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INTERVENÇÃO MEDIADA POR PARES PARA O DESENVOLVIMENTO DE

HABILIDADES SOCIAIS NO AUTISMO: UMA REVISÃO NARRATIVA


Fabiane dos Santos Ramos1
Carlo Schmidt2
Siglia Pimentel Hoher Camargo3
UFSM/RS – PPGE - Programa de Pós-Graduação em Educação
Eixo 28: Transtornos Globais do Desenvolvimento
Categoria: Comunicação Oral
Resumo: A inclusão educacional de alunos com Transtornos do Espectro Autista tem se
mostrado um desafio para a realidade brasileira. A formação de professores nessa área tem sido
precária, impactando em uma minimização de estratégias eficazes no processo inclusivo.
Poucos estudos têm sido publicados sobre estratégias docentes para o desenvolvimento de
habilidades sociais de alunos com autismo incluídos, sendo a intervenção mediada por pares
uma delas. Este artigo objetivou conhecer e descrever o que a literatura nacional e internacional
vem produzindo sobre a intervenção mediada por pares no contexto de inclusão escolar de
alunos com TEA. Trata-se de um estudo qualitativo, o qual utilizou a revisão narrativa como
aporte metodológico. Os resultados apontam que nacionalmente não há produção científica que
contemple o tema, no entanto a literatura internacional muito tem produzido sobre o mesmo,
apontando esta mediação como eficaz na promoção de habilidades sociais de alunos com
autismo.

Palavras Chave: Autismo; Mediação por Pares; Habilidades Sociais

Abstract: The educational inclusion of students with Autism Spectrum Disorders has been a
challenge for the Brazilian reality. Training of teachers in this area has been poor, impacting on a
minimization of effective strategies in the inclusive process. Few studies have been published on
teachers’ strategies to improve social skills of students with autism in inclusive settings, being
peer-mediated interventions one of them. This article aimed to know and describe what the
national and international literature has published on peer-mediated interventions in the context
of school inclusion of students with autism. This is a qualitative study, which used the narrative
review as methodological contribution. The results show that there is no nationally scientific
literature covering the subject, however the international literature has massively produced on it,
pointing out the effectiveness of this mediation in promoting social skills of autistic students.

Keywords: Autism; Peer Mediation; Social Skills.

1
Doutoranda em Educação/UFSM, Mestre em Educação/UFSM, Especialista em Educação
Inclusiva/FGV, Educadora Especial/UFSM, Integrante do grupo EdEA/UFSM.
fabi.sramos@hotmail.com

2DoutorPsicologia do Desenvolvimento (UFRGS), Professor Adjunto da Universidade Federal


de Santa Maria (UFSM), Departamento de Educação Especial. Coordenador do Grupo de
Pesquisa Educação Especial e Autismo (EdEA/UFSM). carlo.schmidt@ufsm.com

3Doutora em Psicologia Educacional pela Texas A&M University (EUA). Professora Adjunta da
Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL) e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Autismo e
Inclusão (GEPAI/UFPEL). sigliahoher@yahoo.com.br
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1. Introdução
As políticas públicas de educação especial tem buscado através de
movimentos sociais a efetivação da inclusão escolar, há mais de três décadas.
No entanto, somente a partir da Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva de Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e da Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015), é que o acesso de todos
às escolas regulares de ensino é enfatizado e garantido.
Apesar do acesso à educação, a construção da aprendizagem, enquanto
ganhos acadêmicos e sociais (BOOTH; AINSCOW, 2000; HUMPHREY, 2008)
nem sempre é efetivada. Assim, a necessidade de conhecimento e
implementação de programas de intervenção e de ensino diferenciados se
mostra uma realidade importante para mediar a consolidação de habilidades
empobrecidas em função do diagnóstico clínico que os alunos incluídos
apresentam. Entende-se por alunos incluídos aqueles considerados público-
alvo4 da educação especial, dentre eles, os alunos com Transtorno do Espectro
Autista (TEA), nominados assim a partir de 2008 (BRASIL, 2008) e reconhecidos.
Além disso, o TEA passa a ser reconhecido legalmente como deficiência
somente em 2012 (BRASIL, 2012) quando lhes é garantido todos os direitos
atribuídos às pessoas com deficiência.
Os critérios diagnósticos do autismo incluem dificuldades em duas áreas
do desenvolvimento: habilidades de sóciocomunicação e a presença de
comportamentos e interesses restritos e estereotipados (APA, 2013). Em relação
à área social, é observado o pouco interesse na interação, demonstrado através
de dificuldades em estabelecer relacionamentos com os outros, compreender as
trocas sociais, manutenção do contato visual, entre outros (APA, 2013). Os
déficits nas habilidades sociais podem ser agravados pela dificuldade de
interação da criança com autismo e seus pares e pelo isolamento social
decorrente (MCGEE; FELDMAN; MORRIER, 1997). Essas dificuldades
interferem tanto no desenvolvimento social, emocional e cognitivo, quanto

