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CASO CLÍNICO
Uma mãe telefona e conta sobre a preocupação com alguns comportamentos do filho de 5 anos
de idade. Dentre esses, ele manifesta masturbação, busca incessante sobre as diferenças anatômicas
entre as pessoas do sexo feminino e as do sexo masculino, medo e ciúme exacerbado da mãe. A partir
do relato, responda:
1) Indique e explique quais os próximos passos do profissional após o telefonema. Quais características
e dados a serem registrados na entrevista inicial com os pais.
Primeiramente, deve-se agendar uma sessão inicial com os pais para realizar uma anamnese,
sem a participação do filho, porém ele deve ser informado da consulta. A participação do pai, da mãe,
de ambos ou de outra pessoa demonstra o funcionamento do grupo familiar e de sua relação com o
filho. Esta entrevista, no entanto, não deve ser um interrogatório como em um julgamento, mas o de um
terapeuta interessado nos sintomas da criança, no sentido de amenizar o sofrimento, o conflito e as
dúvidas dos pais em relação aos sintomas do filho.
A entrevista tem como objetivo compreender o motivo da consulta, a história da criança, como
decorre um dia de sua vida atualmente, um domingo ou feriado e o dia do aniversário, como é a relação
entre os pais, com o(s) filho(s) e com o grupo familiar imediato. Assim, a entrevista deve ser dirigida e
limitada de acordo com o plano previamente estabelecido para que não se perca o foco na obtenção dos
dados de maior interesse em relação à criança e de seus vínculos com o meio familiar, em um tempo
delimitado que pode variar de uma a três horas.
Entretanto, para os pais é um pouco difícil estabelecer, em tempo limitado, uma relação com
uma pessoa até aquele momento desconhecida - o terapeuta – de forma a aprofundar-se em seus
problemas, além da própria dificuldade em falar a respeito de seu filho. Para favorecer tal relação, o
terapeuta pode buscar aliviar-lhes a angústia ao nos encarregarmos do conflito e nos posicionando
como analistas do filho.
No primeiro momento, então, o terapeuta deve procurar informações sobre o motivo da
consulta. Os dados iniciais, de certa forma, devem ser registrado minuciosamente, tais como o
desenvolvimento, agravamento ou melhora dos sintomas. Todavia, o terapeuta tem que tem consciência
de esquecimentos totais ou parciais de fatos importantes podem ocorrer – por exemplo, circunstâncias
desencadeadoras, reprimidas na entrevista inicial -, podendo estes dados serem obtidos a medida que
angústia do pais diminuam durante o tratamento do filho. Também é importante a comparação dos
elementos obtidos na entrevista inicial dos pais com as informações conseguidas durante a análise da
criança para avaliar em profundidade as relações entre eles.
No que se refere a história da criança, investiga-se a parte emocional, principalmente da mãe, ao
saber da gravidez; se foi desejada e aceita com alegria ou se foi acidental; se houve repulsão, desejos de
abortar e como foi a evolução desses sentimentos, pois o repúdio emocional da mãe pode deixar marcas
profundas no psiquismo da criança. Tudo o que acontece desde a concepção é importante para a
evolução posterior. De modo geral, na primeira entrevista os pais relatam que o filho fora desejado e a
gravidez e o parto ocorreram normalmente, no entanto, dificilmente estes dados se mantêm durante a
narrativa da história.
Muitas vezes, os pais não recordam e avaliam conscientemente os fatos relacionados à gravidez
e ao parto, mas em seu inconsciente tudo está gravado. Convém perguntar se foi a termo, induzido,
com anestesia, a relação com o médico, se estava acordada ou não, acompanhada ou sozinha. Este tipo
de pergunta pode, às vezes, abrir caminhos à memória. Quando o terapeuta tiver conhecimento
suficiente sobre o parto, deve-se verificar se a lactância foi materna para saber se o bebê tinha reflexo
de sucção, quantas horas depois do nascimento e as condições do mamilo; o ritmo de alimentação, a
frequência entre as mamadas, o tempo que succionava em cada seio. Frequentemente, a mãe não limita
o tempo de sucção, nem o intervalo entre as mamadas e os horários fixos para iniciar a alimentação. É
essencial para o posterior desenvolvimento da criança a forma como a primeira relação pós-natal se
estabelece.
