Você está na página 1de 10

Bullying

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Cena de bullying escolar registrado no primeiro dia de aula de um aluno no Instituto Regional
Federico Errázuriz, Chile.

Bullying é um termo em inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica,
intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully - «tiranete» ou «valentão») ou grupo de
indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es)
de se defender. Também existem as vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados
momentos cometem agressões, porém também são vítimas de bullying pela turma.

Caracterização do bullying

No uso coloquial "acossamento", ou entre falantes de língua inglesa, bullying é frequentemente


usado para descrever uma forma de assédio interpretado por alguém que está, de alguma forma, em
condições de exercer o seu poder sobre alguém ou sobre um grupo mais fraco. O cientista sueco - que
trabalhou por muito tempo em Bergen (Noruega) - Dan Olweus define bullying em três termos
essenciais:

1.o comportamento é agressivo e negativo;


2.o comportamento é executado repetidamente;
1. o comportamento ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre
as partes envolvidas.

O bullying divide-se em duas categorias:

1. bullying direto;
2. bullying indireto, também conhecido como agressão social

O bullying direto é a forma mais comum entre os agressores (bullies) masculinos. A agressão
social ou bullying indireto é a forma mais comum em bullies do sexo feminino e crianças pequenas, e é
caracterizada por forçar a vítima ao isolamento social. Este isolamento é obtido através de uma vasta
variedade de técnicas, que incluem:
 espalhar comentários;
 recusa em se socializar com a vítima
 intimidar outras pessoas que desejam se socializar com a vítima
 ridicularizar o modo de vestir ou outros aspectos socialmente significativos (incluindo a etnia
da vítima, religião, incapacidades etc).

O bullying pode ocorrer em situações envolvendo a escola ou faculdade/universidade, o local de


trabalho, os vizinhos e até mesmo países. Qualquer que seja a situação, a estrutura de poder é
tipicamente evidente entre o agressor (bully) e a vítima. Para aqueles fora do relacionamento, parece
que o poder do agressor depende somente da percepção da vítima, que parece estar a mais
intimidada para oferecer alguma resistência. Todavia, a vítima geralmente tem motivos para temer o
agressor, devido às ameaças ou concretizações de violência física/sexual, ou perda dos meios de
subsistência.

Características dos bullies

Pesquisas indicam que adolescentes agressores têm personalidades autoritárias, combinadas com
uma forte necessidade de controlar ou dominar. Também tem sido sugerido que uma deficiência em
habilidades sociais e um ponto de vista preconceituoso sobre subordinados podem ser particulares
fatores de risco. Estudos adicionais têm mostrado que enquanto inveja e ressentimento podem ser
motivos para a prática do bullying, ao contrário da crença popular, há pouca evidência que sugira que
os bullies sofram de qualquer déficit de autoestima. Outros pesquisadores também identificaram a
rapidez em se enraivecer e usar a força, em acréscimo a comportamentos agressivos, o ato de encarar as
ações de outros como hostis, a preocupação com a autoimagem e o empenho em ações obsessivas ou
rígidas. É freqüentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância:

"Se o comportamento agressivo não é desafiado na infância, há o risco de que ele se torne
habitual. Realmente, há evidência documental que indica que a prática do bullying durante a infância
põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta."

O bullying não envolve necessariamente criminalidade ou violência. Por exemplo,


o bullying frequentemente funciona através de abuso psicológico ou verbal. Os "bullies" sempre
existiram mas eram (e ainda são) chamados em português de rufias, esfola-caras, brigões, acossadores,
cabriões, valentões e verdugos.

Tipos de bullying

Os bullies usam principalmente uma combinação de intimidação e humilhação para atormentar os


outros. Abaixo, alguns exemplos das técnicas de bullying:

 Insultar a vítima; acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada.


 Ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
 Interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc,
danificando-os.
 Espalhar rumores negativos sobre a vítima.
 Depreciar a vítima sem qualquer motivo.
 Fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando a vítima para seguir as ordens.
 Colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou
conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi
exagerado pelobully.
 Fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o
local de moradia de alguém, aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de
renda,nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado
ciência.
 Isolamento social da vítima.
 Usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbullying (criar páginas falsas sobre a
vítima em sites de relacionamento, de publicação de fotos etc).
 Chantagem.
 Expressões ameaçadoras.
 Grafitagem depreciativa.
 Usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o
controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com frequência logo após o bully avaliar
que a pessoa é uma "vítima perfeita").
 Fazer que a vítima passe vergonha na frente de várias pessoas.

