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BULLYING E DESRESPEITO: COMO ACABAR COM ESSA CULTURA NA

ESCOLA

Leni de Oliveira Freitas Zentarski 1


Mirian Gabriella Gomes da Silva2

RESUMO: O presente artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica, cuja, a proposta é estudar sobre o
significado e/ou conceito do termo Bullying, saber como identificar e quais são as possíveis
manifestações do mesmo, seus fatores psicológicos e comportamentais, tanto de quem o pratica como
de quem sofre. Quais estratégias de enfrentamento, como também, orientações no âmbito escolar e a
familiar para combater o bullying. E quais as estratégias utilizadas dentro da perspectiva cognitivo
comportamental no período de enfrentamento das vitimas.

PALAVRAS-CHAVES: Bullying.Terapia Cognitivo Comportamental. Estratégias. Comportamento.


Escola. Agressão. Identificação.Termo. Vítima.

INTRODUÇÃO

Os valentões circulam por toda parte á vigia de um alvo ideal para agredir, manipular,
dominar: nas famílias, nas empresas, nas escolas, nos mais distintos contextos sociais. O
anseio de poder, aceitação e status social no grupo adicionado á ausência de limites, respeito,
tolerância e empatia têm gerado em ampla escala a violência contra determinadas pessoas ou
grupos.

Com tudo na falta de conhecimento ou imponderação, muitos estão catalogando tais


comportamentos ao bullying, sejam atos de opressão atuação, sejam problemas familiares,
ambientais e estruturais.

De acordo com Fante (2012) Bullying não é isso que muito persistem em expressar. A
generalização tem afetado a compreensão do fenômeno e, por consecutivo, sua identificação,
1
Bacharel em Psicologia pela Faculdade Integradas de Cacoal –UNESC/RO (2011). Especialista em Terapia
Cognitivo Comportamental pela Faculdade Católica de Rondônia (2014). E-mail: leni.psi55@hotmail.com
2
Docente do Curso Enfermagem, Odontologia, Pedagogia e Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-
Paraná/RO, Especialista em Serviço Social com ênfase: Educação, Saúde, Gestão e Políticas Públicas pela Santo
André/SP, (2013).Bacharel em Psicologia pela Faculdade Integradas de Cacoal - UNESC/RO. (2011).
E-mail: m.gab.izinha@hotmail.com
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seguida de intervenção e procedimentos apropriados. Ainda de acordo com a autora, não se


deve confundir com o bullying a ação dos valentões no ceio familiar, sendo esta classificada
como violência doméstica ou intrafamiliar. O mesmo acontece em semelhança ao ambiente de
trabalho, onde a ação dos valentões é tida como assédio moral. As ações agressivas ou
violentas contra grupos específicos podem ser explicadas como xenofobia, homofobia,
cristofobia entre outros.

No âmbito Escolar não é diferente. O termo Bullying esta sendo usado nas mais
diferentes circunstâncias onde abarcam professores e alunos. Muito comum é empregado em
circunstâncias de indisciplina, conflitos, desacato ao professor, brincadeiras inconsequentes
ou inconvenientes, incivilidades, depredações e pichações de prédios e inclusive quando
determinados alunos são corrigidos ou disciplinados pelos professores da escola.

Este termo deve ser aplicado para explicar comportamentos agressivos ou violentos
entre pares, independente de estarem começando a escolaridade ou terminando a
universidade. O significado amplamente aceito relata que tal prática inclui todas as atitudes
agressivas, propositadas e cíclicas que ocorre sem estímulo evidente, abraçadas por um ou
mais estudantes contra outros, ocasionando dor e sofrimento, sendo realizadas em relação
desigual de poder, tornando possível a intimidação da vitima.

Ainda que sua identificação seja mais corriqueiro no âmbito escolar, também,
acontece em outros espaços fora da escola frequentados por jovens, tais quais ambientes
virtuais, escolas e idiomas, de futebol, academias, shopping centers, clubes e condomínios
residenciais, etc. Se o bullying não for entendido, pretenderá a se tornar um problema social
de complexa solução, assim como vem ocorrendo no Estados Unidos, onde já se é avaliado
pelas autoridades americanas como uma grave crise e considerado pelas entidades de defesa
dos direitos humanos como um problema sem solução.

Identificar o bullying entre os alunos não é tarefa simples, pois se trata de uma
configuração de violência muito específica. Na maioria das vezes, os ataques não têm como
serem visualizados, ou seja, são falhos de materialidade, e as vitimas não têm como
comprová-los, o que gera incompreensões e inconformismos. O agressor pode usar formas
mais ofuscadas e silenciosas, tais como gestos, olhares, expressões fisionômicas, bilhetes com
mensagens humilhantes ou ameaçadoras, além dos ataques virtuais, que costumam ocorrer
onde não há a supervisão dos adultos.
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Pesquisas internacionais têm evidenciado que meninos são os maiores praticantes de


bullying, empregando-se mais da agressão indireta, física e verbal, enquanto as meninas usam
da agressão indireta, por meio de ofensas morais e exclusão social. Mais uma diferença que
deve ser destacada é que as meninas costumam agredir em grupos, enquanto os meninos
atuam individualmente. Em geral, existe uma “líder mentora” que esquematiza e dá começo
ao processo de vitimização, respaldada por um círculo social que a impulsiona e acessória. A
vitima é sempre repelida por suas colegas, e o objetivo é excluí-la do convívio social. Para
isso, rotineiramente se notam fofocas, comentários maldosos, xingamentos e mentiras. No
entanto, mesmo que em menor grau, as meninas também usam de maus-tratos físicos.

Para identificar o bullying, é imprescindível reconhecer seus critérios e diferenciá-lo


daquilo que faz parte da ação de socialização ou de algo natural da infância e da adolescência.
Não é bullying o ato de fazer brincadeiras pontuais engraçadas, imprudentes ou irritantes. Não
é bullying fazer comentários ou apresentar opiniões diferentes, discussões ou brigas, entre
outras possibilidades próprias das relações interpessoais. Não são bullying os conflitos ou
ofensas pontuais, que implicam em mágoa ou raiva passageira.

Para que uma ação seja diagnosticada como bullying, é indispensável que contenha os
consequentes critérios: repetição das agressões contra o mesmo alvo, desequilíbrio de força ou
poder entre partes, intencionalidade nas práticas agressivas, ausência de motivos por partes
das vítimas e prejuízos resultantes.

As sequelas do bullying afetam a todos os envolvidos. Dependendo da agravamento da


exibição e das peculiares individuais daquele que é exposto, bem como de suas relações com
os meios em que vive sobretudo quanto ao suporte familiar e escolar, ele conseguirá ir além
de ou não do trauma da vitimização.

Quando não superado, a vítima tenderá a isolar-se socialmente, como estratégia de


evitar as agressões ou de fugir do problema. Poderá apresentar na vida adulta dificuldades
relacionais, insegurança, ansiedade, baixa autoestima, nervosismo, agressividade, apatia,
sintomas depressivos e fobias. Algumas vítimas tendem a reproduzir a vitimização no local de
trabalho, praticando o assédio moral, ou na família, praticando a violência domestica ou
intrafamiliar.

Estudos têm evidenciado que as consequências incidem tanto sobre as vítimas quanto
sobre os autores, e seus resultados são notados em longo prazo. No caso de conservarem o
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comportamento agressivo, os opressores terão dificuldades futuramente no que dizer respeito


ao desenvolvimento e á manutenção de relações positivas. Os agressores, por sua vez,
apresentarão maior disposição para comportamentos de risco do que seus colegas não
agressores, podendo envolver-se no consumo de tabaco, e drogas.

Por outro lado, o comportamento agressivo pode materializar-se com o tempo,


afetando as relações afetivas e socais, além da aprendizagem de valores humanos, como a
solidariedade, a empatia, a compaixão, o respeito a si mesmo e ao outro, o que comprometerá
as distintas áreas de sua vida. Muitos tendem á depressão, ao suicídio, á autoflagelação, ao
envolvimento em delinquência, do mesmo modo podem cometer violência domestica e
assédios moral no trabalho.

