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Apontamentos para a frequência de Psicologia da Família

O que é a psicologia da família?

Área/ramo da psicologia dedicado a pensar os indivíduos na sua interação


com a família;
Tem o objetivo de ajudar a melhorar a qualidade de vida da família;
A sua manifestação visível é a terapia familiar.

Quais são as áreas de interface da Psicologia da Família?

Psicologia do Desenvolvimento da criança e do adolescente;


Psicologia Social;
Psicologia da Educação.

Quais são os contributos da Psicologia da Família?

Contribui para a compreensão e intervenção no âmbito de problemas que


afligem a família;
Pode facilitar (compreensão e intervenção) em situações tais como:
1. Violência familiar e maus-tratos
2. Mal-estar na relação do casal
3. Abuso no consumo de drogas / Delinquência

Porquê intervir na Família?

A família consiste no núcleo fundamental do desenvolvimento do ser


humano. Dessa forma:
1. Assume um papel fundamental na defesa e promoção da saúde
mental.
2. É a base para a prevenção de problemas que afetam o casal, as
crianças/adolescentes, os jovens e a sociedade em geral.

Quais são os desafios na Psicologia da Família?

Família é um constructo pluridimensional e multicultural. Significa que as


vivências no contexto da família são diversificadas conforme as diferentes
culturas e através dos tempos.
Deve ser estudada ao nível micromolecular, mas, também ao nível
macrossocial, pois esta funciona em interface com outros sistemas sociais.
Deve abordar os problemas numa perspetiva holística sem descontextualizar
o indivíduo.

Quais são as limitações na Psicologia da Família?

Pouca atenção prestada pela psicologia clássica académica;


Está mais centrada na terapia familiar do que nos tópicos da família.

Afinal, qual é o conceito de Família?

A família é vista como o lugar onde se nasce, cresce e morre (Alarcão, 2000);
É o espaço privilegiado para a aprendizagem e a elaboração de aspetos
importantes da interação e do relacionamento com o outro (contactos
corporais, linguagem, comunicação, relacionamento interpessoal…);
É o espaço privilegiado para a vivência de relações afetivas profundas
(afiliação, fraternidade, amor, sexualidade, todo o tipo de emoções…);
É vista como um grupo institucionalizado, relativamente estável, que
constitui uma importante base da vida social.

Assim, a Família é:

Um conjunto de elementos, emocionalmente ligados, compreendendo pelo


menos três gerações;
“Conjunto de indivíduos que desenvolvem entre si de forma sistémica e
organizada, interações particulares que conferem individualidade grupal e
autonomia”;
“Conjunto de elementos ligados por um conjunto de relações, em contínua
relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao longo de um
processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução
diversificados”.

A história da Psicologia da Família

Começou a desenvolver-se na última metade do século XX (década de 50);


A vida das famílias mudou profundamente no ocidente pós-industrial e no
pós 2ª guerra mundial. Período de grande mudança familiar. Devido a:
1. Maior mobilidade;
2. Maior urbanização;
3. Maior fragmentação da vida familiar;
4. Mudança nos modos de produção e na instrução da mulher;
5. Mudança nas crenças sobre a vida da família : Aumento do número de
divórcios e novos casamentos; Aceitação de estruturas familiares não
patriarcais; Aceitação de estruturas familiares homossexuais.
A necessidade de terapeutas da família e outros terapeutas deveu-se a:
1. Falta de acesso às estruturas e redes sociais de apoio tradicionais de
onde anteriormente obtinham ajuda, conselho e escuta;
2. Esta situação sugere que, os técnicos ao assumirem muitas das
funções que anteriormente pertenciam à família, fragilizaram-na;
3. A terapia é sinal de que o meio cultural onde esta se desenvolveu
atingiu um elevado grau de funcionamento - O sofrimento e o abuso
não são aceites como fatalidade nessas sociedades, pelo contrário,
supõe-se que toda a gente tem direito a uma vida melhor
Apesar de estarmos conscientes de que um número significativo de pessoas
não vive, de todo, em famílias estruturadas pela configuração tradicional, o
termo família é uma palavra que continua a ser usado por nós como se
tivesse um significado único – A família nuclear tradicional (1760-1840)
continua a ser a configuração tradicional da família, ou seja, pai, mãe e filhos.
No entanto, existem outras formas de famílias:
1. Monoparentais;
2. Reconstituídas;
3. Homossexuais;
4. Comunitárias.

A abordagem sistémica – convicção de que a família é um “organismo vivo” e um


sistema em evolução contínua.
Pensamento sistémico: perspetiva que reagrupa os aspetos teóricos,
práticos e metodológicos, relativos ao estudo e reconhecido como muito
complexo para poder ser abordado de forma reducionista, ou seja, deve-
se abordar o estudo como um todo e um conhecimento do todo.
1. Abre uma via original/ inovadora para a investigação e para a ação;
2. É utilizado em diversas áreas, como por exemplo: Biologia, ecologia,
gestão de empresas, urbanismo e ordenação do território.
O pensamento sistémico coloca problemas como:
1. Fronteiras ou limites;
2. Relações internas ou externas;
3. Problemas de estrutura, de leis ou de propriedades emergentes ou
ainda levantando problemas do modo de observação, representação
modelação ou simulação de uma totalidade complexa.
O pensamento sistémico assenta sobre conceitos de:
1. Sistema;
2. Interação;
3. Retroação;
4. Regulação;
5. Organização;
6. Finalidade;
7. Globalidade;
8. Evolução.

A abordagem sistémica dividiu-se em dois tipos de impulsionadores: Prática


terapêutica (Murray Bowen, Salvador Minuchin e Mara Palazzoli) vs. Investigação
teórica (Investigação de terapeutas interessados nas ideias do antropólogo Gregory
Bateson (1956)).

Bases epistemológicas do Pensamento sistémico/Abordagem sistémica

Teoria geral dos sistemas (Bertallanffy, 1968)

Sistema é um conjunto complexo de elementos interativos;


Os sistemas podem ser:
1. Abertos: Regulam a entrada e saída de informação através da
fronteira do sistema. Está sujeito a alterações que podem surgir das
características da fronteira - Mudança e evolução;
2. Fechados: Não há interação com o ambiente circundante (Ex.: reação
química ou física num recipiente fechado).
A hierarquia sistémica divide-se em: suprassistema, sistema e subsistema.
Quais são as características dos limites e fronteiras dos sistemas?
1. Permeabilidade (Semipermeáveis ou altamente permeáveis) - Por
este meio mantém a integridade do sistema e a sua separação do
meio envolvente.
Qual é a importância dos limites e fronteiras dos sistemas?
1. Separar do meio circundante;
2. Distinguir os sistemas de outros;
3. Determinar o tipo de relação;
4. Determinar qualidade e quantidade de informação.
Quais são as propriedades/características dos sistemas?
1. Totalidade (não somatividade) - Uma totalidade ou uma estrutura
requerem explicações para a sua existência que vão além das partes
isoladamente e além do somatório de partes. A vida da família é algo
mais do que a soma das vidas individuais dos seus membros;
2. Finalidade e equifinalidade – Finalidade: Qualquer sistema persegue
um objetivo ou uma finalidade própria;

- Equifinalidade: Processo através do qual um sistema aberto mantém


o mesmo estado de estabilidade com “inputs” diferentes; um mesmo fim
pode ser alcançado a partir de condições iniciais diferentes. O que é
determinante não são as condições iniciais, mas sim os parâmetros de
organização do sistema. Permite: Perceber as famílias que tendem a utilizar
métodos fixos de funcionamento, independentemente do que acontece à
sua volta ou da informação ou estimulação que vem de fora; relativizar a
noção de risco e dar particular realce à noção de resiliência individual e
familiar.

3. Autorregulação - Capacidade que o sistema tem de se modificar em


função dos mecanismos de feedback provenientes do seu meio
interno ou externo. É a tendência para encontrar o equilíbrio;
4. Circularidade (causalidade circular) - É o processo pelo qual um
mecanismo A é causa de B e B afeta realmente A. Os acontecimentos
relacionam-se por anéis de interação e influenciam-se mutuamente de
forma complexa, sendo que cada um é simultaneamente causa e

efeito do outro: A B
Assim: O problema reside na família como um todo. Está em curso um
processo circular e é o sistema que deve ser tratado, não uma determinada
pessoa, nem mesmo qualquer das interações diádicas.
1. No entanto, no sistema familiar: Um dos membros da família, pode
ser designado inconscientemente pelos outros para assumir o sinal da
patologia que afeta todo o grupo familiar.
2. Existe um processo disfuncional na família - A disfunção familiar pode
resultar de falhas na regulação e funcionamento ou na comunicação.

