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UNC-Universidade Do Contestado

Curso de Psicologia

Lucas Brambilla

Violência Psicológica:

Bullying e Cyberbullying entre Adolescentes e suas Consequências

Concórdia, SC

2023
SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO....................................................................... 2

2.0 O BULLYING......................................................................... 3

2.1 O CYBERBULLYING............................................................. 5

2.2 CYBERBULLYING NA PANDEMIA DO COVID 19............. 2.2

2.3 ESTUDO DE CASO................................................................ 3

3.0 INFLUÊNCIA E PARTICIPAÇÃO DOS PAIS........................ 3

4.0 CONSEQUÊNCIAS.................................................................4

5.0 POLÍTICAS PÚBLICAS E PREVENÇÃO...............................


1.0 INTRODUÇÃO

A agressividade humana pode ser definida como um comportamento que é


motivado e que tem por objetivo causar algum tipo de sofrimento a outro indivíduo
ou grupo (Anderson & Bushman, 2002). O bullying é uma vertente da violência
causado principalmente no ambiente escolar e pode se apresentar de diferentes
maneiras, a partir de comportamentos como agressões verbais e físicas, difamação,
roubo de pertence e degradação da imagem social, adotado por uma pessoa ou um
grupo delas com o intuito de machucar e humilhar mesmo com a inexistência de
provocações por parte da vítima. Este comportamento é estruturado por três
elementos: repetição, intenção e demonstração de poder. As diversas manifestações
de violência principalmente no âmbito escolar comprometem não só a saúde mental
dos adolescentes, mas também a qualidade da educação no contexto das escolas
brasileiras, uma vez que este tipo de comportamento entre jovens prejudica a
realização de atividades escolares além do processo de aprendizagem. Contribui
também para o processo de exclusão social e moral, consequentemente acarreta o
sentimento de abandono e insegurança no ambiente escolar, além disto, ocasiona
repercussões negativas imediatas e futuras na vida adulta dos envolvidos, como o
desenvolvimento de distúrbios mentais, pensamentos depreciativos e ideação
suicida.

Já o cyberbullying é caracterizado por um ato hostil realizado de forma repetida a


fim de gerar ameaça ou ofensa, recorre a meios de tecnologia de informação
(celulares, redes sociais, computadores e etc.). Quando se considera
especificamente crianças e adolescentes, nota-se que a agressão pode resultar em
consequências ainda mais graves, ou seja, para além do impacto psicológico da
agressividade momentânea.

O papel do agressor se apresenta como o indivíduo que pratica a violência contra


outros, supostamente mais fracos. Os agressores em sua maioria são adolescentes
do sexo masculino, mais velhos, apresentam comportamento antissocial, faltam
aulas, relatam insônia e solidão, além disto, possuem maior tendência a apresentar
comportamentos nocivos como o abuso de álcool e uso de drogas.
2.0 O BULLYING

Caracterizado pela continuidade de agressões intencionais que podem ocorrer de


maneira física, verbal ou psicológica contra um indivíduo, é caracterizado pelo
desequilíbrio de força ou de poder entre o agressor e a vítima. Construído a partir do
desejo incontrolável de ferir alguém e colocá-lo sob estresse. A criminologia
moderna aponta a prática de bullying como um grande fator de risco importante para
comportamentos antissociais e delinquentes já que os agressores possuem uma
maior tendência ao uso de drogas e abuso de álcool. Foi-se realizado uma pesquisa
nos EUA acerca da vitimização a fim de provar que esta experiência traumática está
estreitamente vinculada.

A partir dos estudos de Coopersmith (1967) sobre autoestima (definida como o


modo mais amplo pelo qual alguém se percebe e se avalia) aponta que é um dos
aspectos mais importantes da personalidade humana, além disto, ao avaliar a auto
estima entre adolescentes pode-se encontrar informações relevantes a respeito da
incidência do bullying. As crianças e adolescentes com baixa autoestima estão entre
as vítimas preferenciais para a prática do ato, as crianças tidas como alvo são
inseguras, possuem baixa autoestima, possuem características físicas tidas como
desvantajosas ou deficiências além de serem socialmente frágeis e isoladas

Tradicionalmente o bullying é referido por autores a partir de três variantes


principais, sendo elas:

1) Direto e Físico – Todas as ameaças ou práticas que envolvam imposição de


sofrimento físico como bater, socar, chutar e etc. ou ainda, a submissão do
outro, a partir da força, a condição humilhante (como em determinados trotes,
por exemplo), além disso, o furto e o roubo, vandalismo, extorsão e até a
obtenção forçada de atos sexuais.
2) Direto e verbal – Consiste em práticas que tem o objetivo de insultar e atribuir
apelidos vergonhosos e humilhantes, destaca-se a produção de comentários
racistas, homofóbicos, intolerantes na questão ás diferenças econômicas e
sociais, físicas, culturais ou religiosas.

