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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES - UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA


COMPONENTE CURRICULAR: PSICOLOGIA EDUCACIONAL
DOCENTE: DRA. CAROLINA SILVA DE MEDEIROS
DISCENTES: ALINE ALVES, ADRIAN MARCELO PEREIRA DA SILVA, ÉRICA
MELO LIMA, THAYANNE SANTINO, MARIANA PEREIRA E VITÓRIA GALDINO

BULLYING NA ESCOLA

CAMPINA GRANDE – PB, 2023.

INTRODUÇÃO
A prática do bullying nas escolas é um fenômeno comum e antigo, infelizmente, é
conhecido pelos profissionais da educação e às vezes confundido como, "brincadeiras de mau
gosto", que vão de xingamentos, humilhações, intimidações, perseguições, intimidação física,
social, verbal e na modalidade cyberbullying, tendo em vista que vivemos uma revolução
tecnológica à nível global.
Os estudos sobre bullying se iniciaram na década de 70 na Suécia e na
Dinamarca, no entanto esse fenômeno sempre existiu no ambiente escolar,
mas não era caracterizado como tal, por se acreditar que não se passava de
"brincadeiras inofensivas" entre os estudantes. (FREIRE; AIRES, 2012, P.
56)

Esta é, portanto, uma temática relevante a ser trazida para o debate em sociedade, pois
faz parte da vida dos profissionais da educação bem como da vida e vivências dos alunos no
processo de desenvolvimento. Acarretando questões de saúde que devem ser consideradas
com a seriedade que se espera, pois, implica diretamente no rendimento escolar, social e
humanístico dos alunos.
Quando observamos as diferentes realidades dentro do contexto social presentes na
escola, o bullying se apresenta dentro dessa perspectiva, sendo necessário a intervenção de
nós, docentes, propondo atividades como meio de conscientização. Nosso trabalho tem como
pontapé inicial, o conhecimento da origem, como esse fenômeno é entendido pela sociedade
e os tipos de prática do bullying nas escolas, bem como uma reflexão trazendo a psicologia
educacional como forma de enfrentamento à prática do bullying, por meio da escuta,
acolhimento e o mais importante, a conscientização dos danos, até fatais, que essa prática
pode resultar. A conscientização é o caminho para a compreensão, entendimento e
enfrentamento.
Enquanto base teórico-metodológica, autores da área da psicologia foram
imprescindíveis para a arguição a respeito da temática. Destacamos aqui os trabalhos
realizados por Alane Freire e Januária Aires (2012), José Leon Crochík (2012), Carlos
Rigobello e Verônica Muller (2011). Outras pesquisas, bem como a lei que institui o combate
a violência sistemática, foram utilizados durante o trabalho.
O presente trabalho se estrutura em uma breve caracterização do objeto em questão,
destacando suas principais definições e consequências para o mundo social. Em seguida,
objetiva-se apresentar os aspectos psicossociais que permeiam a prática da intimidação por
meio da dominação e, enfim, apresentam-se prerrogativas sociais e institucionais para a
prevenção.
BULLYING: DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS

A palavra Bullying surgiu do termo inglês bully, que significa valentão/brigão. O


bullying é entendido, então, como um conjunto de comportamentos abusivo, violento e
intimidante, sendo colocado em prática de forma física, verbal, social e na internet, por meio
das redes sociais, entre crianças e adolescentes, podendo ser praticado também, por adultos.
As ofensas envolvidas no bullying são sistemáticas, contínuas e intencionais com
firme propósito de diminuir e dificultar o desempenho e desenvolvimento da vítima. Ou seja,
é um problema sério que afeta diretamente o desenvolvimento escolar, emocional e
comprometendo a saúde, em casos mais extremos até óbitos, resultado da exposição
humilhante, quando o indivíduo é exposto.
Todos os dias, crianças e adolescentes sofrem de algum tipo de bullying que vem
mascarado de "brincadeira". Comportamentos que na maioria das vezes são considerados
"inofensivos", causa sérias consequências ao desenvolvimento socioemocional dos alunos,
gerando baixa autoestima, subestimação, insegurança etc.
A prática do bullying não se restringe, somente, ao universo escolar, como também,
no contexto social, como em universidades, na família, grupos de amigos, vizinhança e local
de trabalho. Está relacionado a uma dinâmica de poder. É, portanto, um problema mundial,
presente em praticamente todas as instituições de ensino, que muitas das vezes é ignorado
pelos pais e por parte da sociedade. A comunidade escolar/acadêmica, por mais que tente
desenvolver uma abordagem para cessar tais práticas, ainda se sente pressionada e sozinha
para lidar com as situações problemáticas que se desenvolvem corriqueiramente.
Para tanto, é preciso ter em mente a diferença de entre o bullying e a indisciplina tido,
que, muitas vezes podem ser analisadas sob a mesma ótica e mesmas condições, o que
dificulta o enfrentamento de ambas as ocorrências. O papel de identificação e conscientização
não depende só da escola, mas resulta da articulação conjunta de toda a sociedade.

