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Avaliação e Diagnóstico em Psicologia Clínica

Perspetiva Sistémica
TEXTOS

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Professora Sofia Arriaga
Avaliação e Diagnóstico em Psicologia Clínica
Perspetiva Sistémica
Estudar a família é aceitar confrontarmo-nos com a complexidade.

É também aceitar que não conseguiremos abarcar toda essa complexidade, mas, ao
mesmo tempo, não poderemos rejeitar o seu estudo, a sua avaliação.

Isto representa um enorme desafio.

Primeira questão: como entender a família no contexto sistémico?

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A resposta à pergunta interior será:

Nesta perspetiva vemos a família como um sistema.

Esta aparente simplificação conceptual arrasta-nos

para a tal complexidade que referimos.


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Pensar a família como sistema implica:

a) considerar a interdependência do comportamento de cada um dos seus elementos;


b) compreender a parte e o todo;
c) Saber que a análise de uma família não é a soma da análise dos seus membros;
d) perceber que o todo familiar é também ele parte de outros sistemas mais alargados
(e.g., sistema sociocultural, sistema económico, entre outros).

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Não esquecer a perspetiva
desenvolvimental, co‑evolutiva,
associada à noção de sistema:

Ao longo do seu tempo de vida, a família desenvolve‑se,


cresce ou, se preferirmos, complexifica‑se
através de processos dinâmicos, recursivos e adaptativos,
internos e externos.

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Assim, estudar as famílias nesta conceção requer primeiro uma postura que Bateson
(1987) designou por humildade sistémica e depois uma atitude de contextualização e
reconhecimento da causalidade recursiva.

Estes aspetos só poderão ser concretizados pela combinação de diferentes estratégias


metodológicas (qualitativas, quantitativas e mistas) e de avaliação, como a utilização de
questionários de auto‑resposta, metodologias observacionais,
análise narrativa, genograma, ecomapa, mapa de rede, entre outros.
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O stress, o coping, a vulnerabilidade, as dificuldades familiares, a qualidade de vida,
a adaptação e a resiliência das famílias, quer em situações de crise normativas,
quer inesperadas, surgem enquanto constructos transversais ao estudo e
investigação sobre a família em diversos contextos e situações de maior
ou menor bem‑estar relacional e psicossocial.

Também o funcionamento e a comunicação familiares (considerados o “cimento” do


sistema familiar) são áreas fundamentais para quem estuda, trabalha e avalia famílias.
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Podemos falar também da auto-perceção do indivíduo sobre o seu
posicionamento no sistema (o “grão de areia” do sistema familiar).

Podemos também falar de questões ligadas à transgeracionalidade


(diferenciação do self e relações atuais com a família de origem).

Podemos falar ainda da importância da avaliação da aliança terapêutica e dos


processos terapêuticos - o que faz “funcionar” famílias e terapeutas em terapia
(como se ligam os dois sistemas e com que efeitos de mudança).
E ainda haverá tanto que ficará por dizer…
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As escalas de avaliação e outros instrumentos/ferramentas de compreensão da dinâmica
familiar são utilizados por diferentes profissionais, cujo objeto de estudo é a família e que
a perspetivavam de pontos de vista diversos em termos disciplinares, nomeadamente nas
áreas da medicina, enfermagem, educação, gerontologia, para além da Psicologia, em
especialidades

diferentes da Psicologia da família, como, por exemplo, Psicologia do

desenvolvimento ou psicopatologia.
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Diagnóstico e intervenção estão intimamente ligados.

Trabalhar com famílias significa entender a sua estrutura, o seu funcionamento, as funções
que desempenha, o seu processo de desenvolvimento, as suas competências, forças e
fragilidades e a relação entre saúde e doença.

A resposta da família aos problemas que vão surgindo pode ser ou não adaptativa.
Há uma série de acontecimentos que podem desencadear movimentos do sistema, que
poderão ser de crescimento ou de disfuncionamento.
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Um paciente/um indivíduo rotulado pela família como portador do sintoma
pode ser a expressão de um desequilíbrio na família.
Portanto, o seu processo pessoal está relacionado com o seu processo familiar
e os seus movimentos de restruturação podem ser sentidos como normais e
saudáveis ou podem ser sentidos como ameaças por parte da família.