A demora excessiva no início da lactação pode ocasionar aumento da frustração e da sensação
de desamparo, aumenta as tendências destrutivas, dificultando sua relação com a mãe. A lactação a
ritmo regular pode proporcionar ao bebê a possibilidade de dominar sua ansiedade, uma das mais
difíceis tarefas do ego depois do nascimento; alimentação em horário fixos oferece estabilidade, pelo
fato do objeto sempre ser o mesmo, as condições semelhantes, isto é, no mesmo quarto, na mesma
cadeira e postura, em intervalos regulares.
Posteriormente, pergunta-se como o bebê aceitou a mudança do peito à mamadeira, do leite a
outros alimentos, de líquidos a sólidos, como papinhas e carne. Assim, o terapeuta pode saber muito
sobre a criança, sobre a mãe e sobre possibilidade de ambos desprenderem-se de velhos objetos. A
passagem do peito a outras fontes de gratificação oral exige um trabalho de elaboração psicológica e a
forma como a criança aceita esta perda nos mostrará como, em sua vida futura, enfrentará as perdas
sucessivas que lhe exigirá a adaptação à realidade. E importante, também, investigar a data do
desmame e as condições em que ocorreu.
As relações de dependência e independência entre mãe e filho refletem nas atitudes e expressões
dos dois quando o bebê sente a necessidade de se movimentar por conta própria. Neste momento, a
mãe pode perceber ou não esta esta necessidade, frustrá-la ou satisfazê-la. Para a criança, dentre muitos
outros, o caminhar tem o significado da separação da mãe, iniciada no nascimento. Assim, a mãe,
quando compreensiva, deixa seu filho caminhar sem apurá-lo e nem travá-lo, de modo que o
desprendimento seja agradável e alegre, oferecendo-lhe assim condições conduta que guiará seus
passos pelo mundo.
Outro fator a ser pesquisado, é o surgimento da linguagem, pois o atraso e a inibição no seu
desenvolvimento podem indicar uma séria dificuldade de adaptação ao mundo. O período de dentição
também merece especial atenção para verificar se o surgimento dos dentes foram acompanhados de
transtornos ou se ocorreu normalmente e no momento adequado. Neste momento, interrogamos sobre o
dormir e suas características porque estão muito relacionadas. Caso haja transtornos do sono, indaga-se
sobre a conduta dos pais para com a criança e que sentimentos despertam nos pais. É igualmente
importante saber a descrição do quarto, onde dorme o bebê, se fica só ou se precisa da presença de
alguém ou alguma outra condição especial para conciliar o sono.
O terapeuta também deve questionar sobre a idade e de forma a criança realizou o controle de
seu esfíncter. A aprendizagem precoce e muito severa do controle do esfíncter é vivida, pelo bebê,
como um ataque da mãe ao seu interior, como retaliação às suas fantasias, que estão, neste período,
centradas no casal parental em coito, trazendo como consequência a inibição de suas fantasias e com
transtornos no desenvolvimento das funções do ego. Pode estar relacionada em casos de enurese da
criança. Também, se deve perguntar como foi a atitude da mãe frente a sujeira e à limpeza, ampliando
um pouco mais nosso conhecimento sobre a mãe.
Em relação ao decorrer de um dia de vida da criança, o terapeuta deve realizar perguntas
concretas sobre experiências básicas de dependência e independência, liberdade ou coação externas,
instabilidade ou estabilidade das normas educativas, do dar e do receber. Assim, o profissional
consegue ter dados para entender se as exigências são adequadas ou não a sua idade, se há precocidade
ou atraso no desenvolvimento, as formas de castigos e prêmios, suas capacidades e fontes de prazer e
suas reações frente às proibições.
