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FUNDAMENTAL
RESUMO: Embora nos últimos anos tenha ocorrido significativo avanço nas discussões a respeito
do fracasso escolar ainda existem concepções cristalizadas que culpabilizam a criança e sua família
pela não aprendizagem. A partir da década de 1980, quando as discussões sobre o tema ganham a
importante contribuição dos estudos de Patto, a Psicologia passa a analisar as Políticas Públicas
referentes à educação, que têm em comum o discurso de enfrentamento da exclusão, superação de
preconceitos e defesa de uma escola para todos. O que se constata é que há um hiato entre intenção
e realidade. Essa constatação aponta para a importância de trabalhos que se dediquem a conhecer os
bastidores dessas políticas e o que de fato ocorre em suas implementações. Nesse sentido, o
presente texto apresenta algumas discussões baseadas na literatura e nos dados de uma pesquisa de
abordagem qualitativa realizada em oito escolas públicas da rede estadual de ensino no município
de Rolim de Moura - RO sobre a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos realizada em
2009. Instrumentos utilizados: análise documental, registro fotográfico, entrevistas individuais e
coletivas. Foram entrevistadas a Coordenadora Pedagógica da Representação de Ensino (REN),
órgão representativo da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) no município, e os/as
professores/as das escolas envolvidas na pesquisa. Os resultados indicam que os objetivos
propostos pela ampliação não foram plenamente alcançados e que podem contribuir com o avanço
do fracasso ao invés ajudar na sua superação. A implantação se deu de forma intempestiva, sem
nenhuma preparação prévia que garantisse alterações dos aspectos estruturais das escolas,
adaptações curriculares e/ou discussões/formação com as equipes pedagógicas e os professores.
Diante disto destaca-se a importância da discussão dessas políticas pelos atores escolares e os
grandes problemas advindos das formas errôneas de implantá-las, como por exemplo, a imposição,
colaborando para a manutenção do fracasso nas escolas.
1- Introdução
A explicação para o fracasso escolar recai sempre sobre o aluno e seus pais: Crianças não
aprendem porque são pobres, porque são negras, porque são nordestinas, ou provenientes
de zona rural; são imaturas, são preguiçosas; não aprendem porque os pais são
analfabetos, são alcoólatras, as mães trabalham fora, não ensinam aos filhos... (p. 26)
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Asbahr, Viégas e Angelucci (2006) afirmam que essas concepções que defendem a
culpabilização do indivíduo justificando seu insucesso em carências “[...] têm contribuído
para a intensa psicologização da educação. O psicólogo é chamado para emitir laudos,
buscando na criança as causas das dificuldades escolares.” (p. 11) As autoras ainda
afirmam que além de não explicar realmente o fracasso, essas concepções até imobilizam a
prática pedagógica dificultando a reflexão dos professores sobre a constituição social do
indivíduo que é fortemente marcada pelas práticas e processos escolares.
Essas concepções já haviam sido apontadas por Patto, (1984) quando esta discute o
comprometimento político da Psicologia, questiona a serviço de quem estaria essa
Psicologia Escolar e suas práticas que pouco contribuíam para a melhoria da qualidade da
escola como direito a todas as crianças principalmente das classes populares.
obrigatório tem sido gradativa no Brasil. A Lei nº. 4.024 de 1961, estabelecia apenas quatro
anos; em 1970 a meta era ampliar a obrigatoriedade para seis anos. E a Lei nº 5.692 de
1971 estendeu-a para oito anos.
A partir de um movimento mundial em que vários países adotam o Ensino
Fundamental de nove anos, o Brasil estabeleceu como meta no Plano Nacional de
Educação/PNE, por meio da Lei nº. 10.172 de 09 de janeiro de 2001, ampliar o ensino
obrigatório para nove anos, iniciando-se aos seis anos de idade. Assim diz o segundo ponto
da parte denominada Objetivos e Metas para o ensino fundamental do PNE: “Ampliar para
nove anos a duração do Ensino Fundamental obrigatório com início aos seis anos de idade à
medida que for sendo universalizado o atendimento na faixa de 7 a 14 anos.” O documento
deixa claro que a iniciativa para o cumprimento deste objetivo/meta deve partir da União.
Diante disto, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº. 11.274, de 6 de fevereiro de
2006, alterando a redação dos artigos 29, 30, 32 e 87 da LDB, instituindo a matrícula
obrigatória no Ensino Fundamental a partir de 6 anos de idade. Lei esta que
consequentemente ampliou para 9 anos a duração deste nível de ensino. No artigo 5º
estabelece que o prazo para os Municípios, os Estados e o Distrito Federal implementassem
a ampliação foi até o final de 2010. Sendo assim supõe-se que todas as escolas públicas e
privadas já estejam de acordo com a nova legislação.
