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CENTRO UNIVERSITÁRIO DOUTOR LEÃO SAMPAIO

CURSO DE PSICOLOGIA

ANA CAROLINA BEZERRA DA SILVA

ANTONIA MAIZA PEREIRA DE OLIVEIRA

GUSTAVO FIGUEIREDO PIO

MARIA GABRIELE ARAUJO RODRIGUES LEITE

MANUEL FERREIRA DE SOUZA JUNIOR

ANÁLISE CRÍTICA DO FILME BULLYING: PROVOCAÇÕES SEM LIMITES

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2024
ANA CAROLINA BEZERRA DA SILVA

ANTONIA MAIZA PEREIRA DE OLIVEIRA

GUSTAVO FIGUEIREDO PIO

MARIA GABRIELE ARAUJO RODRIGUES LEITE

MANUEL FERREIRA DE SOUZA JUNIOR

ANÁLISE CRÍTICA DO FILME BULLYING: PROVOCAÇÕES SEM LIMITES

Análise apresentada como avaliação


parcial da disciplina Grupos: Teorias e
Práticas, do Curso de Psicologia do
Centro Universitário Doutor Leão
Sampaio.

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2024
1. DESENVOLVIMENTO

O fenômeno do bullying é uma realidade perturbadora que afeta indivíduos em


diversas instituições sociais, especialmente no ambiente escolar. O filme “Bullying -
Provocações Sem Limites” oferece uma representação visceral desse fenômeno,
retratando a jornada de um adolescente que se torna vítima de agressões contínuas.
Nesse sentido, se faz imprescindível uma análise destacando a relevância das
interações sociais e do contexto cultural no desenvolvimento psicológico na
experiência do bullying à luz da psicologia marxista e da psicologia histórico-cultural
Vigotskiana.

O desenvolvimento cognitivo e social do indivíduo é profundamente influenciado


pelo ambiente linguístico e pelas interações sociais que o cercam. Vigotski (2001)
argumenta que a linguagem é fundamental para o desenvolvimento cognitivo,
atuando como mediadora entre o indivíduo e seu ambiente cultural, desempenhando
um papel crucial no desenvolvimento cognitivo como ferramenta simbólica fabricada
no social e que nos constitui como humanos. No filme “Bullying - Provocações Sem
Limites”, observamos que o bullying verbal não apenas fere emocionalmente, mas
também pode distorcer a percepção da vítima sobre si mesma e seu potencial de
aprendizado. A linguagem, nesse contexto, é utilizada como instrumento de
opressão, evidenciando que o bullying não é um ato isolado, mas um reflexo das
dinâmicas de poder e das influências histórico-culturais presentes na sociedade.

A vítima, Jordi, é submetida a uma série de agressões que impactam seu


desenvolvimento psicológico e bem-estar, revelando a complexidade do bullying
como um problema social enraizado em fatores culturais e históricos. Segundo
Pacievitch et al. (2022), a educação e as questões sociais devem ser analisadas
dentro do contexto do capitalismo e da luta de classes, oferecendo uma perspectiva
marxista sobre as relações de poder e desigualdades presentes na sociedade. Este
fenômeno é fruto de uma lógica de contradições dentro da estrutura escolar,
moldada num contexto capitalista que, por sua vez, perpetua desigualdades e
relações de poder desequilibradas. No contexto social, o bullying pode ser visto
como uma ruptura das normas de interação que promovem o respeito mútuo e o
entendimento.
Segundo Vigotski, Luria e Leontiev (2010), em suas discussões sobre o
desenvolvimento cognitivo, enfatizam a importância das interações sociais como um
meio para o desenvolvimento de processos psicológicos superiores estruturados em
sistemas funcionais dinâmicos. Quando o bullying ocorre, especialmente em
ambientes educacionais, ele cria um clima de medo e ansiedade, que não apenas
afeta a vítima, mas também altera a dinâmica social do grupo. As vítimas podem se
retrair, evitando a participação em atividades coletivas e discussões, o que pode
levar a um atraso no desenvolvimento de habilidades sociais cruciais, como a
comunicação eficaz, a empatia e a colaboração.

Além disso, o isolamento resultante do bullying pode ter efeitos prejudiciais no


desenvolvimento cognitivo. Quando uma criança é marginalizada, suas
oportunidades de aprender através da interação social são significativamente
reduzidas, devido ao fato de que a Zona de Desenvolvimento Proximal, que pode
ser resumida às possibilidades de aprendizado da criança ou adolescente
(VIGOTSKI, 2004.), se encontram restringidas devido à concretude situacional da
dinâmica social em que se encontra. Isso pode resultar em atrasos acadêmicos e
dificuldades de aprendizagem, pois a criança pode ter menos oportunidades de
engajar-se em diálogos significativos que promovem o entendimento e a
internalização de novos conceitos.

Bullying é um desafio social e um entrave ao desenvolvimento cognitivo e


emocional. É vital criar ambientes educacionais seguros e acolhedores que
encorajem interações saudáveis e uso positivo da linguagem, contrariando a lógica
capitalista subjacente. Educadores e escolas devem reconhecer o impacto da
linguagem no crescimento dos alunos e na prevenção do bullying. A erradicação do
bullying e o fomento ao desenvolvimento pleno dos estudantes requerem uma
reforma educacional profunda, que enfrente as bases culturais e históricas da
opressão e promova uma cultura de resiliência frente às desigualdades de poder.
(BEZERRA NETO; OLIVEIRA, 2022.)

