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Abstract: The educational inclusion of students with Autism Spectrum Disorders has been a
challenge for the Brazilian reality. Training of teachers in this area has been poor, impacting on a
minimization of effective strategies in the inclusive process. Few studies have been published on
teachers’ strategies to improve social skills of students with autism in inclusive settings, being
peer-mediated interventions one of them. This article aimed to know and describe what the
national and international literature has published on peer-mediated interventions in the context
of school inclusion of students with autism. This is a qualitative study, which used the narrative
review as methodological contribution. The results show that there is no nationally scientific
literature covering the subject, however the international literature has massively produced on it,
pointing out the effectiveness of this mediation in promoting social skills of autistic students.
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Doutoranda em Educação/UFSM, Mestre em Educação/UFSM, Especialista em Educação
Inclusiva/FGV, Educadora Especial/UFSM, Integrante do grupo EdEA/UFSM.
fabi.sramos@hotmail.com
3Doutora em Psicologia Educacional pela Texas A&M University (EUA). Professora Adjunta da
Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL) e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Autismo e
Inclusão (GEPAI/UFPEL). sigliahoher@yahoo.com.br
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1. Introdução
As políticas públicas de educação especial tem buscado através de
movimentos sociais a efetivação da inclusão escolar, há mais de três décadas.
No entanto, somente a partir da Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva de Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) e da Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015), é que o acesso de todos
às escolas regulares de ensino é enfatizado e garantido.
Apesar do acesso à educação, a construção da aprendizagem, enquanto
ganhos acadêmicos e sociais (BOOTH; AINSCOW, 2000; HUMPHREY, 2008)
nem sempre é efetivada. Assim, a necessidade de conhecimento e
implementação de programas de intervenção e de ensino diferenciados se
mostra uma realidade importante para mediar a consolidação de habilidades
empobrecidas em função do diagnóstico clínico que os alunos incluídos
apresentam. Entende-se por alunos incluídos aqueles considerados público-
alvo4 da educação especial, dentre eles, os alunos com Transtorno do Espectro
Autista (TEA), nominados assim a partir de 2008 (BRASIL, 2008) e reconhecidos.
Além disso, o TEA passa a ser reconhecido legalmente como deficiência
somente em 2012 (BRASIL, 2012) quando lhes é garantido todos os direitos
atribuídos às pessoas com deficiência.
Os critérios diagnósticos do autismo incluem dificuldades em duas áreas
do desenvolvimento: habilidades de sóciocomunicação e a presença de
comportamentos e interesses restritos e estereotipados (APA, 2013). Em relação
à área social, é observado o pouco interesse na interação, demonstrado através
de dificuldades em estabelecer relacionamentos com os outros, compreender as
trocas sociais, manutenção do contato visual, entre outros (APA, 2013). Os
déficits nas habilidades sociais podem ser agravados pela dificuldade de
interação da criança com autismo e seus pares e pelo isolamento social
decorrente (MCGEE; FELDMAN; MORRIER, 1997). Essas dificuldades
interferem tanto no desenvolvimento social, emocional e cognitivo, quanto
4Público alvo são os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação. (BRASIL, 2008)
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acesso e gratuito, não seja conhecido pelos professores, ficando restrito a bases
de dados onde são publicados e de alcance somente por parte de
pesquisadores.
Dessa forma, para o enriquecimento do trabalho pedagógico do professor
e ampliação de seus conhecimentos acerca de intervenções que favorecem a
inclusão escolar de alunos com autismo, torna-se necessário conhecer estudos
que se utilizam de práticas baseadas em evidências. Tal conhecimento
possibilitará a realização de intervenções mais efetivas e que se fundamentam
em estudos com eficácia comprovada. Tal conhecimento torna-se de extrema
relevância em um contexto onde as formações de professores são precárias, o
conhecimento sobre a condição do aluno é incipiente e o acesso a produções
científicas estão centrados nas academias e, dificilmente chegam à escola
(NUNES; AZEVEDO; SCHMIDT, 2013). Assim, buscando conhecer e descrever
alguns destes estudos, questiona-se: O que se têm produzido sobre Intervenção
Mediada por Pares no contexto da inclusão escolar de alunos com autismo?
2. Objetivo
A proposta desse estudo foi conhecer e descrever o que a literatura nacional
e internacional vem produzindo sobre Intervenção Mediada por Pares para
promover habilidades sociais de alunos com autismo no contexto de inclusão
escolar.
3. Metodologia
Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, para conhecer a
produção nacional e internacional da Intervenção Mediada por Pares. Adotou-se
a revisão narrativa, que é uma abordagem metodológica para interpretação da
literatura sobre um determinado assunto de acordo com análise crítica pessoal
do autor (ROTHER, 2007). Esta metodologia não estabelece critérios a priori
para a seleção das publicações (MATOS et al., 2015).
