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A psicologia Educacional nasce como uma á rea de estudos da Psicologia, e seu

objetivo é a pesquisa de processos de ensino e aprendizagem.

No Brasil, a Psicologia surgiu e se desenvolveu primeiramente, para atender aos


problemas da educaçã o, com foco na mediçã o do desenvolvimento mental,
aprendizagem e maturidade para leitura e escrita.

No interesse de alcançar a todos os cidadã os, com uma educaçã o de qualidade,


visando nã o apenas o conhecimento, mas também a construçã o da cidadania e a
democratizaçã o do ensino, o governo federal estabeleceu políticas pú blicas que
abarcam o contexto da Educaçã o no Brasil, procurando tornar a educaçã o e a
escola acessíveis a todos os cidadã os.

Se a histó ria da Psicologia no contexto escolar foi marcada por uma conduta que
contribuiu para a segregaçã o de crianças, seja por suas condiçõ es sociais ou pelos
problemas de aprendizagem ou de ajustamento, hoje é o momento para se
formular uma nova atuaçã o e apresentar novas prá ticas que estejam em sintonia
com os objetivos das atuais políticas pú blicas para Educaçã o Infantil,
continuamente, refletindo acerca de seu papel social neste contexto (FERREIRA,
2015; CFP, 2013; PATTO, 2010). Assim, mediante essas políticas pú blicas, o(a)
psicó logo(a) deve necessariamente rever sua histó ria profissional, marcada por
prá ticas individualizadas, normativas e adaptacionistas.

a partir de importantes mudanças sociais e políticas em nosso país,


principalmente, aquelas decorrentes do contexto que levou ao estabelecimento da
Constituiçã o Federal de 1988 (BRASIL, 1988), propostas atuais para Educaçã o
Infantil têm se constituído visando modificar esta concepçã o assistencialista de
atençã o, voltando-se para uma ênfase no aspecto educacional da criança. Como
consequência, a Educaçã o Infantil passa ter uma funçã o específica, como etapa
inicial da Educaçã o Bá sica, devendo “iniciar a formaçã o necessá ria a todas as
pessoas para que possam exercer sua cidadania” (BRASIL, 2006b, p. 32). Por tal
motivo, discussõ es e reflexõ es têm sido feitas buscando compreender a criança
como este ser singular, social e histó rico, capaz de construir seu conhecimento
através das interaçõ es que estabelece com os outros como, por exemplo, escola,
família e amigos. Este conhecimento e reconhecimento da criança, de ser e estar no
mundo, tem sido um dos muitos desafios da Educaçã o Infantil (FERREIRA, 2015;
ANTUNES 2008; BRASIL, 1998; VOKOY; PEDROZA, 2005).
em um primeiro momento, inteirar-se dos princípios norteadores que regem as
políticas pú blicas para Educaçã o Infantil, bemcomo algumas de suas limitaçõ es na
atualidade. Em um segundo momento, procurou-se retratar as relaçõ es histó ricas
entre a escola e a atuaçã o da Psicologia; para entã o, em um terceiro momento,
fazer uma breve reflexã o sobre a atuaçã o do(a) psicó logo(a) escolar diante das
políticas pú blicas para a Educaçã o Infantil na contemporaneidade. Estas reflexõ es
despontam na intençã o de que nã o apenas se reconheça a importâ ncia do(a)
psicó logo(a) escolar na Educaçã o Infantil, senã o que também se apreenda e amplie
este conhecimento sobre as diferentes possibilidades de sua atuaçã o frente as
políticas pú blicas educacionais brasileiras. Isto, para que este profissional nã o
simplesmente cumpra com o que foi estabelecido pela lei brasileira, mas sim e
ainda mais, contribua para a construçã o de uma Psicologia Escolar, conforme
mencionam Antunes (2008) e Patto (2010), comprometida socialmente com a
construçã o da cidadania da populaçã o no Brasil.

o processo de construçã o e consolidaçã o da Psicologia no campo da Educaçã o foi


historicamente marcado por objetivos fortemente adaptacionistas, detendo-se,
muitas vezes, a reproduzir o discurso vigente da ordem e das normatizaçõ es. A
figura do(a) psicó logo(a) escolar, ainda pouco definida neste contexto, estava
relacionada a “curar” o(a) aluno(a)-problema, resolvendo dificuldades de
aprendizagem que surgiam na escola.

Vá rios estudos registram que esta conduta focada naqueles(as) que nã o


aprendiam, que nã o se alfabetizavam ou que nã o obedeciam à s regras escolares,
fomentou uma Psicologia segregadora e excludente. Isto contribuiu para o
surgimento de uma política de apartaçõ es dentro da escola, a partir da qual
passam a ser definidos os(as) que aprendem e os(as) que nã o aprendem; os(as)
aptos(as) e os(as) nã o aptos(as) a aprender determinadas atividades ou tarefas
(FERREIRA, 2015; ANDRADA, 2005; ANTUNES 2008; SOUZA et al., 2014).