Assim conseguimos compreender a complexidade da avaliação,


diagnóstico e intervenção nas famílias.
Contudo, esta dificuldade não pode ser vista como uma ameaça para psicólogos
e futuros psicólogos, mas como um desafio face à possibilidade de mudança. a
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Podem referir-se algumas das ferramentas específicas para abordar famílias.
São elas:
o olhar sistémico,
os tipos de famílias,
a estrutura familiar - a dinâmica familiar,
o ciclo vital,
o genograma,
o ecomapa,
o mapa de rede,
a hipótese sistémica e modelos (e outros instrumentos) de compreensão
e avaliação do funcionamento familiar.
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Estas ferramentas e entendimentos sobre as famílias facilitam a compreensão de
algumas dificuldades familiares, que muitas vezes são entendidas como
não colaborantes, desinteressadas ou incapacitadas.

O nosso intuito é apresentar clarificações sobre a família e indicar instrumentos para


que um indivíduo ou uma família tenham autonomia e empoderamento para construir
a sua saúde (no conceito mais amplo da palavra).

Cuidar da família é importante. Mas não nos podemos esquecer que cuidar do individuo
é sem duvida acolher a sua família, respeitando-a, bem como aos seus valores e crenças.
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Vamo-nos debruçar agora sobre a funcionalidade e a disfuncionalidade na família.

Para isso vamos começar por falar de famílias sãs.

Fontaine (1985) fala em famílias sãs (sã no sentido não-médico).

O autor Interessou-se por conhecer os funcionamentos adequados das famílias


na sua diversidade através das suas evoluções únicas.

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Nas famílias há
Movimentos/ Equilíbrio Dinâmico face à funcionalidade/Saúde

Eixo Sincrónico:
Individuação (estar só) /Socialização (estar com)

Eixo Diacrónico:
Conservação (fecho do sistema)/ Mudança, Evolução (abertura do sistema)

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Esquema compreensivo da
patologia versus
saúde familiar

Fontaine

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Famílias Sãs

A saúde não é um estado de conservação, mas sim um processo dinâmico, uma


capacidade de suplantar dificuldades.

A saúde/funcionalidade é uma possibilidade dinâmica na interação espaço-tempo,


resultante de 2 equilíbrios fundamentais:

- entre individuação e socialização;

- entre mudança e continuidade (abertura, fecho do sistema).


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Princípios da ecopsicopatologia

O indivíduo é visto não como uma entidade doente, mas como alguém
assinalado ou etiquetado como tal.
É a passagem da noção de doente à de paciente identificado (PI).
O PI é o elemento do sistema que exprime o mal-estar do grupo.

Passa a haver uma preferência pelo diagnóstico relacional.

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- O modelo médico assente na causalidade linear não se adequa às novas premissas.

Aceitando a complexidade ecossistémica e que tudo é, recursiva e simultaneamente,


causa e consequência, como medida pragmática torna-se relevante substituir a busca
do “porquê” pela do “para quê”.

É a passagem ao modelo circular que arrasta consigo outra transformação: da noção


e objetivo de cura para os de mudança (no processo terapêutico).
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Patologia

Disfuncionamento (funcionalidade e disfuncionalidade)

Até aos anos 70-80 tentava-se equacionar a dinâmica e os processos funcionais


e disfuncionais e tentava-se definir a etiopatologia no funcionamento e
dinâmica familiares

Desenvolveram-se então tipologias que pareciam ser úteis.


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Cada escola afirmou e defendeu, isoladamente, os respetivos modelos – uma
compreensão particular do disfuncionamento familiar.

A partir dos anos 80 aceita-se que não há sistemas certos ou errados.

Então:

1ª fase – A psicopatologia era equacionada como estando associada ao tipo


de funcionamento e dinâmica familiares – filhos disfuncionais, famílias
rigidamente homeostáticas, etc.
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Na primeira fase de desenvolvimento do modelo sistémico, a investigação centrou-se

na explicação da psicopatologia pelo dinamismo do sistema onde ocorria.

“Com objetivos descritivos, a ênfase é colocada (...) nas redundâncias observadas entre

o aparecimento da patologia e/ou determinada sintomatologia e o tipo

de funcionamento da família ou do sistema mais lato” (Relvas, 1999).


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Surgem as tipologias familiares.

As críticas apontam para o seu reducionismo, linearidade, mecanicismo e o facto


de escamotearem o dinamismo do sistema - “rotulações”.
«Todo o cuidado é pouco para escapar-se ao “estabelecimento de uma
nosologia soidisant sistémica”» (Ausloos, 1981).

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Viu-se que:
Não se encontra um tipo de funcionamento e/ou dinâmica familiar patognomónico
de uma determinada perturbação.

Ex.: as características encontradas nas famílias com um PI anorético, encontram-se


também noutras famílias, como, por exemplo, aquelas com um PI toxicodependente.

