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O que realmente é o

conservadorismo – Resposta ao
site Valor econômico
Editorial Burke

Fomos citados textualmente, no dia 20/09, pelo site Valor, num


texto denominado: “A resposta conservadora”. O texto não faz
nenhum esforço para ser imparcial, ainda que tenha consultado o
grande liberal Adriano Gianturco — mas que também não é um
conservador. Propriamente o site não se coloca como imparcial e
nem seu artigo busca sê-lo de alguma maneira; um direito do site
que aqui não arrogamos contestar, mas também não nos escapa o
espanto do grau de ignorância basilar sobre a temática que trataram
com certo ar doutoral, não tanto por Amália Safatle, jornalista que
assina a matéria, mas pelos professores chamados para comentar o
assunto. O que só evidencia o mar ignorância de tais docentes
frente à temática “conservadorismo” — ou disposição conservadora

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como preferimos chamar.

Segundo Luiz Filipe Pondé, o conservadorismo é tratado com


extrema má vontade e irresponsabilidade pelos intelectuais
brasileiros, eles não se esforçam para buscar as raízes profundas
de tal pensamento; falam do assunto de “maneira vagabunda” —
para sermos literal ao filósofo brasileiro. Os doutores e pensadores
brasileiros, ao invés de estudarem o pensamento conservador
através dos conservadores — o correto a se fazer numa séria
academia de ensino, diga-se de passagem — resolvem tratar a
temática a partir de seus achismos e tachações do que por
verdadeiras resoluções intelectuais. Eis uma verdade que
identificamos no texto supracitado.

Antes de mais nada:

Não faremos uma análise minuciosa de cada argumento e


impressões propostas pelos intelectuais entrevistados. O tamanho
do texto ficaria inviável e descomunal para um espaço de blog.
Sendo assim responderemos através de um texto coeso aquilo que
é conservadorismo — o principal tema explorado na matéria —,
teceremos breves comentário àquelas coisas que julgarmos
interessante explanar.

Iremos explorar o conservadorismo através de seus principais


autores e comentadores — novamente, o correto a se fazer —; para
isso, não pouparemos as citações ipsis litteris, uma forma de fazer
justiça aos conservadores emudecidos na matéria que se propunha
aprofundar o assunto “conservadorismo”.

O conservadorismo intelectual:

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Para compreender o conservadorismo enquanto matéria acadêmica
e filosófica, por sua vez, temos que entender basicamente aquilo
que o sustenta enquanto módulo de conhecimento, ou seja: a lei
natural como uma percepção humana comum, uma manta ética
universal dos homens. A concepção de costumes/tradições
enquanto determinante cultural e moral, como motor social —
teoria bem desenvolvida por David Hume. A democracia dos
mortos — tese defendida por G. K. Chesterton como condição à
reta democracia, isto é: o elo entre passado, presente e futuro nas
resoluções de políticas contemporânea. E, por fim, a reação
intelectual e política às loucuras progressistas — tendo como
haste principal desse postulado, o grande Edmund Burke.

De uma maneira ou de outra são essas as ideias que perpassam a


mentalidade conservadora, ainda que, obviamente, a disposição
conservadora seja muito mais profunda que essas caracterizações
básicas, encontrando justificações e raízes muito mais profundas
que essas; mas, por hora, isso nos basta. Em suma, nem todos os
principais teóricos conservadores comungam de um credo
filosófico semelhante, mas todos visitam ou revisitam esses pilares
de alguma forma, legando a cada um deles maior ou menor
importância em suas observações e teorizações.

Desta forma, o conservador é aquele que acredita mais na


capacidade de uma construção temporal, via costumes e
postulados morais, pensando com mil cabeças ao invés de uma, do
que por mentes supostamente iluminadas que pretendem
abandonar qualquer fluxo do passado sobre o presente e futuro,
fazendo do amanhã uma viagem desconexa e imprudente rumo a
um oásis que na maioria das vezes não passa de miragem.

“Quando homens de posição sacrificam as ideias de dignidade a

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uma ambição sem objeto definido e operam vis instrumentos
para vis fins, toda a sociedade torna-se baixa e mesquinha”
(BURKE, 2014, p. 67. Grifos meus)

Quando a ideia vale mais que o fato – A Revolução


Francesa:

Obviamente que não temos a intenção de fazer-lhes entender o que


há de loucura em cortar cabeças de freiras e senhores em praças
públicas, afogar supostos contrarrevolucionários em rios — como
ocorrido na Revolução Francesa. Mas o conservadorismo nasce,
enquanto teorização política, quando Edmund Burke, rastreando os
impulsos, desenvolvimentos e fins almejados pelos revolucionários
franceses — dada sua coexistência com a Revolução Francesa —,
traça uma crítica cortante ao movimento revolucionário daquele
país. Por isso se faz necessário passarmos por esse instante
histórico aqui no texto.