Para conhecimento se um aluno é vítima de bullying, precisa-se essencialmente


observar seu comportamento e seu envolvimento. É preciso prudência para não classificar ou
se antecipar na identificação. A vítima costuma retrair-se ou isolar-se socialmente. Apresenta
comportamento ansioso, deprimido ou irritadiço. Falta com frequência ás aulas, sem
justificativas persuasivas. Perde a concentração e o entusiasmo pelos estudos, podendo ter
uma queda acentuada no rendimento escolar, além de queixas frequentes de dores (como de
cabeça e de estômago) e de febre, o que faz pedir para sair mais cedo ou ausentar-se das aulas.

Da mesma maneira, para saber se um aluno comete bullying, é fundamental observar


seu comportamento. Novamente, é necessário ter prudência para não se deixar levar por
estereótipos ou duvidas na identificação. No geral, o agressor apresenta aspectos
particularizados em seu comportamento que o distingue dos demais indivíduos, como
irritabilidade, agressividade e impulsividade. Suas ações abusivas, intimidadoras e
prepotentes despertam a atenção dos adultos da escola. Precisa sentir-se observado, chamar a
atenção para si, conquistar popularidade e temor. Está frequentemente envolvido em
confusões e desentendimentos; subjuga, domina, constrange, humilha e persegue os mais
tímidos e vulneráveis. Desafia, desrespeita, provoca, perturba o ambiente escolar e irrita seus
colegas. Pode ter maior estatura e força física do que a vítima, o que obviamente lhe permitirá
a dominação. Todavia, pode ter menor estatura e força física, porém emocional e socialmente
pode se sobre sair, já que outros indivíduos sustentam suas ações.

Desde modo, o presente artigo encontra-se dividido em dois capítulos. O primeiro


capítulo inclui estudos sobre o bullying e suas definições em diferentes
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perspectivas/abordagens teóricas. Já no segundo capítulo e último capítulo é apresentado um


conjunto de estratégias interventivas e preventivas da teoria cognitivo comportamental.

BULLYNG ABORDADO POR DE DIFERENTES PERSPECTIVAS


TEÓRICAS

Presentemente o feito do bullying tem sido material de investigação de diversas áreas


do conhecimento, tendo em aspecto seus prejuízos pessoais e de convivência (LOPES NETO,
2005 apud RUSCH; MAIA, 2011). Para este autor o comportamento agressivo dentre
estudantes é um problema tradicionalmente visto como natural e esperado, pelos dos adultos.
O publicado nos leva a raciocinar que a “naturalização” desde fenômeno pode atrapalhar as
ações profiláticas que se direcionam a prevenção.

Para Lopes Neto (2005 apud Rusch et al., 2011) o termo bullying origina-se do inglês
“bull” que significa touro, palavra da qual provém “bully”, que se assemelha a língua
portuguesa a termos como “valentão” ou “machão”. Caracteriza-se como um empecilho
ameaçador da relação com o outro, que acarreta a exclusão, discriminação e agressão. Nos
meninos, verifica-se maior prevalência de agressões físicas, deste modo visíveis a
intervenções (LOPES NETO, 2008 apud RUSCH et al., 2011). Para o autor, em meio aos
agressores nota-se maior preponderância entre os meninos; contudo, no caso das meninas,
modos mais sutis de agressão são tomados, o que inibe a identificação clara do fenômeno.

Na situação das meninas, este fenômeno surge de forma diferençada, marcado pelo
conflito e agressão “não física”. Assim as meninas parecem propagar a raiva de maneira
distinta dos meninos. De acordo com Simmons (2004 apud Rusch et al., 2011) a agressão das
meninas podem ser velada e relacional, camuflada muitas vezes pela aparente “doçura”. A
autora assegura ainda que na cultura da agressão oculta, a raiva dificilmente é explícita,
porém, nem por este motivo deixa de ser destrutiva.

Pálacios e Rego (2006 apud Rusch et al., 2011) discorrem sobre a início de uma
epidemia invisível, assinalada não pela agressão física, mas sim pelo assédio moral, pela
desqualificação e humilhação. A agressão mais frequentemente conexa ao gênero feminino
recebe estas condições, identificada como agressão relacional, cujo mantenedor é a própria
relação.
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De acordo com Simmons (2004 apud Rusch et al., 2011) no que condiz às meninas,
assegura que,por uma questão histórica, o silêncio esta presente nas experiências femininas.
Para a mesma, nos últimos 30 anos a realidade feminina principiou a ser mais falada: os
estudos recebem maior impulso, fala-se mais espontaneamente sobre relacionados à
sexualidade, violências, diferença entre gêneros e outros.

Deste modo, as meninas, pode-se relatar que existe uma cultura de agressão velada,
oculta, o que a faz mais destrutiva. De tal modo, distingue-se a situação dos meninos, já que
neles a agressão é muito mais aparente: é física. Ao oposto, nas meninas as agressões mais
corriqueiros envolvem exclusão, fofoca, apelidos, troca de olhares, etc (SIMMONS,2004
apud Rusch et al., 2011).

De acordo com Silva (2010) a ação de tortura durável e habitual torna a brincadeira em
sofrimento propositado. Pois acarreta desestruturação da integridade física, emocional, mental
e espiritual em todas as faixas etárias.

Tognetta (2009 apud Leão, 2010) assegura que, perante essa situação de causadores e
vítimas de bullying, os dois necessitam de auxílio, pois, de um lado, as vítimas padecem uma
deterioração da sua autoestima, e do conceito que tem de si, e do outro, os agressores também
precisam de assistência, observado que sofrem grave degradação de sua escala de valores e,
por conseguinte, de seu desenvolvimento afetivo e moral.

É uma forma de violência gratuita em que a vítima é exposta repetidamente a uma


série de abusos. Pode ocorrer em diversos espaços da escola ou fora dela.

O âmbito escolar é onde se acontece de modo rotineiro, a maximização da agressão


que abate a autoestima do estudante que sofre a agressão. Os apelidos frequentes que
sinalizam pontos baixos dos alunos no período da adolescência, onde os mesmos encontram-
se em desenvolvimento cognitivo e afetivo-social, destorcem-nos da conduta da saúde do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), consisti em uma prática inconstitucional
prevista no Código Penal Brasileiro, artigos 138, 139 e 140 (crimes contra a honra, calúnia,
difamação e injúria), e ação penal pública artigo 147 do Código Penal Brasileiro (prática por
ameaça).

Olweus (2006 apud Rusch et al., 2011) define os termos gerais a conduta do assédio
escolar como um comportamento que enseja dano,assim sendo negativo,distinguido pela
intencionalidade por parte do autor, reproduzido no tempo, apontado para alguém cuja a
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capacidade de se defender –se é prejudicada. Acresce ainda que a relação interpessoal se


caracterizada por um desequilíbrio de poder. A partir disso, fica obvio que não se aborda de
um fenômeno rápido, mas sim de uma agressão que alcança a vítima durante um significativo
período do tempo.

O exercício de bullying, agressão sistemática que acontece dentro das instituições de


ensino, também é umas das grandes culpadas pela fobia escolar, predispondo crianças de
todas as faixas etárias, adolescentes e adultos a repetências por faltas, dificuldade de
aprendizagem e ainda a evasão escolar. E sofre por longos anos os traumas que ficam
armazenados no seu consciente. Necessitando de auxílio especializado para que possa
construir um novo significado a vida escolar para que regresse sentindo o acolhimento
daqueles que não apresentaram a capacidade de fazê-lo antes (SILVA, 2012).

Fica claro que este modo de violência é difícil de ser identificada, uma vez que a
vítima tem medo de delatar os seus agressores, seja pela vergonha que irá passar perante dos
demais amigos da turma, por medo de sofrer retaliações, seja por acreditar que os professores
ou seus próprios pais não lhe darão o devido credibilidade. Outro aspecto importante é o fato
de alguns professores acreditarem que tais agressões são apenas brincadeiras de crianças e que
irão passar com o tempo, maneira essa que faz acender mais ainda a violência nas escolas e
banaliza o sofrimento da vítima (LEÃO, 2010).

