Você está na página 1de 10

UNIÃO DAS FACULDADES DOS GRANDES LAGOS

Professor: Maraysa Tralli

João Luiz Andreta


Inês Teixeira Katerna

CASO CLÍNICO

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


2019
Caso Clínico

Uma mãe telefona e conta sobre a preocupação com alguns comportamentos do filho de 5 anos
de idade. Dentre esses, ele manifesta masturbação, busca incessante sobre as diferenças anatômicas
entre as pessoas do sexo feminino e as do sexo masculino, medo e ciúme exacerbado da mãe. A partir
do relato, responda:

1) Indique e explique quais os próximos passos do profissional após o telefonema. Quais características
e dados a serem registrados na entrevista inicial com os pais.
Primeiramente, deve-se agendar uma sessão inicial com os pais para realizar uma anamnese,
sem a participação do filho, porém ele deve ser informado da consulta. A participação do pai, da mãe,
de ambos ou de outra pessoa demonstra o funcionamento do grupo familiar e de sua relação com o
filho. Esta entrevista, no entanto, não deve ser um interrogatório como em um julgamento, mas o de um
terapeuta interessado nos sintomas da criança, no sentido de amenizar o sofrimento, o conflito e as
dúvidas dos pais em relação aos sintomas do filho.
A entrevista tem como objetivo compreender o motivo da consulta, a história da criança, como
decorre um dia de sua vida atualmente, um domingo ou feriado e o dia do aniversário, como é a relação
entre os pais, com o(s) filho(s) e com o grupo familiar imediato. Assim, a entrevista deve ser dirigida e
limitada de acordo com o plano previamente estabelecido para que não se perca o foco na obtenção dos
dados de maior interesse em relação à criança e de seus vínculos com o meio familiar, em um tempo
delimitado que pode variar de uma a três horas.
Entretanto, para os pais é um pouco difícil estabelecer, em tempo limitado, uma relação com
uma pessoa até aquele momento desconhecida - o terapeuta – de forma a aprofundar-se em seus
problemas, além da própria dificuldade em falar a respeito de seu filho. Para favorecer tal relação, o
terapeuta pode buscar aliviar-lhes a angústia ao nos encarregarmos do conflito e nos posicionando
como analistas do filho.
No primeiro momento, então, o terapeuta deve procurar informações sobre o motivo da
consulta. Os dados iniciais, de certa forma, devem ser registrado minuciosamente, tais como o
desenvolvimento, agravamento ou melhora dos sintomas. Todavia, o terapeuta tem que tem consciência
de esquecimentos totais ou parciais de fatos importantes podem ocorrer – por exemplo, circunstâncias
desencadeadoras, reprimidas na entrevista inicial -, podendo estes dados serem obtidos a medida que
angústia do pais diminuam durante o tratamento do filho. Também é importante a comparação dos
elementos obtidos na entrevista inicial dos pais com as informações conseguidas durante a análise da
criança para avaliar em profundidade as relações entre eles.
No que se refere a história da criança, investiga-se a parte emocional, principalmente da mãe, ao
saber da gravidez; se foi desejada e aceita com alegria ou se foi acidental; se houve repulsão, desejos de
abortar e como foi a evolução desses sentimentos, pois o repúdio emocional da mãe pode deixar marcas
profundas no psiquismo da criança. Tudo o que acontece desde a concepção é importante para a
evolução posterior. De modo geral, na primeira entrevista os pais relatam que o filho fora desejado e a
gravidez e o parto ocorreram normalmente, no entanto, dificilmente estes dados se mantêm durante a
narrativa da história.