FATORES PSICOLÓGICOS E SOCIAIS ASSOCIADOS AO BULLYING

Baseado no artigo “Fatores psicológicos e sociais Associados ao Bullying” de Jose


Leon Crochik (2012), cujo objetivo é refletir sobre os fatores determinantes da violência
escolar, especificamente o Bullying. Segundo o autor, são esses fatores psicológicos e sociais
que mediam a formação de uma consciência, que se existente, freia a prática de violência,
porém, se for ausente, tende a aumentar a ocorrência.
Para discutir a violência social, José Leon se baseia na análise de Freud, de que a
violência é inerente ao homem como uma expressão da pulsão de morte: com uma tendência
que nos leva a querer eliminar toda a tensão existente – dentro de nós e nos outros – e que
isso explicaria a agressividade voltado ao homem por meio de três fatores: 1. Sentimento de
fragilidade do corpo; 2. Força da natureza; 3. Relações sociais.

Para analisar as variáveis sociais e psicológicas envolvidas no mal-estar que provoca e


é provado pela violência nas instituições, ele utiliza o conceito de “hierarquia social”, que
concerne em ordenar e classificar os indivíduos que acordo com suas competências, sejam
elas, físicas, econômicas, políticas, etc.

A partir desta reflexão, ele adentra na discussão sobre a contradição da violência


escolar, afirmando que, apesar de a violência ser um tópico constante dentro do ambiente, a
escola é uma instituição que tem como objetivo desenvolver a civilidade em seus alunos,
tentando possibilitar que eles consigam viver de forma pacífica, por meio das normas aceitas
coletivamente. Para incrementar sua análise sobre o ambiente escolar, ele utilizou uma
citação de Adorno, defendendo que o professor desempenha o “trabalho sujo” porque é
responsável por impor a domesticação às crianças e adolescentes. Afirmando que a escola é
uma instituição que se baseia na hierarquia social que separa os alunos entre “melhores” e
“piores” a partir do rendimento escolar.

Portanto, se a violência é um assunto constante dentro do ambiente escolar, é através


da legislação que vamos encontrar uma grande contradição, visto que esta determina cada vez
mais para a inclusão de um maior contingente de minorias. O exemplo do movimento da
Educação para todos, citado no texto base, demonstra a ação de inclusão de pessoas com
deficiência, de modo que elas estejam integradas de forma real no processo educacional.

Partindo da reflexão sobre a inclusão de pessoas com deficiência no ambiente escolar,


o autor vai se debruçar sobre este tópico para refletir sobre a violência neste espaço
institucional. Para isso, ele vai citar pesquisar que analisaram a boa aceitação de pessoas com
deficiência no ambiente escolar, porém, considerando que estes alunos não eram incluídos em
grupos. Assim, ele evidencia que talvez estejam surgindo novas formas de violência, como: a
segregação e a marginalização.