Cibernética (Weiner & Foerster, 1948)

Estuda mecanismos de controlo das máquinas;


Aborda conceitos como a regulação, funcionamento e, mudança e evolução
do sistema familiar normal e disfuncional;
Feedback - A perspetiva sistémica considera os processos de feedback como
processos através dos quais se dá a mudança no sistema familiar. O feedback
pode ser positivo ou negativo.
1. Feedback negativo: Permite de forma autocorretiva manter o sistema
estável > Corrige os efeitos dos fatores internos ou externos ao
sistema, que poderiam modificar o seu equilíbrio; introduz no
funcionamento do sistema a noção de mudança quantitativa
(mudança de 1ª ordem) impossibilitando o crescimento/mudança, ou
seja, permite o regresso ao estado anterior, isto é, sem alteração.
2. Feedback positivo: Verifica-se uma ampliação do desvio relativamente
ao ponto de partida; introduz no funcionamento do sistema a noção
de mudança qualitativa (mudança de 2ª ordem) possibilitando-lhe o
crescimento e a criatividade, ou seja, permite atingir um nível superior
de complexidade.
3. Nas famílias existem períodos de regulação por feedback negativo ou
por feedback positivo. A utilização que o sistema familiar deles faz é
que os qualifica como úteis ou inúteis para os objetivos da família.
Homeostase - Tendência dos organismos para o equilíbrio por meio de
mecanismos de autorregulação. A ideia foi adotada com o objetivo de
compreender os processos fixos e disfuncionais de muitas famílias que os
terapeutas observavam. Importante realçar que estabilidade (constância)
não é sinónimo de imobilidade (fixo).
Cibernética de 1ª ordem - O sistema observado era visto como separado do
observador e os estudos centravam-se na regulação do sistema, ou seja, na
manutenção da sua homeostase.
Cibernética de 2ª ordem - Inclui-se o papel do observador na construção da
realidade da observação em curso. Neste contexto, os conceitos de
autonomização, autonomia e individualidade dos sistemas sobrepõem-se aos
de homeostase, morfostase e morfogénese.
Mudança e evolução dos sistemas - A mudança é um dos conceitos
fundamentais para perceber a família numa perspetiva sistémica; A família
está sujeita a mudanças permanentes mais ou menos acentuadas e
causadoras de stress, mas que lhe permitem a necessária evolução na
continuidade; isto significa que a família vai-se transformando apesar de se
manter família.
1. Estabilidade (constância) Ambas são permanentes na família
2. Mudança
Mudança de 1ª ordem – Feedback negativo
1. Teoria dos grupos (Watzlawick & Col, 1975) - mudança produzida no
interior dos sistemas sem que os mesmos se transformem - Mudança
quantitativa (mudança de 1ª ordem), afeta algumas relações entre os
elementos do sistema.
Mudança de 2ª ordem – Feedback positivo

2. Teoria dos tipos lógicos de Russel - mudança que modifica o sistema –


Mudança qualitativa (mudança de 2ª ordem), implica alterações
inequívocas nas regras básicas e na estrutura do sistema.
3. As Mudanças de 2ª ordem são inevitáveis na passagem das diferentes
etapas do ciclo de vida da família ou em situações de crise acidental.
4. Não existe uma relação de causa e efeito entre o tipo de mudança e
o seu valor.
Há momentos em que a família tem de realizar mudanças de 2ª ordem para
garantir a sua evolução e sobrevivência e, realizar mudanças de 1ª ordem é
ineficaz e o sistema arrisca-se a degradar-se.
Noutras situações, o sistema familiar deve realizar apenas mudanças de 1ª
ordem porque desenvolver mudanças de 2ª ordem conduziria a sua
degradação.
Crise (Mudança) - Os momentos de mudança correspondem às chamadas
crises que apesar de implicarem grande stress não têm a ver com o carácter
agradável ou desagradável nem com a carga afetiva negativa de
determinada situação ou etapa da vida.
1. As crises têm a ver com exigências de mudança que podem ser
internas ou externas.
2. A crise comporta um aspeto paradoxal. De acordo com Minuchin
(1974), a crise é ocasião de evolução e risco de disfuncionamento.
3. A resolução da crise processa-se na mudança contínua (no presente)
através duma continuidade entre a estrutura passada e a que se
encontra em vias de elaboração.

Qual é o papel do terapeuta na crise (mudança) no sistema familiar?


O terapeuta é agente ativador da mudança utilizando as perturbações para
atingir nova estabilidade.

Pragmática da Comunicação Humana (Watzlawick, Beavin & Jackson, 1993)

Todo o comportamento em interação é comunicação;


Interação pode ser definida como um conjunto de mensagens trocadas entre
pessoas;
Comunicação refere-se a todo e qualquer comportamento verbal, não verbal
e para verbal.
Três dimensões da comunicação humana:
1. Sintaxe - Compreende as regras gramaticais da linguagem;
2. Semântica - Preocupa-se com o significado das palavras, trata dos
princípios que presidem à relação entre as palavras ou frases, e o seu
significado, a clareza da linguagem e a sua utilização em
determinadas situações.
3. Pragmática - Estuda os efeitos da comunicação no comportamento.
Estes efeitos estão relacionados com o comportamento não verbal
dos implicados, o contexto da comunicação e o conteúdo semântico
do que é dito.

Axiomas da pragmática da comunicação humana > Representam regras básicas da


comunicação

Axioma - Verdade inquestionável, universalmente válida, muitas vezes


utilizada como princípio na construção de uma teoria ou como base para
uma argumentação; A palavra axioma deriva da palavra grega axios, que
significa: digno ou válido; em muitos contextos, axioma é sinónimo de
postulado, lei ou princípio.
1. É impossível não comunicar - A não comunicação é algo que não
existe. As comunicações excedem aquilo que é dito, compreendendo
postura, gestos, tom de voz e também contexto. A comunicação é
tudo o que é verbal e não verbal, incluindo mesmo comportamentos.
2. Toda a comunicação tem dois níveis: Conteúdo e Relação - As
comunicações não se limitam a veicular informações, elas também
definem a relação entre os que comunicam. Assim, a comunicação
entre duas pessoas tem a capacidade de nos transmitir o tipo de
relação que elas têm.
3. A natureza de uma relação está na contingência da pontuação das
sequências comunicacionais - A forma como a sequência de
acontecimentos é percecionada, depende da forma como é pontuada
a sequência de comportamentos. Numa situação de conflito, cada um
pode considerar que o outro é causa de conflito, ou seja, num
conflito/situação entre duas pessoas a comunicação pode evidenciar
dois pontos de vista contraditórios.
4. Comunicação digital e analógica - Na Comunicação digital as
mensagens são codificadas em palavras ditas ou escritas. A
Comunicação analógica é não verbal, é mediada pelo gesto, posturas
do corpo e dos membros, expressão tom de voz, sequência, ritmo e
cadência das próprias palavras. Por vezes, a comunicação digital é
contrária à comunicação analógica, e por vezes é complementar.
5. Interação simétrica/Complementar - Todas as permutas
comunicacionais ou são simétricas ou são complementares. Qualquer
relação entre duas pessoas ou entre dois grupos pessoas terá
diversos graus de simetria ou complementaridade. A interação
simétrica implica que os participantes estejam em pé de igualdade. A
interação complementar ocorre numa base de desigualdade.

A comunicação

Comunicação funcional: Caracteriza-se pela clareza, como pela presença


alternada da simetria e complementaridade no contexto da interação. A
presença alternada destes dois padrões de comunicação caracteriza os
relacionamentos saudáveis.
Comunicação patológica: Distorção dos modelos de comunicação simétrica e
comunicação complementar. A distorção de cada um destes modelos de
comunicação pode conduzir a uma comunicação patológica.
Comunicação paradoxal: Forma de comunicação patológica. Um paradoxo é
uma contradição que se segue a uma dedução correta a partir de premissas
consistentes, ou uma mensagem cuja estrutura comporta uma contradição
tal que comunica ao mesmo tempo dois conteúdos incompatíveis. Por

exemplo, se eu disser “Estou a mentir”. Existem 3 tipos de paradoxos:


1. Lógico-matemáticos ou (antinomias)
2. Definições Paradoxais ou (antinomias Semânticas)
3. Paradoxos pragmáticos > Têm influência no comportamento da
pessoa e dividem-se em:
a. Injunção paradoxal: Refere-se a uma ordem que contém em si
própria uma contradição tal que aquele a quem a mesma se
dirige não lhe pode responder satisfatoriamente. O paradoxo
reside no facto desta ordem dada no quadro de uma relação
complementar exigir uma relação de simetria. Estamos em
presença de uma injunção paradoxal quando: Existe uma forte
relação complementar entre os parceiros; no âmbito relação
complementar é dada uma ordem que deve ser obedecida,
mas para que seja obedecida a anterior (relação
complementar rígida) deve ser “desobedecida”; a pessoa que
se encontra na posição “one-down” é incapaz de sair do
quadro da relação e de resolver o paradoxo comunicado.
b. Previsão paradoxal - Consiste em fazer uma previsão que não
se pode realizar, mas que abre uma brecha na interação,
ameaçando o desenvolvimento da relação.
4. Comunicações paradoxais múltiplas - Verifica-se um desacordo a nível
digital e analógico que criam situações de “double-bind” ou duplo
constrangimento. O double-bind” ou duplo constrangimento é uma
situação comunicacional em que são emitidas mensagens
contraditórias que deixam o seu recetor na impossibilidade de
responder a qualquer uma delas de modo satisfatório. É necessária a
presença de uma terceira pessoa para que se introduza a
possibilidade de quebrar o ciclo vicioso que se criou.
A comunicação ainda pode ser:
1. Suficiente ou insuficiente;
2. Clara ou mascarada;
3. Direta ou indireta
Alguns relacionamentos encontram dificuldades porque a informação
passada é escassa ou porque as mensagens são confusas, distorcidas, com
erros de tradução ou com discrepâncias na pontuação.
Distorção dos modelos de comunicação simétrica e de comunicação
complementar dão origem à:
1. Escalada simétrica (rigidificação da relação simétrica) - caracterizada
por uma competição desenfreada entre os intervenientes da
comunicação (comunicação simétrica) que leva ao surgimento da
chamada escalada simétrica.
2. Complementaridade rígida (Rigidificação da relação complementar) -
caracterizada pela predominância da negação do outro na relação
(desqualificação). Ex.: Competente/incompetente; opressor/oprimido

A metacomunicação

Metacomunicação é a comunicação a propósito da própria interação e pode


efetuar-se por outros meios que não a troca verbal;
Quando a metacomunicação já não pode ser assegurada, segue-se uma
perturbação da comunicação;
Quais são as funções da metacomunicação?
1. Facilita as trocas de informação (comunicação); dirige a
reflexão sobre a definição dos objetivos, das propostas, de
métodos, assim como ajuda na elaboração de sínteses
parciais;
2. Permite regular as trocas comunicacionais, clarificando não os
aspetos funcionais (a tarefa eventual a desempenhar), mas os
aspetos relacionais da própria comunicação, como por
exemplo, os silêncios, as tensões, as conotações, as tomadas
de palavra, etc.