Muitas vezes, os pais não recordam e avaliam conscientemente os fatos relacionados à gravidez
e ao parto, mas em seu inconsciente tudo está gravado. Convém perguntar se foi a termo, induzido,
com anestesia, a relação com o médico, se estava acordada ou não, acompanhada ou sozinha. Este tipo
de pergunta pode, às vezes, abrir caminhos à memória. Quando o terapeuta tiver conhecimento
suficiente sobre o parto, deve-se verificar se a lactância foi materna para saber se o bebê tinha reflexo
de sucção, quantas horas depois do nascimento e as condições do mamilo; o ritmo de alimentação, a
frequência entre as mamadas, o tempo que succionava em cada seio. Frequentemente, a mãe não limita
o tempo de sucção, nem o intervalo entre as mamadas e os horários fixos para iniciar a alimentação. É
essencial para o posterior desenvolvimento da criança a forma como a primeira relação pós-natal se
estabelece.
A demora excessiva no início da lactação pode ocasionar aumento da frustração e da sensação
de desamparo, aumenta as tendências destrutivas, dificultando sua relação com a mãe. A lactação a
ritmo regular pode proporcionar ao bebê a possibilidade de dominar sua ansiedade, uma das mais
difíceis tarefas do ego depois do nascimento; alimentação em horário fixos oferece estabilidade, pelo
fato do objeto sempre ser o mesmo, as condições semelhantes, isto é, no mesmo quarto, na mesma
cadeira e postura, em intervalos regulares.
Posteriormente, pergunta-se como o bebê aceitou a mudança do peito à mamadeira, do leite a
outros alimentos, de líquidos a sólidos, como papinhas e carne. Assim, o terapeuta pode saber muito
sobre a criança, sobre a mãe e sobre possibilidade de ambos desprenderem-se de velhos objetos. A
passagem do peito a outras fontes de gratificação oral exige um trabalho de elaboração psicológica e a
forma como a criança aceita esta perda nos mostrará como, em sua vida futura, enfrentará as perdas
sucessivas que lhe exigirá a adaptação à realidade. E importante, também, investigar a data do
desmame e as condições em que ocorreu.
As relações de dependência e independência entre mãe e filho refletem nas atitudes e expressões
dos dois quando o bebê sente a necessidade de se movimentar por conta própria. Neste momento, a
mãe pode perceber ou não esta esta necessidade, frustrá-la ou satisfazê-la. Para a criança, dentre muitos
outros, o caminhar tem o significado da separação da mãe, iniciada no nascimento. Assim, a mãe,
quando compreensiva, deixa seu filho caminhar sem apurá-lo e nem travá-lo, de modo que o
desprendimento seja agradável e alegre, oferecendo-lhe assim condições conduta que guiará seus
passos pelo mundo.
Outro fator a ser pesquisado, é o surgimento da linguagem, pois o atraso e a inibição no seu
desenvolvimento podem indicar uma séria dificuldade de adaptação ao mundo. O período de dentição
também merece especial atenção para verificar se o surgimento dos dentes foram acompanhados de
transtornos ou se ocorreu normalmente e no momento adequado. Neste momento, interrogamos sobre o
dormir e suas características porque estão muito relacionadas. Caso haja transtornos do sono, indaga-se
sobre a conduta dos pais para com a criança e que sentimentos despertam nos pais. É igualmente
importante saber a descrição do quarto, onde dorme o bebê, se fica só ou se precisa da presença de
alguém ou alguma outra condição especial para conciliar o sono.
O terapeuta também deve questionar sobre a idade e de forma a criança realizou o controle de
seu esfíncter. A aprendizagem precoce e muito severa do controle do esfíncter é vivida, pelo bebê,
como um ataque da mãe ao seu interior, como retaliação às suas fantasias, que estão, neste período,
centradas no casal parental em coito, trazendo como consequência a inibição de suas fantasias e com
transtornos no desenvolvimento das funções do ego. Pode estar relacionada em casos de enurese da
criança. Também, se deve perguntar como foi a atitude da mãe frente a sujeira e à limpeza, ampliando
um pouco mais nosso conhecimento sobre a mãe.