Ao interrogar sobre o dia de vida, deve-se questionar quem o desperta e a que horas, quem o
veste e por quê. Essas informações enriquecem os dados sobre a dependência ou independência de
acordo com a idade cronológica da criança, e a atitude dos pais diante da precocidade ou do atraso em
sua aprendizagem. Isto possibilita ter uma visão mais correta da vida da criança. A descrição dos
domingos, dias de festa e aniversários ilustra o tipo e o grau da neurose familiar, o que permite estimar
melhor a vida da criança e orientar o profissional quanto ao diagnóstico e ao prognóstico do caso.
Ao final da entrevista, os pais costumam já se sentirem mais dispostos a fazer confidências
sobre si mesmos e, assim, dando ao terapeuta uma noção maior da relação afetiva que têm com a
criança e o que ela significa para eles. Entretanto, o profissional tem que ter em mente que muito saberá
sobre a verdadeira relação entre eles e, por isso, deve-se limitar a consignar a idade, a localização da
criança dentro da constelação familiar, profissão ou trabalho que realizam, quantas horas ficam fora de
casa, condições gerais de vida, sociabilidade deles e de seus filhos. O fundamental é que o terapeuta
tenha consignado todos os dados obtidos dos pais antes de iniciar seu trabalho com a criança, seja ele
de diagnóstico ou de tratamento.
3) O que podemos pensar sobre a queixa materna e o desenvolvimento infantil para a criança em
questão?
Freud descreveu as fases psicossexuais pelas quais o indivíduo passa ao longo do seu
desenvolvimento físico e mental: fase oral, anal, fálica, latência e genital. Ele afirmava que as crianças
tem sexualidade, ou seja, na medida em que a criança amadurece vai desejando coisas diferentes e
também vai encontrando formas diferentes de gratificação dos desejos, havendo um misto de atividades
fisiológicas, descobertas e fantasias na psique infantil.
Na fase oral, a zona erógena do bebê é a boca, isto é, a área na qual se concentra as
necessidades do bebê e suas gratificações. As necessidades básicas do bebê são a sede e a fome, então,
ao receber alimento estas tensões são aliviadas. Adicionalmente, ao receber o alimento, o bebê também
será confortado, aninhado e acalentado pelo adulto que o alimenta. Logo o bebê associa o ato de
alimentação à redução da tensão alimentar e a sensação de prazer gerada pelo contato afetuoso do
adulto. A boca será a primeira parte do corpo que o bebê aprenderá a controlar e que ele dirigirá toda
sua libido.
A libido é a energia que alimenta a pulsão de vida. Nesta fase, quase toda essa energia libidinal
é direcionada para a boca, então, tudo que o bebê faz com a boca - comer, morder, beber, sugar - gera
prazer e satisfação. Por isso, ainda que o bebê esteja bem alimentado, ele desejará sugar objetos por
causa da pulsão. Mesmo a fome - necessidade orgânica - tendo sido satisfeita, a pulsão nunca é saciada,
pois, é uma necessidade orgânica e psíquica. Nessa fase da vida, portanto, as pulsões se manifestam nas
atividades que geram gratificação oral.
Na fase anal, a criança aprende a controlar os esfíncteres e a bexiga. A expulsão das fezes pelo
ânus gera prazer, mas a criança também pode sentir prazer em reter as fezes, o que cria uma espécie de
conflito. Por um lado, eliminar as fezes é prazeroso, por outro lado existe a necessidade social de
controlar essa eliminação até chegar ao local adequado. Esse é um dos primeiros conflitos entre o
indivíduo e as exigências da vida social que a criança experimenta. Ela quer sentir o prazer da
evacuação, mas ela não pode fazer isso a qualquer hora e nem em qualquer lugar. Ao mesmo tempo, a
criança percebe que quanto mais controle fisiológico ela adquire mais ela é elogiada pelos adultos.
Assim, se por um lado é prazeroso evacuar, por outro, também é prazeroso reter.
