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STREIECHEN, Eliziane²
UNICENTRO/PR
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo analisar como ocorre o processo de inclusão da criança surda na
educação infantil. A pesquisa foi realizada em três escolas da rede municipal no interior do Estado do
Paraná. Participaram, do estudo, quatro professoras que atuam na educação infantil. A coleta de dados
ocorreu por meio de questionários com questões abertas. Trata-se de uma pesquisa de campo, do tipo
qualitativa e de cunho exploratório. Os resultados revelam que, em relação à visão das participantes
sobre o processo inclusivo e o delineamento da escola, as professoras que não trabalharam com
crianças surdas possuem um olhar romantizado sobre a questão, acreditando que as escolas estão
preparadas para receber alunos surdos, ao passo que as professoras que já se depararam com as
crianças surdas, em suas salas de aula comuns, apresentam um olhar realista, em que os desafios são
inúmeros. No entanto, a principal questão está em torno da comunicação, uma vez que a L1 do surdo é
a Libras, entretanto, muitas vezes, nem a criança surda tem acesso à aquisição dessa língua, quanto
mais às crianças ouvintes. Podemos concluir que o ensino da Libras na educação infantil é uma
importante ação para facilitar o processo de inclusão da criança surda, pois além de promover a
interação, poderia contribuir para o desenvolvimento psicomotor e intelectual, tanto das crianças
surdas quanto das ouvintes, oportunizando novos horizontes de aprendizagem.
Introdução
Inclusão Escolar
mobilização por toda ela, seja para ir às salas, ao intervalo, ao banheiro. E, olhando para a
realidade de muitas escolas públicas, o espaço físico acaba sendo sim, deficitário, inclusive
com a ausência de infraestrutura mínima de acessibilidade como rampas; banheiros; superfície
com desníveis; entre outros.
Além da estrutura física, o que se percebe em muitas instituições de ensino, é que não
ocorre um processo de inclusão. Isso porque, ao receber a criança, a escola consegue apenas
oferecer o acesso à sala de aula, deixando muitas vezes de atender suas especificidades. Nesse
viés, Streiechen (2018, p. 30) tece a seguinte crítica:
[...] acreditou-se, então, que bastava permitir que todos tivessem acesso à
sala de aula. Entretanto, entrar no ambiente escolar, sentar-se numa carteira,
copiar do quadro ou do colega ao lado, participar do lanche servido no
recreio, nada tem a ver com inclusão.
Outro impasse, que serve como ponto de reflexão, está no fato de muitos profissionais
da educação não se sentirem capacitados para receberem em suas salas de aula, as crianças
como necessidades especiais. Isso porque, além do grande número de alunos nas salas de
aula, das escolas públicas, falta muitas vezes a qualificação necessária para atuação com essa
população.
Mantoan (2003) pontua que os professores do ensino regular consideram-se
incompetentes para lidar com as diferenças na sala de aula, pois os professores especializados
em educação especial, distinguiram-se por realizar unicamente esse tipo de atendimento, e
assim, tornaram o trabalho com crianças especiais uma tarefa quase que transcendental aos
olhos de muitos educadores.
Nesse sentido, Hansel, Zych e Godoy (2014, p.16), contribuem para essa reflexão
quando afirmam que:
[...] a inclusão exige adequada formação do professor para assegurar sua
capacidade de intervir no contexto em sala de aula, em sua maioria muito
populosa e apresentando inúmeros desafios. Nesse cenário de
heterogeneidade, certamente novas diferenças estarão sendo detectadas pelo
docente que, por vezes, inadvertidamente vê seu cenário acrescido de um ou
mais alunos com certa deficiência com o qual não se sente preparado para
atender em suas especificidades e singularidades.
Além desses pontos abordados, alguns projetos de inclusão acabam esbarrando num
obstáculo, no mínimo, inusitado, como é o caso da resistência de alguns pais de alunos sem
deficiência. Estes, “não admitem a inclusão, por acharem que as escolas vão baixar e /ou até
piorar ainda mais a qualidade de ensino se tiverem que receber esses novos alunos”
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Um dos principais teóricos, que voltou sua atenção aos estudos sobre aprendizagem e
desenvolvimento, foi o psicólogo russo Lev Vygotsky. Esse pesquisador trouxe grandes
contribuições para o entendimento dos processos de aprendizagem em educação a partir das
relações do indivíduo com o meio, recorrendo à infância como forma de explicar como ocorre
o desenvolvimento humano no geral (MIRANDA, 2013). Nesse sentido, o aluno é o centro do
processo de ensino e este constrói conhecimentos a partir do seu conhecimento prévio e por
meio da mediação do professor, vai agregando para si conhecimentos superiores, ou seja, o
saber é construído socialmente, por meio da interação.