Eixo sincrónico (Espaço da família)

Tem a ver com normas e padrões de interação que caracterizam


determinada família;
Revela-se na estrutura da família e nas relações que lhe conferem
configurações particulares.
Nas relações familiares criam-se e desenvolvem-se normas e padrões de
interação que se estabelecem em cada etapa da vida familiar e conferem
configurações particulares, caracterizam determinada família e permitem
manter a sua identidade básica.

Características comunicacionais na dimensão de espaço da família

A comunicação explica, as “nuances” estruturais da família através das


noções de disfuncionalidade da comunicação que têm a ver com:
1. Perturbações dos níveis de comunicação entre conteúdo e relação;
2. Erros de tradução na descodificação da mensagem (digital e
analógica);
3. Pontuação discordante das sequências dos factos;
4. Escalada simétrica;
5. Complementaridade rígida;
6. Impossibilidade de metacomunicar.

Características da estrutura na dimensão de espaço da família

Distribuição e organização hierárquica do sistema familiar


Os sistemas e subsistemas familiares são criados por interações particulares que
têm a ver com:

1. Os indivíduos nelas envolvidos;


2. Os papéis desempenhados e estatutos ocupados;
3. As finalidades e os objetivos comuns;
4. As normas transacionais que se vão progressivamente construindo e
que regulam trocas afetivas, cognitivas e comportamentais dos
diferentes membros.
a. Regras universais de organização da família (hierarquia de
poder e autoridade na relação pais-filhos; complementaridade
entre marido e mulher)
b. Expectativas específicas de cada família
Estrutura da família (relação entre os elementos dos subsistemas) e Regras
transacionais (alianças ou coligações e triangulações) – Consiste no modo
como se organizam os subsistemas na família, o tipo de relações que se
desenvolvem entre eles e no interior de cada um.

Distinguem-se na família, fundamentalmente, quatro subsistemas:

1. Subsistema individual - Constituído pelo indivíduo, que desempenha


noutros sistemas funções e papéis que interagem com o seu
desenvolvimento pessoal e, consequentemente, com o seu
posicionamento familiar.
2. Subsistema conjugal - Composto por marido e mulher. Torna-se
funcional através de um relacionamento complementar e adaptação
recíproca. Funções: Gerir as fronteiras de modo que o casal esteja
protegido da intrusão de outros elementos; servir, para os filhos, de
modelo relacional para o estabelecimento de futuras relações.
3. Subsistema parental - Na maior parte das vezes é constituído pelos
pais. Pode variar na sua composição, podendo incluir os avós, uma tia,
um tio ou um irmão/ irmã mais velho/a > Os pais podem não fazer
parte desta estrutura! Funções: Funções executivas - tem a seu cargo
a proteção e a educação das gerações mais novas; O contexto da
interação (pai/mãe – filho/a) permite: Aprender o sentido da
autoridade, a forma de negociar e de lidar com o conflito na relação
vertical; desenvolver o sentimento de filiação e de pertença.
4. Subsistema Fraternal - Constituído pelos irmãos. Funções: Aprender
estratégias de negociação no contexto das relações entre iguais; A
socialização e experimentação de papeis face ao mundo extrafamiliar
(escola, amigos, e o mundo do trabalho); Aprender a atuar como
companheiros e protetores mútuos o que estimula a conduta pro-
social; Ajudar e equilibrar as relações dos pais com cada filho; Ajuda a
transformar modelos educativos rígidos em outros mais adequados,
bem como ajuda a encontrar formas de organização mais estáveis em
famílias pouco estruturadas ou excessivamente permissivas;
Contribui para um melhor desenvolvimento emocional > Nas relações
entre irmãos são experimentados o ciúme e a cooperação, a rejeição
e a aceitação, o amor e o ódio, em contexto controlado pelos pais o
que dá segurança à criança.

Aliança - Ligação forte entre duas ou mais pessoas que partilham os mesmos
objetivos ou interesses de modo a adotar as mesmas atitudes e os mesmos
comportamentos.

Triangulação - Na família quando a aliança se forma contra alguém e, quando a


mesma ultrapassa a barreira intergeracional configuram-se os triângulos perversos
que perturbam funcionamento hierárquico

1. Triangulação perversa - Este triângulo envolve três pessoas, duas das quais
pertencem a níveis hierárquicos diferentes que estão coligadas contra uma
terceira. Esta surge como a expansão de um conflito entre dois elementos
para um terceiro elemento. A ligação de um dos elementos do conflito com o
indivíduo triangulado é ocultada ou negada por ambos.
2. Triangulação rígida - Configuração relacional de três elementos em que o
indivíduo triangulado é utilizado pela díade de forma rígida, no sentido de
desviar o conflito existente.
Fronteiras ou limites (Minuchin, 1979)
1. Limites claros - Delimitam o espaço e as funções de cada membro ou
subsistema, permitindo a troca de influências entre os mesmos.
2. Limites difusos - Não há uma delimitação clara dos subsistemas, são
marcados por uma enorme permeabilidade, ou seja, existe uma
grande troca de informação e influência de forma não saudável e
excessiva.
3. Limites rígidos - Dificultam a comunicação e a compreensão
recíprocas, porque têm falta de comunicação e troca de informação
entre si, existe uma espécie de distanciamento.

A partir dos limites existentes, identificamos dois tipos de famílias:

1. Famílias emaranhadas - São dominadas por movimentos centrípetos


(movimentos para o centro, para dentro) e pelo mito da unidade familiar;
desenvolvem um microcosmo próprio, fechando-se sobre si mesmas.
a. Nível de trocas e preocupações entre os elementos exagerado;
b. Distâncias interpessoais reduzidas;
c. Fronteiras difusas entre subsistemas e indivíduos;
d. Fronteiras rígidas com o exterior;
e. Papéis familiares rígidos e um dos pais é colocado na posição “one-
down”.
2. Famílias desmembradas - São dominadas por movimentos centrífugos (para
o exterior); as fronteiras são rígidas no seu interior e difusas com o exterior.
a. Dificuldades nas trocas comunicacionais entre os subsistemas;
b. Diminuição das funções de proteção à família;
c. Funcionamento individualista por parte dos seus membros (cut-off
emocional);
d. Instabilidade dos papéis parentais, apesar da sua rigidez;
e. Tolerância sobre a grande diversidade de variações individuais nos
seus membros.

Quais são as consequências da indiferenciação familiar? (não existe a distinção


entre os subsistemas individuais, no sentido em que não se percebe as diferenças
de papeis estabelecidas) – Famílias emaranhadas.
Diminuição das capacidades de adaptação;
Todas as solicitações de autonomia são rejeitadas e vistas como falta de
lealdade para com o sistema familiar;
O sofrimento de um dos membros tem repercussões imediatas no
comportamento dos restantes;
Dificuldades no processo de separação-individuação.

Quais são as consequências do desmembramento familiar? – Famílias


desmembradas.

Socialização inadequada da nova geração;


Agressividade e comportamentos antissociais dos filhos;
O sofrimento de um dos membros dificilmente é sentido pelos outros;
Apenas procuram ajuda em situações extremas.

Notas: É possível encontrar numa família funcional períodos de maior


emaranhamento (Ex.: formação de casal e família com filhos pequenos) ou maior
desmembramento (Ex.: família com filhos adolescentes ou saída dos filhos de casa).
O maior ou menor emaranhamento e o maior ou menor desmembramento
adaptam-se à etapa do ciclo vital em que a família se encontra.

Eixo diacrónico (Tempo da família)

Revela-se na história familiar;


Revela-se na organização da família, englobando a família de origem e a
família extensa;
Revela-se na família nuclear, assim como, o conjunto de relações
estabelecidas entre estes diferentes elementos.

Avalia-se na vertente histórica do sistema familiar onde são aspetos importantes:

Os mitos;
As lealdades;
Os acontecimentos relevantes da existência da família (acidentes, doenças
graves…);
A fusão/diferenciação do self;
A ligação emocional não resolvida e o cut-off.

Os processos, anteriormente referidos, estão sujeitos à projeção e à transmissão


transgeracional e ajudam a compreender o desenvolvimento (perturbado ou não)
da família.

