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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

Tema
Bullying: problemas de comportamento e adversidade familiar em adolescentes de escolas
públicas.

Justificativa
Na perspectiva de Gomes (2011), a violência envolve uma complexidade de factores, não
podendo ser analisada de forma simplificada e reduzida. Assim, os agressores não podem ser
os únicos responsáveis pelos actos de violência, uma vez que eles também são produto dela e,
portanto, também vítimas. Numa perspectiva familiar e escolar, analisar o bullying e a
violência como um todo implica entendê-lo como consequência de diversos conflitos
oriundos das mudanças que a escola e a sociedade vêm passando ao longo dos anos.
Portanto, está claro que ser vítima de bullying traz consequências desastrosas para o
desenvolvimento humano gerando sofrimento e comprometendo a autoestima dos envolvidos,
além de se configurar como um factor de risco para o suicídio e para o desenvolvimento de
diversos problemas de comportamento e transtornos psiquiátricos.
Na compreensão de Pereira (2001), intervir precocemente em situações de bullying é
importante na medida em que a perpetuação deste fenómeno em escolas pode colocar em
risco a segurança pública. Estudos apontam que reconhecer o comportamento de crianças e
adolescentes em diferentes contextos é fundamental para elaborar medidas de prevenção e de
tratamento adequadas. No entanto, nota-se uma escassez de trabalhos que utilizam múltiplos
informantes, presentes nestes diferentes contextos, para avaliação de problemas de
comportamento em vítimas de bullying.
A escolha deste tema surge no facto de o bullying ser uma das questões que mais requer um
olhar sensível e crítico por parte dos profissionais da psicologia clínica. Sendo necessário
considerá-lo, não apenas como uma violência escolar, que implica em uma série de situações
nas quais os adolescentes agridem-se fisicamente, discutem, se ferem, mas também como
uma realidade que se manifesta nos relacionamentos educativos e principalmente no processo
de aprendizagem do aluno, influenciando no seu desempenho académico e em suas relações
interpessoais, familiares, podendo causar uma desmotivação para os estudos.
Quando há bullying no ambiente escolar, a aprendizagem fica prejudicada, as vítimas sentem-
se intimidadas, perdem o interesse pelos estudos e o medo que sentem é constante. Este
medo, por um lado, altera negativamente o comportamento do adolescente e, por outro lado,
bloqueia o funcionamento mental prejudicando o raciocínio e o interesse em relação à
aprendizagem escolar. Tudo que os alunos vítimas de bullying desejam é se libertar daquelas
agressões. Neste caso, elas precisam da ajuda do psicólogo clínico que deve intervir por via
de acções terapêuticas de modo a interagir com os alunos para tentar auxiliá-los.

Problema de pesquisa
Segundo Dubet (2008), a vitimização e sua relação com características da família e outros
problemas de comportamento ainda carecem de investigação empírica que visem a
desenvolver medidas preventivas eficazes que minimizem as alterações comportamentais a
que o envolvimento em situações de bullying esta associado. Portanto, disto entende-se que
as intervenções devem ter como metas a promoção de formas mais adequadas de convivência
em grupo, estimulando comportamentos pro-sociais, cujos efeitos serão a diminuição de
problemas e um melhor aproveitamento dos investimentos públicos nas áreas da saúde, da
educação e da segurança. Diante dos argumentos supra colocados, levanta-se a seguinte
questão de pesquisa: Que medidas preventivas podem ser aplicadas a situações de
bullying como vitima, problemas de comportamento e suas características familiares?

Objectivos
Geral
 Conhecer possíveis associações entre o envolvimento de adolescentes em situações de
bullying como vitima, seus problemas de comportamento e seus problemas familiares.

Específicos
 Comparar os problemas de comportamento reportados por vítimas de bullying e seus
professores;
 Comparar o índice de adversidade familiar entre adolescentes vítimas e não vítimas de
bullying;
 Verificar o índice de transformações entre o índice de adversidade familiar e os
problemas de comportamento.

Hipóteses

H1: Alunos vítimas de bullying relatarão mais problemas de comportamento internos,


externos e das escalas síndrome de depressão e ansiedade;

H2: Os professores avaliarão mais problemas de comportamento externos e nas escalas


síndrome de comportamento agressivo e de quebrar regras em vítimas de bullying;
H3: Os alunos vítimas de bullying apresentarão maior índice de adversidade familiar;

H4: Haverá associação entre os problemas de comportamento e o índice de adversidade


familiar.
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo serão apresentadas os conceitos que serviram de base para o desenvolvimento
e análise deste trabalho, começando com a história do bullying, suas formas e causas comuns;
formas de prevalência do bullying; associação entre bullying e características familiares;
prevenção de bullying.