Neste prisma, o desenvolvimento está intimamente ligado ao contexto sociocultural
em que a pessoa está inserida, o que ocorre já nos primeiros meses de vida, com a interação
em seu núcleo familiar, lugar onde as primeiras relações sociais se estabelecem.
Assim, muito antes de iniciar a vida escolar, a criança já possui conhecimentos que
foram adquiridos a partir da convivência com outras pessoas, da observação e da imitação e é
por essa razão que “o aprendizado das crianças começa muito antes delas frequentarem a
escola” (VYGOTSKY, 1991, p.54). Todavia, é na pré-escola que:
[...] as habilidades da criança são expandidas por meio do uso do brinquedo,
da imaginação, da expressão corporal e da comunicação entre seus pares.
Para o autor, a instrução, bem como o brinquedo, a imitação, são
instrumentos que criam na criança a zona de desenvolvimento proximal
(grifo da autora), a qual permite à criança elaborar habilidades, desenvolver
capacidades e conhecimentos socialmente disponíveis que serão, aos poucos,
internalizados (VYGOTSKY, 1996 apud MIRANDA, 2013 p. 29).
O homem é um ser social. Assim, ele precisa estar integrado ao meio social,
estabelecendo relações interpessoais para se desenvolver. Essas relações acontecem por meio
da comunicação que, segundo o dicionário Michaelis, é o “ato que envolve a transmissão e a
recepção de mensagens entre o transmissor e o receptor, através da linguagem oral, escrita ou
gestual, por meio de sistemas convencionados de signos e símbolos”, caracterizando-se,
portanto, por um processo de interação social, no qual ocorrem trocas de informações, entre as
pessoas.
Nessa perspectiva, o meio pelo qual se dá a comunicação é a linguagem, pois como
defende Vygotsky (1998, p. 6) “a função primordial da linguagem é a comunicação,
intercâmbio social”. No mesmo sentido, Novaes (1984, p.212) acrescenta que a “linguagem é
um aspecto do desenvolvimento global da inteligência, da afetividade, da motricidade e da
socialização do indivíduo”. Logo, a linguagem tem uma função primariamente social de
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mediar a relação entre os indivíduos que compõe o meio social, contribuindo pra seu
desenvolvimento.
Quando pensamos em linguagem, é comum associarmos à fala, no entanto, não
podemos reduzir um conceito tão amplo a apenas uma função, pois “a linguagem não depende
necessariamente do som. Há por exemplo a linguagem de sinais dos surdos-mudos e a leitura
de lábios, que é também, interpretação de movimentos” (VYGOTSKY, 1998, p.44). Existem,
portanto diversas formas de linguagem: oral, escrita, a gestual, visual, expressões faciais.
Dessa forma, é possível compreender que, para Vygotsky (1998) a linguagem possui
duas funções básicas: a primeira relacionada ao Intercâmbio Social, e a segunda, trata-se do
Pensamento Generalizante, que grosso modo, é onde acontece o “encaixe” da língua com o
pensamento Pereira (2019). Quando a criança consegue associar o objeto ao conceito, a
linguagem se torna um instrumento do pensamento. Dessa forma, não podemos dissociar a
linguagem e pensamento, pois apesar de trilharem trajetórias diferentes durante o
desenvolvimento cognitivo, por volta dos dois anos de idade ambos convergem e passam a
caminhar juntos a partir de então.
Conforme anteriormente exposto, a linguagem é fundamental para que se estabeleça a
comunicação e a interação entre os indivíduos. Pensando no contexto escolar, essa
comunicação precisa ser muito clara, para que se possa concretizar a aprendizagem e construir
um ambiente acolhedor, principalmente, se considerarmos o contexto da educação inclusiva.