Tempo familiar ou tempo processual - É o tempo relacionado com diversos


momentos estruturais que, progressivamente, se vão articulando na família,
momentos em que se jogam diferentes papeis e posicionamentos, bem como
diferentes proeminências desses mesmos papeis.

Diz respeito à progressão da família e a toda à sua história;


Expressa-se no quotidiano e no ritmo dos dias e das fases de evolução pelas
quais cada família vai passando;
Permite a articulação e o reenquadramento do ciclo vital de cada família.

Evolução da família (Mudança na continuidade)

Na família como em qualquer outro sistema vivo (sistema aberto) a mudança


é permanente e, é uma mudança na estabilidade ou na continuidade.
Na família, os momentos de mudança correspondem ao início dos estádios
do ciclo vital ou aos chamados marcadores do ciclo vital e, implicam uma
mudança qualitativa (mudança de tipo 2).
Os momentos de mudança qualitativa ou mudança de tipo 2 correspondem
também às chamadas crises, pois implicam grande stress na vida familiar e
coincidem com uma maior probabilidade de disfuncionamento na família .

Minuchin (1977) – Uma crise comporta uma ocasião de mudança e risco de


patologia/funcionamento.

A crise comporta uma dimensão de imprevisibilidade e exige a


transformação do modelo de relações no interior do sistema e não a
reparação ou substituição de um defeito.
A transformação tem de ser coerente com a nova fase da história familiar.
As crises associadas aos momentos de transição do ciclo vital são esperadas
ou normativas.

Existem acontecimentos que se podem transformar em crises com todas as suas


implicações: Invalidez de um dos membros, falecimento, desemprego do pai ou da
mãe e/ou uma profunda alteração política ou social.

Assim: A crise pode ter a ver com exigências de mudança interna ou de mudança
externa ao sistema.

1. Crise normativa – Crise esperada e ligada ao ciclo vital da família, ou seja,


inerente às transformações das etapas do ciclo vital da família;
2. Crise não normativa – Crise não esperada ligada a um acontecimento
negativo e não esperado na família.

O que é o ciclo vital da família? - Representa-se por uma classificação em estádios


que demarcam a sequência previsível de transformações, diferenciando fases ou
etapas (crises ou mudanças normativas) que a família(nuclear) percorre desde que
nasce até que “morre”.

Existem vários modelos de classificação de estádios do ciclo vital da família.


Todos esses modelos têm como referência a família nuclear tradicional e são
consensuais nos seguintes critérios de diferenciação das diferentes etapas:
1. Aparecimento de novos elementos, ligado à formação de novos
subsistemas;
2. Tarefas de desenvolvimento a realizar;
3. Mudanças funcionais e estruturais a operar;
4. Saída dos elementos do núcleo familiar.
Os estádios do desenvolvimento vital da família começaram por ser 8
(Duvall, anos 50 do séc. XX);
Depois passam a ser 5 estádios (Hill & Rogers, 1964)
O ciclo vital da família passa a ser descrito num ponto de vista sistémico
multigeracional (Carter & MacGoldrick, 1982);

Etapas do ciclo vital da família


1. Formação do casal – Fenómeno diferente para os homens e para as
mulheres; A ausência de rendimento mensal estável, o excesso de
trabalho, a dificuldade em atender às necessidades emocionais tem
levado a redução de casamentos; um elevado estatuto da mulher está
positivamente correlacionado com a instabilidade conjugal e
insatisfação conjugal dos maridos. Possíveis dificuldades nesta fase:
Dificuldade em estabelecer ligações adequadas com os sistemas
alargados; Incapacidade em modificar o estatuto familiar,
normalmente, indicada por fronteiras deficientes permitindo a
intrusão de elementos na família (Ex.: relações extraconjugais);
Afastamento do novo casal fechando-se num grupo de duas pessoas.
2. Família com filhos pequenos – Exige uma mudança dos pais para os
papeis parentais, assumindo assim uma relação parental entre
ambos. Esta é a fase do ciclo vital que possui o maior nível de
divórcios. Possíveis dificuldades nesta fase: Discussões sobre
responsabilidades a assumir; Recusa ou incapacidade em comportar-
se como pais com os seus filhos; Incapacidade em colocar limites e
exercer a autoridade necessária; Impaciência relativamente a
expressividade dos filhos ligada ao desenvolvimento; Não aceitação
da fronteira geracional pais-filhos (subsistema parental/subsistema
filial); Dificuldades com as responsabilidades e cuidados domésticos.

Nota: Quando os problemas são centrados na criança deve-se ajudar os pais a


identificar as suas responsabilidades e tarefas específicas relacionadas com esse
estádio do ciclo de vida familiar. Na maioria dos casos, quando as soluções não são
adequadas, os filhos podem ser negligenciados.

3. Família com filhos na escola – A família deve continuar a prestar


cuidados de modo a satisfazer necessidades físicas e afetivas de cada
um dos seus membros. Nesta fase a família passa o 1º primeiro grande
teste à sua capacidade relativamente ao cumprimento da função
externa: Isto porque é posta a prova a imagem da família, a
performance na criança e a competência para conviver com adultos e
com os iguais > A escola surge como complemento do papel
educativo da família e, ao mesmo tempo é instrumento social de
avaliação do desempenho das funções das famílias (de modo não

explicito): Os pais têm de aceitar a criação de um novo triângulo


relacional; Têm de aceitar que a criança passe a submeter-se a
autoridade do/a professor/a; Têm de aceitar que o sistema seja
confrontado com a abertura de fronteiras ao exterior por isso, é
importante que o sistema saiba distinguir os seus próprios limites sem
se deixar invadir e descaracterizar pelo que vem de fora; Têm de
aceitar que padrões comportamentais e sociais valorizados em casa
sejam modificados significativamente pelas experiências e vivências
escolares a que a criança está sujeita.
a. Testa-se o grau de individuação da criança conseguido no
interior da família;
b. Ajusta-se uma nova zona de autonomia da criança (Reajustes
nas normas e vivências quotidianas e de espaço, reajustes
nos horários, apoio aos estudos, novo estatuto);
c. Permite-se que o afastamento físico facilite a implementação
do distanciamento emocional apoiado em novas ligações
com outros adultos.
4. Família com filhos adolescentes – A adolescência é facilmente
identificada com uma imagem de rebeldia e rejeição dos valores
instituídos, associados a um conjunto de experiências negativas. As
mudanças que ocorrem assinalam uma nova posição dos filhos
dentro das famílias e dos papéis dos pais em relação aos seus filhos.
Há a necessidade de determinar o novo equilíbrio entre o individual, o
familiar e o social. Devem estabelecer-se fronteiras qualitativamente
diferentes das estabelecidas em famílias com filhos pequenos. As
fronteiras devem ser mais permeáveis. Contudo, o estabelecimento
de fronteiras é dificultado pela ausência de rituais que facilitem essa
transição > Abertura da família para novos valores e novos ideais (ex.:
quando os filhos trazem os seus amigos); ajudar os filhos até aí
dependentes a prepararem se para uma maior autonomia, para
assumir papéis adultos de carácter social, relacional, afetivo e laboral.
O sentimento misto de abandono e tarefa concluída (pelos pais) é
agravado por fontes de stress complementares desta fase, a crise da

meia-idade. Possíveis dificuldades nesta fase: As famílias que se


desorientam neste estádio podem estar muito fechadas a novos
valores e sentem-se ameaçadas por eles (má gestão das fronteiras
com o exterior); com frequência estão fixadas numa visão anterior
dos seus filhos; Tentam controlar todos os aspetos da vida dos filhos,
o que leva os adolescentes a se retraírem nos movimentos
apropriados a esse estádio; Os pais ficam frustrados com aquilo que
percebem da sua própria impotência. Nesta fase é importante que os
pais tenham: a capacidade de aceitar as coisas que não podem
mudar, a força para mudar as coisas que podem mudar, e a sabedoria
para perceberem a diferença entre o que podem mudar e o que não
podem mudar.
5. Família com filhos adultos - Nesta fase ocorre o maior número de
entradas e saídas de membros da família. Inicia-se com o lançamento
dos filhos adultos e continua com a entrada destes com os cônjuges e
filhos. Reestrutura-se a relação conjugal uma vez que não são mais
necessárias as responsabilidades parentais. Possíveis dificuldades
nesta fase: As dificuldades da transição podem levar as famílias a
agarrarem-se aos filhos ou a desenvolver sentimentos paternos de
vazio e depressão, principalmente nas mulheres que centram as suas
principais energias nos filhos; é um período particularmente difícil
para aqueles que têm de lidar com responsabilidades como
cuidadores.

Que críticas são feitas às etapas do ciclo vital da família?

Discrepâncias existentes ao nível do número e marcadores das etapas;


As classificações dizem respeito à família típica de classe média, de
preferência família nuclear intacta;
Não contemplam um conjunto de variantes que hoje são importantes em
termos de análise da família (as famílias reconstituídas, monoparentais, sem
filhos, adotivas e as famílias homossexuais) > A duração ou presença das
diferentes etapas nestes contextos familiares pode alterar em função de
alguns destes fatores.
A realidade mostra que as etapas do ciclo vital não aparecem bem
identificadas como nas classificações (umas a seguir às outras); na realidade,
encontramos em muitas famílias estádios sobrepostos e como consequência
diferentes níveis de desenvolvimento na mesma família.

Qual é a importância da conceptualização do ciclo vital da família?