O bullying verbal acontece por meio de insultos, ofensas, gozações, apelidos


pejorativos, piadas ofensivas, ameaças e potencialidade das dificuldades, entre outros. O
bullying físico e material: bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar, queimar, roubar,
furtar ou destruir os pertences da vítima, atirar objetos contra as vítimas, produz lesões físicas
como: marca/hematoma. O bullying psicológico e moral: irritar, humilhar e ridicularizar,
excluir, isolar, ignorar, desprezar ou fazer pouco caso, discriminar, aterrorizar e ameaçar,
chantagear e intimidar, tiranizar, difamar, passar bilhetes e desenhos entre os colegas de
caráter ofensivo, fazer intrigas, fofocas ou mexericos (mais comum entre as meninas). O
bullying sexual: abuso, assédio, insinuação, violência de drogas químicas para o prazer de
forma artificial. O bullying virtual ou ciberbullying:trata-se da utilização dos meios de
comunicação, tais como mensagens de correio eletrônico,blogs, torpedos, fotoblogs e sites de
relacionamento.

Fante (2005 apud Rusch et al., 2011) aponta que para existir redução das ocorrências
de bullying é indispensável a envoltura de todos que sejam ligados ao processo educativo,
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como os familiares, educadores, coordenações e direções das escolas,enfim, toda a sociedade.


Ainda de acordo com a autora, a vivência durável do medo por parte da vítima de bullying
inutiliza o funcionamento mental saudável, provocando baixa autoestima, desinteresse pelo
aprendizado, isolamento, carregando o trauma das situações de sujeição que vivenciaram para
o resto de suas vidas, provocando consequências na fase adulta tais como problemas de
interação e relacionamento com outros indivíduos

É Cabível mencionar que o comportamento agressivo por parte do agressor do


fenômeno em especifico, na maioria das vezes ocorre pela ausência da presença da família no
dia-a-dia da criança e até mesmo pela deficiência de limites (FANTE, 2005 apud LEÃO,
2010).

O bullying, comumente, acontece durante o período decisivo em que o cérebro ainda


não está totalmente formado, logo o impacto do estresse pode deixar vestígios biológicos,
resultados moleculares e neurobiológicos, alterando o desenvolvimento neural na sua
estrutura e função (ARSENAULT et al., 2008; HAMILTON et al., 2008 apud
DORNELLES;SAYAGO e cols 2012).

Estudos neurobiológicos vêm assinalando que o bullying, pertinente á vulnerabilidade


genética, reforça a predisposição do desencadeamento de psicopatologias como depressão
(ARSENAULT et al., 2008 apud DORNELLES et al., 2012). Outros estudos têm
evidenciado que crianças que vivenciaram o bullying apresentam mais conflitos internos
(como depressão, transtorno de estresse pós traumático, ansiedade) do que as crianças que não
sofreram bullying (ARSENAULT et al., 2008; HAWKER; BOULTON,2000; NANSEL et
al., 2001 apud DORNELLES et al., 2012).

Nos humanos as respostas fisiológicas ao estresse surgem sob dois sistemas


diferentes,porem, relacionados: o simpático-adrenomedular (SAM) e o hipotalâmico-
pituitário-adrenocortical (HPA) ( GUNNAR e QUEVEDO,2007 apud DORNELLES et al.,
2012). O sistema SAM é conexo á liberação de epinefrina (adrenalina), enquanto o sistema
HPA (ou eixo HPA) é associado com glicocorticóides com o cortisol.

No momento do estresse fisiológico, o cortisol é superior aos dos níveis normais em


resposta ao hormônio adrenocorticotrópico da pituitária, mobilizando o armazenamento de
energia e promovendo o comportamento respondente á ameaça (GUNNAR; QUEVEDO,
2007 apud DORNELLES et al., 2012).Na vista de estresse prolongado, principalmente,
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quando o indivíduo é impossibilitado de lidar com a carga de estresse, essas respostas


fisiológicas podem ocorrer a um ponto nocivo. Por exemplo, altos níveis de cortisol podem
distorcer as respostas dos receptores, aumentando e diminuindo a sensibilidade,
hipotetizando-se que pode estar anexo a mudanças nas estruturas cerebrais, como o
hipocampo (KENDALL-TACKETT,2000; SAPOLSKY,1996 apud DORNELLES et al.,
2012). O estresse a longo prazo e/ou extremo pode culminar um ciclo vicioso de patologia á
alcance que indivíduos com história de abuso, por exemplo, podem ser mais vulneráveis,
derivando numa descondensarão do sistema.

O subsídioterapêutico é imprescindível para os agressores, as vítimas e os cúmplices


que estão envolvidos. O trabalho psicanalítico permite por meio da anamnese e observação
diferencia-se o psicopata (mente fria e insensível que planeja seus crimes com perversão
transgressora e delinquência que utiliza todos os meios ilícitos para atingir seus objetivos) do
agressor inconsciente (aquele que segue a educação discriminatória, social, racial, cultural e
espiritual através da família, amigos e locais que frequenta). O uso de maconha e distintas
substâncias químicas no estudante leva-o ao quadro de esquizofrenia que se manifesta de
maneira transtornada e pervertida levando-o a atos bárbaros dentro do âmbito escolar. Alguns
crimes podem vir a ocorrer devido à ação patológica cerebral que os torna psicopatas nos
momentos de paranóia. Não existem regras e limites no superego, pois, o fundamental é
chegar aos objetivos sem levar em consideração o mal que geram em outras pessoas.

Um recente estudo efetivado no Brasil por Cruzeiro (et al., 2008 apud Rusch et al.,
2011), adverte que dentre os fatores mais frequentemente associados ao transtorno de conduta
está o bullying. Este estudo transversal contou com uma amostra de 1.145 adolescentes, com
idades de 11 a 15 anos. No recente estudo, a variável de sintomas depressivos, avaliada por
meio da escala de Depressão Infantil (CDI), e sofre bullying apontam-se associadas. Sendo
assim, se faz necessário o desenvolvimento de estudos direcionados a prevenção, no intuito de
minimizar os prejuízos ocasionados por este tipo de violência.

Protagonistas do bullying

Fante (2005 apud Leão, 2010) conjetura que os protagonistas envolvidos na prática do
bullyingpodem ser decompor do modo seguinte: Agressor, Vítima e Espectador.
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 Agressores ou Bullies: são os expostos populares; vitimizam os mais fracos, obtendo,


na maioria das vezes, a ajuda dos outros alunos no intuito de se auto-afirmarem. Vale
ressaltar que os alunos que cooperam juntamente com o agressor para a prática de
violência, também são considerados bullies.

Para sustentar a sua popularidade acabam humilhando, ridicularizando e hostilizando a


vítima sem motivos evidentes, sendo ponderados por tais comportamentos como valentões. O
comportamento do agressor, comumente, caracteriza-se pela dominação e determinação
mediante o poder e a ameaça para conseguir aquilo que deseja.

Os bullies, frequentemente, se submergem em situações anti-sociais e de risco, como:


roubo, drogas, álcool, tabaco, vandalismo e brigas.

Vale relatar que tais causadores apresentam dificuldades em aceitar as normas que lhe
são impostas; não aceitam ser contrariados; não toleram atrasos; são maus- caráter; têm como
característica a impulsividade, a irritabilidade e baixa resistência a frustrações.

Sobre a vítima, Silva (2010apud Leão, 2010) aponta três tipos:

 Vítima Típica:é pouco sociável, sofre repetidamente as consequências dos


comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação
motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão,
insegurança, baixa auto-estima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e
aspectos depressivos. Sente dificuldade de impor-se ao grupo, tanto física quanto
verbalmente.

 Vítima Provocadora: refere-se àquela que atrai e provoca reações agressivas contra as
quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada,
mas não obtém bons resultados. Pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É,
de modo geral, tola, imatura, de costumes irritantes e quase sempre é responsável por
causar tensões no ambiente em que se encontra.
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 Vítima Agressora: reproduz os maus-tratos sofridos. Como forma de compensação


procura outra vítima mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas na
escola, ou em casa, transformando o bullyingem um ciclo vicioso.