3) Indireto – Manifestado a partir de condutas propositais de exclusão ou


isolamento de terceiros. Criado a partir da disseminação de boatos ou
informações que deponham a boa imagem do indivíduo.

O bullying é um fenômeno social influenciado por diversas características do


indivíduo, família, escola e da sociedade. Bronfenbrenner (1986) teorizou a
abordagem bioecológica do desenvolvimento humano. Esta, por sua vez, possui o
intuito de compreender como estes fatores podem contribuir para a ocorrência do
bullying em escolas, além disto, pretende abordar os processos de interação
vivenciados pelo indivíduo em cada campo citado. De acordo com esta teoria
bioecológica, o desenvolvimento humano é resultante de interações proximais
vivenciados pela pessoa em alguns contextos que interagem entre si, sendo eles
processos proximais, “pessoa”, contexto e “tempo”.

Os processos proximais dizem-se respeito as interações que acontecem em seu


ambiente externo imediato, podem resultar no desenvolvimento de características
que auxiliam ou dificultam a adaptação da pessoa com o ambiente. O
relacionamento entre os adolescentes em ambiente escolar pode ser um exemplo
clarificado desta vertente, a variação destas características resulta em relações
adaptativas como por exemplo amizades, ou em relações não-adaptativas como é o
exemplo do bullying escolar.

O componente “pessoa” diz respeito ao indivíduo em desenvolvimento, possui


características que podem influenciar seus processos proximais. Por exemplo,
adolescentes que possuem amplo repertório de habilidades sociais costumam ter
maior facilidade em fazer amizades, o que pode proteger elas de se tornarem
potenciais vítimas de bullying, ocorre o exato oposto em adolescentes que não
possuem tal repertório, ou seja, adolescentes que possuem repertório restrito
apresentam dificuldade para interagir com colegas, o que aumenta a possibilidade
de se tornarem vítimas. Deve-se ressaltar que as características individuais estão
em constante mudança devido ás interações vivenciadas em diversos contextos. O
contexto refere-se aos ambientes frequentados pela pessoa e pelos demais
indivíduos com que ela convive, os quais exercem influência direta ou indireta sobre
ela bem como seus processos proximais. Aqui compreende-se a divisão de quatro
subgrupos inter-relacionados: microssistema, mesossistema, exossistema e
macrossistema.

O microssistema trata-se do ambiente imediato do indivíduo, onde ocorrem seus


processos proximais. Trata-se, neste caso do ambiente escolar, pois nele ocorre
interações entre os adolescentes (processos proximais) os quais podem resultar na
ocorrência do bullying. Além deste, a família é outro microssistema onde vivencia
relacionamentos com os pais e irmãos. A variação deste relacionamento pode gerir
como fator de proteção ou até mesmo a prática do bullying. O mesossistema refere-
se ás relações entre os microssistemas que o adolescente frequenta, por exemplo,
as relações estabelecidas entre os pais e professores. O exossistema trata-se dos
ambientes que exerçam influência direta sobre o adolescente, neste caso em
específico o trabalho dos pais e as relações familiares e pessoais dos professores.
Por fim, o macrossistema trata dos conjuntos de crenças, valores, costumes, estilos
de vida, religião, formas de governo dentre outros aspectos que caracterizam a
sociedade como um todo. Todos os níveis deste contexto apresentam influencias
diretas ou indiretas sobre a qualidade dos processos proximais do adolescente.

O “tempo” se refere aos eventos que ocorrem na vida do adolescente e na


sociedade em geral, os quais influenciam seus processos proximais e,
consequentemente seu desenvolvimento. Podem ser eventos internos (doença) ou
externos (contexto escolar).