Há também famílias que, embora apresentando esse tipo de funcionamento,


não têm qualquer PI.
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Neste contexto, as tipologias familiares, entretanto desenvolvidas com o objetivo

de enquadrar e organizar descritivamente o diagnóstico relacional familiar resultante

da observação de redundâncias entre o aparecimento da patologia e/ou determinada

sintomatologia e o tipo de funcionamento da família, são sujeitas a importantes

críticas relativas ao seu reducionismo e até à sua linearidade, ao escamotearem o

dado que elas próprias pretendem realçar, isto é, o dinamismo dos sistemas.
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Encontramos “leis gerais” ou “regularidades” não patognomónicas e que
não nos devem permitir esquecer as suas “singularidades”.

Epistemologicamente, não faz sentido que a sistémica


produza sistemas de classificação da patologia.
Esta epistemologia aceita mal classificar como patológicos os sistemas onde
os sintomas surgem: não se fala em família patológica, mas em família disfuncional.

É importante centrarmo-nos nos ciclos de interação atual


que sustentam e mantêm o problema. a
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Então não se podem utilizar as tipologias?

Utilização – com cautelas


É um auxiliar para a preparação do primeiro encontro com a família.

Constatou-se que em certas famílias o comportamento de um dos seus membros


é conotado por elas e pelo meio como patológico, enquanto outro elemento
exibindo o mesmo comportamento sintomático não é valorizado como problemático.
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Uma pergunta que se deve fazer:

Quais os mecanismos relacionais que podem conduzir à psicopatologia?

Fala-se em famílias com um determinado tipo de transação, com um determinado

tipo de funcionamento – usam-se as “caixas”, mas de uma forma muito menos rígida.

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Ausloos – não penso que exista um tipo de família
que produza uma patologia específica.

Um certo número de mecanismos fundamentais existe em todas as famílias


e quando os mecanismos estão perturbados, viciados, desviados do seu sentido
abrem a porta a perturbações diversas.

São sempre os mesmos processos que explicam a normalidade e a patologia.

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Tipologia Estrutural de Minuchin

Família Emaranhada Família Desmembrada

Salvador Minuchin coloca as famílias em polos opostos disfuncionais do mesmo continuum.


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Famílias emaranhadas: caracterizam-se por movimentos relacionais centrípetos e um mito
familiar de unidade que tolera poucas diferenças na individuação.

As fronteiras no interior do sistema são difusas e rígidas em relação ao exterior.

Há uma grande proximidade entre os elementos que compõem o sistema. Há uma


interação muito forte, mas falta de diferenciação entre eles.

Frequentemente surgem sintomas psicossomáticos.


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Famílias Desmembradas: apresentam um movimento relacional centrífugo.

As suas fronteiras com o exterior tendem a ser excessivamente abertas, ‘expulsando’


precocemente os seus membros para a vida social.

Os papéis parentais são aparentemente rígidos, mas instáveis.

Os sintomas são de carácter psicossocial (delinquência; prostituição; gravidez precoce).

Configuram frequentemente famílias multiassistidas.

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Configurações Familiares
Tipologia Estrutural Diagnóstica (Minuchin & Fishman)

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Famílias pas de deux

- constituídas por 2 elementos

- dificuldades: vinculação intensa (mútua dependência)

- intervenção: necessidade de definição de fronteiras e aumento das ligações


extrafamiliares – desafiar a conceção da realidade familiar

de que “somos uma ilha”.

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Famílias com Três Gerações
- presença de várias gerações (nuclear + extensa)
- multiplicidade geracional
- dificuldades: organização com funções diferenciadas; disfuncionalidade
na organização hierárquica
- Intervenção: sondar eventuais coligações e reorganizações hierárquicas;
“deve trabalhar-se para a diferenciação das funções e não forçar para uma
estrutura que corresponde às normas culturais” (Minuchin, 1990),
pois isto poderá facilitar a cooperação.
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Famílias com Suporte

- famílias nucleares grandes, mas sem apoio da família extensa

- dificuldades: delegação de responsabilidades; parentificação

- intervenção: reorganizar os subsistemas; fixar fronteiras.

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Famílias Acordeão

- famílias com ausências prolongadas de um membro que depois regressa

- dificuldades: cristalização da configuração familiar com pai singular;

manutenção do elemento ausente na periferia do sistema

- intervenção: reorganizar e renegociar papéis numa

família ‘nova’ - ação reestruturante e educativa.