 Espectadores ou Testemunhas: também considerados personagens de tal fenômeno, no


entanto, são assim apelidados por apenas observarem à prática da violência e não se
manifestarem quer seja, para intervir na defesa da vítima ou para acusar o feito.
Somente se conservam inativos. Tal posicionamento, comumente, é tomado por medo
de ser a próxima vítima.

De acordo com Chalita (2008 apud Leão, 2010) os espectadores “aprendem a ser omissos
e passivos para se defender”. O medo em denunciar o agressor ou amparar a vítima, pode
transformá-los na vida adulta em cidadãos egoístas, que abrigam e até mesmo corroboram as
injustiças sociais.

Identificando os envolvidos

O estudioso Olweus (2005 apud Fante, 2005 apud Leão 2010) cita determinado
comportamentos que devem ser notados para que a vítima e o agressor sejam identificados.
 Comportamento da Vítima na escola: durante o recreio está frequentemente isolado e
separado do grupo, ou procura ficar próximo do professor ou de algum adulto. Na sala
de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro e ansioso.
Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido. Apresenta-se comumente com aspecto
contrariado, triste, deprimido ou aflito. Apresenta desleixo gradual nas tarefas
escolares. Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa
rasgada, de forma não-natural Falta às aulas com certa frequência (absentismo). Perde
constantemente os seus pertences.

 Comportamento da Vítima em casa: apresenta, com frequência, dores de cabeça,


pouco apetite, dor de estômago, tonturas, sobretudo de manhã. Muda o humor de
maneira inesperada, apresentando explosões de irritação. Regressa da escola com as
roupas rasgadas ou sujas e com o material escolar danificado. Apresenta desleixo
gradual nas tarefas escolares. Apresenta aspecto contrariado, triste, deprimido, aflito
ou infeliz. Apresenta contusões, feridas, cortes, arranhões ou estragos na roupa.
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Apresenta desculpas para faltar às aulas. Raramente possui amigos, ou possui ao


menos um amigo para compartilhar seu tempo livre. Pede dinheiro extra à família ou
furta. Apresenta gastos altos na cantina da escola.

 Comportamento do Agressor na escola: faz brincadeiras ou gozações, além de rir de


modo desdenhoso e hostil. Coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos
colegas, de forma malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama. Faz ameaças,
dá ordens, domina e subjuga. Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos,
pontapés, beliscões, puxa os cabelos, envolve-se em discussões e desentendimentos.
Pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences, sem
o consentimento.

 Comportamento do Agressor em casa: regressa da escola com as roupas amarrotadas e


com ar de superioridade. Apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com os pais e
irmãos, chegando a ponto de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou a diferença
de força física. É habilidoso para sair-se bem de „situações difíceis. Exterioriza ou
tenta exteriorizar sua autoridade sobre alguém. Porta objetos ou dinheiro sem justificar
sua origem.

Causas

De acordo com Chalita (2008 apud Leão, 2010) determinadas razões podem propiciam
o acometimento desta conduta: influências familiares, por adotarem modelos autoritários e
repressores. Um ambiente familiar super protetor também pode desencadear o cometimento
do bullying, visto que acriança se tornará dependente de outros, buscando a atenção e
aprovação de suas atitudes pelos pais. Relação negativa com os pais, uma vez que os mesmos
não demonstram interesse pelo filho. A má educação a que foram submetidos. Fatores
econômicos, sociais e culturais. Influência de colegas. As relações de desigualdade e de poder
existentes no ambiente escolar.
Consequências

Fante( 2005 apud Leão, 2010) alega que as consequências da prática do bullying
comprometem todos os protagonistas do fenômeno, ocasionando problemas físicos,
emocionais de curto e longo prazo. Ainda de acordo com autora, crianças que são vítimas de
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bullying podem apresentar “explosões de cólera e episódios transitórios de paranóia ou


psicose, afetando a regulagem da emoção e da memória”.

Considerando a magnitude de absorção do sofrimento vivenciado pela vítima em


implicação da conduta bullying,o indivíduo pode predispor a manifestações intrapsíquicas e
extrapsíquicas, apresentando sintomas de natureza psicossomática, tais como:cefaléia,
insônia, palpitações, aumento da pressão arterial, asma, gastrite, úlceras, acidente vascular
cerebral, diabete, câncer, distúrbios na coluna, confusão mental, transtorno obsessivo
compulsivo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, má circulação periférica
superior e inferior, ansiedade, pânico, medos diversos, autoestima baixa, depressão,
labirintite, dislexia, dificuldade de assimilação, desatenção, falta de concentração,
impulsividade, agressividade, neuroses,enurese, taquicardia, sudorese, insônia,dor epigástrica,
bloqueio dos pensamentos e raciocínio, estresse, pensamentos de vingança e suicídio,
agressividade, impulsividade, e abuso de substâncias químicas SILVA (2010 apud SOUZA;
ALMEIDA, 2011).

O agressor, em contrapeso, poderá desenvolver condutas antissociais e


comportamentos delinquentes, tais quais: agregação a grupos delinquentes, agressão sem
motivo aparente, uso de drogas, porteilegal de armas, furtos, indiferença à realidade que o
cerca, crença de que deve levar vantagem em tudo, crença de que é impondo–se com
violência que conseguirá obter.

Os expectadores ou testemunhas, igualmente sofrem com as consequências, ainda que


indiretamente, pois a prática do bullyingno âmbito escolar, perpetra com que o aluno não
tenha o direito a uma escola protegida, solidária e benéfica, o que irá depreciar o
desenvolvimento socioeducacional.

Dos Aspectos Legais

Constituição Federal
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A Constituição Federal Brasileira apresenta como um de seus objetivos


principais e que deve ser respeitado o seguinte, in verbis:

Art. 3º, inc. IV, CF: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Presume ainda, os direitos e garantias fundamentais que devem ser resguardados a
todos, in verbis:

Art. 5º, caput, CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes”.

Art. 5º, inc. III, CF: “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou
degradante”.

Art. 5º, inc. X, CF: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação”.

Art. 5º, inc. XLI, CF: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais”.

Por outro lado, tem-se a proteção do direito social, no que diz respeito à Infância, in
verbis:

Art. 6º, CF: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição”.

A mesma Constituição coloca ainda algumas cauções fundamentais em relação à


criança:
Art. 227, CF: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
15

adolescente, com absoluta prioridade,o direito à vida, à saúde, à alimentação, à


educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”.
Fonte: Brasil, 1988.

Declaração dos Direitos Humanos

A Declaração dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III)
da Assembléia Geral das Nações Unidas é desobedecida quando a escola tolera a vivência do
bullying no âmbito escolar, ou seja, entre os alunos, uma vez que a referida Declaração
conjetura em seu Preâmbulo que “os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de
Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a
tirania e a opressão”.
Junta-se, a outros, que em seus vários artigos, a Declaração dos Direitos Humanos
sanciona a garantia de tais direitos, exemplo, “toda pessoa tem capacidade para gozar os
direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie,
seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição” – (art. II).

Uma outra violação à Declaração dos Direitos Humanos que pode ser citada incide
quando há, por parte do agressor em relação à vítima, espécies de humilhações e agressões,
fazendo com que a suposta vítima se sinta torturada diante de tal situação – (art. V).

Código Penal

O bullying pode estar adjunto a diferentes motivos e não se confunde com o ato
praticado. O fenômeno excede os limites da percepção isolada da ação que pode dar um
tratamento penal como, por exemplo, o caso da lesão corporal, da injúria, do dano, que pode
ser percebido no Código Penal Brasileiro.
16

Lesão Corporal – Art. 129, CP: “Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem

Pena – detenção, de três meses a um ano.

Maus-tratos – Art. 136, CP: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a
trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina”:

Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena – reclusão, de um a quatro anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena – reclusão, de quatro a doze anos.

§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de


14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990).