Em relação ao decorrer de um dia de vida da criança, o terapeuta deve realizar perguntas
concretas sobre experiências básicas de dependência e independência, liberdade ou coação externas,
instabilidade ou estabilidade das normas educativas, do dar e do receber. Assim, o profissional
consegue ter dados para entender se as exigências são adequadas ou não a sua idade, se há precocidade
ou atraso no desenvolvimento, as formas de castigos e prêmios, suas capacidades e fontes de prazer e
suas reações frente às proibições.
Ao interrogar sobre o dia de vida, deve-se questionar quem o desperta e a que horas, quem o
veste e por quê. Essas informações enriquecem os dados sobre a dependência ou independência de
acordo com a idade cronológica da criança, e a atitude dos pais diante da precocidade ou do atraso em
sua aprendizagem. Isto possibilita ter uma visão mais correta da vida da criança. A descrição dos
domingos, dias de festa e aniversários ilustra o tipo e o grau da neurose familiar, o que permite estimar
melhor a vida da criança e orientar o profissional quanto ao diagnóstico e ao prognóstico do caso.
Ao final da entrevista, os pais costumam já se sentirem mais dispostos a fazer confidências
sobre si mesmos e, assim, dando ao terapeuta uma noção maior da relação afetiva que têm com a
criança e o que ela significa para eles. Entretanto, o profissional tem que ter em mente que muito saberá
sobre a verdadeira relação entre eles e, por isso, deve-se limitar a consignar a idade, a localização da
criança dentro da constelação familiar, profissão ou trabalho que realizam, quantas horas ficam fora de
casa, condições gerais de vida, sociabilidade deles e de seus filhos. O fundamental é que o terapeuta
tenha consignado todos os dados obtidos dos pais antes de iniciar seu trabalho com a criança, seja ele
de diagnóstico ou de tratamento.

2) No psicodiagnóstico de uma criança, em geral, observa-se a linguagem lúdica, durante a primeira


hora de jogo. A psicanalista Arminda Aberastury afirma que na primeira vez de hora de jogo
diagnóstica, a criança expressa as suas fantasias de doença que de cura. Caso a família decida pelo
tratamento, com quais materiais a caixa lúdica da criança poderia ser montada?
Segundo Aberastury, o consultório para atendimento infantil não precisa ser grande, pois a
técnica de jogo não exige muito espaço, porém, as paredes devem ser laváveis e o chão esteja coberto
de paviflex ou flexiplast; ter um banheiro que se comunique ao consultório, de uso exclusivo dos
pacientes, no qual tenha um lavatório com água corrente, um vaso, toalha, papel higiênico, um copo e
uma ou duas cadeiras. A porta do banheiro não deve fechar por dentro, para evitar problemas
desnecessárias. As portas do consultório devem ser duplas ou de material que impeça que cheguem
ruídos ou conversações para o exterior e fechadas por dentro. A mesa e as cadeiras devem ser cômodas
e simples, mas suficientemente fortes para resistir ao desgaste; um móvel com gavetas para se guardar
o material dedicado a cada paciente. Também será útil um pequeno e cômodo divã para que a criança
possa reclinar-se, caso queira, e falar.
Logo na primeira sessão, os brinquedos e os objetos destinamos à criança são colocados sobre
uma mesa, preferentemente baixa, para que, ao entrar, ela tenha uma visão completa do que lhe é
oferecido para se comunicar com o terapeuta. Para nosso paciente de cinco anos, há um material padrão
para satisfazer suas necessidades, e com poucas modificações serve também para crianças de mais
idade: cubos, massa de modelar, lápis, papel, lápis de cor, borracha, cola, alguns bonecos pequenos,
paninhos, tesouras, barbante, autos, tacinhas, pratinhos, talheres e apontador. Além destes, sempre que
possível, deve-se incluir os brinquedos que a criança costuma brincar em casa.