Bullying: história e conceito


Dentro do contexto da história do bullying, pode -se afirmar que o mesmo sempre existiu,
porém só passou a ser estudado por cientistas na década de 70 na Suécia, quando o tema
tornou -se algo preocupante e irrelevante para a população. Logo a pós os estudos realizados
na Suécia, despertou -se um grande interesse pelo assunto em diversos países, numa intenção
de conscientização contra o ato de violência causado pelo bullying. Como sustenta Calhau
(2010), o bullying é um acto de violência que sempre existiu, porém não era estudado,
quando uma vítima era atacada a mesma mantinha-se em silêncio, mudava de escola, cidade,
fugia dos maus tratos. Antes da década de 70 na Suécia, o bullying era encarrado como algo
natural, chegavam até a colocar a culpa nas próprias vítimas pelas situações em que
passavam.
O primeiro estudo sobre bullying foi realizado pelo pesquisado Dan Olweus, professor na
Universidade de Bergen, Noruega (1978 a 1993). O estudo de foi baseado em um grande
público de alunos, professores e pais de alunos, o mesmo era elaborado em salas de aula,
onde os alunos eram observados para se entender como procediam os actos de violência, e
consequentemente junto dela a conscientização dos problemas causados pelo bullying e plena
protecção para as vítimas, procurando observar a diferença entre brincadeiras da idade e
acções de bullying executadas pelos alunos. Um dos pontos destacados onde se pode
diferenciar brincadeiras saudáveis da própria idade e bullying, é a insistência de uma
brincadeira com um determinado aluno, onde nessa acção fica claro o constrangimento do
alvo, por tanto o mesmo tende a perder o domínio da situação, e consequentemente sendo
vítima de violência escolar, o próprio bullying.
Segundo Fante (2005), um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que
ocorrem sem motivação evidente, adoptado por um ou mais alunos contra outro(s) causando
dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam
profundamente, acusações injustas, actuações de grupos que hostilizam, ridicularizam e
infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e
materiais, são algumas manifestações do comportamento bullying. Portanto, por definição
universal e convencional o acto de bullying é visto como um comportamento cruel intrínseco
nas relações interpessoais, em que os mais fortes fazem dos mais fracos objectos para sua
diversão, fazendo brincadeiras maldosas e intimidadoras. Várias são os conceitos e definições
apresentados para esse fenómeno, contudo, todos convergem no fato de a vítima ter
dificuldades para se defender dos maus tratos.
Alkimin (2011), sustenta que essa prática de violência está subdividida em directa e indirecta
apresentando em ambas, a faceta da aversão e da humilhação. O bullying ocorre de maneira
directa, quando inclui agressões físicas (bater e chutar) e verbais (apelidos pejorativos,
insultos, constrangimentos). A maneira indirecta acontece através de disseminação de
rumores desagradáveis, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social.