Não adiantaria mostrar que a Revolução Francesa carrega como


estigma, inimagináveis e aberrantes atos militantes feitos em nome
do “florescimento do Estado moderno, período em que se forjou a
troca da obediência cega às leis religiosas pelos questionamentos
da ciência à luz da razão e a formação do Estado de direito” (trecho
do artigo do site Valor).

Nas palavras dos historiadores François Furet e Mona Ozouf, se


referindo ao momento francês já citado: “O terror é doravante um
sistema de governo; ou melhor, uma parte essencial do governo
revolucionário. Seu braço” (FURET; OZOUF, 1989, p. 149). Como
bem observou sobre o espírito progressista, diz Edmund Burke: os
revolucionários “assumem, em um dia, as prerrogativas mais
violentas e abusivas e, no seguinte, as mais extremadas ideias

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democráticas de liberdade, passando de um extremo ao outro sem
nenhum tipo de consideração a causas, pessoas ou partidos”
(BURKE, 2014, p. 84)

A historiadora, Régine Pernoud, ao se deparar com o solo


sanguinolento do século XX, disse uma das frases mais marcantes
para aqueles que não conseguem deixar de ver uma hipocrisia
latente daqueles que apregoam direitos humanos, estando eles
próprios revestidos daquelas ideologias que legaram à humanidade
montanhas de corpos e mares de sangue. “Para o historiador do
ano 3000, onde estará o fanatismo? No século XIII ou no século
XX”? (PERNOUD, 1974, p. 108), pergunta a historiadora francesa.

Por que você nunca estudou o conservadorismo na


sua escola ou universidade?

Os óculos ideológicos colocados sobre as vistas das universidades


brasileiras impediram que o conservadorismo, largamente estudado
na Europa e renascido com força ímpar nos EUA após a Segunda
Guerra Mundial — principalmente com Russell Kirk e Irving Babbitt
—, chegasse ao Brasil com suas reflexões teóricas e atuações
práticas. O regime militar, em sua decadência positivista e
tecnocentrista, não se ocupou da educação política preferindo agir
via repressão e censura midiática. Enquanto encerrava sua
opressão contra os opositores socialistas, de maneira inteligente o
pensamento progressista se tornava um éter nas universidades,
jornais, meios artísticos, etc. O paradoxo muito conhecido do “o
proibido é mais gostoso” fez com que o pensamento socialista se
tornasse a resposta universal para todos os males nacionais; a luta
de classe, o tradicional pressuposto marxista, configurou mentes e
almas para pensar tudo através desse front interpretativo. Raras são
as universidades e redações que não iniciam suas análises sociais a

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partir do eterno embate de castas ao modelo marxista.

Por isso não podemos — e nem iremos — culpar os intelectuais


citados no texto do já referido site Valor; são eles próprios frutos do
encurtamento intelectual feito pela proposta do cogito marxista.

É preciso saber o que é a disposição conservadora:

O grande problema do debate sobre o conservadorismo, no Brasil, é


o problema dos pressupostos políticos já arraigados nos indivíduos
que se dispõem a interpretar uma realidade da sociedade, ou
propriamente o pensamento conservador. O que acima
denominamos de “óculos ideológico”. A disposição conservadora,
antes de mais nada, é uma anti-ideologia; se buscarmos as fontes
do pensamento político-conservador em Edmund Burke —
considerado o pai do pensamento conservador — veremos que a
sua principal obra: Reflexões sobre a revolução na França, é
genuinamente um ataque à ideologia e ao radicalismo dos
revolucionários franceses. O pensamento conservador tem como
marca, pois, uma reação distópica às ideias que se arrogam como
engenharias sociais e determinações globais de como a
humanidade de se portar e pensar.

Sendo assim, primeiramente, o pensamento conservador sequer se


encaixa nas rasas formulações ideológicas modernas de “Direita e
Esquerda” — ainda que geralmente não nos ofenda sermos
chamados de “direita”. Para ser conservador não é preciso seguir
diretrizes teorizadas por políticos ou intelectuais, pressupostos
acadêmicos, ou estar filiado a algum partido de disposição
conservadora; para ser conservador costuma-se necessitar
basicamente de uma percepção da realidade pura, simples e óbvia
(não confunde-se com simplismo ou ingenuidade), apreço pela

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herança histórica da humanidade e aos valores morais bem
definidos; aquilo que Burke chamou de “sabedoria sem reflexão,
pois está acima dela” (BURKE, 2014, p. 55).