Quando se decide pelo tratamento, o terapeuta prepara o material de jogo e sua caixa lúdica
individual, a qual somente o paciente e o terapeuta terão acesso. A partir deste momento, o terapeuta e
seu consultório devem estar receptivos à criança, e a caixa lúdica já preparada é o símbolo dessa
situação.
Ao finalizar a sessão, deve-se guardar os brinquedos na caixa com a ajuda da criança ou sem
ela, e lhe mostramos que: a) o material lhe pertence; b) a caixa ficará fechada com chave; c) ninguém
terá acesso a ela em sua ausência e o terapeuta somente a abrirá antes de iniciar a sessão seguinte; d)
tudo o que aconteceu durante a sessão será mantido em reserva absoluta por parte do terapeuta; e) o
horário semanal será aquele já combinado; f) toda modificação ou entrevista com familiares será
conversado com ele antes de ser comunicado aos pais; g) ao nos despedirmos, lhe recordamos o dia e a
hora da sessão seguinte.
Com o passar das sessões e de forma progressiva, a caixa individual toma enorme importância,
mesmo que isto não expresso abertamente pela criança. Têm crianças que durante meses não tocam
num brinquedo, enquanto outras deixam tudo fora da caixa, como se não se importassem ter algo para
si. Às vezes, a criança quer levar algum material para sua casa, porém isso deve ser evitado com
interpretação adequada. Se no percurso na análise considera útil que a criança o leve, pode-se permitir
– como exceção e não como norma -, esclarecendo por que foi permitido. Se for roubado, isso será
motivo de interpretação na sessão seguinte.
Caso a criança traga algum brinquedo ou objeto de sua casa, talvez, queira mostrar algo da sua
vida familiar naquele momento, pode-se dar a liberdade de colocá-lo na caixa ou de levá-lo novamente,
e interpretando o significado da decisão. O material quando deixado em definitivo pode revelar como a
criança vive em desamparo, necessitando transformar o consultório em seu lar.
Papéis, cola, massa de modelar, água, lápis, lápis de cor, são elementos que sempre devem estar
à disposição da criança. No entanto, se a criança usa o material somente para jogá-lo ao chão e
degradá-lo, o profissional deve permitir até compreender sua atitude. Por exemplo: em uma sessão a
criança modelou uma casa do qual ela não gostou depois de pronta; atirar e pisotear a massa de modelar
será uma forma de mostrar sua impotência e o desconsolo por sentir-se incapaz de criar.
Enfim, elementos que favorecem a comunicação pré-verbal da criança são básicos e devem ser
renovados sempre que sejam úteis para expressar algo. Desta forma, evita-se a aniquilação dos
conteúdos simbólicos e do o vínculo entre o paciente e o terapeuta. A reposição de outros materiais:
autos, aviões, pratos, etc. se fará sempre que a criança solicite e que as circunstâncias o indiquem. É
importante que o material oferecido ao paciente seja simples, de boa qualidade e resistente.
A primeira sessão é vivida pela criança como um novo nascimento, isto é, a separação inicial
dos pais e a entrada no consultório costumam acompanhar-se das ansiedades que experimentou ao
nascer. Nesta sessão, ela já mostra qual é sua fantasia inconsciente de enfermidade ou conflito pela qual
é levada à clínica e, na maioria das vezes, sua fantasia inconsciente de cura, além de mostrar se e como
aceita ou rejeita o papel do terapeuta. Na sua fantasia de cura, ela expressa o desejo de modificação do
mundo exterior real e o de curar sua compulsão a repetir suas experiências.
Também se observa a primeira ação que a criança realizou e o tempo que demorou para
começá-la, pois a atitude prediz muito sobre a suas ações diante do mundo. Por exemplo: o grau de
inibição em relação ao jogo relata o índice de gravidade da sua neurose.
