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A atuação do psicólogo escolar educacional

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais


Psicologia, Educação e Intervenções Psicopedagógicas
Professora Rosa Maria

Grupo: Alice Xavier, Izabella Almeida, Laura Ribeiro, Letícia Segall e Sophia Dias.

“Todos os seres humanos são capazes de aprender, mas é necessário que adaptemos nossa
forma de ensinar.”
– Vygotsky

Introdução

O presente trabalho visa discorrer acerca da atuação dos psicólogos na área


psicopedagógica. Será tratado os objetivos, a forma de fazer o diagnóstico e, por fim,
elaborado um plano de intervenção. Será tomado como base as aulas da professora Rosa
Maria do quarto período de psicologia do Coração Eucarístico e o filme Escritores da
liberdade (2007).

Objetivo de uma intervenção psicopedagógica

A intervenção psicopedagógica pode ser entendida como uma mediação realizada por
um profissional qualificado em psicopedagogia atuando em pessoas que apresentam alguma
dificuldade em aprendizagem seja ela qual for. Seu campo pode ser escolas e é
majoritariamente escolas, públicas ou privadas. A psicopedagogia busca melhorar o processo
de aprendizagem. Seu objeto central de estudo está estruturado em torno do processo de
aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais e patológicos, muito estudado por
Piaget (1980- 1896). Na intervenção psicopedagógica o procedimento adotado visa interferir
no processo, compreendê-lo, explicitá-lo ou corrigi-lo, introduzindo novos elementos para
potencializar a aprendizagem para o paciente, diminuindo as dificuldades gradativamente,
aprimorando suas habilidades e superando seus déficits de aprendizagem. Um dos principais
objetivos da psicopedagogia é a intervenção, realizando a mediação entre adolescentes,
crianças ou adultos e os seus objetivos específicos de conhecimento.
Vale ressaltar que, a partir da regulamentação da Lei n°13.935/2019, criou-se a
prestação de serviço social nas redes públicas de educação básica. Essa política pública de
educação terá a possibilidade de inserção de psicólogas e assistentes sociais em equipes
multiprofissionais nas redes de ensino públicas, com o objetivo de contribuir para o
atendimento integral e de qualidade do processo de ensinoapredizagem.

Diagnóstico psicopedagógico

Antes de tudo, é necessário fazer uma análise institucional. Depois, entender a


diferença entre queixa e demanda, entendendo a queixa como o pedido formal/inicial e a
demanda como o não dito, o pedido real, muitas vezes inconsciente que demandará do
psicopedagogo compreender aquilo que está recalcado.
É um processo de investigação que utiliza do levantamento de hipóteses que serão
confirmadas ou não ao longo dos passos utilizados na busca da compreensão da forma de
aprender do sujeito e dos obstáculos que estão interferindo em seu processo de aprendizagem.
A partir das hipóteses iniciais, é possível estabelecer um plano de avaliação psicopedagógica
definindo-se os processos que serão utilizados na coleta de dados para se chegar à
compreensão diagnóstica.
O diagnóstico psicopedagógico é um processo que varia mediante a demanda. No
entanto, considerando que grande parte da atuação será com crianças e adolescentes, algumas
etapas se mostram cruciais. Sendo elas, entrevista familiar, anamnese, entrevista com a equipe
escolar: professores e pedagogos, sessões lúdicas centradas no entendimento do processo da
aprendizagem, complementação com testes psicológicos, prognóstico, devolução,
encaminhamentos quando necessários, e por fim, laudo ou informes.

Demandas notadas no filme "Escritores da liberdade"