Bullying professor-aluno

O bullying pode ser praticado de um professor para um aluno.

As técnicas mais comuns são:

 Intimidar o aluno em voz alta rebaixando-o perante a classe e ofendendo sua auto-estima. Uma
forma mais cruel e severa é manipular a classe contra um único aluno o expondo a humilhação.
 Assumir um critério mais rigoroso na correção de provas com o aluno e não com os demais.
Alguns professores podem perseguir alunos com notas baixas.
 Ameaçar o aluno de reprovação.
 Negar ao aluno o direito de ir ao banheiro ou beber água, expondo-o a tortura psicológica.
 Difamar o aluno no conselho de professores, aos coordenadores e acusá-lo de atos que não
cometeu.
 Tortura física, mais comum em crianças pequenas. Puxões de orelha, tapas e cascudos.
Tais atos violam o Estatuto da Criança e do Adolescente e podem ser denunciados ao Juizado de
Menores, diretamente a um juíz ou promotor. A revisão de provas pode ser requerida diretamente na
Secretaria de Educação, sendo este um direito ao estudante.

Locais de bullying

O bullying pode acontecer em qualquer contexto no qual seres humanos interajam, tais como
escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho.

Escolas

Alguns meninos flagrados intimidando um colega. Instituto Regional Federico Errázuriz,Santa


Cruz, Chile.

Em escolas, o bullying geralmente ocorre em áreas com supervisão adulta mínima ou inexistente.
Ele pode acontecer em praticamente qualquer parte, dentro ou fora do prédio da escola.

Um caso extremo de bullying no pátio da escola foi o de um aluno do oitavo ano chamado Curtis
Taylor, numa escola secundária em Iowa, Estados Unidos, que foi vítima de bullying contínuo por três
anos, o que incluía alcunhas jocosas, ser espancado num vestiário, ter a camisa suja com leite
achocolatado e os pertences vandalizados. Tudo isso acabou por o levar ao suicídio em 21 de
Março de 1993. Alguns especialistas em "bullies" denominaram essa reação extrema de "bullycídio".
Os que sofrem o bullying acabam desenvolvendo problemas psíquicos muitas vezes irreversíveis, que
podem até levar a atitudes extremas como a que ocorreu comJeremy Wade Delle. Jeremy se matou
em 8 de janeiro de 1991, aos 15 anos de idade, numa escola na cidade de Dallas, Texas, EUA, dentro da
sala de aula e em frente de 30 colegas e da professora de inglês, como forma de protesto pelos atos de
perseguição que sofria constantemente. Esta história inspirou uma música (Jeremy) interpretada
por Eddie Vedder, vocalista da banda estadunidense Pearl Jam.

Na última década de 90, os Estados Unidos viveram uma epidemia de tiroteios em escolas (dos
quais o mais notório foi o massacre de Columbine). Muitas das crianças por trás destes tiroteios
afirmavam serem vítimas de bullies e que somente haviam recorrido à violência depois que a
administração da escola havia falhado repetidamente em intervir. Em muitos destes casos, as vítimas
dos atiradores processaram tanto as famílias dos atiradores quanto as escolas. Como resultado destas
tendências, escolas em muitos países passaram a desencorajar fortemente a prática do bullying, com
programas projetados para promover a cooperação entre os estudantes, bem como o treinamento de
alunos como moderadores para intervir na resolução de disputas, configurando uma forma de suporte
por parte dos pares.

O bullying nas escolas (ou em outras instituições superiores de ensino) pode também assumir, por
exemplo, a forma de avaliações abaixo da média, não retorno das tarefas escolares, segregação de
estudantes competentes por professores incompetentes ou não-atuantes, para proteger a reputação de
uma instituição de ensino. Isto é feito para que seus programas e códigos internos de conduta nunca
sejam questionados, e que os pais (que geralmente pagam as taxas), sejam levados a acreditar que seus
filhos são incapazes de lidar com o curso. Tipicamente, estas atitudes servem para criar a política não-
escrita de "se você é estúpido, não merece ter respostas; se você não é bom, nós não te queremos aqui".
Frequentemente, tais instituições (geralmente em países asiáticos) operam um programa de franquia
com instituições estrangeiras (quase sempre ocidentais), com uma cláusula de que os parceiros
estrangeiros não opinam quanto a avaliação local ou códigos de conduta do pessoal no local contratante.
Isto serve para criar uma classe de tolos educados, pessoas com títulos acadêmicos que não aprenderam
a adaptar-se a situações e a criar soluções fazendo as perguntas certas e resolvendo problemas.