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Famílias Flutuantes

- famílias com mudanças frequentes de domicílio ou de composição familiar

- dificuldades: perda de apoios comunitários (sociais) e familiares

- intervenção: avaliar as capacidades de adaptabilidade; ajudar na definição da

estrutura organizacional.
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Famílias Hospedeiras (de Colocação)

- famílias com colocação temporária de um elemento (criança)

- dificuldades: paradoxalidade do pedido/desejado para a relação família-criança

- intervenção: avaliar o valor dos sintomas surgidos

(possível fantasia de que serão produto das experiências anteriores).


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Famílias com Madrasta /Padrasto

- famílias com 2º casamento

- dificuldades: integração /erradicações (periferia) do(s) novo(s) elemento(s);

divisão de lealdades

- intervenção: ajudar na integração adequada do padrasto/ madrasta

pela sua participação no subsistema parental (o tempo terá de

dar-lhe legitimidade funcional).


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Famílias com Fantasma

- famílias em que houve desaparecimento de um elemento importante

- dificuldades: renegociação e redistribuição de papéis e tarefas; manutenção

de novas relações; luto patológico

- intervenção: elaborar a perda e a reestruturação.


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Famílias Descontroladas

- famílias em que um membro tem problemas comportamentais

- dificuldades: organização hierárquica; implementação de funções executivas

- intervenção: sondar coligações; reorganizar estrutural e funcionalmente; ajudar na

cooperação no subsistema executivo (evitar desqualificação)


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Famílias Psicossomáticas

- famílias que praticamente só se relacionam quando há crises. Que sem crises não encontram motivos para se relacionar.

- sobrevalorizam os conflitos

- tem de haver sempre alguém doente, física ou emocionalmente, com dificuldades, com problemas conjugais...

- a vinculação familiar está centrada no papel de cuidador

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Famílias Psicossomáticas
- não conhecem outras formas de demonstração de afetos e não têm outra forma de comunicar
a não ser pela dor

- dificuldades: definição de limites e fronteiras (difusas) e tendência a apoiar a expressão


sintomática do conflito; aparenta ser perfeita e por isso é muito difícil de identificar

- intervenção: ativar a cooperação, reestruturação através da comunicação (falar dos afetos);


encontrar outra forma de estar em família

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Tipologia de Guy Ausloos (1981)

Ausloos desenvolveu uma tipologia tendo por base o dinamismo familiar em termos
de equilíbrio dos movimentos para a estabilidade e para a mudança, alargando o conceito
de homeostase “a estabilidade homeostática do sistema é constituída por duas tendências:
1) para a mudança – morfogénese e 2) para a manutenção – morfostase”.

A tendência seria um meio para atingir um resultado: estabilidade.


O aparecimento de uma perturbação associa-se ao grau de ativação de
uma das tendências, assim como à adequação dessa ativação à
situação problemática (indutora de movimentos homeostáticos) a
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Conceitos usados na Tipologia de Ausloos:

Flutuantes: referem-se a movimentos de pequena


amplitude (sistema perto do equilíbrio)
Convergentes / Divergentes: descrevem evoluções diferentes em função
do reforço ou relaxamento dos laços entre os subsistemas.
Inflexível, Rígido, Caótico: referem-se às dificuldades de evolução do sistema.

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Tipologias que integram aspetos evolutivos e estruturais:

Modelo Circumplexo de Olson


Este modelo está associado a 2 escalas de avaliação do funcionamento familiar:
Clinical Rating Scale e FACES – Family Adatability and Cohesion Scale.

Modelo de Perfil Transversal de Beavers


Relaciona-se com este modelo o SFI – Self-Report Family Inventory

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Modelo Circumplexo (Olson et col., 1983)
Contempla duas dimensões base:
Coesão – refere-se às ligações emocionais de cada membro da família aos outros.

Adaptabilidade (mudança) – capacidade do sistema em adaptar a sua estrutura, regras e


relações face a determinadas situações ou necessidades evolutivas.

Há ainda uma 3ª dimensão: a comunicação (considerada 1 dimensão facilitante das


mudanças do sistema nos dois eixos).
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Modelo em Perfil Transversal (cross-sectional) de Beavers

Este modelo apresenta uma “linha” que vai da


patologia à saúde (= posição óptima/ pólo para o qual se tende)

Apresenta 3 níveis de organização familiar:


Confuso ou caótico
Autoritário
Fexível, adaptativo
(“do caos à ditadura antes de atingir a democracia”)
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Avaliação familiar

Nas terapias de 1ª ordem avalia-se em função de uma teoria explicativa do


funcionamento e da patologia familiar. A hipótese sistémica é elaborada
no sentido de equacionar a função do sintoma.