A intervenção vai no sentido de devolver à família a capacidade de retomar o


seu processo normal de desenvolvimento;
Permite avaliar, não só os problemas e dificuldades da família, mas também
as suas forças/potencialidades e recursos;
É importante tanto em termos da análise do caso como, da compreensão
global da intervenção e da terapia (Ex.: não vamos tratar um jovem casal da
mesma forma que tratamos um casal com vinte anos de casamento).

Funções e tarefas da família (Coparentalidade e parentalidade)

A coparentalidade, enquanto constructo psicológico, esteve inicialmente


associada ao estudo das relações familiares após o divórcio, passando a ser
estudada em famílias nucleares na década de 90.

O que é a coparentalidade?

A coparentalidade é uma dimensão característica do subsistema parental,


refere-se ao tipo de relacionamento e entendimento entre os parceiros
responsáveis pela educação de uma criança;
É o empreendimento realizado por dois adultos que trabalham em conjunto
para criar uma criança por quem partilham responsabilidade;
É através da relação de coparentalidade que os pais podem negociar os seus
papeis, responsabilidades e cuidados prestados à criança.
É um conceito triádico (inclui a tríade mãe – pai - filho). Transcende as
relações diádicas de pai-filho e mãe-filho.
A coparentalidade pode surgir na forma como os pais falam sobre o outro à
criança, quando os pais se encontram ambos, na presença da criança ou
quando apenas uma das figuras parentais se encontra sozinha com a criança:
1. Coparentalidade explícita: Presença de pai – mãe - criança (Forma
triádica);
2. Coparentalidade oculta ou velada: Presença de uma das figuras
parentais e a criança (Forma diádica).
McHale (1997) identificou 5 fatores que permitem caracterizar a
coparentalidade:
1. Integridade familiar - Comportamentos parentais que visam a
promoção da unidade familiar;
2. Afeto - Comportamento de afeto testemunhado entre as figuras
parentais e a criança;
3. Conflito - Desacordos manifestados perante a criança;
a. Abertos - Os pais discutem e desqualificam-se um ao outro
perante a criança;
b. Ocultos - Os comportamentos de uma das figuras parentais,
com o objetivo de denegrir a imagem que a criança tem da
outra figura parental, ocorrem na ausência deste.

Nota: Este comportamento dos pais é um veículo de mensagens fortes às crianças


sobre a natureza e integridade da aliança coparental: Fornece às crianças motivos
para se sentirem seguras ou, pelo contrário, para se sentirem inseguras e
preocupadas.

4. Difamação - Comportamentos de uma das figuras parentais com o


objetivo de denegrir a imagem que a criança tem da outra figura
parental;
5. Disciplina - comportamentos relacionados com o estabelecimento de
limites e com a obediência da criança.
Coparentalidade marcada por conflitos - Baixa os níveis de harmonia e de
mutualidade e pode influenciar:
1. Severidade de problemas de comportamento;
2. Dificuldades de relacionamento com os pares em crianças no
momento da entrada para a escola;
3. Dificuldades de atenção na sala de aula;
4. Dificuldades na resolução de problemas sociais.
Coparentalidade marcada por divergências significativas entre os pais, ao
nível do investimento da relação com a criança - pode levar ao aumento dos
níveis de ansiedade na criança.
Coparentalidade caracterizada pela cooperação e pelo afeto:
1. Sentimento de segurança na criança;
2. Ajustamento socioemocional da criança.

O que é a parentalidade?

O conceito de parentalidade remete para o contacto direto com a criança


incluindo as responsabilidades e os papeis assumidos;
O exercício da parentalidade tem a ver com o compromisso do pai e/ou da
mãe no desempenho dos seus papéis parentais

Quais são as funções da família no subsistema parental? - A família tem funções


psicossociais de proteger os seus membros e de favorecer a sua adaptação a cultura
a que pertencem.

Oferecer cuidado e proteção às crianças garantindo-lhes subsistência em


condições dignas; isto significa que não devem existir:
a. Maus-tratos físicos ou psicológicos;
b. Falta de cuidado e de afeto;
c. Negligência;
d. Ausência de disciplina
Contribuir para a socialização das crianças relativamente aos valores
socialmente constituídos. Através de estratégias disciplinares específicas,
chamadas de práticas educativas, os pais realizam a socialização dos seus
filhos, isto é, promovem comportamentos social e moralmente desejáveis e
buscam eliminar ou reduzir comportamentos menos desejáveis ou
inadequados. Nestas situações, os pais podem utilizar dois tipos de
estratégias:
a. Coercivas – associadas a problemas de comportamento,
problemas de externalização e internalização.
b. Indutivas – associadas a competência social, cooperação e
assertividade.
Dar suporte ao desenvolvimento das crianças, verificar e ajudá-las no seu
processo de escolarização e de instrução progressiva noutros contextos e
instituições sociais;
Prestar ajuda e suporte emocional, permitir o estabelecimento de vínculos
afetivos satisfatórios e respeitosos com os outros, baseados no respeito
mútuo e no afeto.
a. O conceito de afetividade é utilizado para caracterizar o
conjunto de vivências, de sentimentos e de emoções;
b. A afetividade é o fundamento da nossa personalidade é ela
que dá aos nossos atos e ao nosso pensamento a razão de ser;
c. A afetividade liga-nos aos outros e permite o nosso
relacionamento e a nossa interação com os outros.
d. As primeiras relações que o indivíduo estabelece são
efetuadas no contexto familiar, onde o indivíduo constrói
primordialmente uma relação privilegiada com a mãe
(experiência determinante no desenvolvimento do indivíduo)
– Vinculação.

O pai e a mãe no exercício da coparentalidade e da parentalidade desempenham


estas funções.

Práticas e estilos educativos

Os estilos educativos parentais envolvem dimensões da cultura familiar


como a dinâmica da comunicação familiar, do apoio emocional e de controle
presentes nas interações pais – filhos;
Os estilos parentais envolvem também crenças, valores e aspetos relativos à
hierarquia das funções e papéis familiares, expressos no exercício da
disciplina na autoridade e tomada de decisões;
No sistema familiar, a socialização das gerações mais novas implica a
assunção de práticas educativas que integram duas dimensões da interação
pais-filhos:
1. Exigência de comportamento maduro (Controlo);
2. Capacidade para responder às necessidades dos filhos (Suporte;
responsividade).
Baumrind (1968) identificou 4 estilos educativos parentais:
1. Autoritário;

a. Ênfase na prevenção de comportamentos inaceitáveis do


ponto de vista dos pais;
b. Rigidez, controlo, punição e violência na imposição do
respeito pela autoridade parental;
c. Não permitem ao filho expressar os seus pontos de vista
em questão ligados ao comportamento;
d. Forçam e menosprezam as opiniões e sentimentos dos
filhos;
e. Clima afetivo frio e distante.

Consequências para o filho:

a. Sente-se altamente pressionado;


b. Apresenta competência social diminuída;
c. Apresenta baixos níveis de autoestima;
d. Apresenta baixos níveis de motivação para a realização;
e. Adota atitudes de submissão, dependência e de pouca
responsabilidade;
f. Os seus objetivos são pouco claros;
g. Adota sem questionar os valores dos pais;
h. Apresenta sinais de obediência e espera regras rígidas.
2. Negligente;
a. Os pais são consistentemente inconsistentes;
b. Não existem regras claras que regulem o comportamento
dos filhos;
c. A lógica da punição ou da exigência é desconhecida pelos
filhos;
d. A expressão do afeto e o exercício da autoridade
dependem essencialmente do acaso ou do humor dos pais.

Consequências para o filho:

a. Não aprende a controlar os seus impulsos;


b. Não desenvolve comportamentos socialmente
apropriados;
c. Por vezes a expressão da sua ira faz-se através de agressão
antissocial direta.
3. Permissivo;
a. Os pais são pouco exigentes;
b. As práticas disciplinadoras quando existem são
inconsistentes e imprevisíveis e apenas utilizadas em
último recurso;
c. Os desejos da criança são prioritários, os pais preocupam-
se com o amor, com a felicidade e com a não perturbação
do bem-estar.

Consequências para o filho:

a. Autoconfiante e independente, egoísta, menos


responsável, menos orientado para a realização, baixo
nível de autossuficiência;
b. Dificuldade em dar orientações claras que estejam de
acordo com a sua idade e com as suas experiências;
c. Espera que os limites sejam negociáveis e que as leis sejam
relativistas;
d. Cria um ambiente favoravelmente negligente.
4. Apoiante ou autorizado

a. Existem expectativas e limites claros quanto ao


comportamento dos filhos;
b. Oferecem orientação através do uso da razão e de regras;
c. Punem e recompensam os filhos de acordo com o seu
comportamento;
d. Os pais assumem a sua responsabilidade enquanto figuras
de autoridade, mas estão sensíveis às necessidades e
interesses dos filhos.
e. Ao adolescente é dada a possibilidade de desacordo como
também de assumir as responsabilidades pelos
comportamentos e decisões que tomar;
f. É encorajada a autonomia;
g. O ambiente afetivo é caloroso e de aceitação;
h. A atitude dos pais demonstra interesse > O amor é
incondicional.