Local de trabalho

O bullying em locais de trabalho (algumas vezes chamado de "Bullying Adulto") é descrito pelo
Congresso Sindical do Reino Unido[17] como:

"Um problema sério que muito frequentemente as pessoas pensam que seja apenas um problema
ocasional entre indivíduos. Mas o bullying é mais do que um ataque ocasional de raiva ou briga. É uma
intimidação regular e persistente que solapa a integridade e confiança da vítima do bully. E é
frequentemente aceita ou mesmo encorajada como parte da cultura da organização".
Vizinhança

Entre vizinhos, o bullying normalmente toma a forma de intimidação por comportamento


inconveniente, tais como barulho excessivo para perturbar o sono e os padrões de vida normais ou fazer
queixa às autoridades (tais como a polícia) por incidentes menores ou forjados. O propósito desta forma
de comportamento é fazer com que a vítima fique tão desconfortável que acabe por se mudar da
propriedade. Nem todo comportamento inconveniente pode ser caracterizado como bullying: a falta de
sensibilidade pode ser uma explicação.

Política

O bullying entre países ocorre quando um país decide impôr sua vontade a outro. Isto é feito
normalmente com o uso de força militar, a ameaça de que ajuda e doações não serão entregues a um
país menor ou não permitir que o país menor se associe a uma organização de comércio.

Militar
Um trote praticado nas Forças Armadas Aéreas da França, em que um cadete é suspenso por um
helicóptero sobre o mar.Compiegne, 1997.

Em 2000 o Ministério da Defesa (MOD) do Reino Unido definiu o bullying como : "…o uso de
força física ou abuso de autoridade para intimidar ou vitimizar outros, ou para infligir castigos
ilícitos". Todavia, é afirmado que o bullying militar ainda está protegido contra investigações abertas. O
caso das Deepcut Barracks, no Reino Unido, é um exemplo do governo se recusar a conduzir um
inquérito público completo quanto a uma possível prática de bullying militar. Alguns argumentam que
tal comportamento deveria ser permitido por causa de um consenso acadêmico generalizado de que os
soldados são diferentes dos outros postos. Dos soldados se espera que estejam preparados para
arriscarem suas vidas, e alguns acreditam que o seu treinamento deveria desenvolver o espirito de corpo
para aceitar isto. Em alguns países, rituais humilhantes entre os recrutas têm sido tolerados e mesmo
exaltados como um "rito de passagem" que constrói o caráter e a resistência; enquanto em outros,
o bullying sistemático dos postos inferiores, jovens ou recrutas mais fracos pode na verdade ser
encorajado pela política militar, seja tacitamente ou abertamente (veja dedovschina). Também, as forças
armadas russas geralmente fazem com que candidatos mais velhos ou mais experientes abusem - com
socos e pontapés - dos soldados mais fracos e menos experientes.

Alcunhas ou apelidos (dar nomes)

Normalmente, uma alcunha (apelido) é dada a alguém por um amigo, devido a uma característica
única dele. Em alguns casos, a concessão é feita por uma característica que a vítima não quer que seja
chamada, tal como uma orelha grande ou forma obscura em alguma parte do corpo. Em casos extremos,
professores podem ajudar a popularizá-la, mas isto é geralmente percebido como inofensivo ou o golpe
é sutil demais para ser reconhecido. Há uma discussão sobre se é pior que a vítima conheça ou não o
nome pelo qual é chamada. Todavia, uma alcunha pode por vezes tornar-se tão embaraçosa que a vítima
terá de se mudar (de escola, de residência ou de ambos).