Nosso mestre, o tempo:

Outro fator que pode ser usado para levemente balizarmos o que é
ser conservador, se trata da devoção ímpar às experiências
acumuladas da civilização humana — em especial aquelas do
tronco Ocidental que se resumem em: Moral Judaico-Cristã,
Filosofia Grega e Direito Romano. Estes conservadores, mesmo
conscientes do caminhar errante dessa própria civilização que, por
hora, enchemos de honrarias e purpurinas, mesmo sob suas
escolhas claudicantes e tirânicas em diversas passagens; tais
conservadores não se escondem ao admitir que, mesmo em
momentos asquerosos e inomináveis da história sócio-política da
humanidade, ainda assim são essas as nossas heranças, querendo
nós ou não. Sobre o conservadorismo de Russell Kirk, comenta Alex
Catharino, a maior autoridade brasileira em Russell Kirk:

“O conservadorismo tradicionalista kirkeano, desse modo, não é


uma ideologia abstrata que tenta criar ‘um novo mundo possívelʼ,
mas uma proposta que ao mesmo tempo busca conservar os
princípios fundamentais e promover reformas prudenciais,
orientadas pela sabedoria acumulada na experiência histórica, tal
como apreendida pelos autores que denominamos eminentes
guardiães de nosso patrimônio civilizacional” (BURKE, 2016, p.
28, Apresentação à edição brasileira).

Nutridos daquele ceticismo humeniano e da certeza da falibilidade


humana, da impossibilidade de sociedades perfeitas, sendo o
esforço e a disposição de cada um o principal motor de igualdades;

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os conservadores apostam mais nas heranças que adubaram o
nosso imaginário coletivo, a fim de que não cometamos os mesmos
erros de outrora.

Sendo assim, o tempo, para o conservador, não se encerra num


retorno forçoso ao passado, como se tentássemos vestir um adulto
com roupas de bebês; o conservador tem uma interpretação inteira
da realidade, onde passado, presente e futuro se interligam sem se
macularem. Queremos o avanço, desde que avançar não signifique
matar as lembranças de nossos avós e os ensinamentos de nossos
antepassados; o conservadorismo deixa “livre a aquisição, mas
assegura o adquirido” (BURKE, 2014, p. 55).

A história é, pois, “uma corda estendida entre as colinas esquecidas


do ontem e as invisíveis montanhas do amanhã” (CHESTERTON,
1946, p. 25). Ou seja, uma das mais estúpidas acusações feitas aos
conservadores é a de que nutrimos o desejo irracional e
verdadeiramente tolo de voltar a um passado qualquer, ou nos
imobilizarmos ao presente. Quando olhamos para o passado, o
fazemos com olhares de repulsa, algumas vezes, com espanto, em
outras; mas, acima de tudo, com admiração, pois é de lá retiramos
as principais diretrizes de como agir e pensar prudentemente, a fim
de que num futuro próximo não voltemos a errar com os mesmos
erros de ontem.

“Os imobilistas nada querem reformar — a casa pode estar em


ruínas, mas abrigou nossa infância, foi construída por nossos
pais —, ficará assim para sempre, não se mudando o lugar de
um móvel, não substituindo qualquer instalação. O reacionário é
capaz de construir um castelo medieval em Brasília, e andaria de
armaduras ou calções de veludo em Copacabana, se isto fosse
possível — se assim não faz, com relação a roupas, não deixa de

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fazê-lo com relação às idéias” (TORRES, 2016, p. 41).

O que é muito diferente da atitude conservadora, segundo um dos


principais conservadores brasileiros do século XX, João Camilo de
Oliveira Torres:

“O conservador reconhece o tempo — mas como sendo


passado e futuro. Não nega o passado como o progressista — os
tempos pretéritos não foram trevosos nem ignorantes. Não nega
o futuro, como os reacionários: o dia de amanhã poderá trazer
grandes alegrias se soubermos trabalhar” (TORRES, 2016, p.
41).