4Público alvo são os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. (BRASIL, 2008)
3

contribuem para resultados negativos relacionados ao isolamento e ansiedade


social, rejeição de colegas e insuficiente desempenho acadêmico (BELLINI,
2006; BELLINI et al., 2007; TANTAM, 2000; WELSH et al., 2001).
Para os alunos com autismo, o uso de estratégias que incentivem as
trocas entre os pares pode minimizar essas dificuldades sociais, diminuindo o
isolamento e facilitando a interação, se mostrando assim como uma
possibilidade de efetivação da inclusão escolar e, consequentemente,
favorecendo também a aprendizagem (CAMARGO; BOSA, 2009; ROTHERAM-
FULLER et al., 2010). Por outro lado, apenas a presença na escola, sem uma
mediação que promova o desenvolvimento de habilidades sociais, as
possibilidades de ganhos efetivos relacionados à comunicação e interação
tornam-se menos satisfatórios (LEACH; WITZEL; FLOOD, 2009).
Nesse contexto, muitos estudos evidenciam o uso de estratégias de
mediação para desenvolver as habilidades sociais dos alunos com autismo e
promover a sua socialização. Destes, alguns estudos internacionais (KAMPS et
al., 2014; KOEGEL et al., 2012; MASON et al., 2014) têm trazido resultados
promissores de práticas baseadas em evidências que apontam para a promoção
de habilidades sociais no autismo utilizando uma Intervenção Mediada por Pares
(Peer-Mediated Intervention). Trata-se de uma intervenção que tem produzido
resultados positivos em ambientes naturalísticos, como as escolas, onde as
trocas são estabelecidas através da mediação de/entre pares ou uma rede de
pequenos grupos com desenvolvimento típico. A intervenção acontece quando
as crianças sem autismo são instruídas por um adulto a mediarem socialmente
a aprendizagem das habilidades sociais da criança com TEA, exercendo um
papel de facilitadores de comportamentos sociais.
O uso de programas de intervenção que promovam habilidades sociais e
que favoreçam a escolarização de alunos com autismo têm sido progressiva e
amplamente estudados (BELLINI et al., 2007; CAMARGO et al., 2014;
REICHOW; VOLKMAR, 2010). No entanto, apesar dos promissores resultados,
muitos docentes que trabalham com estes alunos em sala de aula não têm
acesso a tais produções, impossibilitando o uso destes materiais para o
incremento de sua prática pedagógica, e assim deixando de promover o
desenvolvimento social dos alunos incluídos. Isso pode acontecer em função de
que o conhecimento produzido e cientificamente comprovado, embora de fácil
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acesso e gratuito, não seja conhecido pelos professores, ficando restrito a bases
de dados onde são publicados e de alcance somente por parte de
pesquisadores.
Dessa forma, para o enriquecimento do trabalho pedagógico do professor
e ampliação de seus conhecimentos acerca de intervenções que favorecem a
inclusão escolar de alunos com autismo, torna-se necessário conhecer estudos
que se utilizam de práticas baseadas em evidências. Tal conhecimento
possibilitará a realização de intervenções mais efetivas e que se fundamentam
em estudos com eficácia comprovada. Tal conhecimento torna-se de extrema
relevância em um contexto onde as formações de professores são precárias, o
conhecimento sobre a condição do aluno é incipiente e o acesso a produções
científicas estão centrados nas academias e, dificilmente chegam à escola
(NUNES; AZEVEDO; SCHMIDT, 2013). Assim, buscando conhecer e descrever
alguns destes estudos, questiona-se: O que se têm produzido sobre Intervenção
Mediada por Pares no contexto da inclusão escolar de alunos com autismo?