Legislação

A legislação jurídica do estado brasileiro de São Paulo define bullying como atitudes de violência
física ou psicológica, que ocorrem sem motivação evidente praticadas contra pessoas com o objetivo de
intimidá-las ou agredi-las, causando dor e angústia.
Os atos de bullying configuram atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo nosso
ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem princípios constitucionais (ex: dignidade da pessoa
humana) e o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de
indenizar. A responsabilidade pela prática de atos de bullying pode se enquadrar também no Código de
Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são
responsáveis por atos de bullying que ocorram nesse contexto.

No estado brasileiro do Rio de Janeiro, uma lei estadual sancionada em 23 de


setembro de 2010 institui a obrigatoriedade de escolas públicas e particulares notificarem casos de
bullying à polícia. Em caso de descumprimento, a multa pode ser de três a 20 salários mínimos (até R$
10.200) para as instituições de ensino.

Condenações legais

Dado que a cobertura da mídia tem exposto o quão disseminada é a prática do bullying, os júris
estão agora mais inclinados do que nunca a se simpatizarem com as vítimas. Em anos recentes, muitas
vítimas têm movido ações judiciais diretamente contra os agressores por "imposição intencional de
sofrimento emocional", e incluindo suas escolas como acusadas, sob o princípio da responsabilidade
conjunta. Vítimas norte-americanas e suas famílias têm outros recursos legais, tais como processar uma
escola ou professor por falta de supervisão adequada, violação dos direitos civis, discriminação racial
ou de gênero ou assédio moral.

No Brasil

Uma pesquisa do IBGE realizada em 2009 revelou que quase um terço (30,8%) dos estudantes
brasileiros informou já ter sofrido bullying, sendo maioria das vítimas do sexo masculino. A maior
proporção de ocorrências foi registrada em escolas privadas (35,9%), ao passo que nas públicas os
casos atingiram 29,5% dos estudantes.

No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com 5.168 alunos de 25 escolas públicas e
particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries.
Entre todos os entrevistados, pelo menos 17% estão envolvidos com o problema - seja intimidando
alguém, sendo intimidados ou os dois. A forma mais comum é a cibernética, a partir do envio de e-
mails ofensivos e difamação em sites de relacionamento como o Orkut.

Em 2009, uma pesquisa do IBGE apontou as cidades de Brasília e Belo Horizonte como as
capitais brasileiras com maiores índices de bullying, com 35,6% e 35,3%, respectivamente, de alunos
que declararam esse tipo de violência nos últimos 30 dias.

Casos célebres

Na Grande São Paulo, uma menina apanhou até desmaiar por colegas que a perseguiam e
em Porto Alegre um jovem foi morto com arma de fogo durante um longo processo de bullying.
Em maio de 2010, a Justiça obrigou os pais de um aluno do Colégio Santa Dorotéia, no
bairro Sion de Belo Horizonte a pagar uma indenização de R$ 8 mil a uma garota de 15 anos por conta
de bullying. A estudante foi classificada como G.E. (sigla para integrantes de grupo de excluídos) por
ser supostamente feia e as insinuações se tornaram freqüentes com o passar do tempo, e entre elas,
ficaram as alcunhas de tábua, prostituta, sem peito e sem bunda. Os pais da menina alegaram que
procuraram a escola, mas não conseguiram resolver a questão. O juiz relatou que as atitudes do
adolescente acusado pareciam não ter "limite" e que ele "prosseguiu em suas atitudes inconvenientes de
'intimidar'", o que deixou a vítima, segundo a psicóloga que depôs no caso, "triste, estressada e
emocionalmente debilitada". O colégio de classe média alta não foi responsabilizado.[34]

Na USP, o jornal estudantil O Parasita ofereceu um convite a uma "festa brega" aos estudantes
do curso que, em troca, jogarem fezes em um gay. Um dos alunos a quem o jornal faz referência chegou
a divulgar, em outra ocasião, estudantes da Farmácia chegaram a atirar uma lata de cerveja cheia em um
casal de homossexuais, que também era do curso, durante o tradicional happy hour de quinta-feira na
Escola de Comunicações e Artes da USP. Ele disse que não pretende tomar nenhuma providência
judicial contra os colegas, embora tenha ficado revoltado com a publicação da cartilha.

Também em junho de 2010, um aluno de nona série do Colégio Neusa Rocha, no Bairro São
Luiz, na região da Pampulha de Belo Horizonte foi espancado na saída de seu colégio, com a ajuda de
mais seis estudantes armados com soco inglês. A vítima ficou sabendo que o grupo iria atacar outro
colega por ele ser "folgado e atrevido", sendo inclusive convidada a participar da agressão.