Ao observar um contexto geral, podemos identificar como as relações e


dinâmicas de um determinado grupo podem influenciar diretamente nas ações
sociais de um indivíduo. A criança, por sua vez, reflete os comportamentos que lhe
são expostos, sejam eles familiares ou de pessoas do seu convívio. De acordo com
Bandura (1977), o processo de aprendizagem social é complexo e ocorre por meio
da observação e da imitação de modelos. Um exemplo muito presente é quando a
criança em desenvolvimento presencia agressões no âmbito familiar, existe uma
grande possibilidade desse ato se tornar comum em sua vida, e posteriormente, ser
reproduzido com outros indivíduos. Da mesma forma acontece com a situação
oposta, se tal criança for exposta a modelos de compreensão e carisma é bem
provável que também o faça na sua vida social. Dessa forma, pode-se fundamentar
e estruturar tanto o papel do agressor quanto o da vítima no contexto do bullying.

Em conformidade com os fatos já expostos na junção deste texto e na atual


disciplina, presenciamos a definição de grupos internos, no qual destaca-se a
influência das pessoas através da mente, sendo ela basicamente o produto das
relações externas interiorizando todo tipo de aprendizagem “recebida” do outro.
Piaget (1947) Define o conceito de "agrupamentos internos", que se refere a essa
estruturação interna do conhecimento na mente das crianças. É possível,
comprovar, que, em toda e qualquer organização e relação estabelecida na vida
humana, é de grande importância a presença de uma base educacional infantil boa,
para que nas demais fases de sua vida consiga exercer as exigências básicas de
boa convivência.

A partir dessas reflexões surgem os questionamentos do porquê o ato de


denunciar parece ser tão difícil para a vítima da violência? Como a escola poderia
explorar de forma mais eficaz a prevenção do bullying? A obra cinematográfica do
diretor espanhol Josetxo San Mateo nos convida a refletir sobre uma questão que,
na época do lançamento do filme em 2009, representava um tema repleto de
incertezas: até que ponto uma brincadeira deixa de ser inofensiva e se transforma
em uma forma de violência?

A transição da compreensão do bullying como uma manifestação da violência


em suas diversas facetas nas relações interpessoais escolares foi lenta. Felizmente,
a temática consolidou-se nos espaços de discussão educacional, debates sociais e
políticas públicas. O enredo do filme, dentro desse contexto, nos faz perceber
implicitamente a dificuldade da instituição escolar em organizar estratégias e
procedimentos de resolução de conflitos. Essa constatação também se evidencia na
crença – estruturada pelo medo – da vítima na impunidade do perpetrador da
violência. A percepção de que nada poderia ser feito a nível institucional para coibir
a reincidência desses atos, bem como a passividade dos colegas em denunciar os
abusos, revela a fragilidade do sistema no microcosmo social que é a escola.

Além disso, observa-se que o grupo institucional escolar está adoecido, uma
vez que o espaço de interação social entre os alunos está impregnado pelo câncer
do bullying. Nesse sentido, a colaboração, o suporte e a comunicação entre o corpo
organizacional escolar e os alunos também se mostram comprometidos, pois a
problemática se faz presente e corriqueira no cotidiano escolar.

Em certo momento da obra, a equipe organizacional da escola busca


estratégias para enfrentar o bullying. Por exemplo, um especialista em sociologia e
psiquiatria é convidado para falar sobre as configurações e implicações sociais
negativas do bullying. A partir disso, tem-se a criação de um grupo operativo, no
qual tudo o que é discutido naquele breve momento tem como objetivo fazer com
que os estudantes levem o conhecimento para o espaço social do qual fazem parte.
Essa ação é válida do ponto de vista interventivo, porém incompleta.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Seria possível, para envolver os pais no processo de esclarecimento sobre


uma temática não tão disseminada na época, a criação de um grupo institucional
mais amplo. Assim, a tríade da educação seria incorporada na intervenção (pais,
educadores e alunos). Para obter resultados mais satisfatórios, seria interessante
também incluir especialistas na área no grupo institucional. Com isso, as questões
trazidas pelos membros do grupo poderiam ser elucidadas, assim como os casos
atuais de bullying, denunciados.

É necessário reconhecer que o enfrentamento dos impactos causados pelo


bullying não ocorre facilmente, embora as medidas propostas sejam de extrema
importância. A realidade é que o bullying não é apenas um problema escolar, mas
um reflexo de dinâmicas sociais mais amplas, enraizadas em desigualdades
estruturais e culturais. Nesse contexto, o conceito de grupo interno se revela
fundamental. Este se caracteriza por tudo que foi internalizado pelo indivíduo e volta
mesmo na falta da presença do que gerou a internalização, acabando por definir
comportamentos.

A influência desses grupos internos pode ser poderosa, moldando a maneira


como os indivíduos interagem uns com os outros e perpetuando padrões de
comportamento prejudiciais, como o bullying. Portanto, qualquer abordagem eficaz
para combater o bullying deve considerar não apenas os aspectos individuais, mas
também as influências dos grupos internos e as normas culturais internalizadas
pelos membros do grupo.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANDURA, A. Social Learning Theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1977.

BEZERRA NETO, L.; OLIVEIRA. E. R. (Orgs.). Marxismo e Educação: contribuições


para a discussão sobre o papel do Estado numa concepção marxiana. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2022.

PACIEVITCH, C.; BARTZ, F. D.; FELTES, F; ROLIM, G. K. (Orgs.). Perspectivas


Marxistas: Educação, Capitalismo e Luta de Classes. Porto Alegre, RS: Editora Fi,
2022.

PIAGET, J. A Psicologia da Inteligência. Rio de Janeiro: Zahar, 1947.

VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e


Aprendizagem. 11. ed. São Paulo: Ícone, 2010.

VIGOTSKII, L. S. Teoria e método em psicologia. Martins Fontes, 2004.

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