Os primeiros processos proximais ocorrem na família, ou seja, sua primeira


interação reciproca com seus pais, as quais poderão promover ou dificultar a sua
adaptação com o meio. Estas interações podem e irão resultar no fortalecimento ou
na fraqueza, dependendo de como os pais irão interagir com a criança na incisão ás
práticas de bullying.
Abaixo apresenta-se uma tabela que demonstra os fatores de risco para as
vítimas e autores de bullying.

Tabela 1: fatores de risco para vítimas e praticantes.

Fonte: Pepler e Craig (2000)

2.1 O CYBERBULLYING

É entendido como uma forma de comportamento agressivo que acontece através


dos meios eletrônicos de interação (redes sociais), realizado de maneira intencional
por um indivíduo ou u grupo deles contra pessoas em situação desigual de poder e
com dificuldade de se defender. É altamente intensificado pelo fato de os agressores
poderem se esconder em perfis falsos além do aspecto da distância o que faz com
que eles raciocinem de forma inconsequente com mais liberdade. É um fator de
risco para o desenvolvimento de ansiedade, depressão, ideação suicida e abuso de
substâncias psicoativas. O fenômeno do cyberbullying é contemporâneo e está
associado a alterações notadas no campo das tecnologias de informação e
comunicação, é descrito como uma “nova” forma de bullying ou de agressão entre
iguais.
Não somente as vítimas, mas também os abusadores dos atos possuem maiores
chances de criarem relações permeadas por conflitos, instabilidade e agressão
(Shariff, 2011). Deve-se contextualizar o tipo de ato infligido (violação de senhas,
roubo de dados pessoais, piadas e comportamentos de humilhação). Além disto,
pode ser descrevido como o processo que alguém realiza proativa e repetidamente
através de assedio, mensagens de texto ou postagens em redes sociais informações
nocivas sobre outro indivíduo. Pode-se delinear um perfil de vítima-agressor, que é
quando o adolescente pratica e ao mesmo tempo sofre o cyberbullying, sendo
assim, fornece combustível para que o ciclo de humilhações siga seu caminho
infeliz.

Um fator importante acerca do cyberbullying que ao contrário do bullying é que


ele pode, até certo ponto, ser evitado (a não permanência em locais, por exemplo).
Porém, quando a agressão ocorre por meios eletrônicos, tentar evitar ou escapar se
torna uma tarefa impossível, isto por que o agressor pode enviar mensagens ou
realizar postagens em relação a vítima, bem como lhe é possível a qualquer
momento do dia compartilhar vídeos ou imagens constrangedoras. Além disso, a
maioria dos envolvidos, na maioria das vezes percebem o espaço virtual como
impessoal, ou seja, uma “terra sem lei” onde tudo pode ser livremente dito ou
exposto sem consequências.

Na tabela abaixo (tabela 2) encontram-se sumarizados e apontados os aspectos


que diferem a agressão entre indivíduos por meio eletrônico daquela realizada frente
a frente, avalia-se os critérios de agressividade, desequilíbrio de poder,
espectadores, intencionalidade e repetição. Além disto, apresenta informações que
sustentam os motivos pelos quais o cyberbullyig vem se tornando mais presente e
impactante na vida de crianças e adolescentes.
Tabela 2: Critérios para definição de bullying e cyberbullying.

Fonte: Guilherme Wendt (2000).


Nota-se que possuem aspectos semelhantes entre os processos, pode-se inferir
que o desequilíbrio de poder, a intenção de causar danos e a repetitividade estão
presentes, entretanto, nos atos de cyberbullying o público pode chegar a um número
muito mais expressivo de envolvidos.

2.2 O CYBERBULLYING NA PANDEMIA DO COVID 19

Ao decorrer do isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19, notou-


se diversas mudanças em práticas sociais até então enraizadas na sociedade.
Contribuiu de forma relevante para interferências sobre a saúde mental em crianças,
adolescentes e adultos, porém as dificuldades dos adolescentes podem ser mais
intensas pois eles estão em um período de desenvolvimento social, cultural e
fisiológico o que engloba a fase de transição entre a infância e a vida adulta. Com o
aumento da inclusão digital surgiu também os ataques de forma anônima por parte
do agressor, além da propagação se tornar muito mais rápida.