Nas terapias de 2ª ordem não se valoriza à priori nenhuma teoria do


funcionamento familiar. A avaliação baseia-se na auto-reflexividade do
sistema terapêutico e na recursividade das perturbações cliente-terapeuta.
a
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Diagnóstico Familiar

O Diagnóstico é uma hipótese de trabalho que o terapeuta retira das

experiências e observações que fez, filiando-se à família.

É um mapa ou carta que alarga a “visão oficial” da família sobre o problema,

permitindo ver sob ângulos diferentes o mesmo fenómeno complexo e

fornecendo as aberturas para as intervenções terapêuticas.


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É um esquema de compreensão das dificuldades de gestão da família que resultam no seu
bloqueio perante uma situação de crise.

O diagnóstico permite traçar estratégias terapêuticas que visam a amplificação das


situações de mudança com vista à transformação dos padrões de interação familiar no
sentido de um novo equilíbrio.

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Quando falamos de Diagnóstico Familiar, temos de levar em conta:

A relatividade dos conceitos de normalidade da psicologia na


perspetiva sistémica - continuum normalidade e patologia.
A descrição das regularidades das interações familiares
não devem substituir ou sobrepor-se às singularidades do sistema.

O sistema é a sua melhor explicação.


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Noção de mudança substitui a noção de cura.

O sistema de relações interpessoais perturbadas da família será o alvo da terapia.

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COMO É QUE A FAMÍLIA “DEVE SER”

A FAMÍLIA “É O QUE É”!


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Quando pensamos no diagnóstico familiar temos de estar atentos a:

Contexto

Interação

Acontecimento e crise

Mecanismos intergeracionais fundamentais

O valor do sintoma
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Para Minuchin, Diagnóstico e Hipótese são equivalentes: é uma hipótese estrutural,
evolutiva, ligada ao contexto.

A hipotetização (...) é a metodologia ideal para manter a postura de curiosidade”.


“As hipóteses constroem-se a partir da metáfora do contador de histórias,
num movimento co-evolutivo entre família e terapeuta”.
Relvas, 2000

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A Co-construção da Hipótese Sistémica

Assumindo uma postura de curiosidade (...), clientes e terapeutas acoplados vão


progressivamente encontrando novas descrições para o problema e ligações a contextos
cada vez mais vastos, através de perturbações mútuas e sucessivas. É esta progressão que
permite a co construção da hipótese e a mudança co evolutiva no sistema terapêutico,
através da ‘descoberta’ conjunta de novos significados que se projetarão em novas ações
(Relvas, 2000).
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Função da hipótese sistémica/Valor:

• é o equivalente funcional do diagnóstico

• promove a interação, avaliação/tratamento

• impede a confusão/excesso de informação

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• dá informação sobre/à família 

• possibilita auto-referência do terapeuta

• confere neutralidade

• fornece visões múltiplas


 
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• viabiliza o uso do modelo como lente
• proporciona co-construção com a família
• promove o processo co-evolutivo
• evita a confusão utilidade/verdade
• evita a linearidade
• enquadra a auto-referência do terapeuta
• promove a adequação da hipótese sistémica

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6 parâmetros básicos para o diagnóstico:

momento do ciclo vital;


- estrutura (subsistemas, hierarquia do poder, limites,...);
- fontes de stress e de suporte;
- grau de ressonância à individualidade (autonomização);
- grau de maleabilidade do sistema;
- valor do sintoma para cada elemento do sistema.

Questão fundamental: O que impede a família de ser capaz de mudar/ capaz de ter outra visão?

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Contexto, acontecimento e crise

A psicopatologia depende mais do contexto e dos acontecimentos e provavelmente


também do terreno biológico do que da dinâmica da própria família.

Contexto em sentido lato – Características do meio em que a família se insere e


que a enquadram em termos de normas e expectativas.

O acontecimento é uma modificação descontínua de um estado que pode ser previsível


ou imprevisível mas que em qualquer dos casos vai provocar uma ativação do
próprio sistema, exigindo uma mudança.
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Podemos afirmar que o meio permite atribuir um significado ao
acontecimento que, por sua vez, precede a crise.

A crise é o estado do sistema no momento em que uma mudança está eminente.


Mesmo nos acontecimentos esperados, a bifurcação (prosseguimento
de um “caminho” em detrimento de outros) está dependente do acaso.

Por isso a evolução do sistema ocorre sempre num encontro entre acontecimentos e
crise, ou seja, como diz Ausloos, entre “o acaso e a necessidade” (acaso tem a ver com
os aspetos de imprevisibilidade que, contextuados no meio, atribuem significado
singular ao acontecimento; a necessidade é a de mudança).
a
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E assim se articulam contexto, acontecimento e crise.

