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Resumo
Introdução
Atualmente, várias são as indagações que surgem quando se ouve falar do fenômeno
bullying na escola, muitas vezes identificado pelos profissionais da educação como algo que
faz parte do momento da criança como meras brincadeiras infantis, outras vezes o termo nem
é identificado entre a comunidade escolar. A partir dos autores pesquisados, dentre eles
FANTE (2005), PINHEIRO (2006), LOPES (2005), é possível compreender melhor esta
problemática que prejudica o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo dos alunos que
vivenciam o bullying no ambiente escolar. O bullying é uma realidade bem presente no
cotidiano escolar, muitas vezes de forma mascarada entre os comportamentos das crianças
(FANTE, 2005, p. 29).
Segundo Fante (2005, p. 29) o bullying pode ser responsável por vários resultados
negativos no processo de aprendizagem e no relacionamento interpessoal entre alunos e no
próprio desenvolvimento psíquico, devido as suas características, dentre elas: maltratar,
causar sofrimento, desestruturar o emocional e acabar com a motivação da criança em relação
à vida escolar. Diante de tais questões, esse estudo tem como objetivo discutir as
manifestações do fenômeno Bulliyng no cotidiano escolar.
Conceituando o Bullying
Neste item apresentamos algumas conceituações do fenômeno bullying para evitar a
construção de conceitos errôneos que acabam banalizando a sua manifestação como meras
brincadeiras infantis. Fante (2005, p. 14) apresenta, em uma tradução literal de bully, como
valentão, tirano, brutalizador ou amedrontador.
De acordo com Fante (2005, p. 28) o bullying é um subconjunto de comportamentos
agressivos que envolvem intimidações, insultos, assédios, exclusões e discriminações de todo
gênero. Para a autora, são atitudes caracterizadas pela repetição e, pelo desequilíbrio de poder
e pela violência que geralmente acontece sem motivo aparente, cuja finalidade é de maltratar,
intimidar, provocar dor, angústia e sofrimento.
Pesquisas recentes registradas por Pinheiro (2006, p. 121) revelam que muitas crianças
estão sofrendo o bullying, por meio de ataques ao seu gênero sexual, com brincadeiras
maliciosas que as rotulam com características masculinas ou afeminadas. Tais como: “gay”,
“lésbica”, “sapatão” e “frutinha”, apelidos que têm a finalidade de agredir e destruir a moral
do aluno frente ao grupo escolar.
É interessante analisar como esse fenômeno age sobre os alunos, a ponto de levá-los a
manifestar o desejo de desistir da escola, devido ao sofrimento que a criança transporta ano
após ano de sua vida escolar, pois a discriminação a acompanha ao longo dos anos. Podemos
verificar que a manifestação do bullying está presente no cotidiano escolar em atitudes
corriqueiras entre os alunos, que se referem às atitudes de “xingamento”, “gozação”,
“humilhação”, “zombaria”, “isolamento”, situações que acompanham a criança por um grande
período de tempo e que, muitas vezes, não são capazes de resolver tal situação sozinha.
Lopes (2005, p. 166) classifica o fenômeno bullying em três estilos: o bullying direto,
que engloba a imposição de apelidos, assédios, agressões físicas, ameaças, roubos e ofensas
verbais; bullying indireto, o qual envolve atitudes de indiferença, isolamento e difamação e o
cyberbullying, que ocorre através da intimidação eletrônica por celulares ou internet, em que
os alunos utilizam de mensagens e e-mails difamatórios, ameaçadores, assediadores e
discriminatórios que provocam agressões entre os mesmos. Convém ressaltar que os
envolvidos com o bullying estão propensos a diversas implicações que interferem de forma
negativa nas atividades sociais, por serem submetidos a tais formas de violência.
Diante da apresentação de algumas características de agressão que envolve o
fenômeno, faz-se necessário analisar que o bullying não é uma mera violência, já que a
agressividade ocorrida em suas manifestações não se limita simplesmente a um fato isolado.
Pelo contrário, é uma agressão contínua que torna o aluno prisioneiro do agressor, o que pode
resultar no afastamento do aluno do ambiente escolar.
1
Segundo Fante (2005) - Doenças psicossomáticas são distúrbios emocionais que desempenham um papel
importante, precipitando início, recorrência ou agravamento de sintomas, distinguindo das doenças puramente
orgânicas.
estimula a criança a utilizar-se da violência para impor seu poder a fim de conseguir o que
deseja. Compreendemos que, na maioria das vezes, o agressor promove a violência
acreditando que está agindo de forma correta, devido à concepção de valores que possui em
sua vida, frente ao mundo que o cerca.
Existem diversos fatores que influenciam a criança a tornar-se o agressor das
manifestações do bullying, como afirma Lopes (2005, p. 167). A autora menciona que os
fatores podem ser de origem familiar, como desestruturação familiar, falta de relacionamento
afetivo, maus tratos físicos e excesso de tolerância ou através de características próprias do
indivíduo, como impulsividade, dificuldades de atenção e hiperatividade. Para a autora, o
agressor é normalmente popular entre os alunos, com comportamentos anti-sociais, agressivo,
impulsivo, que tem prazer em dominar e causar danos sobre os outros alunos.