O temor de repetir sua relação com o objeto originário, quando carregado de frustração e medo
projetado no terapeuta, transforma-o em alguém temido pois a criança espera que ele adote a mesma
conduta negativa de seus pais e a ataque; mas também têm os aspectos amados do objeto originário,
que satisfez suas necessidades, conferindo ao terapeuta os atributos necessários para curá-lo. Esta dupla
fonte de transferência deve ser interpretada desde o primeiro momento, mas como os dois aspectos
estão sempre presentes durante o tratamento, a interpretação de seu significado deve fazer-se também
nas sucessivas sessões.
Desde a o primeiro encontro terapêutico, o profissional deve assumir o papel de terapeuta, pois
isto ajuda a criança a situar-se como paciente e a ir fazendo consciente o que mostrou como fantasia
inconsciente. Em relação aos pais, o terapeuta deve esclarecer seu papel de terapeuta do filho e não
deles, conduta que confirmamos ao não lhes pedir modificações na sua vida familiar e antecipar-lhes as
reservas que manteremos com as sessões do filho.

3) O que podemos pensar sobre a queixa materna e o desenvolvimento infantil para a criança em
questão?
Freud descreveu as fases psicossexuais pelas quais o indivíduo passa ao longo do seu
desenvolvimento físico e mental: fase oral, anal, fálica, latência e genital. Ele afirmava que as crianças
tem sexualidade, ou seja, na medida em que a criança amadurece vai desejando coisas diferentes e
também vai encontrando formas diferentes de gratificação dos desejos, havendo um misto de atividades
fisiológicas, descobertas e fantasias na psique infantil.
Na fase oral, a zona erógena do bebê é a boca, isto é, a área na qual se concentra as
necessidades do bebê e suas gratificações. As necessidades básicas do bebê são a sede e a fome, então,
ao receber alimento estas tensões são aliviadas. Adicionalmente, ao receber o alimento, o bebê também
será confortado, aninhado e acalentado pelo adulto que o alimenta. Logo o bebê associa o ato de
alimentação à redução da tensão alimentar e a sensação de prazer gerada pelo contato afetuoso do
adulto. A boca será a primeira parte do corpo que o bebê aprenderá a controlar e que ele dirigirá toda
sua libido.
A libido é a energia que alimenta a pulsão de vida. Nesta fase, quase toda essa energia libidinal
é direcionada para a boca, então, tudo que o bebê faz com a boca - comer, morder, beber, sugar - gera
prazer e satisfação. Por isso, ainda que o bebê esteja bem alimentado, ele desejará sugar objetos por
causa da pulsão. Mesmo a fome - necessidade orgânica - tendo sido satisfeita, a pulsão nunca é saciada,
pois, é uma necessidade orgânica e psíquica. Nessa fase da vida, portanto, as pulsões se manifestam nas
atividades que geram gratificação oral.
Na fase anal, a criança aprende a controlar os esfíncteres e a bexiga. A expulsão das fezes pelo
ânus gera prazer, mas a criança também pode sentir prazer em reter as fezes, o que cria uma espécie de
conflito. Por um lado, eliminar as fezes é prazeroso, por outro lado existe a necessidade social de
controlar essa eliminação até chegar ao local adequado. Esse é um dos primeiros conflitos entre o
indivíduo e as exigências da vida social que a criança experimenta. Ela quer sentir o prazer da
evacuação, mas ela não pode fazer isso a qualquer hora e nem em qualquer lugar. Ao mesmo tempo, a
criança percebe que quanto mais controle fisiológico ela adquire mais ela é elogiada pelos adultos.
Assim, se por um lado é prazeroso evacuar, por outro, também é prazeroso reter.
Nessa fase a criança pode controlar a evacuação como forma de obter elogios, mas também
pode não controlar propositalmente e evacuar onde não deve, como forma de chamar a atenção.
Também pode ser confuso para a criança perceber que os adultos a elogiam por controlar a evacuação,
mas ao mesmo tempo consideram que ir ao banheiro é algo sujo, o que deve ser feito de forma discreta.