O presente trabalho tem como objeto de análise, o filme Escritores da Liberdade


(2007), que mostra de forma muito plural a realidade de escolas cujos estudantes vêm de
contextos desafiadores e excludentes. É possível fazer uma comparação do que é visto no
filme, ambientado nos Estados Unidos, com o que se vive aqui mesmo, majoritariamente em
escolas públicas, no Brasil. Podemos salientar a existência de vários aspectos
sociopsicopedagógicos trabalhados no filme, como: violência, descrença em potenciais,
desobediência, desmotivação e, principalmente, conflitos raciais. Neste presente trabalho,
focaremos na demanda racial e desmotivação dos alunos.
O filme apresenta a demanda racial como um dos grandes pilares responsáveis pelo
fracasso escolar dos alunos. Estando separados por suas nacionalidades em uma escola onde o
próprio corpo acadêmico não acredita em integração, se faz constante a xenofobia e o racismo
na vida dos estudantes, uma vez que cada grupo deve se defender por si só. A partir desses
fatores, fica nítido observar uma segregação severa presente no ambiente escolar, separando
os indivíduos por raça, retratado no filme com diferentes “gangues”. Além disso, a
dificuldade apresentada pelos alunos de enxergar cada colega como um sujeito singular
fortalece, durante todo o filme, a resistência de se integrarem enquanto um grupo, enquanto
uma classe. Percebemos que o reforçamento de estereótipos racistas e xenófobos realizados
pela própria escola e entre a própria turma se tornou um dos maiores empecilhos para que a
turma se abrisse entre si e, consequentemente, para a educação.
Entende-se, ainda, que a razão da desmotivação para o ensino não parte apenas dos
alunos mas, principalmente, do sistema falho de educação que os coloca em caixas e
massifica o conhecimento, abdicando de explorar a subjetividade e a experiência de vida de
cada sujeito. Sendo assim, o desempenho escolar se mostra, também, um termômetro social
que indica que o sucesso acadêmico não origina-se tão somente dos talentos de um aluno, mas
também de sua origem social e da forma como sua classe, sexo, etnia e localização geográfica
são interpretados pela sociedade em que vive (NOGUEIRA, NOGUEIRA; 2002).
Tendo em vistas os aspecto raciais que impactam diretamente na motivação dos
estudantes, podemos relacionar a noção de habitus, em que o sucesso e fracasso de cada grupo
estaria diretamente relacionado a um acúmulo de históricos de experiência, estabelecendo o
que seria ou não possível de ser realizado por um grupo social (WACQUANT, BOURDIEU;
1992). Ao aplicar isto na educação e nas demandas, principalmente a racial, apresentadas pelo
filme, compreendemos o porquê de alguns grupos sociais investirem mais esforços que outros
nos estudos: porque as experiências prévias, vividas por membros de grupos semelhantes,
provaram-se mais ou menos prósperas.

Hipótese Diagnóstica

O desenvolvimento de uma hipótese diagnóstica se dá através do entendimento do


contexto sócio-histórico dos agentes envolvidos com determinada demanda, sendo elas: a
questão racial e desmotivação geral dos alunos. Para isso, é necessário compreender todos os
ambientes em que os estudantes estão inseridos, isto é, campo familiar, educacional e até
mesmo profissional, tendo em vista que alguns pré-adolescentes retratados no filme são
obrigados a iniciar sua carreira cedo, inclusive em cenários ilegais, com o objetivo de
conseguirem recursos para se manterem. É de suma importância entender a relação que o
aluno tem com a família, uma vez que essa condição pode contribuir negativamente na vida
daquele indivíduo, podendo ser um fator de incentivo ou agravamento ao racismo. Além
disso, analisar o ambiente educacional, incluindo o corpo docente, as aulas regulares, projetos
extracurriculares, está diretamente relacionado à motivação dos discentes.
Para elaborar a nossa hipótese diagnóstica sobre a Escola Wilson, retratada no filme
Escritores da Liberdade (2007), nos baseamos nas teorias do sociólogo francês Pierre
Bourdieu. Em primeiro lugar, nos baseamos na conceituação do habitus como a estrutura
composta pelo estilo de vida, interesses, julgamentos políticos e morais, adquiridos através
das experiências sociais do indivíduo, este se torna regulador das relações entre os agentes
sociais, assim, estruturando a maneira de agir e de pensar de um grupo. No filme, o habitus é
representado pelos costumes de cada “gangue” e como isso afeta a relação dos alunos entre si,
e destes para com a professora. Ainda, ressaltamos que a constituição destes grupos se dá pela
motivação racial, e com habitus conflitantes, uma vez que cada um tem sua própria cultura
geradora, o reforçamento do racismo e da xenofobia é constante.
Outro conceito importante é o de capital, tanto capital cultural como capital social,
são estes, respectivamente, os saberes reconhecidos academicamente pela sociedade e as
relações sociais que podem se tornar um mecanismo de dominação. Podemos observar a
importância dos dois tipos de capitais na vida dos jovens da Escola Wilson, na maneira como
eles são desvalorizados pela própria instituição, e por aqueles que a compõem, quando obtêm
notas abaixo da média esperada e como a relação do corpo docente com os alunos é uma
relação opressora, esta é revelada em diversos momentos, desde a descrença na capacidade
dos alunos de aprender, de cuidarem dos livros da biblioteca ou de aprenderem sobre a 2ª
guerra mundial, até o comportamento ativo da direção de não destinar nenhuma verba para
projetos destes jovens considerados como problemas.
Ainda, nos baseamos no conceito de violência simbólica, um conceito também de
Pierre Bourdieu, que diz respeito a coação e a dominação apoiada em determinações sociais
tomadas como “naturais”, sem o questionamento crítico da autoridade destas. Podemos
observá-la nas diferenciações entre a turma 202, composta pelos alunos da Escola Wilson com
notas acima da média e em sua maioria brancos, e da turma 203, com aqueles de notas abaixo
da média e majoritariamente não brancos. Enquanto os alunos da 202 possuem mesas,
cadeiras, livros e materiais escolares novos e modernos os alunos da 203 fazem uso de
equipamentos antigos e depredados, além disso o constante descaso com as necessidades
destes alunos evidenciam a prática da violência simbólica pela instituição escolar.
No que se trata do necessário para construir uma hipótese diagnóstica das demandas da
Escola Wilson, elencamos três prioridades. A primeira é de compreender a composição racial
da turma 203 e a maneira como as fronteiras raciais afetam o convívio dos estudantes; a
segunda se trata de uma investigação detalhada das áreas do conhecimentos com as quais os
alunos possuem dificuldade e por fim conhecer cada aluno no seu campo pessoal e individual,
entendendo desde a maneira como o local em que este mora até como a sua constituição
familiar pode interferir nos seus estudos. Somente com estas informações podemos identificar
as demandas da turma e produzir um plano de ação que esteja alinhado com as urgências da
mesma.

