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Violência na Escola: O bullying e a prática educativa

Research · November 2015


DOI: 10.13140/RG.2.1.3434.1840

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Decio Escobar Oliveira Ladislau

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Violência na Escola:
O bullying e a prática educativa

Décio Escobar de Oliveira Ladislau*

RESUMO

Buscou-se, no presente trabalho, apresentar uma revisão bibliográfica sobre a


ocorrência do fenômeno bullying no âmbito escolar, verificando os efeitos que ele
pode causar na vida do indivíduo, bem como no seu rendimento escolar. A
metodologia usada foi à coleta de dados em livros, artigos e dados digitais para
assim, definir o termo, relacionar os tipos, apresentar os protagonistas, identificar os
envolvidos, identificar as características, as causas, às consequências e culminar
com algumas sugestões para se evitar a sua ocorrência.

Palavras-chave: Bullying; Violência; Educação.

1- INTRODUÇÃO

O bullying corresponde a um comportamento indesejado, agressivo entre


crianças em idade escolar que envolve um desequilíbrio de poder real ou percebido.
O comportamento é repetido, ou tem o potencial de ser repetido, ao longo do tempo.
Ambas as crianças, tanto a que é maltratada quanto a que intimida as outras podem
ter problemas sérios e duradouros.

*Professor, Economista, Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior, Mestre em Ciências


Ambientais, Bioeconomista
Para Fante (2005 p. 28 e 29)

O bullying é uma forma de violência que ocorre na relação entre pares,


sendo sua incidência maior entre os estudantes, no espaço escolar. É
caracterizado pela intencionalidade e continuidade das ações agressivas
contra a mesma vítima, sem motivos evidentes, resultando danos e
sofrimentos e dentro de uma relação desigual de poder, o que possibilita a
vitimação. É uma forma de violência gratuita em que a vítima é exposta
repetidamente a uma série de abusos, por meio de constrangimento,
ameaça, intimidação, ridicularização, calúnia, difamação, discriminação,
exclusão, dentre outras formas, com o intuito de humilhar, menosprezar,
inferiorizar, dominar.

Segundo Smith (2002, p. 187), “o bullying é um subconjunto de


comportamentos agressivos caracterizados por natureza repetitiva e pelo
desequilíbrio de poder”. Pode até ser classificado como uma adaptação à barbárie
cotidiana, só agora sendo considerada febre mundial, podendo ser dividido em
físicos, verbais, exclusões sociais e indiretos (SMITH, 2002).

A fim de ser considerada intimidação, o comportamento tende a ser


agressivo e segundo Smith (2002) incluem:

Um desequilíbrio de poder: Crianças que usam seu poder de intimidação, como a


força física, o acesso a informações embaraçosas, ou popularidade, para controlar
ou prejudicar os outros. O desequilíbrio de poder pode mudar ao longo do tempo e
em diferentes situações, mesmo que impliquem as mesmas pessoas.

E um de repetição: comportamentos de bullying acontecem mais de uma vez ou têm


o potencial de acontecer mais de uma vez. Além disso, o Bullying inclui ações como
fazer ameaças, espalhar boatos, atacar alguém física ou verbalmente, e excluir
alguém de um grupo de propósito.

No entanto para Fante (2005, p.28 e 29)

Apesar da clareza da definição do termo bullying, ainda há divergências em


sua aplicabilidade, talvez, em decorrência dos estudos serem recentes, na
maioria dos países, e da carência de estudos mais aprofundados que
avaliem seus impactos ao longo do tempo. Tais divergências são percebidas
nas declarações entre os especialistas no tema, profissionais da
comunicação social, da educação, da saúde, do direito e até mesmo em
legislações em vigor em diversos países.