Consequências para o filho:

a. Apresenta um elevado grau de autoconfiança, auto-


controlo, curiosidade e satisfação;
b. Está mais orientado para a realização é responsável em
termos sociais;
c. Espera uma certa independência;
d. Há uma satisfação com a vida familiar porque existe uma
comunicação aberta e real com os pais;
e. Existe a confiança de que a família permanecerá unida em
qualquer circunstância.

Nota: Este padrão familiar é mais permeável ao desenvolvimento dos filhos,


integrando as capacidades sociocognitivas crescentes no processo de negociação
de regras e nas próprias decisões familiares; os pais são simultaneamente modelos
do comportamento social responsável e proporcionam oportunidades de
aprendizagem deste tipo de comportamento.
Qual é a importância do uso de regras? – A regra é:

Quadro de referência;
Estrutura tranquilizadora;
Permite saber como agir;
Dá segurança emocional ou afetiva;
Satisfaz uma necessidade básica - a segurança

Características que a regras devem ter

Realista
1. Exigência proporcional a idade
2. As normas não se devem transformar em obsessão, podem ir se
flexibilizando
3. Deve ter em conta as necessidades físicas e afetivas
Centrar-se no essencial
1. Restringida aos princípios fundamentais
Clara e precisa
1. Uma regra demasiado vaga sujeita-se a interpretações diferentes produzindo
confusão e deceção;
2. Indicar detalhadamente o que se pretende, enunciando a regra em termos
de factos observáveis e mensuráveis;
3. Definir com precisão as razões que motivam o estabelecimento da regra.

Qual é a importância da disciplina?

Facilita a tarefa dos pais;


É um ato educativo;
Corresponde a satisfação de necessidades da criança, do adolescente e do
jovem;
Os pais não se devem sentir culpados por exercê-la;
É um ato de amor;

A vinculação / Padrão vinculativo


Vai influenciar as orientações pessoais do indivíduo relativamente ao meio
exterior influenciando, deste modo um relacionamento entre o self (próprio)
e a sociedade, isto é, o modo como o indivíduo vai interagir com o outro e
com as instituições sociais.
A vinculação é desenvolvida no contexto familiar, deste modo, o contexto
familiar é o espaço privilegiado para a elaboração e aprendizagem de
dimensões significativas da interação:
1. Os contactos corporais;
2. A linguagem;
3. A comunicação;
4. As relações interpessoais.

O contexto familiar

É o espaço de vivência de relações afetivas profundas:


1. A afiliação;
2. A fraternidade;
3. O amor;
4. A sexualidade.
Tudo isto é vivido numa trama de emoções e afetos positivos e negativos
que na sua elaboração vão dando corpo ao sentimento de sermos quem
somos e de pertencermos àquela e não a outra família.

O funcionamento familiar

O que é o funcionamento familiar? - É o processo através do qual os membros da


família interagem com vista à:

Definição de objetivos da família e dos seus membros;


Satisfação das suas necessidades básicas (físicas e afetivas);
Tomadas de decisão importantes para a família e seus membros;
Definição e estabelecimento de regras.

Porque é que se avalia o funcionamento familiar?


É uma prática incontornável de qualquer terapeuta familiar/técnico que
intervém com famílias;
Para atender às necessidades da família;
Para desenvolver um plano de intervenção concordante com as
necessidades da família (adequação da intervenção).

O que se avalia no sistema familiar para avaliar o seu funcionamento?

Funcionalidade - Flexibilidade e criatividade da família para evoluir para níveis


mais complexos através das crises (normativas e não normativas). Apesar da
ameaça sentida, com maior ou menor dificuldade, a mudança necessária é
realizada.
Disfuncionalidade - Incapacidade de realizar a mudança necessária devido ao
fechamento excessivo ou a abertura excessiva, que levam ao caos
transacional. Não encontrando o caminho para a mudança surge o
disfuncionamento, que pode cristalizar-se na patologia de um ou mais dos
seus elementos.
Os recursos da família - Forças e capacidades que a família possui para se
adaptar à novas circunstâncias, realizar a mudança necessária e gerir as
dificuldades que podem surgir;
A comunicação na família - Refere-se aos padrões comunicacionais da família;
As dificuldades e fragilidades família - Referem-se às fragilidades existentes

em cada família.

Assim, de que forma é que as famílias se distinguem?

Forma como são capazes de elaborar as crises;


Flexibilidade;
Possibilidade de encontrar o equilíbrio dinâmico entre a abertura vs. fecho
do sistema.

O que se deve ter em consideração ao avaliar?

O impacto dos problemas no funcionamento familiar;


O papel que cada elemento da família tem no apoio à família;
A normalidade de processos fundamentais que ocorrem nas famílias -
Integridade, manutenção e desenvolvimento da unidade familiar na sua
relação com os subsistemas individuais e com os sistemas sociais.

Fleck(1980) considera cinco parâmetros na avaliação do funcionamento familiar

Liderança - Complementaridade dos papeis parentais e o uso do poder dos


pais/métodos de disciplina (práticas educativas parentais);
Fronteiras - As fronteiras entre gerações (entre os subsistemas), abrange as
fronteiras do ego e as fronteiras entre família e comunidade;
Afetividade – A privacidade de cada um, a tolerância dos elementos da
família para com os sentimentos dos outros e a emocionalidade do conjunto
dos membros da família;
Comunicação - Capacidade de resposta de cada elemento da família aos
outros; A congruência das comunicações verbais e não verbais; A clareza da
forma e a sintaxe da conversa entre eles; A natureza do pensamento
abstrato e metafórico dos seus membros;
Desempenho de tarefas/objetivos - Cuidados prestados aos membros da
família; A forma como os filhos dominam o processo de separação na família;
O controlo e a orientação do comportamento; A natureza da relação dos
elementos da família com os seus pares e a orientação que lhes é dada para
tal; As atividades de lazer; A forma como a família lida com as crises; A
adaptação dos seus membros ao deixarem a família de origem.

Famílias funcionais vs. Famílias disfuncionais

Processos de identidade (Afetividade)


1. Individuação vs. Emaranhamento
2. Reciprocidade vs. Isolamento
Mudança (Desempenho de tarefas)
1. Flexibilidade vs. Rigidez
2. Estabilidade vs. Desorganização
Processamento da informação (Comunicação)
1. Perceções claras vs. Confusas/distorcidas;
2. Papeis bem definidos vs. Mal definidos;
Estruturação de papéis (Fronteiras, liderança)
3. Papel recíproco vs. Papel mal definido;
4. Fronteiras intergeracionais claras vs. Fronteiras (difusas, rígidas ou
quebradas)

Nota: O terapeuta familiar, ou seja, o psicólogo que avalia determinada família, tem
de ser sensível e tomar em consideração os padrões e os valores morais e culturais
das famílias que o procuram.

Intervenção na família

Abordagens ao tratamento das famílias - Nichols (1996) agrupou as diferentes


abordagens e passou a considerar três categorias:

Psicodinâmica: O objetivo principal é ajudar os elementos da família a


conseguir uma compreensão da própria família e da forma como interagem
entre si. Os terapeutas nesta abordagem realizam menos comentários,
menos perguntas e intervêm menos ativamente. Abstêm-se de dar
conselhos e de manipular ativamente as famílias que tratam. Ênfase
colocada nas necessidades e problemas dos elementos individuais.
Comportamental: Situa-se no extremo oposto ao da psicanálise. Aplicam ao
tratamento das famílias princípios da teoria da aprendizagem.
Conceptualizam as mudanças na família em termos de condicionamento
clássico, condicionamento operante, modelagem e mudança cognitiva.
Avalia a família para determinar as contingências (circunstâncias), e os
processos cognitivos que parecem controlar os comportamentos
problemáticos. Através da análise comportamental desenvolvem um plano
para alterar as circunstâncias e/ou cognições (muitas vezes) através de
intervenção direta na família. Tendem a ser mais precisos na definição de
comportamentos problemáticos e nos critérios de sucesso. Baseiam-se mais
no tratamento de díades do que no dos sistemas familiares.
1. Reforço dos comportamentos desejáveis;
2. Não punição dos comportamentos indesejáveis;
3. Tratamento direto do défice de competências (quando se verifica);
Sistémica familiar
1. Abordagem estrutural (Minuchin & Col): Utiliza ideias da teoria geral
dos sistemas. Os terapeutas devem conseguir “persuadir” as famílias
para que façam as alterações necessárias na estrutura familiar. Esta
abordagem verifica:
a. A “estrutura” da família que assenta no acordo ou regras não
escritas que regulam as transações entre os elementos da
família;
b. As fronteiras ou limites entre os subsistemas (muito
importante);
c. A flexibilidade dos padrões de funcionamento da família e a
sua capacidade de mudança;
d. A “ressonância” da família, isto é, até que ponto os elementos
da família estão emaranhados ou desligados uns dos outros;
e. O contexto de vida da família. A fase de evolução da família. A
forma como os sintomas do Paciente Identificado (PI) são
utilizados pela família e se encaixam nos padrões interativos.
2. Terapia da comunicação: Dão mais importância ao tipo e qualidade da
comunicação entre as partes do sistema. Consideram que as famílias
funcionam mal devido a uma comunicação disfuncional. Têm
ponderado a existência de três grupos de acordo com o aspeto da
comunicação mais importante:
a. Comunicação e cognição – Observam formas disfuncionais de
comunicação nas famílias.
b. Comunicação e poder – Sublinham a importância da
reordenação da hierarquia no seio da família.
c. Comunicação e sentimento – Realçam a importância da
comunicação dos sentimentos na resposta às necessidades
emocionais de todos.
3. Abordagem trigeracional (Bowen, 1966): Presta atenção especial às
questões intergeracionais e ao contexto familiar mais vasto. Entende
que a família é como uma combinação de sistemas emocionais e
relacionais. Considera que as forças que motivam os sistemas
familiares são emocionais e expressam-se através de relações. Sugere
que os problemas familiares aparecem pelo facto de os seus
elementos não se terem diferenciado psicologicamente das suas
famílias de origem. Considera a família como um sistema (sobretudo
como) um grande conjunto de sistemas:
a. Um sistema social;
b. Um sistema cultural;
c. Um sistema de jogos;
d. Um sistema comunicacional;
e. Um sistema biológico.
4. Terapia estratégica: Visa produzir mudanças por métodos indiretos.
Os terapeutas consideram que as famílias com problemas adquiram
padrões repetitivos e disfuncionais de interação. O objetivo é
identificar a sequência específica de interação repetitiva em que o
sintoma está inserido. O terapeuta centra a sua atenção no processo
e não no conteúdo. O terapeuta passa grande parte do tempo a
explorar o sintoma, fazendo perguntas sobre:
a. Momento em que começou;
b. Quando surge;
c. Com que frequência;
d. Quem faz o quê;
e. O que acontece depois;
f. O que já tentaram fazer para o resolver.