Iniciar a vida escolar é um momento desafiador para a maioria das crianças, pois é
nesse momento que ocorre uma ruptura no seu modo de vida. Agora a criança sai do ninho e
passa a frequentar um ambiente coletivo, onde a atenção que antes era só dela, passa a ser
dividida igualmente entre seus colegas. Se por um lado, este novo cenário se mostra
intrigante, por outro lado, é uma valiosa experiência, na qual a criança tem a possibilidade de
estabelecer o intercâmbio social com as demais crianças e com a professora. É nesse sentido,
que “a educação escolar não apenas interfere positiva ou negativamente no desenvolvimento,
mas sim ela produz desenvolvimento” (DUARTE, 2001, p.103).
Desse modo, um dos fatores mais importantes para a adaptação escolar, tão necessária
para que a escola seja vista como um ambiente seguro para a criança, é comunicação, que se
expressa por meio da linguagem. Esta, por sua vez,
[...] possibilita a formação da consciência social pois sua função social
consiste em assegurar uma adaptação comum, dos membros da comunidade
à realidade exterior, permitindo ao indivíduo atualizar seus conceitos,
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Se para uma criança, dita normal, com todas as suas capacidades físicas, motoras,
intelectuais e cognitivas, esse novo momento é cercado por incertezas, para uma criança
surda, essa nova etapa, a inserção no ambiente escolar se torna muito mais difícil. A
linguagem é a principal ferramenta da interação entre as pessoas, nesse caso, porém, torna-se
uma barreira, pois, a falta de comunicação ou a comunicação falha, restringe essa a interação,
fator preponderante para o desenvolvimento humano. Isso porque a escola recebe o aluno
surdo, ele é integrado à sala de aula, mas não é incluído no contexto escolar, pois na maioria
das vezes, não há um ambiente que propicie essa inclusão (as crianças ouvintes não
conseguem se comunicar, muitas vezes a professora não conhece a Libras ou não há intérprete
de Libras na escola.).
Dessa forma, não há sensação de pertencimento onde não há compreensão. O que
acontece, então, é o processo inverso à inclusão, pois o aluno surdo acaba por se isolar,
gerando sofrimento, desgaste emocional e em muitos casos, problemas de disciplina e a
aprendizagem é diretamente afetada. É nessa direção que Streiechen (2018) afirma que o
aluno com necessidade especial tem que se sentir integrado ao seu meio em todos os sentidos,
para que não deseje excluir-se do meio ‘inclusivo’.
Em virtude disso, o processo inclusivo requer do professor uma atitude acolhedora, de
forma a demonstrar ao aluno que o enfoque do tralhado não está na sua “deficiência”, mas em
suas potencialidades. Quando analisamos as crianças surdas e as ouvintes, podemos perceber
que o desenvolvimento motor e o desenvolvimento mental ocorrem da mesma forma. O que
os diferencia de forma marcante é maneira como se processa o domínio da linguagem. Esta,
por sua vez, interfere no desenvolvimento intelectual e social da criança surda (PEREIRA,
2019). Ou seja, as crianças surdas possuem o mesmo potencial de aprendizagem das crianças
que ouvem, elas apenas aprendem de forma diferente.
Nessa visão, a escola precisa assumir uma posição acolhedora, promovendo igualdade
de condições e de direitos. Partindo desse pressuposto o ensino da Libras na educação infantil,
não somente para crianças surdas, mas também para as que ouvem, poderia contribuir para o
processo de inclusão, pois dessa forma, a comunicação não seria prejudicada e assim a
interação entre alunos e professores seria satisfatória.
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A Libras é uma forma de expressão gestual e visual (em substituição aos sons)
segundo a qual, pessoas surdas podem se comunicar entre si e com outras pessoas que buscam
aprender e interpretar. Os sinais, da Libras, são realizados com as mãos, de forma a utilizar as
palmas das mãos e os dedos em gestos bem definidos e claros. Nessa direção Streiechen
(2012, p.21) explica que
“as línguas de sinais se distinguem das línguas orais porque se
utilizam do canal viso-espacial e não oral-auditiva. Por esse motivo são
denominadas línguas de modalidade viso-espacial, uma vez que as
informações linguísticas são recebidas pelos olhos e produzidas no espaço
pelas mãos, movimentos do corpo e por meio das expressões faciais.