2. Objetivo
A proposta desse estudo foi conhecer e descrever o que a literatura nacional
e internacional vem produzindo sobre Intervenção Mediada por Pares para
promover habilidades sociais de alunos com autismo no contexto de inclusão
escolar.

3. Metodologia
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, para conhecer a
produção nacional e internacional da Intervenção Mediada por Pares. Adotou-se
a revisão narrativa, que é uma abordagem metodológica para interpretação da
literatura sobre um determinado assunto de acordo com análise crítica pessoal
do autor (ROTHER, 2007). Esta metodologia não estabelece critérios a priori
para a seleção das publicações (MATOS et al., 2015).
Para a realização deste estudo elaborou-se a questão norteadora e o
objetivo da pesquisa, bem como, realizou-se a busca pelos estudos. A busca foi
composta por artigos nacionais e internacionais que contemplassem a estratégia
de Intervenção Mediada por Pares, nos idiomas português e inglês, utilizou-se
os descritores: Autismo (Autism), Mediação por Pares (Peer Mediation),
5

Habilidades Sociais (Social Skills). As produções científicas foram selecionadas


na base de dados do Portal Periódicos CAPES, que reúne publicações nacionais
e internacionais de diversas áreas do conhecimento. Os estudos selecionados
foram lidos na íntegra, e os aspectos relevantes fichados, a fim de explicitar os
objetivos e resultados do estudo.

4. Resultados
A partir da busca, constatou-se que não foi encontrado nenhum estudo na
literatura nacional que contemplasse a temática investigada. Há estudos que
apontam a importância das interações sociais para alunos com autismo
(GASPAR; SERRANO, 2011; SANINI; SIFUENTES; BOSA, 2013), entretanto
observa-se uma lacuna especificamente sobre Intervenção Mediada por Pares.
Com relação aos estudos internacionais, foi encontrada uma variedade de
produções que contemplam o tema investigado. Dentre estas, três artigos de
intervenção foram randomicamente selecionados para compor a amostra, sendo
descritos neste estudo (KAMPS et al., 2014; KOEGEL et al., 2012 e MASON, et
al., 2014).
Kamps et al. (2014) teve por objetivo avaliar o impacto de uma intervenção
para promover atos comunicativos de alunos do ensino fundamental com TEA
através de um delineamento experimental de estudo de caso único com linhas
de base múltiplas entre os participantes.
A partir de um cadastro prévio, foram selecionadas randomicamente
quatro crianças, com idades entre seis e sete anos. Como critério de inclusão os
participantes deveriam ter diagnóstico de TEA, apresentar comunicação
funcional, fazer pedidos, expressar-se utilizando de duas a três palavras-frase e
capacidade de compreender e responder à solicitações e indicações. Os
encontros dos grupos de intervenção ocorreram três vezes por semana ao longo
de três meses, durante 30 minutos. A intervenção foi desenvolvida por
funcionários da escola e ocorreu em dois ambientes: na sala de recursos e na
sala de terapia de fala. Nesses momentos, a criança com autismo sentava-se à
mesa entre os dois pares com desenvolvimento típico e o agente de intervenção
se fazia presente apenas para repassar as instruções para os pares. Foram
utilizados jogos de caráter cooperativo (memória, quebra-cabeças e livros), um
quadro com a programação visual da lição e um roteiro de ensino do professor.
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Cada sessão durou 10 minutos em que o adulto conduzia as instruções sobre