Em entrevista ao Estado de Minas, disse: Eles me chamaram para brigar com o menino. Não
aceitei e fui a contar a ele o que os outros estavam querendo fazer, como forma de alertá-lo. Quando a
dupla soube que contei, um deles colocou o dedo na minha cara e me ameaçou dentro de sala, durante
aula de ciências. Ele ainda ligou escondido, pelo celular, para outro colega, que estuda pela manhã, e
o chamou para ir à tarde à escola.

Durante 2010, Bárbara Evans, filha de Monique Evans e estudante da Universidade Anhembi
Morumbi (onde cursa o primeiro ano de Nutrição), em São Paulo, entrou na Justiça com um processo
de bullying realizado por seus colegas. No dia 12/06/2010, um sábado à noite, o muro externo
do estacionamento do campus Centro da referida Universidade foi pichado com ofensas a ela e a sua
mãe.

Em recente caso julgado no Rio Grande do Sul (Proc. nº 70031750094 da 6ª Câmara Cível do
TJRS), a mãe do bullie foi condenada civilmente a pagar indenização no valor de R$ 5 mil (cinco mil
reais) à vítima. Foi um legítimo caso de “Cyberbullying”, já que o dano foi causado através da Internet,
em fotolog (flog) hospedado pelo Portal Terra. No caso, o Portal não foi responsabilizado, pois retirou
as informações do ar em uma semana. Não ficou claro, entretanto, se foi uma semana após ser avisado
informalmente ou após ser judicialmente notificado.

Alguns casos de bullying entre crianças têm anuência dos próprios pais, como um envolvendo um
garoto de 9 anos de Petrópolis. A mãe resolveu tirar satisfação com a criança que constantemente
agredia seu filho na escola e na rua, mas o pai do outro garoto, em resposta, procurou a mãe do outro
garoto chamado de "boiola" e "magrelo". Ela foi empurrada em uma galeria, atingida no rosto, jogada
no chão e ainda teve uma costela fraturada. O caso registrado em um vídeo foi veiculado na internet e
ganhou os principais jornais e telejornais brasileiros.

BULLYING, O TERROR SILENCIOSO


(matéria publicada na Folha Espírita em junho de 2005)

Uma abordagem sobre o fenômeno

O termo bullying surgiu na Noruega, na década de 80, e é originário da palavra inglesa bully, que
quer dizer ameaçar, intimidar, amedrontar, tiranizar, oprimir, maltratar. O primeiro a relacionar a
palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as
tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido
algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater.

Embora a denominação seja recente, o fenômeno é mais antigo que a própria escola e se repete
continuamente em todo o mundo. Não é restrito a uma instituição específica. Pode ocorrer em escolas
de todo o tipo: primárias, secundárias, rurais, públicas ou privadas. Onde há uma criança ou um jovem
sofrendo qualquer tipo de pressão psicológica, atitude agressiva intencional e repetida, sem motivação
evidente, o fenômeno está presente e precisa ser tratado com a seriedade que merece.

O bullying pode parecer uma brincadeira de amigos pela sutileza com que é conduzido pelos
agressores. O que o distingue das brincadeiras próprias do desenvolvimento infanto-juvenil e regras de
boa convivência é a crueldade com que é exercido. As vítimas, em geral, são crianças e jovens que
apresentam algumas diferenças em relação ao grupo ao qual estão inseridas. Por sua vulnerabilidade,
passividade, falta de recursos ou habilidade para reagir, são os alvos mais visados pelos agressores. Os
resultados do desequilíbrio emocional que passam a viver os tornam inseguros com relação à auto-
estima. Impedidos de pedir qualquer tipo de ajuda, chegam a interiorizar os “castigos” que lhes são
impostos, julgando-se merecedores deles. Simulam doenças, que acabam tornando-se verdadeiras,
entram em estados depressivos deploráveis e perdem o prazer de viver. O problema, em grande parte
dos casos, arrasta-se pelo resto da vida, tornando-os adultos com sérios problemas no trabalho, vida
afetiva e social.