Nessa fase a criança pode controlar a evacuação como forma de obter elogios, mas também
pode não controlar propositalmente e evacuar onde não deve, como forma de chamar a atenção.
Também pode ser confuso para a criança perceber que os adultos a elogiam por controlar a evacuação,
mas ao mesmo tempo consideram que ir ao banheiro é algo sujo, o que deve ser feito de forma discreta.
Então, a criança se pergunta como ela pode ser elogiada por eliminar as fezes na hora e local certo e, ao
mesmo tempo, ver que suas fezes são indesejadas.
Por volta dos 4 anos tem início a fase fálica e, nesta fase, a criança se dá conta de que tem um
pênis ou que lhe falta um. Os genitais passam a concentrar todas as tensões e atenções da criança.
Os meninos começam a ter ereções e isto leva a um maior interesse pela região genital. Ao
perceberem que as meninas não tem pênis, os meninos experimentam a chamada ansiedade de
castração, que é o medo de perder o pênis. Nesta fase, as crianças começam a sentir ciúmes da atenção
que seus seus pais dão um ao outro em vez de dar a eles. O menino começa a enxergar o pai como um
rival pelo afeto da mãe, o que leva ao chamado complexo de Édipo.
Para Freud, no complexo de Édipo o menino fantasia matar o pai e casar-se com a mãe e, ao
mesmo tempo, ele acredita que seu pai também o vê como rival e que por isso ele poderá ser castrado
pelo pai. Freud chamou esse sentimento de ansiedade de castração. Para tornar tudo mais complicado, o
menino ainda quer a atenção e o amor do pai, então enxerga a mãe como uma rival.
Para Freud, o amor e o temor por ambos os pais, a ansiedade de castração e o desejo pela mãe,
são conflitos que nunca poderão ser resolvidos por completo, então, são recalcadas, ou seja, ainda na
infância todo esse complexo é descartado para o inconsciente evitando que ele apareça e que a criança
pense ou reflita a respeito dele. O complexo de Édipo é uma das primeiras tarefas do superego.
A menina passa por um conflito semelhante. Ela ama e deseja a mãe, mas como ela acredita que
perdeu o pênis por culpa da mãe desenvolve-se a inveja do pênis e seu objeto de desejo e amor passa a
ser o pai. Ela fantasia que se tiver um filho com o próprio pai, isso, de certa forma, compensará o seu
órgão castrado. Como a menina acredita que já foi castrada, então, não tem mais nada a perder, logo
não tem a ansiedade de castração que o menino tem e que o ajuda a inibir o complexo de Édipo. Por
não ter a ansiedade de castração, a repressão dos seus sentimentos pelo pai é menos total nas meninas,
ou que faz com que elas passem mais tempo na situação edipiana.
Como o paciente se encontra na fase fálica (5 anos), e pelo fato dos pais não terem
conhecimento das fases psicossexuais, eles se espantam ao se defrontarem com seus filhos a
masturbarem-se. Os pais ou pessoas que trabalham com crianças devem ter em mente que a
masturbação é normal e faz parte do processo de conhecimento de seu corpo. Entretanto, para os pais
da criança, a masturbação infantil traz um certo desconforto, pois é muito provável que seus pais
tenham lhes dito que isto era feio e para não fazer isto novamente. É difícil para os pais lidarem com
essas situações, mas é necessário aprenderem para não serem severos. Os pais precisam olhar os atos
infantis e não compará-los ao dos adultos.
A criança não faz nenhuma relação com o sexo em si, ela apenas sente prazer. Mais tarde,
porém, poderá se sentir culpada pela desaprovação dos pais ou pessoas que trabalham com elas, e esta
culpa poderá ser levada para sua própria experiência sexual porque houve recalcamento.
4) Foi principalmente através das obras de Hannah Freud e Melanie Klein que a técnica para o
tratamento de crianças foi estabelecida. as duas correntes em psicanálise de crianças têm diferenças e
características fundamentais. Comente.