No ambiente escolar há muitos papéis que as crianças podem desempenhar


ao brincar. Elas podem intimidar os outros, podem ser intimidadas ou podem
testemunhar o bullying. Quando as crianças estão envolvidas em bullying, muitas
vezes desempenham mais de uma função. Às vezes as crianças podem tanto ser
intimidadas e intimidar os outros ou podem testemunhar outras crianças sendo
intimidadas. É importante entender os múltiplos papéis das crianças ao brincarem, a
fim de prevenir e responder ao bullying de forma eficaz. (FANTE 2005)

2 TIPOS DE BULLYING

De acordo com Fante e Pedra (2008, p. 63) Existem os seguintes tipos de


bullying no ambiente escolar:

Agressão verbal: quando se diz ou escreve coisas ruins sobre os estudantes. A


agressão verbal inclui:

- Xingamentos;

- Comentários sexuais impróprias;

- insultos;

- Fazer gozações;

- Colocar apelidos pejorativos;

- Fazer piadas ofensivas.

Assédio moral social: por vezes referido como o bullying relacional, envolve ferir a
reputação ou os relacionamentos de alguém. Ele inclui:

-Deixar alguém fora do grupo de propósito;

-Dizer para outras crianças para não ser amigo de alguém;

-Espalhar rumores sobre alguém;

-Embaraçar alguém em público;

Intimidação física: envolve ferir o corpo ou bens de uma pessoa. Ela inclui:

- Bater;
- Chutar; beliscar;

- Cuspir e empurrar;

-Tomar ou quebrar as coisas de alguém fazendo gestos grosseiros com a mão.

3 PROTAGONISTAS DO BULLYING

Para Fante (2005) os protagonistas envolvidos na prática do bullying podem


ser divididos da seguinte maneira: Agressor, Vítima e Espectador.

Agressores ou Bullies: são os ditos populares; vitimizam os mais fracos,


conseguindo, muitas vezes, o auxílio dos demais alunos para se auto afirmarem.
Vale dizer que tais alunos que contribuem juntamente com o agressor para a prática
de violência, também são considerados bullies. Para manter a sua popularidade
acabam humilhando, ridicularizando e hostilizando a vítima sem motivos evidentes,
sendo considerados por tais comportamentos como valentões. (FANTE 2005)

A conduta do agressor, normalmente, caracteriza-se pela dominação e


imposição mediante o poder e a ameaça para conseguir aquilo que almeja. Pertence
a famílias, por vezes, em que há ausência de carinho, diálogo, presença dos pais e
de limites. (FANTE 2005)

Em relação à Vítima, Silva (2006 b) descreve 3 (três) tipos, que são:

Vítima Típica: É pouco sociável, sofre repetidamente as consequências dos


comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil,
coordenação motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade,
submissão, insegurança, baixa autoestima, alguma dificuldade de
aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. Sente dificuldade de
impor-se ao grupo, tanto física quanto verbalmente.

Vítima Provocadora: Refere-se àquela que atrai e provoca reações


agressivas contra as quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder
quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados. Pode ser
hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral, tola, imatura,
de costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no
ambiente em que se encontra.

Vítima Agressora: Reproduz os maus-tratos sofridos. Como forma de


compensação procura outra vítima mais frágil e comete contra esta todas as
agressões sofridas na escola, ou em casa, transformando o bullying em um
ciclo vicioso.
Espectadores ou Testemunhas: também figuram como personagens de tal
fenômeno, entretanto, são assim chamados por apenas assistirem à prática da
violência e não se manifestarem quer seja, para interferir na defesa da vítima ou
para denunciar o feito. Simplesmente se mantêm inertes. Esse posicionamento,
normalmente, é adotado por medo de serem a próxima vítima.

4 IMPACTO DO BULLYING SOBRE O AMBIENTE ESCOLAR

O Bullying não envolve apenas aqueles que fazem o assédio moral e


aqueles que estão sendo intimidados. Ele envolve e afeta toda a comunidade
escolar. De acordo com o Department of Health & Human Services dos Estados
Unidos da América, os três principais grupos que são afetados pelo bullying são os
estudantes que são maltratados, os alunos que intimidam e as testemunhas ou
transeuntes que veem isto acontecer.