A pandemia do COVID-19 impôs a necessidade de uma nova condição


adaptativa de curto prazo, aonde a sociedade teve de se organizar nesta atitude
repentina e estabelecer novas formas de convívio, trouxe como consequência
imediata um encadeamento de mudanças no cotidiano. O adolescente percebe e dá
sentido a esta realidade a partir de suas perspectivas, interpretações e
entendimentos. Um ponto relevante a ser observado a partir de artigos que
buscaram relacionar o cyberbullying com o isolamento social é que curiosamente
constatou-se que os ataques de cyberullying se mantiveram nas mesmas
proporções e até diminuiu em alguns casos.

No bullying virtual é impossível ao agressor visualizar efetivamente o sofrimento


da vítima. Por não poder se encontrar presencialmente e não constatar o sofrimento
que a agressão lhe causou, é plausível que o agressor não note que seus atos
geraram uma reação na vítima, perdendo assim o sentido em continuar as
agressões, eventualmente gerando uma redução nos ataques (hipótese).
2.3 ESTUDO DE CASO

Escola estadual em Porto Alegre

Foi-se aplicado um questionário na escola estadual Odila Gay da Fonseca em


estudantes matriculados entre a 5ª e a 8ª séries, sendo composto por 91 meninos e
87 meninas e possuíam idades entre 10 e 15 anos. Solicitou-se que os alunos
relatassem casos ocorridos durante o período de acompanhamento (7 meses). Em
sua totalidade de 178 estudantes um total de 150 relaram algum tipo de violência,
este valor equivale a 84,26% da amostra, um número consideravelmente alto. Neste
estudo ainda que 87% das vítimas são ameaçadas, 75,3% são agredidas
fisicamente, 69,4% são ridicularizadas e 37,6% são vítimas de agressões sexuais,
nota-se que a porcentagem ultrapassa o valor de 100, isto diz que grande maioria
das vítimas sofreu mais de uma agressão. Foi possível constatar que as vítimas de
bullying se sentem muito menos a vontade na escola que as não vítimas, como é
possível se observar no gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Resposta à pergunta “você se sente bem na escola? ”

Fonte: Marcos Rolim (2008) adaptado pelo autor (2023)


A escola convive com circunstâncias e práticas violentas e não possui uma
abordagem específica para o enfrentamento do problema. Entre os alunos é
possível observar a existência de uma certa legitimação para condutas violentas
especialmente as inscritas no cotidiano de relações marcadas pela intolerância
perante as diferenças sociais. O estudo de caso comprovou que as práticas de
bullying são expressivas, as vítimas na escola são, em regra também agressivas o
que contribui para o ciclo de intolerância e má convivência. Isso significa que a
agressividade produz agressividade, formando um ciclo “vítima-autor”, este termo é
apontado por Bandura (1994)
Durante o estudo vários dos alunos entrevistados se referiam a violência na
escola como um aspecto desejado e até mesmo estimulado por vários colegas.
Destaca-se a fala de dois alunos, José que foi apontado como vítima pelos colegas
e Amanda que foi apontada como agressora pelos colegas e professores.

José (Vítima): Os outros ficam colocando pilha. Ás vezes, dois alunos estão
quase brigando, aí param. A história terminou. Aí vem um e diz: - “olha, o
fulano disse isso de ti”. E aí já tem alguém falando com outro e inventando
mais alguma coisa. Eles colocam gasolina no fogo, entende?

Amanda (agressora): Falaram que eu tinha chamado uma colega de


vagabunda, daí ela veio me cobrar e eu bati nela, depois, fui espancar o
outro que tinha inventado a fofoca.

Torna-se difícil, na maioria das vezes separar vítimas e autores, uma vez que
existe a implicância de um ciclo. Ainda, ficou evidenciado também, que os
procedimentos disciplinares e os critérios usados pela direção não são percebidos
da mesma forma tanto para os alunos quanto para os professores. Para alguns há
pouco envolvimento da direção, para outros há envolvimento exagerado da mesma.
Ficou evidente a concordância dos alunos quanto aos motivos que levam a violência
e são elas: provocações, implicâncias, fofocas e mentiras. Além disto, ficou claro
que os alunos não toleram a atitude dos colegas que “entregam” outros para a
direção, estes são chamados de “X-9” e, normalmente, irão apanhar como forma de
punição. Todos concordam que as vítimas em grande maioria são alunos mais
retraídos, que não entram no arreganho e são taxados de covardes.

