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INTRODUÇÃO:
Diante desse quadro, o texto que se segue foi dividido em três seções distintas em
que serão retratados respectivamente: o que seria a condição do presente para Boaventura de
Sousa Santos enquanto padrão avaliativo contemporâneo; a analise do método da Tradução
realizado no segundo capítulo de Pela mão de Alice. O social e o político na Pós-
modernidade, seguida das críticas e incongruências observadas por Santos a cerca da tradição
marxiana e sua adequação à realidade atual; uma leitura crítica a partir de referênciais
marxistas e do próprio Marx sobre as asserções feitas a sua tradição teórica.
Por fim, o trabalho conclui-se, com ares de crítica, porém com esperança de que o
conhecimento independente de suas origens possa ser dialeticamente reorganizado e nunca
excluído, mas sempre superado.
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Mestrando em Direito e Inovação pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
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contra hegemônicas podem ser inseridas no contexto contemporâneo. Propõe-se uma utopia
cognitiva capaz de propiciar na realidade a concretização de uma utopia política em ação
contra o contexto globalizado Hegemônico.
A construção desse novo paradigma pós moderno, como se crê a partir da leitura
de Pela Mão de Alice. O social e o político na Pós-modernidade, em especial pelo capítulo
segundo da obra, perpassa pela analise da Teoria Marxista. No capítulo intitulado: Tudo que é
sólido se desfaz no ar: o marxismo também?, Santos (1999, p. 25-46) realiza procedimentos
de verificação da atualidade de tal corrente teórica frente aos problemas cotidianos. O que só
pode ser feito segundo a aplicação das duas analises sociológicas destacadas no paragrafo
anterior. Em sendo assim o requisito da sociologia das ausências é cumprido primeiramente
quando o referido capítulo se encontra sobre uma unidade maior do livro intitulada
“Referências”, em que levado o contexto em que o sociólogo lusitano pretende a transição
paradigmática, as referências que usa para isso evidentemente cumprem o requisito de
evidenciarem práticas contra hegemônicas. Não bastasse essa caracterização global enquanto
referências, assevera o autor:
Não estamos, pois, perante uma moda teórica dos anos sessenta que, como
muitas outras modas do mesmo período, não é moda estarem agora em
moda. Estamos antes perante um dos pilares das ciências sociais da
modernidade e tudo o que nele ocorrer não pode deixar de repercutir no
conjunto destas. E, reciprocamente, as transformações por que as ciências
sociais houverem de passar nos próximos anos não pode deixar de produzir
efeitos mais ou menos profundos nos seus pilares. (SANTOS, 1999, p. 33)
para referida versão do pós-modernismo é essencial a ideia tal qual a formulada por Marx de
uma alternativa radical à sociedade capitalista.
Cumprido o requisito da sociologia das ausências, passa-se à segunda etapa do
procedimento de tradução: a sociologia das emergências. Dessa forma, pergunta-se: “Qual é,
pois, a condição do presente e que contributo podemos esperar do marxismo para a
compreender e para a transformar? “ (SANTOS, 1999, p. 34). Referida avaliação do
potencial marxista nestes termos se dá sob três frentes principais: ( i ) Processos de
determinação social; ( ii ) Ação coletiva e identidade; ( iii ) Direção da transformação social.
Adiante-se ao leitor que a doutrina marxista falha, na interpretação que Boaventura de Sousa
Santos, desfazendo-se no ar frente a atual condição de nossa sociedade necessitando de ser
severamente atualizada.
Na analise do primeiro eixo, Santos (1999, p. 36) afirma que Marx não se limitou
somente a apresentar uma macro análise do capitalismo, tendo também formulado uma nova
teoria da historia, o Materialismo-histórico, segunda a qual as sociedades evoluem necessária
e deterministicamente por meio de leis em que o desenvolvimento das forças produtivas
determina e explica a estrutura econômica da sociedade, que por conseguinte determina e
explica as formas políticas, jurídicas e culturais (superestrutura). Santos prossegue,
informando que fortes críticas têm sido feitas ao materialismo quanto ao seu determinismo e
evolucionismo, bem como de um reducionismo economicista. Entretanto as primeiras críticas
são deixadas de lado quanto ao seu desenvolvimento, pois, para o autor, o determinismo de
Marx só poderia ser analisado frente ao contexto sócio-político em que estava inserido e não
frente à “condição do presente”.
Santos (1999, p. 37-38) prossegue então na crítica do reducionismo econômico,
afirmando que a manutenção do mesmo se faz insustentável, primeiramente porque a
explicação pelas lentes econômicas transforma fenômenos políticos e culturais em
epifenômenos, e portanto derivados de um outro, o que impede de pensa-los autonomamente.
Não bastasse essa asserção, reforça o Pós-modernista que a impossibilidade do reducionismo
econômico resulta do fato de que ao avançarmos pelo período de transição paradigmática que
vivemos, torna-se cada vez mais difícil distinguir entre o econômico, o político e o cultural.