Calúnia – Art. 138, CP: “Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido
como crime”:

Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propaga ou divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Difamação – Art. 139, CP: “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
reputação”:
17

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria – Art. 140, CP: “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro”:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Constrangimento ilegal – Art. 146, CP: “Constranger alguém, mediante violência ou


grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade
de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda”:

Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Ameaça – Art. 147, CP: “Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave”:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único – Somente se procede mediante representação.

Dano – Art. 163, CP: “Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.


Fonte: Brasil, 1984.

Estatuto da Criança e do Adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente tem por intuito proteger inteiramente os


direitos da criança e do adolescente, além de ser um manual de medidas socioeducativas,
aceito pode ser empregado como um guia de orientação para que tais direitos sejam
protegidos e devidamente adotados.

Art. 15, ECA: “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à


dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de
18

direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”.

Art. 16, ECA: “O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos”:

V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

Art. 17, ECA: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,


psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos
pessoais”.

Art. 18, ECA: “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente,
pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório
ou constrangedor”.

Art. 232, ECA: “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a vexame ou a constrangimento”:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Art. 245, ECA: “Deixar o médico, professor ou responsável por estabelecimento de


atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à
autoridade competente os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente”:
Pena – multa de 3 (três) a 20 (vinte) salários de referência, aplicando-se o dobro em
caso de reincidência.
Fonte: Brasil, 1990.

Código de Defesa do Consumidor

A escola, como prestadora de serviços, é responsável pelos atos de violência que


advêm contra os alunos dentro do estabelecimento de ensino, uma vez que ela deve preservar
pelo bem-estar e segurança das crianças.
19

A confinar do momento que uma escola particular recebe um estudante, a mesma torna-se
responsável pela cautela da integridade física e psíquica do aluno, involuntariamente de culpa
ou não, salvo que a responsabilidade nesta situação é objetiva, sendo assim, responderá pelos
danos causados, ou seja, as agressões atentadas como podem perceber no artigo, in verbis:

Art. 14 do CDC: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos”.
Fonte: Brasil, 1990.

BULLYING E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NA ABORDAGEM


COGNITIVO COMPORTAMENTAL

Intervenção para as Crianças Vítimas de Bullying

De acordo com Doll e Swearer (2006 apud Dornelles et al., 2012), o bullying sucede
segundo o modelo de coerção social, ou seja, o intimidador é agressivo contra a vítima,
cometendo uma demanda explícita ou implícita. Toda vez que a vítima resiste, a criança
intimidadora aumenta a agressão, falando mais alto ou puxando mais forte. A vítima
eventualmente cede, e a consentimento age para reforça a agressão do intimidador,
acrescendo a probabilidade de que a agressão volte a ocorrer. Se a concessão obstrui o
bullying, conceder é reforçador para a vítima, que aprende que a humilhação e a dor são
enfraquecidas dando rapidamente o que o agressor quer. Contudo, agressão da criança é
também reforçada pelo acrescente prestígio e respeito dos outros pares e pelo senso de poder e
triunfo que ocorre. Nesse sentindo, é necessário instruir ás vítimas outras estratégias para lidar
com a circunstância que não abranjam ceder ás solicitações do intimidador.

O trabalho terapêutico com a criança deve sedar início a com a constituição de um


vínculo sólido, é importante que a criança confie no terapeuta e acredite que ele está
preparado e engajado em resolver os problemas apresentadas, pois em um certo casos ela já
apelou ao auxílio dos pais ou professores sem sucesso. Deste modo, o psicólogo inicia a
primeira sessão com a criança contextualizando o papel da psicoterapia, explicando a precisão
20

do suporte terapêutico e explicando para ela o que são problemas, em que situação eles
surgem e o que desencadeiam.

Além disso, similar à Beck (1997 apud Dornelles et al., 2012), organiza-se com a
criança uma lista das dificuldades que ela depara. Essa lista deve ser fundamentada na
percepção da criança sobre sues problemas, na queixa citada pelos pais na primeira sessão e
ainda outros pontos levantados pelo terapeuta. Cada uma dessas percepções é escrita em cores
diferentes (uma cor de caneta para os problemas apontados pelos pais, outra cor para as
dificuldades levantadas pela criança e uma terceira cor de caneta para os problemas
identificados pelo terapeuta). Constrói-se então a caixa de problemas da criança, contendo
apenas as dificuldades que ela concordou em colocar na caixa. Caso a criança ainda não seja
alfabetizada, é plausível preparar desenhos representativos dos problemas e estes serem
colocados na caixa. Essa caixa precisará ser levada para casa e a criança a trará de volta em
todos os atendimentos. Informa-se a criança sobre sigilo, demarcando que os dados
apresentados por ela na sessão não serão repassadas a quaisquer pessoa incluindo os pais (R.
LOPES et al., 2003 apud Dornelles et al., 2012)

Após esse início, sugere-se fazer com a criança psicoeducação sobre o bullying. A
psicoeducação pode ser realizada com o uso de trechos de filmes que explanam situações
parecidas ás vivenciadas pelo paciente. Filmes como “sempre amigos”, “Nunca fui beijada”,
“Um grande garoto” e “Querido Frankie” são alternativas que acometem a temática. Após a
psicoeducação, deve-se perceber como a criança decodificou o evento: por que ela acredita ter
sido vítima de bullying? A que ela atribuiu a vitimização? Quais as implicações, ou seja, as
crenças centrais que começaram a se formar? Isso pode ser feito a partir do filme, solicitando
que a criança identifique tais aspectos no personagem e, em seguida, o terapeuta direciona a
discussão para as experiências do paciente. Pode-se ainda pedir que a criança desenhe, encene
com fantoches ou monte um cartaz com colagens representando as situações de vitimização
que vivenciou. A partir da produção, o terapeuta averigua os itens anteriormente citados, de
modo a organizar a conceitualização cognitiva do caso.

Uma vez identificados os pensamentos automáticos da criança diante da vitimização,


se torna indispensável examinar se os mesmos são distorcidos e disfuncionais. É comum o
episódio de distorções cognitivas. A criança pode aplicar a culpa pela vitimização a questões
intrínsecas, desconsiderando outros fatores, como características do vitimizador, desleixo
escolar e incompetência dos pais em dar assistência, dentre outros. Assim, pode-se trabalhar a
21

técnica torta da responsabilidade (BECK, 1997 apud DORNELLES et al., 2012). O terapeuta
desenha um círculo representando 100% dos fatores responsáveis pela ocorrência do bullying
e pede para a criança listar qual a parte ou porcentagem de responsabilidade que outros fatores
desempenham. Verifica-se é próxima à realidade, investigando com a criança outras possíveis
contribuições. De modo a tornar a aplicação da técnica mais lúdica, é possível fazer o círculo
de material emborrachado EVA (etil vinil acetato), já recortado em partes com cores
diferentes, para que a criança monte as partes conforme a porcentagem atribuída. Espera-se,
ao final da técnica, que a criança considere outros fatores para a vitimização que não
atribuídos a ela, diminuindo a autocrítica.

Para o pensamento automático de que “o bullying nunca vai parar”, examina-se com a
criança as ênfases que amparam tal pensamento. Ou seja: O que a faz crer que a vitimização
perdurará, se ela conhece alguma criança que foi alvo de intimidação e deixou de ser vítima,
se é possível que a terapia a ensine estratégias diferentes que possam ajudá-la a lidar melhor
com a situação, se alguma vez ela acreditou que algo duraria para sempre e terminou antes e o
que ela ganha também uma possível mudança do agressor, ou seja, é possível que ela pare de
praticar o bullying. Pode-se instituir um paralelo entre a situação da criança e a de um super-
heroi que ela goste, expondo que este também enfrenta dificuldades, mas que ao tentar vencê-
las alcança êxito. Busca-se com essa técnica gerar motivação na criança para mudar a atual
condição, uma vez que é comum o estado de desamparo quando a criança já buscou outras
fontes de subsídio. Um pensamento mais adaptativo abarcaria a ideia de que é aceitável
aprender novas estratégias que promovam a suspensão do bullying e que com auxílio à
criança será capaz de superar essa situação.

