem,
além de contribuírem para o desenvolvimento cognitivo, trabalham a motricidade fina
e a imaginação; atividades de dobraduras estimulam a criatividade, a atenção e a
coordenação motora; atividades de teatro com o uso de fantoches, por exemplo,
favorecem o desenvolvimento da criatividade, da linguagem e da expressão corporal.
Apesar de escassas, existem propostas de atividades com arte-educação.
Cabe, portanto, ao educador continuar sua busca por referências e realizar suas
próprias pesquisas, visando a qualidade no planejamento de suas atividades de apoio
ao professor regente e garantindo uma educação inclusiva, igualitária e de qualidade
para todos os seus alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil apresenta todo o suporte em termos de leis e políticas públicas para a


educação inclusiva e para o atendimento educacional especializado. O que se faz
necessário, em alguns casos, é colocar em prática todo esse embasamento nas
instituições de ensino da educação básica. Com educação é possível melhorar a
qualidade de vida do aluno com NEE e, ainda, fomentar o respeito e a inclusão desses
alunos junto a escola e a sociedade.
O professor regente tem um papel importante na formação dos alunos com
necessidades especiais, mas o especialista da sala de AEE é fundamental para
garantir que o conteúdo seja aprendido de forma mais eficiente, já que este elabora
atividades de forma específica para atender a necessidade de cada aluno.
Visto a importância da arte como ferramenta no processo de ensino-
15
aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais na Educação Infantil,
reforça-se a necessidade de pesquisas contínuas acerca do tema para garantir uma
melhor qualidade na educação desses alunos.
Sendo a educação um direito de todos, é dever do educador oferecer um ensino
de qualidade e igualdade para todos. Crianças que aprendem a respeitar as
diferenças desde cedo se tornam jovens e adultos conscientes, garantindo a
possibilidade de uma sociedade inclusiva e mais justa.

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