Novos modelos de atuaçã o passam a salientar que, na verdade, nã o se trata de


desconsiderar a importâ ncia da dimensã o psicoló gica individual para os processos
educativos e desresponsabilizar inteiramente o sujeito, quanto aos problemas
escolares, mas, de entender que estas questõ es psicoló gicas sã o apenas parte do
complexo processo educativo. Nesta direçã o, tanto as questõ es sociais, como
econô micas, culturais e as pedagó gicas, devem ser levadas em conta para o
entendimento das dificuldades de ajustamento ou aprendizagem que surgem no
campo escolar. Assim, a Psicologia permanece, sim, como um dos fundamentos da
educaçã o, buscando, no entanto, ampliar suas bases de compreensã o destes
problemas, deslocando o olhar unicamente para o sujeito e fazendo perceber
outros fatores e relaçõ es escolares como um todo.
É momento de a Psicologia Escolar intensificar suas reflexõ es na busca de maior
criticidade à sua formaçã o e atuaçã o, diante de um cená rio político-econô mico que
agudiza, ainda que de forma cada vez mais sutil, o controle social e as graves
desigualdades que se configuram no panorama histó rico atual (MARINHO-
ARAÚ JO; ALMEIDA, 2008, p. 69). No decorrer deste trabalho, pô de-se compreender
a importâ ncia da presença e intervençã o do(a) psicó logo(a) escolar, no contexto da
Educaçã o Infantil. Ele(a) é o(a) agente escolar que deve sempre contextualizar a
realidade que o(a) envolve sem, no entanto, conformar-se aos padrõ es vigentes,
que por vezes, cristalizam-se e se tornam obstá culos para o pleno desenvolvimento
tanto da criança como dos demais inseridos neste contexto. É de fundamental
importâ ncia a atuaçã o da Psicologia voltada a contribuir para o desenvolvimento
infantil, formando pessoas autô nomas, críticas e cidadã s (BARBOSA; MARINHO-
ARAÚ JO, 2010; SILVANA; OLIVEIRA, 2017). Segundo Silvana e Oliveira (2017) o(a)
psicó logo(a) escolar deve agir de maneira cada vez mais expressiva para promover
e consolidar seu ingresso no ambiente escolar. Antunes (2008) também salienta
que o trabalho deste(a) profissional precisa estar efetivamente comprometido com
o cotidiano da escola, promovendo uma educaçã o democrá tica. É fato que a rede
privada de ensino já tem aberto (embora gradativamente) um espaço para atuaçã o
deste(a) profissional, mas, a rede pú blica, de muito maior abrangência e atendendo
a um pú blico muito maior, ainda carece da presença deste(a) profissional. Mesmo
que o(a) psicó logo(a) nã o seja regulamentado como um(a) profissional da
Educaçã o, cabe lembrar que o Congresso Nacional já declarou que alunos das
escolas pú blicas de educaçã o bá sica têm assegurados por lei, o atendimento tanto
por psicó logos(as) quanto por assistentes sociais (SILVANA; OLIVEIRA, 2017).
Neste sentido, se faz necessá rio que os(as) psicó logos(as) escolares direcionem
também suas prá ticas para a construçã o de políticas pú blicas que nã o só resultem
em uma açã o mais efetiva deste(a) profissional em seu contexto de trabalho – a
escola, mas também açõ es comprometidas com as classes populares (ANTUNES,
2008; SILVANA; OLIVEIRA, 2017). Em virtude do que foi exposto neste trabalho
acerca da atuaçã o do(a) psicó logo(a) escolar na Educaçã o Infantil frente à s
políticas pú blicas vigentes nesta á rea, percebe-se a amplitude de seu trabalho
neste contexto. Embora uma postura segregadora tenha marcado o início da
caminhada deste(a) profissional no campo educacional, atualmente este quadro
tem se revertido na direçã o de uma prá tica voltada para todo contexto social da
criança. Uma prá tica nã o apenas focada nas dificuldades de um só indivíduo (a
criança), mas também nos diversos conflitos e relaçõ es que o(a) cercam,
envolvendo todo o contexto escolar. Percebe-se também, o alinhamento tã o
necessá rio entre os princípios norteadores das políticas pú blicas para Educaçã o
Infantil e os princípios de atuaçã o do(a) psicó logo(a) como profissional,
principalmente no que diz respeito à busca por condiçõ es de cidadania dos sujeitos
que fazem/frequentam a Educaçã o Infantil. A congruência entre os princípios pode
colaborar para uma prá tica mais justa e equitativa no contexto escolar. Como
profissional, o(a) psicó logo(a) escolar precisa manter sempre a disposiçã o crítica e
questionadora quanto à sua prá tica e frente à s políticas pú blicas que sã o
implantadas em seu contexto de atuaçã o. Questionamentos levantados pela
psicó loga escolar Maria Helena Souza Patto, na década de 80, tais como: O que
fazemos? Para quem fazemos? Com que finalidade? A que interesses servimos?
(PATTO, 1984) sã o totalmente pertinentes para o momento atual.
Questionamentos como estes o(a) psicó logo(a) escolar, no contexto da Educaçã o
Infantil, precisa fazer continuamente, para que sua prá tica nã o retroceda ferindo
seus preceitos éticos e consequentemente direitos civis e sociais tã o arduamente
conquistados.