cada habilidade a ser mediada, seguidas por 10 a 15 minutos de jogo livre e
cinco minutos de feedback, com atribuição de prêmios para cada habilidade
desenvolvida.
O estudo relata resultados positivos na implementação de redes sociais
de pares para o desenvolvimento de habilidades de comunicação para crianças
com autismo. A inspeção visual dos resultados mostrou mudanças significativas
quanto ao total de atos comunicativos para todos os quatro participantes durante
as sessões de mediação por pares, e aumento da frequência de iniciativas para
três dos quatro participantes. Porém, os autores destacaram limitações como o
baixo número de participantes que permitisse uma generalização destes
resultados. Além disso, identificaram a alta variabilidade dos atos comunicativos
entre as sessões, o que poderia ser parcialmente explicada pela variação nas
atividades propostas e pares envolvidos. Além disso, deve-se considerar como
viés o efeito positivo de uma possível familiarização dos participantes com os
pares ao longo do tempo da intervenção, o que pode ter contribuído para explicar
a maior interação entre eles. Estas, entre outras limitações, foram as principais
apontadas.
Koegel et al. (2012) observaram se a socialização na hora do recreio
melhoraria os interesses gerais das crianças com TEA e se estes interesses
também seriam os mesmos para os seus pares típicos que foram incorporados
às atividades. Três crianças com autismo participaram deste estudo, todos
diagnosticados com TEA antes dos três anos de idade. Como critério de inclusão
as crianças deveriam ter déficits de linguagem pragmática, não ter deficiência
mental e não ter a habilidade para desenvolver relações sociais satisfatórias com
seus pares com o mesmo nível de desenvolvimento. O contexto escolhido para
as intervenções foi o recreio, quando as crianças se sentavam em mesas de
piquenique para realizar o lanche com seus pares em torno de 15 min, seguido
por 30 a 45 min de jogo livre. As mediações ocorriam nos dois momentos.
As intervenções foram sistematicamente aplicadas com um participante
de cada vez, no início do período do lanche. Os participantes foram brevemente
informados das diversas possibilidades de atividades no parque infantil, para
depois se envolviam nas atividades que desejassem. Os dados foram coletados
através de duas variáveis dependentes, quais sejam: engajamento com os pares
7

e espontaneidade nas iniciações verbais. A pontuação era dada quando a


criança com TEA realizava mediação, falando, jogando um jogo, criando algo
com seu par com desenvolvimento típico, discutindo a atividade ou ouvindo um
colega ao fazer contato visual sustentado. Se a interação ocorresse de forma
engajada por um minuto a criança recebia (+), do contrário, recebia (-). Ao final,
o número de (+) foi multiplicado por 100, para obter uma porcentagem.
Os resultados mostram que nenhuma das crianças passou algum tempo
engajada com os seus pares no início da intervenção, mantendo-se a
estabilidade de 0%. Após o início da intervenção, o engajamento aumentou,
chegando um deles a 100%, mantendo-se assim até o final das intervenções. A
espontaneidade das iniciativas verbais das crianças com TEA seguiu o mesmo
padrão, ou seja, se mantiveram nulas, estáveis em 0% no início da intervenção.
Após o início da interação com os pares, todos os participantes aumentaram
espontaneamente suas iniciativas verbais. Esse dado mostra que aquelas
atividades incorporadas pelo interesse das crianças com autismo, quando
mediadas pelos pares, resultaram em ganhos tanto na frequência do
engajamento social quanto das iniciativas verbais, sem a necessidade de uma
intervenção direta na promoção das habilidades sociais.
O estudo de Mason et al. (2014) objetivou verificar se existe uma relação
funcional entre um programa instrucional de habilidades sociais combinadas com
redes de pares utilizando os funcionários da escola como implementadores, e se
este aumentaria o nível de atos comunicativos de alunos com autismo. Três
crianças diagnosticadas com autismo, provenientes de um estudo anterior que
avaliou a eficácia da rede de pares, foram escolhidas para participar da pesquisa.
Para a participar era necessário ter diagnóstico de TEA e linguagem verbal
funcional para a comunicação, incluindo habilidade para fazer pedidos e utilizar
duas a três palavras por frase, bem como a capacidade de compreender e
responder às solicitações e orientações.
Foi utilizado antes do início da pesquisa o Childhood Autism Rating Scale
- CARS (SCHOPLER; REICHLER; RENNER, 1988), para confirmar se os
participantes preenchiam os critérios diagnósticos. Além disso, o Teste de
Vocabulário por Imagens Peabody - 4a. Edição (PPVT-4) (DUNN; DUNN, 2007)
e a Vineland Adaptive Behavior Scales - 2a. Edição (VABS-II) (SPARROW;
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BALLA; CICCHETTI, 1984) foram preenchidas para auferir os níveis de