O impacto sobre os alunos vítimas de bullying

Os alunos que são vítimas de bullying podem desenvolver sintomas físicos,


como dores de cabeça, dores de estômago ou problemas de sono. Eles podem ter
medo de ir à escola, ir ao banheiro ou pegar o ônibus escolar. Eles podem perder o
interesse na escola, ter dificuldade de concentração, ou ter problemas de
rendimento escolar. Geralmente perdem a confiança em si mesmo. Podem sofrer de
depressão, baixa autoestima, e pensamentos suicidas ou podem atacar de forma
violenta mais grave, como o caso de ataques com armas na escola. (HHS – USA)

O impacto sobre estudantes que praticam o bullying

Os alunos que praticam o bulliying não se saem muito melhor. As pesquisas


realizadas pelo governo norte americano através do Department of Health & Human
Services mostram que esses alunos são mais propensos a entrar em brigas
frequentes, roubam e vandalizam propriedades, bebem álcool e fumam, criam um
clima negativo na escola, e às vezes portam armas. A longo prazo estas mesmas
pesquisas mostram que esses alunos correm maior risco de cometer crimes mais
tarde na vida. É importante notar, entretanto, que nem todos os alunos que
intimidam os outros têm problemas de comportamento óbvios ou estão envolvidos
em atividades de quebra de regras. Alguns deles são altamente qualificados
socialmente e mantem um bom relacionamento com seus professores e outros
adultos. Por esta razão, muitas vezes é difícil para os adultos descobrir, ou mesmo
imaginar que esses alunos se envolvem em atos de bullying. (HHS – USA)

O Impacto do Bullying nas testemunhas

Os alunos que testemunham o bullying também podem ser afetados. Eles


podem sentir-se culpados por não ajudar, ou terem medo de ser o próximo alvo. Ou
eles podem atrair para si o bullying e se sentir mal sobre isso depois. Tudo isso pode
alterar gradualmente o comportamento do grupo ou em sala de aula com atitudes
mais duras e menos empatia. (HHS – USA)

O impacto na Escola

Quando o bullying persiste e uma escola não age, todo o ambiente escolar
pode ser afetado. O ambiente pode se tornar um lugar de medo e desrespeito,
prejudicando a habilidade dos alunos para aprender. Os alunos podem se sentir
inseguros e tendem a não gostar da escola. Quando os alunos não vêem os adultos
na escola agindo para prevenir ou intervir em situações de bullying, eles podem
sentir que os professores e outros funcionários da escola têm pouco controle sobre
seus membros e não se importam com o que acontece com eles. (HHS – USA)

4 O BULLYING E O RENDIMENTO ESCOLAR

As consequências provocadas pelo bullying geram, por vezes, danos e


traumas irreparáveis na vida da criança, podendo refletir desde logo, como por
exemplo, baixa auto-estima, estresse, depressão e queda no rendimento escolar.

O rendimento escolar dos indivíduos que são vítimas do bullying pode ficar
comprometido, visto que, para esses alunos o ambiente escolar já não é mais um
local de estudo e sim de medo e sofrimento. Alguns indicadores podem sinalizar o
desinteresse do aluno em ir à escola, bem como, sentir-se mal perto da hora de sair
de casa, pedir para trocar de colégio, revelar medo de ir ou voltar da escola, pedir
sempre para ser levado à escola, mudar frequentemente o trajeto entre a casa e a
escola são também muito comuns e isso afetada diretamente o rendimento escolar
desses alunos.

O Bullying é um problema sério que terá impacto sobre a experiência


escolar de todas as crianças envolvidas. É por isso que deve ser levado a sério e
medidas eficazes para evitá-lo devem ser colocadas em prática. Neste contexto,
Fante e Pedra (2008) afirmam que, para que possa acolher o aluno e intervir
adequadamente, é importante o educador ter conhecimento dos limites de sua
função e da de cada profissional da escola, para compreender por que e quando
interferir e, em situações mais extremas, avaliar a possibilidade de encaminhar o
caso a outros profissionais e instituições.