A crise, precedida pelo acontecimento, é condição de complexificação, transformação e

evolução do sistema: empurra-o para um nível diferenciado de funcionamento.

a
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Perspetiva Sistémica
Funcionalidade Disfuncionalidade
Cumprimento das tarefas Bloqueio/Perturbação das tarefas
desenvolvimentais. desenvolvimentais.
Cumprimento das funções da Lacunas na execução das
família funções da família.
Promoção das potencialidades e Bloqueio dos movimentos de
de mudança mudança.

Capacidade de ultrapassar a Bloqueio nas situações de crise.


crise – EVOLUÇÃO

Flexibilização estrutural Rigidez estrutural

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Perspetiva Sistémica
Funções da família:

- Criar um sentimento de pertença


- Permitir a individualização

A evolução da família “exige” a individuação dos seus elementos.

O indivíduo tem necessidade de se diferenciar continuamente para poder “ser”.

Só nos podemos diferenciar no seio das interações que estabelecemos com os outros.
Especialização ou especificação de papéis.
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Perspetiva Sistémica
• Individuação ou separação maturativa e pseudo-individuação (rutura ou corte emocional
ou outros processos patogénicos como a co-dependência, alteração das regras da
dependência ou double-bind)

• Vários ciclos de vida


- Desenvolvimento individual
- Desenvolvimento da família
- Desenvolvimento da sociedade
Os vínculos relacionais vão-se transformando em função das necessidades individuais,
mas são também as necessidades individuais que (re)criam esses mesmos vínculos.
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Perspetiva Sistémica
Quando esta articulação perde o seu carácter co-evolutivo torna-se disfuncional, seja
porque o crescimento dos outros é sentido como uma ameaça à organização do próprio
self, seja porque há uma incapacidade de aprendizagem mútua da transformação dos
vínculos.

Negociação e cedências
• Finalidades familiares e finalidades individuais

Para que o sistema se mantenha funcional é importante que uns aspetos não sejam
dominados pelos outros, nem que uns sejam impeditivos da realização dos outros.
a
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Perspetiva Sistémica
Quando a negociação falha, falha também a articulação e as capacidades evolutivas da
família ressentem-se.

Surge o não-dito
Surge a patologia na comunicação
Surge o sintoma

a
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Perspetiva Sistémica
Muitas vezes esta incapacidade de co-evolução dos elementos do sistema exprime-se pelo
afastamento brusco, com corte de contacto familiar desde o nível físico ao afetivo (Bowen –
cut-off; Ausloos metaforiza – saída pela janela).

O indivíduo, ao tentar descobrir as suas próprias regras, ao fazer as suas próprias escolhas,
pode entrar em oposição às regras familiares.
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Perspetiva Sistémica
Quando isto acontece, ele pode escolher seguir as suas próprias finalidades, correndo o
risco de uma rutura com a família, ou sacrificar-se pelas finalidades familiares, correndo o
risco de ficar o refém patológico.

As alternativas colocam-se entre o risco e o sofrimento da rutura e o encarceramento


voluntário na patologia.
a
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Perspetiva Sistémica
Espaço e Tempo familiar

Para avaliarmos uma família fazemo-lo em duas dimensões - espaço e tempo - que
interagem e se entrecruzam no quotidiano da vida familiar.
 
A vertente histórica dá significado ao que acontece no “aqui e agora” e explica o
desenvolvimento da família. Também o acaso contribui para que uma determinada
situação aconteça ou se desenvolva.

a
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Perspetiva Sistémica
Assim, para avaliarmos uma família temos de perceber:
• o momento específico que ela está a viver;
• o valor que é dado ao que está a acontecer;
• o acaso.

a
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Perspetiva Sistémica
O Espaço e o Tempo entrecruzam-se e é neste cruzamento que vamos poder identificar

o que se passa com uma determinada família.

O eixo do Tempo traduz a organização da família;

O eixo do Espaço traduz a estrutura da família.


a
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Perspetiva Sistémica
Todas as famílias se organizam através de uma estrutura de relações, em que se

definem papéis e funções de acordo com as expectativas sociais. Mas a forma

específica como essa organização é concretizada, o seu conteúdo, é único em

cada família. Não há duas famílias iguais, embora todas sejam família e funcionem

como tal. Esta diferenciação familiar deve-se, pois, ao entrecruzamento destes

dois eixos e ao modo como todas as componentes

são vividas pelas famílias, por cada família. a


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Perspetiva Sistémica
Dimensão Sincrónica - Eixo Relacional, Sincrónico ou do Espaço Familiar

Na análise da família definiu-se um eixo sincrónico, do espaço familiar, eminentemente


relacional. Nele se jogam, em equilíbrio, a individualização e a socialização dos seus
elementos. Concretamente, o eixo sincrónico revela-se na estrutura da família, nas
relações entre os seus membros, nas suas alianças e limites, no tipo e modos de
comunicação por eles privilegiados.
 