Outra técnica para chegar as distorções cognitivas é recomendada por Friedberg e


Maclure (2004apud Dornelles et al., 2012): pensamento de lagarta e pensamento de borboleta.
Nessa técnica salienta-se para o paciente pensamento distorcidos e/ou disfuncionais que ele
habitualmente tem (pensamento de lagarta) e ensina-o a transformá-los em pensamentos mais
adaptativos (pensamento de borboleta). Deste modo, sempre que um pensamento automático
negativo vem á mente da criança, ela o nomeia como pensamento de lagarta e aplica as
técnicas aprendidas em terapia para transformá-lo em pensamento de borboleta. Para fixar a
aprendizagem da criança quanto á identificação dos pensamentos automáticos distorcidos e/ou
disfuncionais carecem ser avaliados diversos pensamentos, bem como devem ser escritos os
pensamentos de lagarta e de borboleta em cartazes que a criança leva para casa, a fim de
lembrá-la a propor maneiras mais funcionais de interpretar aquilo que lhe ocorre.
22

Analisando que laços de amizade pouco fundados estabelece em um fator de risco


(Goldbaum et al., 2003apud Dornelles et al., 2012), é significante mapear a rede de relações
que a criança dispõe. Nessa estratégia, o terapeuta desenha em uma folha ou cartolina uma
série de círculos concêntricos. No círculo central coloca-se a criança e é a ela solicitado que
situe as pessoas com as quais ela interage. Quanto mais próximo ao círculo central, maior o
grau de intimidade/participação da pessoa na vida da criança; quanto mais distante, menor a
importância dessa pessoa para o paciente. A técnica consente elencar as probabilidades de
auxílio disponíveis para a criança e a percepção desta acerca do nível de intimidade das
relações (LOPES et al.,2003apud DORNELLES et al., 2012). Questiona-se á criança a quem
ela entrar com recurso em momento de dificuldade, quem serviu de suporte e em que
momentos, que deixou a desejar em uma situação que ela precisou de ajuda e ainda se há
outras pessoas que ela poderia contar e que não foram identificadas na técnica.

O treino de habilidades sociais para as vítimas de bullying tem por finalidade ampliar
e fortalecer a rede de relações da criança, desenvolvendo fortes laços de amizade, somando a
aceitação entre os pares, melhorando a autoestima global e ainda instrumentalizando-a a lidar
com a intimidação no momento em que ocorre. Nesse sentido, destacam-se, no trabalho com
as vítimas, as estratégias de autocontrole e expressividade emocional, assertividade, fazer
amizades e solução de problemas interpessoais.

A solução de problemas interpessoais inclui acalmar-se diante de uma situação-


problema, pensar antes de tomar decisões, reconhecer e nomear diferentes tipos de problemas,
identificar e avaliar possíveis alternativas de solução, escolher, programar e avaliar o processo
de tomada de decisão (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005apud DORNELLES et al., 2012).
Nesse sentido, dar-se início identificando com o paciente as tentativas usadas antes para lidar
com a vitimização, o sucesso alcançado em cada uma delas e o fruto em curto e médio prazos.
Além disso, se verifica se colegas também são vitimizados e se as estratégias que os colegas
usam são eficazes. Assim, é presumível elaborar com a criança um questionamento socrático,
de modo que ela alcance não só que a agressão tende a gerar mais agressão como também que
a passividade incitaprolongamento do bullying. Obtém-se ainda a aliança com o paciente em
se tornar outras estratégias, uma vez que as precedentes não surtiram efeito desejado. Insere-
se então o treino em assertividade. A assertividade abarca expressão de sentimentos, dizer
sobre qualidades e defeitos, elaborar opinião diante de situações, fazer e recusar pedidos,
sugerir mudança de comportamento, negociar interesses conflitantes, defender os próprios
direitos e ir contra as pressões dos colegas. Concernente à situação de bullying, são atendidas
23

adaptativas estratégias como ignorar ou mostra-se indiferente. Agressão e esquiva por parte da
vítima são adjuntas com bullying mais severo e duradouro, sendo, portanto, desadaptativas.

Por meio de role-play elabora-se com a criança o momento em que a vitimização


sucede, instruindo a ela respostas como: ignorar o bullying e permanecer andando e então
contar a um adulto para que ele ajude; pedir a um colega que ande junto; praticar o que dizer
na próxima vez que for vitimizado, como por exemplo, dizer á criança que vitimiza para
parar; manter a calma e não mostrar que está se sentindo triste ou com raiva e apud
DORNELLES et al., 2012), ainda, ficar perto de alunos que o protegerão; ir para lugares
seguros ( PREVNET,2010 apud DORNELLES et al., 2012).

Para trabalhar o autocontrole e expressividade emocional pode-se empregar a técnica


“charada das emoções” (STALLARD, 2007 apud DORNELLES et al., 2012). São
apresentados ás criança alguns cartões com nome ou fotos/imagens ilustrativas de
sentimentos, e pede-se a ela que encene aquele sentimento escolhido. O terapeuta tenta
descobrir que sentimento é. Na sequência, invertem-se os papeis, o terapeuta encena o
sentimento escolhido e a criança deverá descobri qual o sentimento encenado. A utilização
desta técnica beneficia a discriminação das emoções vivenciadas pelos outros, como também,
a autopercepção da criança em relação as próprias emoções e a percepção do modo que a
criança lida com tais emoções. Aceita ao terapeuta treinara criança estratégias de manejo da
raiva, ansiedade e tristeza. Logo, é uma boa maneia de treinar a expressão de sentimentos
positivos e negativos.

Tratando o Agressor

Ao tratar o agressor, o terapeuta deve primeiramente identificar e avaliar os próprios


pensamentos automáticos em relação ao paciente. Ou seja, examinar se é possível que o veja
de forma negativa se considerar os danos que o agressor causa na vida de outras crianças.

Após trabalhar com a criança o conceito de problema de Nemiroff e Anunzitta (1995


apud Dornelles et al., 2012 ) ou Moura (2008 apud Dornelles et al., 2012), conexo á ideia da
“luz do coração” de Gasparetto (2002 apud Dornelles et al., 2012), a criança é investigada
sobre quais são as características positivas, as qualidades que ela apresenta e que, por
consequência, “acendam a luz do coração” dela e de outras pessoas. Em seguida, pede-se á
criança que identifique características negativas ou que ela poderia melhorar, para ter como
24

efeito não “apagar a luz do coração” dela e dos outros. As qualidades e aspectos negativos
listados pela criança podem ser marcados em cartaz onde esteja desenhado um coração
dividido no meio, no qual metade simboliza a luz acesa (coisas boas) e metade, a luz apagada
(coisas ruins). Nessa técnica, salientam-se com a criança as potencialidades e a precisão de
mudança de determinados comportamentos, apontando o prejuízo que tais ações têm
ocasionado para ela mesma e para outras pessoas.

A atividade anterior organiza a criança para trabalhar a empatia, um aspecto


indispensável no atendimento ás crianças que cometem o bullying(TYLER, 1998 apud
DORNELLES et al., 2012). O psicólogo começa com um levantamento das emoções,
definições e contextos nos quais elas são evocadas. Acompanha-se a distinção entre os
sentimentos próprio e dos outros. O terapeuta leva trechos de filmes e desenhos para a sessão
e pede para o paciente identificar qual foi o sentimento desencadeado no personagem e o que
desencadeou. Cataloga a situação em que se encontra o personagem, a interpretação realizada,
o sentimento e o comportamento decorrentes. Em seguida, pede para o paciente listar quais
desses sentimentos já vivenciou e em quais situações e quais os prováveis sentimentos que os
comportamentos de intimidação despertam na vítima. Enfocam-se os sentimentos de
vergonha, embaraço, raiva, irritação, medo e tristeza.