Milton Erickson (1982) destaca alguns métodos estratégicos:

a. Redefinição - Definir mais uma vez; atribuir uma definição nova


b. Paradoxo - Não encarar a realidade
c. Metáfora - Figura de linguagem que produz sentidos figurados
por meio de comparações
d. Rituais - Conjunto de gestos, palavras e formalidades,
geralmente com um valor simbólico; pode ser executado em
intervalos regulares ou em situações específicas; pode ser
executado por um único indivíduo, um grupo, ou por uma
comunidade inteira;
5. Abordagens experienciais

Avaliação familiar: Formas e contextos

Porquê intervir em famílias?

Os problemas de um dos elementos serão muitas vezes mais bem


compreendidos no contexto da própria família;
O comportamento de um dos elementos da família afetará inevitavelmente
os outros;
É frequente que os outros elementos da família façam parte da solução do
problema (é imprudente sugerir que fazem parte do problema, mesmo que
seja o caso).

Fases do processo de avaliação

Contacto inicial
Associação à família e estabelecimento de sintonia: Sintonia é definida como
uma relação específica existente entre o utente e o técnico. Esta pode ser
promovida através de meios verbais e não verbais. Deve manter-se ao longo
de todo o processo terapêutico.
Definição de um objetivo desejado: A psicoterapia, geralmente, corre melhor
se tiver objetivos bem definidos. Os objetivos podem ser modificados ao
longo do processo.
Revisão da história familiar, determinação da sua (atual) fase de evolução e
construção de um genograma: Perceber como a família chegou à situação
em se encontra. Referir o interesse pela forma como a família se formou e
também a necessidade de compreender alguma coisa do seu historial.
Implicar todos os elementos, na construção do genograma, permite partilhar
informação e ajuda a estabelecer a sintonia.
1. Questões referentes aos pais;
2. Colocar questões relacionadas com o nascimento e desenvolvimento
dos filhos, até a data.
Avaliação do funcionamento atual da família – Pode ser feita a partir de 3
linhas orientadoras de entrevista:
1. Hipótese sistémica - É uma suposição não demonstrada, sem valor de
verdade ou falsidade aceite, provisoriamente, como base de uma
investigação mais aprofundada da qual decorrerá verificação ou
refutação. Para que a hipótese seja considerada sistémica deve-se
respeitar o Princípio da Totalidade (incluir todos os elementos da
família);
2. Neutralidade - Significa que o psicólogo não deve proferir juízos
implícitos ou explícitos. A neutralidade tem a ver com o efeito
pragmático que o comportamento total do terapeuta, durante a
sessão, produz sobre a família (e não a sua disposição intrapsíquica)
3. Circularidade - Recolha de informação através de modalidades
triádicas de investigação das relações. Questões dirigidas à família
devem ser definidas de modo circular. A forma circular de
questionamento consiste em pedir a um dos membros da família que
descreva as interações ou relações entre outros dois elementos,
referindo diferenças no modo de reagir ou encarar os problemas.

Nota: A avaliação do modo de funcionamento da família não se limita a fazer


perguntas e a obter respostas. Muitas famílias revelam-se mais, através daquilo que
fazem, do que através daquilo que dizem. Assim, os terapeutas observam: O local
em que cada um se senta na sala, quem brinca ou fala com quem, quem diz e a
quem o que fazer, se os filhos fazem o que os pais lhes dizem, quem ri e quem
chora, o que os outros elementos fazem quando um deles está transtornado.
Existem muitas formas de obter informações acerca da família. Alguns estilos de
entrevista parecem ser melhores do que outros para determinadas famílias. Os
terapeutas desenvolvem estilos pessoais e usam técnicas com que se sentem
melhor, mas é indispensável uma avaliação do sistema familiar.

Desenvolvimento de uma formulação de diagnóstico


1. Breve descrição dos problemas que levaram a família a procurar ajuda
e, das mudanças esperadas em resultado da terapia;
2. Informação sobre a constituição da família (idades, relação e
ocupação dos seus elementos), a fase de evolução (estádio de
desenvolvimento), bem como a anexação de um genograma;
3. A compreensão do terapeuta acerca da família, a natureza dos
problemas correntes e a forma como são mantidos de acordo com o
modelo teórico da preferência do terapeuta;
4. Os recursos; os pontos positivos do contexto familiar ou
suprassistema e forma como afetam a família;
5. Informações sobre o contexto ecológico ou suprassistema e a forma
como afetam a família.
Feedback e recomendações à família: Inclui todas as recomendações
relativas a mais investigações ou outras necessidades.
Acordo de entrevistas, procedimentos de diagnóstico ou encaminhamentos:
No final da primeira entrevista a família deve saber o que se irá seguir.
Envio dos resultados da avaliação e recomendações ao técnico que enviou a
família

Instrumentos/Escalas de avaliação da família

Modelo circumplexo de Olson

Encontra-se associado a duas escalas de avaliação do funcionamento


familiar;
A coesão familiar é medida por 10 itens (ex.: os membros da família pedem
ajuda uns aos outros);
A flexibilidade, às vezes denominada adaptabilidade, é igualmente avaliada
por 10 itens (ex.: os filhos expressam a sua opinião quanto à sua disciplina);
É um modelo que facilita o diagnóstico da família usando a perspetiva
sistémica;
Mostra a tipologia de família baseando-se nas variáveis: Coesão e
Adaptabilidade. A coesão e a adaptabilidade são dois aspetos muito
importantes no comportamento das famílias (são dimensões fundamentais
do funcionamento da família);
A comunicação familiar aparece como fator facilitador da evolução das duas
dimensões (coesão e a adaptabilidade).
Coesão: Mede a vinculação emocional mútua dos elementos da família. É
semelhante ao emaranhamento vs. desmembramento. É o conjunto de toda
a afetividade e intimidade, bem como o significado da essência do
relacionamento familiar.
1. Os laços afetivos que unem os membros de uma família podem
apresentar as seguintes características:
a. Dependência emocional: frequência ou qualidade de interação
familiar, com o objetivo de estabelecer ligação entre os
membros e expressar afeto;
b. Participação em atividades familiares: participação individual,
tempo dedicado à família e decisões tomadas em conjunto;
espaço físico disponível para a família se reunir e com os
amigos também;
c. Consenso conjugal: grau de comprometimento entre o casal e
importância atribuída ao casamento e à família.
2. Relativamente à coesão é possível identificar quatro tipologias de
família:
a. Desligada/desmembrada
b. Separada/independente
c. Ligada/unida
d. Emaranhada/aglutinada
Flexibilidade/Adaptabilidade: Mede o ponto em que a família permite
mudanças ou até que ponto é caraterizada pela estabilidade. Considera a
capacidade do sistema em adaptar a sua estrutura, os seus papeis e as suas
regras, como resposta a exigências internas ou externas ou às próprias
necessidades evolutivas.
1. A adaptabilidade é avaliada observando os aspetos relacionados com:
a. Liderança
b. Controlo
c. Disciplina
d. Negociação
e. Papeis
f. Regras transacionais
2. Quanto à adaptabilidade (mudança), o comportamento dos
elementos da família, no seu conjunto, permite distinguir quatro
níveis de adaptabilidade:
a. Caótica
b. Flexível
c. Estruturada
d. Rígida
Através do esquema de Olson, as famílias podem ser agrupadas em 16 tipos.
Os autores pretendem que o seu modelo se enquadre na perspetiva
desenvolvimentista da família. Por isso, apresentam variações da prevalência
dos níveis de coesão e adaptabilidade em função da fase do ciclo vital da
família.
É de esperar que as famílias com filhos pequenos ou em idade escolar
apresentem valores mais elevados em ambas as dimensões (coesão e
adaptabilidade) comparativamente ao que acontece em famílias com filhos
adolescentes.