A Psicologia deve enfrentar o desafio de intervir no contexto concreto das escolas


diante da complexidade resultante das políticas inclusivas, reinventado suas
prá ticas. Considera-se relevante compreender os cená rios mais amplos implicados
nessas políticas, suas contradiçõ es e seus efeitos nas prá ticas escolares e nos
processos de produçã o subjetiva decorrentes. Esses elementos podem elucidar
uma aná lise crítica das condiçõ es concretas que o psicó logo depara-se ao intervir
em uma escola, a fim de promover a inclusã o.

Nas ú ltimas décadas, a Psicologia reviu-se enquanto ciência e buscou novos rumos,
visando construir concepçõ es críticas da atuaçã o profissional no campo da
Educaçã o, conforme significativo nú mero de autores da Psicologia Escolar revela.
Essas reformulaçõ es ocorreram no bojo de mudanças significativas no campo
político educacional brasileiro. Nesse cená rio, novas questõ es se fizeram presentes
na á rea educacional, impulsionadas pelos avanços oriundos da expansã o de um
sistema de pó s-graduaçã o que, por sua vez, vem permitindo a consolidaçã o de um
conjunto de pesquisas no Brasil e a sua repercussã o no campo da elaboraçã o de
políticas pú blicas. A atuaçã o do psicó logo escolar precisará , portanto, considerar: o
compromisso com a luta por uma escola democrá tica e com qualidade social; a
ruptura epistemoló gica relativa à visã o adaptacionista de Psicologia; e a
construçã o de uma prá xis psicoló gica diante da queixa escolar, visando ao
conhecimento das políticas pú blicas educacionais e à s suas repercussõ es na vida
diá ria escolar

A comissã o de políticas pú blicas, eixo educaçã o, compreende a relevâ ncia


dessa discussã o, na medida em que se observa a inserçã o da Psicologia em diversas
formas no cená rio educacional como, por exemplo, em disciplinas específicas, em
temas trabalhados em disciplinas atravessadas pela discussã o do processo de
constituiçã o do sujeito, aprendizagem e desenvolvimento, relaçõ es entre
professores e estudantes, funcionamentos escolares, dificuldades no processo de
escolarizaçã o, entre outros. Nessa direçã o, conforme acena o documento
produzido no ano da Psicologia na Educaçã o de 2008, há uma necessidade
premente de enfatizar a importâ ncia da Psicologia enquanto ciência e profissã o, e
sua contribuiçã o no que se refere à consolidaçã o da luta pelo direito a uma
educaçã o pú blica, de qualidade, socialmente referendada para todas e todos,
ancorada nos princípios dos direitos humanos, no respeito a diversidade e com
compromisso social e político. Entende-se que a atuaçã o das (os) psicó logas (os)
nesses espaços poderá contribuir para que a escola seja, efetivamente, um espaço
democrá tico de produçã o e acesso ao saber, sobretudo, a populaçã o que tem
reiteradamente, aviltada o direito de permanecer e continuar os estudos em
contextos formais de ensino.

Pode-se afirmar que o processo pelo qual a psicologia conquistou sua


autonomia como área de saber e o incremento do debate educacional e
pedagógico nas primeiras décadas do século XX estão intimamente
relacionados, de tal maneira que é possível afirmar que psicologia e
educação são, historicamente, no Brasil, mutuamente constituintes uma da
outra. Esse momento foi responsável pela consolidação da articulação entre
psicologia e educação,

REFERÊ NCIAS ISSN 2237-9460 Revista Exitus, Santarém/PA, Vol. 9, N° 3, p. 116 -


140, JUL/SET 2019. 138 ANDRADA, E. G. C. Novos paradigmas na prá tica do
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ANDRADA, E. G. C. Novos paradigmas na prá tica do Psicó logo Escolar. Psicologia


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