KEHL, (2004) destaca que os adolescentes produzem vínculos horizontais e que


podem ser denominados de tribos, galeras ou gangues. Estes grupos possuem
relações do tipo fraternal que evocam compromissos de fidelidade, esta conduta
revela uma forma de acolhimento importante para os adolescentes, tem a
característica de possuírem as próprias regras, afirmando assim, a autonomia pela
qual anseiam. Ao analisar o caso como um todo, nota-se a falta de um espaço
público onde as crianças e adolescentes possam ser vistos e ouvidos, um lugar
onde todos possam se reunir de forma ordinária e corriqueira para expor os
problemas de relacionamento, reportar conflitos em andamento ou até sugerir
normas instituintes. As crianças e adolescentes tem a tendência a se fragmentar em
torno de seus problemas pessoais e a buscar soluções para o que já não é um tema
“do mundo”, mas tão-somente do seu mundo. Sem a notoriedade necessária, é
nesta ausência que a escola condena os mais frágeis e pavimenta o caminho para a
violência verbal e física.

3.0 INFLUÊNCIA E PARTICIPAÇÃO DOS PAIS

As relações familiares podem influenciar diretamente no envolvimento com a


prática do bullying feita pelos adolescentes. Tanto os agressores quanto as que
sofrem possuem histórico de más relações familiares. Tais relações são
caracterizadas pela falta de diálogo saudável além do envolvimento emocional dos
pais, ademais também está presente nestas famílias a má relação conjugal entre os
responsáveis bem como a punição física exercida por eles.

A escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP realizou uma


pesquisa nas escolas públicas de Uberaba, Minas Gerais. A pesquisa foi feita com
2.354 estudantes com idade entre 10 e 19 anos, foi-se aplicado um questionário com
o intuito de identificar a qualidade da interação familiar simultaneamente com
situações de bullying. O levantamento aponta que os estudantes sem envolvimento
com o bullying tem melhor interação com seus familiares, familiares que
demonstram afeto e boa comunicação além de boa relação conjugal. Ademais, os
pais desses estudantes não só estabelecem regras dentro de casa, mas também
supervisionam seus filhos tanto no mundo externo quanto no virtual. Em
contrapartida, as famílias dos estudantes envolvidos com bullying ou cyberbullying
são consideradas menos funcionais, ou seja, elas não colaboram com o crescimento
dos sentimentos positivos, não apresentam boa comunicação entre os filhos além de
não auxiliar nas tomadas de decisões de forma saudável. No caso das vítimas,
essas crianças ou adolescentes não pedem ajuda ou suporte para seus pais, desta
forma contribuem ainda mais para o ciclo do abuso.
A opinião e posição dos pais acerca do bullying está relacionada a diferentes
características, como sexo e idade dos filhos, qualidade dos pais em relação a
escola, forma de manifestação do bullying entre outras. Relacionado ao sexo dos
filhos, os pais tendem a subestimar a vitimização dos garotos quando comparados a
garotas, tendem a raciocinar que a vitimização não é tão prejudicial para seus filhos
quanto é para suas filhas ou ainda, podem acreditar que os meninos são mais
legitimados a agredir. Já com relação a idade, os pais tendem a acreditar que as
crianças mais velhas possuem a capacidade de se defender e de enfrentar seus
problemas sozinhas, por conta disso, muitas vezes deixam não assumem a
responsabilidade de intervir diante de situações de bullying em que seus filhos
estejam possivelmente envolvidos (Waasdorp, Bradshow, & cols, 2011).