Não queremos reacionariamente volver ao passado, nem estacionar


no presente — ainda que esta seja a vigorosa ressalva de Michael
Oakeshott aos conservadores modernos —, muito menos criar uma
sociedade fantasmagórica com hastes vaporizadas, fincadas em
idealizações, promessas e achismos de intelectuais. Assim sendo,
não somos nem reacionários, homens que querem voltar o ponteiro
do relógio, nem imobilistas do presente, muito menos utópicos;
somos defensores de mudanças desde que as mudanças sigam o
princípio da prudência e do respeito às constituições do tempo.

O “desejo de conservar é compatível com todos os tipos de


mudança, desde que essa mudança signifique continuidade”
(SCRUTON, 2015, p. 56).

O que os conservadores dizem:

Para pautar as afirmações acima, deixarei com que os


conservadores falem, ao invés de especialistas e críticos:

Michael Oakshott:

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“Ser conservador é, pois, preferir o familiar ao estranho, preferir
o que já foi tentado a experimentar, o fato ao mistério, o concreto
ao possível, o limitado ao infinito, o que está perto ao distante, o
suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, a risada
momentânea à felicidade eterna” (OAKESHOTT, 2016, p. 137).

“Não é, pois, mero preconceito bobo que leva um conservador a


sustentar tal ponto de vista acerca das atividades de um
governo; nem é preciso nenhuma crença metafísica
megalomaníaca que enseje ou que explique. Ele é conectado
somente com a observação de que, onde haja uma atividade de
empreendimento, é necessário que haja sua contrapartida, ou
seja, uma atividade de restrição. (OAKESHOTT, 2016, p. 188-
189. Grifos meus).

João Camilo de Oliveira Torres:

“O conservadorismo, convém recordar, não se confunde com


o reacionarismo. Não pretende o conservador negar o
progresso, nem abolir o tempo. Ele aceitas as coisas como estão
— e aceitas as mudanças, sem muita pressa, porém. No fundo o
conservador não é um homem que quer voltar ao passado —
mas que deseja chegar vivo e em boas condições no futuro”
(TORRES, 2016, p. 41. Grifos meus).

“Os conservadores, evitando as revoluções, tornam possíveis as


reformas, que vão geralmente muito mais longe do que as
revoluções” (TORRES, 2016, p. 49).

“Por isto, para que possamos compreender toda política


verdadeiramente conservadora, não reacionária ou imobilista,
devemos ter em mira, principalmente, que o conservadorismo
não procura deter as reformas ou impedir as transformações,

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mas dar-lhes um tom moderado e tranquilo, acomodá-las às
condições gerais da sociedade, naturalizá-las, em suma”.
(TORRES, 2016, p. 54 – 55).

Edmund Burke:

“Na época da Revolução, como na atual, o que desejávamos


era derivar tudo o que temos como uma herança de nossos
antepassados. Tivemos o cuidado de não inocular nenhuma
muda estranha nesse corpo e nessa cepa de herança algum
enxerto estranho à natureza da planta original. Todas as
reformas que fizemos até hoje respeitamos o princípio de
referência ao passado; e espero, ou melhor, estou convencido
de que todas as que possamos realizar no futuro estejam
cuidadosamente construídas sobre precedente, autoridade e
exemplo análogos”. (BURKE, 2014, p. 53. Grifos meus).

“Nessa escolha de herança, demos à nossa moldura política a


imagem de uma relação de sangue; unindo a Constituição de
nosso país aos nossos mais caros laços domésticos; adotando
nossas leis fundamentais no seio de nossas afeições familiares;
mantendo inseparáveis e cultivando com o calor de todos os
seus benefícios combinados e recíprocos, nosso Estado, nossos
corações, nossos sepulcros e nossos altares” (BURKE, 2014, p.
56).

Roger Scruton:

“Em resumo, o conservadorismo surge diretamente da


sensação de pertencimento a alguma ordem social contínua
e preexistente e da percepção de que esse fato é
importantíssimo para determinar o que fazer” (SCRUTON,
2015, 54. Grifos meus).

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“O conservadorismo é a filosofia do vínculo afetivo. Estamos
sentimentalmente ligados às coisas que amamos e que
desejamos proteger contra a decadência”. (SCRUTON, 2015, p.
53. Grifos meus).

Russell Kirk:

“Não existe um modelo conservador, e o conservadorismo é a


negação da ideologia: é um estado de espírito, um tipo de
caráter, um modo de ver a ordem civil e social”. (KIRK, 2014, p.
103).

“Primeiro, o conservador acredita que há uma ordem moral


duradoura. Essa ordem é feita para o homem, e o homem é feito
para ela: a natureza humana é uma constante, e as verdades
morais são permanentes” (KIRK, 2014, p. 105).