Quanto ao eixo da Ação coletiva e identidade, a análise foca na primazia
explicativa e transformativa dada por Marx as classe sociais. Quanto a essa primazia, Santos
(1991, p. 39) aponta o que considera suas deficiências: primeiramente a evolução das classes
não seguiu a previsão marxista, em muitos países a classe operária tornou-se mais
heterogênea e não homogênea, assim como a burguesia que fragmentou-se com o surgimento
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de classes médias; além disso, outras formas de opressão baseadas na raça, etnia, religião e no
sexo mostraram-se tão importantes quanto as que se sustentam na divisão de classes; de
mesmo modo, surgiram facções de classes sem uma base nacional, classes transnacionais;
bem como lutas de classes ocorridas no decorrer dos séculos assumiram contornos não
previstos por Marx, as revoluções operárias não ocorreram nos países centrais, e nos países
periféricos em que se deram revoluções de orientação socialista, a participação do operariado
quando não foi inexistente foi problemática. Santos (1999, p. 40) dá continuidade, dizendo
que nas ultimas três décadas os movimentos e as lutas políticas mais importantes ocorridas,
quer sejam em países centrais ou periféricos, foram protagonizados por grupos sociais de
estudantes, mulheres, grupos étnicos e religiosos, por pacifistas e grupos ecológicos que estão
marcados por identidades que não são diretamente classistas. E sendo assim, verifica-se a
própria história indo a encontro à primazia transformadora das classes sociais.
Quanto à primazia explicativa, Boaventura de Sousa Santos limita-se a exprimir a
sua própria conclusão sobre o debate gerado em torno daquela:
Para Boaventura de Sousa Santos (1999, p. 42-43) a única utopia realista em finais
de século XX é a utopia ecológica e democrática que se assenta num princípio partilhado da
realidade que consiste na contradição entre o ecossistema do planeta que é finito e a
acumulação do capital que visa o infinito. Assim sendo a analise que Marx faz da contradição
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Nas paginas de Pela Mão de Alice... o que é fundante na analise que Sousa
Santos faz da teoria marxiana (e da tradição marxista) é uma concepção
convencionalíssima da obra de Marx, que teria criado, “ainda que de modo
não sistemático, uma nova teoria da história, o materialismo histórico”, a
partir do qual se viabilizariam cortes científicos e ideais particulares – donde
Sousa Santos possa referir-se à „sociologia” e à “utopia” de Marx, como
poderia referir-se a uma “filosofia”, a uma “economia” etc. Ou seja: a
concepção de Sousa Santos projeta sobre a obra marxiana a divisão das
ciências sociais oitocentistas, apanhando nela os recortes teórico-científicos
que mais lhe convêm (no caso, a ênfase numa “sociologia”). Está claro que,
com este procedimento, o que não se resgata da teoria social de Marx é
justamente aquilo que lhe é mais visceral e medular: seu caráter unitário e
totalizante/totalizados, embasado numa ontologia do ser social – a partir da
crítica da economia política – historicamente construído no mundo do
capital. (NETTO, 2004, p. 239).
são entendido como afirmações diretas sobre um certo tipo de ser e portanto são afirmações
ontológicas, Lukács (2012, p.11). Marx exige uma investigação ontológica das entidades
sociais e ao mesmo tempo rechaça o método hegeliano de expor as conexões mundanas sob
esquemas lógicos. Lukács (2012, p. 14-15) ressalta que tais tendências na obra marxiana se
expressam pela primeira vez adequadamente nos Manuscritos Economico-filosóficos, em que
categorias econômicas aparecem como categorias de produção e reprodução da vida humana,
o que torna possível uma avaliação ontológica do ser social sob bases materialistas. Assevere-
se que o fato de a economia ter primazia na ontologia de Marx não significa que sua obra
esteja fadada ao economicismo como faz crer Boaventura de Sousa Santos, interpretação que
só é credível àqueles que perderam de vista o método filosófico de Marx, bem como o
discurso filosófico que o leva ao Materialismo.
A possibilidade de separações autônomas entre o econômico o político e o social é
comum à concepção burguesa de ciências particulares e não às “obras econômicas” de Marx,
Lukács ( s/n, p. 20). Assim diante do quadro da condição do presente apresentada por Santos
em que a cada momento se faz mais difícil se diferenciar o econômico, o político e o cultural,
parece-nos que, ao contrario do que o sociólogo português afirma, a teoria marxiana é, de
todas as construções teóricas elaboradas até o presente, a mais apita a captar as direções
tomadas a partir do ser social, uma vez que não deixa de lado as conexões reais existentes na
totalidade deste ser.
O ser humano vive da natureza significa que a natureza é seu corpo, com o
qual ele precisa estar em processo contínuo para não morrer. Que a vida
física e espiritual do ser humano está associada à natureza não tem outro
sentido do que afirmar que a natureza está associada a si mesma, pois o ser
humano é parte da natureza. (ANDRIOLI, 2009, p. 01 apud MARX, 1968, p.
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4 – CONCLUSÃO:
A consequência e conclusão final que se pode chegar até aqui é que, sim, a
tradição marxista tem muito a oferecer para a virada paradigmática enunciada pelo pós-
modernismo de oposição e consequentemente servir de verdadeira referência à proposição
teórica desse autor. Bastando, para que isso ocorra, uma leitura menos simplória ou talvez
mais despida de prévios preceitos ideológicos acerca de tal tradição secular.
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REFERÊNCIAS
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do Pensamento Abissal: Das linhas globais a
uma ecologia de saberes, Revista Novos Estudos Cebrap, 79, 71-94, 2007.
NETTO, José Paulo. Lukács e a crítica da filosofia burguesa. Lisboa: Seara Nova, 1978.
_______. Marxismo Impenitente. Contribuição à história das ideias marxistas. São Paulo:
Cortez, 2004.
FOSTER. John Bellamy. A Ecologia da Economia Política Marxista. Revista Lutas Sociais,
São Paulo, n.28, p. 87-104, 1º semestre 2012.