Pode-se destacar a importância da Estratégia Saúde da Família (ESF). Trata-se


de um programa governamental que se fundamenta no trabalho em equipe de
multiprofissionais que aplicam o modelo assistencial de Atenção Básica, realizam
atividades junto ás famílias e as crianças nas casas ou escola. No ambiente familiar
o intuito é estimular laços familiares e a imposição de regras, já no ambiente escolar
as equipes conversam com os estudantes a fim de identificar os relatos de má
relação familiar. Além disto, os agentes do ESF podem orientar os pais sobre como
identificar comportamentos ligados ao bullying, tanto para a criança agressora
quanto para a vítima. A atenção dos pais ao comportamento dos filhos pode servir
como auxílio e prevenção no que se diz respeito ao bullying, os pais devem apoiar o
filho e abrir espaço para que ele fale sobre o sofrimento de estar sendo rejeitado
pelos colegas. Além disto, os pais devem conversar com a direção da escola uma
vez que é dever da instituição ensinar os conhecimentos e promover inclusão social
e psicológica. As escolas devem principalmente, deve ter uma atitude preventiva
contra o bullying a partir da conscientização e preparação de professores,
funcionários, pais e alunos.

4.0 CONSEQUÊNCIAS

Foi-se realizado uma pesquisa nos EUA acerca da vitimização a fim de provar
que esta experiência traumática está estreitamente vinculada a possibilidade de
vitimização mais amplas por práticas definidas como criminosas. Os resultados
demonstram que os adolescentes que haviam relatado terem sido vítimas de
bullying apareciam pelo menos duas vezes mais entre as vítimas de grandes atos de
violência como estupro, agressão sexual e roubo, quando comparados a outros
jovens que não haviam sido vítimas de bullying (DEVOE, J. F. e KAFFENBERGER,
S., 2005). Além disto, relata-se que no período adulto os jovens que sofreram
bullying na adolescência relatam episódios recentes de vitimização no ambiente de
trabalho.

Com efeito, as práticas de bullying ou cyberbubllying não podem ser


enquadradas como um aspecto comum do desenvolvimento dos jovens, mas sim
como um aviso para outros tipos de comportamentos violentos mais graves incluindo
porte de armas de fogo, envolvimento com brigas, e futuramente, violência
doméstica contra as mulheres, abuso sexual e maus tratos a idosos. As vítimas e
autores de bullying apresentam uma forte prevalência em casos de depressão e
ideação suicida

Segundo pesquisas, existe uma relação de continuidade entre a criança cuja


estrutura psíquica é perversa, que cometia atitudes antissociais, e o adulto que
comete atos delinquentes ou criminosos, lembra Lopes Neto. A estrutura psíquica é
a mesma. São casos em que a educação falha, embora o sujeito possa obter algum
sucesso na sua vida escolar e profissional. Adquirir conhecimento ou um título de
doutor nada tem a ver com adquirir sabedoria. Por vezes, encontramos pessoas cujo
conhecimento fez aumentar sua arrogância e insensibilidade em relação ao próximo.

Deve-se enfatizar que o ambiente escolar continua sendo um local de


propagação de violência, e que muitas vezes é causado pelo bullying. Porém os
fatores determinantes para tais atos estão muito além da vida escolar, pois fora dela
os adolescentes possuem uma vida pessoal muitas vezes conturbada. As
consequências do bullying entre adolescentes apresenta relevâncias negativas a
curto e a longo prazo, interferem no processo de aprendizagem, na saúde e na
qualidade de vida das vítimas, agressores e testemunhas. Os danos a longo prazo,
são mais propensos a sofrer bloqueios psicológicos e de perturbações mentais
durante a vida adulta, possuem maior dificuldade em se relacionar com outros além
da baixa autoestima. De longe a maior preocupação torna-se o suicídio. As
consequências sociais podem demorar a se manifestar, como solidão, exclusão
social, baixo desempenho escolar, falta as aulas e evasão, ou ocorrer de imediato a
fim de impactar negativamente a vida dos estudantes.

Acredita-se que atualmente grande parte do sistema educacional está


despreparado para tais eventos, os professores que além de ministrar aulas,
também precisam lidar com incidentes de agressividade em sala de aula além de
atingir as expectativas dos pais e da comunidade, nota-se a falta de capacitação dos
profissionais acerca de assuntos específicos.

5.0 POLÍTICAS PÚBLICAS E PREVENÇÃO

Conforme surge o aumento da prevalência de adolescentes vítimas de bullying


no âmbito escolar nota-se a vulnerabilidade desse grupo que por sua vez depende
de cuidados constantes e de políticas públicas para seu desenvolvimento saudável.
O monitoramento da saúde mental do adolescente se torna uma importante
estratégia no campo da saúde pública. Foi lançada em 2009 a Pesquisa Nacional de
Saúde Escolar a qual possui como objetivo compor as vigilâncias dos fatores de
risco e proteção nas escolas brasileiras, além de identificar questões prioritárias para
o desenvolvimento de políticas públicas voltadas a saúde mental em adolescentes.