OS FENÔMENOS ENVOLVIDOS NA PRÁTICA DA INTIMIDAÇÃO


Ao nos questionarmos a respeito das influências que culminam no fenômeno da
intimidação escolar, descortinam-se fatores que, longe de determinismos ou de
individualização do ato, pensam-no a partir de, pelo menos, três fatores que se relacionam
com a emergência do bullying: a dupla hierarquia social (intelectual e a da força física), a
personalidade autoritária e a autonomia e impunidade. (CROCHIK, 2012, p. 219).
A intimidação acontece por meio de um sentimento de domínio de um indivíduo
sobre outrem: tal situação pode ser descrita como o confronto entre alguém que exerce uma
postura altiva, forte e coercitiva e outra que, ao contrário, apresenta um comportamento
introvertido, reservado. Assim, de acordo com Crochik (2012) a hierarquia baseia-se na ideia
de dominação. A hierarquia intelectual ou cultural coloca um indivíduo com melhores
rendimentos escolares, por exemplo, como alvo de holofotes; em contrapartida, o aluno que
não recebe tanta atenção, por tirar notas mais baixas, pode vir a se ressentir pela atenção dada
ao colega. O bom desempenho do outro é o ponto de partida para a violência, neste caso, por
exemplo.
Tal situação não é alheia à sociedade, pelo contrário. Baseando-nos em uma
organização social que privilegia determinados corpos em detrimento de outros, como o
corpo branco acima do corpo negro, não é surpreendente que o comportamento escolar
reproduza violência em suas diversas modalidades (racismo, homofobia, transfobia, etc.). Ser
forte é, portanto, ter privilégio: o privilégio da dominação.
A personalidade autoritária, entendida pela psicanálise, como formada por, entre
outras coisas, pelo sadomasoquismo, é constructo e construtor das violências sociais. Uma
sociedade hierárquica precisa de líderes, esses que, não necessariamente, sejam democráticos,
mas autoritários. A destruição da qual necessita para a sua externalização se dá pelas
ferramentas oferecidas pela própria sociedade, ou seja, alunos em escolas podem utilizar de
discursos normativos de gênero para agredir verbal e fisicamente colegas que não se
encaixem no binômio “masculino” e “feminino”. (CROCHIK, 2012, p. 221). Apoiados por
discursos conservadores e, muitas vezes, religiosos, o ataque à orientação sexual que não seja
a heteronormativa e a transexualidade, por exemplo, são vistas como desvios, como um
desequilíbrio frente as autoridades.
As figuras de autoridades mais comuns ao se pensar o ambiente escolar, os pais e
professores, encontram-se em posições antagônicas, sem que haja um consenso. Essa
ausência, por sua vez, é apontada pelo autor como uma das causas pelas quais o indivíduo (a
criança) não desenvolve um senso moral ou, no dizer da psicanálise, o superego. A ausência
de uma autoridade, cujo dever é o de demonstrar uma posição inicial, para que,
posteriormente, a criança possa se tornar um ser autônomo, torna-o propenso à prática do
bullying.
Uma questão importante que se coloca é a de responsabilização do indivíduo que
pratica o bullying. Os efeitos que decorrem desse fenômeno podem ir de lesões físicas,
perturbações mentais e, em casos extremos, o suicídio. Então, como lidar com isso? Ao
mesmo tempo que o indivíduo agiu sobre tal conduta, é imprescindível que a sua condição
sociocultural faça parte do processo de análise de sua atitude. Por exemplo, um infrator
(aquele que comete bullying na escola) é extremamente agressivo com seus colegas; em uma
rápida investigação pode-se descobrir que, cotidianamente, sofre agressões físicas e
psicológicas por um de seus genitores desde a mais tenra idade. Negligenciar a convivência
em ambiente agressivo não significa “passar a mão na cabeça”, mas refletir a respeito das
vivências para serem delineadas estratégias para que não se volte a repetir tais situações.

MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO AO BULLYING


O ambiente escolar é um dos principais modelos de desenvolvimento para as criança,
uma vez que, é na sala de aula que ocorre o processo de ensino-aprendizagem. Tal
entendimento deriva-se da teoria do desenvolvimento proposta por Vygotsky, sendo elemento
de análise de Claudia Davis e Zilma de Moraes Ramos de Oliveira (1994). Contudo, é
também nesse ambiente onde ocorrem as práticas de intimidação. podendo ser considerado
uma realidade nas escolas independente da qualidade de escola sempre haverá a prática de
vários formas de bullying. (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, 53).
Nesse sentido, podemos encontrar algumas formas de enfrentamento ao bullying
como: promover conscientização da existência do bullying no ambiente escolar, proporcionar
treinamento aos adultos (professores e todos os funcionários da escola) para que esses,
consigam identificar e intervir em situações as quais envolvem violências.
Por sua vez, as crianças e adolescentes testemunhas de bullying devem ser orientadas
a serem solidárias as vítimas tendo em vista que, nessas ocorrências quando as vítimas
possuem amigos é possível reduzir o nível do estresse e os efeitos negativos causados pelo
bullying em ao longo da vida da vítima. Além disso, existem intervenções direcionadas tanto
para quem sofre o bullying como para quem pratica, o professor pode ser visto como um dos
principais agentes de mudança na sala de aula cabendo ao mesmo corrigir a situação de
bullying para que ela não se repita, acolhendo o aluno que se tornou vítima dos ataques.
Deste modo, de acordo com a Lei 13.185/15, que institui o combate de intimidação
sistemática podemos contar com algumas formas de prevenção, tais como: a capacitação dos
profissionais de educação para lidar com esse tipo de adversidades; promover encontros de
orientações para que, em conjunto, a comunidade e a escola atuem como agentes ativos no
combate à violência; fornecimento de assistência psicológica, social e jurídica; bem como o
dever da produção e, consequente publicação, de relatórios bimestrais de ocorrência de
bullying nas escolas a fim de traçar estratégias para combater a prática de bullying nas
escolas. (BRASIL, 2015).
Em suma, consideramos de fundamental importância, por parte dos poderes públicos
(federal, estadual e municipal) a fomentação de cursos de capacitação aos profissionais
docentes, com o intuito de prepara-los para o combate sistêmica da violência na escola; para
além da esfera institucional, a sociedade também tem papel preponderante na prevenção de
atos violentos. A resposta não dependerá de um único grupo, mas sim, de uma ação coletiva.