“Os conservadores são defensores dos costumes da convenção


e da continuidade, porque preferem o mal que conhecem ao mal
que não conhecem. Ordem, liberdade e justiça, acreditam,
são os produtos artificiais de uma longa experiência social, o
resultado de séculos de experimento, reflexão e sacrifício”
(KIRK, 2014, p. 106. Grifos meus).

“O conservador, em suma, favorece um progresso refletido e


moderado; opõe-se ao culto do progresso, cujos devotos
acreditam que tudo que é novo é necessariamente superior
ao antigo”. (KIRK, 2014, p. 112. Grifos meus).

Basta-nos esses. Sabemos que o texto pode ficar penoso de ser


lido nesse formato, mas, pela primeira vez, o que arrogamos antes
de tudo mais é dar voz aos injustiçados conservadores que legaram
tanto tempo e fidelidade aos estudos e tiveram suas atuações,

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crenças e teoria tão porcamente tratadas por intelectuais sem uma
envergadura intelectual para tal.

Conclusão:

Para não nos estendermos ainda mais, cabe-nos apenas oferecer


uns apontamentos básicos para outra questão suscitada no texto
do site Valor, sobre os porquês de o conservadorismo estar
novamente aflorando em território tupiniquim. Talvez seja
interessante buscar a resposta em duas fontes.

A primeira é a imoralidade crescente e estonteante na qual o


progressismo socialista encerrou suas ações políticas, se
mancomunando com quase tudo o que podemos julgar como
devasso no meio político; fez da vida pública e da antiética uma
simbiose assustadora. Seria grande o trabalho de pesquisa se
quiséssemos procurar o(s) político(s) ou o(s) partido(s) que não
tenha(m) sido honrados(s) como propinas ou endossos antiéticos.
A insatisfação política leva sempre à oposição; o conservadorismo,
nesse campo, através do adubo imoral das práticas da esquerda,
ergue-se como uma explicação e saída viável. Como bem explicou
Burke sobre as preocupações nacionais dos revolucionários:

“Dedicam-se a seu país na medida em que isto for compatível


com os seus projetos efêmeros; o amor à sua pátria começa e
termina com aquele sistema político que se adapta à sua opinião
momentânea” (BURKE, 2014, p. 107).

O segundo motivo é o afastamento entre suas ideologias e a


realidade; o maior inimigo do ideólogo e a realidade que sempre
vem lembrá-lo de que seu sonho e tão somente um sonho. O
conservadorismo tende a ser cético e objetivo, não legando
esperanças aos construtos intelectuais, a um futuro mecanizado;

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tais mundos ideais pregados através ideologias, não passam de
engrenagens postas de maneira engenhosa sobre um bunker de
gelatina. O Brasil cansou de promessas tolas, de teorias
acadêmicas que estupram a realidade, somos forçados a acreditar
nas benesses do desarmamento mesmo sob 64 mil assassinatos ao
ano, mais que uma guerra civil; somos forçados a olhar nossa
constituição genética, biológica e social, para depois conceber que
nosso gênero sexual não é definido; nossos filhos são encerrados
em escolas onde quem determina o certo e o errado é o Estado, à
revelia das crenças e concepções familiares. Após olhar a ideologia
e a realidade gritante que, mesmo entre as crises esquizofrênicas
sempre coloca suas verdades e fatos acima dos achismos; nesse
instante de lucidez o brasileiro preferiu o “certo ao duvidoso”, a
sabedoria à pirambeira social.

Talvez o crescimento do conservadorismo no Brasil seja à resposta


do povo às insandice e podridões oferecidas constantemente no
cardápio ideológico do progressismo parricida.

Referências:

BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução na França. São


Paulo: Edipro, 2014.

CHESTERTON, G. K. A barbaria de Berlim, São Paulo: Livraria Agir,


1946.

FURET, François; OZOUF, Mona. Dicionário crítico da Revolução


Francesa, Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1989.

KIRK, Russell, A política da prudência, É realizações: São Paulo,


2014.

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OAKESHOTT, Michael. Conservadorismo, Âyiné: Belo Hrizonte,
2016.

PERNOUD, Régine. Idade média: o que não nos ensinaram, 1ª Ed,


Livraria Agir: São Paulo, 1974.

SCRUTON, Roger. O que é conservadorismo. São Paulo: É


realizações, 2015.

TORRES, João Camilo de Oliveira. O elogio do conservadorismo e


outros escritos, Arcadia: Curitiba-PR, 2016.

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