Então, a criança se pergunta como ela pode ser elogiada por eliminar as fezes na hora e local certo e, ao
mesmo tempo, ver que suas fezes são indesejadas.
Por volta dos 4 anos tem início a fase fálica e, nesta fase, a criança se dá conta de que tem um
pênis ou que lhe falta um. Os genitais passam a concentrar todas as tensões e atenções da criança.
Os meninos começam a ter ereções e isto leva a um maior interesse pela região genital. Ao
perceberem que as meninas não tem pênis, os meninos experimentam a chamada ansiedade de
castração, que é o medo de perder o pênis. Nesta fase, as crianças começam a sentir ciúmes da atenção
que seus seus pais dão um ao outro em vez de dar a eles. O menino começa a enxergar o pai como um
rival pelo afeto da mãe, o que leva ao chamado complexo de Édipo.
Para Freud, no complexo de Édipo o menino fantasia matar o pai e casar-se com a mãe e, ao
mesmo tempo, ele acredita que seu pai também o vê como rival e que por isso ele poderá ser castrado
pelo pai. Freud chamou esse sentimento de ansiedade de castração. Para tornar tudo mais complicado, o
menino ainda quer a atenção e o amor do pai, então enxerga a mãe como uma rival.
Para Freud, o amor e o temor por ambos os pais, a ansiedade de castração e o desejo pela mãe,
são conflitos que nunca poderão ser resolvidos por completo, então, são recalcadas, ou seja, ainda na
infância todo esse complexo é descartado para o inconsciente evitando que ele apareça e que a criança
pense ou reflita a respeito dele. O complexo de Édipo é uma das primeiras tarefas do superego.
A menina passa por um conflito semelhante. Ela ama e deseja a mãe, mas como ela acredita que
perdeu o pênis por culpa da mãe desenvolve-se a inveja do pênis e seu objeto de desejo e amor passa a
ser o pai. Ela fantasia que se tiver um filho com o próprio pai, isso, de certa forma, compensará o seu
órgão castrado. Como a menina acredita que já foi castrada, então, não tem mais nada a perder, logo
não tem a ansiedade de castração que o menino tem e que o ajuda a inibir o complexo de Édipo. Por
não ter a ansiedade de castração, a repressão dos seus sentimentos pelo pai é menos total nas meninas,
ou que faz com que elas passem mais tempo na situação edipiana.
Como o paciente se encontra na fase fálica (5 anos), e pelo fato dos pais não terem
conhecimento das fases psicossexuais, eles se espantam ao se defrontarem com seus filhos a
masturbarem-se. Os pais ou pessoas que trabalham com crianças devem ter em mente que a
masturbação é normal e faz parte do processo de conhecimento de seu corpo. Entretanto, para os pais
da criança, a masturbação infantil traz um certo desconforto, pois é muito provável que seus pais
tenham lhes dito que isto era feio e para não fazer isto novamente. É difícil para os pais lidarem com
essas situações, mas é necessário aprenderem para não serem severos. Os pais precisam olhar os atos
infantis e não compará-los ao dos adultos.
A criança não faz nenhuma relação com o sexo em si, ela apenas sente prazer. Mais tarde,
porém, poderá se sentir culpada pela desaprovação dos pais ou pessoas que trabalham com elas, e esta
culpa poderá ser levada para sua própria experiência sexual porque houve recalcamento.

4) Foi principalmente através das obras de Hannah Freud e Melanie Klein que a técnica para o
tratamento de crianças foi estabelecida. as duas correntes em psicanálise de crianças têm diferenças e
características fundamentais. Comente.
As divisões no campo da psicanálise infantil podem ser atribuídas a uma disputa entre os
teóricos Melanie Klein e Anna Freud a partir de 1927. Um exame da linguagem, reivindicações e
epistemologia das publicações de Klein e Freud em 1927, que marcou o início público do conflito,
revela um discurso personalizado derivado da experiência e posição analítica pessoal dos competidores,
a partir de uma visão teórica.