Na escola E:
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Entrevistadora: [...] teve alguma alteração no processo da escola para atender esses
meninos? Do ponto de vista do espaço físico, da adaptação curricular?
Todos: não
Entrevistadora: Então essas turmas de seis anos elas têm se caracterizado como uma
primeira série pra vocês?
Professora 4: Sim!
(Professores Escola E/Rolim de Moura 2008)
Sem dúvida há. Levar a criança antecipadamente para escola sem mudar as condições de
aprendizagem, em termos de diversificação de materiais, de condições de ensino, de acesso,
seja aos meios eletrônicos, seja as bibliotecas, enfim, as condições de infra-estrutura da
escola, também não alteram muito a qualidade. As crianças ficam na escola mais tempo e
vão ter o mesmo tipo de experiência e de qualidade de ensino que já vem sendo realizado.
(p. 03)
A mesma autora afirma também que, além de não ser vantajosa a implantação sem
as condições necessárias, há ainda o risco de que essas crianças sofram prejuízos ainda
mais severos do que aquelas que se encontram em processo de alfabetização e não têm
obtido êxito
O maior perigo que pode haver aqui em termos de prejuízo para as crianças é que se
imponha uma mera e simples antecipação do conteúdo, que já se colocava para o primeiro
ano. Então, se aquele primeiro ano que tradicionalmente está colocado no Brasil é um
primeiro ano que resulta em repetência, em evasão e em uma não efetivação do processo de
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letramento, antecipá-lo não resolverá o problema, considerando que essas crianças são mais
novas. (p. 03)
Portanto, de nada adianta implantar uma política sem a devida preparação, visto que
algumas vezes o tiro pode sair pela culatra e ao invés de trazermos benefícios às crianças
podemos simplesmente estar aumentando as chances de fazê-las fracassar.
Diante dos demais dados apresentados pela pesquisa, constata-se que há um descaso
por parte do poder público no estado que de maneira frequente assume a implantação de
políticas educacionais de forma intempestiva à revelia de discussões, sem nenhum tipo de
planejamento em médio e longo prazo, sendo essa uma prática comum não só em
Rondônia, mas em todo o país. Sendo assim, Vizin (2003) tem razão quando afirma que “a
sinalização desta crescente ampliação de vagas para milhares de crianças brasileiras, não
revela com fidedignidade a que preço este processo tem sido feito e se as crianças, de fato,
estão se beneficiando de uma educação com qualidade de conhecimento” (p. 50).
Barbosa (2003) alerta para a falta de pesquisas bem fundamentadas que possibilitem
afirmar os benefícios da antecipação do ensino obrigatório e também discute a persistência
de elevados índices de fracasso escolar nos primeiros anos, além da existência de um
contingente significativo de crianças de 7 a 14 anos fora da escola. Nas palavras da autora:
Se ingressar aos 6 anos significar a expansão da educação infantil a partir dos maiores e dos
que necessitam com urgência de uma experiência de letramento através de um projeto
pedagógico voltado para a ludicidade, para o desenvolvimento das diversas linguagens
simbólicas para as interações sociais, para o jogo e a brincadeira, isto é, para viver a
infância, então ótimo. No entanto, se significar “o massacre dos inocentes” como é para
aquele terço das crianças que está com 7 anos na primeira série do ensino fundamental, é
preciso repensar seriamente essa proposta. (p. 37) (grifo da autora)
4- Considerações Finais
5- Referências
http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n1/a04v30n1.pdf
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Asbahr, F.S. F.; Viegas, L. S.; Angelucci, C. B. (2006). Em Asbahr, F.S. F.; Viegas, L. S.;
Educação e Psicologia Escolar (pp. 77-115). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.
http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/6_Nacional_Desenvolvi
mento/ldb%20lei%20no%204.024,%20de%2020%20de%20dezembro%20de%201961
.htm
Lei n. 5.692 de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1º e 2º graus
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5692.htm
Lei n. 11.274 de 06 de fevereiro de 2006. Dispõe sobre a duração de 9 (nove) anos para o
ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm
partir do ano de 2007, e dá outras providências. Porto Velho, RO: Secretaria de Estado
da Educação. [Digitado].
Rocha, E. A. C. (2007), Entrevista concedida em Julho de 2007 pela Profª Drª Eloísa
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/viewFile/857/753
em Educação e Psicologia Escolar. (pp. 229-243) São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.
Silva, S & Vizin, M (orgs.) Políticas públicas: educação, tecnologias e pessoas com