Desse modo, criam-se e desenvolvem-se as normas e os padrões ou modelos de interação
que caracterizam determinada família.
a
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Dimensão Sincrónica - Eixo Relacional, Sincrónico ou do Espaço Familiar

As tarefas de desenvolvimento específicas nesta vertente têm a ver fundamentalmente


com a proteção, crescimento e autonomização dos elementos da família.
 
A estruturação da família, incluindo aspetos que vão desde os elementos que a
compõem até à definição das normas/regras interacionais e comunicacionais,
enquadra-se no eixo espacial ou relacional.

a
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Dimensão Sincrónica - Eixo Relacional, Sincrónico ou do Espaço Familiar

O espaço da família é uma das vertentes de análise da sua unicidade.


 
Portanto, na dimensão espaço avaliam-se as características estruturais e
comunicacionais do sistema. Para tal, os contributos dos modelos de
Minuchin e da Escola de Palo Alto são fundamentais.

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Perspetiva Sistémica
No que diz respeito ao Aspecto Estrutural, os elementos a considerar são:
 
1) as fronteiras ou limites (indicando quem participa ou está excluído de determinada interação)
e a sua caracterização em termos de localização e qualidade;
 
2) a estrutura da família, ou seja, a relação inter e intra-subsistemas. Os elementos da família
“agrupam-se e é necessário avaliar “quem, com quem, para fazer o quê, como, quando e onde”;
 
3) a distribuição do poder e a organização hierárquica do sistema;
 
4) a definição das regras transacionais, alianças, coligações e triangulações.
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Aspetos Comunicacionais:

Perturbação dos níveis de comunicação (conteúdo/relação)


Erros de tradução na descodificação da mensagem (digital/analógico)
Pontuação discordante das sequências dos factos e profecia que se autocumpre
Escalada simétrica ou perversão da complementaridade
Impossibilidade de metacomunicar
“A comunicação está para as famílias como a farinha está para os bolos” (Gameiro, 1994)

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Movimentos

Movimentos interativos de dois sentidos:


 
• sentido de especificação de funções, individualização, diferenciação (ao
diferenciar-se fica-se cada vez mais individualizado);
• sentido de coordenação, ajuste com outros sistemas.

a
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Perspetiva Sistémica
Especificação movimento centrípeto; o sistema fecha-se sobre si próprio
 
Coordenação movimento centrífugo
 
Exemplo: Quando duas pessoas se casam há um fecho do sistema, isto é, uma
diferenciação em relação ao exterior. A isso segue-se um movimento de coordenação
(as crianças ajudam muito para que haja uma abertura do sistema).

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Perspetiva Sistémica
Dimensão Diacrónica - Eixo Temporal, Diacrónico ou da História Familiar

Considera-se ainda a existência do eixo diacrónico, isto é, do tempo familiar, eminentemente


histórico, no qual surge como fundamental o desenvolvimento

da família, em equilíbrio com a sua tendência para a manutenção.

Concretamente, esta vertente observa-se na história da família, no desenrolar

da sua vida quotidiana e do seu ciclo vital.


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Perspetiva Sistémica
Refere-se à aquisição ativa e à rejeição de papéis pelos seus elementos, enquanto se
adaptam a pressões recorrentes da vida, perseguindo a mudança de requisitos funcionais
com vista à sobrevivência do sistema familiar.

Na dimensão Tempo avalia-se a vertente histórica do sistema, onde são aspetos


importantes os mitos, as lealdades, as dívidas, os legados ou delegações familiares, e
ainda, os acontecimentos relevantes da existência, como acidentes, doenças graves, etc.
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Dimensão Diacrónica - Eixo Temporal, Diacrónico ou da História Familiar

História do sistema
Mitos, lealdades, dívidas, legados, delegações familiares
Fases do ciclo vital
Life events
Situações de stress inesperado

O Modelo Transgeraccional de Murray Bowen alarga a compreensão do funcionamento do


sistema às famílias de origem. Torna-se importante avaliar: fusão/diferenciação do self,
ligação emocional não resolvida e cut-off, ... a
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Movimentos:

1) Manutenção (maior fecho do sistema)

2) Adaptabilidade e mudança (maior abertura do sistema)

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Perspetiva Sistémica

Em cada um dos eixos (espaço e tempo) a família apresenta movimentos de abertura e


fecho que possibilitam um equilíbrio dinâmico, tanto entre diferenciação/coordenação
(em relação ao exterior - supra-sistema, e ao interior - subsistemas), como entre
movimentos de evolução e conservação.