Formas de identificar comportamentos de bullying


Segundo Seixas (2005), na tentativa de identificar comportamentos de bullying em escolas,
pesquisadores tem adoptado estratégias existindo uma constância em três vertentes: em
primeiro lugar, ainda que utilizadas com menor frequência, apontam-se técnicas de
observação directa dos alunos em seu quotidiano na escola. Usualmente, são desenvolvidos
protocolos de observação e de registos com categorias previamente definidas e
operacionalizadas, sendo os alunos posteriormente identificados como vitimas, perpetradores
ou testemunhas de bullying, quando a frequência, duração e intensidade de seus
comportamentos correspondem as enunciadas no protocolo.
A pesquisa observacional coloca em evidência a posição entre aquilo que as pessoas fazem e
aquilo que relatam fazer, tal como ocorre em questionários e escala, trazendo com vantagem
a oportunidade de verificar a ocorrência de comportamentos que não são relatados pelos
alunos ou pelos professores.
Para Serrate (2009), a observação directa permite verificar com maior segurança os factores
responsáveis pela manutenção do comportamento e traçar estratégias para modifica-los.
Ademais, pelo facto da definição de bullying estar associada a comportamentos agressivos
que acontecem repetidamente e que perduram ao longo dos meses, o tempo exigido para
avaliação de sua ocorrência por meio da observação directa torna este método pouco utilizado
em pesquisas.
A segunda estratégia de identificação do bullying refere-se a escolha de instrumentos que
aferem as respostas por parte dos próprios alunos, sejam eles auto-aplicáveis ou orientados
pelos pesquisadores. Para Seixas (2005), nesta categoria estão incluídas, as escalas, os
inventários e os questionários. A utilização destes para identificar o bullying possibilita a
avaliação de diversas pessoas em pouco tempo sobretudo nos casos em que as aplicações
podem ser realizadas em grupo. Portanto, trata-se de uma estratégia de fácil aplicação e baixo
custo e possibilita estudos com grandes amostras e tratamento estatístico de dados. Os dados
colectados por estes métodos tem como base o auto-relato dos alunos sobre seu envolvimento
com situações de bullying.
A terceira estratégia consiste em disponibilizar as crianças ou adolescentes uma lista com os
nomes dos seus colegas de classe e perguntar quais desses se enquadram nas características
associadas ao bullying, tais como quais colegas são provocados frequentemente, quais são
agressivos e quais são isolados (Seixas, 2005).
Associação entre bullying e características familiares
Famílias que dão suporte aos filhos vítimas de bullying permitem que estes possam romper
com o ciclo de violência e abusos, fortalecendo-os a desenvolverem mecanismos de
enfrentamento para lidar com o processo de vitimização. As pesquisas destacam que
estudantes cujos pais se reúnem com os amigos dos filhos apresentam probabilidade
significativamente menor de se envolverem em situações de bullying (Mendes, 2011). O
mesmo ocorre quando os pais compartilham ideias, ajudam nas tarefas escolares de casa e
conversam com os filhos.
Esses comportamentos dos pais são interpretados como de envolvimento positivo entre eles e
os filhos, aspecto que recebe grande destaque na literatura e é apontado como factor
significativo de protecção. Esse envolvimento é traduzido pela supervisão, estabelecimento
de regras e comunicação positiva. Além disso, a aceitação dos pais em relação às
dificuldades, diferenças e aparência dos filhos diminui as chances de envolvimento em
situações agressivas, assim como ocorre com aqueles que possuem famílias democráticas e
que estimulam comportamentos de não-violência.
Esses comportamentos dos pais são interpretados como de envolvimento positivo entre eles e
os filhos, aspecto que recebe grande destaque na literatura e é apontado como factor
significativo de protecção (Carvalhosa, 2010).
Portanto, esse envolvimento é traduzido pela supervisão, estabelecimento de regras e
comunicação positiva. Além disso, a aceitação dos pais em relação às dificuldades, diferenças
e aparência dos filhos diminui as chances de envolvimento em situações agressivas, assim
como ocorre com aqueles que possuem famílias democráticas e que estimulam
comportamentos de não-violência (Carvalhosa, 2010).
Prevenção de bullying
Segundo Martins (2005) O fato do bullying ser um fenómeno grupal, sugere que os
programas de prevenção da violência escolar devem dirigir-se mais aos grupos, escolas e
turmas, do que aos indivíduos, e o facto de se manifestar sob diferentes formas sugere que as
estratégias de intervenção ou prevenção deverão levar em consideração o tipo de bullying que
pretendam prevenir ou erradicar.
A possibilidade de envolver as crianças em temas de interesse para sua vida, inclusive no
contexto escolar, numa proposta participativa de acção colectiva representa uma inovação no
campo dos estudos de intervenção. Estudos têm se debruçado neste modelo de participação
para desenvolver programas de prevenção do bullying, o que poderá trazer efeitos positivos
na capacidade do programa em melhorar os níveis de bullying escolar, dada a importância da
dimensão comportamental e interpessoal, no desenvolvimento do fenómeno.
Segundo Fante (2005), todo tipo de violência deve ser combatido e a escola com seu papel
social, político e pedagógico deve oportunizar ambiente seguro para facilitar a construção do
conhecimento. Nesse sentido, é necessário a adopção de procedimentos alicerçados em
parâmetros técnicos e jurídicos com envolvimento de educadores alunos e famílias.
Trata-se de um problema comum em todos os meios e deve ser observada como uma questão
prioritária. O tipo de violência categorizada como bullying, deve receber atenção,
principalmente da escola, família e sociedade, com acções, preventivas, paliativas ou/e
correctivas. Ressalta-se, entre essas acções, a adopção de práticas com grupos de apoio para
estudar, informar, apoiar as vítimas e tomar as medidas cabíveis quanto aos agressores
Entretanto, a ênfase maior da educação deve ser dada a programas de longo prazo, que
colocam em prática a conscientização, prevenção e esclarecimento sobre as implicações da
prática de bullying para quem pratica, quem assiste e os danos para quem sofre.
Nesse contexto, a escola deve orientar-se pelo seu regimento interno observando as acções de
controle nele previstas que estabeleçam punições exemplares para os praticantes ou
agressores. Segundo Calhau (2010), a prática de Bullying, é um problema endémico. As
vítimas não precisam fazer nada para serem escolhidas. Os agressores simplesmente as
elegem no meio de um grupo para serem alvos de seus ataques. Na mesma linha de ideias, o
autor afirma que, os espectadores, em geral, não denunciam as agressões porque sentem
medo de se tornarem vítimas.

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