Modelo de Beavers

Transmite uma preocupação em relação ao processo evolutivo das famílias,


no sentido de perceber ou antever a mudança;
O modelo está mais de acordo com a realidade clínica e, além disso, relaciona
a teoria sistémica com a teoria do desenvolvimento;
É um modelo essencialmente linear, vai do patológico ao saudável.
Possui dois eixos:
1. Qualidade ou estilo da interação familiar
a. Centrípeto
b. Misto
c. Centrífugo.
2. A estrutura (informação disponível e a flexibilidade adaptativa do
sistema)
Quanto à caracterização do funcionamento familiar, considera:
1. A autoridade
2. Os limites
3. A comunicação
4. A tonalidade afetiva
Autonomia: Dimensão contínua, relacionada com a capacidade do sistema
familiar permitir e encorajar os seus elementos a funcionar de forma
competente na tomada de decisões, na assunção de responsabilidades
próprias e na negociação com os outros;
Adaptabilidade: Dimensão contínua relacionada com a competência e
capacidade da família para efetuar mudanças e tolerar a diferenciação dos
seus membros
Centrípeto/centrifugo: Dimensão cujos extremos estão associados a famílias
gravemente perturbadas
Flexível/rígido: Incapacidade de mudar. As famílias caóticas são as demasiado
flexíveis devido à falta de um centro comum de atenção
As famílias são apresentadas com graus variados de funcionamento, desde
gravemente perturbadas à saudáveis.
1. Perturbação grave - nível mais baixo de funcionamento no contínuo
da adaptabilidade manifestado por fronteiras mal definidas e
confusão entre subsistemas, devido a ausência de uma comunicação
clara e responsável da parte dos elementos autónomos da família;
2. Borderline - nível de funcionamento entre o gravemente perturbado
e o mediano, manifesta-se por esforços persistentes e ineficazes de
libertar o sistema da confusão em que se encontra (através de
controlos simplistas e muitas vezes bruscos);
3. Mediana - famílias que de um modo geral produzem descendência sã,
embora limitada, com fronteiras relativamente nítidas, mas
expectativas permanentes de controlar ou de ser controlado;
4. Adequada - Apresenta fronteiras relativamente nítidas, negoceiam
embora com algum sofrimento. Apresentam alguns períodos de calor
e partilha;
5. Saudável - Capacidade de negociação, escolhas individuais e respeito
pela ambivalência, calor proximidade e humor.

Formas de intervir sistemicamente

Terapia familiar

Porquê intervir na família com terapia familiar?


1. Os problemas de um dos elementos serão mais bem compreendidos
no contexto da própria família - A família é como um organismo vivo,
um sistema aberto que se desenvolve e se transforma com o tempo.
Consta de pelo menos três gerações e os elementos na família
influenciam-se reciprocamente.
2. O comportamento de um dos elementos da família afetará
inevitavelmente os outros - O que acontece com um membro da
família afeta a todos os demais. Reciprocamente, o que acontece à
família influencia necessariamente todos os seus membros.
3. É frequente que os outros elementos da família façam parte da
solução do problema - embora seja imprudente sugerir que fazem
parte do problema, mesmo que seja o caso.
Quando devemos utilizar a terapia familiar?
1. Conflitos conjugais ou familiares
2. Dificuldades com o encaminhamento de questões típicas dos
adolescentes “normais”
3. Presença de doença física ou mental na família
4. Crises evolutivas típicas da família
5. Em questões que envolvem o divórcio, separação, novo casamento e
as relações complexas que se formam com os filhos, famílias, amigos,
colegas
6. Dificuldade em comunicar ou dificuldade em efetuar mudanças
7. Nos conflitos típicos com famílias de origem:
dependência/independência, separação/individuação, intromissões
indevidas.

Nota: A terapia familiar é eficaz para tratar dos problemas de indivíduos inseridos
num sistema familiar (quer este esteja relacionado com as famílias biológicas ou
com outras formas de família). Por vezes, pode ser necessário combinar esta terapia
com o tratamento individual de alguns membros da família.

Quando não devemos utilizar terapia familiar?


1. Violência familiar
2. Abuso sexual

Nota: Nestes casos deve ser feita terapia individual.

Intervenções em rede

O que é uma rede? - Uma rede é todo o sistema que se interliga. É um


instrumento de ligação; Um sistema de comunicação; Um instrumento de
suporte. A rede é um sistema, na medida em que é feita de:
interdependência, movimento, ligações, interações e estruturas
entrelaçadas
O que é uma rede social? - Grupo de pessoas, membros de uma família,
vizinhos, amigos e outros, suscetíveis de proporcionar a um indivíduo ou
uma família uma ajuda e apoio reais e duráveis.
1. Rede social primária – Indivíduos com afinidades pessoais num
quadro não institucional (familiares, amigos, vizinhos, colegas).
2. Rede social secundária - conjunto de pessoas reunidas por uma
mesma função num quadro institucionalizado (escola, centro de
saúde, segurança social, forças de segurança).
Características das intervenções comunitárias de rede
1. Utilizam as técnicas da terapia familiar estrutural na abordagem que
desenvolvem junto das instituições;
2. Assentam sobre programas desenvolvidos por um conjunto de
diferentes entidades ou instituições comunitárias, com o objetivo de
fazer face à desestruturação da família (famílias multi-assistidas);
3. Existência de suporte institucional legal em determinadas situações
(Ex.: em Portugal temos o rendimento social de inserção);
4. Objetivo fundamental é a erradicação de condições sociais,
ambientais, relacionais e pessoais da desestruturação;
5. Fornecer apoio e constituir-se como pontos de referência;
6. São programas que se apresentam com intervenções a vários níveis
(são dirigidos a membros da família com diferentes idades) > Trata-se
de uma abordagem multidisciplinar e sistémica;
7. São programas de prevenção secundária e algumas situações chegam
a ser de prevenção terciária.
O objetivo final é a integração da família em contextos formais de
informação das estruturas comunitárias. Os programas de intervenção
surgem como serviços específicos dentro da comunidade:
1. Centros de dia;
2. Centros de acolhimento;
3. Visitas ao domicílio;
4. Grupos de apoio e auto-ajuda;
5. Linhas telefónicas de ajuda.
Porquê usar esta intervenção?
1. Porque a rede, quer tenha um papel instrumental ou expressivo,
protege o indivíduo do stress ligado as solicitações e as pressões do
ambiente;
2. Para entender o indivíduo no seu contexto;
3. Para criar uma ponte mais estreita entre o social e o psicológico;
4. Para garantir ao indivíduo a proteção e o suporte do seu meio;
5. Para facilitar a assunção de responsabilidade da pessoa;
6. Para multiplicar os recursos.

Nota: O centro de interesse da intervenção profissional é a pessoa necessitada de


ajuda, e a sua rede, constitui o recurso que o profissional utiliza para resolver o
problema da pessoa. O utente é o ator principal, que com ajuda do profissional
explora os recursos da sua rede.

Quais são as vantagens desta intervenção de rede?


1. Reorganizar os sistemas de suporte;
2. Encontrar recursos para responder a necessidades precisas;
3. Pôr fim a relações negativas;
4. Construir ou reconstruir a rede social;
5. Situar os indivíduos no seu contexto relacional;
6. Aproximar o ser humano sob as múltiplas facetas;
7. Conciliar as apostas variadas e algumas vezes contraditórias;
8. Facilitar a sua confrontação com as múltiplas escolhas e as várias
situações possíveis.
Como é que se faz a intervenção?
1. Constrói-se o mapa das relações (mapa de rede)
2. Estabelecendo a distinção entre interesses relacionais múltiplos e
antagónicos;
3. Intervindo no nível pertinente (natural).
Características estruturais da rede social
1. Tamanho (Número de pessoas na rede) - Redes de tamanho médio
são mais eficientes do que as pequenas ou as muito numerosas;
2. Densidade (Conexão entre os membros) - Um nível médio de
densidade favorece um melhor funcionamento da rede; um nível
elevado de densidade favorece a conformidade - pressão para a
adaptação do indivíduo às normas do grupo; um nível muito baixo de
densidade reduz o feito potencializador do confronto;
3. Composição ou distribuição (proporção do total de membros da rede
localizada em cada quadrante e cada círculo) - Redes muito
localizadas são menos flexíveis e pouco eficientes, geram menos
opções do que as redes de distribuição mais ampla;
4. Dispersão (distância geográfica entre os membros da rede) - Afeta a
facilidade de acesso, assim como, a sensibilidade da rede às variações
do indivíduo, relativamente a sua capacidade de dar resposta a
situações de crise.
Quais são as funções dos vínculos na rede social?
5. Companhia social
6. Apoio emocional
7. Aconselhamento
8. Regulação ou controlo social
9. Ajuda material e de serviços
10. Acesso a novos contactos
O impacto da rede social na pessoa, assim como a sua presença chave na
rede de muitas pessoas, realça a sua responsabilidade pessoal. A influência
na vida de familiares, amigos, e de tantos outros muitas vezes sem se ter
dado conta disso e sem se ter dado importância a isso.

Visitas domiciliárias

As visitas domiciliárias traduzem-se num acompanhamento adicional, na


forma de visitas periódicas à família;
Estas visam, sobretudo, a manutenção da defesa dos interesses da família.

Grupos de auto-ajuda

Também conhecidos como grupos de ajuda mútua ou grupos de apoio, são


grupos de pessoas cujo membros partilham um problema/dificuldade
comum;
Os membros do grupo reúnem-se, trocam experiências e fornecem suporte
uns aos outros com o objetivo de ajudar a lidar com o problema.

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