Os primeiros situam-se basicamente no eixo sincrónico e os segundos no diacrónico.

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Sintoma – sinal

O sintoma é uma mensagem

• Informa-nos sobre o funcionamento do sistema


• Informa-nos sobre o funcionamento do indivíduo
• Informa-nos sobre o terapeuta quando este lhe dá um sentido

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Perspetiva Sistémica
Compreensão do sintoma

• A nível comunicacional (função do sintoma no contexto em que surge)

• A nível desenvolvimental (sintoma da função familiar que expressa o nível mítico ou


de crenças partilhadas na família)

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Perspetiva Sistémica
Perspetiva sistémica da formação do sintoma

Compreensão do sintoma equacionado em 4 níveis:

A – Perspetiva comunicacional
1. semântico: o que mostra este sintoma?
2. Sintático: mostra-o a quem e através de que regras?
3. Pragmático: Com que resultados?

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Perspetiva Sistémica
B – Noção de função do sintoma: ideia segundo a qual o sintoma cumpre os
objetivos de uma dada função familiar inexistente ou lacunar na família;

C – Compatibilidade das finalidades individuais e familiares no momento


de crise - emergência do sintoma. Este pode ser uma mensagem de
incompatibilidade entre finalidades pessoais e familiares no
momento da sua emergência (Alarcão, 2000);

D – Perspectiva desenvolvimental: tem a ver com tarefas normativas associadas


ao desenvolvimento da família que estão perturbadas ou bloqueadas
(ciclo vital da Família). a
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Processo de formação do sintoma segundo Ausloos (1996):


Seleção/amplificação
Cristalização/Patologização

O sintoma não possui um valor intrínseco fundamental pré-determinado; são as


construções discursivas e conotativas construídas a seu respeito que determinam a
organização comportamental da família em seu redor.

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A patologização do comportamento estabelece-se quando lhe é atribuído um valor


que responde a uma função do sistema e quando o sujeito, sentindo-se cada vez pior
com este comportamento sintomático, se encontra numa situação onde não pode
satisfazer as finalidades familiares, senão à custa das finalidades individuais.

a
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O indivíduo faz parte do sistema, mas este sistema, onde o indivíduo
supostamente deve evoluir, por vezes não permite algumas escolhas
individuais que são sentidas como ameaças.
O sintoma surge então para manter o equilíbrio familiar , cumprindo essa função.

É por acidente que o comportamento aleatório vai ser selecionado; é pelas


reações que ele suscita que vai ser ampliado e é assim que acabará
por se cristalizar sob a forma de um sintoma.
a
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Perspetiva Sistémica
Conclusão:

Noção de mudança substitui a noção de cura.

Da patologia passámos para disfuncionamento e de disfuncionamento passámos para


problema.

Os problemas são construídos e podem ser desconstruídos.

a
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O eixo do trabalho terapêutico é a mudança na perceção dos problemas,
isto é,
desloca-se o foco da terapia do sistema de comportamentos
para o sistema de significados.

Logo, a ênfase coloca-se no


significado e não na patologia, no diálogo ou
conversação e não na técnica pragmática.

a
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E cada vez mais procuramos falar menos de problemas e mais de soluções.

O diálogo deve superar o padrão linguístico rígido associado

ao problema e centrar-se na introdução de jogos de linguagem que

conduzam à abertura de novas alternativas e possibilitem a co-construção de


diferentes significados para a sua situação.

a
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O caminho que a sistémica percorreu ou tem vindo a percorrer até chegar onde

está permitiu que se percebesse cada vez mais a importância da co-construção de

uma identidade de competência, otimismo e confiança. Mesmo quando

toda a linguagem associada a diagnóstico e avaliação pendem para

um cariz mais patologizante e pessimista.


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Como pensamos ter deixado claro, o trabalho de avaliar, diagnosticar e intervir

é um trabalho co-construtivo, que se entrelaça continuamente na interação

entre terapeuta/investigador e cliente/sujeito, e que, por isso, não depende

apenas de um ou outro individualmente, mas de todos ao mesmo tempo.

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