habilidade verbal e social.
Os agentes de intervenção que mediaram as sessões eram professores
da escola e receberam instruções anteriores. Estas ocorreram de duas a três
vezes por semana, envolvendo, primeiramente, a seleção dos pares, a instrução
de habilidades sociais através de uma breve descrição sobre o envolvimento em
conversas com colegas durante o jogo. Também foram dadas sugestões através
de recursos visuais sobre possíveis comentários ou reforços para responder e
dar início durante uma atividade de jogo estruturado, buscando envolver as
crianças com TEA. Crianças com desenvolvimento típico foram orientadas para
interagir e solicitar respostas e/ou iniciativas de comunicação aos participantes
com autismo.
Os resultados mostraram o incremento dos atos de comunicação para os
três participantes e confirmaram os benefícios de mediação de um pequeno
grupo de crianças com desenvolvimento típico no apoio às crianças com TEA na
promoção de suas habilidades sociais.

5. Conclusões
A revisão realizada aponta para a carência de produções nacionais que
envolvam a inclusão de alunos autistas e o uso de Intervenção Mediada por
Pares. Esta lacuna na literatura nacional reflete-se na escola, onde o
conhecimento científico é de difícil acesso, ocasionando práticas pedagógicas
incipientes que apresentam resultados insatisfatórios quanto processo inclusivo
de alunos com autismo.
Já a produção internacional é rica nesta temática, provendo estudos
consolidados que identificam esta estratégia como promissora. Os resultados
pode ser utilizados como evidências para explicar como acontece a intervenção
e seu resultados, possibilitando o desenvolvimento eficaz de habilidades sociais
de alunos autistas no contexto de inclusão escolar.
Percebe-se que os estudos com Intervenção Mediada por Pares
utilizaram-se de um pequeno número de participantes, em que duas pesquisas
envolveram três e uma delas, quatro. Para tanto, foram utilizados delineamentos
mais rigorosos, como os experimentais ou quase-experimentais, com linhas de
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bases múltiplas (KAMPS et al., 2014; KOEGEL et al., 2012; MASON et al.,
2014).
Uma das etapas das práticas interventivas observadas foi a capacitação
dos agentes de intervenção, que eram professores da escola onde o aluno com
autismo estava incluído. Este procedimento mostrou-se válido, pois empodera o
professor para ao trabalho de desenvolvimento de habilidades sociais.
As intervenções nas pesquisas aconteceram em contextos sociais,
aplicadas em ambientes naturalísticos como a sala de aula, recreio e parque
infantil. Locais onde o professor atua no seu cotidiano e que facilitam a
generalização e manutenção dos comportamentos obtidos, ou seja, confere
validade social aos estudos. De fato, intervenções em contextos naturais,
mediadas por pessoas/crianças que interagem com alunos autistas é indicada
por diferentes autores (GANZ et al., 2012; GANZ, 2015; MIRENDA, 2008;
NUNES, 2008).
Este estudo, por ser uma revisão narrativa, buscou conhecer pesquisas
que se utilizam da Intervenção Mediada por Pares como forma de desenvolver
habilidades sociais em alunos autistas. Espera-se que os estudos apresentados
aqui possam ser apropriados por professores que trabalham na inclusão escolar
na realidade brasileira, preenchendo uma lacuna deste conhecimento com
práticas pedagógicas de eficácia comprovada. Neste sentido, ressalta-se a
necessidade de que a produção de conhecimento cientificamente validado se
torne mais amplamente acessível para os professores, seja através da formação
inicial e continuada, seja pela produção de estudos nacionais que investiguem e
divulguem a eficácia destas intervenções.

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