CONCLUSÃO
O combate à prática do bullying deve levar em consideração as dimensões sociais,
educacionais, familiares e individuais, partindo do pressuposto de que elas vão se diferenciar
dependendo do contexto em que estão inseridas. O papel de um psicólogo nesse contexto é
primordial, somando com comunidade escolar, podem realizar um trabalho de mapeamento
para melhor direcionar suas atuações nesse processo.
Por ser a escola uma instituição que reflete a organização social, é imprescindível que
se considerem os indivíduos que dela participam a partir de sua inserção no contexto mais
amplo da organização. Um trabalho eficiente em Psicologia Escolar/Educacional deve partir
da análise da instituição, levando em consideração o meio no qual se encontra, o tipo de
demanda que atende e os diversos agentes envolvidos (ANDALÓ, 1984).
A escola é um contexto que propicia desenvolvimento de habilidades, competências,
formação e desenvolvimento de conceitos, saberes e opiniões, por isso tem o papel
fundamental de buscar alternativas para o enfrentamento e prevenção do bullying. Nessa
perspectiva, aponta-se a importância da inserção do psicólogo escolar/educacional,
objetivando realizar um trabalho de prevenção e enfrentamento da violência no contexto em
que ocorre.
O professor junto ao psicólogo, bom observadores das subjetividades e
particularidades das características individuais que os alunos possuem, podem exercer
palestras, oficinas onde será planejado um trabalho de conscientização, buscando uma
proximidade com a classe estudantil para um melhor direcionamento dos trabalhos e o
mapeamento pode ser desenvolvido juntamente com as famílias, consistindo num relato das
atitudes comportamentais dos alunos no ambiente familiar e se não for possível, o conselho
tutelar pode auxiliar nesse processo.
Isso tudo, resulta numa anamnese psicológica, em grosso modo, é um recurso
caracterizado normalmente de entrevistas sobre a história de vida do paciente/cliente (que
podem incluir desenvolvimento de forma geral, histórico de doenças, rotina, dinâmica da
família, trabalho, etc) com esse levantamento de dados pode-se melhor elaborar uma
abordagem para o combate a prática do bullying na escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDALÓ, C. S. A. (1984). O papel do psicólogo escolar. Psicologia: Ciência e profissão,


1, 43-47.
BRASIL. Lei Nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à
Intimidação Sistemática (Bullying). Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2015.
CROCHÍK, José Leon. Fatores psicológicos e sociais associados ao bullying. Revista
Psicologia Política, v. 12, n. 24, p. 211-229, 2012.
DAVIS, Claudia; OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de Oliveira. A Concepção
Interacionista: Piaget e Vygotsky. In: ______. Psicologia na Educação. 2. Ed. São Paulo:
Editora Cortez, 1994, p. 36 – 57.
FREIRE, Alane N., AIRES, Januária S. A contribuição da Psicologia na Prevenção e
Enfrentamento do Bullying. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia
Escolar e Educacional, SP. Volume 16, Número 1, janeiro/junho de 2012: 55-60.
RIGOBELLO, Carlos A., MÜLLER, Verônica R. O bullying no cotidiano escolar: do
diagnóstico à intervenção. Umuarama - PR 2011.

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