No âmbito jurídico, todas as formas de praticar o bullying, seja verbal, físico, ou


material, psicológico, moral sexual e cyberbullying, podem caracterizar tipos penais
(quando cometido por adulto). Se o ato for cometido por um menor de idade se
enquadra em ato infracional. Programas e ações devem considerar a saúde dos
jovens brasileiros como prioridade nas políticas públicas. É necessária a criação de
novas políticas públicas mais efetivas e garantir que a saúde dos adolescentes entre
de fato na agenda do SUS.

O programa de prevenção ao bullying mais citado nas literaturas especializadas a


prevenção da violência nas escolas é conhecido como “A Experiência de Prevenção
de Montreal”. O programa foi estruturado em duas intervenções. A primeira com
base em questionários direcionados aos professores onde foi possível identificar os
alunos mais agressivos e hiperativos de cada turma. Após isso, durante 2 dois anos,
estes alunos fizeram parte de sessões que possuíam o intuito de desenvolver as
capacidades básicas necessárias ao convívio social saudável. No primeiro ano o
programa trabalhou em 9 sessões acerca da capacidade individual de fazer seus
interesses de maneira não agressiva, os temas abordados foram: aproximar-se dos
outros; falar amavelmente; contato visual amigável; ajudar; incluir; colaborar; como
dizer não; perguntar pelas razões diante das solicitações e pedir a outros que
alterem um mau comportamento.

Já no segundo ano, foram realizadas 10 sessões, desta vez centralizadas no


desenvolvimento das habilidades de autocontrole, nesta etapa os temas específicos
foram: escutar; informar-se antes de agir; regras e normas; autocontrole; lidar com a
raiva; como responder a exclusão; como responder ao logro; lidar com a intenção de
agredir; pedir desculpas e demonstrar apreço.

As sessões duraram em torno de 45 minutos e possuíam um adulto como


moderador. Em cada grupo, apenas um dos adolescentes era tido como agressivo
ou hiperativo, os demais eram colegas que foram indicados para o programa
exclusivamente por demonstrarem fortes habilidades pró-sociais. O psicólogo
iniciava as sessões explicando a temática do dia e com a ajuda de alguns alunos do
grupo, criava-se então uma situação hipotética aonde a temática seria muito
importante e cada aluno assumia um papel nessa encenação. Após isso, cada um
dos participantes apresentava uma situação real em suas vidas onde poderiam fazer
uso do aprendizado, esta definição se transforma em tarefa para a próxima semana.

A outra intervenção desenvolvida pelo programa foi a visitação as famílias dos


alunos que compunham o grupo identificado como agressivo. Ao longo do processo
os pais receberam profissionais treinados na utilização de ferramentas práticas para
a educação de seus filhos. Desta maneira, as famílias foram nutridas com maneiras
efetivas e progressivas de responder aos problemas relacionados a violência de
seus filhos, além disso aprenderam técnicas de resolução de conflitos no meio
familiar.

Os resultados obtidos foram muito significativos, e ainda mais importantes se


considerar o tempo curto das intervenções, uma vez que não se tratou de um
programa intensivo. Os alunos que haviam participado do programa recebendo as
intervenções tiveram índices muito menores de agressividade ou delinquência
durante e após as intervenções. Além de reduzir os níveis de agressividade dos
adolescentes o programa trouxe benefícios adicionais, como: menor taxa de
participação em gangues, menor número de detenções, menos consumo de álcool e
drogas e menor incidência de atividade sexual precoce. O programa, assim, reduziu
os comportamentos de risco além das vertentes da violência. Um fator a ser
destacado nos resultados positivos é que os alunos tidos como agressivos
interagiram com colegas com fortes habilidades sociais. Este contexto promoveu aos
alunos agressivos um outro padrão de conduta como modelo e possivelmente um
tipo de pressão benigna, já que os alunos tidos como problemáticos sempre
terminam convivendo com outros a sua similaridade pelo fato de serem mais aceitos
entre si.

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