Apesar de a Libras ser a segunda língua oficial do Brasil, pouco se conhece sobre ela,
pois normalmente o que se vê é que o interesse se manifesta, em alguns casos, por parte de
familiares de pessoas surdas ou profissionais de educação que trabalham com educação
especial.
O Decreto Federal nº 5.626/2005, que regulamenta a Lei 10.436/2002, em seu 3º
Artigo, declara a obrigatoriedade do ensino da Libras nos cursos de formação de professores
em nível médio e superior.
A Libras deve ser inserida como disciplina obrigatória nos cursos d e
formação de professores no exercício do magistério, em nível médio e
superior e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino públicas e
privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados,
Distrito Federal e Municípios. (BRASIL, 2005, p. 01).
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Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, a educação bilíngue -
Língua Portuguesa/LIBRAS, desenvolve o ensino escolar na Língua
Portuguesa e na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como
segunda língua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de
tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras p ara
os demais alunos da escola. O atendimento educacional especializado é
ofertado, tanto na modalidade oral e escrita, quanto na língua de sinais.
Devido à diferença linguística, na medida do possível, o aluno surdo deve
estar com outros pares surdos em turmas comuns na escola regular
(BRASIL, 2008, p.17)
Neste contexto, a Libras não pode ser vista apenas como mais um conteúdo a ser
ensinado, mas um veículo que permite despertar nas crianças suas potencialidades,
estimulando o que Vygotsky (1998) denomina de funções psicológicas superiores, como por
exemplo, a atenção, imaginação e memória.
Expressões gestuais e faciais, que é como se manifesta a Libras, estão presente na vida
da criança desde muito cedo. É por meio dos gestos que ela mostra aonde quer ir, o que ela
deseja alcançar, o que ela não quer, portanto, é também através dos gestos que a criança se
comunica com o mundo exterior.
Na Libras, a expressão se dá por sinais e estes correspondem a três principais
parâmetros linguísticos importantes para a realização correta do sinal, a saber: Configuração
das Mãos (forma com que a mão toma na realização dos sinais), Locação ou Ponto de
Articulação (local onde são feitos esses sinais) e Movimento (que abrange um grande
quantidade de formas e direções) (STREIECHEN, 2020).
Nesse sentido, o ensino da Libras para crianças em idade pré-escolar é um fator
importante que pode contribuir no desenvolvimento cognitivo, melhorando a atenção e
habilidades motoras pois, “embora os gestos, cotidianamente empregados por usuários de
línguas orais, não correspondam a sinônimos dos sinais existentes nas línguas de sinais, eles
já estão presentes na vida da criança pequena e servem de base para aquisição se sinais”.
Marques, Barroco e Silva (2013, p. 4)
A criança já tem em si o potencial para aprendizado da Libras, sendo assim, acolher
essa Língua no ambiente escolar, oportuniza que todas as crianças, tanto as surdas como as
ouvintes tenham acesso a uma comunicação eficiente, facilitando assim, o processo de
inclusão.
Metodologia
Esta pesquisa possui uma abordagem qualitativa e por ter uma natureza hermenêutica,
ela “trabalha com o universo de significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos
valores e das atitudes”. Minayo (2009, p.21). Quanto ao tipo de pesquisa, o presente estudo
configura-se como um estudo exploratório, por permitir que o pesquisador amplie seus
conhecimentos sobre algum tema específico. Nesse aspecto, Triviños (1987, p.109) ressalta
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que “os estudos exploratórios permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de
determinado problema”. Ainda de acordo com Triviños (1987, p. 109), no tocante ao estudo
exploratório, o autor argumenta que “o pesquisador planeja um estudo exploratório para
encontrar elementos necessários que lhe permitam, em contato com determinada população,
obter os resultados que deseja”. Caracteriza-se ainda, como uma pesquisa de campo, que
busca, a partir da realidade vivenciada, obter informações através do contato com os atores
sociais. Minayo (2009, p.61) explica que:
A pesquisa foi realizada com quatro docentes que atuam em escolas municipais de
uma cidade do interior do Estado do Paraná. Essas participantes serão identificadas, durante a
análise dos dados, da seguinte forma: P1, P2, P3 e P4. As quatro professoras atuam na
educação infantil, em turmas da pré-escola, com alunos com faixa etária entre quatro e cinco
anos. Duas das participantes (P1 e P2) não tiveram experiências com alunos surdos. Uma
delas (P3) trabalha há muitos anos com crianças surdas e a outra teve apenas um aluno surdo
em sua turma (P4). A escolha das participantes ocorreu com o intuito de conhecer as
diferentes perspectivas das profissionais em relação à inclusão de alunos surdos. O contato
com as professoras ocorreu integralmente on-line, via whatsapp e e-mail, em virtude do
cenário em que nos encontramos, atualmente, devido ao COVID-19 em que o contato com as
pessoas se encontra restrito.