Para a realização deste estudo elaborou-se a questão norteadora e o
objetivo da pesquisa, bem como, realizou-se a busca pelos estudos. A busca foi
composta por artigos nacionais e internacionais que contemplassem a estratégia
de Intervenção Mediada por Pares, nos idiomas português e inglês, utilizou-se
os descritores: Autismo (Autism), Mediação por Pares (Peer Mediation),
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4. Resultados
A partir da busca, constatou-se que não foi encontrado nenhum estudo na
literatura nacional que contemplasse a temática investigada. Há estudos que
apontam a importância das interações sociais para alunos com autismo
(GASPAR; SERRANO, 2011; SANINI; SIFUENTES; BOSA, 2013), entretanto
observa-se uma lacuna especificamente sobre Intervenção Mediada por Pares.
Com relação aos estudos internacionais, foi encontrada uma variedade de
produções que contemplam o tema investigado. Dentre estas, três artigos de
intervenção foram randomicamente selecionados para compor a amostra, sendo
descritos neste estudo (KAMPS et al., 2014; KOEGEL et al., 2012 e MASON, et
al., 2014).
Kamps et al. (2014) teve por objetivo avaliar o impacto de uma intervenção
para promover atos comunicativos de alunos do ensino fundamental com TEA
através de um delineamento experimental de estudo de caso único com linhas
de base múltiplas entre os participantes.
A partir de um cadastro prévio, foram selecionadas randomicamente
quatro crianças, com idades entre seis e sete anos. Como critério de inclusão os
participantes deveriam ter diagnóstico de TEA, apresentar comunicação
funcional, fazer pedidos, expressar-se utilizando de duas a três palavras-frase e
capacidade de compreender e responder à solicitações e indicações. Os
encontros dos grupos de intervenção ocorreram três vezes por semana ao longo
de três meses, durante 30 minutos. A intervenção foi desenvolvida por
funcionários da escola e ocorreu em dois ambientes: na sala de recursos e na
sala de terapia de fala. Nesses momentos, a criança com autismo sentava-se à
mesa entre os dois pares com desenvolvimento típico e o agente de intervenção
se fazia presente apenas para repassar as instruções para os pares. Foram
utilizados jogos de caráter cooperativo (memória, quebra-cabeças e livros), um
quadro com a programação visual da lição e um roteiro de ensino do professor.
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5. Conclusões
A revisão realizada aponta para a carência de produções nacionais que
envolvam a inclusão de alunos autistas e o uso de Intervenção Mediada por
Pares. Esta lacuna na literatura nacional reflete-se na escola, onde o
conhecimento científico é de difícil acesso, ocasionando práticas pedagógicas
incipientes que apresentam resultados insatisfatórios quanto processo inclusivo
de alunos com autismo.
Já a produção internacional é rica nesta temática, provendo estudos
consolidados que identificam esta estratégia como promissora. Os resultados
pode ser utilizados como evidências para explicar como acontece a intervenção
e seu resultados, possibilitando o desenvolvimento eficaz de habilidades sociais
de alunos autistas no contexto de inclusão escolar.
Percebe-se que os estudos com Intervenção Mediada por Pares
utilizaram-se de um pequeno número de participantes, em que duas pesquisas
envolveram três e uma delas, quatro. Para tanto, foram utilizados delineamentos
mais rigorosos, como os experimentais ou quase-experimentais, com linhas de
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bases múltiplas (KAMPS et al., 2014; KOEGEL et al., 2012; MASON et al.,
2014).
Uma das etapas das práticas interventivas observadas foi a capacitação
dos agentes de intervenção, que eram professores da escola onde o aluno com
autismo estava incluído. Este procedimento mostrou-se válido, pois empodera o
professor para ao trabalho de desenvolvimento de habilidades sociais.
As intervenções nas pesquisas aconteceram em contextos sociais,
aplicadas em ambientes naturalísticos como a sala de aula, recreio e parque
infantil. Locais onde o professor atua no seu cotidiano e que facilitam a
generalização e manutenção dos comportamentos obtidos, ou seja, confere
validade social aos estudos. De fato, intervenções em contextos naturais,
mediadas por pessoas/crianças que interagem com alunos autistas é indicada
por diferentes autores (GANZ et al., 2012; GANZ, 2015; MIRENDA, 2008;
NUNES, 2008).
Este estudo, por ser uma revisão narrativa, buscou conhecer pesquisas
que se utilizam da Intervenção Mediada por Pares como forma de desenvolver
habilidades sociais em alunos autistas. Espera-se que os estudos apresentados
aqui possam ser apropriados por professores que trabalham na inclusão escolar
na realidade brasileira, preenchendo uma lacuna deste conhecimento com
práticas pedagógicas de eficácia comprovada. Neste sentido, ressalta-se a
necessidade de que a produção de conhecimento cientificamente validado se
torne mais amplamente acessível para os professores, seja através da formação
inicial e continuada, seja pela produção de estudos nacionais que investiguem e
divulguem a eficácia destas intervenções.
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