Para Anna Freud:
I - a capacidade de transferência não é espontânea na criança, por isso, ela propõe uma período de
preparação e de entrevistas preliminares, para produzir uma demanda de analise, ou seja, conscientizar
a criança de seu sofrimento e da necessidade de ser ajudado a se livrar de seu sintoma. Ela associava
medidas pedagógicas aos meios analíticos, buscando conquistar a confiança da criança e, desta forma,
facilitar seu engajamento no processo psicanalítico, ou seja, trabalhar sempre em transferência positiva;
2 - o tratamento analítico atuaria pela substituição da neurose do paciente por uma neurose de
transferência, havendo deslocamento de sintomas e repetição dos conflitos infantis, resultando no
surgimento de uma neurose artificial. Embora a criança em análise se vinculasse intensamente ao
analista, dirigindo-lhe impulsos amorosos ou hostis, não seria possível chamar isso de transferência.
Para ela, a criança não substituiria seu sintoma pela neurose de transferência, pois continuaria a
externar seus conflitos preferencialmente com a família;
3 - a criança não pode fazer uma segunda edição antes de esgotar a primeira e o analista deve ser
educador, porque o superego do paciente ainda depende dos objetos exteriores que o originaram e não
está maduro. Para Anna Freud, “o pequeno paciente não está disposto, como o adulto, a reeditar seus
vínculos amorosos, porque, por assim dizer, ainda não esgotou a velha edição. A criança ainda não está
pronta para reeditar suas relações amorosas, pois os objetos originais (pais), ainda estão presentes como
objetos na realidade. O analista é um novo personagem nesta situação e, com toda probabilidade,
compartirá com os pais o amor e o ódio da criança. Mas, para a criança, o terapeuta não lhe oferece
todas as vantagens que encontra no objeto original;
4 - a transferência negativa não deve ser interpretada, mas dissolvida por meios não analíticos,
forçando-a a viver um idílio transferencial. Para ela (Freud), quando a criança em análise tem ações
destrutivas no ambiente externo, considera que falhou, pois não estabeleceu medidas educativas
suficientes para manter o controle sobre a libido liberada na análise. Portanto, a transferência negativa,
quando aparece, embora seja útil para conhecer os conflitos da criança, deve ser dissolvida
imediatamente;
5 – somente com transferência positiva pode ser realizado um trabalho útil com a criança, pois além da
finalidade analítica, existe a finalidade pedagógica, e em educação o êxito sempre dependerá do
vínculo afetivo com o educador.
6. Para ela, o jogo infantil não é equivalente às associações livres do adulto, porque certamente fará
parte do universo normal da criança, mas a associação livre é, ao contrário, uma criação artificial do
processo psicanalítico. Não usa brinquedos por julgá-los superficiais, preferindo desenhos e
associações sobre os sonhos da criança.
Para Melanie Klein e sua escola:
1 - A mesma ansiedade que leva à divisão de imagens, boa e má, no início da vida, revive-se na análise;
as ansiedades depressivas e paranoides são experimentadas na análise, expressas no jogo e reduzidas
pela interpretação. Uma das principais contribuições da teorização kleiniana são os conceitos de
posição esquizoparanóide e posição depressiva. Estes são períodos normais do desenvolvimento que
perpassam a vida de todas as crianças, tais como as fases do desenvolvimento psicossexual de Freud.
Contudo, são mais maleáveis do que estas fases, devido ao fato de instalarem-se por necessidade, e não
por maturação biológica (embora a autora não deixe de considerar as fases da teoria freudiana a
respeito do desenvolvimento infanto–juvenil).