Os dados foram coletados por meio de questionário com questões abertas, que são
definidas por Lakatos e Marconi (2003, p.203) como “livres ou não limitadas, são as que
permitem ao informante responder livremente usando linguagem própria e emitir opiniões”. A
interpretação e análise dos dados, na pesquisa qualitativa, ocorre de forma flexível devido sua
natureza subjetiva, cujas verdades obtidas por meio do instrumento de pesquisa se baseiam
em critérios internos e externos (TRIVIÑOS, 1987), possibilitando perceber quais as ideias e
pensamentos da pessoa pesquisada, sobre determinado assunto.
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É interessante notar que as profissionais que trabalham com surdos, tem uma visão
completamente diferente das professoras que nunca trabalharam com surdos. As que já
trabalharam tem uma perspectiva realista, de que as escolas, de modo geral, ainda não estão
preparadas para receber o aluno surdo (principalmente no que se refere à qualificação dos
profissionais), enquanto que, na direção oposta, as professoras que nunca tiveram aluno surdo
em sua sala de aula acreditam que as escolas estão sim, preparadas.
Em relação à questão que referia às dificuldades que as participantes tem ou teriam em
desenvolver atividades em sala de aula, P1 e P2 afirmaram que teriam dificuldades,
ressaltando a necessidade da presença de um profissional, intérprete de Libras. P3 e P4
indicaram que não tem dificuldades, no entanto, o apontamento feito por P4 merece uma
reflexão: “Em algumas situações o aluno persistia em perturbar as atividades que estavam em
andamento, nada que não fosse possível corrigir” (P4).
A afirmação de P4 reflete a opinião de uma parte significativa d e professores no que
se refere a alunos surdos, estigmatizados como irritadiços ou indisciplinados. O fato é que:
Embora as pessoas surdas, como as ouvintes, possam ser nervosas,
facilmente irritáveis, explosivas, tais características não podem ser atribuídas
à surdez, mas muitas vezes às dificuldades em relação à compreensão e ao
uso de uma língua partilhada na família e na comunidade. (SILVA,
PEREIRA, 2003, p.03).
Considerações Finais
Por meio desta pesquisa, buscou-se analisar o processo de inclusão da criança surda na
educação infantil. A partir da análise dos dados, vários pontos importantes foram levantados
pelas participantes da pesquisa, como a necessidade de haver nas salas de aula, um intérprete
de Libras que faça a mediação dos conteúdos.
No entanto, foi possível perceber também, que, mesmo as opiniões sendo
unanimemente favoráveis no que se refere à inclusão de crianças surdas na escola, há certo
distanciamento por parte das participantes, justificado por dois pontos. O primeiro a se
ressaltar é que só há preocupação em se buscar preparo e qualificação apenas quando o
professor se depara com o aluno surdo em sua sala de aula. Percebeu-se ainda, a necessidade
de obter maior conhecimento caso haja um aluno em sala de aula, contudo, não foi
apresentada nenhuma manifestação de interesse, por parte da maioria das participantes em
buscar capacitação na área de educação de surdos de maneira prévia. O segundo ponto é o de
se reduzir todo o processo de inclusão ao intérprete de Libras, como se apenas a presença
deste profissional fosse suficiente para se consolidar um processo complexo como é a
inclusão de surdos.
Essa intervenção é muito importante e apropriada quando a criança conhece Libras.
Partindo, então deste princípio, se as demais crianças não conhecerem a língua, como essa
interação será efetivada? Como haverá essa troca de saberes, brincadeiras e experiências, tão
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Referências
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