As divisões no campo da psicanálise infantil podem ser atribuídas a uma disputa entre os
teóricos Melanie Klein e Anna Freud a partir de 1927. Um exame da linguagem, reivindicações e
epistemologia das publicações de Klein e Freud em 1927, que marcou o início público do conflito,
revela um discurso personalizado derivado da experiência e posição analítica pessoal dos competidores,
a partir de uma visão teórica.
Para Anna Freud:
I - a capacidade de transferência não é espontânea na criança, por isso, ela propõe uma período de
preparação e de entrevistas preliminares, para produzir uma demanda de analise, ou seja, conscientizar
a criança de seu sofrimento e da necessidade de ser ajudado a se livrar de seu sintoma. Ela associava
medidas pedagógicas aos meios analíticos, buscando conquistar a confiança da criança e, desta forma,
facilitar seu engajamento no processo psicanalítico, ou seja, trabalhar sempre em transferência positiva;
2 - o tratamento analítico atuaria pela substituição da neurose do paciente por uma neurose de
transferência, havendo deslocamento de sintomas e repetição dos conflitos infantis, resultando no
surgimento de uma neurose artificial. Embora a criança em análise se vinculasse intensamente ao
analista, dirigindo-lhe impulsos amorosos ou hostis, não seria possível chamar isso de transferência.
Para ela, a criança não substituiria seu sintoma pela neurose de transferência, pois continuaria a
externar seus conflitos preferencialmente com a família;
3 - a criança não pode fazer uma segunda edição antes de esgotar a primeira e o analista deve ser
educador, porque o superego do paciente ainda depende dos objetos exteriores que o originaram e não
está maduro. Para Anna Freud, “o pequeno paciente não está disposto, como o adulto, a reeditar seus
vínculos amorosos, porque, por assim dizer, ainda não esgotou a velha edição. A criança ainda não está
pronta para reeditar suas relações amorosas, pois os objetos originais (pais), ainda estão presentes como
objetos na realidade. O analista é um novo personagem nesta situação e, com toda probabilidade,
compartirá com os pais o amor e o ódio da criança. Mas, para a criança, o terapeuta não lhe oferece
todas as vantagens que encontra no objeto original;
4 - a transferência negativa não deve ser interpretada, mas dissolvida por meios não analíticos,
forçando-a a viver um idílio transferencial. Para ela (Freud), quando a criança em análise tem ações
destrutivas no ambiente externo, considera que falhou, pois não estabeleceu medidas educativas
suficientes para manter o controle sobre a libido liberada na análise. Portanto, a transferência negativa,
quando aparece, embora seja útil para conhecer os conflitos da criança, deve ser dissolvida
imediatamente;
5 – somente com transferência positiva pode ser realizado um trabalho útil com a criança, pois além da
finalidade analítica, existe a finalidade pedagógica, e em educação o êxito sempre dependerá do
vínculo afetivo com o educador.
6. Para ela, o jogo infantil não é equivalente às associações livres do adulto, porque certamente fará
parte do universo normal da criança, mas a associação livre é, ao contrário, uma criação artificial do
processo psicanalítico. Não usa brinquedos por julgá-los superficiais, preferindo desenhos e
associações sobre os sonhos da criança.
Para Melanie Klein e sua escola:
1 - A mesma ansiedade que leva à divisão de imagens, boa e má, no início da vida, revive-se na análise;
as ansiedades depressivas e paranoides são experimentadas na análise, expressas no jogo e reduzidas
pela interpretação. Uma das principais contribuições da teorização kleiniana são os conceitos de
posição esquizoparanóide e posição depressiva. Estes são períodos normais do desenvolvimento que
perpassam a vida de todas as crianças, tais como as fases do desenvolvimento psicossexual de Freud.
Contudo, são mais maleáveis do que estas fases, devido ao fato de instalarem-se por necessidade, e não
por maturação biológica (embora a autora não deixe de considerar as fases da teoria freudiana a
respeito do desenvolvimento infanto–juvenil).