Um filme que pode ser usado para o objetivo acima é “O Pestinha”, na cena em que o
personagem joga presentes da aniversariante na piscina. Pode-se avaliar com o paciente como
a menina se sentiu, por que ela se sentiu daquela maneira, como o personagem se sentiu ao
destruir os presentes, quanto tempo durou o sentimento, quais as consequências ele sofreu por
tal comportamento, o que ele ganhou e perdeu com essa ação e se valeu a pena. Esse
questionamento faz o paciente pensar sobre as próprias ações e as consequências, os prejuízos
que ele recebe e que gera no outro.

Em prosseguimento, solicita-se ao paciente que faça um desenho, elabore um pôster


ou um cartaz, representando os sentimentos vivenciados pela vítima. O trabalho com a
empatia demanda algumas sessões e deve ser abordado de diferentes maneiras, de modo que
sensibilize o agressor quanto as consequências dos maus-tratos a vítima. Outra maneira de
desenvolver a empatia é expor relatos de casos, entrevistas, documentários e vídeos de casos
reais de modo que o paciente se conscientize e perceba os danos gerados a partir das
agressões físicas e verbais. Pode-se ainda pedir ao agressor que elabore um estudo contando
dados de prevalência e consequências do bullying. Este estudo pode abranger levantamento
25

teórico, entrevistas com pares que sofrem ou sofreram intimidação, com adultos que foram
vitimizados quando criança, investigando como foi a experiência do bullying e qual impacto
na vida deles (PREVENT,2010 apud DORNELLES et al., 2012).

Caso o resultado de tais técnicas promova uma sensibilização no paciente, deve-se


incentivá-lo a escrever uma carta ou um cartão se desculpando com a vítima. Um imediato
passo envolveria um pedido de desculpas verbal, admitindo a responsabilidade pelo
comportamento e pelo bem-estar da vítima ao eliminar os comportamentos de vitimização.
Caso esse encontro suceda, deve ser feito em particular. É respeitável ainda que o agressor
repare e/ou devolva os bens e objetos da vítima que foram danificados ou roubados, caso isso
tenha acontecido (JIMÉNEZ; CASTELLANOS; CHAUX, 2009 apud DORNELLES et al.,
2012).

Depois de obter êxito nas ações propostas anteriormente, sugere-se estimular o


paciente a executar atos de bondade, promovendo ações benfeitoras. Terapeuta e paciente
definem conjuntamente quais comportamentos serão exercidos, para quais pessoas e em quais
situações. Antes de proceder ao experimento, terapeuta e paciente avaliam o que de melhor e
de pior poderia acontecer, os possíveis benefícios, quais as expectativas do paciente em
relação ao experimento e qual a provável resposta do recebedor da benfeitoria. Pede-se ao
paciente que anote os próprios comportamentos e as respostas obtidas. Na sessão seguinte,
confronta-se expectativas e temores iniciais do paciente com os dados empíricos obtidos com
o experimento. Debate-se com a criança que sentimentos ela promoveu no recebedor da
benfeitoria e como ela mesma se sentiu em gerar essas emoções no outro. De modo a proceder
a modelagem do comportamento pode-se passar trechos do filme “A corrente do bem”
motivando o paciente para a implementação dos novos comportamentos.

Adjunto a essa técnica, o terapeuta leva para a sessão um vaso com o objeto de
quantificar as boas ações desempenhadas pelo exemplo, ser empático, escutar ou responder
sem agressividade, o paciente coloca a bola de gude no vaso. Quando o vaso atingir um
determinado número de bolas de gude, ele recebe um prêmio combinado previamente com o
terapeuta (FRIEDBERG et al., 2004 apud DORNELLES et al., 2012). As informações devem
sempre ser conferidas com pais e professores, por meio de um acompanhamento ininterrupto,
de modo a assegurar que o paciente não manipule o terapeuta.

Cabe ao terapeuta, juntamente com os professores, direcionar essa a capacidade de


liderança para objetivos mais construtivos: o paciente pode tornar-se líder do time escolar,
26

auxiliar o professor nas atividades de sala de aula ou monitorar crianças mais jovens, dentre
outros. Deste modo, mantém-se, porém de um jeito saudável.

Em relação ás distorções cognitivas, deve-se primeiramente identificá-las. O terapeuta


pode elaborar um jogo chamado “verdade” ou “mentira”. Nesse jogo, o terapeuta faz
afirmações, e o paciente deve dizer se tal afirmação é verdade ou mentira. Para torná-lo
interativo, o paciente também prepara afirmações as quais o terapeuta deverá avaliar como
sendo verdadeiras ou não. As assertivas depositadas pelo terapeuta deverão estar relacionadas
ás hipóteses dele acerca da maneira pela qual ele acredita que o paciente percebe a vítima, a si
mesmo e aos próprios comportamentos. Na sequência, o terapeuta seleciona os pensamentos
automáticos e inicia um questionamento socrático.

Concluso a parte das distorções cognitivas, o terapeuta leva uma série de óculos
coloridos, mostrando para o paciente que as cores do ambiente variam conforme os óculos
utilizados, da mesma maneira que vemos as situações conforme os “óculos” que usamos em
um determinado momento, ou seja, de acordo coma interpretação que fazemos dos eventos.
Assim, para cada pensamento distorcido, o terapeuta relaciona uma cor de óculos específica.
O terapeuta pode dramatizar uma situação e os correspondentes pensamentos, emoções e
comportamentos ao usar determinados óculos. Em seguida, avalia junto com o paciente as
consequências de “usar aqueles óculos”. Por fim, elaboram juntos uma forma mais adaptativa
de avaliar uma determinada situação, modificando os pensamentos automáticos distorcidos
trabalhados.

Outra intercessão indispensável refere-se a habilidade de solucionar problemas, uma


vez que as crianças vitimizadas tendem a responder ás situações de forma agressiva.A técnica
de soluções de problemas pode ser enfatizada por meio do acrônimo COPER. A letra C
significa captar o problema, a letra O relaciona-se ás opções disponíveis, a letra P expressa a
previsão das consequências em curto e longo prazos, a letra E significa examinar os resultados
antecipados e agir com base nessa revisão e a letra R propões autorrecompensa por tentar uma
reação produtiva. Esses passos são colocados em um cartão plastificado para futura referência
(FRIEDBERG et al.,2004 apud DORNELLES et al., 2012).

O treino de solução de problemas objetiva minimizar os episódios de respostas


agressivas por meio da aprendizagem de comportamentos mais assertivos. Para tanto, a
criança avalia com antecedência soluções diferentes daquelas que estava acostumada, coloca-
27

as em aprendizado e verifica a diferença de consequências comparando as novas respostas em


relação ás antigas.

Em súmula, a intervenção com o paciente que pratica o bullying deve abranger um


levantamento dos problemas apresentados pela criança, a identificação de qualidades e
aspectos negativos, o trabalho com a empatia, envolvendo a compreensão das emoções
próprias e dos outros e a ligação entre o comportamento hostil e vitimização, identificação e
avaliação das distorções cognitivas, treino em solução de problemas e habilidades sociais.
Para findar o tratamento com criança agressora, o terapeuta realiza um trabalho abordando as
virtudes. O intuito é enfatizar os valores que a criança já tinha e ressaltar aqueles aprendidos
em terapia e outros importantes para a socialização.

Intervenção na Família

O primeiro contato do terapeuta com o caso é a partir de entrevista com os pais. A


primeira sessão é realizada apenas com os pais, e o terapeuta procura averiguar, além da
queixa, quais as características dos pais que podem ter colaborado para tornar o filho
vulnerável ao bullying, seja como agressor, vítima ou vítima/agressor. Além disso, indaga-se
o interesse da criança para que a constituição do vínculo entre esta e o terapeuta seja
facilitado.

Realizada a avaliação com os pais, a criança e a escola, o terapeuta dá uma devolutiva


para os pais sobre os centrais aspectos identificados e realiza ainda psicoeducação sobre o
bullying. É extraordinário que os pais estimulem os filhos a serem autônomos e a
desenvolverem amizades sólidas, que ensinem eles a se respeitarem, serem autoconfiantes e
expressarem-se de forma assertiva, sem que sejam reprimidos ou violentados. Os pais não
devem incentivá-los a lutar contra a intimidação, no caso das vítimas.