Com o avanço tecnológico, outra forma de bullying cresce vertiginosamente. É o “bullying


digital”. O agressor ultrapassa os muros da escola e invade a casa do agredido através da internet.
Ferramentas como blogs, flogs, chats e e-mails tornam esse tipo de intimidação mais humilhante
publicamente. Amplia o universo de gozações e fotos constrangedoras, que passam a circular em um
público muito maior. Esse público, por sua vez, testemunha silenciosamente, pois mesmo afetado por
esse clima de tensão, torna-se inseguro e amedrontado com o fato de poder se tornar a próxima vítima.

Estatísticas
Estudos recentes mostram que 7% a 35% das crianças em idade escolar, em todo o mundo, sofrem com
o problema e passam a fazer parte das estatísticas de violência. Em matéria publicada no jornal
espanhol El Pais, em 1977, na Grã-Bretanha, o bullying foi o responsável pelo suicídio de 766 menores.
Nos Estados Unidos, o fenômeno chegou a ser apontado como a causa principal da morte de 13 alunos
da escola Columbine, na cidade de Littleton, em 1999. Na Inglaterra, no começo do ano passado, o
suicídio de Jevan Richardson, de 10 anos, foi atribuído ao bullying. O Brasil não fica fora dessas
estatísticas. Em janeiro de 2003, o adolescente Edimar de Freitas, de 18 anos, após ferir seis colegas,
um zelador e a vice-diretora, suicidou-se, na pacata cidade de Taiuva, interior paulista, após 11 anos de
humilhações e sofrimentos na escola. Em fevereiro de 2004, na cidade de Remanso, interior baiano, um
adolescente de 17 anos, vítima das mesmas humilhações, matou seu principal agressor (um garoto de 13
anos), a secretária do curso de informática, feriu três pessoas e só não conseguiu suicidar-se, como
havia planejado, por ter sido dominado por um colega.

Porém, não são somente os agredidos que merecem cuidados especiais. Os agressores, na sua
grande maioria, não cometem os delitos por pura maldade. Precisam ser identificados e tratados. São
indivíduos que apresentam problemas psicológicos e sociais, decorrentes de traumas e experiências
negativas durante a infância ou juventude. Em geral, sentem dificuldade de relacionamento com outras
crianças, gostam de experimentar continuamente a sensação de poder, sofrem ou sofreram humilhações
e abusos de toda ordem por parte dos pais ou outros adultos encarregados de sua educação ou cuidados,
ou vivem sob constante e intensa pressão para que tenham sucesso em suas atividades. Sem cuidados
especiais, podem desenvolver características que os levem à delinqüência e à criminalidade.

Inúmeros programas estão sendo desenvolvidos, por educadores, psicólogos, psicopedagogos e


médicos, para a redução do problema, porém há uma unanimidade entre todos: só com união e
interatividade família–escola o mal pode acabar. No que diz respeito à escola, professores e
orientadores educacionais devem incentivar e promover discussões sobre o assunto e dar oportunidade
para os alunos expressarem seus sentimentos. Profissionais de educação devem ser treinados para que
tenham consciência da gravidade do problema, pois, não muito raramente, acabam se envolvendo e,
sem perceber, chegam até a reforçar e legitimar a violência, usando apelidos e rindo junto com as
brincadeiras alheias.

No caso da família, o apoio deve ser irrestrito, pois é no seio familiar que se inicia o processo
educacional. Lembrando a orientação dos espíritos superiores em O Livro dos Espíritos: “A infância é
um período de repouso do espírito”. “Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o espírito, durante
esse período (infantil), é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o
adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo”. Emmanuel, no livro O
Consolador, orienta que até os 7 anos de idade o espírito ainda se encontra em fase de adaptação para a
nova existência e recorda mais vivamente o mundo que deixou para trás, tornando-se, desse modo, mais
suscetível de renovar o caráter e moldar novos caminhos.

Segundo a educadora e pesquisadora Tânia Zagury, “a família deve apoiar a escola e trabalhar a
questão dos limites com segurança, afirmação ética dos filhos, a não-aceitação firme ao desrespeito aos
mais velhos e mais fracos. Deve reassumir o quanto antes o seu papel de formadora de cidadãos,
abandonando a postura superprotetora cega e a crença de que amar é aceitar toda e qualquer atitude dos
filhos, satisfazer todos os seus desejos, não criticar o que deva ser criticado e nunca responsabilizá-los
por atitudes anti-sociais. Enquanto é tempo...”

Você também pode gostar