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Perrenoud, Philippe. Pedagogia Diferenciada: Das Intenções à Ação.

Porto
Alegre (Brasil), Artmed Editora, 1997.

As pedagogias diferenciadas surgem como uma revolta contra as


desigualdades e o fracasso escolar, cujo responsável é a própria forma como o
trabalho pedagógico é organizado; e apesar de não serem propostas novas, ganham
maior visibilidade na década de 70.
O fracasso, muitas vezes é visto apenas como uma conseqüência da
dificuldade de aprendizagem ou ainda como falta de conhecimento e competências.
Atualmente enxergamos a desigualdade como causadora do fracasso, porém nem
todas as pessoas enfrentam determinadas situações com a mesma capacidade ou
meio intelectual ou cultural. Essa desigualdade apresenta-se como uma capacidade
diferente de ação e compreensão de cada indivíduo, sendo responsável pela
diferenciação entre eles. Essas distinções resultam em classificações que
sociólogos chamam de “hierarquia de excelência”, que classifica os indivíduos
conforme o domínio que possuem a respeito de uma prática. A escola não possui
todas as hierarquias de excelência. Desta forma, algumas hierarquias de excelência
coincidem com o conteúdo escolar e outras não, porém, as mais formais decidem a
carreira escolar, a aprovação ou reprovação do aluno.
Essas hierarquias são delimitadas por diretrizes que especificam o conteúdo e
a forma com que ele será manejado. Contudo, apesar de possuir conteúdos pré-
estabelecidos, a escola e os professores ainda possuem certa liberdade nas formas
de avaliação que muitas vezes pode ser injusta ou corrupta; ou ainda nem sempre o
conteúdo pré-determinado é apresentado em sala de aula. Mesmo se todo o
conteúdo for apresentado, e a avaliação não seja injusta, o professor avalia os
alunos baseado nos alunos que possui, na expectativa dos pais e da direção e por
isso a avaliação é relativa e pode não dar um resultado real visto que nem todas as
hierarquias de excelência são abordadas.
Dessa forma, a escola avalia os alunos de forma unilateral e conclui que
alguns deles fracassam. Porém, como a escola não avalia de forma classificatória,
ela não pode concluir que alunos que não foram bem em determinadas matérias
sejam alunos fracassados em outras áreas do conhecimento prático ou teórico não
aplicados na escola. Portanto, considera-se esse fracasso, um fracasso relativo.
Inicialmente considerava-se o fracasso escolar como resultado genético, mas
posteriormente passou-se a considerar o estudo das aptidões. Não se pode afirmar
que a dificuldade do aprendizado é culpa do meio, da família ou do aluno, mas sabe-
se que falta algo para que ele chegue à compreensão do conhecimento curricular da
escola, por isso atribui esse sucesso ou fracasso às aptidões do aluno, ou seja,
“cada um tem êxito conforme suas aptidões” (p.24).
Sabemos que as diferenças e desigualdades não se dão por fatores
econômicos, biológicos, sociais ou culturais, porém a escola trata essa diferença
com indiferença, ou seja, ela trata as crianças que são todas diferentes como se
fossem iguais por medo de admitir que são diferentes. Cada aluno tem um tempo de
desenvolvimento, cada aluno possui dificuldades diferentes e a escola os trata como
se todos fossem capazes de se desenvolver a mesma coisa no mesmo espaço de
tempo. Sabe-se que isso é falso mas quando a dificuldade é realmente confirmada,
a escola toma determinadas atitudes como reprovação, apoio pedagógico, apoio
psicológico e psiquiátrico.
Os alunos que possuem dificuldades podem muitas vezes ser desfavorecidos,
não só pelo conteúdo a ser lecionado, mas também pelo professor que muitas vezes
acaba trabalhando apenas com aqueles que são mais fáceis de trabalhar ou que são
mais curiosos e o ajudam durante a aula, já que é difícil trabalhar com alunos que
não estão interessados; o que por sua vez, contribui para o aumento das
desigualdades.
A fim de que se diminuam as desigualdades na escola, a pedagogia
diferenciada deve ser racional e baseada na diferenciação dos indivíduos. Mas isso
leva muito tempo para ser implantado e exige uma mudança no modo de pensar da
população.
A desigualdade vem diminuindo com o decorrer do tempo ao passo que cada
vez mais crianças estão estudando. Porém, a desigualdade dentro da escola ainda
existe, mas ela só se torna um problema social quando forem apresentados dados
estatísticos e que uma grande parcela de pais professores e educadores tomarem
consciência desse tipo de desigualdade; quando essas pessoas tomarem
consciência de que a desigualdade e o fracasso não são desigualdades; e quando
as desigualdades sejam julgadas inaceitáveis. Essas constituem as três condições
para que isso se torne um problema social.
A preocupação anteriormente para que se tentasse diminuir a desigualdade
era de que mais crianças freqüentassem a escola. Com o passar dos anos algumas
modificações nessa configuração ocorreram. Com as crianças freqüentando a
escola, a preocupação não seria apenas de ler, escrever e contar, mas começou a ir
além. O conhecimento passou a ser necessário e consequentemente houve uma
desvalorização do diploma. Com isso a desigualdade continuou existindo, inclusive a
desigualdade entre classes sociais que é carregada de prés-conceitos e
discriminações.
Contudo, nota-se que as dificuldades encontradas em sala de aula muitas
vezes são vistas como fracasso e até então não existia uma pedagogia ou um
processo de formação que suprissem as necessidades de todos os alunos visto que
cada um tem a sua particularidade. Dessa forma uma das soluções para o fracasso
escolar era a reprovação, o que por sua vez não garantiria que a dificuldade do
aluno fosse sanada. Foi apenas a partir da década de 70 que pedagogias
compensatórias ou pedagogias diferenciadas começaram a ganhar destaque na
educação visto que elas eram voltadas a romper com a indiferença às diferenças, ou
seja, eram voltadas para a diferença entre os indivíduos. Desta forma trabalhavam
com criticas à educação compensatória e ao apoio pedagógico.
Vimos que essa caminhada foi longa e foram encontradas diversas
dificuldades para que se pudesse chegar a este ponto, porém foi uma caminhada
importante para ao menos tentar diminuir as desigualdades dentro da sala de aula e
o mais importante: saber que cada aluno possui um tipo de habilidade e capacidade
diferente para poder construir uma pedagogia das diferenças individuais.

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