2 - Quando o desenvolvimento normal diminui a divisão entre objetos perseguidores e idealizados e o
ódio é mitigado pelo amor, podem estabelecer-se objetos bons no mundo interno, melhorando as
relações com o mundo exterior. Durante o tratamento, o terapeuta aparece como uma figura idealizada,
mas esta idealização é usada como defesa contra as ansiedades persecutórias e suas consequências. O
analista deve tratar de eliminar esta excessiva idealização e, mediante a análise da transferência
positiva e negativa, reduzir a ansiedade persecutória, diminuindo assim a idealização.
3 – A criança não faz livre associação como o adulto, não por não saber falar ou porque não é capaz de
traduzir seus pensamentos em palavras, mas porque sua angústia promove resistência às associações
verbais.
4 - A atuação das imagens com características fantasticamente boas ou más, que predominam na vida
mental, é um mecanismo geral em crianças e adultos. Suas variações são somente de grau, frequência e
intensidade. A relação terapêutica assume em larga medida o caráter de uma relação de apoio, com a
diferença de que pode funcionar com uma menor dissociação entre objetos bons e perseguidores ao
introduzir, por exemplo, como parte dos comportamentos a esclarecer, a consideração de aspectos
idealizados e hostis da transferência.
6 – No tratamento analítico, Klein introduziu o brincar, pois, segundo ela, pelas brincadeiras a criança
traduz de modo simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas.
7 - A capacidade de transferência é espontânea na criança e deve ser interpretada, tanto a positiva como
a negativa, desde o primeiro momento, não devendo o terapeuta tomar o papel de educador.
8 - A transferência é o instrumento principal para conhecer o que acontece na mente da criança e
também para descobrir e reconstruir sua história inicial. A transferência é o resultado da externalização
de relações objetais internas em relação à pressão exercida pela ansiedade, cujas origens remontam aos
mesmos processos que, no passado, promoveram as primeiras relações objetais, ou seja, introjeção e
projeção, cisão, identificação projetiva, idealização, etc. O essencial na transferência não está na
relação entre passado e presente, mas sim na relação entre mundo interno e mundo externo.
9 - O descobrimento da fantasia transferencial e o estabelecimento da relação entre as suas primeiras
experiências e as situações atuais constituem o principal meio de cura. As fantasias são a forma de
funcionamento mental primária e de extrema importância no período inicial da vida. Por exemplo, as
fantasias da criança de que o objeto externo – seio, nos primeiros meses de vida – é mau e persecutório
pois não a gratifica sempre que ela deseja. Esta frustração ocasionada pelo seio ruim precisa se
vingada, então, a criança utiliza-se de todas suas “armas” disponíveis – tais como, dentes, unhas e até
mesmo excreções – para promover explosões agressivas contra este seio ruim. Ao mesmo temo,
também existe a imagem de um seio bom, o qual atende a todas as necessidades da criança. Esta
divisão do seio é necessária para a proteção deste seio bom, pois, desta forma, todos os ataques
agressivos são dirigidos ao seio mau, preservando o bondoso. O seio mau é então sentido, nas fantasias
infantis, como se estivesse dilacerado, reduzido a fragmentos; enquanto o bom permanece íntegro,
completo.
10 - A repetição das situações primárias na transferência nos leva às vivências dos primeiros meses de
vida. A ansiedade da criança é muito intensa e, então, a pressão dessas ansiedades primárias põe em
funcionamento a compulsão à repetição. Assim, a simbolizações e personificações reeditam suas
primeiras relações com objeto, com a formação do superego e a adaptação à realidade, e se expressam
em seus jogos e podendo, então, serem interpretados.
11 - Nas fantasias com o analista, a criança retrocede a seus primeiros dias e ao estudá-las em seu
contexto e compreendê-las em detalhe obter-se-á um conhecimento sólido do que aconteceu na sua
mente nas etapas primárias. No fim da análise, o paciente revive emoções de sua época de desmame e a
elaboração do luto transferencial se consegue através da análise das ansiedades paranoides e
depressivas.

Você também pode gostar