Referente a intervenção com os pais de crianças agressoras e/ou vítima e agressora,


salienta-se, na orientação a estes, o cuidado que eles devem ter enquanto aos próprios
comportamentos, uma vez que as crianças aprendem por modelação. Mais uma habilidade que
os pais carecem aprender faz referência a maneira como propagam a raiva e a frustração e
como lidam com os filhos quando estes evidenciam tais sentimentos. É importante que as
crianças tenham a possibilidade de expressar o que sentem e tenham esses sentimentos
validados. O papel dos pais nesse caso é ouvir o filho, compreender a origem da raiva e/ou
28

frustração, instruir a criança a avaliar se há distorção na maneira como interpretou o evento


que desencadeou tais emoções e gerar meios para que a evasão dessas emoções aconteça de
maneira saudável.

Cabe aos pais, ainda, pôr limites e consequências para comportamento agressivo
apresentados pelos filhos dentro e fora de casa. Isso significa que os pais deverão estar
vigilantes a ações agressivas emitidas pelos filhos contra os irmãos, outras crianças, animais e
até mesmo adultos. Uma vez identificadas tais situações, os pais devem mostrar aos filhos e
explicar que o uso da agressividade para resolver conflitos e para lidar com as outras pessoas
ou com animais não é correto e não será aceito. Posteriormente, constituirão uma
consequência para a criança, seguindo o cumprimento das normas. A consequência deve fazer
a criança pensar sobre os sentimentos dela e como ela fez o outro se sentir ao vitimizá-lo.

É significante reconhecer as habilidades da criança e reforçá-las, sinalizando suas


qualidades e seus aspectos positivos. Para tanto, o terapeuta pede em sessão que os pais listem
as qualidades da criança, falando detalhadamente sobre elas. E, como tarefa de casa, requer
que anotem e elogiem, ao longo da semana, comportamentos e situações nas quais a criança
foi proativa e fez algo positivo. A finalidade é que os pais ofereçam mais atenção aos filhos e
salientem não apenas as faltas ou erros, mas, principalmente as qualidades das crianças.

Para aproximar pais e filhos, adicionando o conhecimento mútuo e o convívio,


recomenda-se a criança como tarefa de casa que faça uma entrevista com os pais, pesquisando
o que eles gostam de fazer no tempo livre, suas comidas favoritas, estilo musical predileto e
algumas histórias do passado, dentre outros. O terapeuta combina com os pais para reservem
um tempo, quando a criança solicitar a atenção deles, para cumprir a tarefa de casa. Além
disso, o terapeuta propõe uma sessão terapêutica conjunta na qual pais e filhos brincarão com
o jogo: “Será que conheço você? Jogo terapêutico para pais e filhos”, de Moura (2005 apud
Dornelles et al., 2012). O Utilitário desse jogo é promovera conversação, o conhecimento um
do outro quanto ao que cada um pensa, sente ou faz. O jogo contém perguntas sobre o
cotidiano, preferências e comportamentos dos pais e da criança, buscando identificar padrões
de interação efetiva entre pais e filhos e ensinar respostas de contato físico, de forma
descontraída e prazerosa. O jogo permite a pais e terapeuta identificarem a qualidade da
relação e do conhecimento mútuo entre os pais e a criança.

Mais uma estratégia para aperfeiçoar a comunicação entre pais e filhos contém como
tarefa de casa um jogo semanal, colocando dias e horários para que ele aconteça. Podem ser
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jogos competitivos, cooperativos, verbais ou de execução. O ideal é que os tipos de jogos


sejam rotativos. Ao se criar uma rotina de interação constitui-se, gradualmente, um clima de
confiança em que a criança se sente protegida para relatar aos pais aquilo que lhe acontece.

O Profissional e a Escola

É importante que a escola fique vigilante para sinais de violência, buscando paralisar
os agressores, bem como assistir as vítimas e modificar os espectadores em fundamentais
aliados. Adicionalmente, deve-se acrescentar supervisão na hora do recreio e intervalo, assim
como impedir menosprezos em sala d aula, apelidos, ou rejeição de alunos por qualquer que
seja o motivo. Além disso se indica promover debates sobre várias formas de violência, o
respeito mútuo e a afetividade, tendo como foco as relações humanas. Todas essas ações são
mais enérgicas quando toda equipe escolar é abrangida e quando são traçadas metas tanto para
enfraquecer como prevenir o episódio do bullying.

Não obstante, quando o bullying já aconteceu e trouxe prejuízos para a vítima, para o
agressor ou para a criança que vitimiza e agride a intervenção psicoterapêutica individual faz-
se indispensável. Nesse caso, o contato servirá, primeiramente, para coleta mais informações
sobre o comportamento do paciente na escola, com os colegas, em sala de aula durante os
intervalos, assim como constância dos episódios de bullying, sua intensidade e quais as
crianças estão envolvidas. Depois, para acompanhar a evolução do paciente ao longo do
tratamento e também para prover informações ao professor sobre maneiras de lidar mais
adequadamente com o bullying.

Há ênfases de que professores são predispostos a minimizar quando observam uma


ação de bullying, acreditando que os atos agressivos e grosseiros são comuns na infância ou
que são inofensivos (DOLL; SWEARER, 2006 apud DORNELLES et al., 2012). Quanto a
este tipo de pensamento, o psicólogo deve fazer psicoeducação sobre a incidência e formas de
manifestação do bullying nas escolas, bem como sobre as consequências para as crianças,
sejam elas espectadoras, vítimas, agressores ou vítimas e agressoras. Além disso, é necessário
averiguar com o professor o desempenho e o comportamento das crianças envolvidas no
bullying, procurando provas de que não se trata de uma ação inofensiva, mas de um fenômeno
que deve ser combatido.Em meio aprováveis ações do professor em sala de aula salienta-se
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preparar e fixar na sala um código de conduta para lembrar ás crianças sobre os


comportamentos permitidos, com as respectivas consequências caso haja infração ás regra.

Com relação aos fatos de bullying, cabe ao professor identificar e impedir o episódio
de agressões e ainda ouvir e tomar providencias, verificando toda e qualquer queixa de
vitimização. A criança agredida sente-se desapoiada quando busca por auxílio e não recebe
resposta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Brincadeiras são habituais e benéficas, provocam divertimento e interação entre


pessoas e preparam as crianças para encarar as situações da vida. Quando as brincadeiras
tornam-se bárbaras e excedem limites, chegando a crueldade, no entanto deixam, de serem
brincadeiras para tornarem um ato de violência. Quando atitudes agressivas infringem o
direito a integridade física e psicológica e à dignidade humana e quando são atos repetitivos,
propositados e deliberados, com a intenção de amedrontar e originar sofrimento caracterizam
o bullying.

O bullying é caracterizado por uma larga variedade de comportamentos que têm


impacto em múltiplos aspectos de uma pessoa, como o corpo, os sentimentos, os
relacionamentos, a reputação e o status social. O bullying incide por meio de maus tratos
físicos, verbais, morais, sexuais, psicológicos, materiais e virtuais.

O bullying é fenômeno difícil e multifacetado que demanda intervenções em


diferentes frentes. É necessário o desenvolvimento de programas de prevenção e minimização
dos episódios de bullying no espaço escolar. Contudo, nos casos em que a criança já se tornou
vítima, agressora ou ambos, o trabalho individual e familiar é aconselhado. Conhecer a
família de origem, o estabelecimento das relações entre os pais e a criança, o conhecimento e
manejo dos familiares frente ao bullying são fundamental para que a intervenção seja
completa. A minimização quanto ao agravamento dos episódios de bullying por ocasiões
cumpridas pela equipe escolar também deve ser alvo da reestruturação cognitiva, bem como
crenças familiares de que a criança é frágil ou que tem lidar com os infortúnios escolares
sozinha.
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Nenhuma estratégia ou medida tomada pode ser eficaz sem o apoio da equipe
pedagógica e familiar no auxílio ao combate ás situações de bullying no momento em que
acontecem.

REFERÊNCIAS

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julho de 1990.
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