Fante e Pedra (2008, p. 109) exploram o assunto do fracasso escolar


quando dizem que “nossa atenção se volta às vítimas e nossa indignação aos
agressores” e atentam para o fato de que, mais do que culpar ou vitimizar os
envolvidos, é imprescindível que aconteçam ações de conscientização, revisão do
plano pedagógico ou programa de paz nas escolas, envolvendo todos os atores
escolares.

Correia e Campos (2000) tratam dessa perspectiva, que chamam de


individualizante, a qual leva em conta, principalmente, os alunos apontados como
“problemáticos”. Esses alunos – considerados lentos, agressivos ou distraídos –
seriam o impedimento para que os educadores pudessem seguir seu planejamento
escolar e, como tal, deveriam ser tratados individualmente, de acordo com a queixa
do educador. Nessa perspectiva, desconsideram os demais fatores que,
inegavelmente, influenciam as relações estabelecidas no espaço escolar, tais como
a realidade socioeconômica dos envolvidos, a atuação dos educadores, o plano
pedagógico da instituição escolar, a convivência familiar que o jovem tem fora da
escola.
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para começar a virar esse jogo, as escolas precisam, inicialmente,


reconhecer a existência do bullying e tomar consciência dos prejuízos que ele pode
trazer para o desenvolvimento sócio-educacional e para a estruturação da
personalidade de estudantes. Como segundo passo, mas não menos importante, as
escolas necessitam capacitar seus profissionais para a identificação, o diagnóstico,
a intervenção e o encaminhamento adequado de todos os casos ocorridos em suas
dependências. Em terceiro lugar, as instituições de ensino têm o poder de conduzir o
tema a uma discussão ampla, que mobilize toda a sua comunidade, para que
estratégias preventivas e imediatas sejam traçadas e executadas com o claro
propósito de enfrentar a situação. (SILVA, 2010).

Quando não há intervenções efetivas contra o bullying, o ambiente escolar


torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças ou adolescentes, sem exceção,
são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e
medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de bullying, quando percebem
que o comportamento agressivo não traz nenhuma consequência a quem o pratica,
poderão achar por bem adotá-lo. Todos os alunos têm o direito de se sentirem
seguros quando vão para a escola, infelizmente não é o que acontece. Cabe ao
corpo docente como um todo, promover ações que possam assegurar uma melhor
qualidade de vida dentro do ambiente escolar, para que desta forma, exista a
possibilidade de uma formação educacional eficiente e provida de êxitos.
5- REFERÊNCIAS

CORREIA, M.; CAMPOS, H. R. Psicologia escolar: história, tendências e


possibilidades. In: YAMAMOTO, O. H.; C. NETO, A. (Org.). O psicólogo e a escola:
uma introdução ao estudo da psicologia escolar. Natal: EDUFRN, 2000.

Department of Health & Human Services – (HHS USA) < http://www.hhs.gov/>


Acesso em: 22 nov. 2014.

FANTE, Cléo. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e


educar para a paz. (2. ed.). Campinas, SP: Versus, 2005.

FANTE, Cléo; PEDRA, José Augusto. Bullying escolar: perguntas e respostas.


Porto Alegre: Artmed, 2008.

SILVA, A. B. B., Mentes perigosas nas escolas: Bullying. RJ: Objetiva, 2010

SILVA, D. G. da. Violência e estigma: bullying na escola. 2006 a. Dissertação


(Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas) – Unisinos, São Leopoldo, 2006.

SILVA, G. J. “Bullying: quando a escola não é um paraíso”. 2006b. Disponível


em:<http://www.mundojovem.com.br/bullying.php>. Acesso em: 22 nov. 2014.

SMITH, P.K, Intimidação por colegas e maneiras de evitá-la. In: Debarbieux, E.&
Blaya, C. (orgs.), Violência nas escolas e políticas publicas, p. 187-250, Brasília,
UNESCO, 2002

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