2 - Quando o desenvolvimento normal diminui a divisão entre objetos perseguidores e idealizados e o
ódio é mitigado pelo amor, podem estabelecer-se objetos bons no mundo interno, melhorando as
relações com o mundo exterior. Durante o tratamento, o terapeuta aparece como uma figura idealizada,
mas esta idealização é usada como defesa contra as ansiedades persecutórias e suas consequências. O
analista deve tratar de eliminar esta excessiva idealização e, mediante a análise da transferência
positiva e negativa, reduzir a ansiedade persecutória, diminuindo assim a idealização.
3 – A criança não faz livre associação como o adulto, não por não saber falar ou porque não é capaz de
traduzir seus pensamentos em palavras, mas porque sua angústia promove resistência às associações
verbais.
4 - A atuação das imagens com características fantasticamente boas ou más, que predominam na vida
mental, é um mecanismo geral em crianças e adultos. Suas variações são somente de grau, frequência e
intensidade. A relação terapêutica assume em larga medida o caráter de uma relação de apoio, com a
diferença de que pode funcionar com uma menor dissociação entre objetos bons e perseguidores ao
introduzir, por exemplo, como parte dos comportamentos a esclarecer, a consideração de aspectos
idealizados e hostis da transferência.
6 – No tratamento analítico, Klein introduziu o brincar, pois, segundo ela, pelas brincadeiras a criança
traduz de modo simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas.
7 - A capacidade de transferência é espontânea na criança e deve ser interpretada, tanto a positiva como
a negativa, desde o primeiro momento, não devendo o terapeuta tomar o papel de educador.
8 - A transferência é o instrumento principal para conhecer o que acontece na mente da criança e
também para descobrir e reconstruir sua história inicial. A transferência é o resultado da externalização
de relações objetais internas em relação à pressão exercida pela ansiedade, cujas origens remontam aos
mesmos processos que, no passado, promoveram as primeiras relações objetais, ou seja, introjeção e
projeção, cisão, identificação projetiva, idealização, etc. O essencial na transferência não está na
relação entre passado e presente, mas sim na relação entre mundo interno e mundo externo.
9 - O descobrimento da fantasia transferencial e o estabelecimento da relação entre as suas primeiras
experiências e as situações atuais constituem o principal meio de cura. As fantasias são a forma de
funcionamento mental primária e de extrema importância no período inicial da vida. Por exemplo, as
fantasias da criança de que o objeto externo – seio, nos primeiros meses de vida – é mau e persecutório
pois não a gratifica sempre que ela deseja. Esta frustração ocasionada pelo seio ruim precisa se
vingada, então, a criança utiliza-se de todas suas “armas” disponíveis – tais como, dentes, unhas e até
mesmo excreções – para promover explosões agressivas contra este seio ruim. Ao mesmo temo,
também existe a imagem de um seio bom, o qual atende a todas as necessidades da criança. Esta
divisão do seio é necessária para a proteção deste seio bom, pois, desta forma, todos os ataques
agressivos são dirigidos ao seio mau, preservando o bondoso. O seio mau é então sentido, nas fantasias
infantis, como se estivesse dilacerado, reduzido a fragmentos; enquanto o bom permanece íntegro,
completo.
10 - A repetição das situações primárias na transferência nos leva às vivências dos primeiros meses de
vida. A ansiedade da criança é muito intensa e, então, a pressão dessas ansiedades primárias põe em
funcionamento a compulsão à repetição. Assim, a simbolizações e personificações reeditam suas
primeiras relações com objeto, com a formação do superego e a adaptação à realidade, e se expressam
em seus jogos e podendo, então, serem interpretados.
11 - Nas fantasias com o analista, a criança retrocede a seus primeiros dias e ao estudá-las em seu
contexto e compreendê-las em detalhe obter-se-á um conhecimento sólido do que aconteceu na sua
mente nas etapas primárias. No fim da análise, o paciente revive emoções de sua época de desmame e a
elaboração do luto transferencial se consegue através da análise das ansiedades paranoides e
depressivas.