No mesmo sentido, Fante (2005, p. 169) contribui com Lopes (2005) ao apresentar
outros fatores que também podem influenciar o comportamento agressivo da criança, seja
pelo contexto social em que a criança está inserida, como desigualdades sociais, pobreza e
violência. Ou ainda, os meios de comunicação que banalizam a violência e podem ser
responsáveis pela formação de comportamentos agressivos e torna-se grande influência na
formação da identidade da criança.
Entre tantas influências negativas que cercam a criança em seu cotidiano, entendemos
que, ao chegar à escola, ela traz consigo idéias, pensamentos e ações próprias da cultura que a
envolve. Com relação a este problema, analisamos a importância da escola desenvolver uma
formação de valores coletivos, atitudes que permitirão a convivência do aluno com o grupo
escolar.
3 “Pedala Robinho”: refere-se a um tapa na nuca; “hoje não”: conforme acordo prévio as pessoas envolvidas se
agridem se não falar antes a frase “hoje não” ao ver o possível agressor; “chá de cueca”: puxar a cueca por trás
e segura-la puxando-a para cima com violência”. Tais características são referidas nos comentários retirados da
pesquisa de campo.
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Informação retirada dos questionários da atual pesquisa de campo.
manifestação do bullying. Quanto à escola C, a mesma apresentou a idéia de proteger a
vítima, intervir ou encaminhar à equipe pedagógica caso percebesse o fenômeno. Outras
professoras afirmaram que “depende da proximidade com os envolvidos”.
Diante das situações apresentadas, Fante (2005, p. 29) afirma que o bullying acontece
de forma oculta e sutil que passa despercebido ao professor, pois a maioria das agressões
acontece longe dos adultos, tornando-se desconhecido aos olhos dos profissionais da escola.
Vale ressaltar que as três escolas apresentaram dificuldades para lidar com as manifestações,
apresentando uma postura de despreparo para atender tais situações que envolvem o bullying,
seja por falta de compreensão para identificar as características do fenômeno sobre o
comportamento das crianças, seja por desconsiderar a importância do caso.
Considerações Finais
A seguir apresentamos algumas considerações construídas, no decorrer do trabalho,
sobre o fenômeno bullying. Ao longo desse estudo, entendemos que as escolas identificam
apenas algumas possíveis características do fenômeno e apresentam dificuldade na
compreensão das diversas situações que envolvem o bullying. Talvez tal situação ocorra por
que o bullying é muito mais complexo do que se pode imaginar, pois engloba características
diversas e trata-se de uma violência contínua e sufocante que compromete o desenvolvimento
da criança, impulsionando-a a desenvolver diversos traumas e bloqueios que repercutem sobre
toda a sua vida.
A dificuldade em reconhecer o bullying pode ocorrer, também, segundo Fante (2005,
p. 16), porque as vítimas normalmente sofrem caladas, com medo de expor a situação de
repressão e acabam ficando presas a tal violência, acarretando diversas implicações no seu
próprio desenvolvimento. Nesse caso, constatamos a ausência da percepção sobre o
sofrimento da criança, o que pode reforçar a fragmentação do entendimento do fenômeno que
os professores demonstram ao tentar lidar, sem sucesso, com tal situação.
Assim, muitos professores não conseguem identificar a manifestação do bullying, pois
normalmente as crianças evitam expor o problema aos profissionais que atuam naquele
contexto, por entenderem que nada podem fazer para ajudá-las. O ambiente escolar é
apresentado por Fante (2005, p. 209) como um possível veículo redutor do fenômeno
bullying, pois pode ensinar os alunos a trabalhar com a situação, despertando o equilíbrio e a
superação de lidar com suas emoções, seja em estado de repressão ou agressividade,
valorizando a tolerância e a solidariedade entre os alunos.
Consideramos que a escola pode ser o caminho para influenciar na mudança de
idéias, comportamentos e valores, tanto para os profissionais atuantes da escola que precisam
estar preparados para enfrentar o bullying, quanto para os alunos que serão capazes de agir de
forma responsável, consciente e autônoma, frente às diversas situações cotidianas.
Rodrigues (2003, p. 83) afirma que há uma necessidade de que os educadores
identifiquem as experiências de vida dos alunos, em busca de promover a compreensão da
realidade cultural e da participação ativa da sociedade. O autor, ainda destaca a importância
de auxiliar o educando a facilitar o desenvolvimento da autonomia, permitindo a sua
socialização com uma auto defesa contra possíveis agressões e a criticidade sobre os fatos que
o envolvem, formação essa, capaz de assegurar a adaptação do aluno no ambiente social.
Compreendemos que a escola precisa ser um local seguro, tranqüilo e agradável que
permitirá à criança aprender a socializar-se, desenvolver responsabilidades, defender idéias e,
acima de tudo, assumir uma autonomia própria. Porém, para a escola atingir tal objetivo, é
necessário a recuperação deste ambiente permitindo o desenvolvimento eficaz do processo de
ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a
paz. São Paulo: Verus, 2005.
OLWEUS, Dan. Aggression in the schools: bullies and whipping boys. Washington,
Hemisphere, 1978.
PEREIRA, Beatriz Oliveira, Para uma escola sem violência – estudo e prevenção das
práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Dinalivro. 2002.
PINHEIRO, Paul. World report on violence against children. New York- United Nations.
2006.