Plano de Intervenção

Tendo em mente toda estrutura social abordada no filme e as dificuldades enfrentadas


naquele contexto advindas do racismo e da desmotivação generalizada dos alunos da
professora Erin Gruwell, um plano de intervenção foi pensado e elaborado pela própria
docente. Neste plano, a intenção principal é tornar aqueles alunos rebeldes e desmotivados em
figuras importantes no ambiente da sala de aula, além de construir um espaço acolhedor e
afetuoso, visando uma conexão maior entre a turma. Para isso, a professora começou
elaborando projetos e dinâmicas dentro das salas que despertassem a curiosidade dos alunos,
um exemplo disso é o momento em que ela tira todas as cadeiras da sala de aula para fazer um
“jogo” que consiste nos estudantes se aproximaram da linha no momento em que se
identificarem com a pergunta realizada.
Em seguida, após conquistar aos poucos a confiança dos adolescentes, a professora
propôs que estes escrevessem todos os dias um poema, nessa atividade os alunos estavam
livres para escrever qualquer assunto sobre eles que quisessem. No entanto, eles não eram
obrigados a lerem seus poemas e tinham a liberdade de escolher se compartilhariam com Erin
ou não. Dessa forma, Gruwell os colocou como prioridade, demonstrando que a história de
cada um tem sua importância, porém sem pressioná-los. Após a entrega dos cadernos, aqueles
que queriam compartilhar suas histórias com a professora, deveriam deixar dentro do armário
e o resultado foi surpreendente. Quando ela abriu o armário estava lotado de cadernos, e todo
seu esforço estava valendo a pena.
Com o decorrer da obra, conseguimos perceber toda a caminhada do projeto de
intervenção estruturado pela educadora. Para que fosse possível atingir o objetivo, foi
necessário dar um passo de cada vez, isso implica em diversas etapas longas e difíceis como
ganhar a confiança de cada um, elaborar métodos que sejam eficazes para integração dos
membros, se manter firme e confiar no processo que ao final dará resultados satisfatórios. No
fim do filme, o objetivo foi alcançado, tendo em vista que a turma se tornou uma família, não
havia mais a segregação do início, todos foram capazes de criar laços e enxergar aquele
ambiente como um local seguro, sem julgamentos ou preconceitos. Além disso, a partir do
momento que se sentiram acolhidos e importantes, a motivação quanto a aula só cresceu
gradativamente.
Portanto, fica claro a importância de um plano de intervenção em situações como
estas, uma vez que visa o crescimento interpessoal e coletivo. O projeto teve como objetivo
instaurar a harmonia e paz entre os indivíduos da classe 203, além de promover o
autoconhecimento de cada um, compreendendo todos os aspectos sócio-históricos. Ao longo
do período estudamos que a escola tem um papel extremamente importante para promover
desenvolvimento de identidade, pluralidade e construção do conhecimento. Posto isto, o papel
da professora foi primordial como agente de mudança, assim como Paulo Freire pensa, já que
ele afirma que a Paz só pode se instaurar como consequência de alguma educação
crítico-conscientizadora, e só pode ser construída pela elaboração da justiça social (ANA;
FREIRE, 2006). Em vista disso, concluímos que a educação na escola tem grande influência
para construção e conscientização dos seres, podendo ter resultados excelentes quando
analisados e trabalhados da forma correta.

Referências:

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Acesso em: 2 dez. 2022.

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